Projeto Memórias do Comércio de São José do Rio Preto
Entrevista de Sueli Noronha Kaiser
Entrevistada por Luis Paulo Domingues e Cláudia Leonor Oliveira
São José do Rio Preto, 28 de julho de 2021
Entrevista História de Vida 090
Transcrita por Selma Paiva
(00:35) P1- Então, Sueli, obrigada por ter aceitado o nosso convite, por estar aqui no nosso estúdio, né, mais virtual do que nunca. Eu vou pedir pra você começar falando o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R- Eu estou em São José do Rio Preto, aqui no interior de São Paulo, quase divisa de Minas com o Mato Grosso. Meu nome é Sueli Noronha Kaiser. Eu sou carioca, nasci no Rio de Janeiro, no dia vinte e oito de março de 1944.
(01:05) P1- Sueli, você cresceu no Rio de Janeiro? Como é que é isso?
R- É. Então, a minha vida é toda no Rio de Janeiro, né? E eu nasci e vivi nos anos sessenta no Rio de Janeiro, o ano da Jovem Guarda, da explosão dos jovens. Aquele período maravilhoso do Rio de Janeiro, né? Jovem Guarda, rock, aquela explosão dos jovens. Então, eu sempre fui uma pessoa, assim, muito... eu sempre digo que eu devo ter sido uma criança hiperativa e não me cuidava, não me tratava, porque eu estou sempre em busca de novos desafios. Sou uma pessoa, assim, muito... gosto de desafios, né? E sou de uma família muito grande. Nós somos em oito irmãos, nove... é, oito irmãos. Eu sou a mais velha dos oito. Minha mãe e meu pai sempre trabalhando. E acabava que eu tinha que estar, assim, no comando da família. Então, esse espírito meu de liderança, de estar sempre cuidando das pessoas. E pelo fato da minha mãe também ser enfermeira. Ela me levava pro hospital quando, naquela época, os pais... ela trabalhava no plantão noturno. E eu pequena. No dia seguinte, se precisava levar ao médico, alguma coisa, eu ia dar plantão com ela, ficava dormindo no hospital, pra de manhã cedo sair pra alguma atividade que tivesse que fazer, comigo. E eu via aquele ambiente hospitalar e aquilo me encantava, né? Então, eu dizia pra ela: “Quando eu crescer, eu quero ser enfermeira. E eu quero ser enfermeira. Quando eu crescer, eu quero ser enfermeira”. E aí fui. Lá, quando eu fui fazer enfermagem, na época, eram poucas cariocas que faziam enfermagem, a maioria vinha tudo do nordeste. A escola Anna Nery do Rio de Janeiro, aquela coisa toda. Então, eu fui fazer enfermagem e me identifiquei muito com a profissão. E nela, eu pude...
(02:52) P1- E o que te encantava, nesse ambiente hospitalar? O que te encantava?
R- Me encantava aquela arte do cuidar. Das pessoas cuidando de pessoas doentes. Isso daí me encanta até hoje, como é que você pode se doar, quando você vê uma pessoa precisando e quando ela começa a te agradecer: “Obrigado. Obrigado. Obrigado”. Então, essa arte do cuidar e se dedicar às pessoas é uma coisa que até hoje eu gosto muito, de ouvir as pessoas, o contato com as pessoas. E essa pandemia me deixou isolada e isso não me fez muito bem. Mas também não atrapalhou a minha vida. Mas esse contato com o ser humano, né? De poder ajudar, de poder estar perto, de poder cuidar. E de ver, depois, a felicidade da pessoa e da família, de: “Poxa, obrigada”, né? Isso me encanta muito. Meus irmãos, uma loucura, muitos irmãos e eu acabei tendo esse espírito, não sei, de empreendedorismo, né? De gostar de desafio. De acreditar, acreditar nos sonhos e ir atrás daquilo que me encanta e eu vou buscar.
(04:03) P2- Legal.
(04:03) P1- E aí você fez o curso na Anna Nery?
R- Eu comecei na Anna Nery, mas não gostei, porque a Anna Nery era muito rígida, parecia uma escola militar, não podia nada. Aí eu fui pra uma universidade católica, fui pra PUC. Porque eu era, como eu falei, uma pessoa muito agitada e que eu sei o que eu quero. E ficar ali tinha que usar blusa aqui, manga aqui, coisa na cabeça e falei: “Para. Não é isso, isso não tem nada a ver”. Saí fora.
(04:29) P2- Sueli, o nome do seu pai e da sua mãe, pra gente deixar gravado aqui, pra saber as suas origens.
R- É Francisco Caminha Dias, o nome do meu pai. Ele é espanhol. Os meus avós vieram da Espanha. E ele nasceu no Brasil, mas ela veio grávida. A minha mãe é Wilsolina Noronha Dias, com descendência francesa.
(04:53) P2- E voltando pra época da sua infância, antes da enfermagem, né, você nasceu em que bairro, lá no Rio de Janeiro? Como era o seu bairro?
R- Eu nasci no Castelo. Eles moravam, na época, no Castelo. Mas depois o meu pai tinha um comércio e nós fomos morar, todo mundo, num bairro na zona norte, lá no Irajá. É bem distante. Era longe. Porque o comércio dele, hoje eu posso falar, ele tinha jogos: roleta, jogo de bicho. Eram jogos clandestinos, né? E na frente tinha uma mercearia, que era uma mercearia e no fundo tinha jogos. Tinha muito, naquela época, né? E ele levou a gente pra bem longe dali, pra ficar protegido. A família grande, né? Então, ele levou a gente pra um bairro distante, lá na zona norte, no Irajá, onde eu passei toda a minha infância. O que mais?
(05:55) P1- Antes da PUC, você estudou onde, Sueli?
R- Estudei no Colégio Piedade, no Gama Filho. Fiz todo o meu colégio lá. Nem tem mais, o Gama Filho fechou, né? Era o Colégio Piedade, da escola Gama Filho, do Rio de Janeiro.
(06:09) P1- Que era de uma família, né?
R- É. Agora fechou, né? Há poucos anos aí, fechou o Gama Filho.
(06:16) P1- Sim. Você chegou a conhecer alguém da família?
R- Não. Porque eu era estudante, né? Não. Não conheci. Aí depois que eu terminei o Gama Filho, aí eu fui pra faculdade, né? Fiz a faculdade. No meu período de faculdade, como eu falei que eu sou uma pessoa muito agitada, né, eu comecei a trabalhar na Casa de Saúde São Sebastião, no Rio de Janeiro, mesmo fazendo a faculdade. Eu estudava de dia, horário integral. Das sete da manhã ao meio dia, nós tínhamos estágio no Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro. À tarde a nossa faculdade era na Tijuca, então a gente tinha aula no período da tarde, das duas até às seis horas. E no período do meio-dia às duas, eu ia tomar sol, pra ficar bronzeada. Então, eu ia pra tarde, pra escola, salgada, né? E aí chegava, tomava um banho e já ia pro plantão, na Casa de São Sebastião, no Rio de Janeiro.
(07:14) P1- Ia pra praia, mesmo?
R- Pra praia. Lógico. Ficava lá. Ficava na praia, com certeza. Então, foi assim, um período. Isso eu comecei no meu segundo ano de Enfermagem. Então, eu trabalhei... dois anos, eu fiz a faculdade normal. Depois de dois anos, já trabalhando, que me deu, assim, uma experiência, uma vivência muito boa, após o término da faculdade. Quando eu terminei a faculdade, foi em 1969, eu terminei a faculdade e em 1970 eu me inscrevi num concurso na universidade em Botucatu e fui pra Unesp de Botucatu, onde eu comecei a trabalhar como enfermeira. Mas no período que eu estava trabalhando e fazendo a faculdade, eu conheci o meu marido, Roberto Luis Kaiser, daqui de São José do Rio Preto. E a gente, uma paixão louca, desesperada, que saía faisquinha, assim “tsctsctsctsc”. Aí eu vim pra São José. Me casei no Rio de Janeiro e vim pra São José do Rio Preto. Caí aqui em Rio Preto, já, né... me casei em 1971. Já nem sei quantos anos, mais, faz. Vim trabalhar na Beneficência Portuguesa, o meu primeiro emprego aqui em São José do Rio Preto. Quando eu cheguei na cidade, ele me dizia que: “Olha, não vai trabalhar. Não precisa trabalhar”. Eu falei: “Impossível, né? Se eu não trabalhar, eu volto pro Rio de Janeiro”, né? Mas não, aí eu comecei a trabalhar. Eu tive, assim... eu fui a quarta enfermeira a chegar em Rio Preto, não tinha enfermeira. E eu recebi proposta de todos os lugares, né? Eu recebi proposta do Hospital de Base, recebi propostas... e a Beneficência foi a que me fez, assim, a melhor proposta, na época. Comecei a trabalhar lá e me aposentei lá, com trinta e sete anos de trabalho, na Beneficência Portuguesa, aqui de São José do Rio Preto.
(09:06) P1- E assim, quais eram os primeiros desafios, Sueli? Você falou que tinham poucas enfermeiras? É isso?
R- Sim. Quando eu vim pra Rio Preto, só tinham quatro enfermeiras. Uma na Santa Casa, uma no Hospital Santa Helena e uma no Hospital de Base. Aí estava abrindo ainda, ia ter a faculdade de... ia ter a faculdade. O próprio Inss estava abrindo. A Beneficência não tinha nenhuma. A Santa Helena estava ainda em fase de contratação. Mas aí, com essa proposta da Beneficência Portuguesa, o Doutor Braile, que é um médico, assim, que trouxe pra São José do Rio Preto a cirurgia cardíaca, que fez com que Rio Preto se tornasse um polo de medicina. Esse desafio que mais me interessou e eu fui trabalhar com ele. Quando eu fui pra Beneficência, ainda, você falou um desafio, foi que eu levei cinco anos pra treinar todo o meu time de enfermagem. Porque naquela época não existia escola de enfermagem, não existia nada. Então, eu tinha que pegar as pessoas totalmente leigas e treinar para a assistência de enfermagem. Então, eu tinha níveis de enfermagem. O primeiro era um nível básico, que era ensinar o cuidar do paciente na parte de higiene e verificação de sinais vitais, pra depois fazer um curso, depois pegar os melhores, treinar pra fazer medicação. Depois pegar os melhores pra ir pra UTI, os melhores pra centro cirúrgico, os melhores pra berçário, os melhores. Então, eu levei cinco anos pra montar o meu staff de trabalho. Pra que depois eu pudesse dizer: “Agora eu tenho um time bom”. Aí, depois que vieram os cursos pra cidade, eu fui incentivando pra que todos eles oficializassem os cursos com o curso de auxiliar ou de técnico. Fui dar aula, também, no Senac, dar aula de técnico de enfermagem, de auxiliar de enfermagem. Então, eu posso dizer que, naquele ano, a preparação de todo time, de profissionais de hospital, acabou ficando comigo. Porque lá na Unesp, lá em Botucatu, eu que fazia - foi um dos meus desafios lá - todo o treinamento de time. Então, eu vim pra cá, já com uma bagagem boa.
(11:23) P1- E, praticamente, você implementou a área toda, né?
