Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Geraldo Vieira Bueno
Entrevistado por Tereza Ruiz
Nova Resende 16/09/14
Realização Museu da Pessoa
Entrevista NCV_HV_60
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Primeiro, Geraldo, fala pra gente o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Meu nome é Geraldo Vieira Bueno. Nascido em 10 de janeiro de 1959, em Nova Resende.
P/1 – Agora o nome completo do seu pai e da sua mãe, e se você lembrar também data e local de nascimento.
R – Meu pai, o nome dele é Antônio Vieira Bueno. Ele nasceu no município de Nova Resende também. E minha mãe é Rita (Bachião?) Bueno, nascida em Bom Jesus da Penha. (Bachião?).
P/1 – O que os seus pais faziam ou fazem profissionalmente, Geraldo?
R – O meu pai já é falecido faz 35 anos, era lavrador. A minha mãe ainda é viva, tá com 85 anos e mora na roça até hoje.
P/1 – E o seu pai era lavrador, trabalhava com quê cultura?
R – Milho, feijão, café, tirava leite com pecuária. Então o serviço dele era de roça também.
P/1 – Quando ele era vivo, ele trabalhava numa propriedade que era dele, ou não?
R – Dele. Era um sítio pequeno, mas era dele.
P/1 – E ficava aqui em Nova Resende mesmo?
R – Aqui na roça, no bairro, na zona rural.
P/1 – Perto daqui onde você tá hoje?
R – Perto da onde a gente mora hoje. Uns dois quilômetros.
P/1 – Tem um nome? Tinha um nome esse sítio?
R – É bairro Penha de Cima.
P/1 – E descreve um pouquinho assim como é que o seu pai era como pessoa, o jeito dele, e sua mãe também.
R – Meu pai, toda vida, eu não lembro antes, mas pelo passado a gente vê que toda vida ele foi muito trabalhador. Que veio de uma família pobre, humilde, de pouca situação financeira, mas ele tinha muita coragem de trabalhar e trabalhava. Na época, há muitos anos eu o ajudei também, ele fazia a rapadura de cana-de-açúcar,...
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Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Geraldo Vieira Bueno
Entrevistado por Tereza Ruiz
Nova Resende 16/09/14
Realização Museu da Pessoa
Entrevista NCV_HV_60
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Primeiro, Geraldo, fala pra gente o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Meu nome é Geraldo Vieira Bueno. Nascido em 10 de janeiro de 1959, em Nova Resende.
P/1 – Agora o nome completo do seu pai e da sua mãe, e se você lembrar também data e local de nascimento.
R – Meu pai, o nome dele é Antônio Vieira Bueno. Ele nasceu no município de Nova Resende também. E minha mãe é Rita (Bachião?) Bueno, nascida em Bom Jesus da Penha. (Bachião?).
P/1 – O que os seus pais faziam ou fazem profissionalmente, Geraldo?
R – O meu pai já é falecido faz 35 anos, era lavrador. A minha mãe ainda é viva, tá com 85 anos e mora na roça até hoje.
P/1 – E o seu pai era lavrador, trabalhava com quê cultura?
R – Milho, feijão, café, tirava leite com pecuária. Então o serviço dele era de roça também.
P/1 – Quando ele era vivo, ele trabalhava numa propriedade que era dele, ou não?
R – Dele. Era um sítio pequeno, mas era dele.
P/1 – E ficava aqui em Nova Resende mesmo?
R – Aqui na roça, no bairro, na zona rural.
P/1 – Perto daqui onde você tá hoje?
R – Perto da onde a gente mora hoje. Uns dois quilômetros.
P/1 – Tem um nome? Tinha um nome esse sítio?
R – É bairro Penha de Cima.
P/1 – E descreve um pouquinho assim como é que o seu pai era como pessoa, o jeito dele, e sua mãe também.
R – Meu pai, toda vida, eu não lembro antes, mas pelo passado a gente vê que toda vida ele foi muito trabalhador. Que veio de uma família pobre, humilde, de pouca situação financeira, mas ele tinha muita coragem de trabalhar e trabalhava. Na época, há muitos anos eu o ajudei também, ele fazia a rapadura de cana-de-açúcar, fazia polvilho. Então ele plantava mandioca, plantava cana, fazia polvilho, tirava leite. Aumentou a propriedade com essa atividade na cultura na roça. Ele não tinha outra profissão.
P/1 – Só retomando, você falou um pouquinho do seu pai. E a sua mãe, como ela era?
R – A minha mãe é de descendência italiana, que meus avós vieram da Itália. A minha mãe morava aqui na roça também e ajudava meu pai mexendo com polvilho, com cana-de-açúcar, essas coisas, rapadura. Então ela vivia na roça e ajudava meu pai na roça mesmo criando os filhos. E os filhos tudo aprenderam a trabalhar com o ensinamento do pai e da mãe.
P/1 – E como eles eram de jeito?
R – Jeito financeiro?
P/1 – Não, jeito de pessoa mesmo, como pessoas. Eles eram pessoas mais calmas, se eles eram mais bravos, como é que eles eram?
R – Não. Você fala de calmo?
P/1 – É. Como é que era o temperamento, o jeito deles como pessoas.
R – O meu pai era uma pessoa assim muito calma. A minha mãe também era, só que a minha mãe, italiano você sabe que italiano não são muito... Qualquer coisinha ele se lasca, ele se queima. A minha mãe até hoje tem o tipo dela, ela é viva até hoje, mas só que ela era mais um pouquinho nervosa. Mas meu pai não. Meu pai era muito calmo. Inclusive, nem meu pai, nem minha mãe não tinha inimizade com ninguém, nem com irmão, nem com parente, nem com vizinho. Então eles tinham um temperamento muito bom, muitas vezes até davam conselho quando tinha algum problema de família de algum vizinho, alguma coisa, eles interferiam pra não deixar fermentar a massa. Então eles faziam de tudo pra ver se ficava tudo em paz sem inimizade.
P/1 – E você falou que a sua mãe, os avós dela eram italianos.
R – Italianos.
P/1 – Do seu pai, você sabe qual que é a origem da família?
R – Meu avô paterno era alemão, e a minha avó paterna também, ela nasceu aqui no Brasil, mas eles falavam que era italiano, mas não era, não. Eu acredito que eles eram portugueses.
P/1 – E você sabe por que eles vieram pro Brasil, os seus avós, tanto do lado de mãe como de pai?
R – O meu avô, eu sei o meu avô materno. Ele veio porque a minha avó materna veio da Itália pro Brasil e lá na Itália eles namoravam, dizíamos assim, ela veio, ele veio atrás e casou com ela por aqui no Brasil e ficou aqui (risos). Isso eu sei que é por isso. Agora, meus avós paternos, eu não sei o porquê eles vieram, não.
P/1 – Ele veio atrás dela mesmo.
R – Meu avô materno veio atrás dela, só que não veio pra Nova Resende, não. Minha avó tava em Varginha, entre Varginha e Paraguaçu, e não sei como ele veio e a achou, de lá ele veio com ela pra Nova Resende, construiu a família aqui, viveu aqui até morrer.
P/1 – Como é que era o nome deles?
R – João (Bachião?) e minha avó é Rosa Guelere (Bachião?). Então todos os dois eram italianos.
P/1 – E do lado paterno, como é que era o nome dos seus avós?
R – Meus avós era Felipe Vieira e minha avó era Balbina Bueno Vieira.
P/1 – E todos eles quando chegaram ao Brasil foram trabalhar na roça?
