Eu me chamo Vespasiano Neves. Nasci em 27 de maio de 1964, em Barreiras, Bahia.
Sou filho único. Quando meu pai casou com a minha mãe ele tinha 51 anos, ela tinha dezesseis anos. E foi a única mulher dele.
Nasci de um parto bem complicado. Depois de quinze dias que foi feita a cesárea, foi detectado que ela tinha um cisto no ovário. O médico achou que era outro neném e acabou tirando os dois ovários da minha mãe; ela ficou impossibilitada de ter mais filhos. Tenho uma irmã adotiva que amo muito, o nome dela é Joselita. Ela mora em São Paulo.
Fui criado em Roda Velha de Baixo. Os meus pais foram os primeiros professores leigos da comunidade. Era tipo uma tribo indígena. Foi uma fase bem gostosa. Não tinha luz elétrica, não tinha água encanada, era bem rústico mesmo, mas me traz bastantes lembranças recordar essa influência. De vez em quando vou lá ao local e a gente volta no tempo, é muito gostoso isso.
As brincadeiras eram empinar pipa, jogar bola, correr atrás de porco, andar de jegue e andar de bicicleta. Essas eram as brincadeiras de infância que a gente tinha naquela época. As brincadeiras de roda também, à noite.
Meu pai, por ser uma pessoa que já se casou idosa, era bem rústico. Agradeço muito a maneira deles terem criado; eles são religiosos, Adventistas do Sétimo Dia. Eles me deram uma educação digna da época, fizeram todos os esforços, embora eu seja filho único. Dali me deslocaram para outros lugares; primeiro para o sítio morar com a minha avó, Helena, em Santarém, no sítio do Rio Grande. Era uma mulher que eu admirava muito, amava demais. E depois de morar em Barreiras, devido aos estudos, fui morar na casa de um primo meu, conhecido como Quimba; a esposa dele, Creuza, era uma japonesa. E ali eles me deram todo apoio, morei uns dois anos com eles. Depois disso a minha mãe se mudou para Barreiras, fiquei uma temporada em Barreiras. Depois fui para Cachoeira de São Félix, na Bahia, estudar num colégio...
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Eu me chamo Vespasiano Neves. Nasci em 27 de maio de 1964, em Barreiras, Bahia.
Sou filho único. Quando meu pai casou com a minha mãe ele tinha 51 anos, ela tinha dezesseis anos. E foi a única mulher dele.
Nasci de um parto bem complicado. Depois de quinze dias que foi feita a cesárea, foi detectado que ela tinha um cisto no ovário. O médico achou que era outro neném e acabou tirando os dois ovários da minha mãe; ela ficou impossibilitada de ter mais filhos. Tenho uma irmã adotiva que amo muito, o nome dela é Joselita. Ela mora em São Paulo.
Fui criado em Roda Velha de Baixo. Os meus pais foram os primeiros professores leigos da comunidade. Era tipo uma tribo indígena. Foi uma fase bem gostosa. Não tinha luz elétrica, não tinha água encanada, era bem rústico mesmo, mas me traz bastantes lembranças recordar essa influência. De vez em quando vou lá ao local e a gente volta no tempo, é muito gostoso isso.
As brincadeiras eram empinar pipa, jogar bola, correr atrás de porco, andar de jegue e andar de bicicleta. Essas eram as brincadeiras de infância que a gente tinha naquela época. As brincadeiras de roda também, à noite.
Meu pai, por ser uma pessoa que já se casou idosa, era bem rústico. Agradeço muito a maneira deles terem criado; eles são religiosos, Adventistas do Sétimo Dia. Eles me deram uma educação digna da época, fizeram todos os esforços, embora eu seja filho único. Dali me deslocaram para outros lugares; primeiro para o sítio morar com a minha avó, Helena, em Santarém, no sítio do Rio Grande. Era uma mulher que eu admirava muito, amava demais. E depois de morar em Barreiras, devido aos estudos, fui morar na casa de um primo meu, conhecido como Quimba; a esposa dele, Creuza, era uma japonesa. E ali eles me deram todo apoio, morei uns dois anos com eles. Depois disso a minha mãe se mudou para Barreiras, fiquei uma temporada em Barreiras. Depois fui para Cachoeira de São Félix, na Bahia, estudar num colégio interno - hoje FADIMA, Faculdade Adventista da Bahia; na época era chamado IAN, Instituto Adventista do Nordeste. E ali também, na década de 80, trago grandes lembranças de lá, dos colegas, dos amigos. Até hoje a gente mantém contato.
