Pronto, então se pudermos começar ia só pedir para registo para dizeres o teu nome todo, o local e a data de nascimento.
O local aqui?
Sim, a naturalidade.
Seixo de Manhoses?
Sim.
Alexandra de Fátima Escovar Moura. Vivo em Seixo de Manhoses e…
Data de nascimento.
28 do 8 de 1988.
E nasceste em Seixo, também?
Nasci no Seixo.
Ok, no Seixo, sim.
Seixo… Mirandela vá, mas pronto… sempre vivi lá… desde que nasci… até aos dias de hoje.
Ok. Como é que se chamam ou chamavam os teus pais?
Chama… a minha mãe é Maria Rosa Escovar Nunes Moura. E o meu pai é o Horácio Manuel Comenda Moura.
Ok e o que é que eles faziam?
O meu pai era serralheiro e a minha mãe é doméstica.
Ok. E tens irmãos?
Não.
Portanto, filha única. Quais é que eram… eram ou continuam a ser os principais costumes da vossa família? Assim todos juntos.
Hmm… as festas religiosas… o Natal, Páscoa… aniversários… [risos] todos os dias estamos juntos…
Ok e o que é que costumam fazer nessas alturas mais especiais, digamos assim?
Hmm… os jantares em família, almoços… basicamente isso.
Ok. Quando eras pequenina gostavas de ouvir histórias? Tinhas alguém que te contava histórias na família?
Não muito… os meus pais nunca foram assim muito de… de… histórias. Sim, histórias deles… contar… agora a minha madrinha, sim, de vez em quando, lá contava uma história…
Sabes a origem da tua família?
Ahm… mais ou menos [risos]
O que é que sabes?
Ahm… sei que o meu avô materno vivia no Luxemburgo. Os meus avós paternos sempre viveram no Seixo. O meu avô inclusive foi um dos habitantes da aldeia do Gavião... ahm… basicamente isso.
Então… passaste a tua vida sempre no Seixo?
No Seixo, sim.
E lembraste da casa da tua infância?
Sim, é a mesma de agora.
É a mesma casa?
Sim.
Mas… o que é que mudou na casa ao longo da tua vida? Como é que era antigamente? Consegues descrever assim…?
Era mais velha… depois com o passar dos anos o meu...
Continuar leituraPronto, então se pudermos começar ia só pedir para registo para dizeres o teu nome todo, o local e a data de nascimento.
O local aqui?
Sim, a naturalidade.
Seixo de Manhoses?
Sim.
Alexandra de Fátima Escovar Moura. Vivo em Seixo de Manhoses e…
Data de nascimento.
28 do 8 de 1988.
E nasceste em Seixo, também?
Nasci no Seixo.
Ok, no Seixo, sim.
Seixo… Mirandela vá, mas pronto… sempre vivi lá… desde que nasci… até aos dias de hoje.
Ok. Como é que se chamam ou chamavam os teus pais?
Chama… a minha mãe é Maria Rosa Escovar Nunes Moura. E o meu pai é o Horácio Manuel Comenda Moura.
Ok e o que é que eles faziam?
O meu pai era serralheiro e a minha mãe é doméstica.
Ok. E tens irmãos?
Não.
Portanto, filha única. Quais é que eram… eram ou continuam a ser os principais costumes da vossa família? Assim todos juntos.
Hmm… as festas religiosas… o Natal, Páscoa… aniversários… [risos] todos os dias estamos juntos…
Ok e o que é que costumam fazer nessas alturas mais especiais, digamos assim?
Hmm… os jantares em família, almoços… basicamente isso.
Ok. Quando eras pequenina gostavas de ouvir histórias? Tinhas alguém que te contava histórias na família?
Não muito… os meus pais nunca foram assim muito de… de… histórias. Sim, histórias deles… contar… agora a minha madrinha, sim, de vez em quando, lá contava uma história…
Sabes a origem da tua família?
Ahm… mais ou menos [risos]
O que é que sabes?
Ahm… sei que o meu avô materno vivia no Luxemburgo. Os meus avós paternos sempre viveram no Seixo. O meu avô inclusive foi um dos habitantes da aldeia do Gavião... ahm… basicamente isso.
Então… passaste a tua vida sempre no Seixo?
No Seixo, sim.
E lembraste da casa da tua infância?
Sim, é a mesma de agora.
É a mesma casa?
Sim.