R – Todos eles foram pra roça e ficaram na roça.
P/1 – E você sabe o que eles cultivavam na época?
R – Na época, materno, eles mexiam com cana-de-açúcar também. A mesma atividade que o meu pai tinha, eles também tinham, só que eles mexiam com cana-de-açúcar, tiravam leite, aquele negócio de desnatar leite. Naquela época, há muitos anos, eu nem me lembrei disso, mas ele mexia com desnatamento de leite. Inclusive, os vizinhos não tinham onde mandar leite, eles desnatavam para os vizinhos e consumiam o leite, onde ele mandava o leite desnatado.
P/1 – Como é que era isso o desnatamento de leite?
R – Eu não sei. Eu só sei que eles falavam que eles faziam isso.
P/1 – Você mesmo nunca acompanhou?
R – Isso não. Não é do meu tempo, não. A gente sabe o ritmo de vida deles anterior porque minha mãe falava, meu pai falava, minha avó falava, mas eu não sei, não.
P/1 – E você sabe como é que o seu pai e a sua mãe se conheceram?
R – Não sei também. Isso há muitos anos, mais de 60 anos atrás, então o negócio era meio (risos)...
P/1 – Nunca te contaram essa história?
R – Não. Não contaram, não.
P/1 – E você tem irmão, Geraldo?
R – Nós somos dez irmãos. Somos seis homens e quatro mulheres, mas o meu irmão caçula faz 19 anos que ele faleceu. Se ele estivesse vivo hoje ele estaria com 39 anos.
P/1 – Morreu jovem.
R – Jovem. Ele sofreu um acidente com 13 anos de carro e teve que por umas válvulas de quarto ventrículos na cabeça, depois de oito anos deu rejeição, um dia pra um ano que ele começou a dar rejeição, ele morreu. Ele ficou um ano no hospital. Faltou um dia pra um ano no hospital, depois que ela começou a dar rejeição. Que ele teve oito anos bem, beleza, trabalhando normal. Quando começou a dar rejeição, não teve solução.
P/1 – Morreu novinho.
R – Novo. Vinte e três anos.
P/1 – E como é o nome dos seus irmãos?
R – Esse que faleceu, que é o meu irmão caçula, chamava Vanildo Vieira Bueno. Eu ainda tenho um irmão solteiro, o nome dele é Nivaldo Vieira Bueno, Aparecido Bueno, ele mora com a minha mãe. Depois tem outro que chama José Donizete Vieira Bueno. Tem outro que chama Mauro Vieira Bueno, João Vieira... Geraldo Vieira Bueno, que sou eu, depois o João Vieira Bueno. E tenho uma irmã que chama Lázara Vieira de Lima, a outra chama Balbina Vieira Bueno, que pegou o nome da minha avó. E tem a outra que pegou o nome da outra avó materna, Rosa Vieira Bueno. E tem a outra irmã, que é mais velha, que é Maria de Lurdes Bueno. Então somos dez irmãos. Uma família é grande.
P/1 – E os seus irmãos trabalham com o quê?
R – Os meus irmãos, os homens, são tudo lavradores. Agora, as minhas irmãs mulheres, tem uma que mora em Areado, ela trabalhava com farmácia, só que eles têm sítio na roça e trabalham na roça também. Mas eles mexiam com farmácia. Mexeram muitos anos com farmácia, até aposentar. Agora, a minha família mora tudo na roça, todo mundo gosta de roça mesmo.
P/1 – Cresceram e continuam na roça.
R – Continuou, criou os filhos, vieram os netos, tudo na roça.
P/1 – Quando você era pequeno, Geraldo, vocês tinham o hábito de consumir café na sua casa?
R – Tomar café? Eu nunca tomei café. Eu e o meu irmão que faleceu, nós nunca tomamos café. Não é porque eu não gostava, eu não aprendi a tomar café. Então não aprendi a tomar café, não aprendi a fumar. A minha família ninguém fuma e ninguém bebe, porque os meus pais não deram esse mau exemplo talvez, desculpa eu falar, mas talvez esse mau exemplo de ficar bebendo, fumando, essas coisas. Então a gente não aprendeu isso.
P/1 – Mas na sua casa ninguém consumia café então?
R – Não. Oito tomavam café. Tomavam e tomam café. Só nós dois que não aprendemos a tomar café e passamos bem sem tomar.
P/1 – Você lembra como era preparado o café na sua casa quando você era pequeno?
R – Lembro. Isso aí eu torrava café pra minha mãe, era torrado no torrador, sabe? Tinha o torrador de torrar o café, isso eu fazia pra minha mãe, então eu torrava o café e depois tinha um moinho, moinho com uma manivela, depois que torrava o café, descansava o café. Todo dia moía o café na hora de preparar o café pra tomar. Aí moía no moinho e preparava o café pra tomar.
P/1 – E preparava como?
R – Uai, punha a água a ferver, punha o açúcar e depois punha o pó no coador e coava o café na hora. Isso eu lembro, eu ajudei muito a minha mãe a fazer isso.
P/1 – E o café que vocês consumiam vinha de onde, você sabe?
R – Produção? Nós que produzíamos o café.
P/1 – Então na época a sua família já trabalhava com café?
R – Trabalhava com café. Meu pai desde antes dele casar, ele plantou um pouquinho de café. Tinha muito pouco, naquela época era muito pouca lavoura de café e começou a plantar café, foi plantando aos pouquinhos o café e continuou. Foi mudando o ritmo de cultura, porque mexia com rapadura, com polvilho, acho que ele começou a ver que o café e a pecuária era melhor que aquilo lá e foi deixando. Por isso que hoje nós não mexemos nem com polvilho, nem com cana-de-açúcar. Porque aprendemos a mexer com outra atividade, acho que foi o melhor.
P/1 – Quando você era pequeno, você ajudava o seu pai na roça?
R – Desde os cinco anos. O meu pai moía, cana então nós pequenininhos já... Não era só eu, eu e meus irmãos, então nós já íamos cedo ajudá-lo a trabalhar. Mesmo que estudasse. Eu estudei em Nova Resende, estudei na roça até a quarta série, estudei na Petúnia, que são uns oito quilômetros, depois estudei em Nova Resende, que dava uns 11 quilômetros da casa do meu pai lá, ia e voltava todo dia. E voltava e ia ajudar a trabalhar, fazia o dever à noite com a luzinha de... Não era lamparina, não. Desde quando eu era pequeno meu pai já tinha um dínamo que gerava energia, sabe? Um gerador de roça, você não deve nem saber o que é isso. Então com água, tocava a turbina e a turbina gerava energia. Então já tinha, mas era muito fraquinho. A gente trabalhava na roça e à noite fazia os deveres pra o outro dia você ir de madrugada pra cidade.
P/1 – E na roça, no que vocês ajudavam? Quais eram as atividades que você ajudava?
R – Eu a ajudava o meu pai a tirar leite, capinava arroz, capinava feijão, que naquela época era tudo capinado na enxada. Plantava, mexia com gado, ajudava a arrumar cerca, fazia de tudo, ajudava de tudo. Só que era gostoso. Eu falo que a gente aprendeu a trabalhar novo, mas eu acho que valeu a pena, porque a gente aprendeu a dar valor àquilo que é da roça.
P/1 – E você começou a estudar, você tinha que idade?
