Alemão de Taubaté

P1 – Boa Tarde, senhor Hans.

R – Boa Tarde.

P1 – Eu gostaria de começar perguntando seu nome completo, o seu local e data de nascimento?

R – Meu nome é Hans Otto Taube, nasci na Alemanha na cidade de (Brownshuak?), em 15 de Fevereiro de 1942, em plena segunda guerra mundial.

P1 – Senhor Hans o nome dos seus pais?

R – O meu pai, chamava-se Hustaf Taube e minha mãe Estefânia Taube

P1 – Senhor Hans o nome dos seus avós?

R – Não Lembro.

P1 – Não lembra, não os conheceu?

R – Não os conheci

P1 – O senhor nasceu na Alemanha e veio pro Brasil criança?

R – Vim, em 1949.

P1 – Em 49, o senhor tinha oito...

R – Sete anos.

P1 – Sete anos, e o senhor sabe por que a família veio pro Brasil?

R – Sei, sei exatamente porque veio pro Brasil, porque meu pai era nascido, era nascido em 1900, que é falecido e ele fez a primeira guerra mundial, a guerra de 14 aos 18, e depois a segunda guerra mundial de 39 a 45, e quando terminou a guerra, então na verdade tem quatro anos na primeira guerra e mais seis anos da segunda, são dez anos somente em guerra, então ele tomou a decisão, vou deixar esse continente, vou pra outro continente onde haja um pouco de paz.

P1 – E assim a família veio pro Brasil?

R – É não é bem assim, não é bem assim, nós viemos pro Brasil, motivados, fugi da guerra, mas na verdade no primeiro momento nós íamos para o Canadá, porque o irmão do meu pai ele revivia no Canadá, então, ele disse vamos para o Canadá, meu tio tá lá, porém quando nós apresentamos toda a documentação no consulado canadense, as imigrações foram fechadas e nós não pudemos ir para o Canadá, aí a segunda opção por influências de amigos do meu pai ele escolheu a Austrália, então nós preparamos toda a documentação, inclusive passaporte e tudo, tava pronto pra ir pra Austrália quando a imigração australiana foi fechada novamente, e já um tanto quanto irritado, ele chegou um dia em casa, abriu o mapa do mundo e olhou assim, falou assim, o Canadá tá aqui em cima, o que tá aqui em baixo, aqui em baixo tá o Brasil, vamos fazer uma tentativa de ir ao Brasil, depois a gente sobe por terra até o Canadá, essa foi a forma que nós chegamos ao Brasil, aí no dia seguinte ele foi ao consulado brasileiro, se apresentou e falou olha eu sou engenheiro de estrada, consultor de estradas, existe alguma possibilidade de imigração para o Brasil? O senhor, o que o senhor é? Ele disse, sou construtor de estradas, nossa nós temos N empresas procurando profissionais, tá sendo construída a maior estrada que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, o senhor tem interesse? Ele falou tenho, então apresenta amanhã os documentos que nós vamos encaminhar, em duas semanas estávamos embarcando pro Brasil, no navio de bandeira americana, general Macrai, e assim nós chegamos ao Brasil e estamos até hoje.

P1 – E ele veio, a família veio pra qual cidade exatamente?

R – Veio no avião para o Rio de Janeiro, pra Ilha das Flores, ficamos 40 dias em quarentena, na Ilha das Flores e daí ele veio pra Taubaté, porque a empresa chamada TH Marim de Andrade era responsável pelo trecho de Jacareí até Cruzeiro, então, aí ele veio pra Taubaté, nós viemos depois ele seguiu aqui, arrumou uma casa e tudo mais, depois nós viemos pra Taubaté e ficou a pessoa responsável pelo trecho de Jacareí até Cruzeiro.

P1 – E o senhor lembra dessa viagem?

R – Uuuuuu, como se fosse hoje, eu lembro até da, eu nasci em 1942, mas me lembro da segunda guerra mundial, do fim da segunda guerra mundial, eu acho que o momento é tão dramático, eu lembro que a minha mãe saia com o carrinho de casa, quando ela acabava de sair e foi fechar a porta, terminava de fechar a porta, bombardearo a nossa casa, com três anos de idade, eu tenho vivo isso na lembrança.

P1 – O senhor tinha irmãos?

R – Três irmãos, três irmãos.

P1 – Mais velhos?

R – É todos mais velhos, são falecidos, o último faleceu agora faz dez dias, o mais velhos de todos, eles eram de 29, 30 e 31, eu fui o temporão que vim em 42, em plena segunda guerra mundial.

P1 – E da viagem, deixa ele contar da viagem.

R – Da viagem para o Brasil?

P1 – Para o Brasil, é.

R – Ah, da viagem para o Brasil foi um encanto, né, porque um navio de bandeira americana com o general Macrai, com os americanos na época que entraram no eixo, tudo mais, deram todo o apoio, nós fomos de trem da Alemanha para a Itália e embarcamos no porto de Nápoles e aí com todo o conforto, quer dizer a viagem foi realmente um espetáculo e eles estruturaram a tripulação do navio, pra estabelecer uma certa ordem, né, então os próprios passageiros eram fiscalizadores da ordem, então eu lembro bem que minha mãe, ela recebia uma ensignia porque ela era fiscalizadora lá da ordem e tal, pra evitar os jogos e tudo mais, então era divisão, uma alimentação excelente, pelo governo americano, e assim duas semanas depois nós já estava em Ilha das Flores.

P1 – E o senhor sabia que estava vindo pra um lugar chamado Brasil? O que o senhor achava eu era o Brasil?

R – Nada, nada, a única informação que nós tínhamos era do cônsul brasileiro que eu não me lembro o nome, mas me lembro do fato, porque meus pais é quem contavam isso, depois deles terem preparado a documentação pra vim pro Brasil, aí o cônsul brasileiro falou pra eles o seguinte, falou, olha vocês não precisam levar nada de roupa quente, aqueles agasalhos de frio, e tal, vocês podem dispor tudo, os acolchoados também, que lá no Brasil vocês podem dormi de baixo de uma Palmeira, faz tanto calor, agora se preparem porque lá não tem, determinado alimento vocês não vão encontrar no Brasil, tem muitos macacos, e tem isso, tem aquilo, tem muita banana, então essa foi essa lembrança que eu tenho transmitida pelos meus pais, você vê como é que o Brasil era relatado em 1949.

P1 – E qual foi a primeira impressão que o senhor teve?

R – Veja a impressão sobre a ótica de país era difícil pra mim porque eu era criança e não posso dizer, mas eu posso dizer a primeira impressão quando eu fui pra escola, que no primeiro dia eu lembro nós morávamos, já viemos pra Taubaté em 49, e nós morávamos próximo ao local onde estava sendo construída a via Dutra, então era na Vila São José, porque eles tinham que ficar próximo ali, sempre tinham que trabalhar 24 horas, a noite ás vezes eles buscavam meu pai, tinha algum problema, então ele tinha que sair de madrugada, porque era 24 horas a construção da estrada, então eu fui matriculado em uma escola de bairro, eu me lembro bem da professora Dona Maria, né, como toda boa professora, e no primeiro dia a mãe levou e falou, olha vamos lá pra escola, ia pra escola, fiquei lá não mais de cinco minutos e olha, no primeiro intervalo já tava indo embora, eu falei, eu não vou ficar lá, eu não sei o que eles falam, mas assim foi no dia seguinte novamente o mesmo trajeto o mesmo local, e aos poucos a gente foi se aclimatando, se acostumando, aprendendo as primeiras palavras e essa foi o início de Brasil, essa foi a primeira impressão de Brasil.

P1 – O senhor falou que estudou nessa escola na Vila São José?

R – Na Vila São José.

P1 – E o senhor estudou toda a infância nessa escola?

R – Não, toda infância não, fiz uma parte nessa escola, e depois eu mudei, eu mudei na escola das irmãs na Vila São José, depois eu fui pro Lopes Chaves, aí nós mudamos, nós já tínhamos adquirido um terreno em Taubaté, meu pai já tinha adquirido um terreno, começou a construir a casa, então ficava no lado oposto da cidade, aí eu mudei de escola, fui pra escola Lista Corozita, Lopes Chaves primeiramente, depois escola Lista Corozita e acabei concluindo na Lopes Chaves o primário, depois o secundário foi no colégio do estado, que na época Taubaté tinha o colégio do estado e tinha colégio taubatiano, eu fui pro estadual, colégio estadual, aí eu fiz o ginásio, terminado o ginásio tava em construção o novo ginásio do estadual de Taubaté que é próximo a rodovia, aí terminei o colégio, no colégio do estado, ali próximo a Dutra, que ainda esta lá até hoje.

P1 – E seu Hans tinha muitos Alemãs aqui no Vale em Taubaté?

R – Não, não, a família que nós, não tinha muita gente aqui no Vale do Paraíba, a família que nós encontramos, é a família Henzil, que existe até hoje, é uma família tradicional, eles também vieram antes da primeira guerra mundial ainda, era na época, em 49, 50, eram empresários bem sucedidos em Taubaté, ela subsiste até hoje, mas ela está numa fase hoje que não se modernizou, esta quase em fase de extinção, a empresa existe, ainda um dos herdeiros o velho Otto Henzil era o pai e três filhos, dois faleceram e um deles é vivo ainda, é o Henrique Henzil, que ainda está a frente desta loja.