Fiquei um ano no colégio interno, e a gente tem um sistema na igreja de sair nos períodos de férias para trabalhar, vender livros para pagar os estudos. Na época eu era aluno bolsista e fui para Ilhéus, e lá eu sofri um acidente, trabalhando. No final de semana, num domingo, nós tiramos folga para ir para a praia; fui dar um mergulho, errei o pulo e quebrei a primeira vértebra do pescoço. Na época eu fui o primeiro caso do Brasil a escapar, o quinto caso no mundo com esse tipo de gravidade e não ter sequelas. Fui desenganado em Ilhéus; fui encaminhado para Salvador, fui desenganado, vim para morrer em casa. Minha mãe foi me buscar em Ilhéus e fiquei em Barreiras fazendo algumas massagens, dores insuportáveis, daí ela me encaminhou para Brasília e de lá fui encaminhado para o Sarah Kubitschek. Naquela época não se fazia cirurgias. Fiquei numa tração durante 91 dias, deitado numa maca, numa posição só, com dois quilos e meio puxando o pescoço para fora, para puxar a vértebra, para calcificar. Quebrou a vértebra, mas não rompeu a medula; eu me locomovia, mas sentia as pernas dormentes. Depois disso fizeram um aparelho chamado Alovert, para eu me locomover. Atrofiou tudo, fiquei muito tempo numa posição só, deitado e foi atrofiando os músculos. Depois, graças a Deus sobrevivi.
Tomei muitas radiações. Na época a preocupação era de me tornar estéril. A minha ideia era casar, ter filhos. Isso eu guardava comigo, aquele sofrimento: como serão os meus filhos, se sairiam com problemas, com defeitos. Quando nasceu a minha primeira filha, graças a Deus, inclusive até jornalista, perfeita, sadia, inteligente. Veio o segundo filho, da mesma forma. A terceira filha, do mesmo jeito. Graças a Deus, não ficou nenhuma sequela. Constituí uma família saudável: tenho a minha esposa Júlia, a minha primogênita Sigrid, o do meio, Smile Sullivan e a minha pequena Sasha, minha caçula.
Na minha juventude, eu fui um garoto como qualquer outro, cheio de sonhos e fantasias, e sempre almejando me tornar um profissional. Quando fui para o internato, eu fui com desejo de fazer Agronomia, porque no sistema adventista tem uma faculdade, no Espírito Santo, na área técnica - seria Agrotécnica. Eu tinha um desejo muito grande de fazer agronomia, mas depois do acidente a vida mudou.
Vim, depois do tratamento de Brasília, para Barreiras. Foi quando me casei, conheci a minha esposa; o pai dela era sulista, ela é catarinense. Nós nos casamos, fomos morar em Florianópolis. Ela fazia Medicina e ficamos uma temporada lá. Ela engravidou e tinha problemas com o cheiro de formol na faculdade, desmaiava; a gente resolveu dar um tempo, então viemos embora para Bahia de novo.
Chegando em Barreiras, o cunhado dela, que é meu concunhado hoje, o Roni - uma pessoa que eu gosto muito, muito meu amigo - trabalhava com o Sr. Arnaldo, aqui no posto Mimoso, na época. Ele me convidou para vir trabalhar com o Sr. Arnaldo. E o que eu sou hoje, nos termos de profissionalismo, de trabalhos, agradeço muito a Deus e pelo apoio que o Ênio, a dona Lilinha, o Sr. Arnaldo, me deram.
