P - Adilson, pra começar você pode falar o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento?
R - Claro. Meu nome é Adilson Pereira Lobo, nasci em São Paulo as cinco e 30 do dia 21 de fevereiro de 1953.
P - E qual é o nome dos seus pais?
R - Meu pai Alberto Ribeiro Lobo e minha mãe Rosa Sidral Pereira.
P - E o que eles faziam?
R - Meu pai era mecânico de máquinas e minha mãe era dona de casa até o falecimento de meu pai, porque daí ela teve que sair à luta e passou a ser metalúrgica, trabalhou muito tempo em uma metalúrgica aqui em São Paulo.
P - E quantos anos você tinha quando seu pai morreu?
R - Quatro anos.
P - Quatro anos. E você se lembra de alguma coisa dele?
R - Infelizmente quase nada.
P - Mas da sua mãe sim?
R - Se eu me lembro da minha? Sim, minha mãe me criou e lutou a vida inteira pra me criar, me educar e acabou por falecer agora no ano 2000.
P - Como você descreveria sua mãe?
R - Uma guerreira. Uma guerreira porque eu com sete meses de idade tive paralisia infantil, aos quatro perdi meu pai e ela se viu com um filho de quatro anos de idade com paralisia infantil em 1957 mais ou menos, sem muito recursos e ela teve que ir à luta, teve que ir à luta.
P - Adilson, você sabe um pouquinho da história, da origem da sua família?
R - Ambos nasceram em Santa Catarina. Família de trabalhadores rurais e mais ou menos isso.
P - De Santa Catarina, mas tem alguma ascendência...
R - Não. Acho que meu pai era de descendência assim longínqua, mas indígena porque o meu avô, pai do meu pai, tinha uma designação no nome, Índio do Brasil. Não sei até onde isso é relevante, mas não, creio que minha mãe é de descendência portuguesa talvez. Não sei.
P - E qual que era o bairro que você foi criado aqui em São Paulo?
R - Eu nasci no Belenzinho em São Paulo, mas acho que a maior parte eu vivi ali na Água Rasa.
P - Na Água Rasa. Até que idade?
R - Até meu pai falecer, aos quatro anos.
P - E depois?
R - Então, depois eu fiquei com alguns tios ou com minha avó pra minha mãe trabalhar até uns sete anos mais ou menos, daí minha mãe me colocou numa instituição que cuida de deficientes de paralisia infantil. Pode falar o nome?
P - Pode. Claro.
R - É o Lar Escola São Francisco que ainda existe, mas na época era lá na Vila Mariana, hoje parece que é no Ibirapuera. Depois aos nove anos, minha mãe se casou em segundas núpcias e eu passei a morar com eles novamente, com meu novo pai. E o meu pai é o meu pai até hoje, o meu segundo pai que é o meu pai, eu considero como meu pai até hoje.
P - E você lembra alguma coisa lá do Lar Escola São Francisco?
R - Eu tenho algumas recordações, sim. Dos colegas, uma recordação muito viva ainda era de um aluno que tinha sido abandonado pelos pais pelo fato dele ter nascido sem os dois bracinhos, uma perna e parte da língua. O nome dele é Luis Henrique Medina, não sei se um dia ele vai ver. E é isso.
P - E era um esquema de internato lá no Lar Escola?
R - Eu vivia num clima de internato porque minha mãe precisava trabalhar. Então eu morava lá, estudava, fazia exercícios físicos, praticamente era meu lar. E minha mãe me visitava nos finais de semana, domingos.
P - E o que vocês costumavam brincar nas horas que não tinham estudo?
R - Tudo que um moleque faz, inclusive futebol, jogar bola. Inclusive, jogo de futebol é uma forma de exercitar também quem tem deficiência de paralisia infantil. Eu sempre fugi desse exercício não sei o porquê, eu preferia ser juiz, que não precisava correr tanto, ficava só parado e soprando aquele apito. Mas a gente... Tudo que uma criança faz, brincava de mocinho e bandido, tem uma coisa interessante pra contar pra vocês, numa brincadeira dessa de mocinho e bandido, eu era o xerife e eu prendi um bandido dentro da caixa d’água. Só que eu não sabia que naquele dia não tinha água na Vila Maria, mas a água é, sei lá, sorte minha, quando tava com o garoto preso, voltou e o menino começou a gritar e eu falando: “Não você tá preso, não vai sair”. Quase que eu mato o garoto, isso me valeu ficar o final de semana de castigo, tal. Sei lá são dessas coisas, são memórias interessantes.
P - E o Lar Escola São Francisco é a primeira lembrança que você tem de uma escola?
R - Sim.
P - E depois que você saiu de lá?
R - Então, depois eu saí de lá, eu fiquei lá só seis meses porque a direção da escola chegou pra minha mãe, falou: “Olha, o seu filho, graças a Deus vai poder sobreviver aí fora. Ele tá, na realidade sendo bem sincero, tomando o lugar de alguém aqui. Então nós não vamos poder ficar com ele mais”. E foi o que aconteceu. Eu saí e passei a frequentar uma escola normal, passei a estudar e assim foi. Na escola também nada de diferente, fui bem aceito, nunca tive esse negócio de preconceito, coisa assim. Não, nunca. Sempre me adaptei muito bem com todo mundo.
P - E você se lembra de alguma professora especial, que tenha te marcado?
R - [Lembro. Lembro. Principalmente no antigo primeiro grau, primeiro ano, professora dona Carmen (Crevelin?), que já deve ter falecido, professora Neide, professora dona Rosália que foi minha primeira professora no primeiro ano. Acho que só, não consigo me lembrar...
P - [E onde ficava essa escola do primeiro ano?
R - Lá em Água Rasa.
P - Na Água Rasa também.
R - Mais necessariamente ali em cima no final da Rua Tuiuti.
P - E o que você se lembra da Água Rasa, dessa época Adilson?
R - Pouca coisa. Pouca coisa porque eu era pequeno ainda. Muito palidamente da casa onde eu morava, mas...
P - Como que era essa casa?
R - Era um sobrado, mas nós morávamos na parte de baixo, o dono do sobrado morava em cima, havia uma escada onde se subia lá pra casa dele. Inclusive esse senhor, eu acho que já faleceu também, foi meu padrinho de crisma, padrinho Chico.
P - E tinha muita criança no bairro?
R - [Não. Não. No bairro poderia ter, mas que brincasse comigo ali, não.
P - E como é que você ia pra essa escola? O trajeto de casa pra escola.
R - [Andando.
P - Então a escola era pertinho de casa.
R - Era. Eu morava, praticamente, em frente à escola, na Rua Armindo Guaraná. E a escola ficava no final da Rua Armindo Guaraná e eu andava. Sempre andei. Sempre andei, com alguma deficiência é claro, porque a paralisia me atingiu o corpo inteiro a exceção da cabeça, mas depois com tratamento, Hospital das Clínicas, aquela coisa toda. Inclusive tem uma coisa interessante, me deixa fazer um parêntese, quando minha mãe me levava para o Hospital das Clínicas, a gente ia de bonde naquela época e minha mãe me contava que eu ia cantando, principalmente Lampião de Gás, da Inezita Barroso e que todos os passageiros ficavam olhando pra mim, rindo, maravilhados, sei lá o quê, modéstia a parte. Então diante do tratamento eu fui melhorando, melhorando, ficando com sequela apenas na perna direita e que eu preciso usar um aparelho ortopédico pra andar. Mas isso não me impediu a minha vida inteira, eu sempre andei, sempre estudei, eu sou mestre em linguística aplicada pela Unicamp lá em Campinas. Morei no exterior agora mais recentemente, na Inglaterra, sou professor de Inglês, Língua e Literatura Inglesa. Então ela nunca me barrou nas atividades. É claro que eu nunca vou ser um jogador de futebol, mas eu posso fazer muitas outras coisas.