P1 – É uma loja de que?

R – É uma loja e oficina e peça de reposição pra automóveis.

P1 – Porque em São José tinha austríacos, né, se eu não me engano?

R – É em São José tinha o pessoal que veio para o CTA, então o CTA e o ITA atraiu muita gente, depois com a Embraer então mais ainda, é essa a razão do pessoal que veio, o que ocorreu aqui no Vale do Paraíba foi com o navio Vitun, quer dizer durante a segunda guerra mundial, teve aquele navio, não sei se vocês conhecem, o navio Vitun, que ele fazia uma viagem de turismo para a África do Sul, e quando ele aportou na África do Sul numa colônia inglesa ele quase que foi aprisionado, então o comandante resolveu zarpar, então antes de eles receberem a ordem de aprisionamento, ele resolveu zarpar, zarpou sem destino e acabou chegando na costa brasileira, no meio do trajeto eles pintaram o navio com bandeiras japonesas, como se fosse japoneses e assim conseguiram chegar em Santos, essa história tá relatada no livro do Camões Filho e grande parte destes elementos deste navio foram prisioneiros e vieram para um campo, entre aspas, de concentração em Pindamonhangaba, e estes alemãs então eram a tripulação do navio acabou ficando aqui, porque o processo de estendeu por quase dois a três anos, acabaram ficando, uns foram pra Campos do Jordão que o clima era mais adequado, foram para hotelaria, outros foram pro comércio, então esse é o núcleo, vamos dizer, que eu conheça da segunda guerra mundial, mas além disso não conheço, assim, uma imigração para o Vale do Paraíba, ou melhor para Taubaté, eu não conheço.

P1 – E como é que essa cidade pequena, né, enfim recebia alemãs, europeus, logo após a guerra, como que foi essa, teve choque cultural, como foi?

R – Em Taubaté, não, Taubaté, olha o que eu me lembre de infância eu cresci, quer dizer, depois de dominado o idioma, aprendido o idioma, o começo naturalmente, não é choque cultural, mas existia assim uma receptividade, loiro, olhos azuis, segunda guerra mundial, todo mundo não sabia exatamente, quer dizer jovem da minha idade não sabia exatamente o que se passava, então a receptividade não existia nenhuma rejeição, nada, a gente era considerado como um elemento da sociedade, porém muito estranho, né, loiro, olhos azuis, tal, sotaque diferente com fala e tudo mais, mas não havia rejeição nenhuma, não havia, nunca houve isso aí, pelo contrário a receptividade do povo foi muito grande, nós tínhamos vizinhos e amigos, nossa, que se dispunham a tudo, então a receptividade foi grande, não se pode dizer isso, não houve rejeição nenhuma não.

P1 – O senhor se lembra de amigos de infância, de brincadeira de rua?

R – Lembro

P1 – Lembra?

R – Lembro

P1 – Acontecia isso?

R – Oh, não tenha dúvida, isso aí era, só que a brincadeira de rua na época era bolinha de gude, era, tinha ainda a região onde a gente morava era muito arborizada, eram chácaras, então usufruía muito das chácaras, a chácara do Paduam, do Marioto, então isso daí em Taubaté, era quase que o início de Taubaté, porque Taubaté era uma província, Taubaté sofreu um pouquinho porque dentro da história taubatiana você tem a era, vamos dizer assim o auge, no Vale do Paraíba foi na época dos barões do café, quer dizer Taubaté, a região do Vale do Paraíba viveu uma riqueza enorme por barões do café, porém 29 quando veio o creche da bolsa na área do café eles foram tudo a falência, então os barões do café desapareceram, quer dizer, aqueles que iam todo ano pra Paris, pra Europa tudo mais, sumiram de um dia pra outro, então as propriedades ficaram aí largadas, aí começou a imigração dos mineiros com a pecuária que entraram aqui no Vale do Paraíba, e a pecuária tornou-se forte, a gente sabe muito bem que depois de 29 até 1950, 55 a pecuária era muito forte, aos poucos a pecuária também foi perdendo espaço hoje se transformou em parte em pecuária de corte ou fazendas históricas com pousadas, hoje a gente vê muito disso aqui no vale do Paraíba, fazenda histórica com pousada, a rota do café, a rota desta fazenda toda, isso existe.

P1 – O senhor chegou com oito anos, né?

R - Sete anos.

P1 – É sete anos, o senhor lembra de alguma coisa que tenha sido muito marcante, muito diferente, coisas da rotina mesmo que tenha sido muito diferente aqui no Brasil?

R – Ah, não tenha dúvida, tinha muitas coisas, eu me lembro uma passagem, eu acompanhei a minha mãe até o mercado municipal, esse que existe até hoje, e ela ia com dicionário, ela não falava nada, então ela ia com dicionário, então ela olhava assim, carne, o que ela queria no idioma alemão, aí ela falava carne, aí o açougueiro olhava e falava carne, aí ela mostrava com o dedo o que ela queria, um quilo ou meio quilo, dependendo da quantidade, então era por gestos assim, né, e eu me lembro de uma passagem muito interessante ela passava numa banca e ela via o, na Europa não existe fumo de rolo, ela viu aquele fumo de rolo enrolado, assim, ela disse, nossa, aqui vende lingüiça aos metros e ainda por cima é tudo preto, este negócio deve estar estragado, quer dizer, é uma passagem que eu não esqueço, e ela realmente quando voltou em casa, contou pro marido e pros filhos e falou, olha, aqui vende a lingüiça toda preta e ainda por cima é enrolada num pau e vende por metro, só quanto tempo ela foi descobrir que aquilo lá era fumo, não existe este costume na Europa, na Europa se pega folha de Tabaque, junta-se e corta-se e depois enrola-se o cigarro em papel, isso já era desde a segunda guerra mundial, e aqui não, era o jeca, né, estilo do jeca o fumo em rolo e depois a folha de milho, a folha seca de milho, este é um fato inédito, e assim tiveram outros, muitos outros é que totalmente diferente na cultura com a cultura européia.

P1 – E a cidade em si, como era a cidade?

R – Ah, Taubaté era uma cidade, eu diria era uma vila, não era nem cidade, sabe, a lembrança que eu tenho, assim era algumas ruas, as principais, era rua Pedro Costa, rua Duque de Caxias, e onde revendiam ainda os fazendeiros, quer dizer, os donos de fazendas pecuárias, eles que comandavam o processo em Taubaté até 1954 mais ou menos, aí veio a primeira indústria taubatiana, veio a Wilis pra Taubaté, que hoje é a Ford, atual Ford, e aí a cidade começou a mudar de imagem, aí vieram os americanos acompanhar a produção, acompanhar a industrialização depois em 1957 veio a mecânica pesada, do grupo _18:30__ francês veio pra cá, e assim Taubaté começou a mudar um pouquinho a imagem dela, mas até 54 era uma cidade única e exclusivamente de venda pecuária, das fazendas pecuárias então a gente já pode imaginar, carro de boi andando na cidade puxados a cavalos, carroças, essa era a imagem de Taubaté até 54, 54 em diante começou a industrialização taubatiana.

P1 – E a Dutra?

R – Pois é a Dutra foi construída em 49 até 1953 se eu não me engano dois ou três, porque quando terminou a construção da Dutra eu lembro bem que meu pai ele foi transferido, passou a construir a Fernão Dias, aí a empresa pegou um trecho na região de Atibaia, e ele foi transferido, aí a Dutra já estava pronta uma pista só, era uma pista só, e era um centro de atração naturalmente, aos domingos os taubatianos iam na ponte ver o movimento da Dutra, isso era muito interessante, ver o movimento de São Paulo ao Rio, né, isso era fantástico, nós como crianças, isso era uma atração.

P1 – E era muito movimentada?

R – Já era movimentada, já era.

P1 – E o senhor lembra de passear, provavelmente com sua mãe, no centro de Taubaté, aonde ela comprava as coisa, aonde comprava as roupas, aonde comprava alimentos?

R – Lembro, na época Taubaté não tinha supermercados ainda, eram armazéns, então era o armazém do seu Miguem Carter no mercado, era a loja do seu Murad, era armarinhos Santa Terezinha, essa eram as lojas da época, quer dizer da moda, né, tinha ainda Casa Abrão, tinha da família do Saad, não me lembro mais o nome da loja, mas eles hoje são os proprietários da escola Saad, mas os pais dele tinham uma loja de armarinhos muito grande Saad, então Taubaté teve uma fase também, de imigração, de libanês muito forte, Taubaté tem uma cultura libanesa forte.

P1 – E se encontrava tudo em Taubaté, ou tinha alguma coisa que tinha que ir pra São Paulo comprar?

R – Pra nós, veja só, pra nós, europeus, na época a gente, a cultura européia é muito diferente da sul americana em termos de consumo, então na Europa se consome muito pães escuros de centeio misto, e aqui não tinha, então se ia pra São Paulo, então se abastecia lá por um mês, um mês e pouco pra poder, sabe, você usufruir, porque aqui não tinha, era inviável você consegui um pão centeio, um pão misto era inviável

P1 – E como a família ia a São Paulo?

