Projeto: Diversidade e Inclusão no Mercado Financeiro - Banco Pan
Entrevista de Bia Santos
Entrevistada por Bruna Oliveira
São Paulo, 19/08/2022
Entrevista n.º: PCSH_HV1231
Realizada por Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisada por Bruna Oliveira
P/1 - Bia, pra começar, eu queria que você dissesse o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R - Bia Santos. 26 de março de 1996. Rio de Janeiro.
P/1 - E quais os nomes dos seus pais?
R - O nome da minha mãe é Jane. E o do meu pai é Gilvan.
P/1 - E como você os descreveria?
R - A minha mãe foi sempre foi uma mulher muito independente e muito planejadora. Inclusive, eu percebo que muitas das características de planejamento e muito do que eu aprendi, inclusive sobre educação financeira, veio da minha mãe. (risos) Ela é bastante carinhosa e muito focada nos objetivos, muito incentivadora, enfim, e, também, é uma mulher muito correta, com um senso ético gigante, que me inspira muito. E o meu pai, eu tenho um pouco menos de contato, mas também era um homem íntegro, sempre muito trabalhador, que apoiava bastante dentro de casa, financeiramente, apesar de a minha mãe ser a gestora do recurso e que também sempre me incentivou muito a estudar e trabalhar, assim, e ser ‘dona do meu próprio nariz’. Então, isso é um pouquinho deles dois.
P/1 - E o que eles faziam? Com o que eles trabalhavam?
R - O meu pai sempre trabalhou no setor bancário, como analista. E depois ele fez um curso e acabou virando árbitro de futsal. Sempre foi uma das paixões dele. (risos) E a minha mãe sempre foi funcionária pública.
P/1 - E você chegou a conhecer os seus avós?
R - Sim. Os meus avós, por parte de pai, estão vivos: o ‘seu’ Zé e a Dona Alzira. São os meus queridos. Como a minha avó me chama, são os meus fofinhos. E, por parte de mãe, eu não conheci a minha avó, Maria Madalena. Ela faleceu enquanto a minha mãe estava grávida. E eu conheci o meu avô por parte de...
Continuar leituraProjeto: Diversidade e Inclusão no Mercado Financeiro - Banco Pan
Entrevista de Bia Santos
Entrevistada por Bruna Oliveira
São Paulo, 19/08/2022
Entrevista n.º: PCSH_HV1231
Realizada por Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisada por Bruna Oliveira
P/1 - Bia, pra começar, eu queria que você dissesse o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R - Bia Santos. 26 de março de 1996. Rio de Janeiro.
P/1 - E quais os nomes dos seus pais?
R - O nome da minha mãe é Jane. E o do meu pai é Gilvan.
P/1 - E como você os descreveria?
R - A minha mãe foi sempre foi uma mulher muito independente e muito planejadora. Inclusive, eu percebo que muitas das características de planejamento e muito do que eu aprendi, inclusive sobre educação financeira, veio da minha mãe. (risos) Ela é bastante carinhosa e muito focada nos objetivos, muito incentivadora, enfim, e, também, é uma mulher muito correta, com um senso ético gigante, que me inspira muito. E o meu pai, eu tenho um pouco menos de contato, mas também era um homem íntegro, sempre muito trabalhador, que apoiava bastante dentro de casa, financeiramente, apesar de a minha mãe ser a gestora do recurso e que também sempre me incentivou muito a estudar e trabalhar, assim, e ser ‘dona do meu próprio nariz’. Então, isso é um pouquinho deles dois.
P/1 - E o que eles faziam? Com o que eles trabalhavam?
R - O meu pai sempre trabalhou no setor bancário, como analista. E depois ele fez um curso e acabou virando árbitro de futsal. Sempre foi uma das paixões dele. (risos) E a minha mãe sempre foi funcionária pública.
P/1 - E você chegou a conhecer os seus avós?
R - Sim. Os meus avós, por parte de pai, estão vivos: o ‘seu’ Zé e a Dona Alzira. São os meus queridos. Como a minha avó me chama, são os meus fofinhos. E, por parte de mãe, eu não conheci a minha avó, Maria Madalena. Ela faleceu enquanto a minha mãe estava grávida. E eu conheci o meu avô por parte de mãe, o ‘seu’ Adelino que, enfim, é um avô muito querido também. Eu tive menos contato. Ele faleceu enquanto eu ainda era criança, mas tenho ótimas recordações, também. E o meu nome é Maria Beatriz. Apesar de todo mundo me chamar de Bia, mas Maria vem em homenagem à minha avó, também. Então, por mais que eu não conheça, eu tenho uma conexão muito forte, assim. Minha mãe sempre brinca que a gente era parecida, o jeito dela, que ela vivia feliz, gostava de um samba. Então, apesar de eu não a conhecer, enfim, não tive a oportunidade de conhecê-la, eu tenho uma conexão muito forte também com a minha avó. É isso.
P/1 - E eles são do Rio, também? E de onde eles vieram, se não?
R - Sim. A minha família, tanto por parte de pai, quanto por parte de mãe, é do Rio de Janeiro. O meu avô, tem até uma história engraçada. Há pouco tempo, eu fiz um teste genético e eu descobri que, na verdade, o meu avô, por parte de mãe, a história que a gente sabe na família é que ele era filho de portugueses, que vieram para o Brasil. Enfim, ele conheceu a minha avó aqui, que era uma mulher preta e eles se casaram e tiveram a minha mãe e meus tios. E eu descobri, através do teste genético que, na verdade, eu não tenho quase nenhuma influência portuguesa. Eu tenho influência italiana, na verdade. Então, provavelmente, a família do meu avô não era portuguesa. Eles deveriam ter migrado para Portugal, mas na verdade eles eram italianos. Essa é a loucura. Quando eu fiz o teste genético, eu fiquei chocada. Mas, enfim, então o meu avô já nasceu no Brasil, mas ele tinha essa influência portuguesa, em tese. E a minha avó também era brasileira. Aí a gente sabe muito pouco da vida dela. Ela teve uma vida muito difícil. Teve que morar em várias casas diferentes, para conseguir se criar. Eu acho que tinha irmãs. Tinha uma situação, eu acho, que de violência doméstica, também, em casa. Enfim, então ela meio que encontrou o meu avô e eles se apaixonaram e logo foram ficar juntos. E, também tem essa história de que a família do meu avô era muito preconceituosa. Então, o meu avô foi meio que quase que deserdado, meio que se afastou da família, porque a minha avó era uma mulher preta. Então, tinha todo esse estigma. E ele também, como um homem muito íntegro, ‘bancou’ a decisão, foi construir a família e tiveram quatro filhos, que são a minha mãe e mais três irmãos. E, por parte de pai, eu tenho poucas histórias, tanto do meu avô, quanto da minha avó. Meu avô até conta as histórias dele de adolescência, dos tempos, dos flertes, dos bailes. Ele adora. Minha avó também adorava sair, brincava, sassaricava à beça. Então, eu brinco muito com ela. Ela está com mais de noventa anos, então é muito engraçado quando ela conta. Mas a gente tem poucas referências, porque os meus avós são, acho que a segunda ou terceira geração pós Abolição. Então, muito, uma parte grande da história, de que lugar de África, qual era a descendência africana, a gente não sabe. Mas a minha família por parte de pai é majoritariamente negra. Então, a gente tem uma influência africana muito grande. Tanto que, grande parte do meu teste genético, veio com a influência de África, de povos e lugares de África diferentes. Mas eu consegui ter um gostinho, um pouco dessa história que foi apagada, infelizmente. Enfim, a história da minha família é um pouco dessa mistura. E vem a minha mãe e o meu pai, que se conheceram aqui em Piedade, Água Santa, aqui na zona norte do Rio, no subúrbio. E assim surgiu eu. (risos)
P/1 - E você é filha única?
R - Sou filha única. E eu estava brincando, esses dias, sobre isso. Eu acho que eu fui a primeira menina dos dois lados, tanto por parte de pai, a primeira menina... a primeira neta. Porque por parte de mãe, eu acho que também fui a primeira. Por parte de pai, também. Então, eu brinco que eu fui super mimada. Porque eu fui a primeira neta-menina. E eu também sou filha única. Então, eu brinco que as atenções da família (risos) acabaram ficando para a menininha nova. E era “euzinha”. (risos)
P/1 - E tem algum cheiro, algum sabor, pensando assim, na sua infância, ou alguma data comemorativa, que remete à essa época?
R - Eu gosto muito de lembrar do cheiro do frango de panela que a minha avó fazia. E eu lembro que era sempre motivo de muita alegria. A gente reunia todos os tios, os primos, para se encontrar. E a minha avó fazia arrozinho de forno, com franguinho de panela temperado, uma saladinha de alface. E a gente se sentava ao redor da mesa, para ver o jogo do Flamengo, que a minha família toda é flamenguista. (risos) E pra ficar perto, assim. E eu lembro que a casa da minha avó e a refeição eram um momento de união e de troca e de passar o domingo, junto. Tinha sempre um sorvete, no final. Então, eu tenho muito essa lembrança da minha avó. E tem um outro cheiro que eu amo de paixão. Inclusive, agora eu comecei a morar sozinha, então já estou até com saudade, vou dar um jeito de visitar mamãe. A minha mãe sempre gostou muito de bolo. E eu lembrava... até hoje, quando eu sinto cheiro de bolo, normalmente eu lembro dela. Aquele bolo de bolo, de casa. No finzinho de tarde com café. Então, eu tenho muito essa referência do bolo, com a minha mãe. Até hoje, ela sabe que eu estou indo pra lá, que a gente vai se encontrar, ela já deixa um bolinho de milho com goiabada, um bolo de bolo, um bolinho com aquela casquinha de laranja. Alguma coisinha pra gente tomar um café. E são cheiros da minha infância, que até hoje me dão memórias muito boas. Me trazem memórias muito boas.
P/1 - E como era a casa onde você passou a sua infância?