Mas… o que é que mudou na casa ao longo da tua vida? Como é que era antigamente? Consegues descrever assim…?
Era mais velha… depois com o passar dos anos o meu pai foi reconstruindo… ahm… mudando coisas que eram necessárias, mas… basicamente era assim a casa.
Quem é que vive convosco lá neste momento?
Ahm… eu já tenho casa própria!
Ai é?
É. Sou casada, tenho dois filhos. Já não vivo na mesma rua, um bocado mais perto mas…
Mas então os teus pais ainda mantêm a casa de infância?
Sim, sim. Sim, sim. Eu não… eu tenho uma casa, onde vivo com o meu marido e com os meus filhos.
O que é que te lembras da aldeia? De quando era assim… jovem, criança?
Eu não me lembro muito… [risos] eu sou um bocado… não tenho muitas memórias… sim, relembro-me de alguns sítios… de algumas pessoas… mas sei lá… basicamente isso… não…
Como é que era, por exemplo, as ruas? Como é que era a casa?
Eram mais velhas… claro, sim. Mais velhas… onde só podias ir a pé! Agora não… podes ir a quase todas as ruas de carro. Inclusive a rua da minha mãe nem se quer saída tinha, agora sim já tem…
Isso no Seixo… e em Vila Flor?
Hm-hm… [aceno negativo com a cabeça]
Não te lembras?
Não.
Mas costumavam ir muito à vila?
Sim, sim, mas não me lembro assim muito… de grande coisa.
Mas tens alguma noção do que é que mudou assim também em Vila Flor?
Pelo que eu vejo… em fotografias no Facebook da câmara municipal e de pessoas que colocam… mudou muito, não é? Para muito melhor, claro.
O que é que gostavas de fazer quando eras criança?
De brincar na rua…
E quais eram as vossas brincadeiras favoritas?
À macaca… [risos]
À macaca? [risos]
E às escondidas…
Como é que era o grupo de amigos? Eram muitos…?
Não, não éramos muitos. Nas aldeias não havia muita gente… a estudar nas aldeias. Havia pouquíssima gente. Uns 7, 8… por aí… Aos quais tenho ainda ligação. Uns estão fora, outros encontram-se em Portugal, mas… sim ainda tenho alguma ligação com eles, sim!
O que é que querias ser quando crescesses? [risos]
Eu sempre tive… o sonho de ser educadora de infância, mas depois também não… comecei a namorar um bocadinho mais cedo do que o normal… e o meu marido já… já trabalhava por conta própria e depois acabei por… concluir o 12º e ficar por aqui. Os meus objetivos depois já eram outros…
Claro. Mas voltando então à infância, depois entraste na escola?
Hm-hm. [aceno afirmativo com a cabeça]
Qual é assim a primeira lembrança que tens de ir para a escola? E se não for a primeira, qualquer lembrança da escola…
Ahm… a escola primária ou…?
A primária.
Da primária… não tenho muita lembrança disso… [risos]
Onde é que era a escola?
Era lá no Seixo.
Como é que iam para a escola?
A pé.
Todos juntos ou…?
Sim, todos… a escola era pertíssimo do… da, da casa dos meus pais.
Mas então há assim alguma lembrança das aulas…? Do intervalo…? Do percurso até à escola ou assim?
Não… não tenho.
Há algum… depois já no percurso escolar em… como um todo tiveste assim algum professor que te marcou, tanto positiva como negativamente?
Sim. Positivamente, sim. E ainda tenho ligação com essa professora, que foi a professora desde o 1º ano até ao 4ª ano, até à 4ª classe. E à qual tenho ligação… hoje em dia.
Ok. E porque é que achas que ela te marcou?
Porque é a pessoa que te ensina a ler, a escrever… em que tu consegues ver o mundo de outra forma… e consegues ler, começares a ler e como sabes outro tipo de coisas… pronto.
Tinhas boas notas?
Sim, razoável.
Mas consideravas-te uma boa aluna?
Acho que sim! Naquela altura não devia considerar nada… [risos]
E depois continuaste a estudar?
Sim.
Até quando?
Até ao 12º.
E depois… mais alguma memória desse percurso mais para a frente… na escola?
De alguns amigos sim… brincadeira, acima de tudo. Muita brincadeira.
Era na escola de Vila Flor?
Sim.
E depois como é que iam até lá também?
De autocarro. Autocarro… já na altura era dada pelo município… todos os dias… e íamos de autocarro… de manhã e à noite… regressávamos de autocarro.