P - Adilson, fala mais um pouquinho dessa coisa de ir para o Hospital das Clínicas de bonde. Você lembra onde é que pegava esse bonde?
R - Eu não lembro exatamente aonde, mas deve ser ali no Tatuapé, ali na Água Rasa, no lago da Água Rasa, não sei se tinha bonde lá, realmente eu não me lembro. Mas eu lembro que eu pegava bonde, às vezes pegava aqueles bondes abertos. Então eu adorava ficar bem pertinho da janelinha por causa do vento e cantava, ou então pegava aqueles bondes fechados, motorneiro, o motorista, não sei como é que é o nome, ele já me conhecia, então ele: “Que música nós vamos cantar hoje?”. Então a gente subia, eu lembro que a gente subia a Consolação, depois pegava a Rebouças um pedacinho, porque o bonde fazia volta que era o bonde chamado Clínicas mesmo, daí ele subia acho que a Arco Verde, não me lembro agora e, me deixava já na porta do hospital mesmo, pertinho já da parte de fisioterapia, coisas assim. E pra voltar a mesma coisa, o inverso. Mas era uma delícia, pra mim era uma aventura aquela coisa de andar de bonde.
P - E depois dessa casa, desse sobrado na Água Rasa vocês se mudaram?
R - Então, daí eu fui para o Lar Escola e minha mãe passou a morar com a irmã dela, minha tia e madrinha, na Penha. Depois quando eu saí do Lar Escola, eu fui morar com essa minha madrinha também, fiquei algum tempo, com meus primos, fiquei com eles lá.
P - Na Penha.
R - Na Penha, na Rua Recife, é a primeira travessinha, hoje é uma travessona, uma rua grande, da Guaiaúna, no sentido ladeira da Penha–Metrô.
P - E desse bairro você pode contar um pouquinho mais porque você já era maiorzinho.
R - Ah, sim. Lá minha madrinha tinha dois filhos, tem ainda que são a Ângela e o Edgard. O Edgard é casado hoje, já é avô, a Ângela não se casou, por opção ficou cuidando da minha madrinha quando meu tio faleceu. Da Penha daquela época eu lembro. Lembro porque a minha prima, principalmente a Ângela estudava num colégio, nem sei se ainda existe, Santos Dumont que ficava no centro da Penha e ela ia com aqueles vestidos rodados, brancos e uma baita de uma fita na cabeça, aquela coisa assim. Lembro de uma cena muito interessante na chuva, eles foram com um guarda-chuva e quando foram pegar o bonde o guarda-chuva não fechava então era uma coisa assim, hilária, uma coisa muito interessante, uma das lembranças que eu tenho. Lembro que eu brincava com eles, brincava com os outros dois primos também, a Elisabete, o Edson e fui até minha mãe se casar pela segunda vez, daí eles compraram um terreno na cidade de Carvalho...
P - Você se lembra do casamento? Teve uma festa?
R - Não. O casamento foi um negócio muito simples, eles só foram ao cartório, se casaram, tal e não teve nada de celebração nem nada. Foram pra casa, ficaram acho que um mês sozinhos lá, até ajeitar tudo, móveis, tal e daí eu fui morar com eles lá na cidade de Carvalho. Daí os estudos continuaram lá, os estudos daí já mudaram, eu já passei a fazer o segundo grau, o antigo ginásio, no colégio Gabriel Ortiz, da Vila Esperança. Mas aí eu já me locomovia com certa facilidade, eu ia de ônibus, voltava de ônibus e não tinha nenhum problema.
P - E o que você notou de diferença, para o bairro?
R - Hoje?
P - Pra cidade de Carvalho naquela época.
R - Estava começando, estava loteando ainda os terrenos e havia lá em cima calipal, eucalipto que hoje é um shopping, o shopping Artur Alvim, mas era um calipal, tinha uma casa aqui, outra ali, outra ali, tal. Enquanto os meus pais trabalhavam eu ficava em casa cuidando da casa e ia estudar, tinha escolinha ali perto, escolinha de madeira. Então eles trabalhavam, os dois saíam cedo, porque ela o conheceu na metalúrgica onde eles trabalhavam. Então eles continuaram trabalhando e eu cuidava da casa e estudava. No começo era apenas um quarto e cozinha, depois aos poucos eles foram construindo na frente do terreno, uma casa bem maior que é onde meu pai vive hoje. Mas o bairro, antigamente era muito precário. Eu lembro que hoje a Avenida Rui Barbosa, que hoje é Águia de Haia, porque é a mesma coisa, só mudou o codinome...
P - [Apelido.
R - O ônibus tinha uma faixa só, no meio... Era uma rua muito grande e só uma faixa no meio, de asfalto que é por onde o ônibus passava. Hoje são duas pistas, uma ilha no meio, não sei que lá e tal. E eu lembro que quando chovia era uma desgraça porque eu ia pegar o ônibus e as botas tudo lameadas, fazer o que?
P - E tinha comércio perto? Como é que era pra comprar as coisas?
R - [Não. O comércio era mais nessa avenida que era onde tinha o movimento do bairro. Não havia. Hoje tem, hoje é uma cidade, tem o metrô, o metrô Artur Alvim, tem várias coisas. Mas eu já não moro mais lá.
P - E nessa época você diz que já começava pegar ônibus, sair sozinho...
R - Sair sozinho pra escola, para o colégio.
P - [Sair sozinho pra escola.
R - Eu nunca fui um garoto de... Na época, balada, saía, tal. Saía no final de semana, ia ao cinema de tarde, voltava.
P - Você lembra onde que era esse cinema?
R - Sim. Eu ia muito ao Cine Penharama que ficava no centro da Penha, mesmo porque da facilidade do ônibus, eu pegava o ônibus Penha cidade de Carvalho, final aqui, começo lá, não tinha que pegar ônibus andando, pra mim era interessante. Eu ia muito ao Penharama, no Júpiter. O Júpiter não existe mais, hoje é uma casa calçados. E o Penharama realmente não sei lhe dizer se ainda existe, acho que não existe mais.
P - E o Júpiter ficava aonde?
R - Ali pertinho, era numa rua de cima. Então dependendo do filme...
P - E você ia com quem? Você tinha um grupo de amigos...
R - [Normalmente sozinho. Normalmente sozinho ou então marcava encontro com algum colega da escola, lá no cinema, mas normalmente sozinho.
P - E você era bom aluno, Adilson?
R - Sempre fui.
P - Sempre gostou de estudar.
R - Sempre fui. Tendo em mente o que minha mãe dizia desde pequeno: “Filho, você tem um problema físico, você não vai poder fazer qualquer tipo de serviço, você precisa estudar, porque é o estudo que vai te trazer o tipo de serviço que você vai poder fazer”. Então sempre tive isso desde pequeno na cabeça. É lógico que eu não ficava estudando: “Não, eu vou ter que estudar...” É lógico, mas no subconsciente, tenho certeza que tava aqui.