R - A casa que eu passei a minha infância, na verdade era um apartamento pequeno. Eram poucos andares, na verdade. Eram três andares, só. Eu morava no terceiro andar. E é até perto do lugar onde eu moro hoje, também. Fica no Cachambi, aqui na zona norte do Rio. Mas tinha um ponto peculiar, porque, enfim, a gente morou a vida inteira nessa região aqui, de Méier. Acho que eu diria que é o Grande Méier, aqui no subúrbio do Rio. E era uma região que eu não lembro da minha rua, sei lá, sem asfalto ou com grandes dificuldades. Então, a gente tinha um ponto de ônibus muito perto. A rua já era asfaltada. Não tinha grandes questões com saneamento, com nada. Então, era uma área urbana normal. Só que em frente, assim, do lado do prédio, tinha um mini terreno, assim, que não era uma fazenda, uma coisa extensa, mas era um espaço que poderia ter sido um prédio, mas não era. Era propriedade de uma dona de supermercado, enfim, de uma família rica daqui e eles tinham pequenas casas e era um terreno que eles criavam galinha, galo. Então, era muito engraçado, porque apesar de ser um contexto completamente urbano, de poluição, de ônibus passando, barulhos, gente, carro, enfim, cinco horas da manhã, o galo estava ‘tocando’, assim, do lado da minha casa. E eu passei a minha infância dando nome para as galinhas. Aí tinha o galinho que era o Faustão, que era o galo mais pomposo. Tinha a Terezinha, que era a galinha menorzinha. A gente jogava arroz. Minha mãe incentivava muito essas coisas. Então eu criava, realmente, eu criei uma identificação (risos), uma conexão com as galinhas. E há pouco tempo eu tive essa recordação com a minha mãe, também. Que teve um evento na escola, eu era criança e pediram pra levar o animal de estimação. E a minha mãe não me deixava ter cachorro, gato, porque ela trabalhava fora. Então, era difícil de cuidar. Eu era pequena. E eu lembro que a gente levou, pediu autorização, e conseguimos levar a galinha para a escola. (risos) E foi, assim, um dia que todo mundo amou. E foi uma loucura com a galinha da Bia e tal. (risos) Então, eu lembro da minha infância, apesar de num lugar super urbano e tal, de ser criança de apartamento, não tem jeito, mas ainda tinha essa conexão, assim, um pouco, com a natureza. E tem essa história meio peculiar, assim, de ter os animais perto. E eu gostava muito. Então, enfim, tem essa história.
P/1 - Eu ia te perguntar quais eram as suas brincadeiras favoritas naquela época.
R - Eu adorava pular corda. E brincar de pique-pega e de pega-ladrão. Não tinha muitas crianças no meu prédio. Tinham três crianças, só: uma menina e dois meninos, que beiravam a minha idade. Mas os meninos brincavam mais. Então, eu tive uma infância, até como a primeira menina da família, também, com muitos meninos ao meu redor. Eu brincava muito com os meninos. Então, as minhas brincadeiras acabavam sendo mais masculinas. Não masculinas, né? Porque eu acho que não tem gênero pra brincadeiras. Mas eu acabava ficando mais com os meninos. Então, eu via os meus primos jogando bolinha de gude, soltando pipa. Eu nunca fui muito boa nessas coisas, assim, eu tentava soltar uma pipa, eu tentava brincar com Tazo, né? Mas eu brincava, normalmente, mais de correr, de futebol também, de ‘queimado’. Adorava ‘queimado’, handball. Então, eu lembro que eram as minhas brincadeiras. Mas eu gostava muito de pular corda. Enfim, eu nasci em 1996. Então, nessa época, lá pra 2005, 2006, a gente começou a ter mais acesso a MP3, a um computador, jogos, tal. Então, eu lembro que, desde criança, eu gostava muito de jogos. Tanto aquele Mário, sabe? Aqueles bem antigões, de computador, quanto jogos de tabuleiro. Eu lembro que eu ficava até a madrugada jogando dama, dominó, com a minha mãe. E eu adorava. Então, foi um pouco da minha infância. Teve esse lado de mais brincadeira com os meninos, tal, mas dentro de casa, eu jogava muito tabuleiro. Dama, até hoje eu adoro. Adoro dama. Dominó: “Ah, coisa de velho!” “Me deixa! Eu adoro”. Bingo, sabe? Eu sou assim. Faço palavra cruzada, horrores. Eu sou muito ‘a senhora’ da galera. Mas foi muito parte da minha infância. Eu via o meu avô fazendo palavra cruzada. Então, eu adorava essas coisas. Mas é isso, eu adorava. Acho que uma das brincadeiras de mais ação, era pular corda. Eu estava sempre pulando corda. Eu tinha corda, patinete. Essas coisas assim.
P/1 - E quando você era pequena, você tinha sonho de ter alguma profissão específica? Ou isso não estava na sua cabeça, ainda? Como era?
R - Quando eu era pequena, eu não lembro de ter uma profissão específica, assim. Acho que, como toda criança, teve uma fase que eu queria ser atriz, né? Porque a gente via as novelas. Tinha uma influência muito grande, assim, televisiva. Então, eu peguei a época, ali, a infância, Da Cor do Pecado, aquela novela com a Taís Araújo. Eu super me inspirava. Eu falava: “Nossa, quem sabe um dia, eu vou ser atriz”. Então, eu tinha muito isso. Mas logo depois passou. E não era uma coisa que eu trazia muito dentro de casa. Aí, quando chegou o ensino médio, que eu tive que ... na época, eu estudei para ir para escola pública, para fazer prova para ir pra uma escola federal, ou algum outro caminho, eu lembro que eu comecei a pensar mais sobre isso. Lá pro meu oitavo, nono ano, no finalzinho do Ensino Fundamental. E aí eu só me via num escritório, sabe? Ocupada, comandando coisas, num escritório amplo. Eu tinha muita essa coisa de: “Nossa, um alto cargo. Executiva de uma empresa”. Eu me via muito nesse lugar. Mas eu não tinha ideia de qual área, de como eu ia fazer. Eu não tinha ideia. Eu só me via num cargo de liderança e fazendo coisas incríveis, na minha cabeça adolescente. Então, parou por aí. Eu não lembro de ter nenhuma grande aspiração. E lembrei agora que teve um momento que eu também estava nesse meio, assim, para ir para o ensino médio, pensando um pouco, que eu era apaixonada por Astronomia. Então, até hoje, eu tenho lembranças minhas, assim, criança, pegando binóculos do meu pai, velho e ficava vendo as estrelas, vendo a lua. Então, eu adorava isso. E aí eu cheguei a pesquisar, a ir ao observatório, ver profissões, mas era muito complexo. Eu tinha que saber não sei quantas línguas, estudar não sei quantos anos. Era uma coisa muito longe da minha realidade, inclusive, financeira, né? De ter vários cursos, cursos fora. Então, eu acabei me afastando, apesar de até hoje eu ser apaixonada pelo espaço. Tudo o que eu posso, leio, acompanho, mas acabou ficando muito longe, além de eu ter que saber muito de Física e Química, que eram as matérias que eu mais odiava. (risos) Então, eu falei: “Não. Essa profissão aqui não vai rolar”. E teve essa, nesse meio tempo. E acho que vai acabar virando um hobby, daqui a pouco, quando eu ficar um pouco mais velha. Mas foram essas profissões, assim, que passaram pela minha cabeça, antes.
P/1 - Bia, e onde você estudou?
R - Eu estudei a minha vida inteira num colégio de bairro, o Educandário Madre Güell, que é aqui também, no Méier. E é um colégio católico, de freiras. Então, eu tive uma formação, assim, básica, no catolicismo, com um ‘olhar muito forte’, patriota. A gente cantava o hino toda segunda-feira. Então, era uma escola mais conservadora, nesse sentido. E eu estudei desde o Jardim I, dos meus três anos, até ir para o Ensino Médio, até os meus treze. Então, de fato, foi uma escola que eu passei a vida. E logo depois eu fiz a prova pra estudar o Ensino Médio numa outra escola, numa escola pública e eu passei pro CEFET, aqui no Maracanã, no Rio. Então, na época, eu pensei em ir pro Pedro II, Faetec, IF. Tinham várias escolas. E, das que eu passei, eu acabei indo pro CEFET e foi onde eu passei o meu Ensino Médio.
P/1 - E qual é a primeira lembrança que você tem, da escola?
R – Caramba! A primeira coisa que eu lembrei é o quanto eu era... eu gostava, assim, de jogar handball. Normalmente, na educação física, nem todas as meninas gostavam, mas eu adorava, porque eu era super competitiva no handball. Eu sempre fui uma aluna meio ‘diferentona’, eu era meio nerd. As minhas notas eram boas, mas eu era da ‘turma do fundão’. (risos) Então, eu era daquelas que todo mundo: “Ah, Bia, qual foi, aí? Você nem está prestando atenção direito”. E quando a galera via, eu estava lá, com o maior notão. Ficava todo mundo: “Cara, eu não acredito, garota”. Tipo assim: “Sai daqui”. Então, eu despertava um pouco de raiva nos meus colegas. Porque eu, normalmente, não era aquela aluna super aplicada, que estudava vinte e quatro horas por dia. Até tive essa fase, na época que eu estudei pra passar para as provas do Ensino Médio, mas durante a escola mesmo, eu era uma boa aluna, eu fazia os meus trabalhos, eu participava. Mas eu era daquelas que zoava professora, que brincava, que conversava. Eu era meio que da turma ali do “meião”, do ‘fundão’. Então, eu lembro muito disso, de brincar, zoar muito na escola. E estudava, tinha as minhas responsabilidades, mas eu era uma criança meio que fazia um pouco de tudo, sabe? E eu acho que uma coisa que eu sempre tive, desde a infância, é que eu sempre gostei muito de me dedicar a atividades extracurriculares. Então, todo curso extra que tinha ou alguma atividade extra que a professora passava, ou alguma indicação de um filme extra, eu estava sempre ali, tipo muito: “Ai, vou”, sabe? Formas diferentes de aprender, para além de sala de aula. Eu sempre gostei muito. Então, eu me envolvia muito nos projetos. Era uma parte muito legal da escola.