Algum outro professor? Alguma outra memória… mais desse percurso?
Sim, claro. E tenho professores, inclusive, que foram meus diretores de turma e que são agora professores do meu filho.
Mas… marcaram-te positivamente?
Sim, sim. Conheço quase todas. Tenho uma boa ligação com elas todas.
Ok. Mais em termos de… agora juventude, de início da adolescência, adolescência… quando então é que começaste a sair assim sozinha… ou com amigos… à noite, por exemplo?
Acho que a partir dos meus 15, 16 anos. Os meus pais por acaso nunca foram daqueles pais mais de proibir… desde que… confiavam em mim e nunca fui daquelas crianças muito… em que os pais tivessem imensas regras, não. Eles confiavam em mim e… desde muito cedo, nunca fui… proibida de fazer algumas coisas. Sempre sai, sempre tive liberdade para isso.
E o que é que costumavam fazer?
Ahm… ir para uma associação lá no Seixo, que também existia uma associação… ou… ir até Vila Flor, mas muito raramente…. Acho que andávamos ali uns pela casa dos outros.
E como é que era o grupo de amigos nessa altura?
Era bom.
Era o mesmo da escola primária?
Alexandra – Sim, sim, sim, sim. Sim, nós estivemos… fomos sempre até ao 12º. Depois ali no 10º ano fomos separados, não é? Alguns foram para saúde e outros para humanidades. Mas… sempre foi esse grupo de amigos, sempre fomos muito unidos.
E tu foste para quê, na altura?
Humanidades.
E como é que… foi essa decisão?
Ahm… não gosto muito de saúde, não gosto muito de matemática [risos], não gosto muito de físico-química e então optei por... letras, por humanidades.
Porque… vocês só tinham essas duas opções então?
Sim… em Vila Flor só.
Ok. Também não se punha a questão de irem para outro sítio?
Eu… eu não! Houve colegas meus que foram para Mirandela para economia, acho que era economia na altura… alguns foram… mas eu não, eu por acaso… também eu gostava imenso de alguns professores de humanidades, aos quais tenho ligação hoje, e… fiquei ali pela… por Vila Flor. Nunca fui de mui… de sonhar muito para além de… daquilo que tínhamos connosco, do que podíamos escolher em Vila Flor.
Porque gostavas de estar por aqui?
Sim, sim. Nunca fui ambiciosa para… sair daqui. Sempre tive o meu projeto de vida… sempre foi aqui e fiquei e não me arrependo. Tenho aquilo que sempre sonhei: família, casa, carro, toda a gente que me rodeia. Nunca fui de… de pensar ir para fora, até porque acho que me faz imensa falta o pai e a mãe. Para a ajuda dos meus filhos… de tudo…
Que ainda estão lá no Seixo? Os teus pais.
Sim, sim. Sim, sim. Aos quais me ajudam em muitas coisas…
Com que idade é que eles estão?
A minha mãe tem 56 e o meu pai 59.
Ah ainda são jovens!
Sim, sim.
Não dão aquele trabalho ainda, não é?
Sim, sim.
Voltando à juventude, então esse grupo de amigos… além de passarem em casa uns dos outros e de irem à associação e de, às vezes, irem a Vila Flor, que outros assim momentos de mais de festejo que vocês tinham? Sei lá, bailes… festas… por aqui.
Hmm… bailes só… aqueles bailes de… de escola. Existia o baile de finalistas, o… o baile de… se calhar, por ano, seria só mesmo esse baile. E depois claro aquelas festas religiosas e que… Carnaval, Natal, dentro disso… não… e, se calhar, em bares… alguma coisa. Na altura já existia… quando eu fui estudar para Vila Flor já existiam dois bares… se calhar só mesmo isso… de… mais dessas datas festivas.
Ok. E quando é que começaste então a trabalhar? Depois do 12º ano…?
Isso… não, isso já foi muito mais cedo. Eu fui uma… uma criança de… os meus pais sempre me incutiram que trabalhar era bom. E ter dinheiro era bom. E se eu queria para além daquilo que os meus pais me podiam dar… sempre trabalhei! Sempre trabalhei… ajudei os meus pais no campo… trabalhava aos domingos lá… quando fiz… acho que foi 16 anos comecei a trabalhar ao domingo num restaurante…
No Seixo?