P - E o que você gostava mais de estudar?
R - Eu sempre gostei de idiomas. Sempre gostei. Matemática era o meu mau, passava empurrando com a barriga. Mas idiomas. Na minha época quando eu fiz o ginásio, o antigo ginásio, o segundo grau, eu fazia francês. Comecei fazendo francês, depois é que mudou para o inglês, mas eu já gostava, na época, Rita Pavoni, uma cantora italiana, fazia muito sucesso e o pouco que eu sei de italiano é das músicas da Rita Pavoni porque unia o gostar de música com o gostar de falar idiomas, entendeu? Porque como ela fazia muito sucesso os cantores brasileiros faziam as versões e eu ia comparando: “Bom, se lá é assim, aqui é assado”. E fui aprendendo, alguma coisa de italiano que eu sei é das músicas da Rita Pavoni. Agora o inglês foi o que mais pegou, por quê? Por causa da escola, que eu tinha o curso de inglês, depois aos 19 anos eu comecei dar aula de inglês, mesmo sem ser formado, mas eu tinha um bom inglês. Comecei numa rede grande, pode falar o nome?
P - Pode.
R - [Pode, né? Escolas Fisk. Fiz um teste, passei, comecei trabalhar na Escolas Fisk, trabalhei nove anos na rede Fisk.
P - [E foi o seu primeiro trabalho?
R - Foi. O meu primeiro trabalho, mas eu sempre tive um segundo, que na época eu era bancário, eu trabalhei... O meu primeiro banco foi, que não existe mais hoje também, que era o Banco de Crédito Nacional, BCN, que hoje tá acampado pelo Bradesco. Então eu sempre fazia assim, eu comecei a dar aula só aos sábados na Fisk e depois trabalhava durante o dia no BCN, na agência do Brás, que não existe mais, ali na Rua do Gasômetro. Depois da Fisk... Não sei se eu to falando muito, me interrompa, tá?
P - Não, não, tá ótimo.
R - Depois da Fisk eu mudei, fui pra outra escola que eu não lembro qual. Mas eu passei por tantas escolas que você diga o nome de uma escola e eu te digo se eu trabalhei ou não. E numa dessas mudanças eu fui para o Cultura Inglesa, como eu gostava de cantar, sempre gostei de arte, de comunicações, eu comecei a participar do grupo de teatro da Cultura Inglesa, que montava musicais em inglês.
P - Era a Cultura Inglesa aqui de Pinheiros?
R - [Era, mas eu estudava no Ipiranga.
P - No Ipiranga.
R - Porque na época eu trabalhava no Citibank e a Cultura Inglesa da Avenida do Ipiranga era o segundo prédio já, então uniu o útil ao agradável, saía do banco e já ia pra Cultura. E eles sabiam que eu cantava, então um dia a professora, não vou lembrar o nome dela agora, não vou, ela chegou pra mim, falou: “Olha, o (Antony?) – que era o diretor de teatro – ele quer falar com você”. Falei: “Comigo? Mas pra quê?” “Não, ele quer que você faça um papel numa peça”. Falei: “Nossa Eu vou. Vou sim, eu quero ir”. Porque não achava que eu podia ser um ator de teatro, por causa da paralisia infantil. Falei: “Nossa, eu um ator”. Fazer um Hamlet mancando com aparelho ortopédico, digo: “Nunca que vai dar”. Mas daí eu cheguei lá, ele falou: “Olha, eu to montando uma peça chamada Joseph and his amazing tecnical dreamcoat, José e seu manto colorido”. Que era baseada na história do José, da bíblia, que foi vendido pelos irmãos para o Egito, aquela coisa toda. E o José tinha o dom de decifrar sonhos e o faraó naquela época, tava sonhando com sete vacas gordas, sete vacas magras e ele tava apavorado com aquilo lá e ele soube que lá na cadeia, lá na prisão do Egito, do castelo, tinha um rapaz que decifrava sonhos. Então ele chamou José pra decifrar e o José falou: “Não. As sete vacas magras... As sete vacas gordas significam sete anos de fartura que o Egito vai passar, mas que por má administração depois vai passar por sete anos de pobreza e fome, que são as sete vacas gordas. Então se o senhor não trabalhar bem a sua administração, vai acontecer isso”. O faraó gostou, elevou o rapaz ao primeiro ministro e tal. Eu falei: “Mas eu vou ser o José?”. Ele falou: “Não. Você não vai ser o José, você vai ser o faraó”. E como era musical eu tinha que cantar. Então eu cantava minhas músicas do faraó. Era uma ópera rock, então eu cantava as músicas do faraó, mas daí com os ensaios ele percebeu que o rapaz que era o ator que fazia o José, mirradinho, bonitinho, aquela coisinha, ele não cantava, ou então catava muito mal, daí ele teve uma ideia: “Você vai fazer o faraó, no palco, na cena e quando forem as cenas do José cantando, você vai backstage e canta e ele te dubla” “Nossa. Que loucura. Que loucura. Tá legal. Então na realidade eu vou ter que aprender duas séries de música. Tudo bem, eu gosto, vamos lá”. Fui, fiz, daí quase na época da estreia ele falou assim: “Vamos fazer o seguinte, essa música aqui, quando o José tiver na cela, ele vai estar na cela, no palco à esquerda e você entra pela direita, apenas um foco de luz vai estar em você e você canta ali pra plateia a música dele”. Claro que como era da Cultura Inglesa, as peças eram feitas pra comunidade Inglesa, então é lógico que eles sabiam inglês, sabiam o que eu tava cantando, falou: “É lógico que o pessoal vai saber que aquela música não é do faraó, é tua, é do José, mas tudo bem, vamos ver o que dá?”. E foi um estrondo. Todo mundo gostou, todo mundo veio me procurar, a TV Cultura foi lá na época, gravou, passou na televisão, aquelas coisas todas. Isso fez com que eu ganhasse uma bolsa de estudos no Conselho Britânico no Brasil e foi aí que eu fui pra Inglaterra morar dois anos e meio. Eu morei na Inglaterra e estudei por causa dessa coisa, por causa, vamos dizer assim, da minha arte, do meu talento, sei lá, não sei se tenho, não sei se... Mas que agradou na época, agradou. Só que eu não fui logo pra Inglaterra, eu continuei no Brasil estudando, fazendo meus cursos. Depois fiz outras peças, fiz Dracula Spectacular, que era sobre o Drácula e eu fazia o cocheiro do Drácula. Jesus Cristo Super Star, onde eu fiz Judas e fiz também Godspell que é um texto religioso também, onde eu fiz João Batista. No Godspell eu fiz uma pontinha só, só a abertura da peça, eu fiz João Batista. Essa foi a minha parte da Cultura Inglesa.
P - E aí chegou a hora de ir pra Inglaterra?
R - Daí eu fui pra Inglaterra.
P - Como que foi essa viagem?
R - É muito... Eu sou uma pessoa muito ansiosa, então eu sempre fiquei muito aahhh. Eu ia morar na casa de uma família que ia me acolher, ia ser a minha segunda família, ia estudar e talvez até trabalhar. Não podia trabalhar na Inglaterra, estrangeiros não podem trabalhar na Inglaterra a não ser em circunstâncias especiais. E eu fui. Mas eu sou filho único, então aquela coisa da separação com a minha mãe, minha mãe muito chorosa, mas me dando toda força, sempre me deu muita força. E eu fui, fiquei e foi muito legal, os primeiros meses meio complicado, mas depois tudo bem. Depois quando eu voltei, eu passei a fazer viagens pra Inglaterra nas férias, levando alunos meus brasileiros pra lá. Formava um grupo de alunos de inglês aqui de São Paulo e a gente ia, ficava duas, três semanas na Inglaterra.