R – Tinha seis anos completos quando eu comecei a ir. Só que eu fui antes um pouquinho, mas não era matriculado, com os meus irmãos, que era bastante irmão, nós tínhamos bastantes irmãos. Então tinha uma escola na roça aqui, de vez em quando eu ia com eles e comecei a pegar o jeito lá na escola junto com eles. Ia mais pra brincar com as crianças. Depois com seis anos eu entrei, quando eu já entrei na escola com seis anos, eu já sabia ler e escrever. Com seis anos de idade. Inclusive, eu tenho muito que agradecer meus professores e professoras, que naquela época fazia o dever em casa, chegava à escola, o professor mandava ir lá ao quadro na frente pra apresentar o dever e eu gostava de apresentar os deveres, só que os professores algumas vezes davam chance pra mim, mas tirava outros. “Não, você sabe por que você vir cá, tem que vir o outro. Então sempre a gente teve esse elogio na escola. Quando ia fazer dever em grupo, aí o professor já escolhia: “Não, você vai fazer dever em grupo, mas com Fulano, Sicrano e Sicrano, que são mais atrasados, pra você ensiná-los. Então você tem que fazer dever com eles”. Mas pra mim tudo valeu, eu acho que foi bom, foi interessante na vida da gente.
P/1 – Como é que era essa escola rural, essa primeira escola que você ia?
R – Essa primeira escola rural não tinha energia, banheiro da época não tinha vaso sanitário. Tinha o banheiro, mas era com tábua, tudo diferente, e era uma lousa na parede, um quadro na parede, a gente escrevia no quadro. Quando tava chovendo não tinha vitrô, era janela, você tinha que fechar a janela de um lado e abrir do outro, se tivesse tempo de chuva, você ficava muito escuro lá dentro, sabe? Mas a professora passava o dever no quadro, você pegava e copiava no caderno o dever. Então era totalmente diferente. Isso é coisa de muitos anos atrás, mais de 40 anos atrás, 50 anos atrás, estamos assim. Então passava o dever, ela passava as contas no quadro, eu fui muito bom em Matemática. Ela passava as contas no quadro, quando ela terminava de fazer as contas, eu já tava terminando de passar para o caderno e já levando prontinha. Aí eu: “Professora, eu já terminei. Posso ir aí fazer uma?” “Não. Você não. Vem o outro. Você vai ficar por último, você vai vir corrigir” (risos). Era gostoso.
P/1 – Tava contando da escola, queria saber se tem alguma professora que tenha te marcado, uma professora que foi mais marcante assim pra você.
R – Em termo de professor?
P/1 – É.
R – Eu sou muito feliz que todos os professores eu tinha muita amizade por eles. A gente, como diz o outro, fazia tudo o que podia fazer, que tinha necessidade de fazer, a gente fazia. Quando a gente tinha alguma dúvida, a gente tinha a oportunidade de ter um diálogo com eles e conversar. Eu acho que os meus professores todos valeram a pena, foi um prêmio de Deus mesmo. Então não tive nada contra os meus professores.
P/1 – Mas teve algum especial assim que você tenha gostado mais?
R – Não. Isso não. Eu acho que a gente nunca foi de fazer diferença entre um e outro. Eu acho que todos eles, mesmo aqueles que tinham menos diálogo ou mais diálogo, tudo é a maneira de viver deles. Então a gente os valorizava igual pra não fazer diferença entre um e outro.
P/1 – E como é que era a estrutura da escola? Era uma sala de aula só?
R – Uma sala de aula pra três classes: primeiro, segundo e terceiro ano. Que na roça não tinha quarta série. Então tinha três classes dentro de uma sala de aula. Só pra você ver que dificuldade que era de primeira. Isso aí é uma coisa que vocês não acreditam que não é do tempo de vocês, vocês não acreditam. As cadeiras eram tudo cadeiras muito ruins. Tinha umas cadeiras que tinham uns encostinho, outras nem tinham encostinho, era uma tábua, fazia um cavaletinho de tábua e ficavam quatro, cinco em cada cavaletinho daquele lá, escrevendo em cima daquilo lá. Nós dividíamos as turmas. Uma professora lecionava pra três classes: primeira, segunda e terceira série. Ela tava passando dever pra uma sala, a outra série tava conversando, ela parava e dava um tapa na... Isso eu não esqueço até hoje, ela dava tapa na mesa dela lá, que ela tinha uma mesa, que assustava todo mundo, sabe? E elas sempre foram bravas. Mas se não fosse também, o que acontecia? Porque uma professora dando aula pra três classes diferentes. Uma tava fazendo dever, a outra classe tava brincando, conversando. Então era difícil isso aí. Eu nunca gostei de ficar lá atrás. Teve uma época... Você me perguntou da professora, vou voltar atrás. Tinha uma tal Nair, nós falávamos era dona Nair, era bem moreninha, sabe? Bem moreninha mesmo, não sou racista, não. Mas só que eu gostava dela. E um dia eu tava sentado lá no fundo, eu tava na segunda série, ela passando o dever pra terceira série e os colegas meus conversando e brincando lá. Ela pegou e deu um tapa na mesa e falou: “Eu vou por todo mundo de castigo”. E lá nessa época ela punha de castigo, isso é verdade, acontecia mesmo, ela levava lá fora, punha milho no chão e fazia eles ficarem cinco, dez, 15 minutos ajoelhados no milho. Não sei se alguém já passou isso pra vocês, se não passou foi bom que não tivesse passado mesmo. Aí ela pegou e falou: “Eu vou levar todo mundo”. E eu tava lá atrás, eu era da turma de trás, mas só que eu não tava conversando, na verdade eu tava até fazendo o meu dever, mas aí ela pegou e me levou também. Só que quando ela voltou lá pra dentro ela viu, não sei se ela foi lá, olhou o caderno, o meu dever tava feito. Não sei se ela viu que eu não tava brincando com eles, que eu tava fazendo o dever, que ela passava o dever, enquanto você tava fazendo o dever, ela tava passando pra outra classe. Ela voltou lá, chegou lá e pediu desculpa. Falou: “Olha, Geraldo, eu quero que você me desculpe. Você terminou de fazer o teu dever, você tava terminando de fazer, eu falei que era 15 minutos pra vocês fazerem o dever, o teu já tá pronto, pode voltar pra sala. Você me desculpa”. Quando ela falou me desculpa, os outros foram acompanhando e virou um pé de guerra, e virou um brigueiro. Brigueiro assim, os alunos com a professora. Foi preciso eu entrar no meio que eles queriam bater na professora, pra não bater nela. Aí marcou uma reunião com os pais. Naquela época tinha muito pai que era rebelde, eles não... O filho chegava a casa, contava mentira para os pais e eles acreditavam eram nos filhos. Então eles não acreditavam na professora. Marcou a reunião com os pais. Ela era muito inteligente essa professora, chamava Nair, ela chegou e falou: “Vocês vieram aqui, foi marcada a reunião, mas primeira coisa que eu quero que vocês ouçam, quem era do grupo de vocês. O Geraldo era do grupo de vocês...” – ela falava Geraldinho – “o Geraldinho tava lá no fundo, o dever dele tava pronto, ele tava fazendo a última conta do dever dele, que era Matemática e ele que vai passar a palavra pra vocês, ele que vai conversar com vocês”. Chamou lá na frente. Sem eu saber, sem nada. Falei: “O que eu vou falar?”. Eu tinha sete pra oito anos, que eu tava na terceira série. Falei: “O que eu vou falar agora?”. E tinha uns 30, 40 pais. Aí eu cheguei, meu pai inclusive tava, eu fui lá à frente. Nem olhei na professora, aí falei: “Olha, o negócio é o seguinte, ela me chamou aqui, eu não sei o que ela quer comigo. Eu quero pedir desculpa pra vocês, só que tem uma coisa, pra ela ter me chamado aqui, eu não sei o que eu vou falar, mas eu vou falar o que eu senti, o que eu vi. Eu tava fazendo o meu dever, eu não tava prestando atenção no que eles estavam fazendo, o que eles estavam falando, se tava falando palavrão, se tava xingando, se tava brincando. Eu tava fazendo o meu dever. E ela deu um tapa na mesa lá, eu acho que ela tinha toda razão, porque estava atrapalhando a outra classe. Ela levou todo mundo pra castigo, inclusive eu fui de castigo junto. Que eu não devia, mas eu fui. Fui e não reclamei porque se ela levou todo mundo, um não vai ficar pra trás. Depois ela voltou, com certeza ela foi lá e viu que o meu caderno tava pronto o dever, voltou lá e me tirou de volta. Tirou só eu de volta”. Aí eu contei a verdade, tinha que contar a verdade, porque eu não podia contar mentira. “Tirou-me de volta que o meu dever tava pronto. E me levou pra sala de aula, eu fui e fiquei no meu lugar lá atrás do fundo. Só que ela me tirou de lá, ela me passou pra frente agora, disse que não vai me deixar lá atrás mais, agora o resto vocês conversam com ela, vocês se entendam.”