P/1 - E tem alguma professora ou professor, ou matéria que você gostava mais, que despertava o seu interesse?
R – Bom, teve alguns professores, eu sempre via os meus professores muito como grandes mentores. Eu tive sorte de ter professores muito incríveis. Mas eu acho que o maior destaque, pra mim, durante o Ensino Médio, principalmente, foi o professor Mauro, que foi um dos orientadores do projeto, que se transformaria na Barkus, alguns anos depois. Então, eu lembro que o Mauro dava aula no curso técnico, porque eu passei pro colégio médio técnico. Eu fiz técnico em Administração, na época e ele era um dos professores do técnico. E eu gostava muito do Mauro. O Mauro era um senhor, já, com um barrigão. E ele sempre que ria ‘botava’ a mão na barriga, assim, e ria igual ao papai Noel. Eu adorava o Mauro. E ele não era aquele professor rígido. Muito pelo contrário, eu acho que o Mauro ensinava muito mais pelo exemplo e pelas histórias que ele trazia, da vida dele. Ele era um professor que aproximava os alunos, que gostava de aproximar os alunos dele. De apoiar e de entender e de conversar. Ainda mais nesse período de ensino médio, tem tanta coisa mudando, os hormônios estão tão enlouquecidos. Então, era muito bom a gente ter um professor pra conversar, sabe? E o Mauro foi um dos professores que nos apoiou a fazer o projeto de Iniciação Científica na escola, na época. Eu falo “nós”, porque foi no período em que eu estava na mesma turma que o Marden, e que virou meu sócio. Na época, era meu colega de turma. E a gente começou o projeto e continuou o projeto, muito por incentivo dele, também. Enfim, ele faleceu há alguns anos, mas ele foi um grande marco positivo na minha vida e na vida de muitos outros jovens, outros alunos que ele teve. Então, eu lembro dele com muito carinho, dessa época.
P/1 - E o que mudou, pra você, quando teve essa mudança, da infância para adolescência? Qual foi a principal mudança?
R - Boa pergunta. Da infância à adolescência? É engraçado, porque eu lembro que, quando eu fui pro Ensino Médio, eu saí de um colégio de bairro, muito perto da minha casa e fui pra uma escola que abrangia alunos do Rio inteiro. Então, era uma escola super assim, que tinha prova. Então, muita gente queria passar. E aí eu conheci pessoas de muitos bairros. Tive uma outra realidade. Expandi completamente o horizonte ali, da menina do bairro. E foi muito engraçado, porque eu lembro que, na primeira semana de aula na escola nova, a minha mãe virou pra mim e falou: “Bia, você vai ter direito ao Bilhete Único”. Aquele bilhete universitário, pra pegar ônibus, tal. “Mas, assim, minha filha, a mãe se prepara e organiza para você ir de transporte escolar, porque você vai acordar às cinco e meia da manhã, para pegar um ônibus lotado, sabe? Ir para o colégio, voltar. Assim, a gente ‘aperta’ um pouco, para te dar um pouco mais de segurança e tranquilidade pra você chegar bem, ir dormindo”. Porque eu tinha o período da manhã e da tarde, de técnico. Então, eu passava o dia na escola. Aí eu falei: “Que nada! Eu vou aprender a andar de ônibus”. E eu lembro que eu: “Depois, você pega parte dessa grana e me ajuda, para pagar outras coisas”, né? E eu lembro que eu ia “amarradaça”, assim. Eu aprendi a andar no Rio de Janeiro, porque agora eu podia pegar ônibus. Minha mãe não tinha como mais, tipo: “Está indo pra escola, a menina”. Então, eu lembro que essa mudança do Ensino Fundamental pro Ensino Médio, é óbvio que trouxe várias questões, principalmente na época já de sexualidade, de interesses e tal, mas eu lembro que eu ‘abracei’ as mudanças de uma forma muito, a minha mãe ficou chocada. Ela, tipo: “E não é que a garota está indo mesmo todo dia, pegando ônibus de manhã, desesperada, com sono? E tipo assim, e foi. E nunca mais pediu transporte. E nunca nem questionou a chance de eu ajudar”, sabe? Então, eu lembro que essas mudanças, pra mim, pelo menos, não trazem nenhum sentimento ruim, pelo contrário, eu estava muito ávida por coisas novas. Eu queria muito descobrir, sabe, o mundo. Eu sempre tive muito isso, assim. Tanto que um dos meus maiores hobbies e coisas que eu amo fazer é viajar. É falar com gente nova. Eu sou tagarela. Eu puxo assunto com, sei lá, velhinha na rua. Eu sou muito essa pessoa, assim. E, na época, eu lembro que eu estava muito querendo conhecer, estar lá. “Eu passei no colégio. Tem gente do Rio inteiro. Eu quero estar lá”. Então, assim, eu fui muito com esse olhar. E era difícil, claro. Eu tinha uma rotina super pesada, mas eu tirava muito ‘de letra’. Eu gostava muito. E foi uma época que eu ‘matava’ umas aulas, eu descobri como ia para a praia. Sabe assim, aquelas coisas de adolescentes, que fazia besteira? Mas as notas estavam em dia. Nunca repeti em nada, sabe? Então, eu ia equilibrando a vida, assim. E foi uma fase muito divertida. Claro que teve a sua parte, suas discussões, suas questões para a vida adulta. Foi também a fase que eu me descobri negra, me descobri uma mulher preta. E isso veio, me trouxe várias questões. Mas, assim, num primeiro momento, esse processo de mudança, para mim foi muito tipo: “Ai, que bom. Vamos. Estou pronta”. (risos)
P/1 - E você quer contar um pouco sobre como foi essa fase de se descobrir como uma mulher preta?
R - Sim. Até hoje eu não sei qual foi o ‘gatilho’ específico, assim. Se foi porque a gente começou a falar mais sobre o assunto, de forma aberta. Eu acho que teve um boom também das redes sociais, né? Ali, durante, pelo menos que eu me lembre, nessa fase com Facebook, indo pro Instagram e tal. Então, confesso que eu não lembro, exatamente, qual foi o grande ‘gatilho’, mas eu lembro que tudo começou com o cabelo, porque eu alisava o cabelo. Sempre alisei o cabelo, desde criança. E a minha mãe também alisava o cabelo. A minha mãe também é uma mulher negra. Então, a gente era isso, assim. E eu tinha muitas questões com o meu cabelo, porque eu passava química. Às vezes, o cabelo caía, quebrava. E eu sentia que o cabelo de todas as meninas, que era liso, era lindo e o meu cabelo era sempre feio, estranho. Eu me sentia muito estranha. Esse foi um sentimento que eu tive, acho que até hoje eu tenho, um pouco: eu me sinto muito estranha, assim, em comparação a outras pessoas, sabe? E eu lembro muito desse sentimento, de me sentir meio distante do que parecia ser o normal, o bonito, o ‘descolado’, sabe? E aí eu lembro que, na época, eu comecei a assistir alguns vídeos no Youtube, de meninas fazendo big chop, que é cortando o cabelo na transição pro natural e eu comecei a pensar: “Cara, mas eu não estou satisfeita com o meu cabelo”. Eu não sei qual foi, até hoje eu penso: “Cara, eu tenho que trazer isso pra terapia”. Porque eu não sei, até hoje, qual foi a ‘chave que virou’. Só sei que a ‘chave virou’. Eu olhei e falei: “Eu não quero mais isso, não. Eu vou parar de alisar”. E eu falei pra minha mãe e a minha mãe falou: “Tá bom”. A minha mãe sempre - assim, era muito engraçado - me apoiou muito nas coisas. Ela não costumava impor uma profissão, uma religião. Não. Ela me deixava muito livre. Dentro, claro, de ser uma boa mãe, de valores e tal. Mas ela me deixava muito livre pra tomar as decisões. E eu lembro que eu comecei a deixar o cabelo, parei de alisar. E fui, fui, fui, até que teve um dia que ele já estava super feio. Acho que eu tinha uma festa, alguma coisa assim, pra ir. E aí eu decidi cortar. E aí cortei. Ele enrolou. No primeiro dia, eu achei péssimo. Aí, no segundo dia, eu fiquei: “Meu Deus do céu!” No terceiro dia, eu já estava: “Nossa, eu sou muito linda”. (risos) E foi assim. Claro, ‘muito linda’ no sentido de ‘eu me sinto muito mais eu, do que antes”. Não que eu conectasse isso, necessariamente, com beleza, mas pelo menos eu consegui me reconhecer no espelho. Eu sabia que aquilo ali era meu, era eu, cem por cento. Não era eu tentando parecer, ou tentando mascarar nada, sabe? Eu não queria ser mais ninguém do que eu mesma. E isso aconteceu no meu segundo ano. Eu estava com dezesseis. E eu lembro que foi, de fato, uma ‘virada de chave’, pra mim, porque logo depois eu comecei a identificar os meus nichos, os meus gostos. Eu me reconheci como uma mulher preta. Isso me ajudou muito, de lá pra cá, porque eu comecei a entender por que eu me sentia tão estranha, ou porque algumas situações aconteciam na minha infância ou nos meus relacionamentos, na vida amorosa. E eu não sabia identificar o porquê, por que eu me sentia diminuída, às vezes, por que eu me sentia nesse lugar de estranho, de incômodo. E eu fui identificando essa questão racial, quase tudo estava relacionado a isso. Então, isso me ajudou muito, também, a entender até que ponto o problema era meu e até que ponto o problema era da sociedade. Isso também faz com que a nossa relação com a gente mesmo seja mais saudável. Então, isso me ajudou muito, assim. E foi a partir dali que eu comecei a desenvolver mais, a ficar mais com pessoas, a desenvolver sexualidade, pensar, enfim. Então, foi nesse processo de me reconhecer, até os meus dezenove, vinte anos. Foi um processo longo. E a gente está sempre se conhecendo, né? Eu acho que esse processo não acaba nunca na vida. Mas o meu despertar foi nessa fase. E eu lembro que durante um pequeno período eu me senti estranha, na escola, mas logo depois eu meio que encarnei essa personalidade de que: “Cara, você pode falar o que você quiser, mas eu estou ‘de boa’. É o meu cabelo. E ninguém me afeta”. E os meus amigos: “Cara, que massa, Bia”. É isso. E fluiu, sabe? Isso deixou de ser um problema, depois. Mas esse período de transição foi bem difícil. Começou, de fato, o empoderamento mais estético, em relação ao cabelo. E depois isso foi ‘abraçando’ todas as áreas da minha vida. Tanto que eu fui fazer a pós-graduação em História e Cultura africana e afro-brasileira, com esse resgate histórico. Isso foi me ajudando. E influencia muito o meu trabalho, até hoje, a forma como eu falo de finanças. Mas começou, sim, pelo cabelo, lá na minha adolescência.