R- Foi. Todos. Porque eu pegava os melhores, né? Normalmente cada turma tinha trinta, eu pegava os melhores e soltava os profissionais na cidade. Então, os hospitais todos eram, praticamente, o maior número, não vou dizer todos, era a turminha que nós treinávamos lá na Beneficência Portuguesa. Foi uma experiência, gente, fantástica, maravilhosa. Porque eu tive, assim, pessoas que até hoje eu tenho contato, que eu encontro na rua, me abraça, fala: “Olha, que delícia. Hoje eu tenho uma casa, eu tenho um carro, uma vida. Graças ao emprego”, né? Então é, assim, um reconhecimento que me deixa, assim, muito satisfeita. Porque a gente procurou fazer, independente de retorno de nada e você acaba atingindo muita gente, trazendo essas pessoas pro mercado de trabalho. E hoje também, né?
(12:20) P1- É. Ô, Sueli, mas assim, como é que você percebeu... porque você assumiu essa vaga ali no hospital, né? E qual o panorama que você se deparou, assim? Porque eu fiquei pensando, antes da sua chegada, como é que o hospital se organizava com essas coisas? Ou não se organizava?
R- É que a gente não pode, assim, falar. Mas estava, assim, precisando muito mesmo de um profissional, pra arrumar. Por isso que eles estavam buscando, mesmo. Porque você consegue trabalhar, mas não dentro do padrão, das normas de qualidade da assistência que o paciente necessita. Mas às vezes não era muito bom, mas a gente conseguiu melhorar bastante.
(13:02) P1- (risos) Eu imagino.
(13:04) P2- Você sentiu o choque da mudança? Viveu a vida inteira no Rio de Janeiro e chegou em Rio Preto, em 1970. Rio Preto era bem menorzinha do que hoje, né, em 1970.
R- É, bem...
(13:19) P2- Você sentiu _______ (13:21) falar: “Agora eu vou morar numa cidade pequena”, como é que era?
R- Olha, eu senti muito. Principalmente porque eu era, assim, muito dependente do mar, né? Eu sou daquelas cariocas da praia, do mar. Não é ficar na areia. Eu gosto da água, mesmo, né? E eu senti muito, muito. Mas como eu comecei a trabalhar e um desafio muito grande, porque consumia muito tempo. E três messes depois, aqui em Rio Preto, de casada, eu engravidei. Então, aí, todo o processo da gravidez, o trabalho, os desafios que eu tinha que ir pra São Paulo, buscar tecnologia pra cá, porque não tinha. Então, eu viajava muito. Ia pra São Paulo, voltava. Ia no hospital. Ia pra Beneficência em São Paulo, ia no Einstein, ia num hospital, ia no outro. Porque o Doutor Braile era muito rápido. Pra acompanhá-lo, você tinha que estar muito ligada. Então, eu consegui passar isso rápido, sem... mas mesmo assim, três, quatro vezes por ano eu ia até o Rio. E a família, né? Aquela época era Cometa, né? Você levava doze, treze horas do Rio até aqui, né? Era complicado. Mas olha, eu não me arrependo. Foram, assim, anos maravilhosos. Eu não me arrependo. Se eu tivesse que voltar no tempo, eu faria tudo de novo.
(14:39) P1- Que maravilha!
(14:40) P2- Que legal!
R- Mas que eu senti, eu senti. Não podia usar biquini. Quer dizer, não podia, não. Não devia, né? Porque o pessoal, aqui...
(14:46) P1- Não devia?
R- Não devia, né? Eu usava os meus biquinis, minhas minissaias, né? Então, deu um pouco de choque, mas aí o pessoal acostumou comigo. Eu não mudei. (risos)
(14:57) P1- E, assim, pra substituir a praia, pra onde você ia? Piscina? Clube? Cachoeira?
R- É. Nós tínhamos, assim, aqui, a cidade tinha excelentes clubes, né? Ainda tem até hoje, excelentes clubes. Mas eu sentia muita falta da água do mar mesmo, né? Mas o meu marido falou pra mim, quando a gente namorava, pra mim, que eu estava, né, falou: “Não se preocupa, porque o prefeito está levando um braço do mar pra Rio Preto e logo vai chegar”. (risos)
(15:27) P1- Ah, que lindo! (risos)
R- Eu estou esperando até hoje.
(15:32) P1- Sueli, como é que você conheceu o seu marido?
R- No hospital. Ele é médico. Ele ia no hospital. Por isso é uma história até muito interessante, que eu vou contar pra vocês. Eu não contei pra muita gente. Mas já que você perguntou, eu vou contar. Quando a gente estava na faculdade e uma das alunas chegou e falou assim pra gente: “Olha, a Casa de Saúde São Sebastião do Rio de Janeiro está contratando acadêmicas de enfermagem pra trabalhar no plantão noturno. Você tem interesse?”. Eu falei: “Eu não”. Aquela época eu não precisava de um trabalho noturno, financeiramente, graças a Deus, né? Aí uma, duas, três se interessaram: “Ah, vamos, Sueli. Vamos”. Aí a melhor amiga minha foi. Aí eu falei: “Ah, então eu vou também” porque “Eu vou também”, né? Sabe, a curiosa? “Eu vou também”. Fui lá. E no primeiro plantão que eu dei lá, no primeiro plantão, o meu marido passou, meu Kaiser passou, eu fiquei olhando assim anhhhhh e ele também anhhhhh. Aí eu falei: “Eu quero dar plantão. Eu quero dar plantão”. (risos) Aí foi assim, saiu faísca, aquele primeiro momento. A gente se viu uma vez. E aí eu resolvi dar plantão, pra vê-lo novamente. E aí demorou, acho que quase um mês ou dois, pra coincidir da gente passar do plantão, que desse certo no meu plantão. Daí nós começamos a conversar e aí deu isso que deu. (risos)
(17:02) P1- Lindo.
R- Foi bom, sabe? Foi lindo mesmo.
(17:07) P1- Mas como é que surgiu a oportunidade, assim, de vocês casados irem pra Rio Preto? Qual era o vínculo que ele tinha com Rio Preto?
R- Família rio-pretense, né? O Kaiser é de família rio-pretense tradicional, família Caldeira, né? Os pais dele eram fazendeiros aqui na região, dos primeiros que vieram pra cá. Tem uma tradição aqui na cidade, a família Caldeira. E aí, ele já, ele estava... ele fez Medicina no Rio, lá na Federal, né? E estava no último ano dele, de residência. E aí ele já deixou claro pra mim: “Olha, eu vou voltar pra Rio Preto. Eu não vou ficar no Rio de Janeiro, né? E eu não volto mais”. Então, aí eu vim conhecer Rio Preto. E teve até uma história interessante. Pra ele me preparar como era a cidade, ele falava assim: “A cidade lá, sabe, é uma cidade, assim, muito pequena. A gente é mais ou menos como assistir filme de cowboy. A gente só anda à cavalo, é com carroça. Vai ao cinema, assim, tem a cadeira comum, então o pessoal, às vezes, empurra, a gente cai”, fez assim. Eu imaginava: “Nossa, que horror, né?” Quando eu cheguei, era uma cidade normal, né? Quer dizer: ele fez o negócio bem feio, pra que eu acostumasse. Eu a achei ótima. (risos) Foi muito legal, porque teve muita... foi, assim, um relacionamento muito legal, porque eu não conhecia Rio Preto e a gente estava assim, já, no momento, se gostando bastante. E a preocupação de eu sair do Rio, né? Porque eu sempre fui uma... sempre gostei muito da minha cidade, né? Então foi... não me arrependo.
(18:53) P1- (risos) Sueli, qual é a especialidade dele?
R- Ele faz procto. Fez procto, né? Ele faleceu já, tem dez, onze anos.
(19:00) P1- Ah, que tristeza.
R- Ele faleceu em 1900 e... não. 2009. 2009. Ele faleceu. Teve câncer, né? E ele era um médico, assim, muito... cuidou de muitos pacientes. Mas ele acabou falecendo de câncer, também, pâncreas. E muito rápido.
(19:16) P1- Imagino que ele tenha sido uma referência também, na cidade, né?
R- Foi. Porque ele foi o primeiro procto a chegar, também, né? E depois deu um pouco de aula na faculdade. Mas ele não tinha muito espírito, assim, de universitário. Ele gostava mesmo de ser médico, consultório, cirurgia, né? Então, não... e a família dele, né, uma família tradicional da cidade, então já estava dito que ele viria, mesmo. Foi muito legal.
(19:41) P1- Maravilha. Sueli, como deu início a Cenemed, o grupo todo? Como é que vocês começam a pensar nisso, a estruturar?