No Seixo. Santa Cecília, sim lá no Seixo. E depois quando fui para o 11º comecei a trabalhar no local onde estou a trabalhar hoje. Fazia part-time. Só tinha aulas de manhã ou à tarde, mas era mais de manhã e… e à tarde trabalhava lá.
Entretanto, tens estado sempre lá?
Sim.
Não houve assim um período… de interrupção…?
Não, não.
Ok, mas então no início era part-time e agora…?
Agora é a tempo inteiro.
Ok. Quais são as tuas principais funções e tarefas?
Lá? No trabalho? Tenho todas as funções. Temos que fazer tudo àquilo que é necessário, porque se não… é mais no atendimento ao público, mas fora do atendimento ao público também… desde limpezas… tudo, tudo… confeção de comida, de tudo.
E como é que são as condições de trabalho?
São boas.
São?
Somos família, acima de tudo somos família e entendemo-nos bem. Quando… estive de licença de maternidade dos meus dois filhos… também tive as horas, como tem toda a gente, e sempre nos entendemos muito bem nisso e… se não tiras hoje, tiras amanhã… nunca tive problemas nenhuns. Acima de tudo somos como irmãs. Posso dizer isso mesmo. Somos como irmãs.
Mas verificas alguma mudança nas tuas funções, na tua experiência assim ao longo do tempo? Ou não?
Não, nada, nada.
Nada mudou? Ok. Já são quantos anos então lá?
Catorze.
E no início? No início…
Catorze… quer dizer sem ser esse part-time, não é.
Ah ok.
Catorze de…
Catorze de full-time… e depois ainda antes…
Sim, sim.
Nesses primeiros trabalhos que foste fazendo… o que é que fazias com… com o dinheiro que ganhavas?
Guardava e comprava roupa [risos].
Roupa? [risos] E depois o que guardavas? Tinhas algum objetivo?
Sim, e tive um objetivo! Tirei a carta, comprei o carro… um carrinho assim velhinho, mas comprei com o meu dinheiro. E claro… e fui guardando e… e quando me casei até utilizei dinheiro desse para a minha casa.
Então… ahm sempre viveste por aqui?
Sim.
E… és casada.
Hm-hm. [aceno afirmativo com a cabeça]
Como é que conheceste o teu marido?
Na aldeia, na escola.
Também fazia parte daquele grupo de amigos que estavas a falar?
Não, não. Não, não. Era de outro… ele é mais velho do que eu… 8 anos. Já era… já era de um outro núcleo de amigos, de um outro estatuto de amigos [risos] ahm… mas sim conheci-o na aldeia. Os meus pais conheciam os pais dele, conhecíamo-nos… toda a gente conhece toda a gente [risos].
E… lembras-te do dia do casamento?
Claro.
Como é que foi?
Foi… mágico! Como qualquer uma mulher sonha… podem não sonhar algumas, mas acho que… que todas as mulheres sonham com isso.
Mas mágico como?
Mágico… tudo aquilo que eu sonhei ter naquele dia tive. Não… dispensei nada, nem nunca me foi dispensado nada. Os meus pais sempre me incutiram a trabalhar, a ser humilde, a ser amiga do amigo… e foi isso exatamente que eles me deram. Muito amor, muita humildade. E tudo aquilo que eu queria tive.
E o que é que foi importante para ti nesse dia? O que é que fizeste?
Ter família, claro. Ter aqueles que eu mais gosto comigo.
Mas foi um casamento grande? Pequenino?
O normal, o normal.
Normal? Foi lá no Seixo?
Foi no Seixo, sim. E depois já era o copo de água noutro sítio, em Frechas. Numa quinta em Frechas?.
Portanto, tens filhos.
Hm-hm. [aceno afirmativo com a cabeça]
Como é que se chamam?
O Salvador é o meu filho mais velho, tem 10 anos, anda no 5º ano, é um ótimo aluno, com o qual eu me orgulho todos os dias. Tudo aquilo que me foi incutido, eu… lhe transmito. É um bom menino. Posso dizer que tenho dois filhos maravilhosos. Ele é muito amoroso, é muito… muito estudioso. É um orgulho, é o meu orgulho. E tenho a Madalena, tem 5 anos, que também é maravilhosa. São diferentes. Ela é muito mais expressiva… muito mais faladora, adora estar com gente, adora ter gente em casa… o Salvador é um bocadinho mais recatado, mas maravilhosos os dois.
Eles já sabem o que é que querem ser quando forem grandes?
