Plano Anual de Atividades 2013 – PRONAC 128.976 - Whirlpool
Depoimento de Maria Aparecida da Silva
Entrevistada por Márcia Trezza
Cordeirópolis, 16 de abril de 2014.
Realização Museu da Pessoa
WHLP_HV009_Maria Aparecida da Silva
Transcrito por Iara Gobbo
P/1 – Cida, fala seu nome complet...Continuar leitura
Plano Anual de Atividades 2013 – PRONAC 128.976 - Whirlpool
Depoimento de Maria Aparecida da Silva
Entrevistada por Márcia Trezza
Cordeirópolis, 16 de abril de 2014.
Realização Museu da Pessoa
WHLP_HV009_Maria Aparecida da Silva
Transcrito por Iara Gobbo
P/1 – Cida, fala seu nome completo.
R – Maria Aparecida da Silva.
P/1 – Você nasceu em que lugar?
R – Tupanatinga, Pernambuco.
P/1 – Que data?
R – Sou de 56, do dia 19 de 56.
P/1 – Dezenove de?
R – Junho.
P/1 – Qual o nome do seu pai e da sua mãe?
R – Meu pai é Augusto Ferreira da Silva, da minha mãe é Maria Bezerra da Silva.
P/1 – Seu pai trabalhava em que?
R – Tem que começar do início, né? Meu pai trabalhava em roça.
P/1 – Sempre trabalhou em roça?
R – Sempre em roça.
P/1 – E sua mãe?
R – Minha mãe também.
P/1 – E você lembra bastante deles?
R – Lembro.
P/1 – Que coisas ele fazia assim que até hoje você lembra?
R – Meu pai trabalhava na roça, meu pai plantava muita mamona. Sabe o que é mamona, né? Plantava milho, feijão, a gente vivia disso, muita mandioca, fava, algodão, nós vivia disso aí lá.
P/1 – E ele plantava sozinho?
R – Sozinho, com trabalhador.
P/1 – Onde vocês moravam...
R – Era da gente mesmo.
P/1 – Era eles trabalhando?
R – Eles, trabalhador e minha mãe.
P/1 – Sua mãe ia pra roça?
R – Ia também.
P/1 – E vocês?
R – Eu com idade de oito anos, ela me entregou a cozinha, eu cozinhava pras pessoas.
P/1 – Que pessoas?
R – Os trabalhadores, era cinco, seis trabalhador.
P/1 – Com oito anos de idade?
R – Com oito anos. Eu ia lavar roupa no rio, era longe, saía quatro hora da manhá. Antigamente o sabão, não sei se você lembra, era em barra, aí a gente machucava aquele sabão e fazia aquele bolo, assim, eu com a minha ia, fazia aquele monte de pano no rio, dava o maior trabalho, era muito sofrimento naquele tempo, muito ruim.
P/1 – Você disse que fazia o sabão?
R – É, uma barra de sabão. É assim, cortava no meio, fazia aquele pisado, fazia um bolo. Assim, minha mão era muito pequena ficava alisando. Muito difícil aquele tempo.
P/1 – Lavava a roupa da família?
R – Da família. E tinha que lavar bem lavado. Naquele tempo usava era roupa de prega, não sei se você lembra antigamente, tinha que usar combinação de seda, que ela usava. A roupa branca dela tinha que por anil. Ainda hoje eu uso nos meu pano de prato.
P/1 – Ainda hoje?
R – Ainda hoje, minha filha também acostumou usar.
P/1 – E sua mãe usava roupa de seda?
R – De seda.
P/1 – E você disse que ela era?
R – Ela gostava de usar. Nós não era muito rico não, mas tinha um tipinho, assim, de fazendinha pequeninha, sabe? Fazia queijo, aprendi fazer queijo, eu sei fazer queijo. Sei fazer doce de leite também.
P/1 – Que delícia. E sua mãe, mesmo ela usando roupas de seda, ela trabalhava na roça?
R – Trabalhava na roça. Nós catava algodão, aí vendia nos saldos. Aí era bastante, um armazém, sabe, o caminhão vinha pegar.
P/1 – E quantos irmãos vocês eram?
R – Eu sou gêmea, né? Em quatro.
P/1 – Vocês são em quatro?
R – É, em quatro por causa duas barrigadas, né, somos em quatro, porque eu sou gêmea, aí tem que falar em três.
P/1 – Os outros que nasceram foram gêmeos, também?
R – Não, só eu. Assim, em quatro, porque eu, somos dois, né? Aí somos em quatro, porque botou numa barrigada e as duas lá tem um menino e uma menina. Mas dois são falecido, fez quatro meses agora que meu irmão mais velho faleceu.
P/1 – Você era mais velha?
R – Não, mais velho é meu irmão que faleceu.
P/1 – Entendi. Os homens iam pra roça?
R – É, iam pra roça também, aí com 16 anos ele veio pra São Paulo, aí casou em São Paulo, tá com quatro mês que ele faleceu, 61 anos meu irmão, lá em Santo André.
P/1 – Santo André, em São Paulo?
R – É, trabalhava na Volks.
P/1 – Você brincava, você trabalhava?
R – Ah, nós “brincava”, eu com meus irmãos, mas a minha mãe não deixava a gente sair.
P/1 – Brincava aonde?
R – Só em casa mesmo.
P/1 – Dentro da casa?
R – Não, dentro de casa, ela não deixava sair, que ela era daquelas mulheres meio ciumenta. Ela e meu pai. É porque a gente não convivia com a família, sabe, era meio distante da família, aí ela não deixava. Ela falava assim: “Menina mulher não pode brincar com menino homem, fora. Ela era muito rígida minha mãe.
P/1 – As mulheres dentro de casa?
R – Dentro de casa.
P/1 – E os homens?
R – Os homens saía com estilingue lá, deferente, né? Aí saía, quando chegava ela botava pra prender os bezerro e nós ficava dentro de casa.
P/1 – As meninas?
R – É, eu e minha irmã de criação.
P/1 – E vocês brincavam do que, dentro de casa?
R – De boneca, fazia roupinha de boneca.
P/1 – E você ganhou bonecas?
R – Ganhei e fazia. Ela comprava na feira, tinha umas bonecas bonitinha, de cabeça, de dedinho, de mãozinha, hoje em dia não tem nada disso. Eu aprendi a fazer boneca também.
P/1 – É?
R – É, e nós tinha as mala, enchia de boneca, fazia bonequinha de sabugo. Coisa de antigamente.
P/1 – Mas você falou que ela comprava boneca pra vocês.
R – Comprava boneca.
P/1 – Mas era de dedinhos, que marca era?
R – Era de pano. Faz de pano, aí põe as perninhas, faz o pescoçinho igual assim uma pessoa bem afiladinha e faz o cabelinho. Eu fiz pra minha neta, minha neta vai fazer 11 anos e ela tem duas bonequinha que eu fiz. Só faltou os dedinhos porque eu não tive paciência. Que tem que fazer assim, sabe, e tem que colocar os dedinho. Aí eu fiz só assim, sabe, sem os dedinho. Ela guarda inté hoje.
P/1 – Além de brincar de boneca, vocês tinham outras brincadeiras?
R – Tinha.
P/1 – Quais?