R- É, então, é uma história muito bonita também. Como eu era enfermeira, né, eu fazia parte, eu era diretora de enfermagem da Beneficência Portuguesa e nós tínhamos, assim, uma... o hospital começou, também... quando eu fui pra lá, ele estava, assim, numa situação financeira ainda não muito boa, começando o hospital, a dar o up nele, né? E o Doutor Braile já operando cirurgia cardíaca e ele trazendo, assim, muita novidade, fazendo cirurgia extracorpórea que, na época, só São Paulo fazi. Nem o Rio não fazia, ainda. Só São Paulo. E aí, chegou um determinado momento, lá em 1984... não, 1986, em 1986 o hospital estava no auge, lotado, em torno de cinco cirurgias cardíacas por dia. E era uma rotatividade muito grande. E aí a gente não tinha leitos, pra poder fazer. Então, como nós íamos resolver esse problema de leito? Aí eu peguei e falei pra ele: “Doutor Braile, vamos desospitalizar”. Não usei esse termo “desospitalizar”, hoje é “desospitalizar”. Na época, eu falei: “Vamos levar esse paciente pra casa, que tem condições de ser cuidado em casa, pra gente ter leitos livres, pra que a gente possa cuidar dos pacientes cirúrgicos”. E aí, aqueles pacientes que estavam internados por curativo, antibiótico ou ortopedia, nesse que poderiam fazer o tratamento em casa, eu levei os pacientes pra casa e comecei a montar, pelo hospital, uma estrutura em casa, pra eles. O que eu fiz? Peguei os enfermeiros que iam trabalhar na residência, os técnicos ou os auxiliares, os fazia estudarem o diagnóstico do paciente, o medicamento que eles iam tomar, quais eram os sintomas e qual seria a reação de cada medicamento e pra que eles soubessem chamar, à medida que tivesse alguma intercorrência naquele sentido. Pegava as coisas do hospital e levava pra lá. E estava dando certo. Só que isso daí começou a ter uma repercussão muito grande na cidade, um fala pro outro, fala pro outro. E começaram a me procurar, se eu não podia fazer isso pra outros pacientes não hospitalizados. E aí eu descobri um nicho de mercado novo, de trabalho. Por que não montar alguma coisa nesse sentido, já que a cidade precisava? E aí eu comecei a comprar equipamentos que as pessoas precisavam levar pra residência. Fazia, assim, sem muito conhecimento financeiro: quanto custava e dividia por quanto tempo a pessoa ia usar. Eu pagava em três, quatro vezes, aquilo. Eu acabava pagando. E aí eu comecei a ter equipamentos, pra poder criar estrutura de hospital na residência. Comecei a treinar o pessoal pra trabalho na residência. Todo sábado de manhã eu tinha aula, treinando as pessoas pra como trabalhar na residência, desde a higiene pessoal à higiene... orientando que a casa do paciente não é a sua casa, é o seu ambiente de trabalho, como se comportar. Mais as técnicas do paciente, dependendo da patologia. E aí foi começando um, dois, três e mais. E aí eu precisava de materiais e medicamentos, que eu comprava das farmácias e ficava muito caro pra eu passar pros pacientes, o preço. Então, eu comecei a comprar direto das distribuidoras. E aí começamos a ter preço, material, pessoal treinado. E aí precisei montar uma empresa, porque precisavam de nota, aí você monta uma empresa de prestação de serviços, inicialmente. Mas aí, quando eu comecei a comprar materiais e medicamentos, eu precisava repassar, então eu precisei abrir uma outra empresa, de venda e locação de equipamentos hospitalares. E aí eu montava isso, numa portinha, numa salinha, onde a gente tinha, inicialmente. Mas aí começou a vir mais e mais. Aí abri uma lojinha maior, pra atender os meus pacientes, mas eles começaram a atender a cidade, porque a região e a cidade não tinham muito, naquela época. Então, virou um negócio. Venda, a loja, né, o comércio que vendia e alugava material hospitalar. E a parte de prestação de serviços, que seria toda a entrega da prestação de serviço na residência do paciente. Mas, assim, uma coisa interessante que eu digo que foi, assim, o carro-chefe, foi a parte de locação. Era uma necessidade muito grande de locação. E as pessoas que já tinham, a gente, além de alugar, eu vendia pra família, depois eu comprava de novo, pra alugar. E eu consertava das outras, também, porque eu tinha um pessoal que fazia isso. Então, virou ali, um centro. Eu falo que o serviço de locação deu um boom, porque quem vinha alugar ou comprar, é porque tinha alguém doente. Se tinha alguém doente, eu podia atender. E a gente atendia de um preço bom, porque eu não tinha esse interesse, aquilo não era o serviço que eu precisava sobreviver dele. Era um serviço que eu oferecia pra população. Então, eu tinha um preço razoável, porque não era uma coisa pra minha sobrevivência. Porque eu tinha o meu emprego na Beneficência, eu tinha o meu marido, então eu tinha uma situação que não precisava muito. E isso daí, eu acho que... e mais o conhecimento que eu tinha, que a maioria das pessoas eu já tinha treinado, eu sabia aquelas pessoas que eu podia usar, pra deixar nas residências. Então foi, assim, um boom muito grande. E paralelo a isso, eu sempre falo, que eu precisava também de uma ambulância. Porque, pra tirar o paciente do hospital, levar pra casa e vice-versa, você precisa ter uma ambulância. E aí eu comprei uma ambulância de uma cidade próxima aqui, de Neves Paulista. Nós compramos uma ambulância que estava no pátio lá, toda ruinzinha lá, já, né? E aí essa ambulância começou a fazer esse transporte paciente-casa, casa-hospital. E começaram a pedir ambulância, também, Luis, para remoção. E aquela ambulância não tinha ainda condições de remoção. Então, eu comprei, fiz um leasing, na época a gente não tinha dinheiro pra ficar investindo numa empresa. A coisa foi acontecendo, sabe, na vida, quando vai acontecendo? Então, aí eu comprei, fiz um leasing. Comprei uma Caravan, pra fazer remoção. Então, já virou remoção, né? Que é toda a prestação de serviço. A gente começou a ter remoção, paciente em casa, loja que alugava e vendia materiais hospitalares, tudo pra poder atender o home care, que era o paciente em casa. Aí, essa ambulância...
(26:38) P1- Aí, assim, você está falando dos anos oitenta, assim, você está criando esse serviço de home care, que é tão comum hoje, né?
R- Hoje. Então, e quando eu falava em home care, que eu divulgava isso, as pessoas falavam: “Está doida”. Porque, na época, era exatamente o contrário: era trazer o paciente pro hospital, com muita tecnologia. Era a vinda do paciente no hospital, com a tecnologia. E eu estava fazendo um retrocesso, que era do passado, levar o paciente pra casa, porque antigamente, os médicos faziam. Eu estava no retrocesso. Bom, e aí essa ambulância começou a fazer remoção. E aí eu precisei comprar uma ambulância maior, compramos uma Besta, maiorzinha. Porque, aliás, teve até um caso interessante: um paciente, um paciente diferenciado de Rio Preto, que tinha um filho importante em São Paulo, chegou pra mim e falou: “Eu não vou levar o meu pai numa Caravan. Você precisa ter uma ambulância mais decente”, né? Era uma Caravan, né? Tá bom. Então, eu comprei uma Besta. E aí, essa Besta, os médicos pediram, assim: “Pô, você tem uma Besta, um carro maior. Monta uma UTI. Assim, a gente já pega o paciente com mais segurança, tal”. Aí nós montamos a UTI. Virou um outro nicho de negócio. Porque aí eu tinha a remoção e a UTI móvel, pra fazer. E aí você tem que montar toda uma estrutura de enfermagem, médicos, equipamentos. E aí, você vai, cada vez você vai melhorando, especializando mais o serviço. E ele vai crescendo, porque a procura é maior. Aí depois de uma, hoje nós estamos com trinta e duas ambulâncias de UTI móvel. A gente tem contrato aí com várias empresas, né, que a gente, inclusive, deixa as ambulâncias lá e presta esse serviço. E aí você vai, quando você vê... e aí, eu tendo filhos. Eu tive quatro filhos. Então, nesse período, eu tive quatro filhos acompanhava ambulância, dava aula num monte de lugar. Tanto que eu ainda não sei como é que eu dei conta, né? De ser esposa, cuidar da casa. Eu tive uma empregada que ficou comigo trinta anos, também. A tia Zaíra, que eu falo que ela foi o meu porto seguro. Por isso que eu consegui fazer tantas coisas, porque ela me ajudava a cuidar dos meus filhos. Ela me dava um suporte muito bom em casa. E a coisa foi tomando esse vulto, né? Hoje nós estamos super bem, né? Você já quer saber quantos? Vou botar hoje, vou tirar do passado.
(29:05) P2- Ô, Sueli...
R- Oi?
(29:07) P2- Você foi pioneira nessa ideia. Hoje tem em todas as cidades, né? Home care, né? O hospital vem pra casa. Aqui no meu prédio vem sempre, né? Você foi pioneira ou você teve essa ideia porque leu em outro lugar, você sabia que já existia?
R- Não. Foi o que eu falei pra você. Tudo aconteceu porque, na minha experiência no hospital de desospitalizar, pra poder se ter mais leitos. A ideia foi minha, mesmo. Fui eu que comecei, aqui no interior. Já existia em outros lugares. Mas, assim, alguma coisa menor, né? Não tinha toda a estrutura que eu tenho. Não. As pessoas tinham, por exemplo: quem estava em São Paulo, provavelmente fazia, mas usando a estrutura do estado, alguma coisa. Agora, eu posso dizer pra você que eu acho que eu sou uma das primeiras. E que continuou, porque muitas que começaram, não adiantaram. Eu estive, nós estivemos olhando datas de outros home cares, um dos mais antigos somos nós, mesmo.
(30:08) P2- Que ano que foi que começou?
R- 1986.
(30:14) P1- Sueli, você está falando de 1986. É uma época, assim, daqueles planos econômicos, né, que tinha uma inflação gigantesca, galopante. Você falou do leasing, que era o sistema que se tinha de financiamento, pra você comprar um equipamento mais caro. Como é que foi, assim, você com o seu conhecimento de enfermeira, lidar com essas questões financeiras todas?
R- Olha, foi muito difícil. Porque eu sempre tive a tendência da assistência. Eu nunca fui, assim, uma pessoa, até hoje, eu nunca sei muito mexer com o meu dinheiro. E o meu marido que sempre cuidava, assim, toda a parte da casa, financeira. Ele só falava, assim, pra mim: “Sua conta está vermelha, né?” Eu falava: “Nossa, tá?” “Eu já botei dinheiro lá. (risos) Ó, sua conta está vermelha”. Eu nunca cuidei de nada, porque ele cuidava pra mim. Então, eu tinha muita dificuldade. Aí eu tinha pessoas trabalhando comigo. Eu comecei a... aí depois, a empresa começou a crescer, você vai contratando, né, o Financeiro, vai contratando o Comercial, vai contratando porque precisa. Jurídico, você vai... muitos trabalharam pra mim de graça, pela amizade, falava: “Não, Sueli. Eu faço pra você. Eu faço”. A locação mesmo, na época, eu não tinha dinheiro assim pra comprar tanta coisa. Ele falou: “Não, você paga quando você puder”. As lojas. Eu era conhecida, porque eu trabalhava no hospital, eu tinha, assim, um conhecimento muito grande na cidade. Eu falo uma coisa, sabe, Claudia, que é muito importante, pras pessoas: pra você ter um negócio, ou você tem que ter dinheiro ou você tem que ter crédito. Eu não tinha dinheiro, mas eu tinha crédito. Por isso que eu acho que a coisa andou, porque as pessoas acreditavam muito. Eu dizia... porque quanto mais pacientes entravam, mais eu ficava preocupada. Porque quando você cuida de um paciente, no final, você assume um paciente por uma operadora, né, você cuida daquele paciente o mês inteiro. No final do mês, você paga material, medicamento, você paga os funcionários, paga médico, paga todo mundo. Mas aí você vai faturar a conta e mandar pra operadora. A operadora demora trinta, às vezes sessenta dias, pra te pagar. Dá três meses, sem. Então, quanto mais paciente entrava, eu ficava... teve uma época que eu fiquei quase um milhão negativa, no Banco. Um milhão, na época, era muito dinheiro. E eu falei pra ele assim: “Eu tenho dinheiro, mas eu não recebi ainda”. Ele falou: “Não tem importância. Quando você receber, você me paga”. Aí, quando a operadora me pagava, mas aí eu estava devendo bastante, entrava mais paciente. Então, eles ficavam com a lucratividade toda do meu negócio. Mas eu não liguei, eu falei: “Não. Eu não vou desistir. Vai dar certo”. E deu. Deu certo.
(33:00) P1- Super, né? (risos) Vamos voltar, assim, você falou de uma série de coisas, né? Primeiro a questão do aluguel dos equipamentos. Você falou que, assim, que foi... é interessante, porque às vezes você aluga, assim, temporariamente, né? Você tem um problema de saúde, você aluga temporariamente. Tem problemas de saúde que são de longo prazo, né? Assim, as pessoas têm doenças assim, de quatro, cinco, precisa de um home care mesmo, senão...
R- Não. A gente monta o home care na residência. Hoje, nós estamos, assim, muito mais bem estruturados, né? Você, a família, você vai... o enfermeiro vai - hoje não sou eu mais que faço, na época eu mesma que fazia – ao hospital, faz o diagnóstico do paciente, das necessidades do paciente, encaminha pra operadora, a operadora autoriza. E aí autoriza, né, o pacote, o valor. E a gente leva o paciente pra casa e fica lá o tempo que ele necessita. E ela te paga mensal por esse atendimento, até a alta do paciente. A gente já sai, a gente chama com a alta do paciente já preparada, né? Dependendo da patologia. Dependendo, né, se é um paciente mais paliativo, que vai ficar mais tempo, aí depende. Então, nós já temos tudo, hoje, já tudo estruturado, tudo com protocolos, tudo, os processos todos, já certinho, né? Hoje temos um time grande trabalhando, né?
