Elas eram amigas desde a infância, a Carmem e a Gilda. A Carminha, como a chamavam, veio morar com os avós espanhóis, pais de sua mãe – que era separada do marido. Quando a mãe resolveu se juntar com outro homem, a Carminha e a irmã Adélia foram morar com o pai no bairro paulistano da Lapa, O pai tinha uma padaria, mas não deu certo porque ele também tinha outra pessoa.
Um belo dia, em que o pai não estava, Carmem pegou na mão da irmãzinha, saiu para a rua, chamou um táxi sem ter dinheiro e mandou rumar para o bairro do Pari, que era onde os avós moravam. Lá elas foram recebidas com amor e carinho e, daí em diante, a Carminha passou a morar com eles até sair para se casar. A irmã voltou a morar com a mãe. Nessa época começou a amizade dela com a Gilda. Com o passar do tempo, se tornou tão sólida, que pareciam irmãs. E nunca mais se separaram. Isso só aconteceu com a morte da Carminha, que já era adulta e tinha família. A Gilda ficou arrasada, porque ela foi embora muito cedo. Aliás, elas eram comadres: a Carmem tinha batizado um filho da Gilda – o Fábio – que também, infelizmente, morreu jovem, com dezenove anos.
A Carminha era uma pessoa incrível, linda, alegre, pândega; quem estivesse perto dela não conseguia ficar séria, a Gilda a adorava. Elas saíam juntas nos fins de semana, iam ao cinema, às matinês dançantes que os colégios patrocinavam, costuravam juntas, iam às aulas de corte e costura à noite, nos dias de semana. Mais tarde começaram aulas de datilografia, porque a Carminha era uma guerreira, queria vencer na vida, e levou junto a Gilda, que era mais tímida e insegura, mas graças a isso conseguiram sair daquela vidinha de trabalho escravo em oficinas de costura e foram trabalhar em escritórios na cidade, com melhor ordenado e serviço gratificante. E lá ficaram até saírem para se casar e constituir família. Mas a amizade que as uniu, não esqueceram jamais.