P/1 - Me conta como surgiu o tema do seu projeto. Como foi o projeto no CEFET?
R - Bom, como eu disse, eu me envolvia muito em atividades extracurriculares, né? De, sei lá, projetos de leitura da professora de Literatura, até campeonato de qualquer coisa. Então, poesia, sei lá, eu me envolvia em muitas coisas. E eu lembro que, na época, minha mãe me dava um valor por mês, que era tipo cem reais, eu acho, para eu conseguir comer na rua, quando eu precisasse, pagar um transporte. Na época em que você ainda vivia com cem, cento e cinquenta reais, porque hoje em dia não ‘rola’ mais. Mas eu conseguia, assim, num mês eu ‘me virava’ com aquele dinheiro. Aí abriu uma chamada. Foi a única chamada na escola, até hoje. Há pouco tempo, eu descobri que tinha sido, até aquele momento, a única chamada que abriram, para projetos de Iniciação Científica, com alunos do Ensino Médio. Então, foi um projeto em parceria com o CNPq, na época, que os professores podiam convidar alunos do Ensino Médio a participarem das suas pesquisas e os alunos receberiam uma bolsa de cem reais. Quando eu ouvi, até hoje eu brinco: “Gente, tem história bonita e tem a realidade”. A realidade é que, quando eu vi que tinha uma bolsa de cem reais, para pesquisar e eu lembrava assim: “Não, mas pesquisa é o quê?” Eu lembrava do William Bonner, da Fátima Bernardes, no jornal, falando do IBGE, não sei o quê. Eu falei: “Que negócio bonito, chique. Vou ganhar um dinheiro e ainda vou aprender a pesquisar. Que coisa bacana! Vou pesquisar, tipo vou procurar um professor, para poder fazer isso”. E aí, quando eu vi a lista de projetos, subindo e descendo escola, vendo nas áreas lá, que era um colégio, o CEFET, aqui no Rio, muito grande, é um campus muito grande. Então, a gente subia e descia escada o dia inteiro. E eu lembro que, quando eu fui ver a lista, não tinha um projeto relacionado à Administração ou a áreas que não fossem mais aquela ciência, assim, mais voltada à Engenharia. A gente tinha muitos cursos voltados para Tecnologia, Engenharia, enfim. E eu falava: “Caramba, não tem nenhum curso”. Aí eu lembro que, nesse período, eu já estava conversando com o Marden, o Marden também soube e ele estudava na minha turma, né? E a gente falou: “Cara, vamos procurar, falar com a galera de Administração, da coordenação, ver se eles têm algum projeto para indicar e tal”. E a gente estava no corredor, indo para a coordenação, para perguntar para os professores se alguém tinha projeto, e a gente encontrou o Wallace, que era um outro amigo nosso, da mesma turma e o Wallace perguntou: “Mas o que vocês estão indo fazer?” A gente: “Vamos perguntar ali, para um projeto, um negócio aqui que tem a bolsa, legal. Você quer ir?” Aí o Wallace: “Vou, sim. Eu não estou fazendo nada”. E aí nos reunimos, os três, e fomos conversar com os professores. A gente encontrou a Josélia, que era uma professora do nosso técnico e ela falou: “Ah, não tem nenhum projeto. Acho que não tem nenhum professor, mas se vocês quiserem, eu posso orientar vocês e a gente inscreve o projeto”. Aí eu falei: “Então vamos, né? Mas qual o tema?” Porque o professor que dá a pesquisa, né? “A gente vai fazer o quê?” Aí a Josélia, a gente conversando, pensando em temas, tal, a Josélia falou: “Eu estudo comportamento do consumidor”. Ela estava fazendo um mestrado, eu acho, na FGV de São Paulo, estudava muito isso. E ela: “Que tal a gente falar de comportamento do consumidor jovem?” A gente: “Comportamento do consumidor jovem tem a ver com Administração. A gente vai estudar comportamento, que é uma coisa legal. Então, vamos inscrever esse projeto”. E a gente inscreveu o projeto. Ela ajudou a gente, a inscrever mesmo, ali, as primeiras diretrizes, tal, para enviar. E o projeto foi aceito. E isso foi o primeiro contato que a gente teve com o tema e com pesquisa, de forma científica. Então, eu aprendi muito. Até hoje, eu escrevo relativamente bem, assim, pelo tanto que eu tive que ler, ‘virar’ a noite, estudar, ‘botar’ nas normas da ABNT. E, assim, eu tinha, sei lá, quinze para dezesseis anos, sabe? E foi o primeiro contato e a gente começou a pesquisar sobre. E a gente percebeu: “Caramba! Encontramos um problema, aqui. Os jovens da nossa geração são muito consumistas. A gente tem problemas sérios”, né? E a gente trouxe consumo consciente, questões de planejamento mesmo pro consumo. E a gente começou a trazer um olhar muito de recursos financeiros para isso, né? E foi ali que a gente teve o primeiro contato com educação financeira. Isso foi em 2012. A gente estava acho que nos primeiros anos, ali, da Estratégia Nacional de Educação Financeira, com olhar de política pública mesmo, pra educação financeira. A gente tinha pouquíssimos materiais, livros. A gente pegava um livro, quase traduzia para uma linguagem mais jovem. Então, o início do projeto foi muito de pegar coisas do mercado, para traduzir para uma linguagem mais jovem e mostrar que era possível falar disso, pra que a gente diminuísse aquele problema de consumo exagerado, da nossa geração. Então, foi assim que eu tive o meu primeiro contato com educação financeira. E desde então eu nunca mais larguei, assim, o projeto. A gente inscreveu um projeto de cinquenta páginas, na época. A Josélia orientou. O Mauro veio pra coorientar. A gente participou de três Feiras de Ciências. A primeira foi a Febrace, aí na USP, em 2013, se eu não me engano. Depois a gente foi pra uma feira no Rio Grande do Sul, a Mostratec. E depois, a gente foi pra uma Escola Açaí, no Pará, representando o CEFET, representando a escola. A gente recebeu, enfim, o prêmio de primeiro lugar. Então, foi muito legal. Foi uma experiência que me fez não só aprender sobre o tema, ter um recurso extra para conseguir me ajudar, ali. Na época, eu já comecei a poupar dinheiro, aquele dinheiro da bolsa. Então, isso me ajudou a pagar uma parte da formatura, por exemplo. Enfim, foi um projeto que, de fato, mudou a minha vida, em muitos sentidos. Inclusive a minha vida profissional, que me fez ver um outro lado. Enfim, comecei a empreender cedo, muito por conta desse projeto.
P/1 - E aí, logo que você se formou no CEFET, como foi? Você entrou direto na faculdade, você começou a trabalhar? Como estava a sua vida, nessa época?
R - Assim que eu me formei, eu passei para a faculdade. Então eu já emendei, assim, saí do ensino médio e fui direto para a faculdade. Eu fui fazer Administração, na época. Enfim, as minhas notas no ENEM foram muito boas, até. Então, foi um período de bastante confusão, porque eu ainda estava muito envolvida com o projeto, com as feiras, mas ainda estudando para a graduação, para o vestibular. E eu gostava muito da área de Administração, mas falava: “Administração é um curso de quem não sabe o que fazer”, tinha muita essa história. Aí eu falei: “Vou pra Engenharia. Pô, mas Engenharia tem o Cálculo IV. O que eu vou fazer em Cálculo IV? Cálculo I, até tudo bem. Agora, IV? Então, eu vou pra RI. Mas RI também...”. Então, assim, foi uma loucura. E, na época, a minha nota realmente foi boa. Então, através das cotas, eu conseguiria ter passado, até, pra Medicina, na época. Eu me dei bem no vestibular. E eu fiquei: “Puts, mas...”. Aí todo mundo: “Por que você não vai pra Medicina, Direito?”, né? As faculdades que todo mundo... eu falava: “Mas o que eu vou fazer em Medicina? Eu vejo sangue, eu quero... não quero ver sangue! Eu não nasci pra isso. Não é a minha vibe. E Direito, eu vou falar o que, gente? Não quero. Não quero defender ninguém, não, pô”. Então, assim, foi um período de muitas indagações da vida: “O que eu quero? Quem eu sou? O que eu vou fazer?” E aí, no ‘fim das contas’, eu falei: “Quer saber? Quero ir pra Administração. Acabou” “Ah, mas vai fazer a mesma coisa do técnico” “Não quero saber. É o que eu gosto de fazer. É o que eu acho legal. Eu vou pra Administração”. E eu fui pra Administração. Então, logo que eu saí do ensino médio, eu fui direto pra faculdade e aí fui para a UFRJ, a federal aqui do Rio. E comecei Administração, mesmo, que era o que eu gostava. Eu lembro que, na época, eu acabei entrando na chamada geral, né? Eu tinha muito esse entendimento. A gente começou a discutir bastante “cotas” dentro, inclusive, do próprio ensino médio. E eu entendi que, por mais que fosse o meu direito e que eu concordasse muito com isso, tinham outros jovens negros que precisavam mais daquela vaga do que eu, né? Porque eu tive acesso à uma educação de muita qualidade. Então, eu decidi não entrar com bolsa. E, também, não ter o auxílio financeiro. Mas, pelo menos, com a consciência tranquila de que eu tinha deixado pra um outro jovem, na época, que poderia utilizar a bolsa, ser cotista e ser apoiado durante a faculdade. Graças a Deus, a minha mãe estava numa fase ‘okay’. Eu também tinha começado a estagiar, por conta do técnico. Então, logo depois eu comecei a estagiar. Então, foi um momento de muitas mudanças também, que eu comecei a trabalhar e estudar, num lugar mais longe, tal. Mas que foi muito bom, porque eu fui pro lugar que eu queria ir, que era Administração. Ignorei todo mundo e falei: “Vou pra ADM, mesmo”. (risos)
P/1 - E como foi essa vivência na UFRJ? Como foi esse momento na sua vida?