P - Mas a primeira vez que você foi, o que mais te chamou a atenção em Londres?
R - Tudo. Porque pra mim era tudo novo, cultura, língua, embora eu já falasse o inglês bem razoável, um inglês bom, já dava aula de inglês. Mas uma coisa é você falar o inglês dos livros didáticos e outra coisa é você falar o inglês popular lá na rua, povão. É completamente diferente, é como aqui no Brasil, você vai pra escola e aprende o português erudito: “Eu a vi ontem”. Mas você chega ao barzinho da esquina: “Eu vi ela ontem”. Então tinha isso, acontecia o inglês que é o popularzão e isso me chocava um pouco, porque não era aquele inglês que eu tinha aprendido. Mas depois tudo bem, foi...
P - E você ficou dois anos e meio sem voltar?
R - Sem voltar.
P - Na mesma casa de família?
R - Na mesma casa de família.
P - Que bairro que era?
R - Era na cidade de Brimington, bairro chamado _______.
P - E como que era seu cotidiano?
R - Eu estudava de manhã e depois ficava na escola à tarde fazendo atividades extras, dando auxílio. Depois no finalzinho da minha estadia lá, eu passei a dar aulas pra estrangeiros, trouxe algumas fotos pra vocês, com os alunos de lá. Alunos estrangeiros, porque Brimington é uma cidade caracterizada pelo fluxo de alunos estrangeiros pra estudar inglês. Então tinha lá alemães, escocês. Escocês, não. Japoneses, italianos, toda sorte de alunos que iam lá pra aprender inglês e eu era um dos professores que dava inglês para estrangeiros. Tanto é que quando eu voltei para o Brasil, eu fui fazer o meu mestrado com esse tema, ensino de língua inglesa como segunda língua.
P - E aí como é que foi voltar para o Brasil, a readaptação?
R - Muito interessante, principalmente com as roupas, aliás, com o modo de falar. Uma coisa que ficou muito gravado na minha cabeça, um dia eu cheguei pra minha mãe e falei pra ela: “Mãe, eu preciso dessa camisa lavada...”. Preciso dessa camisa lavada? E não me passou pela cabeça, porque em inglês existe uma estrutura da língua inglesa, não vem ao caso o nome, nem nada, que eu não vou ensinar inglês pra vocês, mas que... Bom, se chama causative form, quer dizer, é uma coisa que você em português fala: “Eu faço determinada... Eu corto cabelo. Vou cortar o cabelo amanhã”. Mas na realidade não é você quem corta o cabelo, é alguém que corta o cabelo pra você, isso chama causative form. E essa estrutura de eu lavar a camisa, então eu falava assim, eu em português eu diria: “Preciso lavar essa camisa”, mas na realidade era minha mãe que lavava e eu falei exatamente na estrutura, eu fiz uma transferência do inglês para o português, isso fez com que ela estranhasse: “Ah, você é fresco, você nem sabe falar mais português”. Uma coisa que ficou na minha cabeça.
P - E aí você foi morar na casa da sua mãe, outra vez?
R - Ah sim, porque eu era solteiro. Continuei morando, me casei com 34 anos. Então eu morava com ela. Morava com eles, meu pai e minha mãe.
P - Isso era lá na cidade de Carvalho ainda?
R - Cidade de Carvalho. Eu sempre morei, depois da fase de infância, sempre morei na cidade de Carvalho, meu pai ainda mora lá. Depois eu me casei com uma aluna minha.
P - Não. Conta essa história com mais calma. Como assim? Como que ela chama?
R - Eliana.
P - Eliana.
R - Ah, eu era professor dela, tem uma diferença de idade de 11 anos e a gente começou a namorar, começou a sair juntos, noivamos e nos casamos. Infelizmente ou felizmente a gente nunca se sabe, hoje nós estamos divorciados, tem um garoto que tá com 22 anos, Bruno. Morávamos em Guarulhos, com a separação ela saiu e eu fiquei no apartamento, moro num apartamento em Guarulhos.
P - Eu vou pedir pra você voltar um pouquinho, você tá resumindo muito.
R - [Vamos voltar.
P - Vocês se casaram e aí vocês foram morar em Guarulhos, com a Eliana?
R - É.
P - Me conta um pouquinho desse comecinho de namoro com a aluna.
R - Precisa?
P - Ah, se não quiser não precisa.
R - No comecinho do namoro até posso. Não sei te dizer, foi uma coisa que foi surgindo, uma aluna bonita, que me chamava atenção, a gente conversava muito, ela sempre reclamava que eu nunca dei um dez pra ela na prova de inglês. Foi um namoro, acho que eu diria normal, nunca houve nada de muito interessante, não.
P - E essa época você dava aula onde?
R - Na Faculdades Carlos Pasquale, que hoje não existe mais. Faculdades de Ciências Letras Professor Carlos Pasquale, ali na Rua Oriente, no Brás que também era o Liceu Acadêmico São Paulo, onde eu dava aula em nível de ginásio-colégio. E à noite eu dava faculdade de Letras. Hoje não existe mais, hoje a minha sala de quinta série é uma lojinha de calcinhas e sutiãs porque ela virou um shopping, ali na Rua Oriente. Eles cresceram, hoje eles são a Unifiel, a faculdade de Osasco, que eu também cheguei ir pra lá quando eles se mudaram pra lá, fui pra lá, trabalhei mais nove anos lá na Unifiel, mas eu moro em Guarulhos, então era muito longe, essa época de chuva, janeiro, fevereiro, era horrível porque as marginais enchiam, chegava atrasado, nem ia, quando ia não conseguia voltar, então eu pedi pra que eles me dispensassem.
P - E aí quando você voltou que você foi cursar a faculdade, Adilson?
R - Foi. Então, a gente pulou uma parte muito interessante. Embora eu falasse inglês agora muito melhor do que antes, por causa da prática que eu tive, eu vim com tudo, falei: “Ótimo, vou poder dar aula em faculdade, em colégio, tal”. Lei engano porque eu não tinha o curso de Letras, embora eu falasse muito bem o inglês, eu só poderia dar aula em institutos de idiomas ou na própria Cultura Inglesa, mas eu queria mais, sempre quis mais. Daí caiu a ficha que eu precisaria fazer o curso de Letras, precisaria me formar professor. Daí eu fui fazer o curso de Letras ali na Faculdade Carlos Pasquale, ali mesmo, três anos de Letras, aproveitei fiz mais um ano de Pedagogia. E a partir daí, como prata da casa, eu comecei a dar aula lá na faculdade mesmo, no curso de Letras, sempre, embora tivesse Pedagogia, mas sempre no curso de Letras, dando inglês.
P - E depois você foi fazer um mestrado?