R – De carro.

P1 – De carro?

R – De jipe, na época nós tínhamos um jipe, a ferrovia existia, mas a ferrovia era muito pouco utilizada, porque o tempo de ida, o ônibus mesmo, pássaro marrom, que existe até hoje, pássaro marrom, o ônibus era um elemento também de ir a São Paulo.

P1 – E como que era o cotidiano da sua casa, quer dizer, seu pai tinha um emprego, era uma casa de classe média, uma cultura alemã em Taubaté, como que era isso, falava-se alemã, falava-se português?

R – Em casa falava-se alemão, mantinham a cultura original, éramos em quatro irmãos, né, eu era o menor, os dois mais velhos trabalhavam, o intermediário ainda ele vinha com uma profissão, só depois de um ano mais ou menos ele era alfaiate, aí depois ele também começou a trabalhar e uma alfaiataria aqui em Taubaté, e em casa os dois mais velhos trabalhava com o pai, eu ia a escola, e o intermediário depois também começou a trabalhar como alfaiate.

P1 – Sua mãe era dona de casa?

R – Minha mãe sempre foi dona de casa, ela cuidava das roupas, cuidava da casa e tudo mais essa era a função dela.

P1 – Era o irmão que costurava pra família, ou não?

R – Não, não, era a mãe, e dentro da filosofia pós guerra os irmãos usaram muitas cuecas de saco de estopa, desculpa de estopa não, desse branco, de estopa, né, de alvejado, saco alvejado que chama, acho que é estopa, algodão, desculpa não é estopa, estopa é aquele mais grosseiro, algodão, então abria-se o saco de algodão, faziam-se os cortes e minha mãe costurava, porque ainda era pós guerra uma nova existência.

P1 – E tinha contato com quem tinha ficado na Alemanha, como é que se recebia as notícias?

R – Nós só tínhamos, na Alemanha só ficou um tio meu, um tio e uma tia, depois os demais familiares faleceram, então só com esse tio nós voltamos a ter contato em 1960, quando eu voltei a Alemanha, já profissionalmente, então fui visita-lo e foi o primeiro momento, por carta também houve, eu sei que os meus pais trocaram correspondência também, mas eu não tenho domínio disso.

P1 – A idéia de ir ao Canadá pelo continente, por terra foi abandonada?

R – Foi, ao longo do tempo ela foi abandonada, porque meu pai, veja, ele veio com 49 anos, com duas guerras, dai a primeira coisa depois de três anos ele já construiu a casa dele, já fixou sede, os filhos todos trabalhando, o filho menor indo pra escola, então ele tava numa situação até confortável aqui, naquele momento a ele se mover mais, ele falava, não, eu to com um emprego aqui, não, e com o passar do tempo a idade foi avançando e o problema do cliam também impacto muito, ele já começou a sentir o impacto do clima, reumatismo e tudo mais, aí ele abandonou a idéia totalmente.

P1 – E ele gostava do Brasil?

R – Gostava

P1 – De viver?

R – Gostava de viver, ele , sob a ótica climática, aquilo lá era o paraíso pra ele, ele nunca se arrependeu, uma pessoa simples, mas nunca se arrependeu de ter deixado a Alemanha e vindo pra cá.

P1 – O senhor se formou engenheiro, né?

R – Eu me formei engenheiro.

P1 – O senhor saiu de Taubaté pra estudar?

R – Eu fiz engenharia aqui, depois eu fiz pós graduação no ITA, e depois eu, nesse período eu trabalhava, eu me formei e comecei a trabalhar na mecânica pesada, comecei exatamente quando a mecânica pesada fez um contrato de licença com uma empresa alemã, então nesse momento o meu conhecimento de idioma aliados com meus conhecimentos técnicos eram valiosos para o grupo MAN, então iniciei na mecânica pesada, na áreas de motores navais, que vinha a tecnologia da MAN, e de cara tive a oportunidade de voltar para Alemanha, fazer um estágio, e acabei ficando por 20 anos, até assumi a gerencia industrial dessa, que era um cargo de confiança da matriz, porém devida a experiência acumulado ao longo dos anos eu acabei sendo indicado e aceito como gerente na área de motor do grupo MAN.

P1 – O senhor fez engenharia na UNITAL?

R – Na UNITAL.

P1 – E como é que era a vida universitária?

R – Ah, isso já é na década de, eu me formei em 1967, então Taubaté 67, Taubaté já tava num processo de industrialização com um forte, né, veja a Ford veio em , a Wilis veio em 54 em seguida ela foi substituída pela Ford que assumiu, aí veio a mecânica pesada do grupo (Shinaider?), que na área de equipamentos pesados depois veio a MAN que veio em 67, então Taubaté já tinha, uma, vamos dizer, um apelo industrial, então era o começo da vida universitária em Taubaté, foi o começo da UNITAU, foi o começo com a faculdade de Filosofia, Engenharia e outros segmentos.

P1 – Vocês chegaram no final da década de 40, né, e o senhor, estudou, já fazia engenharia na década de 60? O comércio da cidade nesse período teve muita transformação com a industrialização?

R – Teve, teve, eu diria que a primeira fase foi de 50 a 60, assim antes, em 58 começaram as mudanças em Taubaté, começaram a vim grupos maiores, e depois na década de 60 a 70 aí foi mais forte realmente, aí já começou a vim os supermercados, a cidade começou a mudar muito, muito.

P1 – Mudar como assim?

R – Sob a ótica do comércio, veja, a industria traz o emprego, então tinha muita gente de fora, vinha os estrangeiros, automaticamente vinha a demanda de produto, de comércio melhor, mais fortes, então começaram a surgir restaurantes em Taubaté, já de certa qualidade, eu lembro em Taubaté tinha a cantina Toscana, quer dizer foi o Bruno Tadiuchi, que é também um imigrante italiano, ele fundou, ficou muito tempo aí, depois com o filho, hoje como cantina ela não é mais, mais foi um imigrante, ele percebeu a necessidade justamente com a industrialização, com a vinda dos americanos na Wilis, na Ford, então, não tinham cantinas próprias eles tinham que almoçar na cidade quando recebiam algum diretor alguma, aí a cantina Toscana era uma referencia de Taubaté.

P1 – Então o comércio da cidade começou a se transformar para atender também esse público novo que tava chegando na cidade?

R – Exatamente, se fundou na época um restaurante, além, muito além das expectativas da cidade, o Chamuniquis, um negócio extremamente chique em Taubaté, na avenida Nove de Julho, eu me lembro bem ainda foi inaugurado, mas ele não sobreviveu muito tempo porque o público era relativamente restrito com o Chamuniques, mas era fantástico, com cozinheiras formadas de São Paulo.

P1 – Era restrito porque essas pessoas que vieram para trabalhar na indústria, elas eram pessoas mais simples, não eram pessoas, é?

R – Fora os executivos a mão de obra era mais simples, era o Senai e tudo mais eram nível técnico, vamos dizer assim, que não tinham pelo poder aquisitivo não tinham acesso à este restaurante, então eles sobreviveram a um determinado período e depois sucumbiram.

P1 – Esse comércio cresceu, mudou e cresceu também?

R – Mudou e cresceu lógico, Taubaté tinha naquela época, 50, 60 mil habitantes, não mais do que isso, então realmente com o crescimento demográfico com a vinda das industrias, o crescimento demográfico imigratório foi muito grande em Taubaté, muito grande eu acho que se a gente fizer um levantamento hoje, acredito que até a população taubatiana seja minoria, acredito.

P1 – E comparativamente com São José, seu Hans?

R – É, esse é um tabu, eu vou dizer uma coisa, eu vivi uma fase aqui, onde Taubaté era considerado a capital do Vale, eu vivi aqui, Taubaté, todos os órgãos federais, estaduais em Taubaté, as instantes Taubaté num determinado momento o Vale do Paraíba o que aconteceu, com o ITA com o CTA com a Embraer, esse peso deslocou pra São José dos Campos, houve um deslocamento, então algumas instituições federais migraram também pra São José, Taubaté perdeu também algumas instituições representativa do estado e do governo federal que foram pra São José, e São José teve uma política, eu acredito pelo perfil de profissionais que vieram pra São José e pelo perfil de políticos que administraram São José mais arrojada eles partiram muito mais, no primeiro momento acho que foi uma abertura muito maior pra indústria, conseguiram atrair muito mais indústria que Taubaté, automaticamente eles tiveram um desenvolvimento mais rápido, muito mais rápido que Taubaté.

P1 – Em termos de cultura mesmo, né, quer dizer em termos de vida cultural, o senhor era um jovem aqui em Taubaté nos anos 60, quer dizer aonde se consumia a cultura mais cultura, em São José em Taubaté?

R - Não, olha em 60 não havia essa distinção tão grande não, não era tão grande acho que Taubaté tinha certa tradição devido a Monteiro Lobato, devido a Hebe Camargo, quer dizer todos os elementos, Mazaropi que é de Taubaté, então Taubaté tinha um atrativo maior, só que o desenvolvimento da cidade ele foi um pouquinho freado, eu acho que na área industrial, houve uma até, que ele cresceu mais pouco em Taubaté, então automaticamente muita coisa se transferiu pra São José.