(34:28) P1- Ô, Sueli e como é que foi, assim, a recepção das famílias, né? Essa ideia, assim, de tirar do hospital e ficar dentro da casa. Porque o ambiente hospitalar, também, assim: eu vou fazer um juízo de opinião, aqui, talvez nem... é um ambiente, assim...
R- Triste.
(34:43) P1- É. Assim, com exceção da maternidade, né? (risos)
R- É. Com exceção da maternidade.
(34:50) P1- Né? Que a gente está sempre, assim, na alegria, né?
R- É.
(34:54) P1- Mas, assim, é sempre um ambiente mais difícil de lidar, né? Como as famílias recebiam essa ideia de deixar o paciente dentro de casa?
R- Bom, eles recebiam muito bem. Porque você leva o paciente pra o habitat dele, pra casa dele. Monta uma estrutura no quarto, com uma cama. Hoje nós temos tudo automático, né? Não com manivela, com automático. Tudo automático. Um enfermeiro só pra ele. Quer dizer: um serviço individualizado, personalizado, no seu habitat. Evita infecção hospitalar porque, quanto mais rápido você sair do hospital, melhor. Hoje em dia, as famílias não têm mais tempo pra ficar acompanhando no hospital o vai e vem, vai e vem.
(36:24) P1- Você estava falando, então, da recepção das famílias, né? Do home care.
R- É. Da disponibilidade do tempo, né? Então, hoje, uma das coisas que eu acho que é mais preciosa, hoje, pra todos nós, é o tempo, né? O tempo passa muito rápido. Você, hoje, com esse monte de informações, está muito envolvida com o trabalho e com os compromissos, agora on line. Então, a família adora. Hoje a gente faz tudo o que um hospital faz. Desde na maternidade, só, até se quiser nascer em casa, pode. Fototerapia, né? Criança que está precisando tomar banho de luz. Eu estou falando uma linguagem mais...
(37:03) P1- Icterícia, né? Que tem icterícia?
R- Icterícia. Eu queria falar uma linguagem mais popular, né? Mas qualquer necessidade que a família tenha hoje. Medicamento, antibiótico, você faz em casa. Tudo. Vacina. Tudo em casa, hoje, né? Só que a vacina não está liberada ainda, mas a gente vai começar a fazer em casa, também, na hora que acalmar. Tudo você pode fazer em casa. Paciente grave de UTI, com respirador. A gente tem paciente que a gente chama de alta complexidade, que estão conosco já, tipo, oito, nove anos em casa, com respirador, com todo o suporte, né, necessário.
(37:40) P1- Vocês têm, assim, atuação também nessas clínicas pra terceira idade? Ou vocês atuam dentro das clínicas também, ou não necessariamente?
R- Então, nós temos também. Nós temos um hospital de transição ou retaguarda. Você já ouviu falar?
(37:54) P1- Não.
R- Então, porque você tem essas clínicas de repouso, essas coisas todas aí, né? Dá uma sensação muito ruim de deixar um ente querido lá, parece que abandona, tal. Então, hoje, nós temos um hospital, que é uma coisa mais moderna, um hospital de transição ou retaguarda. O hospital de transição é tipo uma semi-intensiva, em que o paciente não precisa ficar mais no hospital, mas também não tem condições de ir pra casa. Ou por estruturação da família, ou por problema de espaço, ou qualquer outro problema, ele fica no transição. Então, ele sai do hospital transição. É um local bonito, humanizado, em que a família pode ficar o tempo que ela quiser, vai ou vem. E tem toda a estrutura de médico, enfermagem, fisio, tudo terceirizado. Não tem cheiro de comida, a comida vem terceirizada. A lavanderia é terceirizada. Limpeza terceirizada. Então, é um lugar gostoso, em que o paciente fica ali, com uma assistência. Ou vai fazer uma cirurgia que você precisa ficar dependendo de alguém uma semana, fica lá. Ah, uma cirurgia ortopédica que precisa ficar, né, numa posição, que precisa de banho, fica lá. E depois vai pra casa. E aqueles pacientes que são os pacientes crônicos, que vão necessitar, depois, de assistência em casa, fica lá o cuidador da família ou o cuidador contratado pela família e nós o treinamos para de cuidar do paciente em casa. Então, é um método novo, que está, assim, tendo muito sucesso. O primeiro piloto do interior foi esse nosso, nós fizemos. E está um sucesso. A gente, agora, está em uma perspectiva de construir um maior, com leitos maiores.
(39:39) P1- Bacana.
R- Porque isso pegou, mesmo. As pessoas gostam. E a gente tem o paliativo, aqueles que vão mesmo falecer, com o diagnóstico fechado, que a gente chama de “morte digna”, né? Como toda uma assistência especializada pra isso.
(39:56) P1- Você tocou em dois assuntos, que eu acho que são bastante recentes, assim, nessa história do cuidado, da medicina, né? Que é a questão da humanização, né? E a questão dos cuidados paliativos. Eu estava conversando com uma colega que formou recentemente, ela está terminando a residência em cuidados paliativos. É uma questão, assim, que tem vinte anos, praticamente, né? Eu queria que você falasse um pouco, assim, dessas duas vertentes, Sueli. Da importância delas.
R- Então, o problema do cuidado paliativo, da importância de você ter um médico, principalmente um médico... e nós temos uma médica que vai começar a trabalhar conosco, agora, já fechou, só pro paliativo. Porque está aumentando muito, né? Por causa da idade, as pessoas estão vivendo mais. Então, né, um monte de doença. Principalmente agora, um monte de sequelas, né, com a pandemia e etc. Então, o cuidado paliativo é de suma importância, porque você prepara a família. Porque tem muitas famílias, ainda, que sabem que o caso é grave, sabe que é pra esperar mesmo - a gente não pode falar muito, né, numa linguagem mais – o momento final, mas ela não se conforma. A pessoa tem alguma, passa mal, alguma coisa, sai correndo pro hospital. Fica aquela loucura, envolve um monte de gente, chama os filhos que estão longe, sabe? Então, o paliativo, além de cuidar do paciente, de todas as necessidades que ele precisa pra uma morte digna, a gente consegue trabalhar a família. E esse é o papel nosso e do médico: preparar a família pra aquele momento, que a gente tem casos, principalmente de, assim: filha única ou a mãe com filho único, é triste, viu? Precisa desse apoio. Precisa muito. É que as pessoas não vivem, a gente que vive isso, precisa muito. Não consegue...
(41:45) P1- Eu imagino.
R- Sofre, morre junto, fica ali no sofrimento, né?
(41:52) P1- É. Eu imagino. Você tocou num assunto também super importante e atual, né, que é a questão da pandemia. Então, assim, eu contei um pouco antes, como a gente tomou... assim, o nosso trabalho foi impactado, mas eu queria, assim, que você recuperasse, né, o começo, assim, do início da pandemia, do isolamento, assim. Como é que vocês foram se organizando? Os desafios, os aprendizados, assim. Porque eu acho que é um ano de muito aprendizado, né, Sueli?
R- Foi. Foi. Eu vou contar um pouco da minha história, né? Como eu sou idosa, né, eu já estou bem nos idosos, né? Quando começou essa pandemia, os meus filhos (risos) me mandaram pra uma fazenda. (risos) “Mãe, mãe, sai daqui!” Eu falei: “Gente, calma”, eu estava... e olha, foi tão interessante, que eu viajei no final de 2019. Aí tudo começou em janeiro de 2020. Em fevereiro de 2020, eu estava na Alemanha. Na Alemanha, no Mulheres do Brasil, lá. Abrindo o Mulheres do Brasil, na Alemanha, com a Luiza Helena, com um monte de mulherada, lá. E aí ouvindo falar disso aqui, a gente nem dando bola. A gente estava vivendo um carnaval na Alemanha, a gente no meio do pessoal, tudo normal. Pegando avião pra cá, avião pra lá. Aí cheguei no Brasil, a gente precisou ir até... precisamos ir até Vitória, pra resolver um problema de uma nova sede, abrir um polo em Vitória. Eu fui pra Vitória, voltei. Fui pro carnaval no Rio de Janeiro. Participei do desfile da escola de samba, vivi lá no carnaval do Rio de Janeiro. Aí já ia fazer outra viagem, falaram: “Não, mãe, vai pra fazenda” “Mas calma”. Bom, fui pra fazenda. Fiquei dois meses numa fazenda lá, março e abril, na fazenda. Aí foram os filhos todos. Aí veio a minha filha dos Estados Unidos. Veio a minha outra filha, de São Paulo. Foi tudo pra fazenda. Ficamos tudo na fazenda, isolados, eu e as crianças. No meio do gado. “Aqui não tem perigo, porque lá o bicho não vem”. Aquele sol do Mato Grosso, né? Fui lá pra Paranaíba, perto de Cassilândia, aquela região. Ficamos lá. E não deixavam a gente voltar: “Não, não vai voltar”. A empregada foi também, a família da empregada. Foi muito gozado. Mas aí ninguém aguentou. E volta. Aí volta todo mundo pra casa. E, assim, as empregadas tinham que tomar banho pra sair, tomar banho pra voltar. Pagavam pra elas virem num carro só, sempre no mesmo carro. Teste daqui, teste... foi o máximo. Isso na minha vida particular. Depois eu vou contar da empresa. Até que o meu filho Kelvin, um dia, isso mais ou menos em agosto, chegou um dia, ele falou: “Ah, eu não estou bem. Estou meio cansado. Estou com sono, vou dormir”. Ficou lá à tarde, passou uma tarde conosco. No dia seguinte começaram os sinais, né? Começou com os sinais, foi fazer o teste: positivo. No dia seguinte, todo mundo, eu, todo mundo, a família inteira, eu acho que até os cachorros, todo mundo pegou o Covid. Todo mundo. (risos) Mas como eu tenho um filho médico, ele já começou com a cloroquina. Fizemos lá, todos, a profilaxia tão famosa aí, coordenada, que eu acho ideal. Fizemos a profilaxia, todo mundo saiu bem, sem problema nenhum.
(45:23) P1- Lu, eu só vou precisar abrir a porta aqui. Um minuto. Você pode continuar, Sueli. Eu vou precisar abrir a porta, só. Peço perdão.
R- Tá bom. Então, tá bom. Então, foi isso aí. Depois, todo mundo teve. Aí acabou. Agora, aqui na empresa, como nós somos da área da saúde, nós tivemos que ter muitos cuidados especiais, né? Principalmente, com os nossos colaboradores, toda a parte de paramentação foi muito exigida. Nós criamos um comitê de crise com o Junior, que trabalha conosco aqui, da segurança do trabalho. E aí mandamos pra casa, com computador, todos os nossos funcionários que tinham riscos, os homens mais velhos, obesos, ou que tinha, assim, alguma das necessidades pedidas pela comissão de crise, pra ir pra casa. E nós ficamos muito felizes, nós não tivemos... acho que só um colaborador. No começo, um colaborador teve, mas pegou na família, não foi nem aqui na empresa. Eu acho que, na empresa, os nossos meninos das ambulâncias, trabalhando todos paramentados, fazendo muito transporte de Covid. Nas residências, também, muita medicação em pacientes de Covid. E nós não tivemos problemas, porque nós usamos todas as técnicas necessárias, exigidas pelo Ministério da Saúde, aí pelos órgãos competentes.