R – Brincava assim à noite, de roda.
P/1 – Só suas irmãs ou ia mais gente?
R – Uma vez ia assim, a vizinha, sabe? Mas sempre era as menina mulher, os menino homem, ela não deixava os homens brincar com as menina mulher. História de esconde-esconde, ela nunca deixou a gente brincar de esconde-esconde com ninguém. Os homem brincava, mas ela fala “Não, as menina não vai”. Ela era meio durona com a gente.
P/1 – E você lembra assim, você disse que estudou um ano, né?
R – É, só o primeiro ano.
P/1 – Você era criança ainda?
R – Era criança.
P/1 – E como foi esse ano que você estudou? Tem lembranças?
R – Bem, eu acho que eu que não me interessei muito bem, porque amanhecia o dia, ia pra roça. Aí 11 hora tinha que ir pra escola, que era no sítio antigamente, não era em grupo. Antigamente tinha grupo lá pra lá, era em casa assim, pagava pras pessoa.
P/1 – A pessoa que ia ensinar vocês?
R – É, eu sabia muito bem escrever, todo mundo se admirava, mas minha cabeça nunca deu. Eu era ruim pra soletrar, apanhei muito nas mãozinha, mas não teve jeito.
P/1 – Mas você escrevia?
R – Escrevia.
P/1 – E ela queria que você soletrasse?
R – Eu sou ruim pra soletrar, sou péssima.
P/1 – Mas você conseguia escrever a palavra inteira?
R – Inteira. Assim, tem um livro, eu olhava e escrevia todas palavras do livro. Não errava uma peça. “Mas por que tu não soletra?”. E quando tinha aquela que a gente batia pra ir cobrindo a letra? Ave Maria, eu apanhava demais.
P/1 – Fazia o que pra cobrir?
R – Cobria a letra. Isso não é do tempo de vocês não, pegava assim, soletrar: “Que letra é essa?”, tinha que descobrir aquela letra, se não descobrisse era aquelas palmatorinha de... Levei muito, tanto eu como meus irmãos. Era ruim.
P/1 – Você conseguia escrever sem copiar?
R – Conseguia.
P/1 – E você lia o que você escrevia?
R – Às vez sim, às vez não. Era ruim, por isso que eu não aprendi. A cabeça mesmo.
P/1 – Ao mesmo tempo você lia?
R – Lia.
P/1 – E escrevia.
R – Escrevia.
P/1 – Só não soletrava?
R – Só não sabia soletrar e às vez lia umas palavras e depois esquecia. Eu sou assim.
P/1 – E aí resolveu não ir mais na escola?
R – Não. Aí depois teve o Mobral que era à noite, eu ia muito bem, depois...
P/1 – Você chegou a ir no Mobral?
R – Cheguei. Até aqui mesmo, a menina vinha aqui, mas eu falei: “Ah, depois de velha vou pra escola?”, tou sem paciência, não tenho paciência não. Minha cabeça não dá, não.
P/1 – Hoje você consegue ler?
R – Esqueci tudo.
P/1 – Esqueceu? E escrever, você escreve alguma coisa?
R – Só o meu nome, eu não esqueço o nome. Tem que ser sincera e falar, né? Porque se a gente não escrever e ler, tiver pouca leitura, aquilo ali vai sumindo da mente. Eu acho, assim, que a minha sumiu da mente. Fui criar filho, cuidar de marido e filho, daí esqueci tudo.
P/1 – E depois que você foi crescendo, conta como era.
R – A minha vida com meus pais foi muito bom, graças a Deus. Era eu, meu irmão e outro irmão, que a outra menina morreu pequena, minha irmã, e a criada que a gente cria, que é a minha irmã de criação. Mas graças a Deus foi bem, souberam criar a gente muito bem. Não saía com ninguém, nós íamos pra festa, ela dançava e eu era mocinha pequenininha, tinha que ficar lá no recanto da parede, eu não sei, nunca dancei na minha vida.
P/1 – Mas você disse que quem ia pra festa?
R – Mamãe, papai.
P/1 – Levavam vocês?
R – Levava.
P/1 – E quem dançava?
R – Papai, mamãe, mas eu não dançava.
P/1 – E vocês eram mocinha?
R – Ah, tinha uns 12, 13 anos.
P/1 – E eles falavam pra você ficar onde?
R – Falavam assim: “Fica aí sentadinha”, eu ficava no recantinho lá. Igual não sabia dançar, né, ficava lá com as coleguinha, aí eles dançava aquelas parte, ela sentava perto de mim, ficava lá.
P/1 – E suas irmãs dançavam?
R – Não. A minha irmã, essa que é criada, ela aprendeu dançar depois de casada, mas eu nunca quis.
P/1 – E você disse que tinha uma irmã que era criada, depois tinha mais outra.
R – Essa faleceu.
P/1 – Não chegou a ir para as festas?
R – Não.
P/1 – E aí você foi crescendo?
R – Ah, fui crescendo na roça. Minha mãe ir pra roça mais meu pai, e eu em casa, dia de segunda-feira eu ia lavar roupa. Quando chegava ela não deixava eu fazer nada, eu ia descansar, deitar, assistir televisão, que nós tinha antigamente, já na bateria, preto e branco.
P/1 – E não tinha alguém que trabalhava na casa pra ajudar?
R – Não.
P/1 – E as suas irmãs, ajudavam você depois?
R – Não, porque a minha irmã como ela era mais nova do que eu, ela botou ela pra estudar. Ela já é bem estudada, já. E aí eu e não, eu já não quis.
P/1 – Entendi. A sua irmã acabou que estudou.
R – Acabou, estudou.
P/1 – E você, disse que quando ela chegava em casa, você tinha lavado muita roupa...
R – Ah, eu ia descansar, aquele dia era meu. Eu ia tomar banho, aí eu ia deitar, fazer alguma coisa, mas aquele dia à tarde, ela dizia: “Ó minha filha, você lavou roupa, hoje você fica sossegada”. Eu cozinhava muito bem.
P/1 – Cozinhava? O que você mais gostava de fazer?
R – Ah, eu gosto de fazer tudo. Eu gosto de fazer uma comida bem boa, bem gostosa.
P/1 – Com quem você aprendeu?
R – Com a minha mãe. Fazia antigamente, não sei agora, fazia festa de casamento, eu era cozinheira de casamento a minha mãe, eu ajudava ela. Nós fazia lombo, costela de boi, de porco, furadinha, temperada, depois assava na gordura. Uma coisa louca, muito gostoso! Que ela aprendeu no Paraná, que ela chegou a morar no Paranavaí, minha mãe.
P/1 – Paraná?
R – Paranavaí.
P/1 – Lá também em Pernambuco?
R – Não, Paranavaí é aqui. Eu nasci em Pernambuco, meu irmão nasceu em Paranavaí, meu irmão mais velho, o que faleceu.
P/1 – Sua mãe era de Pernambuco?
R – De Pernambuco. Quando ela veio pro Paraná, ela veio num pau de arara, ela tava grávida do meu irmão.
P/1 – E depois voltaram?
R – Depois voltou, que era no tempo das colheita de algodão, ela conta.
P/1 – Depois voltou?
R – Depois voltou. Aí depois nasceu eu e meu irmão, nós dois.