R - Então, daí eu engatei, eu achei interessante e eu trabalhava lá no Liceu Acadêmico São Paulo, na Rua Oriente. Rua Oriente, todo mundo sabe, é uma região de coreanos, muito grande. Então eu tinha muito aluno coreano. Inclusive coreanos que vinham, lógico da Coréia, sem falar português e já eram jogados na escola pra aprender. Eu achava isso um absurdo, falei: “Como é que pode?”. Não tem nada a ver as línguas. Mas eles aprendiam, então eu queria saber, comecei a despertar a ideia, como é que eles aprendem? O que passa na cabeça deles, cognitivamente, como eles podem aprender uma língua completamente diferente do coreano, as culturas completamente diferentes, as comidas, as músicas. E de repente são jogados numa sala com 40 alunos brasileiros falando português, só ele ali não falando, só ouvindo, falei: “Não. Eu tenho que pesquisar isso, vou fazer um mestrado”. Daí eu fiz, comecei a fazer um mestrado nesta área que era aquisição de português como uma segunda língua, porque eu queria saber, inclusive o meu estudo foi com um aluno chamado (Cemiong?), na época tinha 13 anos. O meu foco de pesquisa de estudo era ele, eu queria saber como é que ele aprendia, como que ele... E a gente descobriu várias coisas na minha tese e a gente fala que essa turma aprende muito mais com o português falado pelos coleguinhas na rua, no joguinho de futebol, ou mesmo nas brigas, os palavrões. Então ele sabia todos, até eu nem sabia o que eles estavam falando, do que o ensino formal. Então informalmente eles aprendiam mais, aprendiam de uma forma informal, do que o formal, pra eles era difícil. Eu fui fazendo, fui gravando, fui escrevendo o que eles falavam, fazendo as dissertações e no final, a dissertação final foi aprendizado de português como segunda língua por um sujeito coreano.
P - E lá em torno da Rua Oriente, conta um pouquinho mais dessa comunidade dos coreanos.
R - Bom, eu fiquei dez anos lá. A Rua Oriente é uma rua basicamente comercial, não tem casas residenciais a não ser fora ali. E eu era conhecido por quase todo mundo, dez anos trabalhando ali, estacionando o carro na Rua Oriente ou na rua ao lado quando tinha vaga, tomando cafezinho da manhã na padaria da esquina, no barzinho da esquina, todo mundo me conhecia. E como eu cantava, isso incrementava muito mais conhecimento: “Ah, o professor cantor, não sei que lá”. E quando eu participei de programas de calouros, programa da TV Bandeirantes, do Bolinha. Nossa, daí que foi: “O professor televisivo”. E foi muito legal, foi uma época muito gostosa. Foi onde eu tive a prática, o aprendizado de que sala de aula foi onde se solidificou mesmo, foi no Liceu Acadêmico São Paulo.
P - Isso era mais ou menos que época?
R - Eu me casei em 80, então na década de 70.
P - Na década de 70.
R - Setenta, 72 foi quando eu entrei para o Liceu, eu acho, não lembro datas, mas deve ser década de 70 porque eu fiquei nove anos, dez anos incluindo com a Fiel, então é isso.
P - Então mudou muito ali, né, Adilson?
R - Mudou. Hoje a Rua Oriente não mudou tanto, continua sendo a mesma, mas foi o que eu disse, o prédio onde funcionava a escola, hoje é um shopping de armarinhos, a minha sala de quinta série...
P - E aí o mestrado você foi fazer lá na Unicamp.
R - Fui. A princípio eu fui aqui na PUC em São Paulo mesmo, mas eu não me dei muito bem com o orientador. Eu percebi que ele tava fazendo algum trabalho e ele queria que eu fizesse os trabalhos de campo de pesquisa para o trabalho dele e não era bem o que eu queria. Então não tive dúvida, mandei uma proposta pra Unicamp, fui aceito, fiz a entrevista oral, foi indicado um orientador e eu comecei a trabalhar com ele, com ela, aliás. Ela passou a me orientar, uma professora americana que ela mesma se dizia uma americana perdida em São Paulo, professora Linda ______. Era um rolo também, era americana, casada com egípcio e filha brasileira.
P - Vai trocar?
R - Ah, eu canto. Espera aí (Troca de fita)
P - Adilson, conta um pouquinho da sua relação com a música.
R - É interessante. Eu sou espírita, então eu acredito em vidas passadas. Eu acho que numa das minhas vidas passadas eu devo ter sido um músico, qualquer coisa assim, porque tudo que faço eu coloco música. Profissionalmente eu sou um professor de linguística, sou professor de inglês, mas pergunta pra mim se eu não uso música nas minhas aulas de inglês. Tranquilamente, principalmente músicas do Queen. Gosto muito do grupo Queen, me identifico muito, tive uma banda, várias bandas inclusive. No começo eu cantava músicas em espanhol, a banda chamava-se Terra América, montamos inclusive um espetáculo musical em cima da Cultura Inglesa, mas não na Cultura Inglesa, onde a gente declamava poesias em castelhano, em espanhol, cantava-se, eu cantava também. Depois em função do inglês, a gente começou montar uma banda de músicas em inglês. Uma banda cover chamada Cover, mas de cover só tinham as músicas, ninguém era parecido com ninguém, ninguém se vestia como ninguém, essas coisas todas. Eram só as músicas onde a gente montou um espetáculo chamado With a little help from my friends, em cima da música dos Beatles, com uma pequena ajuda dos meus amigos, que eram amigos mesmo, porque a banda era nada mais que isso. Eu ligava para o cara, falava: “Ou, escuta, você tá tocando ainda?” “Tô” “Eu tô pensando em fazer isso, isso e aquilo, você não quer vir tocar?” “Ah, eu quero”. Então com uma ajuda dos amigos, a gente montou a banda e fez um espetáculo de mais ou menos uma hora e meia só com músicas dos Beatles e eu vendi esse espetáculo pra rede do CNA, embora eu não trabalhasse no CNA na época, psiiiu. E eles compraram. Então o que era o programa? Toda sexta-feira eles faziam, eles tinham uma coisa chamada Happy Friday, a sexta-feira feliz que não tinha aula, mas tinham atividades de inglês, o CNA fazia isso, não sei se ainda faz. Então nós visitávamos algumas filiais do CNA, levávamos a banda, eu fazia as letras das músicas, não todas as músicas, porque eram 25 músicas que a gente cantava. A gente entregava algumas músicas pra plateia e interagia com a plateia, eles repetiam: “Come on, repeat”. E eles repetiam, depois a gente: “Vocabulário, tal”. Depois cantava todo mundo junto, aquela coisa toda e era muito gostoso. A gente fez isso. Na Cultura eu, como eu falei, eu fazia peças que sempre foram peças musicais, óperas rock, Jesus Cristo Super Star, Godspell, Dracula Spectacular, onde eu fiz o cocheiro, e assim foi. Então a música sempre teve na minha vida. Fora um pouquinho da parte profissional, embora eu não seja um cantor profissional, eu participei de vários programas de televisão, como calouro, havia um programa na TV Bandeirantes, Clube do Bolinha, eu ganhei, os cinco programas eu ganhei primeiro lugar, modéstia a parte. No primeiro programa eu entrei com a música... Trilha sonora do filme Ghost do outro lado da vida. Ganhei primeiro lugar, daí fui chamado pra fazer o segundo programa, cantei do Paul Simon, Bridge over troubled water. Ganhei o primeiro lugar, modéstia a parte. Daí no terceiro programa eu cantei uma música de... Daí eu queria cantar em português, cheguei lá falei: “Eu queria cantar uma música do Milton Nascimento”. Falou: “Não, pelo amor de Deus, não seja louco” “Por quê?” “Não, quando o Bolinha chamar: ‘E agora Adilson Lobo’. O telespectador já vai relacionar Adilson Lobo com a música em inglês”. Falei: “Ah, não. Eu não quero ser um calouro rotulado. O calouro que só canta em inglês”. Falou: “Não, mas televisão é assim, é a imagem que pré-pondera, não sei que lá” “Tá, tudo bem”. Daí eu cantei uma música de uma cantora que não é muito conhecida aqui no Brasil ou então ela é muito pouco conhecida, chamada Anne Murray, na realidade é uma cantora de origem indígena, americana, se eu não me engano é chaiene que se chama You needed me. Ganhei primeiro lugar de novo. Daí na quarta vez houve um probleminha, o ar condicionado tava muito forte e mexeu com as minhas cordas vocais e eu não percebi. Eu fui, já tinha ensaiado com a banda do Bolinha, pra cantar da trilha sonora da peça Cats, que na época tava em sucesso na Inglaterra, eu queria cantar a música Memory, que foi uma gravação da Barbra Streisand, depois do Barry Manilow. E eu fui e consegui aos trancos e barrancos, com a garganta ruim, arrastando, saiu aquela coisa, tal, mas eu tinha que manter a imagem, só que no finalzinho eu fui dar um agudo, cadê a voz?