(46:48) P2- Muito bom. Sueli, e você tem a dimensão de quando... você começou o seu trabalho nesse ramo, prestando uma assistência, né? Você comprou a Caravan pra ser ambulância, você arrumou os equipamentos que precisavam alugar. Mas hoje é uma empresa grande, né? Em que momento você percebeu que ia precisar de um administrador, do contador, né? De ter staff do comércio, um staff de uma empresa mesmo, né, que é que virou.
R- Bom, à medida que a empresa... porque ela começou a crescer muito rápido. Ela começou a crescer muito rápido, a procura foi muito grande. E eu fui buscando pessoas pra me ajudar, né? O próprio escritório nosso, que dava assessoria pra gente, ele falou: “Sueli, você precisa já de um administrativo”. E na época que eu também montei a empresa, eu trouxe a minha secretária, do hospital, que era minha secretária lá, pra trabalhar meio período comigo. Então, ela trabalhava meio período no hospital, meio período à tarde, comigo. E aí pessoas que trabalhavam no hospital num período, vinham trabalhar comigo no outro período. Então, eu fui trazendo esse staff, ele vem vindo comigo. À medida que ia precisando, ele vinha vindo comigo. Mais enfermeiro, eu comecei a contratar. Aí eu já não dava mais conta, eu ir visitar os pacientes. Aí eu já tinha, eu contratei um enfermeiro pra visitar. À medida que foi aumentando, surgindo a necessidade, eu fui buscando esses profissionais. E o próprio escritório meu foi dando. Procurei ajuda no Sebrae. O Sebrae foi lá nos ensinar. Na época que começou o computador, o Sebrae foi lá, montar os primeiros computadores pra gente. Então, eu ia buscando. É o que eu falo: você tem crédito, você tem conhecimento, você vai buscando. E depois o jurídico também. precisava de jurídico, pra fazer os contratos. Aí você já contrata. Na época eu não podia contratar, eu pedi ajuda pro jurídico da família. Esse jurídico fez o comecinho. Depois, já começamos a contratar um jurídico. Devagar, a gente foi, assim, muito pé no chão. Muito pé no chão. Porque, como eu tinha o meu trabalho no hospital, eu trabalhava na Beneficência Portuguesa, eu tinha todo um trabalho lá, eu não podia me dedicar inteiramente. Então, devagar, pé no chão. Pé no chão, devagar. Então, fui buscando, assim, os profissionais, à medida que a empresa foi crescendo. Mas o boom maior dela, esse boom com tecnologia, com inovação, veio quando o meu filho veio trabalhar comigo. Porque o meu filho Kelvin fazia Administração em São Paulo, no Mackenzie. E, quando ele terminou a faculdade, ele falou: “Mãe, não quero voltar pra Rio Preto. Eu quero trabalhar com Bolsas de Valores. Eu quero seguir esse caminho. Eu quero seguir, pra trabalhar em Banco”. E ele fez estágio, na época da faculdade, em Banco, lá no Citibank. E ele queria continuar esse trabalho no Citibank. E a gente já estava num momento, há uns quinze anos, né? O Kelvin tem... quinze, vinte anos atrás, sei lá.
R2- Quinze anos.
R- Mas estava num momento que eu já estava tendo administrador, eu já estava tendo... a empresa estava num momento, que eu estava vendo que o crescimento dela estava pronto pra... sabe quando você está sentindo que está pronto pra explodir? Oportunidades de tudo quanto é lado. Aí eu falei pra ele: “Vem pra cá, que eu estou precisando de você” “Ah, não volto pra Rio Preto, não”. (risos) Aí eu roguei uma praga de mãe. Você tem filho, Claudia? Você tem filho?
(50:18) P1- Eu tenho.
R- Pega, não pega?
(50:19) P1- Pega!
R- Roguei uma praga. Ele chegava, ele foi chamado, chegou a fazer entrevista, aprovado pelo RH, foi tudo, mas ninguém o chamava. Daí eu falei: “Você vai vir pra empresa”. Aí veio. Ele veio. Aí ele veio, falou: “Olha, eu estou esperando, não sei o que, não sei o que. Eu vou ficar aí pra te ajudar”. Porque eu ficava: “Ai, eu estou precisando. Estou precisando”. Ele veio pra me ajudar. Eu segurei. Não foi mais. Aí, Luis, que veio o jovem, chega o jovem cheio de gás, cheio de energia, cheio de conhecimento da parte administrativa, financeira e comercial. E trazendo inovação, trazendo toda essa parte de tecnologia. Porque não era a minha praia. Não era a minha praia. A minha praia é a assistência, o olhar da assistência. E ele veio com o outro olhar. Aí arrebentou, né? Aí nós estamos hoje, nós “tamo que tamo” hoje, graças a ele. E veio também o Marcio Sansão, que é um engenheiro também. É um dos nossos diretores também, que veio também com esse olhar da engenharia, do crescimento, também, físico da empresa. Então, foi muito legal. A nossa capilaridade é muito grande.
(51:26) P2- E a comunicação na sua área, como funciona? Como vocês fazem propaganda?
R- Então, no começo, a gente... então, no começo, a nossa propaganda sempre foi muito boca a boca, né? Porque um vai falando pro outro, vai falando pro outro. Mas aí a gente começou a fazer propaganda. Inicialmente, como era muito pobre, era muro. Aí depois fizemos outdoor. Depois fomos fazendo rádio, programa de rádio. O Toledo, aqui de Rio Preto, foi um radialista que nos ajudou muito, muito, muito. Ele me entrevistava constantemente. Eu fazia palestras. Eu ia pros hospitais. Participava de congresso. Montava stand, botava show room nos stands. Na porta da minha loja, eu montei um quarto de hospital com um boneco deitado, todo mundo que passava, achava que tinha alguém doente ali, tomando soro. Fui fazendo de vários jeitos. Aí, depois, quando a gente passou a ter mais dinheiro, fiz televisão. Mas tudo muito devagar, porque o meu público vem do hospital. Esse meu público vem do hospital.
R2- Do plano de saúde.
R- A gente queria fazer a propaganda em massa, porque quando era só Cene, ninguém sabia o que era. Cene quer dizer Centro de Enfermagem Especializado. Mas aí ficou Cene Hospitalar. Quando eu botei hospitalar, no final eu botei hospital e um l, a, r. Porque aí eu fui contratando agências. E a agência foi, cada vez... o nosso logo mudou umas cinco vezes. Cada hora ia melhorando a nossa logo. Vinha: “Você precisa fazer isso, precisa fazer aquilo”. Aí vai sobrando um pouquinho de dinheiro, você também já vai investindo em marketing, né? Mas foi muito gozado, porque as pessoas nos procuravam. Então, a gente não precisava procurar ninguém. Eu sempre falo que eu sou muito abençoada. As pessoas me procuravam e me ajudavam, às vezes, até familiares dos novos pacientes: “Ó, você precisa melhorar isso, fazer isso” e tal. Eu gosto muito de ouvir. Eu ouço muito, então eu fico buscando, né? Eu falo que são os sinais que vêm de todos os lugares, eu pego os sinais. Então, eu falo que eu fui muito abençoada, tanto na parte assistencial, que as famílias gostaram. Tanto na parte dos colaboradores, que são... teve gente de trabalhar de graça pra mim, porque sabia que eu não podia pagar. Eu falei: “Olha, agora eu não posso pagar, porque...” “Ah, não, Sueli. Deixa que eu vou. Eu faço”, sabe? Então, um monte... família, os meus irmãos dirigiram ambulância. Ih, teve, assim, muita história, muita coisa boa. Tivemos muitos acertos, mas tivemos alguns erros também. Nós fomos multados, uma vez, porque estava dando nota de prestação de serviço, venda com prestação de serviços, misturaram as notas, lá. Veio um fiscal, me multou. O fiscal me multou, na época a multa dava três mil reais, a multa. Erros, né? Humanos. Nada de coisa errada, assim. Erro, não. A gente fazia notas de serviço na de... como é? Notas de venda na nota de prestação de serviços. Coisas assim. Erro, né? Erro humano. E aí veio, aí pegou, eu recebi uma proposta de: “Ó, se der uma grana aí, resolve”, não sei o quê. E eu não gosto de corrupção, sou uma pessoa que eu gosto das coisas muito certas. Eu falei: “Não. Não é correto. Não vou dar dinheiro nenhum, não”. Essa multa virou cem mil reais, porque eu não dei dinheiro. Foi não sei pra onde, foi pra outro lugar, foi não sei o que, demora pra pagar. Eu paguei esses cem mil reais, parcelado. Mas não dei. Não fiz nada de corrupção. Porque é uma coisa que a gente tem um credo, na empresa, que não é pra fazer nada errado. Porque a gente mexe com saúde, a gente mexe com vida, não é? Não pode ter coisas erradas. Bom, resumindo, depois esse fiscal, até, já nem existe mais. Morreu, sei lá o que aconteceu. Eu joguei praga nele também. Bom, então, e a minha praga pega, viu? Pega, Marcela?
R2- Opa.
R- Pega, a minha praga. Porque eu não faço nada de maldade pra ninguém.
(55:38) P1- O santo é forte, né, Sueli?
R- Eu não faço nada de maldade pra ninguém. Eu só procuro ajudar as pessoas. Porque querem fazer maldade com a gente, não é? Então, pega. Bom, e aí é isso aí. Então, a gente procura seguir no ritmo, até hoje, a gente procura seguir o nosso credo da empresa, aquilo que nós acreditamos.
(56:00) P1- Ô, Sueli, eu queria que você falasse um pouco num ponto que você tocou também, sobre a loja, né? Aonde ela estava instalada, primeiramente, assim? Como era o ambiente da loja? O que vocês vendiam, alugavam?
R- Ahh, eu tenho foto. Muito legal essa pergunta, gostei muito. Quando eu resolvi montar o serviço, nós tínhamos uma casa que foi do meu marido, quando ele era criança. Uma casa ali na Rua Penita, aqui no Centro da cidade. E ela estava alugada. Estava alugada. Era uma casinha velha, que era a casa deles, onde eles nasceram, foram criados. Estava alugada e eu pedi a casa. Então, nessa casa ali, ali eu montei numa sala, eu montei a loja. Do outro lado estavam as muletas, as cadeiras, as coisas. No outro lado, ficava o pessoal trabalhando. Era tudo ali, naquele cantinho. Ali na Rua Penita, num cantinho. E aí, menina, começou a crescer, chegar caixa, caixa, material, material, material. E aí nós tivemos que alugar uma maior, em frente ao Hospital Beneficência Portuguesa, exatamente pra ficar mais perto do meu trabalho ali, né? E alugamos ali. E isso, lá, essa loja lá tem mais de trinta anos, também. É bem antiga. Porque foi logo que nós fizemos... alugamos lá. E aí foi a hora que deu o boom. Porque aquela ali já não comportava mais. Então, era uma lojinha, que foi tão gozado. A gente não tinha dinheiro, na época. Sabe quando você faz umas prateleiras, assim? Três, quatro prateleiras, coloca os produtinhos ali, tudo em caixa. Mas eu não tinha nenhum conhecimento de loja, de organização, de nada, né? (risos) Era pra ter, pra gente ter certeza que não ia faltar pro paciente, era o olhar do paciente. Então, ela foi bem simples, bem-feita pelos próprios funcionários. E depois nós alugamos também. Aí nós melhoramos um pouco mais, fizemos uma fachada bonita. Aí já tinha uma empresa dando cobertura. Foi também tudo feita com carinho, com amor e com a ajuda de todo mundo.