P/1 – E você disse que foi crescendo, mas ia nas festas.
R – Não, nunca dancei na minha vida (riso)
P/1 – E nem aprendeu?
R – Não.
P/1 – Mas cozinhar você sabe?
R – Cozinhar eu sei.
P/1 – Você disse que cozinhava pra oito pessoas?
R – Com oito anos minha mãe me entregou a cozinha e tinha que cozinhar.
P/1 – Quantos trabalhadores?
R – Era “inté” oito, oito, nove, dez, depende.
P/1 – E como você fazia pra cozinhar com oito anos?
R – Ah, era assim, eu só não sabia matar galinha. Eu matei, mas judiei, né? Ela deixava já pronto. Ela deixava o que? O feijão, eu temperava. O arroz, que esse povo quando mora em Paraná, quando chega já costuma fazer o arroz bem feito, na banha do porco antigamente. Ela me ensinou e eu aprendi.
P/1 – E a carne?
R – A carne também. Eu não sei fazer carne com água. Minha carne eu faço na medida.
P/1 – E você mesmo começou com oito anos, você sempre gostou?
R – Sempre gostei.
P/1 – Não enjoou?
R – Não. Eu adoro fazer comida.
P/1 – E hoje, o que você faz mais gostoso, que você acha que faz melhor?
R – Ah, não sei, se tiver todos tempero, qualquer tipo de carne, o que manda é o tempero.
P/1 – É?
R – Eu acho.
P/1 – Você tem os seus segredos?
R – Tenho.
P/1 – Conta pra gente?
R – Não. Ela não cozinha igual a eu.
P/1 – Ah é?
R – É diferente.
P/1 – Vocês tem seus segredos?
R – Claro, cada um sabe um jeito.
P/1 – Cada um cozinha de um jeito.
R – Tem muita diferença.
P/1 – Mas o quê que você acha mais importante assim, na hora de cozinhar?
R – O carinho, fazer com todo amor. No cortar da carne, no lavar da carne, no tempero de tudo. Eu acho muito importante isso, não é só eu, não. Eu sou pobre, mas eu gosto de uma coisa bem feita. A macarronada que eu faço!
P/1 – Nós estamos com vontade de comer.
R – Faço um macarrão, não tenho nada com esse povo italiano, mas eu faço igualzinho o macarrão deles.
P/1 – É mesmo?
R – É.
P/1 – E o segredo do molho, pra ficar bom, qual é? Você não vai contar pra nós.
R – Você quer aprender?
P/1 – Um só, conta pra gente.
R – Você quer aprender?
P/1 – Quero.
R – Você põe um pouquinho de óleo, põe bastante cebola, o alho, refoga ele, pode deixar bem refogadinho. Depois você põe o molho da tomate, põe um pouquinho de orégano, um pouquinho, um galinho de manjericão, e põe um sazonzinho, e cebolinha verde, dá aquele molho bem grosso, põe no macarrão, você vê que delícia. Eu não gosto de molho de macarrão ralo não.
P/1 – Tem que ser grosso?
R – Tem que ser grosso. Naquele molhinho você faz um filé de frango, se você pegar aquele molhinho bem grosso, botar assim por cima, meus menino adora.
P/1 – E Cida, como que você, você disse que não podia sair.
R – Não, não podia sair.
P/1 – Nas festas ia só com seu pai e sua mãe?
R – Não, só com meu pai e minha mãe.
P/1 – E tinha outras formas de diversão?
R – Ah, tinha assim, nos terços a gente ia com minha mãe. Antigamente tinha reizado, mas era tudo do ladinho, não saía de perto dela.
P/1 – E como era o reizado?
R – Ah, o reizado é uma dança que eles fazem, que tem dança. Igual uns que bate assim, se bota num tipo de uns boi bombê que passa, sabe? Bota umas cara, dança muito bonito. Tipo de um boi, muito legal.
P/1 – E vocês iam assistir?
R – Ia, sempre ia com minha minha e com meu pai, meus irmão. Que tinha às que fazia, assim, no terreiro, que chama lá, no quintal. E tinha reizado que fazia dentro de casa. Mas é muito animado um reizado, só que acabou tudo isso.
P/1 – Mas dentro da sua casa?
R – Dentro da casa da minha mãe sempre fazia.
P/1 – No quintal?
R – Ou no quintal - lá assim chama terreiro, aqui é quintal, num terreirão como aqui bem grande, aí faz o reizado, quando é no terreiro. Fazia dentro de casa, depende da casa ser grande, a sala. É muito animado. Hoje em dia não existe mais.
P/1 – E se era tão difícil assim de sair de perto dos pais, como é que você conheceu seu marido?
R – Agora você me pegou! Porque antigamente era difícil pra arrumar namorado, muito difícil. Fui noiva de um rapaz, ele veio pra São Paulo. Que lá noivava e ia embora pra São Paulo.
P/1 – Junto, trazia a mulher?
R – Não, lá é diferente. Ele noivava, vinha trabalhar, pra depois casar, entendeu? Aí depois diz que depois ele arrumou outra noiva, acabou o casamento. Eu entreguei a aliança, fiquei na minha, em casa, na família. Aí devagarzinho, foi quase que mais ou menos que nem seu Antônio com a Expedita, mas ele ainda foi pior, a minha mãe foi muito ignorante com ele. Nós na casa da vizinha e minha mãe queria que eu andasse juntinho dela, ali juntinho. Aí eu passei passo a passo, mais ele na frente. Ela foi me empurrou. Aí desde esse dia não sei, parece que o amor aumentou mais, né? Aí sempre ele fala: “Eu só me casei com tu porque tua mãe fez raiva em mim, e empurrou, fez ignoração”. Eu não tava fazendo nada de mais, só por causa que eu andei assim na frente, só fiquei atrás dela um pouquinho, ela foi e empurrou eu e ele pra frente, passou pra frente os dois.
P/1 – Mas você já tinha conhecido ele antes?
R – Já, aliás ele era noivo de uma prima dele. Eu fui madrinha de uma irmã dele. Aí eu fui madrinha, lá faz muito almoço na hora do batizado. Aí a gente começou batendo papo, ele era muito bonito. Hoje em dia que acabou o homem, ele era muito bonitinho, sabe (riso)? Tinha chegado de São Paulo. Aí nós começou a namorar, e ele noivo!
P/1 – E aí?
R – E aí? Ele ficou escrevendo pra mim.
P/1 – Aqui em São Paulo isso?
