Cabo Frio, Itapemirim, Macaé, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra na Memória e Vida de seus Moradores.
Depoimento de Alcineia de Souza Gomes
Entrevistada por Gustavo Ribeiro Sanches
São Francisco de Itabapoana, 18/03/2012
AECOM_SFI_HV01_Alcineia de Souza Gomes
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Priscilla Proetti
MW Transcrições
P/1 – Pra começar eu vou pedir pra senhora falar o seu nome completo.
R – Alcineia de Souza Gomes.
P/1 – Tá certo, dona Alcineia, e me fala a data do seu nascimento, completa também.
R – Dia 1 de janeiro.
P/1 – E qual é o ano?
R – É 66. O nome do meu pai é Antônio Alves Gomes.
P/1 – E o da sua mãe?
R – Edineia de Souza Gomes.
P/1 – Legal, e a senhora conheceu os seus avós, Dona Neia?
R – Conheci o meu avô por parte da minha mãe e a minha avó por parte do meu pai.
P/1 – O que eles faziam, o que você lembra dos seus avós? O que você lembra desse avô, era um avozão? Como ele era?
R – Ele era muito bom, às vezes ele ficava lá na esquina aí fazia uma flautazinha de... Do negócio da bananeira, que faz o pessoal antigo que fazia isso, e aí ficava lá, mas era uma boa pessoa.
P/1 – E ele nasceu aqui, ele era pescador? O que ele fazia?
R – Não, meu avô não era pescador não, ele tinha uns gadozinhos, depois acabou tudo...
P/1 – Tem alguma história com ele que você lembra-se de infância, dele brincar com você... Você falou da flautazinha, tem mais coisas que você lembra-se dele?
R – Ah, ele ia lá em casa e brincava muito com o meu irmão, ficava botando uma pilhinha nele, aí meu irmão começava a xingar, mas ele era uma bela pessoa.
P/1 – A senhora falou da sua avó por parte de mãe também, o que a senhora lembra-se dessa avó, cozinhava bem?
R – Cozinhava, eu morava com ela, ela já era velhinha e eu ficava lá com ela, as vezes eu cantava pra ela, ela pedia pra cantar, eu gostava muito...
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Depoimento de Alcineia de Souza Gomes
Entrevistada por Gustavo Ribeiro Sanches
São Francisco de Itabapoana, 18/03/2012
AECOM_SFI_HV01_Alcineia de Souza Gomes
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Priscilla Proetti
MW Transcrições
P/1 – Pra começar eu vou pedir pra senhora falar o seu nome completo.
R – Alcineia de Souza Gomes.
P/1 – Tá certo, dona Alcineia, e me fala a data do seu nascimento, completa também.
R – Dia 1 de janeiro.
P/1 – E qual é o ano?
R – É 66. O nome do meu pai é Antônio Alves Gomes.
P/1 – E o da sua mãe?
R – Edineia de Souza Gomes.
P/1 – Legal, e a senhora conheceu os seus avós, Dona Neia?
R – Conheci o meu avô por parte da minha mãe e a minha avó por parte do meu pai.
P/1 – O que eles faziam, o que você lembra dos seus avós? O que você lembra desse avô, era um avozão? Como ele era?
R – Ele era muito bom, às vezes ele ficava lá na esquina aí fazia uma flautazinha de... Do negócio da bananeira, que faz o pessoal antigo que fazia isso, e aí ficava lá, mas era uma boa pessoa.
P/1 – E ele nasceu aqui, ele era pescador? O que ele fazia?
R – Não, meu avô não era pescador não, ele tinha uns gadozinhos, depois acabou tudo...
P/1 – Tem alguma história com ele que você lembra-se de infância, dele brincar com você... Você falou da flautazinha, tem mais coisas que você lembra-se dele?
R – Ah, ele ia lá em casa e brincava muito com o meu irmão, ficava botando uma pilhinha nele, aí meu irmão começava a xingar, mas ele era uma bela pessoa.
P/1 – A senhora falou da sua avó por parte de mãe também, o que a senhora lembra-se dessa avó, cozinhava bem?
R – Cozinhava, eu morava com ela, ela já era velhinha e eu ficava lá com ela, as vezes eu cantava pra ela, ela pedia pra cantar, eu gostava muito dela, era muito boa também.
P/1 – A senhora falou que cantava, dona Neia, o que a senhora cantava pra ela?
R – Ah, meu Deus, ela gostava das musicas de Roberto Carlos, as antigas (risos).
P/1 – Tinha alguma em especial?
R – Não, ela gostava de todas, agora também não me lembro mais.
P/1 – (risos) Tá certo, e a casa da sua infância, como era a casa que você nasceu?
R – Ah, a casa que eu nasci era de estuque, eles falam que é casa de barro, né, depois que melhorou um pouco, que a gente fez de tijolo...
P/1 – E como é essa casa de barro, pra quem não sabe, como é, como faz?
R – De estuque?
P/1 – isso.
P/1 – Tem as varinhas... Antigamente a gente ia pro mangue porque a gente não tinha, assim, muitas condições, era pobre mesmo, aí ia pro mangue, arrancava as varas de mangue, e aí ia trançando, fazendo as paredes de vara, aí depois comprava barro e ia jogando na casa pra tapar as paredes.
P/1 – E tinha quarto, como era a casa? Era grande, era pequena?
R – Não, eram dois quartos só, e uma cozinha.
P/1 – E eram quantos que moravam lá, era a família... Quem morava lá?