(58:03) P1- E agora, assim, onde vocês estão instalados, Sueli? Imagino que tenham crescido muito, as instalações, né?
R- Nós estamos no Brasil inteiro, né? Nós estamos, hoje, atendendo todo o Brasil. A nossa primeira expansão surgiu em Araçatuba. A gente já estava num momento grande, atendendo aqui. Aí uma operadora de saúde falou se a gente não atenderia um paciente em Araçatuba, que era um juiz, uma pessoa muito conceituada na cidade, jovem ainda, que teve um AVC fazendo uma caminhada, demorou ter assistência e ele estava com problema de sequelas graves. E aí a gente não tinha nenhuma estrutura pra atender em Araçatuba. E aí eu falei: “Vamos. Vamos atender esse paciente”. Eu falo uma coisa pra vocês, três meses eu paguei pra trabalhar. Porque era um vai e vem de carro, leva, puxa coisa, leva material. E foi aí que nós resolvemos abrir a primeira loja em Araçatuba, pra poder atender aquele paciente. E aí, quando abrimos a loja em Araçatuba, aí começou a nossa expansão, porque nós vimos que poderíamos, sim, atender outras cidades. Aí abrimos Araçatuba, depois Bauru, Ribeirão, Fernandópolis, Campinas. E a gente foi indo. E, no interior de São Paulo conseguimos atender, naquela época já, quase todo o interior de São Paulo. E já alguns já expandiam: loja e home. Outros loja, home e ambulância. Outro, locação. E uma coisa que a gente procurou fazer é prestigiar a cidade. Por exemplo: Araçatuba, como tinha serviço de ambulância, nós fizemos parceria com a ambulância de lá e levamos só loja e o home care. Então, a gente não tinha interesse de ganhar dinheiro e nem brigar com ninguém, era atender o nosso paciente. Já tem ambulância, vamos fazer uma parceria? Tem uma loja grande na cidade? Não precisa de loja? Então, precisa de ambulância? Vamos levar ambulância e home care. Vamos sempre valorizando, também, os serviços das outras cidades.
(01:00:10) P2- E nos outros estados? Você disse...
R- É. Então, aí nós fomos, começamos a atender Fortaleza, paciente lá no Nordeste, Fortaleza. Tínhamos paciente em Fortaleza, em Recife, em São Luís do Maranhão. Aí montamos uma estrutura que já deve ter uns dez anos. Montamos uma estrutura de loja e home em Fortaleza, que atende toda a região. Eu estava em Fortaleza, cheguei de lá, antes de ontem, por isso que eu pedi pra transferir pra hoje, porque eu estava chegando. Então, Fortaleza. A gente, agora, vai abrir em Recife. Porque em Recife está aumentando muito o número de pacientes. Temos paciente também em São Luís do Maranhão. E Manaus, quando teve aquele, vocês lembram aquele problema do oxigênio em Manaus, aquela crise?
(01:00:54) P1- Sim.
R- Nós tínhamos cinco pacientes em Manaus. O que eu fiz? Nós mandamos um enfermeiro nosso, de Fortaleza, levar oxigênio pra Manaus. Ele saiu com oxigênio. Concentradores de oxigênio, são os equipamentos, não sei se vocês conhecem, que produz o oxigênio. Eles levaram. Esse menino foi pra lá dar assistência aos nossos pacientes, novos pacientes que a operadora falou: “Pelo amor de Deus, eu preciso”. E a gente foi pra lá, deu o suporte. O que a gente faz com isso? Você acaba ganhando mais credibilidade e vem mais paciente.
(01:01:30) P2- Sim. E você disse Vitória também, né? No Espírito Santo. Tem mais lugares.
R- Então, nós fomos pra Vitória, no Espírito Santo, também. Isso eu fui no começo de 2020, na época que começou estourando, a pandemia. Mas não andou, Vitoria, ainda. Vitória não andou, porque todos os contatos, tudo o que nós fizemos lá, parou, né? Com a pandemia nós paramos. Ficamos dando só a cobertura nos lugares que nós temos. Hoje nós também estamos em Brasília. Estamos montando em Brasília. Campinas é um centro grande nosso. E agora, Brasília, parece que está, a última reunião que nós tivemos, nós vamos preparar, já, também, uma base em Brasília, porque está aumentando muito o número de pacientes. Santos, nós estamos também preparando pra Santos, tem bastante paciente, nós devemos levar ambulância pra lá, porque está precisando. É assim: à medida que o local começa a crescer e começa a ter paciente, a gente vai com a estrutura. Nós temos os nossos enfermeiros da expansão. Nós temos os nossos enfermeiros que fazem, que são os nossos gerentes. E nós temos os coordenadores, em todas essas cidades. Todos CLTizados, que vestem a camisa da empresa, que trabalham, que conhecem a essência da empresa. Porque uma das coisas que eu ainda estou ativa é que, nessa expansão, a gente consiga levar a essência da empresa, que é um tripé, que eu chamo. Que é a parte da qualidade da assistência, a gente ter pessoal treinado, cuidando do paciente. A segurança da família, de saber que os equipamentos e que ele pode levar o paciente pra casa, porque ele vai estar seguro, que nós vamos ter, além do pessoal treinado, equipamento necessário pra atendê-lo, naquele momento. E a mais importante do tripé, que eu chamo, que é a parte da humanização. É levar a humanização. Eu não posso deixar que perca isso, porque o crescimento nosso é um trabalho humanizado. Eu trabalho muito a assistência do funcionário na residência, tratando aquele paciente com carinho, com amor, humanizar tanto ele, como a família. E aí, quando a empresa começa a crescer, você perde essa... eu não sei agora, eu falo, eu estou aqui, agora com vocês, eu não sei o que está acontecendo nesse Brasil inteiro com os nossos pacientes, quem está na residência, quem está cuidando, o que está acontecendo na casa desses pacientes. Nós temos em torno de mil e quinhentos, sei lá quantos pacientes, hoje. Isso, internados, realmente. Fora os que nós temos só com atendimento pontual, que é: vai, só faz o soro, só faz um medicamento, só dá um banho, faz um curativo. Tem os pontuais, também. Então, eu fico pensando: “O que está acontecendo nessa residência? Será que estão cuidando direito? Será que estão?” Porque quando eu tinha embaixo dos meus olhos, eu sabia. Hoje... por isso que eu fico muito preocupada, fazendo esse trabalho de humanização com o meu time, ainda. Porque, se eu conseguir deixar outras pessoas que vão multiplicar isso, aí eu vou começar a ficar mais tranquila, entendeu?
(01:04:37) P1- Sueli, você falou uma coisa, assim, que eu achei muito interessante. Essa questão, assim, de articular toda uma estrutura pra atender pacientes que estavam muito necessitando, nesse momento da crise, da pandemia, né? Como é que os serviços de vocês alteraram, aumentaram, em função... porque eu fico imaginado, que nesse pós-pandemia, tem muita gente precisando de home care. Eu não sei se eu estou certa ou se eu estou errada.
R- Tá. Está certa. Está certa, sim. No começo foi difícil, porque a família não queria que o profissional entrasse em casa. Nem os que já estavam nós. Não queria que ninguém entrasse em casa. Todo mundo estava com medo, né? Não é assim? Todo isolado. Tanto é que me botaram na fazenda. Ninguém queria nem que o nosso profissional entrasse em casa. Todo mundo estava com muito medo. Então, foi assim complicado, o começo. Mas depois, lava a mão, se paramenta. Aí a família começou a aceitar mais. Aumentou, sim, muito os cuidados, agora, principalmente pós-pandemia, a gente teve muito mais pacientes. E aumentou bastante o nosso trabalho. Com certeza, estão vindo mais e mais pacientes. Mas muito mais pra fisioterapia, do que propriamente pra enfermagem. É mais fisio. Então, o serviço de fisio e remoção, né? As ambulâncias agora não param, né, é muito serviço.
(01:06:08) P1- Eu imagino.
(01:06:08) P2- Ô, Sueli, os seus fornecedores de material, de equipamento, é tudo importado? É coisa do Brasil? Quem fornece pra você?
R- Nossa, boa pergunta. Essa aí a gente tem, a gente compra das empresas brasileiras, né? Nós temos vários parceiros, né? Nós temos um time grande, são cinco, hoje eu tenho cinco funcionários só pro setor de compras, porque compra pro grupo todo, né? E nós temos aqui na sede, a nossa farmácia encaminha tudo, com logística, pra casa dos pacientes, tudo com caixa fechada. Nós temos um robô na farmácia. Hoje a gente está cheio de coisa bonita, né? Tudo ¬certinho, seguindo os padrões, caixa bonita, identificada, né? Antigamente a gente mandava em saco plástico. Agora é tudo com caixa bonita. Então, a gente compra tudo. Mas o que... você lembra que eu te falei que eu gosto de desafios? A gente gosta de inovação, né? Nós fomos pra maior feira de materiais da China. Nós fomos pra Xangai, numa feira, buscar novidade. E a gente tem uma marca própria nossa, hoje, que é a Eurocare, que é uma marca própria do home. E nós trouxemos pra cá, cadeiras motorizadas, cadeiras que a gente está vendendo, que sobe escada, que desce. A gente foi buscar camas. Nós temos andadores com freio, com rodinha, com lugar pra sentar. Nós fomos buscar material fora. Por quê? Até mesmo pras nossas ambulâncias. Colchões. Hoje nós temos colchões pneumáticos, pra pode evitar feridas, né? São escaras que vão se formando no paciente que fica muito tempo deitado. Então, nós temos, assim, muita inovação. E hoje as nossas lojas estão vendendo tudo com... como é que chama?
R2- E-commerce.
R- E-commerce. Tudo vendendo por e-commerce. Fazendo entrega. O que aconteceu? Cada uma delas, cada um desses setores foram crescendo nos seus segmentos. E viraram negócios diferentes. E aí o meu filho, que trouxe toda essa parte de inovação e tecnologia, está trazendo um programa, que é o SAP, que é um programa “carésimo”, que eu falo que é “carésimo”, mas que está pra poder fazer integrar tudo isso. E nós estamos já num momento, já foi colocado. Porque nós temos, além do home care, a loja que aluga e vende materiais hospitalares. A gente tem, nós temos, da prótese, que é...
R2- Distribuidora.