P - Nossa.
R - Nessa os jurados me deram o segundo lugar. Tudo bem, maravilhoso, eu fiquei contente, mas fiquei muito traumatizado com aquela coisa diante das câmeras, o Brasil inteiro vendo, até pensei em pedir pra eles: “Não, corta, faz de conta que eu não participei do programa”. Falei: “Não, faz parte, sei lá”. Foi e passou na televisão aquele papel horrível que eu fiz e tal, mas acho que muita gente entendeu, daí o Bolinha me chamou para o que ele chamava refrescagem, que eram aqueles que tinham condições de continuar, de ganhar o primeiro lugar, mas que por algum motivo falhou na vez anterior. Então eu fui e preparei Hey Jude, dos Beatles, e modéstia a parte, arrasou. E foi assim, cantando, cantando, daí o Bolinha infelizmente adoeceu, uma doença grave, faleceu e acabou o programa.
P - Isso era a TV Bandeirantes.
R - Bandeirantes. Era na Bandeirantes.
P - Ficava aonde?
R - A TV Bandeirantes? Ou no prédio hoje é lá no Morumbi. Então eu lembro que eu ia pra lá pra fazer os ensaios do programa e eu achava assim, desculpe, mas um saco, porque eles mandavam a gente estar lá às duas horas da tarde pra ensaiar. Daí todo mundo ia chegando três, três e meia, todo mundo eu digo da técnica, três e meia, quatro horas, tal e nós lá esperando. E a gravação dez, 11 horas da noite. Passava o dia na TV Bandeirantes, mas era uma aventura, eu gostava, eu queria ficar lá, conheci a Gretchen, conheci vários cantores, eu conheci, a gente conversava: “Oi Adilson, vai cantar hoje? Que música? Ou legal, boa sorte”. Então eu me sentia muito bem, me sentia um artista, embora novamente eu afirmo nunca pretendi ser profissional porque eu sei que arte no Brasil é uma coisa complicada, uma coisa muito complicada, era mais um hobby.
P - E o que você sentia quando você se via na TV?
R - A primeira visão foi horrível. A primeira visão foi horrível porque eu fui bem mais fortinho, bem mais gordinho, rosto bem mais cheio. Então eu achei estranhíssimo, falei: “Tira essa coisa daí, não sei o que lá”. E quanto à voz também, uma coisa que eu pulei, que depois se vocês quiserem saber alguma coisa é a parte da dublagem, eu trabalhei com voz em estúdio de dublagem. Aliás, foi isso que me chamou atenção pra participar desse projeto de vocês. Bom, então na música. A gente, um dia eu tava em casa fazendo showzinhos com a banda, barzinhos, aquela coisa toda, alguém me ligou: “Oi Adilson. Adilson Lobo?” “É” “Aqui é o Valdir, lembra? O maestro da banda do Bolinha” “Oh Valdir”. Aquela jogação de confete e serpentina: “Adilson, eu tô te ligando pelo seguinte, nós estamos trabalhando na Record com o Raul Gil e a gente tá ligando para os calouros que cantavam bem, querendo que vocês cantem aqui, porque a gente tá selecionando. O programa do Raul não é realmente um programa de calouro, é um programa de praticamente artistas, tal e a gente queria que você participasse”. Daí eu falei: “Vou mesmo” “Só que tem uma coisa, nós não temos a banda, a orquestra que eu dirigia – ele – dirigia na Bandeirantes não tem mais. Eu preciso que você grave um cd com quatro ou cinco músicas que você gostaria de participar aqui, porque você vai cantar com o cd. Você põe o cd, nós vamos por o cd e você vai cantar em cima. Para o público não tem nada a ver, só que pra você, você precisa ter esse cd, você tem?” Falei: “Não. Nunca gravei nada, tal”. Falei: “Ah, legal, uma experiência nova”. Fui num cd, paguei, gravei, porque o baixista da banda conhecia um garoto que trabalhava com gravações de músicas, de som. E eu fui, fiz um cd e o cdzinho tá comigo lá, lá em casa que é pra gente de vez em quando ouvir ou então fazer um showzinho de três, quatro músicas. Eu fazia muito no colégio, nas festas, promoções que tinham lá, o Adilson sempre tava cantando. Então tacava lá o cd na aparelhagem, pegava o microfone e cantava.
P - Escolhe um trechinho Adilson, dessas que você falou.
R - Ai, meu Deus Do que, das peças?
P - Não, das músicas, pra você cantar.
R - Mas é das músicas das peças ou da parte que eu cantava com a banda?
P - A que você preferir.
R - É? Da peça Joseph que foi a coisa que me marcou muito, que foi a primeira peça, eu fazia então o faraó, como eu disse, mas essa música pertencia ao Joseph, na peça. Eu não vou cantá-la inteira não, mas era assim. Bom, então a história ele tá na prisão, porque os irmãos o venderam para o Egito e ele tava lá ainda na masmorra, aquela coisa toda. Então ele cantava uma música que era assim: “Close every door to me, hide all the word from me, bar all my windows and shut out the ligth, do what you want with me, hate me and laugh at me, bar all the windows and torture my night”. E daí vai.
P - E você nunca fez aula de canto?
R - Não. Nunca.
P - Você aprendeu sozinho?
R - Não, minto. Eu fiz seis meses de teoria musical e impostação de voz, não pra cantar, mas pra dublar, que é outra fase da minha vida, eu...
P - Fala um pouquinho da dublagem, como é que você chegou?
R - [Então... Há muito tempo atrás.
P - Mas ou menos quando?
R - Ah, eu deveria ter uns 25 anos, 1900 e... Acho que da época de 70, finalzinho de 60, eu comecei, não sei, pus na cabeça, eu quero dublar. Tanto é que eu cheguei no estúdio da AIC lembra nos filmes: “AIC São Paulo”. Hoje é BKS, nem sei se... Deve ter ainda, que ficava na Rua Tibério, ali na Vila Romana, na Lapa.
P - [Na Lapa.