R – Era a família toda, acho que eram 11, dez ou 11, porque que eu tive... Eram 12, mas aí morreram dois, ficou dez.
P/1 – E como era pra comer todo mundo em casa? Cada um sentava num lado...
R – Olha, a vida era difícil, a gente as vezes pegava cação, os meninos pegavam, aquele cação, assim, pequeno, aí meu pai fazia, o meu pai, a minha mãe, e sentava todo mundo ali, na rodinha ali, e ia comendo.
P/1 – A senhora falou do seu pai, e da sua mãe, como era sua mãe na sua infância?
R – A minha mãe, ela, assim, quando o meu pai ia pescar ela ia junto pra poder criar a gente, e a gente, já desde pequenininho, assim, acompanhava, né, pra poder já ter um dinheirozinho honesto, já ia... independente... Eu com a idade de 12 anos eu já pescava, pescava sozinha no rio de caíco, pesquei muito
P/1 – E a senhora lembra a primeira vez que acompanhou o pai, as primeiras vezes? Como foi a primeira vez de ir pescar?
R – Primeiro ele me ensinou a remar e depois eu saí com ele pra pescar de tarrafa, eu remava e ele jogava a tarrafa.
P/1 – Como que ele ensinou a remar? Jogou lá na agua e foram aprender lá na pratica?
R – Não, ele fazia um reminho, aí dava pra gente, mas ele ia remando também, e a gente ia remando pra poder aprender, aí depois a gente começou a remar sozinho.
P/1 – E ai iam todos os irmãos? Como era?
R – Eram todos, todos são pescadores.
P/1 – E as brincadeiras de infância, do que vocês brincavam, como era?
R – Ah, as brincadeiras... A gente se divertia muito quando a gente ia pescar, ia pulsar, a gente era pequeno, ia uma porção, os vizinhos também, ai enquanto a gente brincava, a gente pescava...
P/1 – E ai brincava lá no mar mesmo? Sempre foi isso, de brincar já pescando?
R – Uhum, a não ser isso, a minha vida mesmo, desde criança, é só pescaria mesmo.
P/1 – E sempre esteve perto da praia, como era isso? Sempre foram pra praia pra pescar? Também iam pra se divertir, a família ficava junta, ia pra praia? Tinha algum momento de descanso?
R – Não, assim, o momento de descanso era só quando a gente já tinha o plano
de ir pescar a noite, aí a gente tinha que dormir um pouco de dia porque as vezes a gente vira a noite pescando.
P/1 – E como era a rotina em casa, todo mundo ia pescar... Você falou que, por exemplo, quando pescava de noite dormia de dia, mas o normal como era? Ia pra escola? Não ia pra escola?
R – É, ia pra escola, tinha, assim, a hora de ir pra escola, ai quando a gente ia pra escola o papai e a mamãe iam sozinhos pegar caranguejo, pescar, aí quando a gente vinha da escola, se eles fossem de novo a gente acompanhava, era um tal de apanhar lenha, trazer os feichinhos de lenha na cabeça, meu Deus, que vida sofrida.
P/1 – E enquanto o pai e a mãe estavam pescando como é que ficava, alguém cuidava de vocês? Vocês se viraram?
R – As vezes a gente se virava, fazia comida, essas coisas assim, mas a gente se virava bem se saía bem.
P/1 – E cada filho tinha uma função? Cada um fazia uma coisa ou todo mundo fazia tudo?
R – Não, todo mundo fazia tudo, não tinha esse negocio de um faz aquilo e o outro não, lá era todo mundo, todo mundo ajudava, é que nem eu agora, o meu irmão fica lá remendando rede, que ele é pescador, mas ele conserta rede pros outros também, e ai quando ele tá consertando eu que faço comida, e as vezes quando eu to trabalhando, to pescando, to nos mangues, e ele não tá fazendo nada, aí ele que faz.
P/1 – Você já falou que vocês iam pescar com tarrafa, começou com tarrafa, de pequenos, e ai como era? Iam todos os irmãos juntos e...
R – Não, todos juntos não, uns ficavam em casa e outros iam, mas não iam todos juntos não, entendeu, as vezes uns ficavam fazendo outra coisa, uns iam pescar, outros ficavam em casa fazendo outra coisa, mas não saiam todos juntos não.
P/1 – E as amiguinhas da escola? Tinha muita menina que era pescadora ou você era a única?
R – Da escola?
P/1 – É.
R – Não, tinha umas colegas minhas que também gostavam de ir pescar, tinha uns colegas também, tem uma que mora em Campo que a gente foi criada desde pequena, mas quando ela vem pra aí, ela vai lá pra casa me chamar pra ir pescar, pra ir pegar guaiamum.
P/1 – E quando criança tinha algum jeito que você gostava mais de pescar? Era de noite, era com tarrafa? Tinha alguma especifica que você gostava mais?
R – Ah, a pescaria que eu gosto mais, eu tenho rede, tenho tarrafa, mas a que eu gosto mais é de tarrafa.
P/1 – Desde criança já era assim também, era o que você mais gostava?
R – Uhum, eu gosto de pescar de tarrafa.
P/1 – E você falou pra gente também da escola, como era a escola? Você se lembra de ir pra escola, de alguma professora marcante, como era o meio social?
R – Até as professoras que deram aula pra mim, todas elas foram boas, não tenho nada o que dizer delas.
P/1 – E como era ir pra escola? Era um momento de descanso, tinha muitos amigos? Como era a escola? Se você fosse contar como era o prédio da escola.
R – Assim, como eu era dentro da escola?