P/1 – E se resolveu no final?
R – Mas contei a verdade, que eles estavam fazendo bagunça mesmo. Resolveu. Os pais começaram os cri-cris lá fora. Quando chamou pra reunião, eles pensaram que iam fazer uma guerra com ela, aí quando eu falei, ela falou: “Por isso que eu chamei vocês aqui, que são os pais, porque os filhos de vocês não obedecem a escola. Eles chegam aqui, eles querem fazer bagunça atrapalhando as outras salas. Foi isso que ele falou, só que ele tava fazendo dever. Olha, seu Antônio...” – meu pai chamava Antônio – “olha, seu Antônio, eu chamei o senhor também, porque se eu não chamasse o senhor, os outros iam falar: ‘Por que não chamou o seu Antônio pra vir à reunião?’ Por isso que eu convidei o senhor, mandei a cartinha para o senhor, exigi do senhor pra vir à reunião hoje. Só que o filho do senhor não deve, não. É isso que ele falou aí. É desse jeitinho que aconteceu. Se quiser perguntar para os outros alunos das outras classes, pode perguntar, que eles vão falar a mesma coisa. Eu quero que vocês eduquem os filhos de vocês pra vir à escola, vir pra aprender, não pra brincar. Brincar, eles brincam em casa”. Olha, mas chamou a atenção de todo mundo lá, pôs todo mundo na regulagem. Bom, aí meu pai veio embora e não me falou nada, que meu pai não elogiava, nem danava, sabe assim? Quando tinha reunião, ele ia lá, sempre conversava com o professor. A gente nunca fazia nada pra dar o braço a torcer. Cheguei a casa à noite, à noite reunia a família, tinha os vizinhos, naquela época, isso há muitos anos, não tinha televisão, então meu pai tinha rádio em casa, rádio, vocês conhecem rádio, né? Então os vizinhos iam pra lá pra assistir rádio, ouvir música no rádio. Quando começou a chegar o pessoal lá, o meu pai tinha reunido a família, não pra danar, mas pra bater um papo, falar: “Vocês sejam como gente grande. Vocês são crianças, vocês têm que conviver, viver como gente grande. Vocês têm que aprender a trabalhar, vocês têm que aprender a respeitar na escola, em casa, na casa dos outros, porque você já pensou... Eu fui com a minha cara no chão à reunião hoje, fui com a minha cara no chão, falei: ‘Eu vou ver o que vai acontecer’. Quando ela chamou você lá pra falar, eu falei: ‘Agora que vai ser o problema, que todo mundo vai olhar em mim’. E olhou mesmo em mim. Quando você começou a falar lá, você falou muito bem. Você falou pouco, mas você falou muito bem. Você falou o que você tava fazendo, mas você continua desse jeito, meu filho. Não muda, não. E não entra em bagunça”. Então isso aí foi um bom exemplo, deu força pra gente crescer. Aí a gente pegou... Ele falou: “Nunca entre em farra na escola. Brincadeira, faça fora, mas na escola não”.
P/1 – Ele ficou orgulhoso.
R – Fiquei orgulhoso. E a professora também ficou orgulhosa, que aí ela tirou do lugar, mas só que aí você já viu como ficam as coisas, a gente já fica num lugar que você sabe que tá mais bem acomodado. Então tudo quanto era coisa eles falavam: “Tá puxando o saco dele, levou ele lá pra frente” “Não. Os melhores eu vou trazendo pra frente, os piores eu to de olho neles lá atrás”. E era gostoso na época, então isso foi marcante na vida da gente com essa professora acontecer isso.
P/1 – Como é que você ia e voltava pra escola?
R – A pé. Na roça eram cinco, seis quilômetros. Na Petúnia dava uns oito quilômetros. Nova Resende dava uns 11 quilômetros. Tudo no pé. Não tinha carro escolar, não tinha nada, enfrentava chuva, sol, mas foi bom. Tudo valeu.
P/1 – E tinha uniforme, sapato? Como é?
R – Nada. Não, sapato, isso a gente tem que elogiar os pais da gente, que desde pequeno eles davam um calçado pra gente. Não era calçado bom, mas davam calçado pra gente ir pra escola. Mas não tinha uniforme, não tinha pasta. A minha fazia uns _________, que a minha mãe costurava. Eu me esqueci de falar, minha mãe também costurava. Inclusive, a minha mãe costurava pra família e costurava pra muita gente que não tinha condição de pagar, você entendeu? Então às vezes a pessoa tinha condição de comprar uma peça de pano pra fazer uma roupa, mas não tinha condição de pagar uma costureira, ela fazia pra todo mundo. Minha mãe costurava quase que a noite inteira, até meia noite, uma hora da manhã ela tava costurando para os outros à noite. De dia ela ajudava a fazer o dever de casa, as coisas de casa, e à noite ia costurar pra ajudar os outros. Então ela foi muito guerreira, muito trabalhadeira.
P/1 – Queria que você falasse um pouquinho pra gente como é que era a casa em que você passou a infância.
R – A casa? Então deixa eu te falar, a minha quando eu era pequenininho, a casa do meu pai era de barro e falava assim casa de pau a pique. Então fazia a estrutura da casa de madeira de esteio, fazia a cobertura e fazia tudo de pau a pique assim, depois punha bambu assim e rebocava. Então no começo foi. Depois que eu tava com uns dez anos por aí, aí meu pai arranjou um homem que fazia tijolo e jogou aquilo lá tudo no chão e fez de tijolo. Nossa, mas deu dó. Deu aquela pauzeira velha, aquela coiseira pra fazer pra fazer outra casa, sabe? Só que aquilo lá dava... Como é que é o nome do negócio que dava naquilo lá? Bem, como que é o nome daquele negócio que dá no sangue, lá? É barbeiro, aquele negócio de barbeiro lá. Foi por isso que o meu pai desmanchou a casa, que ele achou na trinca, dava aquela trinca de barro na parede, naquela trinca de barro ele achou um barbeiro. Só que graças a Deus nós nunca tivemos problema com Chagas, essas coisas, não. Aí ele achou, ele rebocou tudo de novo, retocou aquilo lá, colocou um veneno que na época chamava não sei se é BHC, sei lá, era um produto catingudo. Aí tinha um farmacêutico em Nova Resende, esse eu me lembro dele, ele se chamava Ranulfo. O farmacêutico falou assim: “Esse veneno é de colocar em broca de café, não pode colocar em casa de morada que ele não é pra colocar em casa, não. É aconselhável você desmanchar isso e fazer de novo”. Meu pai correu atrás e mandou o homem fazer tijolo e levantou outra casa de tijolo. Aí fez outra casa, aí ficou chique a casa que é de tijolo, já é rebocadinha e tudo. Aí colocou assoalho novo, tudo assoalho, sabe? Aí ficou legal a casa. Quer dizer, na época era legal, não pode falar hoje.