R - Eu lembro que, assim que eu cheguei, eu tive uma certa quebra, assim, de realidades, porque eu fui pra um campus que fica na zona sul aqui do Rio, que é a zona mais elitizada. É uma das zonas mais ricas. Então, esse campus, inclusive, reunia, claro, pessoas que vinham de lugares muito longes, do Rio, para poder estudar, mas também era um campus meio que as pessoas escolhiam o curso pra estarem pertos de suas casas, quem morava aqui, mais próximo da Zona Sul. Então, sei lá, eu tinha amigos, nem amigos, mas colegas de turma, não eram pessoas que eu era próxima, que chegavam com a pick-up do pai, cheio de cerveja, no meio do campus. Era essa ‘pegada’. Uma galera muito fora da minha realidade. Tipo: “A minha mãe não tem uma pick-up, eu não tenho dinheiro pra comprar essa quantidade de cerveja”. Eu entrei na faculdade com dezessete anos. Então, teve um período que nem beber, eu podia, na verdade, porque eu era menor de idade. Então, assim, foi um momento... eu não tive um ‘baque’ tão grande, porque o CEFET já era um colégio diferente, né? Ele já tinha uma visão um pouco mais aberta. Eu já conversava com pessoas de outras realidades. Eu já não estava muito mais na minha ‘bolha’. Então a faculdade, até o sistema de você ser mais autônomo nos seus estudos, tal, tudo isso eu já tinha com o CEFET. Então, não foi uma mudança muito grande. Acho que foi muito mais a mudança de perspectiva. E eu acho que foi na faculdade, nessa época que, de fato, ali, muito eu percebi que eu era uma pessoa preta, porque eu olhava no campus, e eu era uma das pouquíssimas. Na minha turma, eu acho que era eu e mais duas ou três pessoas. E eu lembro que a primeira coisa que me perguntaram, na roda, assim, que estava todo mundo meio que se conhecendo, era se eu sabia quando ia cair, qual era a data que ia cair a bolsa. E eu: “Mas que bolsa?” Aí tipo: “A bolsa de cota”. Eu falei: “Mas eu não sou cotista”. E aí, foi ali que eu falei: “Eita, entendi que tem um problema aqui”. Então, acho que foi, de fato, o início da minha formação mais racializada, de eu entender o que era a Academia, né? O que era estar numa faculdade pública. Enfim, no contexto do Brasil, num lugar que era extremamente elitista, e eu tinha que pegar duas horas de ônibus, pra ir e pra voltar. E eu comecei a trabalhar, também. Então, a minha chefe era uma das poucas mulheres negras do setor. E eu tive essa sorte, porque eu brinco que ela é uma segunda mãe. Até hoje é uma pessoa que eu tenho muito carinho. Foi uma grande mentora, também, pra mim. Então, isso ‘bateu’ muito forte e eu percebi que eu tinha que fazer alguma coisa. E eu sempre fui meio tinhosa, nesse sentido: “Como assim? Você está dizendo que eu sou o quê? Você nem me conhece”. Então, foi um período complexo, assim, pra mim, mas que eu ‘abracei’ e falei: “Não, pô. O que é isso? Não me coloque rótulos, se você nem me conhece”. Então, foi um período de mudança, mas um período positivo, que eu vejo como algo positivo, depois.
P/1 - Eu queria te perguntar qual foi o seu primeiro emprego, que você estava falando, que você começou a trabalhar e como foi.
R - Boa. Eu comecei a trabalhar. O meu primeiro estágio foi na Petrobras. Eu trabalhava na universidade, na área mais Biblioteconomia e tal. E foi um período muito bom, eu fiz ótimos amigos. Amigos que eu tenho até hoje. Inclusive, a minha própria chefe, a Ana Regina, na época, que foi a minha chefe durante um ano e meio. Eu fiquei um ano e meio lá. E me ajudou muito, me incentivava muito, também. Me trata, até hoje, como filha. Então, gosto muito dela. Acabei conhecendo o esposo dela, que virou o meu mentor de negócios, um tempo depois. Enfim, é outro cara incrível, também. Então, foram boas referências. Eu brinco que, durante toda a minha vida, assim, eu não posso reclamar de falta de boas referências, sabe? Eu tive pessoas muito incríveis, que sempre me davam mais ‘empurrãozinho’ na direção certa, sabe? Nunca me ‘puxavam’, assim, sempre me davam mais ‘empurrãozinho’. E na época foi isso. Eu lembro, inclusive, eu aprendi muito com ela, sobre como lidar com o ambiente corporativo, porque ela também tinha as dificuldades dela. Ela era uma das poucas pessoas negras do setor. Então, ela também tinha a forma dela de lidar e ela conversava muito comigo: “Bia, isso pode, isso aqui não pode”. Então, ela me ajudava muito, nesse sentido. E isso me ajudou, também, a ter uma visão maior do mundo “corporativão”. Porque a Petrobras é um lugar super tradicional. Então, isso me ajudou a fazer um pouco dessa transição. Mas era um ambiente de trabalho muito tranquilo, muito legal, que respeitava muito, também, os meus horários da faculdade, que eu sei que não é tão comum. Então, isso me ajudou, super.
P/1 - Bia, me conta o que você fez com o seu primeiro salário. Você lembra?
R - Menina! Mas não sei se eu lembro, não. Mas provavelmente... eu já tinha passado por vários tópicos de educação financeira, na época. Então, eu lembro que fui ter cartão de crédito, já anos depois. Inclusive, assim que eu abri a minha primeira conta-salário, eu recebi, na época, três cartões, eu acho, em casa. Dois cartões de crédito e um cartão de débito. Eu lembro que eu fiquei possessa, assim, eu falei: “Vocês querem me endividar. Como é que eu tenho duas vezes o valor do meu salário, que eu só vou receber daqui a trinta dias?”. Eu lembro que eu, assim: “Eu sei dos meus direitos”. (risos) Eu lembro que eu liguei pro banco e falei pra cancelar tudo. Então, eu lembro que eu já, assim, uma grande parte era pra almoçar na rua, para xerox, livros. E claro que, né, início de faculdade, então tinha algumas festinhas. Eu era uma jovem normal, como qualquer outra jovem, mas eu lembro que eu já não ‘meti muito os pés pelas mãos’, não, sabe? Eu sempre gostei muito de ir ao cinema. Então, tinha um cinema próximo. Eu lembro que eu ia bastante ao cinema. Mas eu não ‘perdia muito a mão’, assim.
P/1 - E me conta esse momento da Uniporto. Como foi? Você se formou lá também? Como foi esse momento?
R - Eu fiz graduação-sanduíche na Universidade do Porto. Assim que eu entrei na faculdade, um dos meus grandes sonhos sempre foi fazer intercâmbio. Eu queria muito conseguir ter uma graduação-sanduíche. Trazer uma outra universidade de fora e tal. Vivenciar, assim, morar um tempo fora. Então, eu já entrei na faculdade com esse intuito. Eu lembro que, na época, a minha mãe falou: “Olha, eu consigo te ‘bancar’ na faculdade, o básico: alimentação, transportes, estudo, livros e tudo o mais. Mas a gente não vai conseguir guardar dinheiro suficiente para você ir para o intercâmbio. Mas você pode começar a trabalhar, ter o seu próprio dinheiro e aí eu vou ajudando, aqui. A gente vai guardando dinheiro todo mês”, enfim. Então, eu lembro que, na época, eu decidi começar a trabalhar e estudar. Porque, na época, a minha bolsa de estágio era o que a minha mãe ia economizando pra gente conseguir, tipo, juntar pro meu intercâmbio. Então, a minha mãe sempre entrou muito, também, nos meus sonhos. Principalmente, quando eram acadêmicos ou coisas que iam me ajudar para a carreira e tal. Então, em 2017, final de 2016, na verdade, eu entrei em 2014, na faculdade e aí, em 2016, eu decidi fazer a aplicação para uma bolsa lá fora. Eu já estava chegando a um valor que conseguia suprir, ali, ficar seis meses fora, ficar um semestre fora. E eu comecei a buscar universidades que tivessem convênio com a UFRJ. Então, o processo foi bem esse. Eu acabei escolhendo Portugal, porque era um dos países mais baratos, que falavam também a língua portuguesa. Os outros, eu teria que fazer exames mais caros, né, de língua, enfim. Era inglês, espanhol. Então, eu até tinha inglês, na época, mas seria um pouco mais custoso, além desses países serem mais caros também e a ‘grana’ não ia dar. Na época, o Euro estava três e cinquenta. Coisa boa! Época incrível. Então, ainda estava muito dentro ali, da realidade. A passagem era mais barata. Tinha várias facilidades por ser brasileira. Então, por isso que eu decidi ir pra Universidade do Porto. Era uma universidade muito boa, também muito bem falada. E a minha experiência lá foi ótima, assim. Eu acho que foi, talvez, a ‘cereja do bolo’, do meu processo de racialização, porque eu já vinha estudando e tendo esses conflitos diários. E em Portugal esses conflitos se tornaram muito grandes. Eu também tive uma – até hoje eu vejo como muita sorte, assim – colega de quarto que também era uma mulher negra. Nós éramos as únicas da turma, daquele semestre, do Brasil, ali. Tinham poucas outras pessoas negras. E a gente conversava muito sobre isso. Ela estudava muito sobre isso, também. Então, a gente foi conseguindo se apoiar durante esse processo, porque tinham muitos estranhamentos, né? A gente ouvia perguntas, tipo: “Por que tem favela no Brasil?” Aí eu: “Ô, Portugal! Oi, galera! Vamos dar uma ensinada aqui numa história verdadeira? Porque a galera não está entendendo aqui, o que ‘rolou’: Brasil-Portugal, Portugal-Brasil. Colonização. Está meio complexo”. Então, era muito difícil lidar, né? E tirando os casos de racismo, enfim, várias questões. Mas tirando essa parte que, enfim, é parte da vivência, infelizmente, eu viajei em vários países. Eu fui pra catorze países, lá. E tem muitas histórias: de dormir na frente de igreja, na casa de desconhecidos, pegar carona na estrada. Eu fiz muita besteira, assim, (risos) que hoje eu lembro, eu falo: “Caramba! Falta de segurança, né? Essa questão básica”. Mas eu tenho ótimas histórias pra contar. Conheci muita gente incrível, que eu tenho contato até hoje. E foi acho que um dos pontos altos da minha graduação, né? Me mostrou outros horizontes, outras possibilidades de trabalho. Me deu experiência também, em outros lugares. Então, me ajudou muito, inclusive na minha vida profissional, mesmo. Não só acadêmica, mas também profissional. Então, foi um período bem bom e que me trouxe muitos frutos, muitas coisas boas.