R – É, ele escrevia, ele morava no Jardim Brasil em São Paulo, ele mandava carta pra mim, aí o bicho pegou. Minha mãe pegou um dia eu tirando carta no correio: “De quem é essa carta?”, eu falei: “É de Vavá”, ela falou: “Ah, de que Vavá?”, falei: “De que Vavá? De comadre Dina”. E ela também é madrinha de uma irmã dele. Aí ela falou: “Mas o Vavá não é noivo? Como é que tá escrevendo pra rapaz noivo?”, falei: “Eu não sei, ele escreveu, eu recebi a carta”. Aí fiquei quieta lá, ele em São Paulo e eu lá também, não podia dançar, não fazia festa que minha mãe era assim mesmo, né, naquele tempo. Teve uma época que minha mãe veio pra São Paulo, esse irmão que é gêmeo comigo, ele arrumou uma mulher. Ficou muito difícil separar ele dessa mulher. E essa mulher já tinha matado o marido dela, mais um tio e um sobrinho se matou numa festa por causa dela. Aí ele se interessou, ficou dando em cima do meu irmão que é gemo comigo. Aí ela veio em São Paulo casa da minha tia lá no São Caetano do Sul, e minha tia falou: “Ah, trás o Zé Cícero pra cá Maria, pra ver se ele deixa essa mulher”. Aí ela chegou e perguntou assim pra mim, que nós era muito grudado, né, que nós somos gemo. Aí ele perguntou assim: “Eu só vou” – nós temos uns apelidinho, só que eu não quero chamar, senão o povo vai chamar, deixa isso pra lá, “Leva o Zé lá pra São Paulo”, ela falou assim: “Ai Cida, fica você mais seu irmão e eu levo você pra São Paulo pra passar lá uns três dias, uma semana, e lá assim, só pra visitar minha irmã, depois tu deixa lá e vem embora”, aí eu pensei, pensei. Aí ele falou assim: “Eu só vou”, aí ele chama eu Patida, “Eu só vou se Patida for”, é apelido sabe, de irmão pra irmão. Aí minha mãe falou: “Tu quer ir?”, eu falei: “Ah, eu não sei não, mãe”. Aí na semana de eu viajar, recebi outra carta dele, aí eu já mandei escrever, a minha cunhada, aí vim pra São Paulo, lá em São Caetano.
P/1 – Você falou pra ele que você tava vindo?
R – Falei! Mas tá se não! Aí quando nós “cheguemos” na rodoviária, fui pra São Caetano mais meu irmão. Nesse dia minha tia, ela já faleceu esse ano também, aí nós cheguemo lá, ela falou assim: “Ai você não fica aqui comigo?”, eu falei: “Será que eu ficaria com ela?”, eu pensando: “Vavá vai aparecer hoje”, que eu já tinha marcado. Aí ela falou assim: “Eu vou pra Santos amanhã, você quer ir?”, eu falei: “Ah tia, não vou não, vou ficar aqui mais meu irmão. Vai vim um rapaz aqui buscar uma carta da mãe dele”, que a me dele tinha escrevido uma carta. Ai meu Deus, aí meu irmão foi lá no trem, e esperou esse rapaz e o rapaz não apareceu. Aí eu subi lá que era apartamento, e eu vi lá sentado, meu irmão mais velho e um rapaz lá de costas. Falei aí, aí depois ele chegou, falou assim: “Sabe quem tá ali?”, falei: “Sim, é Vavá”, “E ele tá procurando o teu irmão”, pra não dizer, pra ele não achar que veio atrás de mim, né? Aí veio, nós “chegou”, conversou, fiz almoço pra ele, almocemos, aí meu irmão falou assim: “Amanhã vou pra Guarulhos”, eu falei: “Vou não, vou ficar aqui mais tia”. Aí ele já no meu pé: “Vai, você vai”, falei: “Eu não, eu vou ficar aqui com a tia”, ele falou: “Não, eu moro em Jardim Brasil e você vai pra Guarulhos, de Guarulhos lá fica mais perto da gente se ver”. aí ficou nessa cortina, namorando escondido. Ai menina do céu, quando meu irmão percebeu, vixe, aí o bicho pegou! Nós “morava” num quartinho e ele trabalhava à noite.
P/1 – Você ficou morando lá?
R – Morei, eu casei em Guarulhos.
P/1 – Aí você não voltou mais pra sua terra?
R – Voltei depois. Aí ele acabou o casamento lá da prima dele, porque de oito em oito dia ele ia pra casa da minha tia, depois eu fui morar com meu irmão. Meu irmão arrumou uma namorada, eu não quis fiar junto. Porque antigamente, eu sou sincera, ele foi meu primeiro marido, meu primeiro homem da minha vida foi ele. Antigamente não é como hoje em dia. Eu falei pra ele: “eu não vou ficar aqui. Se você quiser ficar com a mulher você fica, mas eu não vou ficar.” Fui pra casa da minha tia, aí só saí da casa da minha tia quando eu me casei. Quando eu me casei aí eu tive a minha filha, mas quando eu tava com nove mês, nós fomos embora pra Pernambuco.
P/1 – Foi com seu marido?
R – Fui com meu marido. Aí fiquei lá, depois nasceu outra menina, ele sempre trabalhou, trabalhou no metrô. Ah, esqueci de um detalhe, quando minha mãe soube que eu ia casar, nós ia casar só no civil. Porque ele falava assim: “Tu fica na casa dos outro, vamos casar no civil e eu levo você pro Jardim Brasil”. Aí meu irmão escreveu pra minha mãe, ela falou assim: “Se você casar, faz de conta que é um dedo que eu corto”.
P/1 – E aí?
R – E aí? Pra não casar no civil, né, tinha que casar na igreja. Aí nós fomos lá e resolvemos, aí casemo no civil e na igreja.
P/1 – Aqui?
R – Em Guarulhos.
P/1 – E ela não participou?
R – Veio pro casamento, ela não queria ir pro civil. Ela falou só vinha se eu casasse na igreja. Aí minha tia: “Por causa disso não, Maria, porque ele só vem aqui de oito em oito dia. Vamo acertar o casamento”. Aí preparamos, nós casemo no civil dez horas, e seis horas nós casou na igreja.
P/1 – Foi em seguida o casamento?
R – Foi, somos felizes inté hoje, graças a deus. Ele é pequenininho, mas olha! Esse carrinho é dele carregar verdura. Aí o dele tá no conserto, ele tá com o carrinho véio dele só carregar verdura mesmo.
P/1 – Como ele chama?
R – Jorge.
P/1 – Vocês tiveram quantos filhos?
R – Dez. Tenho minha menina mais velha, que ela vai fazer 35 anos, aí tem meu caçula, já fez 22 anos. É um homão.
P/1 – Quantos meninos e quantas meninas?
R – Eu tive cinco menina mulher e cinco home. Aí no intervalo morreu uma menina com cinco mês. Aí ficou quatro menina mulher e cinco home. Mas até hoje meus filhos nunca me deram trabalho, só não quiseram estudar. Essa mais velha ainda terminou os estudos, os outros não quiseram estudar, estudaram muito pouco, só trabalharam. Trabalhar é com eles mesmo.
P/1 – Cida, você fez diferente do que sua mãe fez com você?
R – Quase a mesma coisa, que o pai é meio ignorante, quase a mesma coisa.
P/1 – Como é?
R – O pai é a mesma coisa como antigamente, ele é muito ignorante.
P/1 – O pai?
R – Meu esposo, ele é ignorante. A minha menina quando ela namorou, quando nós cheguemo aqui, ele namorou por seis mês, ele fez ela casar, essa que eu falei que separou. Aí ele falou: “Tem que casar”, e casou. Aí depois, ela já casou com 21 anos, da minha idade, eu casei com 21 anos também. Ela casou com 21 anos, a outra mais nova casou com 17, o rapaz parece que tinha 22, mas graças a Deus inté hoje tão casado. Têm duas filhas.