P/1 – Mas era uma casa pequena? Era uma casa grande? Quantos cômodos tinham? Como era?
R – Não. A casa, essa que era de madeira tinha seis cômodos. E ele fez outra, ele tornou a fazer de seis cômodos de novo. Aí já fez banheiro, que nessa casa que a gente morava de madeira, de pau a pique, o banheiro era bacia. Não tinha banheiro assim, banheiro mesmo. Aí quando ele fez essa outra casa, aí já colocou chuveiro com serpentina. Aquilo lá foi uma novidade. Foi a primeira que teve na região aqui no nosso bairro, banheiro de serpentina foi o meu pai que colocou. Então todo mundo falava: “Nossa, mas que chique, colocando banheiro com serpentina”. Funcionava que era uma beleza porque tinha fogão de lenha. A serpentina, você não deve saber como que é. A serpentina são uns canos que saem da caixa, do reservatório, passam dentro do fogão e retorna na outra caixa, sabe? Você tomava banho na água quentinha, você tinha torneira de água quente pra lavar as coisas, era uma beleza. Era chique mesmo na época.
P/1 – Você e os seus irmãos dormiam no mesmo quarto? Como era?
R – Dormíamos. Quer ver? Nós dormíamos quatro irmãos juntos num quarto só. Dormiam três numa cama e o meu irmão mais velho dormia em outra cama de solteiro. Os cômodos eram tudo pequenos. E naquela época não era como agora, que hoje todo quarto tem guarda-roupa, tem tudo mais. Não, já tinha um quarto só pra ficar as roupas de todo mundo. Então era totalmente diferente. A vida de primeiro era difícil e era diferente mesmo. As minhas irmãs também dormiam num quarto só. Elas todas. Depois foi casando e foi saindo, foi diminuindo, outra saiu pra estudar, que resolveu estudar e saiu pra estudar, que é a Balbina, minha irmã. Então ela formou, estudou, mas porque ela saiu de casa. As minhas irmãs saíram mais rápido de casa, porque, você sabe, naquela época casava... Minha irmã mais velha casou nova, com 16 anos, depois a outra casou com 17 anos, a outra já saiu pra estudar, saiu com 13 anos e não voltou mais. Então aí já ficaram só os homens e minha mãe em casa. Por isso que a gente tinha que ajudar muito a mãe também.
P/1 – Esse quarto que guardava as roupas era o que? Guardava dentro do quê as roupas?
R – Era caixa. De primeiro não tinha guarda-roupa, guardava nas caixas. Tinha uma cama de casal que era pra hóspede e tinha as caixas lá que guardava as roupas tudo na caixa.
P/1 – E nessa fase de infância, Geraldo, do que você brincava e com quem você brincava?
R – Era muito legal. Era muito melhor do que hoje. Eu nunca ganhei um carrinho de plástico, nunca ganhei um caminhãozinho, mas nós fazíamos. Então era carrinho de bambu, de sabugo que a gente fazia, fazia brinquedo pra gente brincar, meu pai morava num lugar meio torto assim, a gente fazia uns Troller de rodinha pra brincar. Brincava de carrinho de boi, como se fosse carrinho de boi. Só que o meu pai ajudava a gente a fazer, sabe? Então a gente tem que agradecer isso, porque ele ensinava a trabalhar, mas ensinava a brincar também. Então foi uma pessoa que não só exigia aprender a trabalhar, mas ensinava a brincar também as brincadeiras.
P/1 – E como é que fazia esses brinquedos? Conta um pouco.
R – Tudo manual. Tudo com facão, com _______, sabe? E fazia tudo manual. É manual mesmo, não é igual hoje que você quer furar qualquer coisa, você pega uma furadeira e fura na hora. Você quer cortar qualquer coisa, você vai lá com motosserra dentro de dois segundos, uma circular, você corta aqui. Inclusive a gente tem isso em casa, mas naquela época era no serrote, cortava no serrote. Uma roda, ia fazer uma rodinha pra um brinquedinho, fazia um quadro no serrote, arredondava no facão. Era difícil, gente. Ele gastava tempo pra fazer aquilo lá, mas só que ele fazia pra ajudar a gente, incentivar a gente a brincar com aquilo lá. Mas era gostoso.
P/1 – Você tinha uma brincadeira favorita?
R – Não tinha, não. A única coisa que eu gostava mais na época, mas meu pai era contra, era de nadar. Então a gente gostava, ia com os amigos para os córregos, naquela época tinha muita água, muita água maior, ele não gostava de jeito nenhum.
P/1 – Por que ele não gostava?
R – Medo de afogar. Na época, a gente era criança, tinha muito afogamento. Às vezes saía turminha, quando via, chegava com um morto em casa que afogou. Ele tinha um pouco de medo e a gente tinha razão, porque era perigoso mesmo.
P/1 – E você falou que tinha rádio na sua casa. Eu queria saber o que vocês escutavam no rádio?
R – Tinha a Rádio Nacional, não sei se existe, de São Paulo, que tocava moda quase que o dia inteiro, a noite inteira, até meia noite. Então aí o pessoal ligava o rádio pra ouvir aquelas modas de antigamente, de Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, então são as duplas de antigamente. Era gostoso aquilo lá.
P/1 – Desde pequenininho tinha rádio? Você lembra quando o seu pai trouxe o rádio pra casa assim a primeira vez, ou quando você nasceu já tinha?
R – Não, eu tinha mais ou menos uns cinco anos, ele foi a Aparecida e comprou o rádio. Aí já tinha o dínamo que gerava energia. Ele foi a Aparecida e comprou esse rádio lá em Aparecida. Era uma semana pra ir a Aparecida e voltar, que ia de trem de ferro, pegava o trem de ferro em Monte Belo, ia até Monte Belo a cavalo, chegava a Monte Belo, Juréia que é distrito de Monte Belo, deixava o cavalo numa pessoa lá que alugava o espaço pra deixar o cavalo, ia de trem de ferro pra Aparecida. Era uma semana pra ir e voltar e ele trouxe o rádio. Trouxe e funcionou belezinha que o rádio era bom. Aquilo lá foi um show.
P/1 – Como é que foi quando ele chegou com o rádio em casa?