R- Uma distribuidora. Nós somos, hoje, representantes da Johnson & Johnson. Vendemos as próteses mamárias da Mentor. E aí, nessa distribuidora, ela também já está com o programa SAP, instalado. As lojas já estão com o programa. Então, já está integrando todas elas. Então, tudo isso já está sendo integrado. Então, nós temos essa marca própria. Nós temos a loja, a distribuidora. Agora, nas nossas ambulâncias, a gente tem o atendimento pré-hospitalar. Eu não sei se você sabia disso. Esse atendimento pré-hospitalar é como se fosse um Samu particular. Nós temos médico vinte e quatro horas ali na ambulância. E toda emergência, a nossa ambulância vai, dá um suporte na casa. Se precisar, leva pro hospital, senão, tudo, até sutura, tudo faz em casa. Dá um suporte na casa. E nós temos área protegida com as empresas, que tem área protegida com o nosso atendimento pré-hospitalar, pra evitar levar o funcionário, ou pra ele faltar. Então, atende o funcionário dentro da própria empresa. Então, são todos os serviços que estão integrando agora no SAP. E a gente tem também, agora, foi criada recentemente uma central médica vinte e quatro horas, que chama Central Clínica, pros nossos clientes falarem com os nossos médicos, pra que eles deem um suporte necessário, que as famílias precisam em casa. A gente está, assim, dentro de cada um dos segmentos, crescendo separadamente. Foi bom, né, tudo isso.
(01:10:33) P1- Maravilha. Sueli, como é que, assim, você falou do Kelvin, né? Mas eu queria que você falasse dos filhos, assim.
R- Pois é. Eu pulei essa parte, né?
(01:10:42) P1- O nome de todos. Quando eles nasceram.
R- Então, eu pulei. Eu pulei, já comecei a falar da empresa. Eu acho super importante apresentar a minha família, né? Então, como eu falei pra você, quando eu vim pra cá, três meses trabalhando, eu já engravidei do Kaiser Junior, ele é médico. Hoje ele é médico, seguiu a profissão do pai. Quando o meu marido faleceu, ele ficou com toda a clínica, né? Eles já estavam juntos. Toda a parte de procto. E ele cresceu mais ainda a clínica, porque o meu marido era proctologista. E ele não. Ele faz toda a parte de cirurgia bariátrica. Ele opera só videolaparoscopia, né? Ele fez a Medicina, depois ele fez mais seis anos de residência. Fez dois de cirurgia geral, dois de procto. Fez um ano na Cleveland Clinic, nos Estados Unidos.
(01:11:33) P1- Nossa!
R- Depois ficou mais um ano na França, fazendo cirurgia bariátrica e endoscópica. Então, ele só opera por endoscopia. E ele está tocando a Kaiser Clínica, que hoje é um hospital-dia. E esse hospital-dia também já entrou no Grupo Cene. Está entrando. A gente vai ter, agora, o suporte do hospital. Então, o Kaiser Junior é casado. Tem três filhos. Um casal de gêmeos. Me deu gêmeos: um menino e uma menina. E a Flávia, que é a mais velha, de dez anos. A Flavia tem onze e os outros têm dez anos, os menores. E bem depois tem a Vanessa, que é a número dois, que nasceu em 1970. Ele nasceu em 1972. Em 1974, nasceu a Vanessa, que é casada, mora em São Paulo. Ela fez Administração também, no Mackenzie. Mas hoje ela está de mãe. Ela tem uma filha de doze, de treze anos. E agora, com quarenta e seis anos, ela teve gêmeos. E agora, teve mais uma de um aninho. Também, tudo assim, né? Então, estou com esse neto, está tudo aqui em Rio Preto, desde março, quando nós fomos pra fazenda, até hoje. Tanto é que ela está na minha casa. Eu mudei pra outra casa, porque não dava todo mundo lá dentro. Então, está aqui em Rio Preto. Está super bem, também. Uma menina maravilhosa. Aí depois, em 1976, dois anos depois, eu tive a outra, a Carla, que também fez Administração no Mackenzie. Não. Ela fez Comércio... ela fez...
R2- Comércio exterior.
R- Ela fez Direito. Não. Ela fez Ciências Contábeis. Ela fez duas faculdades. Mas ela usa, trabalha... não trabalha também. Está morando, hoje, em...
(01:13:24) P1- Eu vou precisar dar uma saidinha de novo, mas pode continuar.
R- ... está morando em Dubai. Está morando em Dubai. O marido dela foi pra lá. Ela está em Dubai. Tem um filho americano. Morou nos Estados Unidos, dez anos e agora está em Dubai. Também, hoje, está aqui em Rio Preto. Veio visitar Rio Preto. Veio de férias com as crianças, está aqui com a gente. E o mais caçula, que nasceu...
R2- E ela tem dois filhos.
R- Ah, e ela tem dois filhos. Um é americano, nasceu nos Estados Unidos. E tem a Helena, que nasceu no Brasil, foi com ela pros Estados Unidos, na época. E tem o meu caçula, que é o Kelvin, né? Que ele, hoje, é o meu braço direito, braço esquerdo, a minha perna, tudo, aqui na empresa. E ele é um menino de ouro, muito inteligente. Que casou agora, recentemente. E está grávido, vai me dar o décimo neto. Então, os filhos resolveram me dar neto, tudo agora, no final. Quer dizer: tem o bebê de três anos, a pequenininha de um aninho, vem vindo o do Kelvin. (risos) E os outros, tudo com nove, oito, dez, onze, doze aninhos. Então, é isso aí. Eu estou num momento muito feliz da minha vida, em que a gente está uma família muito unida. Tanto a minha família, eu com os meus filhos e eu e meus irmãos. Nós continuamos unidos, os oito irmãos. A gente se reúne sempre nos aniversários, porque a gente não pode mais reunir em data de festa, porque cada um, agora, com os filhos, mudou tudo. Mas uma forma da gente unir os irmãos, ainda, é nos aniversários. A gente, no aniversário, todo mundo se encontra. Assim, tanto particular, quanto profissional, graças a Deus, teve, assim, uma evolução muito boa. Eu falo que eu sou abençoada, porque eu tenho bons amigos, tenho funcionários... eu chamo nem funcionário, nossos colaboradores são, assim, fantásticos, né? Nos acompanham. Tem gente, aqui comigo, que está com trinta, todos aposentando, aqui, que começaram com a gente. Então, eu me sinto uma pessoa realizada, tanto profissionalmente, como na minha vida social e familiar.
(01:15:32) P2- Que legal, Sueli. E isso a gente pergunta pra todo mundo que a gente entrevista: o que você gosta de fazer, quando você não está trabalhando, assim? Qual é a sua diversão? O que você curte fazer?
R- Olha, eu sempre gostei muito de dançar. Quando eu conto isso pras pessoas, ninguém acredita, né? Eu sempre gostei de dançar. E era, sempre foi o meu hobby predileto, dançar. Joguei tênis muito tempo, também. Então, um período, eu jogava muito tênis, quando eu estava com o meu marido. Todo mundo jogava tênis. Depois eu parei com o tênis. E agora eu gosto de ver filmes, né? Nunca mais vi a TV aberta, né? Agora, todo o tempo que eu tenho, eu procuro assistir um bom filme. Ler, eu não tenho muito tempo pra ler. Eu sou sempre muito atrasada nos meus “whatsapps”, na minha comunicação, mas... e gosto de viajar, né? Hoje... e a família, né? Fundamental: família, viagem, filme. Tem, assim, uma sequência, né? Se eu puder estar com a família, pra onde eles vão, a gente combina. Mês de junho agora, eu fiquei todo junho lá em Dubai. Julho eu cheguei, não consegui ficar, fiquei acho que três dias em Rio Preto. Nós fomos pra Campos, depois fui pra Fortaleza. Já estão programando, agora, Dia dos Pais, eu não sei pra onde. É juntar a família pra comer, pra viajar, pra ficar junto e isso aí.
(01:17:02) P2- Muito bom.
R- Eu gosto de estar em contato com gente, sabe? Eu gosto, adoro isso.
(01:17:11) P2- Que legal. Sueli, só faltou mais uma pergunta da empresa, que eu acho que é importante: os clientes de vocês pagam por serviço ou eles podem fazer um plano como é a Unimed, assim?
R- Não. Nós temos várias formas. O cliente particular paga por serviço, né? A gente tem o que a gente chama, que é o atendimento pontual Disque Enfermagem, que é direcionado pro paciente particular. Que é um grupo que vai visitar a família, conversa, a família vem aqui e negocia. E as outras são pelas operadoras de saúde. A operadora nos encaminha os pacientes que estão no hospital, que já estão... porque, pra operadora de saúde, é muito mais barato, é muito mais conveniente tirar o paciente do hospital e levar pra casa. Exatamente pra evitar infecção porque, se ele ficar muito tempo no hospital, ele pode pegar uma infecção. E pelo preço do paciente em casa, dá em torno de trinta a sessenta por cento mais barato que um hospital. Então, a operadora... a gente vai no... ela nos encaminha o paciente. A gente vai no hospital, vê a necessidade, encaminha pra operadora, a operadora autoriza, a gente leva pra casa. E ela paga pra gente, depois de, como eu te falei, trinta dias de atendimento, fecha a conta, encaminha pra operadora, ela analisa e depois nos paga.
(01:18:37) P2- Perfeito.
R- É a forma de pagamento que a gente tem. E as ambulâncias, a gente tem vários planos: plano familiar, plano individual. Pro...
R2- Pra Cenemed.
R- Pra Cenemed, que é o atendimento pontual, eles nos pagam por procedimento, por viagem. Ou pagam mensal, pra poder ter uma área protegida e ter cobertura familiar. Bem baratinho. Não me lembro quanto, mas é bem baratinho.
(01:19:07) P2- Legal.
R2- Doze e noventa.
R- Quanto?
R2- Doze e noventa.
R- Doze e noventa por mês, pra você ter uma cobertura de médico, vinte e quatro horas com enfermagem e socorrista da sua casa.
R2- Pra urgência e emergência.
R- Pra urgência e emergência. Tudo aquilo que você precisa sair pra procurar um ambulatório, ele vai lá, faz, resolve em casa. Ou leva pro hospital ou resolve em casa. Doze e noventa por mês. Baratinho, né?
(01:19:32) P2- Muito bom. Ô, Sueli, a gente já está encaminhando, então, pro final. Eu gostaria de saber se alguma coisa que você esperava que a gente perguntasse, que queria falar e a gente não perguntou. Porque, às vezes, acontece, a pessoa falar: “Eu achei que ele ia falar disso, daquilo”.
R- Bom. Não. O que eu posso dizer pra vocês é o seguinte: foi uma empresa que começou por uma necessidade do hospital. E que ela tomou, assim, um vulto muito grande, pelo fato de você ter um público, você ter um público precisando. E a gente estar oferecendo um serviço diferenciado. Diferenciado porque a pessoa só dá valor nesse serviço, quando ela precisa. Ninguém imagina o que é você ter uma pessoa doente em casa, sabe? E aí o retorno disso é muito grande, das pessoas te procurarem, te agradecerem, falarem: “Puxa, que coisa boa!”. Como veio um médico que chegou pra mim e falou, assim: “Sueli, eu estou com um problema sério com o meu filho. O meu filho esta mexendo com drogas. Meu filho, eu nunca imaginei”, naquele sofrimento. “Você tem condições de levá-lo pra uma clínica especializada, lá não sei onde?” - deu o endereço, não vou falar detalhes - “Você tem o endereço” “Pode ficar tranquilo, que a gente vai resolver”. Aí você pega um pessoal que vai na residência, consegue pegar esse menino num momento que não está bem, que está acelerado, agitado. Leva. Resolve pra família. Depois a gente chega, assim: “Olha, obrigada”. E outras coisas mais. Então, aquele momento do sufoco: “O que eu faço?”, né? Nós resolvemos, resolve.