Sim, o Salvador quer ser… ahm… engenheiro civil para dar continuidade à empresa do pai.
Que específico.
E a Madalena diz que quer brincar [risos].
Sim aos 5 anos… [risos]
Não sabe nada… [risos]
Como é que foi ser mãe?
Foi bom, foi bom. Foi maravilhoso. É das melhores coisas que existe.
Já era um desejo que… que vocês tinham?
Sim, sim. Foi um bocadinho mais cedo do que aquilo que eu… que eu tinha planeado, mas muito desejados. Acima de tudo, foram crianças desejadas.
E como é que foi o processo da gravidez?
Do Salvador foi um bocadinho mais complicado… até porque eu tava num processo de, de… de… implantes… implante dentário… e foi um bocadinho complicado na… na gravidez, tive de parar todo esse processo… no parto foi muito complicado e… da Madalena vivi tudo aquilo que não consegui viver do Salvador. Desde… eu também… eu não sabia o que é que era ser mãe, pronto. Quando pela primeira vez me colocam o Salvador no colo e o Salvador nem se quer sabia, e como não sabem, o que é pegar numa mama, o que é fazer a pega da mama, o que é que é a amamentação… nem eu sabia, foi um bocadinho mais complicado. Da Madalena não. Foi tudo maravilhoso.
Também já tinhas a experiência anterior.
Sim, sim. A Madalena foi uma menina muito sossegada, o Salvador era um bocadinho mais… mais complicado, desde cólicas a… a tudo, um bocadinho mais complicado, a Madalena não. É uma criança muito… muito, muito calma, muito calma mesmo.
E como é que é hoje em dia ser mãe? Assim o dia a dia…
É… é não saberes o que é o futuro, o que reserva o futuro para os nossos filhos, em termos globais.
E como é que isso te faz sentir?
Isso… um bocadinho impotente, um bocadinho sem… sem… sem força, sem saber o que é que pode vir para além de… do dia de hoje, claro. Visto… vendo o mundo como está. Em termos de eu lhes dar, não tenho medo, sou uma… uma mãe guerreira e uma mãe capaz de fazer seja lá o que for para a educação dos seus filhos, por isso, não tenho medo que um dia me possa faltar isso, não. Porque desde que tu sejas guerreira, consegues tudo, minimamente. Para além… o mundo é que é um bocadinho mais complicado. Não sabemos o que é que pode reservar o mundo para eles, o que é que vai ser o futuro deles.
Como é que é o teu dia a dia? Desde o momento em que acordas até…
Muito stressante! Muito stressante no acordar… stressante em todos os aspetos. O acordar não é muito… não é muito… não é muito fácil [risos] com duas crianças. Levantar, vestir… dar o pequeno-almoço… chegar a horas à escola, chegar a horas ao trabalho… é muito stressante. Muito stressante.
Depois deixa-os na escola…
Deixo-os na escola, vou trabalhar e à noite vou buscá-los. Eles ficam… a Madalena fica o dia todo no infantário, desde as 9 da manhã até às 6 da tarde, e o Salvador vai comigo para a escola e regressa no autocarro… no autocarro escolar para casa.
Como é que é também o dia a dia enquanto casal? Em termos do trabalho em casa, fora de casa…
Companheiro, muito companheiro. Ajuda em tudo… tarefas domésticas… com as crianças… tudo, tudo. Ele é uma mãe também. É um bom pai, é um pai presente. É… é bom companheiro, é um companheiro mesmo.
Ele trabalha então na construção…?
Na construção civil, sim.
Tem uma empresa, é isso?
Sim, sim.
Ok então também está fora de casa durante o dia?
Sim, sim.
Ok. E quais é que são as coisas mais importantes para ti, hoje?
Os meus filhos. Os meus filhos é o mais importante para mim. É aqueles que eu quero proteger até ao fim. Eles são o mais importante para mim. O bem-estar deles.
Ainda tens sonhos por concretizar?
Alguns. Algumas viagens… às quais só vou conseguir concretizar quando o Salvador for mais… velho, mas tenho vontade e sei que vou conseguir concretizá-las.
E então a onde é que queres ir?
Ei muitos sítios… Londres, Veneza… há muitos sítios onde… e ele também já tem… já tem também alguns lugares que quer visitar. Por acaso, agora estamos a planear, já está planeado, uma viagem à Madeira, porque ele quer conhecer o sítio onde nasceu o Cristiano Ronaldo [risos] prontos, tem aqueles ídolos dele… sim, há alguns sítios que queremos ir em conjunto, claro. E… e… espero concretizá-lo.