R - Eu cheguei lá e falei: “É o seguinte, eu gostaria de fazer dublagem. O que precisa fazer?” “Você nunca fez? Nunca trabalhou?” “Não. Não sei, eu gostaria de saber como é que é, tal” “Tudo bem, você entra no estúdio, vou pedir pra quem tiver dirigindo lá as dublagens, que você entra, você vai ter que assistir pelo menos um mês mais ou menos de dublagem pra ver como é que faz, fazer um laboratório e depois a gente faz um teste”. Falei: “Ah, tudo bem, eu topo, eu quero fazer”. E fiz, foi o que eu fiz. Nessa época eu trabalhava no Citibank, então já era época de 70, porque eu escapulia do Citibank. Escapulia do Citibank um pouquinho e ia pra lá. Minto. Não. Eu trabalhava à tarde no Citibank, então eu ia de manhã pra lá, depois que eu comecei a trabalhar o dia inteiro no Citibank que eu escapulia, dava um jeito. E fui, comecei a frequentar os estúdios da BKS, antiga AIC, conheci vários dubladores, fiz o meu teste, eu lembro que o meu teste foi assim... É igual toda a primeira coisa que você faz. Lembra-se de um seriado chamado Cannon? Vocês são muito novinhos. O Cannon era um seriado de detetive, tipo Agatha Christie e o Cannon era o anti-herói. Ele era um detetive gordão, careca, uma voz muito forte e ele era o detetive sempre que descobria os crimes, as coisas que aconteciam lá dentro, ai lá dentro, lá na história. E o meu teste era o seguinte, eu faria um mordomo de uma grande personalidade que estava tendo um problema, um problema criminal e que ela contratou esse Cannon detetive pra ir desvendar. Então o meu teste foi o seguinte, a câmera pegava assim, num plano grande, um castelo muito bonito, aquela estradinha e vinha um carro que era o carro do Cannon. O carro vinha e descia, enquanto isso ia passando toda a legenda. Ele descia do carro, tocava a campainha e a dona casa chamava-se Kane, senhora Kane, Miss Kane. E a minha fala era uma linha só, era uma fala só. Eu tinha que falar o seguinte, abrir a porta: “Oh, senhor Cannon, a senhora Kane o espera”. Já sacaram, né? Já perceberam. Cannon, Kane, putz. Na primeira não saiu, na segunda saiu Cannon, mas não saiu Kane, daí no Kane não saiu... Ah, daí comecei a ficar nervoso, eu lembro que eu fiz dez tomadas pra fazer essa fala e o diretor aqui do meu lado: “Não, calma e não sei o que mais”. Então: “Boa noite senhor Cannon”. Não, tinha que ser mais sério: “Boa noite senhor Cannon, a senhora Kane o espera”. Hoje sai na maior, mas na época... E não sei o porquê eles me contrataram. Daí eu passei a ser chamado pra fazer pequenas pontas na BKS, na direção da Neide Pavani, nem sei se é viva ainda. Neide Pavani um monstro da dublagem de filmes em português. Depois fui dirigido por Gilberto Baroli, por Ézio Ramos alguma coisa, inclusive o Ézio queria mudar o meu nome pra Adilson Vargas: “Não. Adilson Lobo”. Depois passei a visitar outros estúdios como a Álamo, inclusive eu achava que vocês fossem a Álamo.
P - A Álamo era aqui na Vila Madalena?
R - [Na Vila Madalena. Acho que era Flórida, tem Rua Flórida?
P - Não. Acho que era...
R - Ou Fidalga.
P - [Fidalga.
R - Fidalga. Na Rua Fidalga. Não sei se ainda é o estúdio. Trabalhei. Trabalhei, não, fiz alguma coisinha assim, muito pouco. Muito, como que eu vou dizer, pontas mesmo, nunca fiz papel grande, nunca. Mas sempre gostei muito, adorei fazer, essa experiência pra mim foi muito gratificante, de dublagem. Bom, voltando à música, você me pediu uma música popular da época que eu fazia músicas em espanhol, pode ser? A banda chamava Terra América e a gente cantava, sei lá. Deixa-me ver uma música assim: “Gracias a la vida que me ha dado tanto, medio dos luceros que, cuando los abro, perfecto distingo el negro del blanco, y en el alto cielo dos...”. Esqueci a letra. Desculpe, esqueci a letra. Isso você vai cortar. Depois eu passei a cantar em inglês com a banda mesmo, cantava músicas em inglês. Vai um pedacinho?
P - Vai.
R - Em inglês? Queen? Talvez precisasse estar em pé, mas vai sentado mesmo. “Can anybody find me somebody to love, each morning I get up I die a little, can barely stand on my feet, take a look in the mirror and cry, Lord what you´re doing to me, I´ve spent all my years in believing you, but I just can´t get no relief Lord, somebody, somebody, somebody, anybody find me somebody to love”. É isso aí. Eu sempre gostei muito de música, de cantar, preciso aprender, deixo isso bem claro, não sou cantor profissional.
P - E hoje você canta ainda em alguma dessas atividades, Adilson?
R - Com a banda. Com a banda, às vezes eles me ligam: “Olha...”. Esses dias eles ligaram pra mim, falaram: “A gente vai fazer uma noitada, um show, uma parte numa noite num barzinho aqui no Tatuapé. Você não quer ir lá dar uma palhinha?”. Mas agora uma coisa que me deixa meio chateado, mas eu preciso dizer pra justificar até a minha negativa em ir fazer esse show. De maio pra cá eu comecei a ter um problema sério na perna esquerda, quer dizer, a pólio, se vocês lembram, me deu sequela na perna direita e a perna esquerda sempre foi a que me ajudou a viver a minha vida inteira até agora em maio. Quando eu comecei a sentir uma fraqueza muito forte na perna esquerda e fui ver e tinha uma desconfiança de hérnias de disco. Então o neurologista pediu pra que eu fizesse tomografias e realmente confirmou. Estou com três hérnias de disco, mas elas não são a causa dessa fraqueza da perna, tanto é que o neurologista falou que não era necessária cirurgia, não. Só fisioterapia. Mas eu não estou andando como eu sempre andei, com dificuldades, mas eu sempre andei, sempre, estudei, dei aula, viajei para o exterior, me casei, divorciei. Sempre andei, nunca houve nenhum problema, mas agora eu não tô podendo andar como eu andava, eu estou com... Preciso de muletas. Em maio, junho deste ano agora de 2009 eu precisei de cadeira de rodas, inclusive. Agora que eu to melhorando, to reavendo a força na perna esquerda e estou só com muletas. Eu não achei legal ir cantar com muletas, nem... Ele falou: “Não, mas a gente põe um banquinho, desses banquinhos altos de cantor de boate mesmo, você senta e canta”. Mas eu não me senti legal mesmo, falei: “Não Serginho, me deixa melhorar bastante bem, tal, daí a gente vai. Mas boa sorte lá, tenham sucesso”. Aquela coisa toda. Então a sua pergunta se eu ainda estou cantando, estaria, mas não. Agora eu não estou cantando mais, nem dublando mais. A dublagem também foi outra frustração, embora me desse muita satisfação na época, porque a dublagem, vocês devem saber muito melhor que eu, é uma atividade agora com DRT, você não pode trabalhar usando sua voz se não tiver o DRT e eu não tinha. Eu era metido a dublador como na época a maioria era, nenhum ator tinha DRT, mas depois eles tiveram que submeter a testes, fazer cursos. Mas eu não me interessei, sei lá em assumir um curso de dublagem pra trabalhar com dublagem, falei: “Não, deixa pra lá”. E desisti da dublagem. Mas agora que eu estou mais pra dublador do que pra cantor. Eu tô pesquisando aí na internet algum curso de dublagem, alguma coisa relativa a isso pra gente até fazer o curso de dublagem e depois começar fazer alguma coisa de novo, uma vez que eu gostaria de voltar a usar minha voz, sei lá, nem sei se tenho condições, mas é uma tentativa.