(01:21:23) P2- Sim.
R- Então, eu acho que vocês foram, assim, maravilhosos. Eu adorei conversar com vocês. Falei de coração, né? Falei a minha vida pra vocês, como foi, tudo. E dizer que o meu ídolo maior, que sempre me incentivou, que me deu essa energia toda pra fazer, assim, foi a minha mãe, que tinha... era uma mulher muito à frente do tempo, eu falo. Porque era ela, naquela época, uma mulher que já trabalhava, uma mulher decidida, que me aconselhava, que me falava, ela falava: “Casa com diploma”. Porque eu, naquela época, eu era novinha, bonitinha, né? Propostas de casamento: “Pensa bem. Case primeiro com um diploma. Depois você escolhe marido”. Então, ela fez isso com todos os meus irmãos. Foi, assim, uma pessoa, uma mulher que, mesmo trabalhando, com esse monte de filhos, ela soube direcionar toda a família. Então, isso eu falo que é fundamental, né, quando você tem bons conselheiros, quando você tem pessoas que te mostram o caminho, te norteiam, que te dão esse suporte de vida, te orientam. Então, eu só tenho que agradecer tanto a minha mãe, que eu falo que foi o meu ídolo. O meu pai era muito bom, maravilhoso. Mas a minha mãe era, assim, ela comandava a família, né? E aí é por isso que eu gosto e que eu sempre valorizo muito o trabalho da mulher. Hoje eu participo... nossa empresa tem vários prêmios, eu não falei isso pra vocês. Nós temos o prêmio WEPs, que é o empoderamento da mulher, que é autonomia da mulher no trabalho, direitos iguais, oportunidades iguais. Nós temos três prêmios. Nós fomos ouro na categoria WEPs, que tem sete princípios de empoderamento. Nós fomos três vezes, ouro. Esse ano nós ganhamos o diamante, né, que é o máximo dos máximos, que nem existia. A única empresa que tem três ouros e um diamante, somos nós, do Cene, participando só com grandes empresas do Brasil. Tem grandes, médias e aí as pequenas, nós somos... nós ganhamos agora, recentemente, do governo federal, de novo, um selo de pró-equidade e gênero, que valoriza tanto o trabalho masculino e feminino dentro das empresas, oferecendo oportunidades que outras empresas não oferecem. Nós temos licença estendida pras mulheres, de seis meses da licença-maternidade. Temos sala de amamentação, pra que as mulheres possam amamentar após a licença-gestação, continuar amamentando os seus filhos. A gente tem salas de estudos, pra que eles possam estar desenvolvendo, estudando, pra não precisar fazer isso quando vão pra casa, um local pra estudar. Temos sala de recreação. Valorizamos o trabalho das mulheres. Damos, assim, oportunidades iguais. E a empresa que se preocupa com o trabalho feminino, né? Então, além desse prêmio, nós temos diversos outros prêmios, várias oportunidades aqui dentro. É uma empresa que você escuta falar: “Eu quero trabalhar na Cene, porque ela valoriza o trabalho da mulher. É uma empresa que valoriza o funcionário”. Então, isso tudo nos enche, assim, de muita alegria, de muita satisfação. Que bom que nós podemos proporcionar tudo isso pros nossos colaboradores e fazer com que essa empresa seja uma empresa... hoje a gente está numa área grande, três mil metros, três mil e duzentos metros quadrados. Vocês podem conhecer. Vocês são de São Paulo ou de Rio Preto?
(01:25:00) P1- Eu estou em Bauru. A gente está em Bauru.
R- Nós temos aí em Bauru, a Cene em Bauru. Você é de Bauru também?
(01:25:08) P2- Eu também.
(01:25:08) P1- O Luís Paulo também.
R- Vocês não querem vir conhecer a nossa empresa? Eu tenho imenso prazer em recebe-los!
(01:25:12) P1- Com certeza. Com certeza, iremos. Vamos, vamos.
R- Venham conhecer o que nós oferecemos pros nossos colaboradores. Eu gostaria imensamente. Seria um prazer.
(01:25:22) P1- Vamos. Nós vamos, sim.
R- Tem outra coisa que eu não falei pra vocês e que eu lembrei agora: nós temos, depois de tantos anos, começamos governança na empresa. Hoje, nós estamos com governança corporativa. Temos diretores. Estamos seguindo toda... ah e temos também, como é que fala quando o funcionário começa a crescer?
(01:25:39) P1- A progressão de carreira.
R- A progressão de carreira. Temos a governança. E temos dois conselheiros de São Paulo, que nos dão cobertura. Nós já montamos o Conselho de família. Já tem uma das minhas filhas, a Carla, que é presidente do Conselho de família. A gente se reúne também pra... nossa, tem muita coisa pra contar.
(01:25|:59) P1- Nossa, que maravilha. Então, mas a gente vai conhecer, sim, Sueli.
R- Eu gostaria, viu, Claudia e você, Luís, que viessem aqui conhecer a nossa empresa, passar uma tarde conosco. Vai ser um prazer.
(01:26:10) P1- A gente vai, sim.
R- Aí depois a gente marca. Mas vem com tempo pra gente fazer um happy hour e tomar um vinho.
(01:26:16) P2- (risos) Tá bom. Pode deixar.
(01:26:17) P1- Maravilha. Está combinado. Agora, a última pergunta que eu gosto de fazer, Sueli. Assim, a nossa entrevista é um pouco diferente, ela não é uma entrevista jornalística, né? Você contou a sua história, a sua trajetória desde menina, ali do Rio, carioca, né? O que você achou dessa experiência de ter deixado a tua história de vida registrada, a história da empresa, pra um projeto como o Memórias do Comércio? Assim, deixar esse olhar pra trás, para o Museu da Pessoa?
R- Olha, eu achei fantástico. Eu estou, assim, muito agradecida de ter tido essa oportunidade. Porque, nem sei se as pessoas vão ler, porque hoje em dia está todo mundo sem tempo. Mas mostrar pras pessoas que os sinais existem. E que as oportunidades estão abertas, assim, em todos os lugares e as pessoas, às vezes, não veem. As pessoas não conseguem ver, eu vejo. Eu estava no salão, há pouco tempo, eu estava no salão falando sobre o Rotary. Porque eu também sou governadora do Rotary, fui dois anos governadora do Rotary. Eu tenho outras atividades. Participo do Mulheres do Brasil. Agora, eu vou ser embaixadora do Rotary, de uma zona de quinze distritos. Milhões de outras coisas, eu faço. Eu estava no salão agora, conversando com uma menina... Aí, eu olhando ali, eu tive um monte de ideias: “Por que você não faz isso? Por que não faz...” “Ah, eu não tinha percebido”. Está na cara das pessoas e as pessoas não conseguem ver. Então, pra que as pessoas comecem a olhar, olhando pras coisas. Eu falo: “Você tem que olhar olhando. Porque, às vezes, você olha, assim e não vê as oportunidades”. Então, a minha mensagem é que as pessoas comecem a olhar olhando, pras oportunidades que estão em todos os momentos, em todos os lugares, que eu chamo de sinais. Os sinais estão, assim, ó, do nosso lado e as pessoas não conseguem enxergar.
(01:28:04) P1- E contar a sua história?
R- E dizer que não tenha medo de investir, não tenha medo. Vá em frente. Acredita e vai em frente. É isso aí. Obrigada, viu, gente. Muito obrigada. Parabéns pelo trabalho de vocês!
(01:28:14) P1- E contar a sua história? Foi bacana?
R- Oi?
(01:28:18) P1- Contar a sua história, foi interessante pra você?
R- Foi legal, porque foi puxando da memória, né, coisas que eu convivi. E não... eu acho que eu não contei pra ninguém, né, Marcela? Assim, com detalhes, como eu contei pra vocês, eu acho que não. Normalmente, o pessoal pergunta da empresa, você fala da empresa, como começou. Mas não assim. Vocês me puxaram coisas, assim, interessantes da minha memória. Até como eu conheci o meu marido, né? Foi muito legal, né? Saindo “faisquinha”, assim, né? Então, eu acho legal. Eu achei muito boa a entrevista. Foi uma das melhores, até, que eu já fiz. Gostei muito!
(01:28:57) P2 – Que legal!
(01:28:57) P1- Maravilha, Sueli. Então, em nome do Museu da Pessoa, do Sesc... oi, você tem mais alguma pergunta?
(01:29:04) P2- Não. Essa é pra você. Como vai fazer as fotos?
(01:29:10) P1- Não. Espera aí. Espera aí. Vamos terminar. Então, assim, em nome do Museu, do Sesc São Paulo, eu agradeço, Sueli, a sua atenção, a sua disponibilidade. Foi uma entrevista maravilhosa. Você pode ter certeza que muitas pessoas vão ler e vão acessar. E vão se inspirar também.
R- Eu vou ficar muito feliz, se eu puder ajudar alguém. Eu vou ficar muito feliz.
(01:29:32) P2- Obrigado.
(01:29:32) P1- Maravilha. Eu vou pedir pro Magano desligar o gravador.
R- Tirar foto. Tirar foto?
(01:29:37) P1- Não. Aí, assim, eu vou combinar com a Marcela um dia, que a gente vai mandar um fotógrafo, pra fazer um ensaio fotográfico com você. Se o Kelvin estiver junto, seria bacana se a gente conseguisse fazer de vocês dois. Mas, assim, o principal é você, Sueli. E aí, eu já combinei com a Marcela, da gente pegar algumas imagens antigas suas, assim, da sua trajetória, desse momento de enfermeira.
R- Tem bastante.
(01:30:03) P1- Então, ela falou. Ela falou.
R2- Aí você me passa, Claudia, o que você for precisando, a agenda, eu vou alinhando tudo aqui.
(01:30:10) P1- Tá.
R- Tem uma senhora aqui, a Dona Diva, que ela cuidou de todas essas fotos. Porque tinha muita foto minha, das crianças. Então, ela montou tudo. Ela é uma bibliotecária aposentada, que cuidou de toda essa parte pra nós. Então, não está difícil.
(01:30:24) P1- Nossa! Não, e foi lindo. Foi lindo. Você sabe que a gente, eu e o Luis Paulo, terminamos um trabalho também, mas depois a gente comenta, o dia que a gente for tomar o vinho aí, a gente comenta.
R- Mas olha, eu vou esperar, se você não vier, eu vou ficar brava, viu? Eu vou ficar triste. Vocês venham!
(01:30:40) P2- Eu adorei Rio Preto. Nós vamos ter que ir aí, sim. Tá bom?
R- Vocês vêm? Então, avisa quando pra Marcela.
(01:30:45) P1- Não. E a gente quer, agora, lançar o livro, o livro do comércio, tudo pro ano que vem, acho que vai dar tudo certo, se Deus quiser.
R- Ah, mas não vem só o ano que vem, não. Vem esse ano.
(01:30:54) P1- Não, a gente vai antes. (risos) A gente combina um dia, o Luís Paulo e eu, eu e o Luís Paulo, a gente pega o carro e vai, sim, tomar... conhecer a empresa, tudo, né?
(01:31:02) P2- Vamos, sim. Muito obrigado. Foi um prazer te conhecer. Obrigado.
R- Foi um prazer também conhecer...
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