P/1 – Isso, você falou da sua casa, que era de barro, depois virou cimento, e a escola, como era o prédio da escola?
R – Era a mesma coisa, é esse colégio aqui mesmo.
P/1 – Era aqui mesmo?
R – Aqui mesmo, só que eu estudei só até a quarta série porque depois não teve mais condições de estudar porque tinha mais irmãos menorzinhos, e ai tinha que correr atrás pra ajudar.
P/1 – E além de pescar vocês tinham alguma roça, plantavam alguma coisa ou viviam da pesca?
R – Não, só da pesca mesmo.
P/1 – E vocês pescavam só pra vocês ou pra vender também?
R – Não, a gente pesca pra vender, a gente tira peixe pra comer, mas é mais pra vender.
P/1 – E a senhora sabe com quem seu pai aprendeu a pescar? Foi o seu avô? Quem ensinou o seu pai a pescar?
R – Aí eu não posso... Eu não sei porque eu não conheci o meu avô, pai do meu pai, entendeu?
P/1 – Mas o seu pai contava alguma historia de quando ele foi pescar, ou a senhora só lembra dele já no mar?
R – Só lembro dele assim... Mas ele sempre foi pescador, trabalhou em navio por muitos anos, trabalhou no Iro em navio, muitos anos ele trabalhou...
P/1 – E quando vocês iam pescar tinha algum momento que ele contava historias? Como era, já entrava no barco e começava a pescar, todo mundo fica quieto, conversa, como é?
R – Nada, a gente dá muita risada pescando, eu tenho um irmão que a gente sai pra pescar, e ele fala muita besteira, ai a gente dá muita risada pescando, e ele fica lembrando das coisas e a gente já começa a dar risada.
P/1 – E de criança qual é a lembrança mais marcante que você tem? Se for pra escolher uma coisa, da praia, da pesca, do mar, qual é a coisa que você mais lembra?
R – O mais importante pra mim é a pescaria.
P/1 – E teve algum dia que foi especial pra você? Que você lembra: “Ah, teve essa história, foi muito especial pra mim”...
R – Não, assim, de especial não tem não porque a gente vai todo dia ali, né, então não. Mas o que eu gosto é a pescaria mesmo.
P/1 – E dessa época de infância quando o seu pai pescava era muito diferente de hoje? Como era antes?
R – Era porque antigamente tinha mais fartura de peixe, era mais quantidade, entendeu, aí a gente ia dar lanço era muito peixe mesmo, a gente tanto vendia como dava pros vizinhos também, e hoje em dia não, hoje em dia é muita exploração, esse negocio de barco pra baixo e pra cima, o barulho de barco espanta os peixes, esse negocio de rede que eles botam lá na... Ali na Boca da Barra, que impede a entrada do peixe, agora, nessa época mesmo que é o tempo das tainhas entrarem, as tainhas, os robalos, e ai as redes ficam lá e atrapalha a entrada do peixe.
P/1 – E na época do seu pai era diferente?
R – É, na época do meu pai eles davam lanço por fora pra pegar robalo mesmo, aí era muita quantidade de peixe porque não era muita exploração, hoje em dia é muita exploração, como eu to falando, rede na entrada do peixe, não tem como o peixe entrar, as vezes de noite a água acende, por causa de muita agua viva a agua acende, e ai na entrada do peixe, quando vem a onde que balança a rede, aí é um fogaréu, aí não tem como o peixe vir, o peixe volta pra fora de novo.
P/1 – E ai a senhora falou que você comiam uma parte do peixe, mas a maior parte vendiam, né, vendiam pra quem? Quem comprava?
R – Ah, vem arrematante de vários lugares, as vezes a gente entrega no frigorífico, as vezes vai arrematante lá pra comprar.
P/1 – As vezes vende na própria casa, e eles levam pra fora?
R – Uhum.
P/1 – A maior parte vai pra onde?
R – A maior parte a gente vende.
P/1 – E ai quem compra são os moradores aqui da cidade, quem compra?
R – Não, é gente de fora mesmo, de fora daqui, as vezes tem gente daqui de perto também, arrematante de perto que vem comprar.
P/1 – E ai vocês falaram que uma parte do dinheiro vinha dos peixes pescados, e pra comprar as outras coisas? Pra comprar arroz, o que comprava, fora o peixe, como era a alimentação?
R – Então, a gente vendia os peixes pra poder ter o dinheiro pra comprar alimentação, comprar as coisas, feijão, arroz, essas coisas assim.
P/1 – E você falou que a primeira vez que você foi pescar foi com a tarrafa, explica como é a tarrafa, p0ra quem não conhece a tarrafa, como é? Você falou que primeiro a criança começa remando, né?
R – É, tem que aprender a remar.
P/1 – E ai como é? Alguém dava aula pra você...?
R – Aí depois tem que aprender a jogar a tarrafa, né, a tarrafa não é muito difícil de jogar não, é difícil, assim, logo quando a gente vai começar, mas depois eu aprende aí é rápido.
P/1 – Tem um jeito de jogar a tarrafa? Como é, como você explica, como você ensina?
R – Ah, a tarrafa, tem uns que botam uma parte nas costas pra jogar, eu boto nas costas, seguro no dente pra jogar.
P/1 – E como é uma tarrafa? Como eu identifico, sei que é uma tarrafa?
R – A tarrafa, pra gente fazer ela, ela começa estreita, aí tem, que eles falam, um negocio de “creço” que tem que botar pra poder quando chegar no tamanho certo, ela abrir todinha, se não botar o “creço” ela não abre, não tem como abrir.