R – Chegou com o rádio em casa: “Trouxe um rádio”. E ele falava que em Aparecida tinha rádio pra vender, que ouvia a rádio de Aparecida, não sei que tem. Só que ele falava, a gente não sabia. Ele foi, só que ele não falou que ia comprar, não. Quando ele chegou lá em casa com aquela caixa, eu lembro direitinho, o rádio era um rádio grande assim, sabe? Chegou com aquela caixa, falou: “Eu trouxe o rádio de Aparecida”. Falei: “E agora pra por esse trem funcionar?”. Ele falou: “Não. Isso aqui vai funcionar belezinha. Ele funciona à pilha e à força. Se ele não funcionar de um jeito, ele funciona do outro”. Só que ele funcionou bem à força, aí não punha a pilha, que a pilha naquela época era difícil pra comprar. Era verdade, porque aqui na cidade se tivesse algum lugar que tivesse, não tinha mercado, eram só as mercearias, e não tinha. Depois quando fez uns três anos, acho que até as galinhas tinham rádio em casa (risos). Que aí todo mundo começou a comprar rádio, aí comprava a pilha, que não tinha energia, mas comprava a pilha. E era gostoso que aí um contava: “Eu ouvi uma moda assim, assim. Era gostosa a moda, ela falava isso...”. A pessoa ouvia a música uma vez, ela já sabia contar o que aconteceu na música. E aí o negócio foi ficando assim.
P/1 – Você se lembra de alguma música assim dessa época que você gostasse mais ou o seu pai? Uma canção assim...
R – Não. Eu não lembro, não. O meu pai era muito bom de cabeça, ele tocava viola muito bem. Cantava uma moda um dia no rádio lá, uma vez, duas vezes, ele já pegava a moda. Porque ele tocava viola muito bem, então pela letra da música, ele pegava muito bem. Só que o meu pai morreu novo também.
P/1 – Você não se lembra de nenhuma canção que ele cantava?
R – Não. Não lembro, não. Mas ele tinha os amigos dele que gostavam muito de cantar com ele, ele cantava em casa, sempre ele tava mexendo com a viola, o violão. Já os filhos, ninguém interessou muito por isso, não.
P/1 – Nenhum de vocês toca?
R – Não. Não me interessei muito por aquilo. Aquilo lá ele gostava, mas ele não incentivou a gente a aprender.
P/1 – E mais assim na adolescência, na juventude, você saía pra se divertir, Geraldo? Tinha festa na região?
R – Tinha. Aí depois tinha campo de bola na roça, dava muita gente. Inclusive eu brinquei muito de bola, gostava de bola até uns 17, 18 anos. Uns 17 anos, depois que eu tava... Não, já tinha quase 18 anos. Depois a gente foi pagar um jogo num bairro vizinho aqui perto de Petúnia e tinha um cara que era muito amigo meu, era bem mais velho que eu, mas eu tinha muita amizade pra jogar, e eu era rápido de bola. Então todo mundo me queria pra jogar. Todo bairro tinha os seus campos de bola e tinha muito bairro, os bairros tudo perto um do outro, então eles ficavam chamando: “Não, vem jogar conosco. Tem um time que vai vir, um time muito bom, vai dar muito aperto pra nós. Vem jogar conosco”. Às vezes eu saía do time que eu tava e ia jogar no outro time emprestado. Eles emprestavam jogador. Aí tinha o tomador de conta que tomava conta dos times, inclusive o time que a gente jogava aqui era o Adão (Guele?). Aí ele pediam: “Adão, empresta ele para nós. Nós precisamos de um jogador” “Empresto sim”. E ele era um italiano, falava: “Tal dia você vai jogar lá em tal lugar, que eles estão com um time boca quente lá”. Eles falavam boca quente porque era um time pesado. “To emprestando você.” E eu vou jogar na Petúnia emprestado. Cheguei lá, dei uma cruzada com esse colega meu que era colega de bola, só que ele era do outro time, nós éramos adversários. Ele quebrou a perna e eu me entristeci com aquilo lá, meu amigo, eu peguei a chuteira na hora, saí, peguei a chuteira e entreguei para o juiz, falei: “Tá aí a chuteira, põe outro no lugar. To saindo de campo”. Não voltei mais em campo até hoje, nem de brincadeira. Não joguei mais bola.
P/1 – Não quis mais depois desse dia?
R – Não.
P/1 – Você ficou muito impressionado, foi isso?
R – Eu fiquei, sabe por quê? Porque ele era muito amigo meu. A família e tudo era amigo. Já tinha jogado com eles de companheiro, de adversário, a gente tinha amizade, ele era um cara assim... Ele era um bom jogador. E aquilo lá foi uma coisa, uma coincidência, aconteceu aquilo lá. Aí eu fiquei triste, falei: “Aconteceu com ele, pode acontecer comigo e eu não quero que aconteça comigo e com mais ninguém”. Larguei mão.
P/1 – Mas ele voltou a jogar?
R – Ele voltou a jogar. Naquela época, olha pra você ver, ele foi de carro de boi pra Alpinópolis, foi pra Passos, lá pra frente eu não sei como o levou, quebrou a perna, depois com o tempo ele passou a jogar e muitas vezes ele falou pra mim: “Volta a jogar. Larga de ser bobo, sô”. Eu falei: “Não. Eu não jogo, não”.
P/1 – Que time você torce?
R – Não sou torcedor. Já parei. Já falei pra você, não torço pra time nenhum.
P/1 – Nem torcer não torce mais?
R – Nem torcer.
P/1 – Na época você torcia pra algum time?
R – Não. Na época, não. Na época a gente nem sabia quem era quem, qual time era melhor ou pior. Nessa época já tinha televisão, na casa do meu pai já tinha televisão, mas eu não torcia pra time nenhum.
P/1 – Você lembra quando chegou a televisão na casa do seu pai?
R – Lembro.
P/1 – Como é que foi?
R – Não foi meu pai que pôs primeiro, não. Tinha outro vizinho meu, que era um italiano, que era primo da minha mãe que pôs a televisão. O gerador do meu pai que gerava energia não tocava televisão, tocava só rádio. Aí meu pai pegou e trocou o gerador por outro gerador que tocava televisão e comprou a televisão. Mas isso aí eu já tinha uns 14, 15 anos, por aí, nessa época. A televisão era uma “televisãozona” preta e branca. Você nem conhece isso também, você nem sabe o que é preto e branco, mas a imagem era preta e branca, não tinha colorida.
P/1 – E o que vocês assistiam na TV?
R – Eu não fui muito de assistir televisão. Até hoje eu não sou muito de assistir televisão, não. Mas tinha novela, tinha os programas de televisão que o pessoal gostava. Pegava só uns dois canais, acho que era SBT e a Globo só que pegava. E outra, bem chapiscada, bem ruim. Quem vendeu a televisão fez um tanto de adaptação de antena, aquelas coiseiras lá pra pegar melhor. Mas pegava, sim.
P/1 – E quando você era novinho assim, Geraldo, criança ou na adolescência, você lembra o que você queria ser quando crescesse?
R – Olha, agora eu vou voltar quando estudava então. Quando a gente tava estudando eu falava que eu tinha intenção de ser médico. Aí sempre que eu falava isso, o meu pai falava assim: “Você sabe quanto fica pra ser médico? Tem que vender uma fazenda do tamanho da fazenda do Zé (Bachião?)” – aqueles parentes da minha mãe – “pra estudar um filho”. Falei: “Então já desisti. Não quero mais”. Ser médico é muito bom, mas que fica muito caro, fica. Só que ele nunca soube o quanto ficava esse caro que ele falava. Quando os meus... Agora eu vou voltar quando os meus filhos. Eu tenho um filho e uma filha só, todos os dois são formados. Quando a minha filha terminou o segundo grau, ela ia fazer Direito, eu falei: “Por que você não faz Medicina?”. Uma ideia. Ela: “Não. Eu quero ser advogada”. Falei: “Então tá bom. Se você quer fazer Direito, é Direito”. Aí ficou o meu filho. Ela começou, o meu filho tava entrando no segundo grau. Ele terminou o segundo grau: “Vou fazer Direito”. Então tá. Quer fazer Direito, ótimo. Quer dizer, é opção dele, ele quis fazer aquilo. Mas estão todos os dois felizes, todos os dois trabalham, estão muito bem, então eu acho que eles fizeram aquilo que era da vontade deles.