P/1 – Mas você fez diferente, ou igual a sua mãe fazia com você?
R – Quase a mesma coisa. Eu fui segura muito com as minha filha. Agora porque já acostumou aqui, tem a mais nova que ela já depois que chegou aqui, depois dos 18 anos já, né, mas era meio durona também.
P/1 – Também fez igual?
R – Filha minha não tem esse negócio de ficar solta. Eu acho que a criação é bom, esse negócio de criar filho solto, na minha opinião é errado. Que eu vejo aqui, menina ali com uma filhinha com 12 ano, 13 ano tudo grávida. Minha filha só estuda, não quiseram estudar, né, mas trabalhar minha filha, é com ela mesmo.
P/1 – Eles trabalham?
R – Trabalha.
P/1 – Cida, e como você veio de Guarulhos pra cá? Você veio direto pra cá?
R – Não. Quando eu me casei, eu fui embora pro Norte. Nós comprou o terreno lá, construímo, moremo numa casinha da taupa. Sabe aquelas casinha de taupa, feita de barro? Eu cheguei morar nessa casa. Aí ele fez tijolo, aí nós construiu uma casa, compremo terreno. Quando nós fomo morar lá, nós já tinha terreno, que ele trabalhou um tempo em São Paulo, ele trabalhou no Hospital das Clínicas, ele trabalhou no metrô antigamente quando começou. Trabalhou muitos anos no metrô.
P/1 – Na construção?
R – Isso, no metrô.
P/1 – Então aí você voltou pra sua terra?
R – Fui pra minha terra, aí fiquei lá. Aí eu tive a Lucineide, quando eu saí daqui já saí grávida. Aí, tá vendo? Não tinha chance, mas quando casei, foi rapidinho, dez filho. Aí quando eu saí daqui com a menina tava com nove mês, cheguei lá tava com dois mês do mais velho, que é outro, né? Aí ele veio embora pra São Paulo, só passei um ano livre. Aí depois foi nascendo menino, nascendo menino, nascendo menino.
P/1 – Tudo lá?
R – Tudo lá, só nasceu um aqui.
P/1 – E aí vocês resolveram sair de lá por que?
R – Quando eram pequenos não. Ela vinha trabalhar, eu ficava com meus menino trabalhando e na roça também, eu e eles. Ele mandava dinheiro, aí minha menina falou assim: “Mãe, vamo fazer assim?”, falei: “Vamo, minha filha”, “Pai mandou dinheiro pra nós pagar trabalhador, o que que vamo fazer mãe? Nós mesmo vê esse dinheiro”. Aí nós levantava de manhã, eu tirava o leite, fazia o cuscuz, que o cuscuz daqui é paulista, de lá é diferente, aí comia com leite, eles iam pra roça.
P/1 – Todo mundo
R – Todo mundo. Os que não trabalhavam, ficavam brincando nos pés de manga. Era assim.
P/1 – Vocês iam todos pra roça?
R – Iam todos. Aí quando era umas nove hora ia pra casa, fazia arroz, feijão, carne lá não é como aqui. Você compra e guarda, fritava a carne. Aí ficava meio dia, amarrava os bicho, nós tinha um gadinho, bem pouquinho, né, mas meus filhos foi tudo sossegado.
P/1 – Vocês plantavam o que na roça?
R – Nós plantava mandioca, bastante feijão, milho.
P/1 – Vendia? Não?
R – Vendia. Nós vendia, quando ele tava em São Paulo, nós fazia, rançava a mandioca e fazia a farinha.
P/1 – Lá?
R – Lá. Nosso terreno era nosso, todo terreno.
P/1 – E por que vocês resolveram vir pra cá?
R – Porque ele começou trabalhando aqui no São Paulo e começou trazendo meus filho, o mais velho. Aí eu vim passear com ele, ele tava aqui eu vim passear e trouxe meu menino mais velho. Desde esse tempo eu comecei uma pressão alta, até hoje eu tenho pressão alta, que eu não podia ficar separado deles.
P/1 – Dos seus filhos?
R – Aí eu vim. Ele ficou trabalhando, mais o menino. Aí ele sempre mandava o dinheiro. Aí ele foi falando desse terreno, eu sempre queria vim embora. Ele falou: “Cida, como eu vou morar em São Paulo, eu não quero morar aqui, eu não quero criar os meus filho em São Paulo”, que eu sei ele sabe vivência aqui como é que era. Ele já morou muito tempo.
P/1 – Ele morava em São Paulo mesmo?
R – São Paulo. Ele falou: “eu sei a vivência de São Paulo, como que é. Tu põe na tua cabeça”, ele falava, né, que a criação daqui é diferente de São Paulo. O pior que é mesmo, né? Aí eu fiquei. Aí quando eu vim o meu menino dois caçula, o caçula tava com sete anos quando eu vim pra cá.
P/1 – Você veio porque você ficou com saudade dos filhos?
R – Eu vim porque eu queria vim de qualquer jeito! Eu vim na época por causa do menino que veio com ele, encostado a mais véia, que a mais véia não vinha.
P/1 – Aí vocês resolveram...
R – Aí ele falou assim: “Cida, eu vou ganhar um terreno aqui”, eu falei: “E agora eu vou mesmo”. Aí fiquei tentando: “Ah eu quero ir, eu quero ir”. Ele falou: “Mas como é que eu vou? Eu pago lá pro rapaz”, aí falou aqui da terra, né, aquela correria do rapaz que ele trabalhava, que só vinha de 15 em 15 dias trazer cesta e pagar pro rapaz ficar no lugar. Aí dizia: “Mas eu quero ir, nem que eu more debaixo da ponte”. Aí ele falou: “Um dia vou levar você com esses monte de filho pra morar debaixo da ponte? Como é que pode?”. Eu fiquei sossegada. Aí um dia ele falou assim: “O terreno tá pra sair, o lote”.
P/1 – Era esse?
R – Era esse. Aí foi lá buscar o outro menino pra ficar aqui, que tava pagando pra outro rapaz ficar, que ele trabalhava, que não podia. Aí veio buscar outro menino meu. Ele não é cadastrado aqui, ele morou no São Paulo, casou em São Paulo e ficou no São Paulo. Ele não quis, não vinha pros Sem Terra. Aí ele falou: “Se vocês não quer, então ficar aí trabalhando”. Ele foi, trabalhou, construiu em São Paulo, aí casou.
P/1 – Seu filho?
R – Meu filho, é.
P/1 – Mas como seu marido ficou sabendo desse terreno aqui? Você sabe?
R – Sei muito bem. Ele foi fazer uma construção na casa de um doutor, não sei o nome do médico, em Araras, e encontrou um parente meu e falou pra ele que tinha um bocado de gente que tava aqui no assentamento, se ele queria entrar. Aí ele falou assim: “Eu não posso”, aí ele falou: “Põe uma pessoa. Como tu tem dez filho Vavá, tu pega sossegado.” E foi isso aí, porque aqui pra pegar tem que ter bastante filho. Se não tivesse, não pegava. Aí ele deu o nome, e ele foi buscar o menino em casa. Aí ficou meu filho aqui, nos barraco. Ele foi um sofrimento, viu? Ele fala. Só que ele diz que foi um sofrimento, mas que era animado.