Alguma vez saíram de Portugal?
Sim, sim, sim.
Sempre de férias então? Nunca para trabalhar.
Não, não.
Onde é que foram?
Já fomos a Paris, já fomos a Lyon, já fomos, já fomos à Madeira… agora vamos pela segunda vez.
Em casal então, com os filhos ainda não?
Com os filhos sim, sim, sim, sim. A Paris fomos há um ano com os meninos.
Foi a primeira viagem deles?
O Salvador não, já foi a segunda. A da Madalena…
Onde é que foi?
Fomos para Lyon. A Madalena não, foi a primeira.
E então como é que foram essas viagens na altura?
Foram boas [risos], eles adoram, eles alinham em tudo.
É?
Sim. Eles… o Salvador já faz pesquisas, ele… o que é que quer visitar, o que é que tem de gastronomia, o que é que aquele país nos oferece de gastronomia… ele é um bom menino, faz um bom trabalho de casa [risos].
Como é que imaginas o teu futuro? Tanto assim o mais próximo como o mais distante…
Sei lá…
Vai ser aqui?
Vai, claro! Não tenho, não tenho… não tenho ambição de… tenho aqui a minha vida, estou bem, tenho tudo aquilo que quero… ok, em Vila Flor não encontras aquilo que podes encontrar no Porto, mas também nada me impede de ir ao Porto quando preciso e quando quero ir e se quero ir passear em lazer, se quero ir em… em férias… seja lá como for, nada me impede de fazer aquilo que eu acho que quero fazer. Só se economicamente não puder. De resto… não tenho… não tenho por hábito ser proibida de nada.
Portanto, ficar por aqui…
Sim, sim…
Mantendo o trabalho…
Sim, sim…
A educação dos filhos também por aqui…
Sim, sim, sim… claro até eles acabar o 12º, depois não! Claro quero que ele vá para a universidade, seja lá para onde for, mas claro que para uma boa universidade e que ele saia com um bom curso.
E para a Madalena também… essa ideia?
Sim, sim, sim… é igual.
Como é que foi esta partilha? Correu bem?
Sim, foi boa.
Foi bom contar a história?
Sim, sim.
Não foi assim tão assustador?
Não, não [risos].
Só tenho mais algumas perguntas mesmo para terminarmos e… na linha do que estávamos a falar então como é que achas que então… nascer aqui em Trás-os-Montes… como é que achas que isso influencia a tua vida e as tuas experiências?
Quer dizer… as nossas experiências não temos muitas experiências aqui não é… ou seja, Trás-os-Montes não nos dá aquilo que uma grande cidade nos pode dar, não é? Que nos pode dar Porto ou Lisboa… mas eu acho que se tu fores minimamente culto e se souberes procurar… acho que também não vai ser por viveres aqui em Trás-os-Montes que… que o mundo parou e que nós somos horríveis… e que aqui isto é horrível… isto é só montes… não! Nós temos coisas boas, às quais eu já me cruzei com pessoas de férias que vieram a Trás-os-Montes e adoraram! Como tu ires… vais para outro lugar que não seja Trás-os-Montes, Minho… nós temos coisas maravilhosas em Portugal, mas temos em Trás-os-Montes e temos no país inteiro. Por isso… cada, cada, cada… lugar tem a sua experiência boa, má… mas acho que Trás-os-Montes é bom!
Mas o que é que tu achas que é específico, aqui, à vida transmontana?
Ai… acho que a amizade…
E o que é que traz cá as pessoas, não é? Estavas a dizer que conheces pessoas que vêm cá de férias, não é?
Acho que… temos lugares maravilhosos, desde… temos uma boa gastronomia, desde vinho, a comida… a… se calhar a lugares específicos, a quintas em que te podem oferecer muita coisa. Eu inclusive já estive em duas ou três quintas aqui e sou daqui! Mas fui conhecer e gosto de ir passar um fim de semana a um lugar onde não conheço e que posso conhecer aqui mais de… daqui de Trás-os-Montes. Mas acho que Trás-os-Montes é bom, pelo menos, é mais calmo que uma cidade. Eu própria acho que não conseguia viver numa cidade, até porque eu já sou stressada neste meio mais calmo, quanto mais numa cidade.
Portanto, a vida aqui, o dia a dia é… acalma?