P/1 – Os dois formaram em Direito?
R – A minha filha é advogada aqui em Nova Resende, trabalha em Nova Resende, Bom Jesus da Penha e Guaranésia. E Monte Belo. Quatro cidades que ela atende. O meu filho trabalhou em Poços de Caldas, que ele formou na PUC em Poços de Caldas. Só que ele exerceu mais ou menos um ano e meio, prestou um concurso público do Estado de São Paulo e passou, ele trabalha hoje em Vargem Grande do Sul. Eu acho que tá fazendo aquilo que ele gosta.
P/1 – Claro. Vou voltar um pouquinho antes ainda na sua adolescência e na sua juventude.
R – Tá.
P/1 – Queria saber fora o futebol que você jogou até os 17 anos, você saía pra festa? Tinha festa na região? E como eram essas festas?
R – Nos bairros fazia aquelas festas de santo. Como que a gente fala? Em cada bairro tinha um padroeiro que era o padroeiro do lugar, aí fazia aquelas festinhas de barraca. E era gostosa aquela festinha de barraca, tinha leilão, então fazia aquelas festas na roça. E na cidade tinha as festas do padroeiro, que Nova Resende mesmo é Santa Rita. Depois tinha festa de semana santa. Mas na época que a gente começou a ir pra Nova Resende nas festas da semana santa, essas coisas, meu pai já tinha carro. Então eu já tinha mais ou menos dez, oito... Não. Eu acho que eu tinha cinco anos quando o meu pai comprou o primeiro jipe da região, que aqui só tinha o meu pai que tinha jipe também. Ninguém mais tinha. Depois tinha outro fazendeiro lá perto do meu avô que tinha um. Na Petúnia tinha um, Nova Resende tinha dez veículos quando o meu pai comprou o dele. Só pra você ter noção, o município de Nova Resende é grande e tinha dez veículos. No município todinho, no município e na cidade. Então aí já ia com o meu pai. E eram gostosas essas festas, mas não eram iguais hoje, as coisas são totalmente diferentes, aí tinha praça, você ficava passeando na praça, não tinha bebedeira, que a gente não aprendeu isso.
P/1 – Aí tinha música?
R – Raramente. Nas festas, sim. Aí quando surgiram os rádios à pilha, aí eles levavam o rádio pra deixar lá pra animar a festa. E lá tinha fogueira, nas roças. Na cidade não. Na cidade era diferente. Mas nas roças era assim.
P/1 – Tinha fogueira?
R – Tinha fogueira.
P/1 – E enfeitava assim os...
R – Enfeitava. Enfeitava. Ficava bonito, muito bonito enfeitado.
P/1 – Como que enfeitava?
R – Eles compravam um papel lá que eu nem sei como que é o nome do papel, igual uma cartolina, e fazia aqueles enfeitinhos e passava num fio. Enfeitava todinho e ficava muito bem enfeitado, sabe? Era legal assim, pela época era legal.
P/1 – E tinha comida? Como é que era isso?
R – Tinha os leilões. Aí o pessoal fazia nessas festinhas, cada um dos vizinhos levava as coisas de comer. Então fazia em casa tudo artesanal e levava pra servir lá para o pessoal, na roça. Na cidade não. Na cidade, se quisesse comer, você tinha que ir às padarias. Já era diferente na cidade.
P/1 – Então essas eram as principais festas que você ia durante a adolescência e juventude assim?
R – Isso.
P/1 – E você falou que você estudou até a oitava série, foi isso?
R – Foi.
P/1 – E aí durante o tempo que você estudou, você trabalhava junto na roça sempre com o seu pai, era isso?
R – Na roça com o meu pai.
P/1 – E aí você recebia algum dinheiro por isso?
R – Meu pai, na época, a gente não tem até que reclamar muito dele, não, porque apesar de ter uma situação financeira fraca, mas sempre que a gente precisava de dinheiro, pedia pra ele, ele arrumava. A gente não era de gastar à toa, mas ele arrumava aquilo que a gente necessitava, sim. Ele nunca deixou a gente... Vamos supor, você queria comprar uma roupa diferente, queria um dinheirinho pra gastar, sabe? Aí ele queria saber por que queria aquele dinheiro, mas arrumava. Então ele foi muito legal nesse ponto aí, que a gente tem até muita inveja por isso, que os outros pais não eram bem assim, não. A gente sabia que os filhos passavam muita dificuldade das coisas.
P/1 – E quando você deixou de estudar, Geraldo, por que você parou? Você que quis parar?
R – Não tinha segundo grau na cidade. Só Muzambinho, só fora, cidade maior. Então o que ia fazer? Não tinha condição de o meu pai pagar e não tinha como a gente ir pra estudar por causa da situação que era na época.
P/1 – E aí você continuou trabalhando então na roça?
R – Continuei trabalhando e gostei. Aí depois eu tava com 16 anos, meu pai comprou um trator, foi o primeiro trator que ele comprou, que ele mexia com boi, arava a terra de boi, não tinha grade pra gradear, passava um pó arrastando por cima pra desterroar que falava. Aí depois ele resolveu comprar um trator, eu acho que eu tinha uns 15, 16 anos. Comprou esse trator e foi uma grande novidade porque aquilo lá pra nós foi uma relíquia ter um trator. E a gente aprendeu a trabalhar de trator. Eu trabalhei muitos anos de trator e até hoje trabalho com trator.
P/1 – Você aprendeu a dirigir novinho assim o trator?
R – Dirigir?
P/1 – O trator.
R – Não, o trator, eu aprendi com uns 15 anos, por aí. Carro, eu aprendi com 11 anos. Com 11 anos eu já dirigia pra todos os lados. Pra você ter uma noção, eu tinha 16 anos meu pai pegou uma viagem para o Paraná e eram dois dias de viagem daqui lá, e ele me levou junto. Chamou-me pra ir junto, eu falei; “Vamos”. Não conhecia o Paraná, ouvia os outros falarem Paraná, Paraná, que naquela época, isso há quase 50 anos, Paraná era novidade, lugar que produzia muito café. Que Paraná tinha fama, capital do café. Chamou-me para ir junto. Eu pensei que era pra eu conhecer. Quando saímos daqui, que chegamos a Guaxupé, daqui a Guaxupé gastava três horas, pra ir daqui a Guaxupé. Chegou a Guaxupé, falou: “Vai dirigindo”. Eu peguei em Guaxupé, o dia amanhecendo, meia-noite nós fomos parar lá, eu lembro direitinho, lá em Andirá, já no Estado do Paraná, passou Paranapanema é Andirá. Sabe lá Andirá, Cambará? Que paramos pra dormir, de Guaxupé lá dirigindo. Eu era o piloto. E depois no outro dia levantamos cedo, andamos mais o dia inteirinho, eu dirigindo de novo. Não tinha polícia que parava, não tinha nada, sempre encontrava um caminhão velho, pau de arara na estrada, muito raro os carros que tinha. Mas não tinha, aquela paz. Aí chegou lá, ele falou: “Eu trouxe o meu filho porque ele é bom pra dirigir. Ele dirige bem”. Eu acho que sei lá se ele confiava em mim (risos).