P/1 – E dessa primeira vez que você foi pescar como eram os barcos? Quando é a tarrafa é só um botezinho?
R – É o caíco.
P/1 – Como é o nome?
R – Caíco, a gente fala que é caíco, né, que é comprido, assim, tem três bancos, e nunca pescamos, assim, a motor não, é no remo mesmo, no braço mesmo.
P/1 – Independente do jeito, da técnica, pode ser tarrafo, pode ser de outras formas, mas é sempre com remo?
R – É.
P/1 – Legal, e hoje que abundou, que tem muitos pescadores, você chegou a pescar de algum outro jeito, que não com o caíco?
R – Já fui no mar algumas vezes de barco, mas... Já fui uma porção de vezes.
P/1 – Mas em geral é aqui perto?
R – É, em geral é de tarrafo mesmo no rio, dando lanço na praia...
P/1 – E além do tarrafo qual outro jeito que se pesca, Dona Neia?
R – Que pesca? Pesca peixe, caranguejo, guaiamum...
P/1 – Explica pra mim, o peixe, por exemplo, com a tarrafa dá pra pescar o que, por exemplo?
R – A tarrafa? A tarrafa pega vários tipos de peixe, pega o robalo, pega a tainha, pega carapeba, entendeu, pega bagre, vários tipos de peixes.
P/1 – O que tinha em maior quantidade antes? Qual era o peixe que mais sobrava?
R – Era o bagre.
P/1 – O bagre antes tinha bastante.
R – O bagre era muita quantidade, a gente ia dar lanço e ai as vezes pegava mil quilos, pegava oitocentos quilos, setecentos, independente...
P/1 – Hoje em dia ainda é o bagre?
R – Não, hoje em dia... Bom, no rio, pela parte do rio, hoje em dia é o bagre.
P/1 – E no mar é o que?
R – No mar varia, né, as vezes é cação, no mar a gente não tem a base, assim, entendeu?
P/1 – Tá, a senhora falou da tarrafa pra esses peixes, e quais outras formas de pescar, por exemplo no rio?
R – De pescar no rio? Pesca de rede, atravessa a rede no rio pra... Assim, na época do robalo, atravessa a rede no rio... Porque de tarrafo é difícil pegar robalo, quando tem no rio, né, porque agora é muito difícil.
P/1 – Porque o rio tá muito seco, qual o problema?
R – Não é questão do rio estar seco, é questão do barulho dos barcos, conforme eu falei, e a entrada do peixe também, por causa das redes na Boca da Barra.
P/1 – Mas quando pesca com rede como faz? Estica a rede, qual é a diferença?
R – Quando pesca de rede você passa a rede certinho dentro do caíco, quando vai atravessar, ai coloca um incoroti interno, com uma corda comprida, e vai remando e a rede vai saindo, né, saindo sozinha, mas tem que remar rápido, ai depois vem de lá pra cá desembolando a rede pra poder ficar certinho.
P/1 – E ai a rede, então, se usa sobretudo no rio?
R – Uhum.
P/1 – E que outros tipos mais? Falou da tarrafa, falou da rede...
R – (risos) Tem o pulsar, o pulsar é pra siri, pegar siri.
P/1 – E como é que funciona? Esse é só pra pegar siri?
R – É, pra pegar siri. Você quer saber como funciona o pulsar, né? O pulsar você sabe que é redondo, né?
P/1 – Não, conta como é o pulsar pra quem não sabe.
R – Não sabe. O pulsar tem que botar a corda nele pra poder... Aí você vai deixando a corda, amarra a bóia, vai deixando, e ai deixa um tempinho na agua, coloca a isca e deixa um tempinho na agua, ai depois puxa, quando tem siri vem de monte (risos).
P/1 – Vem de monte?
R – Vem, quando tá fraco, aí tem pulsar que vem um, tem pulsar que não vem nenhum.
P/1 – Aí, no mar, no mar a pesca é feita com o pulsar, com a tarrafa, a rede...
R – A rede é pra pesca no mar e no rio, entendeu, agora a tarrafa é só no rio mesmo, a tarrafa e o pulsar é só no rio mesmo.
P/1 – Entendi, aqui, hoje em dia, em Itabapoana, vocês pescam mais no rio ou no mar?
R – No rio, bom, eu pesco mais no rio porque a minha pescaria é pescaria de rio mesmo, as vezes eu vou pro mar, mas é difícil.
P/1 – E porque a senhora prefere o rio do que o mar?
R – No mar eu enjoo, as vezes eu enjoo, já teve vezes que eu não enjoei não, mas se eu ficar muito tempo sem ir eu enjoo.
P/1 – Se a senhora fosse contar pra alguém; como é um dia de pesca?
R – Como é um dia...
P/1 – A rotina inteira, assim, que horas você acorda, como é?
R – As vezes a gente espera a maré, a maré de enchente, e as vezes a gente vai na maré de vazante, as vezes quando a gente vai pescar a noite a gente espera a hora da maré, se a maré for umas 11 horas, aí umas 11 horas da noite a gente sai, assim, sai um pouco antes pra quando a gente chegar lá a maré já estar em ponto de dar enchente.
P/1 – E vai sozinha, vai todo mundo junto, como é?
R – Não, as vezes vamos eu e meu irmão, e as vezes vou eu e dois irmãos.
P/1 – Mas é difícil você ir sozinha?
R – Não, eu só sozinha de noite é difícil porque sozinha, eu não sei, as vezes a gente fica tonta, cai...