Acalma, sim. Acho que ficamos um bocadinho mais calmos, apesar de eu já ser uhm bocado stressada por natureza, mas… mas acho que é calmo.
E os teus filhos gostam?
Sim, sim, sim, sim. Na pandemia, nos dois confinamentos que… que tivemos… olha descobri coisas que não fazia ideia. Consegui ter uma horta, consegui plantar coisas e… que dou continuidade agora que eu nem se quer fazia ideia que podia ter e… como crescer, o crescimento da… da tua horta, o… o tu ires à terra, teres contacto com a terra. Eu nunca tive esse contacto, para além daquilo que ajudava com os meus pais, não é, mas não sabia como é que era a produção disso. E eu adorei, adorei…
E ainda manténs?
Sim, sim, sim. Alface… desde alface a brócolos, a… courgettes, tudo, eu tenho tudo na horta. Laranjas, tangerinas, muita fruta, temos muita fruta.
E fazes sozinha?
Sim, eu e o meu marido, sim.
E… então além de tratares das crianças e trabalhar e agora a horta, tens assim alguma atividade que gostas de fazer… no… aos fins de semana…
Sim, nós tentamos sempre ao fim de semana ter o fim de semana em família, sempre. Se temos oportunidade, saímos para fora e como já fizemos, já mostrei grande… um… alguns sítios ao Salvador… como, por exemplo, Guimarães, onde nasceu Portugal. Ele começou a estudar mais profundo a história no 4º ano e eu levei-o ao sítio onde nasceu Portugal. Costumamos ter sempre um… um… objetivo no fim de semana. Olha este fim de semana vamos ter uma tarde de família, prontos, e fazemo-la e… e… cumprimo-la… e tentamos ser mesmo só nós e… ser família, prontos, estar em família. E quando temos oportunidade de viajar, viajamos e… passar uma semana [corte] sempre… isso é religioso, todos os anos. Os meus filhos adoram praia, por isso.
E coisas que tu só por ti gostas de fazer?
Ai isso… gosto de estar com as minhas amigas e não prescindo disso. E… temos um grande grupo de amigas que jantamos e… e… estamos muitas vezes juntas. Esta semana, por acaso, o nosso… o nosso grupo fomos a Vila Real ao cinema, não deixamos de fazer isso e conhecemos as coisas. Não é por vivermos em Trás-os-Montes que não conheces! Porque conheces também. Conheces… tens um bocadinho de cultura… e de leres e… e sabes as coisas. E… ahm… e fazemos muitas vezes jantares de amigas, sim. Muitas vezes, muito, muito, muitas vezes… o nosso grupo, o meu grupo de amigas é um bocadinho grande, por isso, quase todos os meses temos um jantar de um aniversário de alguma [risos] por isso.
E como é que se conheceram?
Algumas conheci… já são de infância… e que… que eram também do Seixo, algumas estão… quer dizer só duas é que vivem no Seixo, o resto já vive em Vila Flor. E outras conheço por… também por… por amizades do Salvador.
Ok, lá da escola.
Sim, sim. Sim, sim.
Boa. Ahm… no contexto do teu percurso de vida… qual é o significado de ser mulher?
Ser mulher… ser mulher… para mim é ser livre, porque eu não me sinto presa a nada, nem nada me prende, nem nada… mas ser mulher para mim é… é bom ser mulher. Não tenho, não tenho… nada me… faço tudo aquilo que me vai na cabeça, ninguém me impede disso, por isso, sou uma mulher livre! Sou uma mulher… é bom ser mulher.
Achas que as outras mulheres também têm essa perceção e essa experiência?
Se calhar, da minha idade acho que sim. Mais… mais velhas não. Há mulheres que… pá sei lá… que vivem mais para o marido e mais para a casa.
Como é que é com a tua mãe?
Ah a minha mãe também é uma mulher livre! Também faz aquilo que quer, aquilo que tem vontade de fazer faz.
Isso é uma coisa importante para vocês?
É, muito importante.
Para as duas?
É, sim.
Costumam falar dessas… dessas coisas?
Sim, sim. Da educação… desde ela dar opinião daquilo que se calhar é melhor para o Salvador, para a Madalena… e se calhar se fosse ela fazia desta forma, mas tu podes fazer ainda melhor do que aquilo que eu fiz por ti… sempre fui uma… sempre fui uma mulher livre de tomar as decisões que eu achava… podem até ser erradas e ser vistas de forma errada, de o meu marido ou os meus pais me dizerem: olha se calhar daquela forma era melhor; mas nada me… me impede de fazer aquilo que eu quero, e se eu quero daquela forma vai ser feito daquela forma. Pode dar errado, mas foi feito da forma que eu quis. Em tudo.