P/1 - Tem alguma história muito engraçada que você passou lá, que você queira compartilhar?
R - Tem uma história que eu brinco que foi ‘a cara’, acho, que da minha viagem, assim. O primeiro lugar que eu quis ir foi pra França. Claro, eu queria ir pra Paris. E eu lembro que eu cheguei lá em fevereiro e o meu aniversário é em março. Eu falei: “Eu vou passar o final de semana do meu aniversário em Paris. Lindíssima”, né? Como, enfim, os voos lá são muito mais baratos, eu falei: “Ah, vou pagar aqui”. Eram quarenta euros pra ir e voltar. Eu falei: “Gente, no Brasil, isso nunca faria sentido, né? Então, vai ser tranquilo. A gente vai chegar lá, vou juntar aqui uma graninha um pouco maior, que é meu aniversário, mas assim, vai dar tudo certo”. Aí cheguei. Descobri que o aeroporto não era um aeroporto em Paris, era num lugar próximo. Então, só pra sair do aeroporto, a gente tinha que gastar mais não sei quantos euros e eu não tinha esse dinheiro cotado. Aí eu tive que, assim... eu estava no limite com as minhas amigas. Todo mundo ‘dura’, também, sabe? Ninguém veio planejando viajar. Era Porto e Porto, não tinha muito o que fazer. Então, a gente teve que pegar trem e ‘desenrolando’ com a galera local, que olhava e: “O que essas garotas estão fazendo aqui, que não sabem falar francês?” Então, assim, foi uma loucura. E aí depois de, sei lá, horas, a gente conseguiu chegar em Paris. Aí fomos pro lugar que a gente alugou, que era uma casinha mínima, assim. A gente dormia, quase, num quartinho, só pra ter onde dormir, porque era tudo muito caro. E, enfim, resumindo, esses três dias, que a gente foi numa sexta e voltou no domingo, ou na segunda, assim. Eu até hoje, não comi escargot, porque era caro. Eu não consegui ir à Torre Eiffel, eu até brinco: “Não sei falar aquilo. Que até hoje, eu tenho um ranço, porque eu não consegui subir, porque era absurdo de caro”. Eu não fui. Eu falei: “Não vou pagar para ver torre. Não vou”. (risos) E eu lembro que, assim, o que ‘salvou’ é que a gente comprava uns paninis, que eram uns pães que eram mais baratos e tinham várias casas de comida asiática, que também era um lugar que a gente conseguia comer. Então até hoje eu brinco: “Cara, eu passei três dias em Paris, assim, comendo comida asiática. (risos) E dormindo, praticamente no chão”. Foi isso, sabe? Então, é uma história que até hoje eu fico: “Não, um dia eu vou voltar com dignidade (risos) e vou comer naquele restaurante lá da Torre”. Eu vou voltar dizendo: “Eu comi no restaurante da Torre”, sabe? E essa semana eu lembrei que eu tinha uma caixinha. Eu sempre fui apaixonada por Da Vinci, né? Pelas obras de Da Vinci. E tem Monalisa, enfim. E eu fui ao museu. Foi uma coisa que eu queria muito ir. E a única coisa, era o único gasto que eu podia fazer, eu falei: “Comer ou fazer isso aqui?” Eu falei: “Não, vou comprar isso aqui”. Que era um “casezinho” de óculos com a cara da Monalisa, assim. Eu o tenho até hoje, intocado. Tipo, foi a minha lembrança master. Foram quinze euros. Até hoje eu lembro dele, sabe? (risos) E eu nunca mais ia comprar nada na minha vida, depois daquilo. E aí eu comprei. Eu falei: “Não. É a minha lembrança da Monalisa”. E levei pra casa, (risos) assim. Então, foi uma viagem com um orçamento muito ‘apertado’, que eu fiz muita besteira, para conseguir ir pros lugares. Enfim, peguei carona, como eu disse. Tem a história do dia que eu dormi na frente da igreja, porque não tinha lugar. Estendi um tapetinho de yoga, assim, eu falei: “Cara, três horinhas de sono, daqui a pouco...”, sabe? (risos) Então, eu tenho muitas histórias bem loucas, do intercâmbio. Mas que foram perrengues, que hoje eu rio. Eu olho pra trás e: “Meu Deus do céu! Onde eu estava com a cabeça?” (risos)
P/1 - Bia, e me conta como foi a sua trajetória, desde que você se formou, até a Barkus começar. A sua trajetória profissional.
R - Bom, nessa fase, a Barkus já tinha começado. A Barkus foi fundada em maio de 2016. Então, na verdade, eu reencontrei o Marden e o Wallace, os colegas lá do projeto, na faculdade. Eles também foram pra UFRJ, mas faziam Economia. Inclusive, por conta de um convite do Mauro, a gente se reencontrou. Por isso que eu o trago como um dos grandes motivos, até, de a gente trabalhar hoje, da Barkus existir. E desde então a gente decidiu montar um projeto que levasse educação financeira para as pessoas. Então, foi algo que começou durante a faculdade. Logo depois, como eu digo, que o universo nunca erra, eu fui convidada pelo gestor, que era a primeira escola de educação financeira, assim, do Brasil, que era a Escola de Educação Financeira do Rioprevidência. Era uma escola pública, também. O Carlos Eduardo Batalha era gestor da escola e ele me convidou para estagiar lá. Então, isso levou muito a minha vida para a educação financeira, desde sempre, assim. Então, eu estagiava na escola. A gente começou o projeto, que na época nem se chamava Barkus, ainda, era Educação Financeira de Jovens Para Jovens. E, enfim, eu comecei meio que a minha vida profissional, ali, que eu enxergo, de fato, com a Barkus, empreendendo, né? ‘Batendo na porta’, subindo e descendo, fazendo tudo. Um milhão de ônibus por dia. Chegando cansada. Estudando pra faculdade. E, no dia seguinte, estar trabalhando. Então, foi um período muito conturbado, assim, de muita coisa acontecendo. Mas foi nessa fase que a gente começou, enfim, participou do nosso primeiro programa de incubação, junto ao Sebrae, que eu sempre trago como um dos grandes apoiadores aí, dos empreendedores brasileiros, como um todo. E que a gente começou, de fato, a formalizar a empresa, entendendo um pouco mais de negócio. Então, eu não tinha a menor ideia do que era empreender e nem do que era empreendimento social. Eu só sabia que eu queria levar o meu propósito. E depois que eu entendi o quanto a educação financeira me ajudou, inclusive, no próprio intercâmbio, eu queria compartilhar com todo mundo sobre aquilo. Então, a Barkus nasceu muito dessa vontade, junto do Marden e do Wallace, né? Que acabaram virando os meus sócios nessa jornada.
P/1 - E como funciona a Barkus, hoje em dia? E qual é o propósito da Barkus?
R - Bom, a Barkus, o grande propósito da Barkus é conseguir apoiar as pessoas, na melhoria das suas vidas financeiras. E isso se conecta diretamente não só com a nossa ancestralidade, com tudo o que a gente aprendeu ou deixou de aprender, até então, mas principalmente com o quanto a gente pode mudar, melhorar a vida das próximas gerações. E eu percebo isso através, inclusive, da própria jornada da minha família. Do quanto os meus avós, o fato deles se dedicarem e valorizarem tanto a educação. O meu avô foi o primeiro a chegar num curso técnico, na família. Isso fez com que a minha mãe e o meu pai fossem os primeiros a chegar a uma graduação. Eu sou a primeira a chegar numa pós-graduação. Então, esses ciclos de planejamento, de consciência financeira, ajudaram muito a minha família. E ter acesso a isso, durante o ensino médio, me ajudou muito também, como uma jovem suburbana, que tinha um milhão de coisas, um milhão de pratinhos pra equilibrar. Então, a Barkus vem muito dessa vontade. Se todo mundo tem acesso a esse conhecimento e desenvolve comportamentos mais saudáveis, têm mais noção, inclusive, de quais serviços financeiros existem, em que momento você pode alcançá-los, como você se planeja pros seus objetivos, tudo isso te ajuda a tomar decisões mais acertadas. Consequentemente, você se endivida menos ou melhor e isso possibilita que você tenha patrimônio, que você tenha mais qualidade de vida. E isso gera só frutos positivos, não só pra você, mas para as gerações que vão vir. E é assim que a gente diminui desigualdades. Então, eu vejo muito o nosso papel ali, nessa fórmula que vai ajudar o Brasil a ir mais longe e melhor.