P/1 – É? O que era animado?
R – Ele fala assim: “Mãe, quando o povo chegava pra correr, quando chegava o povo pra sair, o primeiro que subia em cima dos caminhão era os cachorro e as galinha”. Meu filho é brincalhão, sabe? Aí ele diz que era triste, saía pra pedir, levava o nome de vagabundo, mas ele disse que era muito animado, ele fala. Passou fome.
P/1 – Seu filho?
R – Meu filho. Porque, como ela falou, tinha que fazer campanha, pra ter alimento. Aí enquanto o pai não trazia a cesta básica lá de São Paulo, aí ele tinha que comer junto com os outro e sair pra em frente, fazer campanha.
P/1 – Mesmo assim, eles eram animados?
R – Era animado. Ainda hoje ele é casado, tem a casinha dele, mas ele mesmo fala, ele tem a maior vontade de pegar um pra ele.
P/1 – E Cida, aí quando conseguiu o terreno, o que aconteceu?
R – Quando ele falou assim: “Cida, você não pode vim agora, só quando dividir. Como que eu vou trazer?”, porque os barraquinho era tudo pequeninho, é tudo aqui ao redor, é tudo umas coisa assim bem fechadinho. Só cabia mesmo ele, que tava, e o pai que vinha de 15 em 15 dias. Aí ele falou: “Eu ficava louca, aí eu quero, eu quero ir”, aí um dia ele falou assim, ligou pra mim, falou : “Vai sair os lote”, “Quando?”, ele falou “tal dia”. Ah, eu fiquei animada, aí quando foi um dia ele chegou: “Vou levar vocês de uma vez, tu vai vendendo as coisa aí,” aí fui vendendo geladeira, fui vendendo os bicho que tinha pra pegar o dinheiro. Aí veio ele, veio quatro pessoas mais ele.
P/1 – Mas você tava ainda?
R – Eu fiquei, não podia vim tudo de uma vez. Eu tive que ficar lá vendendo as coisas.
P/1 – Em Pernambuco?
R – Aí nós vendeu só os bicho, os móvel de casa que nós tinha, e deixemo morador, fizemo contrato e deixemo morador no terreno. Aí quando foi com um mês, aí eu vim, nós três. Mas não veio tudo de uma vez. Aí que a saudade matou. Tamo aqui até hoje.
P/1 – Quanto tempo eles ficaram lá, longe de você?
R – Só passaram um mês e meio, mais ou menos, que só deu tempo de eu vender o resto das coisas.
P/1 – Cida, veio você, mais três filhos?
R – Ele veio trazer, quando ele veio ele trouxe quatro, aí depois foi buscar o resto.
P/1 – Você junto?
R – Eu junto. Eu fiquei lá.
P/1 – Vocês viviam onde, aqui no assentamento?
R – Quando eu vim? Ele fez um barraco.
P/1 – Mas quando você chegou aqui, qual foi a sua reação?
R – Ah, eu fiquei feliz, mas eu chorava muito.
P/1 – Por quê?
R – Porque a minha casa era grande, nós tinha terreno, nós tinha nossos bichinho, nós nunca compremo nada pra comer. Nós comprava de saco de arroz, lá nós comprava de saco, de sal, que é saco mesmo, nós comprava de lata de querosene. Depois botaram energia, tava muito bom. Nós tinha televisão, tinha antena parabólica, nós tinha de tudo lá, de tudo. Aí quando chegamos aqui não tinha nada, nada. O barraquinho pequeno, só tinha terra, pé de eucalipto. Aí eu fui visitar uma madrinha minha, ela falou assim: “Mas minha filha, mas me explique como você deixa sua casa, com tudo que vocês têm pra você ir pra São Paulo, morar num barraco que tem inté pé de árvore dentro de casa, minha filha?”, eu falei: “Não, não sei disso não madrinha”, “Tem, que Vavá falou”. Quando eu cheguei aqui que eu olhei assim, sabe aquele pezão de eucalipto, a coisa mais linda. Dei um abraço nele, assim, no outro dia eu arranquei e limpei. Fizemo umas caminha meia doidinha de coisa.
P/1 – De quê?
R – Põe assim uns pau, põe as madeirite, aí fizemo cama. Aí quando foi com 15 dias ele foi, comprou a cama de casal pra nós, compremo colchão. Aí compremo beliche, nós tinha que tira o dinheiro no banco, que não podia vir clandestino. Aí foi comprando as coisinha, aí ficou, ficou, e a chuva, na semana deu uma chuvada, levantou tudo as telha brasilit, tudo. Aí nesse dia eu chorei, mas chorei, chorei. Os meninos tavam indo pra escola, aí ficou todo mundo triste, que aqui dentro era pesado, muito pesado. Agora nós acostumou.
P/1 – Acostumou. Agora a casa...
R – A casa a gente fala: “Nós mora embaixo, meus filho moram em cima”, no sobradinho.
P/1 – Agora não é mais de madeira?
R – Não, tudo de tijolo. É duas casa em uma só, como diz o ditado.
P/1 – Cida, se vocês tinham tudo isso, casa, e seu marido resolveu vim pra cá. Qual o motivo para vocês virem?
R – Ah, o motivo, eu falava assim pra ele: “Por que tu quer ir embora?”, eu falei: “Eu quero ir embora, os meus filhos vão trazendo um por um”, igual ele fez. Ele foi o primeiro que veio, o filho mais velho da minha sogra. Aí ela tem um monte de filho, aí ele foi trazendo todos os irmãos. Ele ia fazendo a mesma coisa e ia deixar eu lá sozinha. Fui ficando sozinha lá. Eu falei: “Eu quero ir para perto dos meus filhos”, eu queria vir porque meu sonho era vim e cuidar dos meus filhos, porque inté hoje, graças a Deus, meus filhos só trabalham. Ninguém, inté hoje não sei o dia de amanhã, meus filhos nunca usaram droga, meus filhos nunca saíram fora de casa, fora de hora quando era de menor, só da escola pra casa. aí hoje em dia são tudo casado, tudo pai de família, que a gente soube criar. Ninguém criou filho aqui na rua.
P/1 – E como que você chegou nesse empreendimento que é? Como chama esse empreendimento que você participa?
R – Aqui? É Consulado da Mulher. Agora, né?
P/1 – Não, mas aqui onde você trabalha. Como que vocês chamam aqui esse lugar?
R – Aqui? Ah, eu nem sei como a gente chama mais. Nós chama restaurante.
P/1– Mas tem um nome.
R – Tem um nome, mas saiu fora da minha cabeça agora.
P/1 – Não é o Recanto...
R – Das Palmeiras, é.
P/1 – Recanto das Palmeiras?
R – É, Recanto das Palmeiras.
P/1 – E como é que você começou?
R – Nós começou assim. A Fátima, deixa eu pensar como foi que a Expedita falou... A Fátima falou pra Expedita, a Expedita foi numa reunião no Rio Claro. Ela chegou lá, encontrou a Melissa, aí ele falou que tinha essas mulheres aqui, que nós já tínhamos feito um curso, veio a mulher de São Paulo aqui nessa casa mesmo, nós fizemos o curso de padaria. Nós tem o forno que tá lá na casa dela, que o menino dela faz pão, faz bolo lá também.