P/1 – Aí, fora esse período de pescar a noite, se fosse pescar de dia, como é a rotina?
R – De dia?
P/1 – Isso, acorda muito, muito cedo? Sai de madrugada, como é?
R – Não, pra pescar de dia, como eu to dizendo, também depende da maré, aí vai com a maré baixa.
P/1 – E ai como vocês ficam sabendo da maré?
R – O horário?
P/1 – É.
R – É que a gente vai na beirada do rio e vê, quando a maré tá sequinha, quando tiver formando as ondinhas aí você sabe que ela já tá enchendo.
P/1 – E é só de olhar? Você olha pro mar e...
R – É, aí você já sabe que tá enchendo.
P/1 – E isso tem como ensinar? A senhora aprendeu isso como seu pai também? Aprendeu de...
R – Uhum.
P/1 – E todos os irmãos são do mesmo jeito? Não tem outro jeito de saber da maré?
R – Não, aí a gente marca o horário assim porque de uma maré pra outra são 45 minutos, no caso se... um exemplo, hoje a maré encheu umas dez horas, né, aí amanhã ela vai encher dez e 45.
P/1 – E como você sabe que vai é essa a diferença?
R – Meu pai que me ensinou, meu pai era fera nisso (risos).
P/1 – Qual a coisa mais importante pra saber pescar? É saber a maré, é saber o jeito adequado? O que é mais importante pra ser um bom pescador?
R – O mais importante é a gente pescar e pegar peixe de monte.
P/1 – (risos) E a senhora vai todo dia, dona Neia, como é isso?
R – Quando tem muito vento, assim, eu não vou jogar tarrafa não, ontem eu fui jogar tarrafa porque o vento tava mais calmo, agora hoje tá ventando mais,
P/1 – Aí quando venta não vai pescar porque é mais perigoso? Qual o problema?
R – É que aí o caíco anda demais por causa do vento e quando tá mais calmo, quando tem um ventinho, pouquinho, aí dá pra gente ir. Mas quando eu vou de tarrafo, assim, eu vou mais sozinha, coloco uma bolina atrás do caíco, vou jogando tarrafa.
P/1 – E quando fica sozinha como é? O que você fica pensando, o que passa na cabeça quando você tá lá sozinha?
R – Jogar a tarrafa e sentir só o peixe bater.
P/1 – Você fica tranquila lá, não pensa em nada?
R – Não, só ali mesmo, na pescaria.
P/1 – E quanto tempo dura quando você vai sozinha?
R – Se a maré tiver secando, esvaziando... Eu não sei se é secando, esvaziando (risos)...
P/1 – Eu não sei o que é tarrafa (risos).
R – Aí a gente pesca até a maré ficar bem sequinha porque as vezes o peixe... A gente pega o peixe com a maré bem vazia, aí quando a maré enche os peixes somem porque aí eles vão pra dentro do mangue.
P/1 – Conta um pouco mais, como você sabe aonde vai estar o peixe, aonde você joga a tarrafa?
R – A gente vê ressoando, porque eles tem um ressôo por cima d’água, aí você sabe que tem peixe, aí joga a tarrafa que aí a qualquer momento acerta em cima deles.
P/1 – E ai joga muitas vezes e recolhe? É demorado?
R – É demorado nada, quando você joga, puxa, aí da uma remadinha, depois joga de novo, pra poder não jogar, assim, no mesmo lugar.
P/1 – Normalmente quando você sai sozinha pra pescar tarrafa você pesca que quantidade? Pesca bastante?
R – As vezes, quando tem, pesco dez quilos, assim, de tarrafa, agora quando tem bastante mesmo, aí pego 20 quilos, 30 quilos.
P/1 – Qual o período que tem mais, que você consegue pegar mais?
R – No inverno.
P/1 – E isso ainda é no rio, né?
R – Uhum.
P/1 – E ai numa semana, por exemplo, você sai quantas vezes pra pescar?
R – No caso, quando tem peixe mesmo, a gente vai todo dia, direto, ai pesca a noite porque no inverno a gente tem que pescar a noite, e dá uma dormidinha de dia pra descansar (risos).
P/1 – E você falou que tem que pescar a noite no inverno, por que?
R – Porque no inverno é a época da tainha, ai dá muita, quando não tem rede atrapalhando, aí entra bastante pra dentro do rio, agora quando tem rede atrapalhando elas passam direto, vão direto pra Barra do Norte.
P/1 – E ai quando pesca a noite tem que fazer silencio, como é pra pescar a tainha, por exemplo?
R – Tem que chegar devagarinho, ai passa com o pé e pula, sai com o calão, o calão é um pau que tem que amarra as cordinhas da rede, né, sai por lá, eu vou soltando a rede, com a água por aqui mais ou menos, e o meu irmão vai por fora, ai quando tem mesmo elas começam a pular dentro da rede, ai ele cerca de um lado, eu cerdo do outro e a gente puxa pra terra.
P/1 – E ai puxa uma quantidade grande. Como o seu irmão sabe que você... Você sinaliza pro seu irmão: “É agora”?, como vocês se comunicam?
R – Dá pra ver. Aí quando tem bastante eu vou e falo pra ele: “Ó, ta pulando”, ai ele vai e cerca o lado dele, e eu cero o meu lado, e a gente puxa direto.
P/1 – E você sempre pescou em família, você fala que sempre vai com os irmãos, né, sempre com a família?
R – Só com a família.