P/1 - Bia, e como você enxerga a participação de mulheres, de pessoas LGBTs, de pessoas negras, dentro desse cenário de educação financeira? Como você enxerga a participação dessas pessoas como investidoras, como funcionárias de instituições financeiras, também? Assim, a partir dessa percepção de empreendedora de educação financeira.
R - Bom, o mercado financeiro, apesar da ideia de que ele é muito democrático, ainda é um espaço muito elitista e que se mantém muito longe de grande parte da população. Então, isso faz com que as pessoas que mais estão envolvidas, seja investindo, seja incentivando, apoiando, assessorando, enfim, esses investimentos, empreendendo nessa área, são pessoas brancas, majoritariamente homens, pessoas mais velhas e que já têm um histórico familiar de investidores, enfim. Então, é muito recente esse boom que a gente teve, de falar de investimentos, por exemplo, ou de tratar de finanças, de falar de nossa vida financeira de uma forma mais aberta. E isso ainda está muito longe de grande parte da população. Eu diria que 85% de nossa população ainda ignora muita coisa. E, enfim, tem milhões de brasileiros que nem foram bancarizados, ainda, que dirá investidores! Então, por mais que, sim, a partir do momento que você conhece um pouco desse mercado, você consegue ir fazendo os seus investimentos e desenvolvendo essa parte, ainda tem questões raciais super relevantes, né? Ainda tem muita dificuldade de acesso, ainda, de parte da população. Ainda existem estigmas de que mulheres não são boas, investindo, ou que não são boas com números, ou que homens são investidores de sucesso. Então, também é outro estigma que precisa ser quebrado. E até hoje nós temos pouquíssimos dados, inclusive, sobre quantas pessoas negras investem. Isso é algo que não vem nos perfis das grandes instituições financeiras ou de órgãos reguladores. Então, é algo que eu cobro muito. Como é que a gente entende o tamanho do problema, se eu nem tenho essa categoria na pesquisa. Eu nem sei. Não tem nem esse item aqui, pra ser checado. Eu não sei. Então, esse é um outro ponto também. A gente precisa de mais informação, até pra gente conseguir identificar o tamanho do problema. E, a partir disso, criar ações para inserir essas pessoas nesse ambiente. Então, de fato, eu sou meio que um ‘pontinho fora da curva’, infelizmente. Eu luto muito por essa representatividade. Eu quero ter mais mulheres investindo, mais pessoas negras investindo, mais pessoas LGBTQIA+ investindo. Eu quero ver pessoas da classe C, D, conseguindo juntar um real por mês, que seja, pra começar a aplicar. Então, por mais difícil que esteja o momento, acho que se a gente tivesse essa cultura e essas informações fossem amplamente divulgadas e chegassem pra todo mundo, talvez a gente estivesse numa situação um pouquinho menos pior.
P/1 - E sendo uma mulher negra, dentro do mercado financeiro, você já passou por alguma experiência de racismo, ou de discriminação, por ser mulher, que você queria compartilhar?
R - No início da Barkus, eu me sentia muito pouco ouvida. E eu percebia que, por mais que o meu sócio tenha a mesma idade, mas o fato dele ser um homem branco, o transformava num jovem inovador. Muito mais do que eu, ali, enquanto uma mulher negra. Então, por mais que o meu papel na Barkus sempre tenha sido muito mais com esse olhar de relacionamento, comercial, que está muito no papel do CEO, a gente demorou muito tempo para entender quem ficaria fazendo o quê. A gente dividia muito as funções, porque era a estratégia que a gente tinha para conseguir chegar nos espaços, para conseguir se fazer ouvido. Em muitos espaços, eu não conseguia ser ouvida. Então, o Marden tinha que tomar mais à frente. E era um ponto que a gente conversava muito, que a gente conversa muito até hoje, né? Como meu sócio, ele tem que entender os meus pontos. E ele faz muito a parte dele. Para gente conseguir continuar chegando e essas pautas irem avançando. Então, eu já cansei de ser confundida com a estagiária, de ser direcionada para o elevador de serviço, ao invés do elevador social, em um evento. De perguntarem se eu era estagiária ou representante de quem iria estar na reunião e, na verdade, a reunião era comigo. Enfim, tiveram várias situações, que só me mostravam o quanto... foram, na verdade, me ajudando a ter mais consciência e ‘abraçar’ a ideia de que eu não posso fugir disso. Muito pelo contrário. Eu vou ser, sim, a CEO. Vou ser a melhor CEO que eu posso ser. A Barkus vai crescer. A gente vai ter ótimos números. A gente vai mostrar que o fato de eu ser mulher e negra só me faz ser uma melhor gestora e não o contrário, né? Então, isso foi me dando muito força. Foi um período difícil. Mas em 2008 eu assumi esse papel e desde então, enfim, eu ‘abracei’ a responsabilidade. Não como um peso. Já foi um peso. Hoje em dia, eu vejo como uma benção. Talvez um desafio poderoso. E não mais como uma coisa ruim. Hoje, eu consegui transformar isso, essa perspectiva. E me colocar como, sim, esse é o meu papel. Vamos ‘abrir portas’. Vamos deixá-las abertas. E vamos conseguir mudar esse cenário, juntos.
P/1 – E qual foi o momento mais marcante da sua trajetória profissional, até hoje?
R - Eu acho que um dos momentos mais marcantes, bom, eu lembro da época da faculdade, quando eu pegava lá os meus ônibus, andava, subia e descia, eu via revistas, né? Muitas revistas. Eu sempre gostei muito de ler. E quando eu olhava para as bancas, nas revistas de negócios, normalmente eu via capas ou assuntos muito voltados para grandes indústrias. E, de novo, aquele mesmo estereótipo de homens brancos, grisalhos, mais velhos, de famílias ricas, com sobrenomes estrangeiros, falando de negócios e tal. E eu via muito, acompanhava muito a Forbes, na época, que eram os maiores CEOs e os jovens mais disruptivos e tal. E eu me enxergava muito pouco. E eu ficava com aquela sensação de: “Caramba! Eu quero, um dia, estar na Forbes. Eu quero, um dia, representar isso também”. E o final de 2020 - 2020 foi um ano muito difícil. Para todo mundo. E pra gente também foi muito complexo. A gente teve que mudar muita coisa. De muitos medos, né? E muitos desafios - eu fui indicada pra lista da Forbes Under 30. E eu lembro que... eu nem consigo descrever, assim. Eu falo, acho que até hoje, que não é pela, ali, a Forbes pela Forbes ou a lista pela lista, sabe? Mas foi muito pela sensação de que eu estava conseguindo avançar em prol daquilo que eu acreditava. Em prol dessa maior representatividade. E que o lugar que um dia, que eu nunca imaginava que ia ser meu, que eu poderia estar, eu estava conseguindo ocupar. E eu espero, até hoje eu brinco com o time: “Gente, vamos conseguir uma capa, um dia. Estamos trabalhando pra isso”. Porque eu quero que outras jovens, sabe, universitárias lá, vejam aquela capa e percebam. “Eu vou empreender, vou abrir o meu negócio, vou ser uma alta executiva? Porque é possível. Tem uma outra menina negra ali. Ó, que coisa boa!” Então, essa inspiração, parece que não, mas a representatividade é sobre isso, é espelho. Se você não se vê nos lugares, você nem consegue se colocar ali. E eu quero ser mais ‘espelho’, sabe? Eu quero conseguir atrair mais pessoas para esse movimento e não me tornar a única. Então, eu lembro que foi um momento muito importante, que eu acho que foi quando, de fato, eu ‘abracei’ isso. Eu falei: “Cara, o meu propósito é esse. Talvez esse seja o meu legado. A gente conseguir, cada vez mais, abrir portas. Muitas portas já foram abertas, antes de mim, até pra que eu estivesse aqui. E eu quero continuar abrindo.
P/1 - E como é o seu dia a dia, hoje?
R – ‘Enlouquecido’. (risos) Eu não tenho outra palavra. (risos) Olha, até o final de 2021, até o final do ano passado, nós éramos cinco pessoas no time. Hoje, nós somos dezessete. Então, a Barkus está num período de crescimento, de posicionamento de mercado, muito grande. De fato, eu brinco que os desafios estão ficando maiores e mais complexos. E hoje eu tenho que lidar não só com a minha vida de jovem adulta, de morar sozinha e de cuidar da saúde dessa pós-pandemia que nos uuurrgh, quanto de uma empresa que está em crescimento. E ter que lidar com tudo isso, é bastante coisa. É uma agenda bem complexa. Mas estamos aqui, firmes e fortes. Eu sempre brinco: quem vê Forbes, não vê ‘corre’. É a minha frase da brincadeira, assim, ninguém está vendo as quinze horas de trabalho, às vezes, pra conseguir fazer tudo dar certo. Mas está dando certo, é isso que importa.
P/1 - E o que você gosta de fazer, nas horas de lazer, quando você tem?
R – (risos) Olha, eu gosto muito, até hoje, sempre que eu vejo um tempinho, assim, estou lá, eu, pegando a última sessão do cinema. Eu gosto muito de ir para o cinema. Comer pipoca com manteiga e tomar um chazinho. Eu adoro chás, também. Eu tomo muito chá. Gosto de fazer palavras cruzadas. Gosto muito de viajar. Estou sempre pensando e sonhando com a minha próxima viagem. A pandemia tirou um pouquinho isso, então eu tenho muitas viagens acumuladas, nos meus pensamentos, pra fazer. Gosto também de encontrar meus amigos, conversar, tomar um vinho. Então, eu acho que só coisas normais, assim. Nada muito fora. Tirando a palavra cruzada, que eu acho que é uma coisa meio estranha, né, que todo mundo olha pra mim, tipo: “Por que você faz palavra cruzada?” Eu falo: “Eu adoro”. Então, é uma coisa que me relaxa, assim, eu dou uma ‘viajada’, é muito bom. Mas são essas coisas que, normalmente, faço quando estou relaxando. Vejo um filme. Fico ‘de boa’. Tomo um chazinho.