P1 – Mas a cidade sentiu isso, quer dizer, sentiu São José avançando?

R – Lógico que sentiu, até hoje senti, São José evoluiu e se a gente hoje comparar o poder aquisitivo de São José quase que três vezes o de Taubaté, mas o poder aquisitivo por que ele é três vezes o de Taubaté, três a quatro vezes, ele é com o fruto da indústria, tem o lado positivo e tem o lado negativo, a gente pode considerar os dois lados, de um lado é extremamente positivo, a cidade sofreu um bul, a cidade se expandiu a cidade cresceu, por um outro lado, o que aconteceu, a indústria tem isso, uma fase de instabilidade, numa época de inflação alta muitas indústrias deixaram São José dos Campos, fecharam de um dia pra outro, então São José acabou sofrendo com isso e hoje a gente sabe que o problema de índice de criminalidade de São José é maior, quer dizer é de conhecimento público isso aí, porque uma Soletron, não precisa ir muito longe, a um ano atrás a Soletron fechou 450 diretos na rua, quer dizer, isso a gente pode imaginar qual o efeito imediato disso aí, nos primeiros três meses ele vive com o salário do fundo de desemprego, depois ele vive com o salário do fundo de garantia, depois vai morar numa favela, depois acaba aonde em baixo de uma ponte, e é isso o processo, então São José sofre, a gente sabe que sofre, então a indústria é positivas, eu acho que ela é positivas mas tem que ser balanceada com a área de serviço, se não for balanceada com a área de serviço a cidade vai sofrer, vai sofrer e vai sofrer muito, eu acho que isso é uma responsabilidade muito grande, Taubaté teve a felicidade, a gente pode chamar assim que atrasou um pouco a área de desenvolvimento industrial, mas por um outro lado Taubaté busca na área de serviços, busca hoje uma identidade na área de serviços, tá buscando, Taubaté tem tudo pra isso, é um celeiro, quer dizer além dos nomes que aqui passaram por Taubaté, que são de Taubaté, culturalmente Taubaté tem tudo, geograficamente então nem se fala, esta situado entre São Paulo e o Rio, entre o litoral e a serra da Mantiqueira, existe situação mais favorável do que isso.

P1 – É verdade.

R – Mas Taubaté ainda vai buscar o espaço dele, eu tenho certeza.

P1 – Tá deixa eu voltar um pouquinho, eu queria que o senhor falasse um pouco sobre a sua juventude aqui em Taubaté, quer dizer dava pra namorar as brasileiras, ninguém olhava torto assim esse alemão?

R – Veja só, a gente, toda vez, eu acho que essa sensação de imigração só vivendo é que a gente sente, porque a gente parte de uma situação de razoável conforto vai a zero e tem que recuperar tudo, como isso, não pode imaginar, de 14 a 18 na primeira guerra mundial, meu pai tinha 14 anos quando começou a guerra e terminou com 18, se casou com 28, então começou a montar a primeira subsistência dele, quando ele terminou de construir a primeira casa dele para os filhos em 1932, 33, logo alguns anos depois explode a segunda guerra mundial, e ele perde tudo, vai a zero novamente, não só vai a zero, nós temos uma característica peculiar é que o meu pai é de origem alemã, e minha mãe sempre é da divisão da divisa da Silézia, então era uma região que era uma hora alemã, outra hora Polônia, e eles acabam decidindo fixar residência em Vasóbia , quando explode a segunda guerra mundial, a primeira coisa que acontece, meu pai é deportado pra Alemanha e a mãe fica em Vasóbia com três filhos, eles vem depois pra Alemanha, aí nasce eu na Alemanha, inicia-se uma segunda fase em nossas vidas, depois da segunda guerra mundial, e essa segunda fase ele não queria mais fazer dentro de um âmbito de guerra, aí ele veio fazer no Brasil, então com 49 anos de idade iniciar uma nova existência não é algo fácil, precisa ter muita força de vontade e coragem, 49 anos de idade, quatro filho e iniciar uma nova subsistência, e tudo isso é transmitido naturalmente, então pra nós, pra mim particularmente eu não tinha que buscar, eu tinha que estudar, eu tinha que buscar lastros financeiros por parte dos pais, eu tinha que me formar não tinha jeito, então eu sempre fui a escola pra mim era um trajetória de desafio mais nada, sempre era o primeiro lugar isso, ganhava prêmio aqui, prêmio ali, semana Monteiro Lobato, então, até hoje eu tenho as coleções Monteiro Lobato, eu fazia cientifico e disputava contra o clássico, disputava contra o clássico que era as pessoas que se dedicavam ao estudo da literatura e tudo mais, e no entanto não, eu lembro bem do professor Sizidiu quando ele dizia, olha vocês aqui, nem é melhor participar da semana Monteiro Lobato, do concurso que vocês não tem habilidade, aquilo lá era um desafio, aí é que ele provocava a gente, aí eu dizia, não agora é que eu vou participar, e quando ganhava ele dizia, eu sabia que você tinham competência.

P1 – E como era a participação, era?

R – Era um concurso, do concurso era escolhido um tema, dentro da literatura do Lobato, na época foi o livro na antevéspera, e tinha uma banca examinadora, que era o professor Jerônimo, um professor conceituado, um baiano, professor de português, famoso em Taubaté, professor Cizilio Ambrosges que faz parte da história taubatiana, que trocou correspondência com Monteiro Lobato, e a professora Belinha que ela ainda é viva, dos três ela ainda é viva, então era a banca examinadora, então nós íamos numa sala, e eles davam os temas e nós tínhamos que descrever os temas inserido no livro do Monteiro Lobato na antevéspera.

P1 – E o senhor participava?

R – Participei e ganhei, eu tenho ainda os livros lá em casa, a coletânea toda de Monteiro Lobato tá em casa lá, com a dedicatória de Cizilio de Ambroges, Jerônimo de Souza e professora Belinha.

P1 – Então foi uma juventude de muito estudo?

R – Foi.

P1 – De aplicação?

R – Foi, foi um desafio, eu acho que no primeiro momento já, desde a infância a gente já tava quase que dizendo assim, eu não tenho alternativa, como já disse alguém é vencer ou vencer, não tinha mais alternativa.

P1 – E o senhor entrou na faculdade?

P1 – Espera aí, e como é que o senhor escolheu engenharia?

R – Aí eu acho que é mais por parte do pai, ele trabalhava nesta área, eu ia muito ao trabalho dele, ele me levava, eu via então filiem é puro filiem não teve nada que dissesse era isso, eu gostava, eu adorava dirigir carro, então eu falei, olha eu vou pra mecânica, houve momentos que o pai permitia, então a gente dirigia os carros, e aí gerou o gosto, apareceu o gosto pela engenharia mecânica, aí eu fui pra mecânica.

P1 – Mas o senhor não quis sair de Taubaté pra estudar?

R – Eu sai depois, no primeiro momento a opção era Taubaté.

P1 – Em que idade o senhor começou engenharia?

R – Em, eu me formei em 67, comecei em 62, 1962.

P1 – 20 anos, né? Você tinha 20 anos?

R – É isso, tinha 20 anos, 1962, e eu também tinha uma razão de fazer engenharia aqui porque o meu pai tinha saído, meus dois irmãos tava com ele, o terceiro já tinha saído de Taubaté também, só ficou a mãe, a casa e a mãe, e eu era o único aqui também então, não tinha mais alternativa pra mim, eu tinha que ficar em Taubaté.

P1 – O pai estava aonde ?

R – O pai tava construindo, ele voltou pra, nesta época ele estava na central da empresa em São Paulo ainda, a empresa tinha uma central e ele coordenava toda a parte logística da empresa, porque ele já tava com 62 anos, então ele já coordenava toda a parte logística da empresa TH Marin de Andrade do alto da Móoca.

P1 – E durante todo o tempo em que o senhor fez engenharia, o senhor morou só com sua mãe aqui?

R – Só com a mãe aqui, ele vinha sempre nos finais de semana.

P1 – E assim que o senhor se formou, o senhor começou a trabalhar na mecânica pesada?

R – Isto, teve um período intermediário antes de eu ir para a indústria eu dei aula, quer dizer, paralelamente a engenharia eu dei aula no colégio do estado eu fiz o exame, na época havia falta de profissionais nessa área, professores, então eu fiz um exame de suficiência, chamava suficiência e três, meses de pedagogia e ministrei aula no colégio do estado de matemática e física em 1961 a 65.

P1 – Mas o senhor estudava de dia e dava aula de noite?

R – Isso, era nos intervalos, porque a engenharia tinha um determinado horário, então eu encaixava, procura encaixar tanto no colégio do estado como no primeiro cursinho de engenharia que era o Delta T aqui em Taubaté também dava aula, então era uma forma de subsistência ter já ter já a própria subsistência, depois eu fui pra indústria, eu falei, não vou ficar nesta área de ensino, eu vou pra indústria, aí eu fui pra mecânica pesada.

P1 –Foi em 65?

R – 65.

