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História

Alinhavando memórias, revisitando histórias

Esta história contém:

Da infância, não lembro muito. Sei do que me contam, nessa vivência embaciada que a lembrança dos outros nos condiciona. As férias: casa de vó, biscoito de polvilho, fila para o banho, mosquitada. Lá, nesse lugar que cheirava o calor do estrume de cavalos, era sempre ao entardecer que as histórias aconteciam. Um dia, veio a da moça que fora “estrupada”. Como se não bastasse, queimaram-na com cigarro, “bateram-lhe muito”, era o que minha tia dizia. O corpo da morta estava do outro lado da rua, na capela do pequeno hospital. No outro dia enterrariam, naqueles cortejos de cidade pequena, que toda a sorte de gente e os cachorros acompanham, mesmo sem conhecer o defunto. Não havia nada para fazer. O tédio nos força a essas situações.

Eu não sabia o que era “estrupo”. Em realidade, o pavor da morte, da ruptura não programada, aterrorizava-me o bastante para sequer pensar nisso. Tudo contribuía: luz baixa e vozes, mais ainda.

Tinha também as histórias de meu pai. Era um homem alto e magro, que economizava nos cabelos e gostava de paçoca. Frequentemente acometido de dores na coluna, não raro encontrava-o sentado, as costas para cima, joelhos colados ao peito, cabeça baixa. Eu não entendia aquilo, e aproveita o momento para aporrinhá-lo com minha curiosidade de criança aos domingos. Com a voz repleta de honestidade, meu pai afirmava ser o “Senhor Sapinho” – que, por vezes, travestia-se de “Senhor Tartaruga” –, e que o Joaquim (seu nome) voltaria logo.

Uma vez, meu irmão comeu uma semente de romã. Meu pai, muito sério, disse que eu não deveria me preocupar: logo nasceria uma árvore no estômago dele. Pranteei fraternalmente, com aquele pesar infantil em imaginar a vida de alguém que tinha raízes por dentro. Minha mãe nada achava, apenas ria. Ela era bonita, generosa e que fazia bolinhos, roupas de boneca e grude para nós brincarmos; não obstante fosse enérgica.

Um dia, meu pai parou de contar histórias. Durante...

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Gente-raiz.

Dados da imagem Das histórias de meu pai, meus medos infundados: o dia em que meu irmão engoliu uma semente.

Local:
Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte

Imagem de:
Natália Martins de Oliveira Gonçalves

História:
Alinhavando memórias, revisitando histórias

Crédito:
Ilustração de Leopoldo Maia.

Tipo:
Fotografia

Palavras-chave:
infância, irmão, medo, árvores frutíferas

Das histórias de meu pai, meus medos infundados: o dia em que meu irmão engoliu uma semente.

Sapo-tartaruga

Dados da imagem Das muitas coisas que alguém pode ser.

Local:
Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte

Imagem de:
Natália Martins de Oliveira Gonçalves

História:
Alinhavando memórias, revisitando histórias

Crédito:
Ilustração de Leopoldo Maia.

Tipo:
Fotografia

Palavras-chave:
infância, pai, histórias

Das muitas coisas que alguém pode ser.

Sem título

Dados da imagem Das vezes que a gente é pequeno, e a memória nem sempre fala da beleza.

Local:
Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte

Imagem de:
Natália Martins de Oliveira Gonçalves

História:
Alinhavando memórias, revisitando histórias

Crédito:
Ilustração de Leopoldo Maia.

Tipo:
Fotografia

Palavras-chave:
sentimento, dor, memória

Das vezes que a gente é pequeno, e a memória nem sempre fala da beleza.

Atravessar

Dados da imagem Atravessar

Local:
Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte

Imagem de:
Natália Martins de Oliveira Gonçalves

História:
Alinhavando memórias, revisitando histórias

Crédito:
Ilustração de Leopoldo Maia.

Tipo:
Fotografia

Palavras-chave:
cidades, identidade, ferrovia

Memória mapeada

Dados da imagem A não-linearidade e a fluidez da memória é abordada nessa proposta de

A não-linearidade e a fluidez da memória é abordada nessa proposta de "linha do tempo", livremente inspirada no trabalho de Poty Lazzarotto.

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