P/1 - Bia, e quais são as coisas mais importantes pra você, hoje?
R - Ótima pergunta! Eu acho que é a minha mãe. Sempre vai ser. Eu acho que, sem a minha mãe, eu não seria a metade da mulher que eu sou. Eu devo muito à ela. Principalmente aos bons exemplos que ela me deu. Eu acho que a minha mãe é uma das pessoas mais éticas e mais íntegras e mais batalhadoras e corretas que eu conheço. E isso pra mim é muito válido. E eu me coloco essa ‘pressão’, de que eu preciso ser muito íntegra, muito correta, assim como a minha mãe. É um ótimo exemplo. A minha saúde, por mais que, às vezes, eu a negligencie. A gente conversa muito. Eu fico falando: “Saúde, fica só mais um pouquinho, eu juro que eu vou cuidar de você”. Então, eu valorizo muito também, cada vez mais, a minha saúde. Acho que não só física, mas principalmente mental. De me sentir bem comigo, de estar equilibrada, para conseguir lidar com as coisas. Como todo adulto do século XXI, nem sempre consigo, mas estamos aqui, tentando. E eu acho que hoje, uma outra coisa que eu valorizo muito é esse senso de legado. Eu fico muito feliz em acordar de manhã, todos os dias, por mais cansada, às vezes, que eu esteja ou por menos que eu tenha dormido e saber que o meu trabalho, de alguma forma, influencia positivamente a vida das pessoas. Então, a minha inspiração está muito relacionada a entregar o mundo um pouquinho melhor do que eu recebi, sabe? E eu acho que, enfim, a Barkus e muito do meu trabalho, do meu esforço, é por esse motivo.
P/1 - E quais são os seus maiores sonhos, hoje?
R - Bom, eu quero ter mais tempo para estudar. Sonhos simples. (risos) Quero poder estudar mais. Quero muito conseguir fazer o meu mestrado, fora. Então, estou me preparando pra isso, também, ter essa experiência, de novo, acho que trazer novas influências, né? E o mais importante: ir, mas voltar. Voltar com essa bagagem pro Brasil. Porque eu acho muito importante a gente ir, mas voltar, pra construir um país melhor, também, né? E melhorar o nosso lugar. Mas penso muito nisso. Eu quero ver a Barkus cada vez maior. Eu tenho grandes sonhos pra Barkus, de impacto, no número de vidas que a gente vai impactar, do quanto a gente vai conseguir melhorar, até políticas, né? Tanto públicas, mas conexão com empresas privadas também, de educação financeira pra população. Eu quero muito. Eu vejo muito a importância de ser educado financeiramente, pra melhorar a situação caótica e tão difícil que a gente vive hoje. E já vem vivendo há muitos anos, há muitas décadas. Então, a educação, pra mim, é a única resposta. E eu espero conseguir, através do meu trabalho também, ajudar a fazer isso acontecer. Também quero viajar mais. Quem sabe uma volta ao mundo, daqui a alguns anos. É um grande sonho. E eu espero que, daqui a pouco, eu tire o meu CFP, também, meu certificado de planejadora financeira, que eu acho que vai ser um marco muito legal na minha carreira. Eu gosto de pensar em sonhos, a cada três anos. Então, você não vai ver sonhos, assim, três, quatro, cinco anos. Porque eu me mantenho sempre motivada. O próximo sonho. Ih, ‘bati’ outro sonho! Vamos ‘bater’ outro sonho. Vou sempre na motivação, assim, de dois, três, cinco anos no máximo. Toda vez: “Mas você só quer fazer um mestrado, Bia?” Eu falei: “Calma, gente. É nessa perspectiva de tempo. Calma. Ainda tem coisa pra pensar. Até lá, talvez eu queira outras coisas. Deixa eu ser livre aqui, pra sonhar grande”. (risos) Então, eu acho que são esses um pouco dos meus sonhos, assim, atuais.
P/1 - Bia, a gente já está chegando no fim. Tem só mais duas perguntas. Super vai dar tempo. Eu gostaria de saber se você queria acrescentar algo. A primeira das perguntas, né? Se você quer acrescentar algo que eu não tenha perguntado pra você, que você acha super importante sobre a sua história. Ou, se não tiver nada para acrescentar, se você gostaria de deixar alguma mensagem. E esse momento é bem livre, é seu, assim.
R - Eu acho que teve uma pergunta sua, que eu respondi pela metade, que foi o que a Barkus fazia. Então, eu falei um pouco do propósito da Barkus, mas não falei exatamente o que a gente faz. Então, eu só queria abrir um pouquinho esse espaço pra contar um pouco mais da Barkus. A gente começou com um ‘olhar muito forte’ pros jovens, né? Então, a nossa primeira grande solução foi levar a educação financeira para as escolas. Então, a gente desenvolveu uma metodologia que ajudava as escolas na implementação de educação financeira, para jovens de Ensino Fundamental e Ensino Médio. A gente trabalhou com isso durante três anos, de 2018 até 2021. Na verdade, quatro anos, praticamente, mas com a pandemia - a gente já chegou até, enfim, a ter mais de dois mil alunos. Professores ali, formados. A gente trabalhava com a comunidade escolar, também. Então, de fato, criava uma rede de apoio no processo de educação financeira daquele jovem - as escolas acabaram fechando. Então, tivemos que mudar um pouco e pensar em outros canais, para continuar chegando nas pessoas. E foi ali que a gente encontrou o WhatsApp. Então, hoje, a nossa solução é uma inteligência artificial, é um robozinho que ensina a educação financeira através do WhatsApp, de forma individual e personalizada. Então, assim, a gente consegue chegar, está na mão de quase toda a população, já que o WhatsApp está na mão de noventa e seis por cento da população. E a gente consegue acessar as pessoas que têm maiores dificuldades, né? Tanto de baixo letramento digital, quanto dificuldade de internet, utilização de smartphone ou aplicativos mais complexos. Então, hoje a gente ensina educação financeira através do WhatsApp e isso nos ajudou muito a, de fato, acessar todos os estados brasileiros, não só as grandes capitais. Hoje, o nosso público majoritário é de mulheres, pessoas negras, das classes C, D e E. Então, a gente consegue, de fato, alcançar - eu acho que esse é o grande diferencial, né? - as pessoas que, normalmente, as grandes instituições não conseguem. Principalmente quando a gente fala de mercado financeiro. Hoje eu olho para a Barkus com muito orgulho, porque a gente acabou conseguindo, inclusive, utilizar a tecnologia, que parece algo tão complexo, como meio pra gente conseguir estar mais perto das pessoas e pra gente humanizar mais um tema, que também parece tão complexo, mas que pode ser, enfim, parte do nosso dia a da. Então, eu acho que faltou um pouco, acabei não respondendo, mas é um pouco disso que a Barkus faz. E esse é o nosso grande propósito. E sobre mensagem, eu acho que eu vou trazer pessoas, assim. Até eu pude pensar um pouco mais na minha trajetória, conversando com vocês. E eu percebi que, eu acho que a grande catapulta, assim, o grande influenciador da minha trajetória, foi ter boas pessoas, bons mentores que me apoiaram e me ajudaram e me davam forças até nos momentos que eu não achei que eu iria conseguir, ou que eu era capaz de conseguir. Então, é muito importante a gente ter perto da gente pessoas boas, que nos influenciam positivamente, que nos impulsionam pra frente, que nos fazem querer ser melhores e ir mais longe, sabe? Então, eu acho que essa é uma grande mensagem. Se tem alguém aí perto, que está jogando mais contra do que pró, é melhor se afastar da pessoa. E esteja pertinho de pessoas que te façam querer evoluir, ser melhor. E, também, seja a pessoa que impulsione as outras. Não seja, também, um sugador de energia, pelo amor de Deus! Então, eu acho que isso é algo que, assim, sempre me influenciou muito positivamente, eu acho que me ajudou a me tornar a pessoa que eu sou. E eu me esforço muito, também, pra ser uma boa pessoa para as outras. Então, preste atenção com quem você está, com quem você anda. Bem coisa de mãe, né? Mas isso faz toda a diferença.
P/1 - Perfeito, o final. (risos) Eu queria saber, pra você, como foi contar a sua história, hoje, revisitar um pouco da sua trajetória, ver tudo o que você já conquistou, enfim.
R - Olha, eu acho que foi muito bom, porque a gente vive uma correria tão grande que, às vezes, a gente acaba esquecendo o porquê das coisas. E eu acho que olhar pro passado, entender o que fez com que a gente chegasse até aqui, revisitar memórias boas e lembrar dos desafios, mostra o quanto a gente conseguiu evoluir. O quanto hoje temos novos desafios, mas também temos outras coisas boas para comemorar. E eu acho que relembrar, parar e pensar, e revisitar, pelo menos pra mim, foi uma sensação muito gostosa, muito boa, assim. Então, eu agradeço também pelo convite. Eu fiquei muito feliz de poder compartilhar. E, com certeza, depois que sair aqui da ligação, eu vou querer ligar para algumas pessoas, vou mandar uma mensagem. Eu vou falar: “Falei de você hoje, que saudade!” Vai ser muito bom. (risos)
P/1 - Bia, muito obrigada. Eu fico muito feliz. Foi incrível, de verdade. O final, assim, acho que você resgatou o que estava faltando mesmo pra finalizar, assim. Foi ótimo, mesmo. Gostei muito. E queria agradecer, de novo, em nome do Museu, em meu nome, em nome do Alisson, por essa participação. Foi muito legal, mesmo.
[Fim da Entrevista]
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