P1 – Você tinha 25 anos?

R – Isso, aí eu fiquei, né, eu fui 65 comecei, ainda como estagiário, aí 69 eu fui pra Alemanha, fiquei até 71 na Alemanha no grupo MAN, aí eu voltei pro Brasil, aí me colocaram na área de projeto no Rio, porque a mecânica pesada a área de projetos navais era no Rio, eu fui pra área comercial no Rio, fiquei dois anos, foi a época que teve o bul aqui no Brasil, é o segundo plano naval, nós vendemos 51 motores navais, vendemos na época a Embratel que tava em expansão, todas as estações de emergência da Embratel, que dizer vendemos tanto que a fábrica não conseguiu produzir, aí o diretor da indústria disse, o agora o senhor vai voltar pra Taubaté, o senhor é o único que vi poder salvar essa área aí, eu voltei do Rio, fiquei quase três anos no Rio, aí eu voltei pra Taubaté pra assumir o departamento de engenharia de motores, e aí fiquei em Taubaté, e foi e cheguei até gerente.

P1 – E como é que foi voltar para Alemanha?

R – Voltar, olha pra mim eu acho que não, a primeira fase minha eu só lembro da infância de rua e nada mais, então essa volta quase que não existiu, é como se fosse uma ida, porque eu lembrava só dos colegas de rua e nada mais, do contexto Alemanha eu não nem lembrava mais, eu não tinha lembrança nenhuma, eu me lembrava só da cidade onde nós morávamos, era próxima ao (Brownshuake?), e lembrava de alguns amigos de rua, e isso foi em 69, voltei a visita-los alguns dele ainda reencontrei, reencontrei meu tio minha tia, mas foi quase que uma visita nova, não se pode dizer que foi volta.

P1 – E a volta pra cá?

R – É isso daí, depois disso, eu acho que foi um tal de ida e volta, eu ia duas, três vezes por ano pra Europa, pra Alemanha, e sabe, dentro do contexto profissional acabamos tendo que ir pro Japão, a economia ia mudando e nós íamos mudando, o grupo ia mudando as estratégias, quando nós fechamos o plano naval em 1970, eu lembro bem, eu fui pro Japão com o diretor comercial pra nós fecharmos as encomendas dos componentes importados, que nós não trazíamos mais ela da Europa, que a Europa vivia uma crise econômica, então aí fomos pro Japão, só que nós fomos via China, então, via China e Coréia, Coréia tava em guerra, então, eu me lembro bem o comandante do avião, atenção estamos passando em área de guerra, porem a distância e tal, aí fomos pro Japão fechamos a encomenda no Japão e voltamos via Alaska, então foi um tal de ida e vinda pra Europa que.

P1 – Mas a volta pra Taubaté deve ter tido algum impacto?

R – (risos) É realmente eu acho que a gente já criou raízes aqui, né, já tinha criado raízes, já tinha feito a faculdade, amigos, clube, quer dizer, tudo aqui já era familiar, né, quer dizer, naturalmente já era a nova pátria, na se pode dizer, porque apesar de ter ido, a cultura alemã, apesar o idioma, entender o idioma, mas não entendia a cultura, a cultura é totalmente diferente da cultura daqui, então a gente, lógico, jovem se ajustou aquela realidade, aquele período em que eu estive na Alemanha, mas ela não era simpática, vamos dizer, pra mim não era, porque é totalmente diferente, tudo arreigado, sabe, tudo protocolado, tudo certinho, até nos mínimos detalhes, e é difícil você se ambientar, imagina só, você sair de uma cultura onde a pessoa diz pra você assim, passa em casa pra você tomar café, onde ela não quer dizer nada, não quer nem que você vai tomar café, e nem que você passe na casa dela, é simplesmente uma gentileza, uma cortesia que ela tá manifestando, enquanto que chega lá a pessoa diz assim, vai lá em casa tomar café, ela diz assim, vai lá me casa sábado, 15 horas que eu to te esperando, e ai se não for, então essa mudança de cultura realmente é problemática, é diferente, quer dizer eu que cresci vivi em outro ambiente, agora chego e é um outro ambiente, eu me ajustei, eu falei, lógico, aqui é assim, me ajustei, ia lá as 13 horas conforme combinado, tava lá né, não tinha, mas é diferente, é cultural o negócio, não é um problema simplesmente você desliga um botão e liga outro botão, não é, é postura, você tem que se ajustar na realidade, vizinhos, convivência, terminava um serviço e ia pra casa, no inverno tinha que remover a neve da porta da casa senão você não entrava, você tinha que fazer isso, de manha nevou muito, se eu saísse antes, então tinha que preparar o caminhos, jogar sal e tal, é uma nova cultura.

P1 – E o senhor voltou pra Taubaté em que ano?

R – Eu voltei, da Alemanha eu voltei em 1971, segundo semestre de 71.

P1 – Solteiro ainda?

R – Solteiro ainda

P1 – E aí?

R – E aí eu me casei em Taubaté, aí eu fui pro Rio, eu me casei em Taubaté, mas ainda não foi aí, ainda tá cedo, eu fui pro Rio trabalhar no Rio, e na época a minha noiva ela fazia biologia em Taubaté, aí nós fomos no Rio, verificar uma faculdade de biologia pra ela, conseguimos a Santa Ursula, aí ela fez a transferência pro Rio pra Santa Ursula em meado do ano nós casamos.

P1 – E onde o senhor chegou a conhece-la?

R – Aqui em Taubaté, ela foi, ela era, na época em que eu dava aula no colégio do estado, ela era irmã de uma aluna minha, coisa da juventude.

P1 – Irmã mais velha?

R – Não, era a segunda irmã, a mais velha era minha aluna, de cientifica, eu dava aula de física, era minha aluna, e ela fazia ginásio, então ela não foi minha aluna, então nos encontros que havia no colégio, nas festas que a gente tinha, acabava se encontrando.

P1 – E o casamento foi aqui em Taubaté?

R – O casamento foi aqui em Taubaté.

P1 – Com festa?

R – Com festa, nos viemos do Rio e foi aqui em Taubaté, com os amigos e tudo mais.

P1 – Foi bonito?

R – Foi, foi muito bonito, aí nós fomos pro Rio, ficamos dois anos no Rio, e tivemos que voltar para Taubaté, não teve jeito, e teve uma fase intermediaria que eu ficava dois dias no Rio, porque era briga do diretor comercial e o diretor industrial, eu tinha que fazer os projetos ainda no Rio, e eu tinha que desenvolver a s encomendas em Taubaté, então eu fazia assim, eu vinha, normalmente ficava segunda, terça e quarta em Taubaté trabalhando aqui até dez horas da noite, dez, meia noite, e na quinta e sexta eu ia pro Rio desenvolver os projetos lá, na área comercial, por algum tempo.

P1 – E ela?

R – E ela fazendo a faculdade, nós morávamos no Rio, tínhamos apartamento e morávamos no Rio nesse período.

P1 – Como ela chama?

R – Célia

P1 – Célia?

R – Célia Taube

P1 – E os filhos quando vieram?

R – Pois é daí os filhos, o Gustavo nasceu em 1973, é o mais velho que é o Gustavo, depois o Cristian em 77 e a filha a última em 79, são os três filhos, cada um seguiu a sua carreira, o Gustavo ele se formou em mecatrônica na Politécnica e depois e depois na metade do curso ele achava que a mecatrônica da Poli não era o que ele queria, ele queria abandonar, aí eu acabei convencendo ele, mas o que você quer fazer, ah, eu quero fazer administração, entoa faça administração junto, e ele aceitou desafio, moral da história, acabou fazendo mecatrônica junto com a Getúlio Vargas em São Paulo, só que nesse período eu já tava em São Paulo, eu não tava mais na mecânica pesada, eu já tava na presidência da (Biuler?) em São Paulo, então eu já tava residindo em São Paulo.

P1 – A família toda?

R – Não, primeiro fui eu, e vinha no final de semana, eles ainda estudavam aqui, quando Gustavo foi pra São Paulo, ficou ainda a esposa com mais dois filhos aqui, o Cristian e a Suzane, eu falei, vamos ver como é que a coisa se desenrola, aí o Cristian também foi pra São Paulo fazer engenharia na FEI, eu falei, agora vamos esperar a última, qual vai ser o destino da Suzane, aí a Suzane decidiu fazer hotelaria em São Paulo, então nós ficamos, já era um período em que já tava planejado eu me aposentar dentro da empresa, então eu falei, não, agora esse dois anos nós vamos agüentar aqui em São Paulo, e a minha senhora ficava com a minha mãe aqui, porque ela era viva ainda, ela faleceu agora em Setembro que ela faleceu com 99 anos e sete meses, então ela ficou aqui, aí quando eu terminei, quando eu me aposentei, eu voltei pra Taubaté, o Gustavo já estava fora, o Gustavo já estava na Europa fazendo na ONU, ele foi fazer pós graduação em Viena, já tinha terminado, o Cristiam tava na etapa final, e a Suzane também na etapa final de hotelaria, nesse meio tempo todos eles estão formados, e a Suzane esta aqui comigo, num empreendimento que a gente criou em Taubaté, o Cristiam também e o Gustavo tá fazendo doutoramento na LSE em Londres.