P/1 – E isso é mais fácil? É mais fácil pescar com a família ou é mais difícil?
R – É mais fácil, as vezes a gente dá um esbregue no outro, mas tudo bem.
P/1 – Tem alguma historia boa de alguma vez que saiu pra pescar com a família? Brigar com o irmão, acontecer alguma coisa engraçada?
R – Brigar? Não, brigar eu nunca briguei, assim, com alguém da minha família, e nem com os outros, nunca tive esse negocio de briga não, as vezes tem discussão, mas aquilo é só na hora, né, depois tá tudo bem, é irmão, né (risos)...
P/1 – E isso por que? Por que fez algo errado?
R – Não, as vezes tem uns que são mais nervosos, né, as vezes a gente faz uma coisa e eles acham que não dá certo, mas esse negocio de se atracar mesmo na briga não.
P/1 – Você pesca de um jeito diferente dos seus irmãos, tem algum jeito que é da Neia, que é só você que faz?
R – Só quando é da tarrafa mesmo, como eu falei, meu negocio é mais a tarrafa, atravessar rede não gosto muito não, uma vez eu fui atravessar rede, o cara veio em cima da minha rede e atravessou a rede dele, o que eu fiz? Tirei a minha rede e vim pra casa, eu vou discutir com os outros por causa de pescaria? É ruim, não faço isso não, aí a gente fica de mal com os outros, os peixes ficam tudo aí e a gente fica zangado com os outros, não, não gosto disso não.
P/1 – E vocês dividem por igual o dinheiro do peixe? Como é a divisão?
R – É certinho, quando eu pesco com os meus irmãos, o que a gente vai vendendo eu vou... E eles não ficam com o dinheiro não, o dinheiro fica na minha mão, eu não sei, eles não gostam de ficar com o dinheiro, aí eu vou anotando tudo num papel, aí depois eu vou e mostro a eles, certinho, pra poder dividir certinho.
P/1 – E você já falou quem são os compradores, como é? Você é responsável pelas vendas então?
R – É, eles vão lá comprar e eles só dizem: “Fala com Neia”, aí os caras vão lá e...
P/1 – E você é boa vendedora dona Neia? Como é?
R – Quem, eu? Olha, ruim eu acho que eu não sou não (risos), porque vai muita gente lá me procurar pra comprar caranguejo, peixe, guaiamum, aí o pessoal informa logo: “Procura uma tal de Neia que lá é fácil”.
P/1 – E ai como vocês fazem pra guardar? Ou não guarda, só vende fresco, tem um freezer?
R – O peixe? O peixe a gente compra gelo, aí coloca numa caixa de isopor e coloca eles ali dentro, ai manda recado pro arrematante, ai eles vão lá e pegam.
P/1 – E como é essa comunicação como arrematante? Você manda avisar por carta, por telefone, como vocês fazem?
R – Ah, as vezes eu peço ao meu irmão pra ir avisar, ai meu irmão vai e fala com o rapaz, e ele vem, se ele não puder pegar no mesmo dia ele pede pra guardar e no outro dia ele vai lá e pega.
P/1 – E ai o arrematante é daqui mesmo, de Barra, de São Francisco?
R – É.
P/1 – Todo mundo vende pra mesma pessoa?
R – Não, varia porque tem muito comprador, tem bastante.
P/1 – E eles, em geral, são do Rio, eles vem até aqui, eles são de onde?
R – São daí de perto mesmo, as vezes de Grajaú, as vezes daqui da Manga Rosa, esses cantos aí mais perto.
P/1 – Mas sempre tem? É difícil não ter comprador pra peixe?
R – Não, sempre tem comprador porque quando não vem esses compradores assim a gente vai e entrega no frigorífico pra não ficar muitos dias no gelo.
P/1 – E o frigorífico paga menos?
R – Paga menos.
P/1 – O arrematante aqui paga melhor hoje em dia?
R – O dono do frigorífico gosta muito de pisar em cima dos pescadores.
P/1 – É mais difícil de vender pro frigorífico?
R – Uhum, o arrematante, assim, ele paga mais.
P/1 – com o arrematante vocês conseguem negociar? É sempre o mesmo preço ou tem uma variação?
R – Não, quando é, assim, no caso, tem o arrematante que vem pegar tainha quando a gente tem, ele vem comprar, aí quando é maior eu vou e falo assim: “Ó, agora já aumentou o preço”, aí tem um que é certinho, ele compra duzentos quilos, trezentos quilos, quantos quilos a gente tiver, aí eu falo assim: “Você tá muito chorão”, aí ele diz assim: “A gente briga, mas não se machuca”, aí a gente...
P/1 – (risos) Então a senhora negocia, as vezes a senhora fala: “Não, tá mais caro”...
R – Eu falo: “Não, agora é tanto”, porque a tainha ano passado a gente tava vendendo a quatro reais, aí depois a gente andou pegando, aí eu falei: “Agora é cinco reais”, e ele diz: “Tá bom”, que ele sabe também, ele diz assim: “Eu sei o sacrifício de vocês, enfrentar friagem ai de noite pra pegar”, agora já tem uns que são muito chorões, tá doido (risos).
P/1 – E a senhora falou que, por exemplo, no ano passado a senhora decidiu que ia custar cinco reais, como é que você define esse valor? Como você decide que vai ser cinco e não quatro, você vê que os outros estão com menos tainha e vocês estão com mais, como é?
R – Não, é assim mesmo, eu falei pra ele: “Ó, cada ano tem que aumentar um pouco porque as coisas, o alimento, tá aumentando praticamente de um dia pro outro, né, então o peixe tem que aumentar”.