P/1 – Quem?
R – Aquele Cícero, e tá lá o forno. Aí nós fizemos esse, o curso de pão.
P/1 – Esse curso, quem que ofereceu?
R – Foi os povo de Arara, o escritório, que veio, do Estado.
P/1 – Do Estado? Não era do Consulado?
R – Não, do Estado. Aí se ajuntou o grupo de nove mulher. Dessas nove mulheres, só ficou eu, Dona Miriam e Expedita.
P/1 – E essas nove mulheres, antes desse encontro com a vereadora, que é a vereadora Fátima?
R – Isso.
P/1 – O que vocês faziam?
R – Nós fizemos, nós começou a fazer banana chip. Depois da banana fomos pra mandioca.
P/1 – Quem teve essa ideia?
R – A Expedita com a dona Marta, que ela foi num lugar, deixa eu ver, foi em São Paulo, mesmo. Os assentados, foi numa reunião lá os assentados ensinaram e nós começou a fazer a banana. Aí da banana, nós inventemo a mandioca. Aí da mandioca, nós fizemos o café da manhã.
P/1 – Onde?
R – Era ali na sede.
P/1 – Vocês inventaram esse café da manhã?
R – É, o Consulado.
P/1 – Aí… a vereadora Fátima…
R – É, aí chamou o Cristiano. O Cristiano fez uma reunião, gostou da palestra, e ficou com a gente fazendo reunião, ai ele ficou levando a banana pra vender em Rio Claro.
P/1 – Quem é o Cristiano?
R – Cristiano ele já saiu, era lá do Consulado. Aí saiu o Cristiano, e ficou a Melissa. A Melissa era muito boa. Aí ela vendia banana, ela vendia queijo pra ele, ela vendia alface. Tudo que tinha na horta eles compravam, levava pra Rio Claro, pra comer. Fizemos almoço.
P/1 – Eles vendiam em algum lugar?
R – Não, a banana sim, a banana vende lá, onde as meninas tão. Acho que você foi lá, né?
P/1 – Fui.
R – É lá que elas vendem banana chip.
P/1 – No Espaço Solidário?
R – Isso, a menina que vendia pra nós. Vendia, vende.
P/1 – Vocês ficaram.
R – Em nove. Era em nove, aí fizemos almoço, que eles vieram a turma toda que doou isso pra nós. Aí gostaram. Fizemos só o almoço. Veio no almoço também uma turma de estudante também, nós fizemos almoço. Aí gostaram, aí começou aquele... As meninas andando, fazendo reunião inté a menina veio e falou pra nós o que nós queria, né? A Expedito falou: “Nosso sonho é o restaurante”.
P/1 – Era o seu sonho também?
R – Era também.
P/1 – Porque vocês já cozinhavam?
R – Cozinhava, não diretamente pra quando eles vinha nós fazia lá o almoço, quando eles vinha do Consulado, a turma de gente.
P/1 – E vinha fazer o que aqui?
R – Vinha almoçar.
P/1 – Só almoçar?
R – Almoçar, pra ajudar nós, era pra ajudar, uma renda. Fizemos também a festa da banana, eles ajudaram bastante.
P/1 – Quando vocês começaram a cozinhar, que começaram a vir pessoas, antes cada um cozinhava pras suas famílias?
R – É, em casa mesmo, pra família.
P/1 – E quem teve essa iniciativa de começar a fazer comida em algum lugar e pra outras pessoas?
R – A Expedita, ela que é a chefe.
P/1 – Antes do Consulado, eu tô falando.
R – Não, sempre ela tinha o sonho. Ela falava: “Ah, meu sonho é por um restaurante. Aí, tem essa casa aqui, ai se nós pudesse, ai vamos aqui na sede mesmo”. Aí teve o programa que a Fátima colocou, aí não dava certo, a gente fazia, era tudo apertadinho. De sábado a gente não podia fazer uma banana, que era cheio de criança, aí nós ficou desesperado.
P/1 – E quando veio o Consulado, qual foi a primeira mudança que aconteceu?
R – Ah, mudança, eles vieram, vasculharam pra fazer outro separado, mas não deu.
P/1 – Fazer o quê?
R – Fizeram, como é que chama, pra fazer uma casa? A “pranta”, que era pra fazer de lá aqui, né, aí não deu certo. Aí vamo pra casa. Aí o rapaz veio, falou que não dava certo, porque tava muito feio aqui. Porque aqui fizeram um canil ainda, né? Aí nós votemos pra tirar o canil daqui.
P/1 – Tinha um canil aqui?
R – Tinha, dos meninos, pequeno, mas tinha.
P/1 – De que meninos?
R – Meninos da cidade, esse povo aqui…
P/1 – Como?
R – Eu não sei o nome que eles chama, que cuida de cachorro, zoonose. Era deles, eles tomava de conta aqui. A Expedita: “Não pode porque aqui é nosso”, e começou, inté nós tiremos eles daqui.
P/1 – Conseguiu que eles saíssem?
R – Conseguimos.
P/1 – Cida, antes de construir esse espaço, o Consulado ajudou naquele outro?
R – Ajudou. Eles ajudaram, você não foi olhar não, tem aquilo piso ali, ali foi o Consulado que deu pra nós, lá do outro lado. E em frente lá, ele foi lá olhar. Fez o piso lá bonitinho, só pra fora mesmo, que era pra aumentar, mas não deu certo.
P/1 – Você já conhecia a Consul antes?
R – Não.
P/1 – Você já tinha ouvido falar dessa marca Consul?
R – Já, mas ninguém nunca usava não.
P/1 – Não usava?
R – Não.
P/1 – E depois quando começou esse contato com o Consulado, além dessa parte que você já falou, eles ajudaram em mais alguma coisa ou não? Era só parte do prédio?
R – Eles ajudaram assim, sempre quando tinha alguma coisa em Rio Claro, eles chamavam a gente pra ir.
P/1 – Pra quê?
R – Pra gente vender as banana, vender bolo. Ajudaram muito a gente. Com nós, a florestal de Rio Claro, vender, a Expedita vende banana chip, ajudaram muito. Antes da casa, eles deram fogão, aqueles fogões que tinha aí. Eles deram a geladeira, eles deram freezer. Nós nem sonhava de ter isso aqui ainda, eles deram pra nós!
P/1 – E aí quando chegou tudo isso?
R – Aí foi uma alegria. Só que as mulher falavam assim: “Só fica se cair dinheiro, se não cair...”, uma falou pra mim. Eu falei pra Expedita “Nós vai ficar inté o fim”, e nós fiquemo inté o fim.
P/1 – Algumas falaram que só iam ficar...
R – Se caísse dinheiro, sem dinheiro não iam ficar não.
P/1 – E aí não ficaram?
R – Não ficaram.
P/1 – Só sobraram vocês duas?
R – Só ficou nós três, eu, Expedita e a dona Miriam, aquela morena que chegou por derradeiro. Aí a Aparecida, né, que a filha dela também entrou e saiu.
P/1 – Agora Cida, você falou: “Eu não vou desistir”. O que faz você continuar mesmo sem dinheiro?