P1 – E esse empreendimento? Quando começou a idéia?

R – Pois é, essa idéia começou quando eu voltei pra Taubaté.

P1 – Em 98.

R – Em 98, quando eu voltei pra Taubaté, com toda, vamos dizer, com tudo aquilo que eu vivi aqui na cidade de Taubaté, e também com a disposição ainda de continuar trabalhando eu falei, olha eu acho que não é o momento ainda de eu parara ainda, vestir o pijama e ficar dentro de casa, eu falei, acho que tá fora, eu vivi a vida toda vivendo como um empreendedor, viajando, realizando para os outros, eu acho que eu vou ter que fazer alguma coisa por Taubaté, e aí eu, dentro das minha viagens, a agente sempre via alguma coisa, na (Biuler?) foi uma fase muito interessante, porque foi a segunda universidade que eu tive na prática, porque eu sai do ramo, de engenharia naval, motores navais, que era construir aquelas catedrais de dez metros de largura por 15 de comprimento por dez de altura com o motor de dez mil cavalos que era o motor propulsor do navio realmente, esse navio que descolam aí, 30 mil toneladas de queijo, ou mais ainda, no auge no plano naval brasileiro, que era construído no estaleiro Mauá no estaleiro Emacna, no Verong em Angra dos Reis, na Escavagima, era o auge da indústria naval, então nós começamos, quando eu comecei na mecânica pesada eu comecei com, me lembro bem, era um motor por ano era o desafio em 1965, depois em 1979 nós estávamos fazendo 12 motores ano, você vê o que era um em 12 meses, passou a ser um por mês, você já pode imaginar que evolução que foi isso aí, então foi brutal, todo esse acompanhamento, toda essa evolução, e quando eu mudei, a mudança foi uma mudança drástica, mas porque que saí da mecânica pesada da MAN? É simples, a história economia ela não é ditada, ela acontece, então em 1980 veio a primeira grande crise do petróleo, quando ocorre a primeira crise do petróleo a MAN que era líder de mercado na época, na área de motor dois tempos, ela perdeu a liderança assim de uma hora pra outra, por que, ela montava todo seu conceito em cima de tecnologia e cisto de operação barato, esse era o conceito da MAN, quando veio a crise do petróleo tinha que inverter o processo, tinha que dizer o seguinte, eu preciso de motor de baixo consumo de combustível, eu não preciso de um motor de baixa manutenção, ela perdeu, quer dizer, o conceito dela foi por terra, e ela tinha que desenvolver, quer dizer pra conseguir motores de menor consumo, tinha que baixar a rotação, quer dizer, o motor era na faixa de 150, 160 RPM, com consumo de 160 grama cavalo hora, mais ou menos, pra poder chegar no 120 grama cavalo hora, tinha que baixar a rotação, tinha que chegar no 120, 122, se baixar a rotação tinha que aumentar a relação do curso e a MAN tava no limite da tecnologia, ela viu sair do primeiro lugar e ir pro último lugar, porém financeiramente ela tava muito bem, numa época auge de construção tanto na América do Sul quanto no Japão, aí o que aconteceu, na Dinamarca que era a empresa em terceiro lugar, a segunda era a uma empresa Suíça a Suza, e a terceira era a (Bornmasterwainer?) uma empresa dinamarquesa, só que esta empresa dinamarquesa era uma fábrica de motores e era uma outra fábrica de navios, era um estaleiro, então tinha o mesmo grupo uma fábrica de motores e um estaleiro, onde fabricava navios, ao mesmo tempo que veio a crise econômica, veio a crise da indústria naval européia, então o estaleiro (Bornmasterwainer?) estava em péssima situação não tinha condições de sobrevivência, e a (Bornmasterwainer?) só tinha para oferecer ao mercado a indústria de motores, a MAN tava muito bem, foi lá e comprou a (Bornmasterwainer?) que era o terceiro lugar, porém tinha condição de desenvolver a tecnologia pra atender a necessidade da indústria naval, porque era um sistema (United flow sistem?), com a válvula na cabeça, então o ar entrava por baixo e saía em cima, enquanto a da MAN ele entrava em baixo, fazia a varredura e tinha que voltar em baixo, ela não tinha mais condições técnicas de fazer isso, então a MAN comprou a (Bornmasterwainer?) e montaram uma nova empresa chamada MAN (Bornmasterwainer?) diesel, e essa nova empresa todo a direção foi transferida para o grupo dinamarquês e o grupo dinamarquês nesse momento pegou na mecânica pesada e disse, nós temos apenas uma participação azoinaria mas não temos mais em gerencia técnica e vocês já podem imaginar o que isso representa um elemento que coordenada toda a atividade daquela divisão, eu falei, não agora estou sentado numa cadeira com três rodas, qualquer dia não sei pra qual direção que eu vou, foi quando eu decidi mudar, eu falei, olha, agora eu vou, eu percebia que por parte do grupo francês havia uma limitação de ascensão na minha carreira, porque vinham elementos de fora que na França viviam um momento difícil também então eles traziam muita gente da França pra assumir cargos de liderança, então eu resolvi mudar, e mudei para o grupo Virte, num período curto e depois eu fui para a (Biuler?) que era um grupo Suíço, e no grupo (Biuler?) naturalmente foi uma mudança drástica porque ela é líder mundial na área de alimentos de bicho de dois pé e quatro pé, ela absorve o processo todinho, então tanto a parte de alimentação humana como alimentação animal e subprodutos, só para dar um exemplo, ela tem uma divisão de moagem, então planeja e constrói moinhos de trigo, ela tem uma divisão de chocolate, planeja e constrói indústria de chocolate, ela tem uma divisão de óleo, ela planeja e realiza indústria de óleo, então essa foi uma nova faculdade pra mim, porque daí eu entrei na área industrial nessa empresa e tinha contato com as diversa divisões, e cada divisão tinha um gerente que era responsável pelo processo todinho, pra mim era fantástico isso porque eu só tinha que cuidar da parte industrial, o resto era de graça, eu aprendia de graça, eu ia lá discutia como gerente o processo, o por que, o por que não, e eu ia aprendendo, essa foi uma faculdade na pratica, foi um fascino porque eu entrei em contato com os moinhos de trigo, todos do Brasil que eu conheço hoje, todos eles não tem um, indústria de chocolate, a Lacta, a Garoto a Nestle eu visitava constantemente, me inteirava do processo todinho, a Sadia, a Seara, a Perdigão eram clientes nosso na indústria de óleo na indústria de ração aí foi, eu estudava dia e noite, estudava e trabalhava novamente pra aprender esse novo contexto de alimentação, e daí é que veio naturalmente, quando, já planejando, já planejando o futuro, eu dizia assim, olha, o dia em que eu para vou fazer algum empreendimento nesta área de alimentação, eu não tinha certeza ainda do que eu ia fazer, quando eu voltei pra Taubaté então, aí eu falei, depois de analisar o contexto todinho eu falei, tem que ser um local especial que represente algo historicamente pra Taubaté e tem que ser algo que incorpore todo esse conhecimento, e aí depois de muito estudar, nós chegamos a conclusão que deveríamos fazer um Plaza Mol, quer dizer, um centro de conveniência aberto, porem sinérgico com os empreendimentos que fossem montado lá, aí começou o planejamento do Plaza Mol em Taubaté.

P1 – E o Lugar?

R – Pois é, o lugar eu falei, é um lugar estratégico, por que nós escolhemos ali, porque...

P1 – O senhor pode falar a onde é?

R – É o Plaza Mol esta situado na praça da CTI, é conhecido como praça da CTI, porque ali é o núcleo da industrializarão taubatiana, companhia Taubaté industrial, em 1891 Feriz Friza, foi o primeiro industrial taubatiano, veio pra Taubaté e iniciou uma indústria têxtil, numa época em que Taubaté era iluminado a tocha ainda, a gás, Taubaté não tinha energia elétrica, ele montou uma usina elétrica em Redenção da Serra, trouxe a energia elétrica pra cá, e assim começou a companhia industrial Taubaté e 1891, então eu diria que ali é o centro econômico de Taubaté, agora tem uma razão ainda subjetiva muito profunda pra mim, porque a nossa casa, quando meu pai construiu a nossa casa aqui em Taubaté, foi na chácara do Visconde, ali ao lado do sitio do pica-pau amarelo, na avenida principal Monteiro Lobato, e eu acordava com o soar da sirene da CTI, seis horas da manhã quando a sirene tocava eu acordava pra ir pra escola sete hora, então eu olhava na janela, a torre da CTI, seis horas da manhã, realmente, tá na hora de lavar o rosto, escovar os dentes e se preparar pra ir pra escola, isso historicamente, isso ligado puramente a emoção, então isso fez parte, uma das razões muito forte, então eu falei, é aqui que nós vamos fazer esse Plaza Mol, que vai ser um verdadeiro tributo a Taubaté, quer dizer, Taubaté tem o centro geográfico, tem o comercial e tudo mais, mas Taubaté vai ter também um símbolo econômico de Taubaté e aí surgiu o Plaza Mol, primeiro centro de conveniência aberto.