P/1 – E ai, voltando pro mar, tem alguma história de perigo? A senhora já correu perigo no mar?
R – Eu, uma vez eu ia morrendo afogada.
P/1 – E como aconteceu? Conta pra gente.
R – Deu uma enchente grande aqui uma vez, aí tinha muito peso d’água no rio, aí eu fui lá embaixo botar a rede, fui eu e meu irmão, aí por ter muito peso d’água, foi lá nas ondas, aí o caíco afundou, por ter muito peso d’água, o meu irmão com a água na cintura, na coroa, não conseguia nem enfrentar o peso d’água, e eu fui saindo de Barra fora no caíco, amarrei a corda do caíco no meu braço porque eu falei: “Se acontecer alguma coisa, se eu morrer, me acham mais rápido pelo caíco”, aí o rapaz tava vindo do mar e me pegou, já eram umas quatro e pouco da tarde, eu pensei assim: “Se eu for nadar eu não vou conseguir mesmo, aí que eu vou morrer mesmo”, aí eu fui com o caíco, segurando no caíco e a corda amarrada aqui no braço.
P/1 – Aí o rapaz te achou?
R – Aí o rapaz foi e me pegou já saindo lá pro forte, mas mesmo assim eu não fiquei com medo da água não.
P/1 – O que você pensou nessa hora?
R – Pra ser sincera com você, nem nervosa eu fiquei, eu acho que foi Deus que me acalmou porque se eu ficasse nervosa aí que eu ia morrer mesmo, mais rápido, ia morrer rapidinho.
P/1 – E, dona Neia, deixa eu te perguntar outra coisa, e a relação com os outros pescadores, além dos seus irmãos, vocês conviviam com os outros pescadores? Vocês se ajudam, um ajuda o outro ou cada um é por si, como é a relação dos pescadores?
R – Não, as vezes quando a gente vai pescar, que encontra peixe, aí no outro dia a gente vai e fala: “Ó, já apareceu peixe”, aí eles vão também.
P/1 – E todo mundo faz isso? Todo mundo avisa um ao outro?
R – Não, nem todo mundo, algumas pessoas.
P/1 – E vocês se ajudam, se juntam pra fazer alguma reivindicação, vocês já se organizaram pra conseguir fazer alguma coisa ou é difícil se organizarem?
R – É difícil porque as vezes um concorda co as coisas e o outro não concorda, aí fica difícil.
P/1 – E você faz parte de alguma cooperativa ou algum grupo?
R – Não.
P/1 – Você acha que é muito difícil? Qual o problema da cooperativa? Você prefere a sua família... Qual a diferença de pescar com a família e com a equipe, se relacionando com os pescadores?
R – Não, por mim é com a família, as vezes eu pesco lá com os meus sobrinhos, tem os sobrinhos lá que também pra ele não ficar a toa na rua eu chamo eles pra pescar, pra poder ajudar eles, mas eu não sei, isso não...
P/1 – Você falou dos sobrinhos, você ensina pra outras pessoas? Você já ensinou alguém a pescar?
R – Ah, já, até gente do Rio de Janeiro eu já ensinei.
P/1 – Você gosta de ensinar? Como é?
R – Ah, elas vem e pedem pra dar uma voltinha de caíco, ai eu digo assim: “Pra aprender a andar de caíco tem que aprender a remar”, aí dou o remo, mas eu fico com o remo também, aí ela vai remando e eu também.
P/1 – E os seus sobrinhos, tem algum da nova geração que você ensinou? Sobrinhos novos, mais novos, que se interessam por pesca?
R – No caso a gente pega eles e leva, aí ele vê o que a gente vai fazendo e já vão aprendendo, entendeu...
P/1 – E eles se interessam ou você acha que os mais jovens se interessam mais pela pesca?
R – Alguns se interessam, né, alguns só querem ficar vagabundando na rua, fazendo coisa que não deve.
P/1 – Você acha bom que... Por exemplo, se algum sobrinho seu se tornar pescador, você acha importante que ainda tenham outros pescadores?
R – Uhum.
P/1 – Por que?
R – É muito importante porque eles trabalhando, eles ganham o dinheirinho deles honesto, entendeu, ai por isso que eu acho importante.
P/1 – Bom, então falamos bastante da pesca até agora, mas e quando vocês querem se divertir? Tem festa nas praias, tem outras coisas, tem festas? Ou a dona Neia só presta pra fazer outras atividades? O que mais você faz?
R – Não, as vezes reúne as meninas, os colegas vem, vem do Rio vem de Campos, e ai a gente pesca e vai lá pro outro lado se divertir, cozinha por lá mesmo...
P/1 – E o que você cozinha? O que você faz de mais gostoso?
R – Eu, ih meu Deus (risos), ah, nem sei, eu faço mais negócio de peixe, pirão, essas coisas assim.
P/1 – E tinha alguma festa aqui? Festa junina... Festas mais tradicionais, você se lembra de ter?
R – Tinha, eu já fui muito.
P/1 – O que tinha?
R – Tinha festa junina, tinha quadrilha, e a gente ia.
P/1 – Fora a festa junina tinha mais algum tipo de festa junina aqui na região?
R – Tem a de São Sebastião que é de ano em ano.
P/1 – E como é a festa de São Sebastião? É uma festa tradicional, uma festa que sempre tem?
R – A festa agora não tá muito boa não, cada ano que passa só vai fracassando mais.