Eu já trabalhava antes com fotografia, tanto é que chegando aqui, paralelo ao serviço, eu comecei a desenvolver o que eu fazia, fotografar. E fui o primeiro fotógrafo de Mimoso do Oeste. Aí montei uma lojinha, a minha esposa trabalhava na loja e eu continuei trabalhando com o Sr. Arnaldo, na área de construção, de encarregado de obras, topografia, abrindo ruas, loteamentos. E depois de sete anos e meio eu percebi que tinha que andar com as próprias pernas, aí resolvi dar continuidade ao meu negócio de fotografia, e foi daí que começou.
O meu nome é Vespasiano, como eu falei de início, mas parece um palavrão. E o genro do seu Arnaldo, o Marcos Carvalho, me botou o apelido. “Não vou mais te chamar de Vespasiano, seu nome vai ser Vespa.” E até hoje pegou esse apelido, tem muita gente que não me conhece por Vespasiano. Daí surgiu o nome Foto Vespa.
Eu tenho um amigo, irmão de igreja, que se chama Manoel Porfírio, em Barreiras. Ele foi o primeiro fotógrafo de Barreiras e tinha uma loja lá, chamada Cine Fotos das Crianças. Eu trabalhei com ele, fui trabalhar no Laboratório, na época revelando filmes, desde o preto e branco tenho acompanhado a evolução da fotografia. Ali eu comecei a ter o gosto pela fotografia. Trabalhei dois anos e meio, se eu não me engano, com ele; foi quando eu me casei e vim embora para cá.
Naquela época, Mimoso tinha muitas empresas. Eu saía nas horas vagas, depois do expediente de trabalho, pegava a bicicleta, ia para o Rio, para as empresas, fotografar. E foi começando, e foi aumentando o volume de negócio, aí montei a minha empresa, a primeira loja, o primeiro laboratório.
Naquela época, os aviões que tinham aqui eram só aviões agrícolas, era o Jacolauco que tinha. E as primeiras imagens que eu fiz da vila foram em cima da torre, subindo a torre de televisão. Depois, o Jacó tinha um aviãozinho; nesse avião dele eu comecei a fotografar imagens aéreas. A minha dedicação hoje é essa, sou especializado em fotografias aéreas.
Quando eu saí de Barreiras para Luís Eduardo, eu não gostei mais de voltar para Barreiras. Minha mãe adquiriu uma chacarazinha no Rio das Fêmeas, até hoje ela mora ali. E aqui por dentro tem um atalho, o caminho antes era por Barreiras; depois que eu descobri esse atalho, eu passei cinco anos sem voltar em Barreiras. Gosto de Barreiras, mas o clima de Barreiras é totalmente diferente; lá está a quatrocentos e poucos metros de altitude e aqui setecentos e pouco. Na verdade, tem muito do clima da época de Mimoso, apesar de que naquela época era um poeirão esquisito, muito difícil; não havia mercado, não havia ônibus para gente fazer compras em Barreiras, a gente pegava carona de caminhão. Mas me apaixonei pela região e estou até hoje aqui. Eu acredito que se Jesus não voltar antes, eu irei morrer nesse lugar; gosto muito de Luís Eduardo.
A gente lembra das primeiras casas construídas. No meio do nada começavam a aparecer uns casebrezinhos, sem energia, sem água. O posto Mimoso fornecia a energia e a água. As primeiras valas que foram cavadas com alguns colaboradores, a emoção de chegar energia, de chegar a água nessas casinhas, isso marcou muito. Até os primeiros postes que foram colocados eram de madeira tirada do cerrado, bananeira. E quando a gente viu, depois que veio para cá, a energia nos postes de cimento, começou a transformação daquela vila num lugar mais decente. As primeiras ruas sendo pavimentadas, a gente guarda as lembranças disso. Através de imagens a gente vem registrando o crescimento da cidade.
A gente nunca para de sonhar, só depois que morre. Mas o sonho que a gente sempre tem é de ajudar o próximo. E a gente tem procurado fazer isso nas nossas limitações. Às vezes Deus permite que a gente tenha para contribuir, para ajudar, os mais necessitados que não tem.
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