P1 – O senhor pode falar pra gente um pouquinho, como ele é, as lojas que tem?

R – Posso, posso falar, primeiro acho que eu falaria um pouquinho de por que nó chamamos de Plaza Mol, primeiro porque Plaza é praça, uma palavra espanhola, e Mol é uma palavra americana, quer dizer inglesa, uma expressão inglesa que significa conveniência, então é uma praça de conveniência só que é aberta, qual a diferença de uma praça de conveniência fechada, ela tem um muro, tem um estacionamento fechado, e ali não, o estacionamento é aberto em volta, conveniência porque ela tem que agregar comércios que sejam sinérgicos entre si, isso é fundamental no Plaza Mol, então a primeira premissa do Plaza Mol foi primeiro, estacionamento na volta toda, quando nós discutimos com o arquiteto, nós dissemos o seguinte, essa faixa aqui ao redor do Plaza Mol, será o estacionamento, nós não tínhamos ainda a concepção de como iríamos fazer urbanisticamente isso, falava _________ e a faixa, depois nó vamos fazer isso, terminada a faixa, depois é muito mais fácil inserir elementos urbanístico dentro da faixa do estacionamento é o que pode ser visto lá hoje, é simples isso daí, a segunda premissa não era o comércio, o comércio é lógico, alguma coisa tem que estar por de trás como comércio, mas a segunda premissa é que o empreendimento tinha que transmitir uma certa magia, uma certa atração ele não poderia ser puramente lojinha de comercio, coloca lá dez lojinhas, tanto assim que tem uma passagem interessantíssima, quase no final da obra me visita um empresário de São José dos Campo e queria locar uma área, ele falou, olha queria locar uma área aqui, mas que ramo o senhor é, qual é o seu ramo, eu sou o líder na área moveleira aqui do Vale do Paraíba, eu falei, olha meu senhor, infelizmente não cabe no meu contexto aqui dentro do Mol, como não cabe, móveis, eu falei, não cabe, eu gostaria de locar essa área do senhor, mas ela não cabe, ela não traz sinergia pro nosso empreendimento pro Mol, eu preciso ter elementos sinérgicos aqui dentro, um não concorrendo o outro, porem que grega valor ao outro, e a área de móveis não traz, não vai fazer essa função, o senhor me desculpa eu gostaria imensamente de isso é um desacato, aonde já se viu o senhor fazer isso comigo, eu falei, não é um desacato, o senhor tem que entender que pra mim seria o maior prazer alocar alguma coisa pro senhor, mas não aqui dentro do contexto do Mol, então os empreendimento que estão lá foram escolhidos a dedo, porque eles tem uma magia se a gente olhar hoje o que tá inserido lá no Plaza Mol, tem a Dona Bela, que nós criamos a identidade da Dona Bela com a experiência que a gente viajou, que a gente criou, e tem uma razão pra isso, ela foi criada porque a gente avaliou o segmento de panificação no Brasil, e vê que durante 100 anos não ocorreu nada, ele não evoluiu, é um segmento que foi dominado pelos portugueses pelos espanhóis, mas não teve evolução nenhuma, comparados com empreendimentos da Europa, Estados Unidos, aí falei nós vamos fazer um negócio diferente, começa mudar até o nome, não vai mais se padaria, vai ser casa de delícias, então, Dona Bela casas de delicias, eu falei não quero mais esse link com o passado de algo arcaico, começou por aí, então Dona Bela foi o primeiro empreendimento, o segundo empreendimento que a gente decidiu era cuidar o cultural, quer dizer depois de cuidar do estômago, vamos cuidar da mente, aí trouxemos a franquia da Nobel, que tá logo em cima, o terceiro empreendimento é a saúde, então temos o empreendimento da saúde, o quarto empreendimento é o que diz respeito a área de entretenimento e lazer, poxa num local de muita movimentação, o local de maior movimentação em Taubaté é aquela praça ali, nós trouxemos um artista plástico de Blumenau que ele faz além da parte de artesanato, quadros, pinturas e tudo mais, ele faz arranjos personalizados de flores, quer dizer é um negócio totalmente diferente, é um negócio que nós vimos na Europa, o que é, quando eu dou um ramalhete de flores, não é um amarrado de flores que eu to dando, eu quero transmitir alguma emoção, eu quero transmitir alguma coisa, ela tem que levar uma mensagem, é exatamente o que esse artista plástico se propõe, então antes de mandar chegar lá e falar quero doze rosas com isso com aquilo ele pergunta pra que é, qual a idade da pessoa, qual é o gosto da pessoa, o que ela gosta, o que ela não gosta, cor, tanto assim que nós temos situações ali interessantíssima, nós temos gente voltando, outro dia veio uma professora que ganhou um presente do marido, ela deveria ter lá seus 48, 50 anos, falou a vida toda não ganhei um presente tão personalizado como este quer dizer, que me agradasse tanto, então é outro empreendimento que está inserido no Plaza Mol, e o último empreendimento é uma Lan House, é uma área para os jovens, então enquanto os adultos se divertem na Dona Bela, os jovens se divertem na Monkey, então a gente buscou realmente uma sinergia com todos os empreendimentos ali, e um local onde os casais vai e consegue resolver um monte de problema num lugar só ele encosta e em cinco minutos tá resolvido o problema, pega o pão, pega o remédio e ainda pega a flor do aniversário ainda, e aí tá cumprida a missão, este é o objetivo do Plaza Mol.

P1 – O Plaza Mol foi inaugurado em que ano?

R – O Plaza Mol foi inaugurado em Abril do ano passado, faz um ano e pouquinho, e tem uma coisa, um detalhe que eu acho importantíssimo citar aqui em respeito a praça da CTI, que além dela tá inserida no contexto econômico de Taubaté, ela na época que Feris Friza iniciava a construção da indústria ele tinha um engenheiro chamado Fernando de Max, e Fernando de Max numa dessas ida dele pra Europa, ele esteve em Paris, e acabou trazendo o projeto da praça de Toali de Paris onde fica o arco de triunfo em Paris, trouxe e apresentou pra Feris Friza, nós poderíamos fazer uma replica da praça de Toali, e não é que fizeram, hoje onde tá a praça da CTI se a gente comparar com a praça de Toali onde tá o arco de triunfo, é uma replica são várias entradas e várias saídas, completando num total de oito, porque são entradas e saídas e a praça de Toali tem essa característica quer dizer é a praça da maior bagunça de Paris, entram e sai mas todo mundo é feliz, é similar a praça da CTI.

P1 – E como é que Taubaté recebeu esse empreendimento, quer dizer tem um pouco da Europa, tem um pouco do Estados Unidos, tem um pouco de Guarujá, como é que é isso?

R – É verdade, pra mim foi um desafio muito grande, foi um desafio tão grande, que durante a construção eu recebia a visita de amigos meus, colegas de escola que diziam assim pra mim, isso aí não é pra Taubaté, aí numa determinada fase do empreendimento eu falei pro arquiteto, por favor, eu quero que você preveja flexibilidade na obra aqui, de maneira que caso isso venha ocorrer, eu possa transformar em um outro empreendimento, pra não correr o risco do investimento, então me deixa assim, algo, derrubando a parede pode ser uma outra coisa e neste momento quando vinham questionar eu já tinha a solução dizia assim, olha esse aqui não é pra Taubaté, eu dizia olha se não for vira borracharia, eu tiro aquela parede ali, a entrada por outro lado vira borracharia aí será pra Taubaté, ai foi um verdadeiro desafio, um verdadeiro confronto com Taubaté, aí terminado o empreendimento pouco a pouco, como é típico de uma cidade interiorana primeiro se olha de longe, vai se aproximando os índios já faziam isso, quer dizer, nunca entraram de supetão, então vai se aproximando e tal, e hoje representa o cartão postal de Taubaté, os taubatianos abraçaram aquilo e hoje representa novo cartão postal de Taubaté, era exatamente o objetivo, o tributo a Taubaté era tornar o Plaza Mol o novo cartão postal inserido dentro do contexto da CTI que hoje não existe mais, mas existia, a arquitetura ao lado, existe a torre que é a área social da prefeitura tombada, existe todo um contexto ali, eu acho que hoje tá bastante coerente a coisa ali.

P1 – E quem é o cliente?

R – São, eu diria grande parte são os taubatianos e grande parte são os imigrantes de fora, eu, entre a minha fase, quer dizer escolado em Taubaté e hoje eu acho que o percentual do pessoal que veio de fora e hoje adotou Taubaté maior que os taubatianos, então hoje nós temos li muita gente, realmente é um negócio fantástico, Taubaté com 15 mil universitários, nem todos são de Taubaté, tem família de Andradina que vem, tem médicos, cirurgia no hospital vem de São Paulo e passam aqui dois três dias, filhos de médicos, Mato Grosso, até de Campo Grande, Mato Grosso, quer dizer hoje o horizonte de pessoas que conheceu ali, profissionais que vieram para Taubaté, não são taubatianos, não nasceram em Taubaté, porem imigraram para Taubaté.