P - Adilson, e essa foi a primeira vez que você se sentiu então um pouquinho limitado com a coisa de caminhar, com a pólio?
R - Realmente, foi.
P - Quer para um pouquinho?
R - Foi porque impediu de fazer uma coisa que eu gosto. Desculpe.
P - Vamos parar um pouquinho Adilson.
R - Como eu disse, foi uma coisa que me impediu de fazer uma coisa que eu gosto. Mas eu vou voltar.
P - Você já pode fazer tanta coisa, sempre fez tudo sem nenhum problema com relação à doença, né?
R - Sempre consegui. Não é agora, é uma fase.
P - Adilson, mudando um pouquinho de assunto, você falou que você tem um filho, Pedro.
R - Bruno.
P - Bruno? Conta um pouquinho de como foi o nascimento do Bruno, o que foi se tornar pai?
R - Foi muito bom. Foi logo após o casamento, ela já engravidou. Ele nasceu, bonito, formoso, olhinhos verdes, loirinho, agora não tá tão loiro, não. Mas logo após a gente se separou, embora eu sempre tivesse contato com ele. Até os 12, 13 anos, ele viajava comigo, passava finais de semana comigo, visitava os avós, a avó que hoje faleceu. E só. Hoje ele estuda, trabalha, meu contato não é muito grande com ele, talvez exatamente pela vidinha dele, ele tá seguindo a vidinha dele.
P - O que você acha que é mais importante na sua vida hoje, das coisas que você aprendeu nessa trajetória de fazer tantas coisas diferentes e...
R - A minha força de vontade. Eu acho. Minha mãe, eu disse no começo, minha mãe dizia quando pequeno e ficou no meu subconsciente: “Você estude, porque você vai ter limitações”. Ela nunca falou: “Você não pode”. Tanto é que eu me lembro dessa fase, na época com muita raiva, mas depois eu entendi o porquê. “Mãe, me dá um copo d’água” “Levante e vai pegar, você pode”. A experiência de vida dela, só segundo ano primário, era uma coisa que ela me ensinava muito grande, que marcou minha vida. Então hoje, eu sei, tenho alguma dificuldade pra fazer alguma coisa? Tenho. Mas eu posso fazer muita coisa, não é? E até hoje, tudo que eu quis fazer, graças a Deus eu fiz, posso não ter tido sucesso pra ganhar dinheiro, aquela coisa toda, mas eu fiz. Até ator de teatro eu fui, quando na época eu pensava: “Nunca que eu vou poder ser. Imagina, como que eu vou aparecer...”. Ah, uma coisa, desse negócio de teatro, eu montei um grupo de teatro em São Bernardo do Campo, com uma comunidade católica, religiosa, lá em São Bernardo e montamos O Diário de Anne Frank. Nossa, também tive essa parte do teatro também. Porque era uma coisa paralela à Cultura Inglesa, que eu fazia os musicais da Cultura Inglesa, aí foi. Então o que eu posso tirar da minha vida, você disse, é exatamente isso. A minha força de vontade, aquela coisa de você pode, você consegue, nunca uma coisa que te barrasse numa atividade que eu quisesse fazer. É claro que eu não sou nenhum imbecil de querer fazer alguma coisa que eu sei que eu não posso fazer.
P - E hoje quais são os seus sonhos ainda?
R - Quais são?
P - Seus sonhos.
R - Eu disse que eu quero fazer um curso agora, de dublagem, porque acho que vai ser a única maneira de eu entrar num estúdio de dublagem, porque exatamente por causa do DRT, hoje, segundo um amigo meu, ele me falou: “Hoje você não pode nem vender batata no caminhão de batata na rua: ‘Alô, dona Maria, a batata’. Você não pode nem fazer isso porque você tá trabalhando usando sua voz, você tem que ter o DRT”. Falei: “Orra Mas nem aqueles que caem de paraquedas no estúdio, faz um papelzinho só?” “Não. Não pode, não pode, é uma coisa...”. E daí e pensei bem, falei: “Bom, é a mesma coisa, eu sou professor de inglês, eu sou habilitado a dar aulas de inglês, mesma coisa alguém falar inglês, falar: ‘Ah, eu quero ser professor de inglês’” Foi o que aconteceu mais ou menos na época da faculdade, eu falava inglês muito melhor que português até, mas não podia dar aula pra ginásio, colégio, tal, porque eu não era... Não tinha o formal. Então os meus planos são esses. Primeiro lugar eu vou continuar fazendo a minha fisioterapia pra recuperar essa perna esquerda, pra eu voltar a andar com dificuldades sim, como eu sempre tive minha vida inteira, mas com uma facilidade maior pra me locomover. Não é nem sonho, é uma coisa que eu to fazendo, tenho feito e vou continuar fazendo. Se por acaso a minha fisioterapeuta assistir esse trabalho, quero mandar um beijo pra ela porque é ela que tá me ajudando com o seu conhecimento, os exercícios que eu tenho que fazer, isso, aquilo, tal e, eu tenho feito sim. Então a partir do momento que eu recuperar o meu caminhar e fazer esse curso de dublagem, ou fazer um curso de línguas apenas pra enriquecer o conhecimento. Talvez até voltar a dar aulas, embora esse seria um terceiro tópico já, não pretendo muito dar aulas de inglês, mas talvez, pra não ficar só em casa, então pegar um instituto de idiomas, fazer um teste, eu tenho certeza que eu conseguiria alguns grupos pra dar algumas aulas, ou mesmo aulas particulares, tal. Tenho muitos planos, eu sou uma pessoa que sonha muito, mas eu não sonho no vazio não.
P - O que você achou, Adilson, de ter contado a sua história?
R - Muito bom. Foi quase que uma terapia, me emocionei. Muito legal, eu acho bacana. Eu acho que de qualquer modo, de uma maneira ou de outra, eu tive as minhas experiências. Experiências com os meus alunos, que foi a maior parte da minha vida, meus alunos, meus filhos, indo pra Inglaterra com eles. Eu não ia pra Inglaterra apenas por ir, eu ia porque eu queria mostrar a eles, eu queria que eles tivessem um pouquinho da experiência que eu tive na Inglaterra, queria que esses alunos tivessem essa experiência. A última experiência que nós fomos há dois anos pra Brimington novamente, com os alunos do Centro Paula Souza, que é um Centro estadual. Não é uma escola particular, os alunos não são alunos, digamos classe A, mas eles conseguiram, nós conseguimos montar um grupo de nove alunos, fomos pra lá, eles passaram 15 dias estudando, visitando algumas cidades da Inglaterra. Isso me traz muito orgulho e porque não então, aproveitando o trabalho que vocês desenvolvem aqui no Museu da Pessoa, porque não compartilhar, não é? Não é uma coisa só minha. Eu tive a sorte de participar, só isso.
P - Muito obrigada Adilson.
R - Muito obrigado a vocês.
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