P/1 – Mas você se lembra de uma época que ia muita gente, como era antes?
R – Ah, antigamente tinha a banda de musica, tinha alvorada de madrugada, hoje em dia não tem nada disso.
P/1 – A festa junina também era melhor antes, como era?
R – É, era melhor, eu não gosto nem de lembrar que eu bebia muito (risos).
P/1 – Você bebia muito em festa junina?
R – De vez em quando, juntava lá co o pessoal... Tá doido. Mas isso já faz muitos anos, 15 ou 20 anos já. Depois eu não botei mais nenhum pingo de bebida na boca, o negócio é só trabalho agora.
P/1 – E você tem saudade de alguma coisa de antigamente que hoje não tem mais aqui na comunidade, que antes tinha? Que você fale assim: “Ah, tenho muita saudade de alguma coisa”, em especial pra você.
R – Não, o especial pra mim mesmo, como eu disse pra você, é a pescaria mesmo, agora esse negocio de festa, isso já passou.
P/1 – E você consegue sobreviver da pesca, dona Neia, consegue viver? Como é, você vive bem, só sobrevive? Da pra sobreviver com a pesca?
R – Dá, né, á pra sobreviver sim.
P/1 – Me conta um pouco mais, você fala que dá pra sobreviver, mas o que da pra fazer da pesca, assim, da só pra garantir a alimentação, o que você consegue?
R – Não, as vezes, quando eu consegui, graças a Deus, trabalhando de pouquinho em pouquinho, juntando, fiz um barraquinho pra mim, pelo menos isso (risos).
P/1 – E o que você ainda gostaria que acontecesse em relação a pesca? Você acha que tem que mudar alguma coisa? Você falou, por exemplo, agora do problema do rio, que tem muito alagamento, o que você gostaria que mudasse, que ainda é problema hoje?
R – Bom, mudar, sei lá, eu acho que homem daqui da terra, ele não pode mudar nada, quem pode mudar é só de lá de cima, as vezes, como já aconteceu, a Boca da Barra, ali, fechou, eles foram lá e abriram, não adiantou nada porque a água não correu, a natureza fechou de novo.
P/1 – Mas você falou, por exemplo, das empresas que causam problema, o que causa problema na pesca hoje pra você? Quais são os problemas que existem hoje?
R – Não, problema, pra mim, eu acho que... Problema não, eu to falando sobre o negocio das redes na Boca da Barra, as vezes também os barcos vão entrar, os barcos pegam na rede, aí escangalha, aí vai perguntar quem é o dono da rede, ninguém fala quem é o dono da rede, isso já aconteceu muito.
P/1 – E qual a importância da pesca na sua vida?
R – A importância da pesca? Assim, como...
P/1 – Se você fosse falar da coisa mais importante pra você, por que seria a pesca?
R – A coisa mais importante pra mim é a pescaria porque a gente foi criado desde pequeno já na pesca, se for pra eu escolher um serviço ou a pescaria, eu escolheria a pescaria porque não é só um tipo de pescaria, como eu disse, tem a pescaria de rede, quando não ta dando nada eu vou pro mangue pegar caranguejo, entendeu?
P/1 – A senhora falou do mangue, no mangue dá pra conseguir alguma coisa também ?
R – No mangue? Consegue os caranguejos, vende.
P/1 – E como é, pega muito caranguejo, dona Neia?
R – Ah, quando pega, pega muito, pega bastante.
P/1 – E fora as redes que ficam lá entrada, tem alguma industria, alguma coisa, que causa problema aqui pra pesca?
R – Não.
P/1 – Mas diminuiu muito? A senhora falou que diminuiu um pouco a quantidade de peixe.
R – Diminuiu, foi como eu falei pra você, antigamente tinha mais fartura de peixe porque era menos exploração no rio, esse negocio de barulho de barco, entendeu?
P/1 – Então hoje tem muito pescador na comunidade?
R – Ah, hoje é muita coisa, hoje você tá pescando no meio do rio de caíco, se você bobear o barco pega.
P/1 – Se você pudesse mudar alguma coisa na sua vida, dona Neia, mudaria alguma coisa?
R – Não, mudaria...
P/1 – Se você pudesse mudar, assim, agora, se pudesse mudar alguma coisa, o que você mudaria?
R – Nesse momento não, agora não tem nem... Tá vazia a gora (risos).
P/1 – E as coisas mais importantes na sua vida, você já falou da pesca, tem mais coisa?
R – A minha família é a coisa mais importante também, a pescaria e a minha família, ta todo mundo reunido.
P/1 – E qual o seu sonho, dona Neia? Tem algum sonho?
R – Se eu tenho um sonho? Qualquer um?
P/1 – Qualquer um.
R – O sonho que eu tenho é acabar de endireitar, lá, o meu barraco, assim, lotear, que certinho já tá, o que eu mais peço a Deus é isso, pra poder aumentar mais.
P/1 – Ta certo, e fora isso, tem mais algum sonho?
R – Não, fora isso não, é só isso mesmo e...
P/1 – E como foi contar um pouquinho da sua historia? Como você se sentiu sendo entrevistada?
R – Até que me sai bem, sou metida, mas... Eu não sei não, mas eu acho que... Mais ou menos, algo assim é o que eu acho (risos).
P/1 – Tem alguma coisa que eu deixei de perguntar pra você que você queira dizer, que faltou?
R – Não.
P/1 – Então ta bom, dona Neia, obrigado. É isso.
R – Eu acho que a nota não vai ser nem dois (risos).
FINAL DA ENTREVISTA
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