P1 – E você acha que o comércio de, eu vou falando (risos), supri todas as necessidades de Taubaté, quer dizer, você trouxe uma coisa nova, com um pouco de resistência foi plenamente aceita, hoje o que você tem de estrutura de comércio em Taubaté, centro, shopping, você acha, como é que você avalia isso?

R – Eu acho que hoje Taubaté tá numa situação bastante favorável, a gente pode ver que os empreendimentos que são feitos aqui hoje não são mais daqueles taubatianos tradicionais, Taubaté era uma cidade relativamente fechada, se limitava ao centro, se limitava ao centro, mas hoje Taubaté já atingiu uma outra dimensão, ela não pé mais aquele centro, aquele centro vai ficar pra historia, vai ser o centro comercial de Taubaté, vão colocar num livro, encadernar, porque ele vai funcionar das oito as 18 horas e acabou, não vai ter mais opção, centro comercial, mas se você olha Taubaté hoje com cinco supermercados Abílio Diniz, Pão de Açúcar, é só estabenalogia, quer dizer, Abílio Diniz é tão bitolado assim que ele coloca cinco supermercados em Taubaté, por fora o Pão de Açúcar, você tem ainda o Shampiom, tem os outro ainda, tem outras redes aqui em Taubaté, isso significa que com 300 mil habitantes hoje atingindo essa dimensão, Taubaté tá próximo de 300 mil habitantes eu acredito que ele tá sofrendo uma transformação muito grande.

P1 – E você faz suas compras a onde?

R - Eu faço compra, pra mim pessoalmente ou você tá falando para as empresas?

P1 – Não, não pessoalmente.

R – Pessoalmente eu faço compra em Taubaté, 99 % em Taubaté, um % ás vezes a gente vai pra São Paulo, está em São Paulo então, mas 99% é em Taubaté.

P1 - E pro Plaza Mol vem alguma coisa de fora?

R – Vem, vem algumas coisas de São Paulo, que não existe ainda fornecedor regional.

P1 – Por exemplo?

R – Um exemplo típico, para a Dona Bela, um exemplo bobo, pão de centeio, vem de São Paulo.

P1 – Nossa mas esse falta faz tempo(risos)

R – Você tá vendo, mas a população também, aí tem uma razão, a população do pão de centeio é relativamente pequena então você instalar uma indústria, você se dedicar a isso, é inviável economicamente, então é preferível você trazer.

P1 – Pode ser o seu próximo empreendimento (risos)

R – Talvez, São José tem a mesma situação viu, nós estamos em condições de igualdade.

P1 – Nesse aspecto?

R – Nesse aspecto.

P1 – E é uma empresa familiar, trabalha toda a família, família não, mas dois filhos?

R – A minha?

P1 – Isso.

R – Isso dois filhos, a filha que se formou em hotelaria então ela coordena a Dona Bela e o Cristian tá coordenando agora a Nobel.

P1 – E como é isso é legal?

R – É muito legal

P1 – Funciona?

R – Eu acho que tem , eu acho que cada um tem a sua responsabilidade, e a gente só tem a função de coordenar um pouquinho, transmitir um pouquinho da experiência de vida da gente discutir os problemas, eu acho que isso é muito legal, não existe restrição nenhuma por ser familiar.

P1 – É uma família que não teve um histórico de comercio?

R – Não, nenhum (risos)

P1 – E como está sendo essa nova experiência?

R – Muito interessante , nos apanhamos bastante, varejo não é industria, os primeiros momentos foram difíceis mas as gente aprende tudo na vida, pra quem fez duas faculdades, fez uma faculdade na prática, reciclou-se, então o importante é se reciclar a vida toda, eu acho que isso é fundamental, então hoje estamos nos reciclando no varejo.

P1 – É vencer ou vencer?

R – Vencer ou vencer, exatamente, olha, em um ano e meio a Dona Bela já tem uma franquia em Campos do Jordão, só pra vocês terem uma idéia, e é um empreendimento que sábado agora eu estava em Campos do Jordão recebemos a visita do _______, que é o presidente da Gradiente, eu tava lá por acaso, aí ele veio olhou aquilo e falou assim, parabéns, isso aqui é um empreendimento padrão São Paulo.

P1 – E como é que é a sua vida, você circula, você trabalha o dia inteiro lá, você faz as compras, como é que você faz?

R – Eu coordeno mais a parte de compra da Dona Bela e a coordenação com franquia

de Campos de Jordão, é que eu tenho outro empreendimento em Taubaté, que é o Ródão, tem que passar lá um pouquinho.

P1 – O que é o Ródão?

R – O Ródão é um posto de gasolina modelo aqui em Taubaté, é o referencial em Taubaté hoje, eu acho que o desafio sempre foi esse, a bagagem que você traz da indústria em termos de qualidade total, sabe, você tem que adaptar esses conceitos ao varejo, é óbvio não tem condição de você assumir diretamente mas são validos no varejo do mesmo jeito, resolve o mesmo conceito na indústria, a indústria busca qualidade total, no varejo você tem que buscar tanto de produto, tanto de atendimento, de postura de ética de empresa e tudo mais você tem que fazer isso, na realidade o que a gente faz hoje é uma adaptação do conhecimento industrial para o varejo tá sendo uma experiência bastante interessante.

P1 – E se encontra esse mesmo conceito em outros comércio de Taubaté?

R – Até o momento não.

P1 – É uma coisa nova?

R – Até o momento é novo.

P1 – Em tão pouco tempo de comerciante o que você há aprendeu?

R – Puxa vida, aprendi que os quatro P de marketing do Felipe Copium continuam valendo, que ele agregou mais dois P ainda, é fundamental isso e uma coisa eu acho que é fundamental, a partir do momento que a gente se expõe pra trabalhar no varejo, num segmento desse lidar com o ser humano, a primeira coisa que a gente tem que detectar, é quais são as necessidades, não é necessidade sob a ótica de marketing, eu dizia no começo que o empreendimento tem um objetivo claro, era a magia do empreendimento, então hoje a _________ eu me pergunto: “Atingi este objetivo?”, eu digo sim, não por minha resposta, por resposta dos clientes que vão lá, porque constantemente estou observando, eles chegam e olham e diz, mas como é bonito isso daqui, nossa nunca vi um negócio desse, e eles mesmo me procuram, olha meus parabéns, na minha vida eu nunca encontrei um negócio desse, igual isso daqui eu não vi, a gente vê pessoas de 30, 40 anos nessa faixa etária, então na parte da magia a gente atendeu a parte de beleza, a parte da ambientação e aí nós fomos buscar outro, eu acho que a necessidade humana não para aí na beleza material do empreendimento, aí nós fomos buscar a beleza do produto também, nós temos de apresentar um produto á altura do consumidor, de uma forma diferenciada, que lhe agrade, que goste, então nos fizemos temas de auto serviço na área de panificação, é outra coisa que agrada, quer dizer, é o segundo momento que dos olhos deles, enchem ali comesse produtos que dizem nossa, aqui eu tenho uma opção muito grande, você tem o terceiro momento que você analisa ali quando o cliente tá fazendo compras, ele tem a oportunidade de degustar o produto, não apenas levar, leve porque é bom, não, o senhor quer experimentar, experimente o produto, se lhe agradar o senhor leva, se não agradar o senhor não leva, então ele tem a segurança do produto, tá levando aquilo que ele quer e o último elemento é o atendimento, muito obrigado, volte sempre, com isso nós fechamos o circulo do varejo, eu acho que com isso tá fechado o circulo do varejo, não tem muito mais do que isso, é o que eu dizia, você adaptar a realidade de marketing que você usa hoje numa multinacional ao varejo, só que o varejo, a gente sabe que ele é criado por pessoas as vezes que falta de experiência, falta de formação de escolaridade, vamos dizer assim, não conseguem enxergar isso daí, este que é o grande problema, né, as pessoas, ás vezes no passado se alvoroçava só com as experiências, o sapateiro aprendeu com o pai dele, como é que se prega sola e ele ia, mas nunca fez um curso de sapateiro, e hoje não, hoje ele faz um curso de sapateiro, ele é um profissional, ele sabe orientar, e é a mesma coisa em todos os segmentos, eu acho que ele esta se profissionalizando, e profissionalizando você tem que ser profissional, não pode ser mais amador, não adianta você levantar as portas e dizer, estou aqui pra vender, o cliente não vai entrar se você não tiver um atrativo a altura.

P1 – E o que você acha de você ser chamado aqui num projeto de memórias do comércio do Sesc para você vim falar desse pedacinho de história aí, de quantos anos um ano, dois anos?

R – um ano e meio

P1 – Um ano e meio, estava falando desse pedacinho da história de um ano e meio pra cá.

R – Pois é, mas pra mim acho que isso foi uma honra, acho que esse foi o segundo tributo á Taubaté, eu acho que o reconhecimento, quer dizer se alguém viu nesse empreendimento um empreendimento diferenciado, o segundo tributo a Taubaté era realmente o que estava planejado o objetivo era este mesmo, era dar um presente á Taubaté, pelo que Taubaté me deu ao longo dos anos que aqui estive e que ainda estou, eu gosto muito dessa terra.

P1 – Então, obrigada.

P2 – Obrigada

R – Foi...

P1 – Muito bom.