R – O meu sonho, o sonho da gente aqui é sei lá, a gente criou isso aqui tão bonito, a gente vê isso aqui tão legal, tão limpinho. Tem hora que dá vontade de eu pegar, caipi que eu sei caipi, sei bem. O mato tava aí desse tamanho, eu que limpei. Segunda feira, se Deus quiser, eu vou limpar tudo esse de redor aí, que eu tenho força e coragem pra limpar. Vamos limpar, vamos lavar, no feriado a gente vai parar a cozinha, aí eu vou pegar a enxada vou caipi tudo, tirar tudo que é de folha ao redor.
P/1 – E você falou que tem um sonho que isso aqui...
R – Ah, tenho um sonho pra gente ir longe, viu? Vai ficar bem bacana. A gente começou de zero, gente, sem nenhum centavo no bolso!
P/1 – Além dessa parte, que você disse que eles deram, desses equipamentos, como que foi depois, pra chegar nisso aqui?
R – Aqui foi todo eles que deram, né? Nós chegou aqui zero, eles deram de tudo. Deram mesa, deram cadeira, foi telhado, foi tudo doado. Prato copo, tudo, tudo foi eles.
P/1 – Tem alguma coisa, Cida, que você acha que conseguiu com o Consulado, que não é só prédio e coisas? Por exemplo, se você for pra outro lugar, isso aqui vai ficar, os utensílios vão ficar. O que ficou em você? Alguma coisa?
R – Eu acho, assim, acho que isso vai ficar pro resto da minha vida. E acho que vai ficar pros meus filhos ainda, se eles se interessar que um dia, se eu me for, que eu não sei o dia de amanhã, alguém tem que ficar no meu lugar. Tem hora que a gente fica assim meio, mas que não quer sair.
P/1 – Mas eu quero dizer assim, eu não tô dizendo que você vai sair, mas eu quero saber o que você aprendeu além dessa parte da estrutura.
R – Aqui nós aprendeu muita coisa, né? Conviver todo mundo junto, unido. Às vez uma chora. Eu já falei quando eu cheguei aqui que eu não tenho a cara muito boa, minha cara já é fechada, né? Eu falo assim: “O dia que eu chegar com a cara fechada, já sabe que é eu mesmo”, eu mesmo tenho a cara meio fechada, é natureza. Ele foi tirando foto ali, eu tava rindo, as não sei que milagre, que minha cara é assim mesmo. E é assim, tem hora que uma solta risada, uma fica triste, logo no dia da festa eu fiquei, na inauguração, foi no dia que ligaram que meu irmão tava passando mal.
P/1 – Quem tava passando mal?
R – Meu irmão. Aí no início eu nem comecei, que começou dia cinco, eu tava em são Paulo. Mas quando eu cheguei foi tristeza, mas me conformei, né, que ele sofreu muito. Sofreu oito meses, morreu de câncer. Mas eu fiquei feliz e tô aqui mais as meninas inté hoje. Ainda vamo ser muito feliz, se Deus quiser.
P/1 – Você falou que aprendeu muito aqui. Aprendeu o quê?
R – Aprendi conviver com elas. Conviver assim, quando vinha para limpar, quando não tinha isso aqui a gente só vivia de mês sem se ver, só quando se encontrava. E aqui é eu e Expedita. O dia que eu não venho, na minha folga eu to vindo, eu acho tão bom. Fala assim Expedita: “Fica em casa dia de domingo”, eu falo: “Eu não, eu me sinto tão bem”. Nós se sente muito bem quando chega aqui. Só que imagina, em casa tem marido e três filhos, né, tem que limpar a casa, tem que lavar, tem que fazer limpeza na casa.
P/1 – A vida deles mudou em alguma coisa depois do seu trabalho aqui?
R – Não, meu esposo não liga nada, não. Ele não esquenta nada não, porque eu entrei porque eu quis. Eu falei pra ele: “Vou entrar e ninguém bota o bico”. Meu menino falou assim: “Ai mãe, a casa como é que tá”. Eu falei: “Então você lava. Almoça, pega o prato, pega a bucha, detergente, lava o prato”. Almoça, bota lá na pia, quando chegar tá tudo lá, ninguém lava. Tem que ser eu ou a menina, então não esquento não. Já acostumaram que chega de manhã, ele fala assim: “Mãe, vai trabalhar hoje?”, falo “Vou meu filho”. Acostumou. Ele fala assim: “Ah mãe, dou quinhentos contos pra senhora não ir trabalhar”. Eu falei: “Meu filho, você podia ter me dado antes”. Eu falei pras menina, não era antes? Depois que eu comecei mais elas, quatro anos que nós vimos lutando pra ganhar isso aqui, por que que eu vou abrir? Falei:”Não, você nunca me ofereceu nada, agora quer me dar quinhentos conto? Não senhor”, aí a menina: “Ah mãe, ganha”, falei: “Não, o que for pra ganhar aqui é pra pagar boleto”. Nós começou no zero, minha filha. Falou: “É mãe, a senhora quer”, e vamo tocar pra frente inté o dia que Deus quiser, eu e Expedita. Porque a outra neguinha também tem hora que quer sair, a Aparecida já abriu. Eu falei: “Você não pode sair”. O problema é que a gente não pode fichar, porque eu quero me aposentar.
P/1 – Mas em relação ao Consulado da Mulher, nas reuniões, nos encontros que vocês têm com elas.
R – Nossa, são muito legal elas, muito legal.
P/1 – O que que elas passam pra você?
R – A gente fica só falando as mesmas coisas, assim, como a gente começou aqui, como as meninas lá começaram, como a gente se conheceu, sempre aquelas mesmas palestrinhas que a gente faz junto.
P/1 – E de ensinamento? Tem ensinamento?
R – Tem, as menina ensina muita coisa boa.
P/1 – O que, por exemplo?
R – Assim, a gente fazer as coisa. A menina vem, fala faz isso, faz aquilo tudo direitinho, ensinou bastante. Eu mesmo não precisa ensinar, porque eu falei pra ela, eu já sei, que a minhas meninas todas elas trabalham em restaurante.
P/1 – As suas meninas?
R – Menina, nora, todas elas trabalham em restaurante, as noras e as filhas.
P/1 – E você aqui?
R – E eu aqui.
P/1 – A gente já tá terminando, você quer falar mais algumas coisa?
R – Só agradecer, né?
P/1 – O que você achou de contar a história?
R – Ah legal, eu sou meio, assim, desastrada. Mas deu pra ir assim mesmo, né?
P/1 – Falou bastante até, você falou que não ia falar.
R – É, porque da outra vez foi entrevista pra lá, e a mulher botou na cabeça “Ah, porque não sei o que”, e na hora que o menino chegou, eu fiquei meio... Mas de hoje até que bem eu soltei alguma coisinha!
P/1 – Obrigada.
R – Obrigada você, eu agradeço. Obrigada pras meninas do Consulado também, a Whirlpoll também, que foi muito bom e hoje chegou mais cinco mesas, que eles mandaram pra nós. Chegou mais cinco mesa hoje.
P/1 – Então ótimo, que tenham ótimo futuro aqui.
R – Obrigada, se Deus quiser. E vem aqui sempre, viu? A próxima vem aí, que eu vou fazer um bolinho de mandioca do meu jeito.
FINAL DA ENTREVISTARecolher