Que bom, obrigada! Não sei se queres acrescentar alguma coisa…
Não, não…
Pensando assim na tua vida desde o nascimento até agora, há algum episódio que te lembres, sei lá, com os teus filhos, na escola, ou no trabalho… alguma história que queiras partilhar connosco? Pode ser sobre qualquer coisa, não sei. Alguma coisa que ficou por contar ou por perguntar…?
Acima de tudo… gosto do meu dia a dia com os meus filhos e as minhas memórias com eles. E… e… é aquilo que nós tentamos incutir neles, ter sempre… ficarmos sempre com a memória dos momentos bons que tivemos em família e que vamos ter… para que eles também possam fazer exatamente o mesmo no futuro deles e… e o partilhar tudo com eles e… o Salvador sabe tudo de nós e nós tentamos incutir ao Salvador exatamente isso que nós, apesar de sermos pais, somos amigos e os pais ajudam e os amigos ajudam. Mas é isso… acho que sou uma mulher feliz, não posso dizer o contrário.
É muito importante a questão da família então?
Sim, sim, sim, sim. Sim, família sempre em primeiro lugar. Sempre. Acima do… do profissional, de tudo… família sempre em primeiro lugar.
E, portanto, também tens um trabalho que te permite…?
Sim! Que me permite, sim, sim.
Fazer isso não é…?
Sim.
Que bom.
Nós… nem se quer nos vemos como empregada-patroa, não, isso não existe… para nós. Com todo o respeito claro, respeito, mas… respeito como para uma pessoa qualquer, sempre o respeito acima de tudo, mas sim. Não nos vemos como empregada e patroa. Não, não.
Hmm… que bom.
Isso é bom, é ótimo.
Acho que sim, não é?
Um bom… se tu estás bem nas tuas… na tua profissão, o teu empenho será bom. Quando tu não estás muito bem também o empenho não será muito bom, não é. Por isso, não tenho, não tenho problema nenhum com ela, somos mesmo como irmãs.
E costumam até passar tempo fora do trabalho ou…?
Sim! Não passamos muito, passamos sim quando no fim de semana podemos e saímos e festas de família… ela faz parte da minha família, faz parte das minhas festas. Sairmos é que não podemos sair muito, porque não pode faltar as duas ao mesmo tempo ao trabalho [risos].
Pois [risos], alguém tem que assegurar.
Alguém tem que… [risos] tem que assumir ali a… o dia, por isso… agora… festas, ela faz parte das festas da minha casa, eu faço parte das festas da casa dela, de tudo, sim.
Eu não lhe perguntei na altura, mas se pudermos voltar ainda um bocadinho atrás, como é que arranjaste esse trabalho?
Esse trabalho então… o… a mãe da Nini, que é a minha patroa, foi professora do meu pai.
Ok.
Também são do Seixo, também têm ali raízes no Seixo. E na altura foi para trabalho de verão. Eu fui lá, eu e o meu pai. Disse ao meu pai: olhe queria ir trabalhar no verão. E o meu pai sempre me disse que… se queria ter mais do que aquele que ele me podia dar, que nunca me faltou nada de nada, mas eu sempre quis ter o meu dinheiro para poder sair quando eu quisesse com o meu dinheiro. Fomos lá e perguntamos se a Nini estava a precisar e fui fazer férias e depois fiquei, acabei por ficar de part-time… depois… foi no meu 11º ano… as disciplinas também eram menos e… a carga horária era muito menor.
Estavas a contar essa questão das festas e de irem a casa umas das outras…
Sim, sim, vamos normalmente.
Eu até pensei se podiam ser, sei lá, familiares assim mais afastados…
Não…
É só…
É só mesmo de amizade.
… de amizade.
Amizade, mesmo, sim. Mas sim, ela faz parte da minha vida, inclusive o padrinho da Madalena é o sobrinho dela [risos].
Pronto. Obrigada, então! Acho que não tenho assim mais nada. Não sei se queres acrescentar então mais alguma coisa…? Ou… se ficou tudo bem…?
Não… acho que disse tudo.
É? Obrigada. Acho que já podemos desligar.
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