P/1 – O que ele foi fazer lá no Paraná?
R – Foi levar um pessoal que tinha... Até um irmão dele que tinha um filho, um filho e uma filha que moravam lá no Paraná, e o arranjou pra levar. Que naquela época se fosse pra ir de ônibus era difícil demais da conta, tinha que fazer muita baldeação, sabe? Aí o arranjou pra levar lá. Foi levar o irmão dele com a cunhada lá no Paraná. Foram seis pessoas na época daqui ao Paraná. E sabe que carro que era? Jeep.
P/1 – Que mais você se lembra dessa viagem? Que lembranças você tem dessa viagem?
R – Você fala de estrada?
P/1 – É. Como é que foi pra você? Que coisas você lembra?
R – Pra mim foi novidade, porque eu não conhecia nada. O tio meu que ele foi levar lá, ele já tinha ido acho que umas duas, três vezes pra lá, só que ele não conhecia bem estrada. De vez em quando você parava e perguntava: “Eu to certo pra tal lugar, pra tal cidade?”. E pegava muita estrada de terra naquela época, mas muita. Quando pegava asfalto era uma... Raramente pegava um pedacinho de asfalto, era só terra. E foi só na base de informação pra ir. Pra voltar nós não perguntamos uma vez. Saímos de lá, viemos parar em Nova Resende sem perguntar uma vez. A minha tia era velha, assim já mais de idade: “Tá errado. Nós não passamos nessas estradas”. Eu falei: “Fica tranquila. O tio tem dinheiro pra por gasolina”. Mas não erramos, viemos sem perguntar de lá aqui. Quando chegou a Guaxupé, eu não me esqueço disso, eu sei que deixou na lembrança, chegou a Guaxupé, quando nós estávamos entrando em Guaxupé aí a minha tia falou: “Que cidade é essa?”. Eu falei: “Guaxupé” “Você tá errado, você nem sabe onde que tá”. Meu pai falou: “Você pode ficar tranquila, nós estamos em Guaxupé já. Estamos chegando a casa”. Mais três horas de lá aqui. Tá chegando a casa, três horas, é ali, né? (risos) Mineiro, uai.
P/1 – Foi certeiro.
R – Uai, foi. Era devagar, você tinha como marcar bem as coisas. Eu sempre fui de marcar. Inclusive os meus filhos hoje quando eles vão viajar pra longe sempre gostam de me levar junto, porque já acostumou. Depois dessa época, eu já viajei muito, diversos estados, já saí do Brasil. Então a gente tem muita noção das coisas. Eu aprendi a bater rua. E batedor de rua não para de bater.
P/1 – E lá no Paraná você lembra qual que foi a impressão que você teve?
R – Lembro. Meu pai tinha lavoura de café aqui, umas moitinhas de café, as lavouras pra nós eram bastante. Chegamos ao Paraná, que passou Andirá, Cambará ali, Santa Mariana, era lavoura de café que não... Igual hoje cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, não acabava mais lavoura de café. Era só café, café, café e café que não acabava mais. Eu já falava: “Nossa, se isso aqui chegar lá à Nova Resende, nós vamos nos perder no meio dos carregadores de café”. Isso eu não esqueço até hoje, porque era lavoura demais. Falei: “Como a pessoa entra no meio de uma lavoura?”. Você perde, é mesma coisa entrar no meio do mato. Mas falando aquilo lá de brincadeira. Aí estava meu tio, estava eu, o meu pai e um tio meu na frente do Jeep. Eu falei: “Nossa, se eu entrar no meio de uma lavoura dessa aqui eu me perco. É lavoura demais da conta”. E acabou tudo. Hoje não existe mais. Há 15 dias eu tava no Paraná, que eu fui lá ao Paraná 15 dias atrás, domingo fez 15 dias que eu vim, 15 ou oito dias que eu vim do Paraná, ainda tava pensando, nem pra remédio não acha um pé de café mais. Acabou tudo. Falei: “Que coisa impressionante”. Quem falava que aquilo lá ia acontecer dentro de poucos anos.
P/1 – Geraldo, você lembra quando você vendeu suas primeiras sacas de café? A primeira vez assim que você comercializou o que você tinha produzido?
R – Lembro. Deixa eu te contar como foi. A gente era criança, criança assim de uns sete, oito anos, mais ou menos, oito anos, aí eu falava que queria estudar, aí meu pai falou assim... Naquela época apanhava o café no pano, no redão, no pano, e sobrava algum grão que caía no chão, ele falou: “Então você vai catar...”. Eu queria comprar uma bicicleta pra eu estudar. Ele falou: “Então você vai catar café pra você comprar a bicicleta”. Eu chegava da escola, eu tava na quarta série, chegava da escola correndo, almoçava correndo, que a gente estudava de manhã, ajudava a minha mãe a fazer alguma coisa rápida pra ir catar café. Trabalhava duas, três horas por dia só catando café. E catei café até o que deu pra eu comprar uma bicicleta. Catei lá três ou quatro sacas de café em coco na época. Aí depois quem comercializava, quem levava pro comércio, era meu pai, eu falei: “Leva pra vender pra mim”. Aí ele levou a saca de café lá em Nova Resende pra vender. Naquela época não tinha trator, era um carro de boi, só que ele ia levar mais outras coisas em Nova Resende, levou no carro de boi e vendeu o café pra eu comprar a primeira bicicleta. Deu pra comprar uma bicicleta e meia. Como que eu comprei uma bicicleta e meia? Sobrou dinheiro que dava pra comprar a metade de outra bicicleta. Aquilo lá pra mim foi uma grande novidade, porque você vê, eu consegui comprar uma bicicleta nova de café que eu catei. Aquilo lá pra mim foi muito interessante saber. Depois daquela época eu já comecei a gostar, eu quis plantar café. Sempre eu falava: “Pai, eu quero plantar uns pés de café pra mim”. Ele falou: “O ano que vem você planta. O ano que vem você planta”. Isso foram uns quatro anos pra eu conseguir. Quando comprou o primeiro trator que eu consegui preparar um pedaço de terra, inclusive essa lavoura existe até hoje, você duvida? Só que ela não é minha, não. Hoje ela é na propriedade que é do meu irmão e ela tá em pé até hoje produzindo café. Ela deve ter uns 46, 47 anos.
P/1 – Foi a sua primeira lavoura?
R – Primeira lavoura. E tá lá produzindo café até hoje. Ontem eu ainda conversando com o João meu irmão, ele ainda falou: “Esse ano ela me deu 40 sacos de café limpo”. Eu plantei bem plantada a lavoura, mas tá lá, ele tá cuidando dela, tá produzindo.
P/1 – E a bicicleta que você comprou com o primeiro café que você vendeu, você usou?
R – Nossa. Usei muito. Quando tava de chuva não tinha jeito, mas quando tava o tempo bom, que eu ia pra escola, eu ia nela. Que era rapidinho, era muito mais rápido do que se fosse a cavalo ou a pé. Se fosse a cavalo, da casa do meu pai a Nova Resende era uma hora; se fosse a pé era uma hora e meia; e nela eu ia com meia hora. Então seu eu saía da minha casa... A aula começava oito horas, eu saía da minha casa sete, sete e meia, ainda chegava com tempo lá. Saía de lá também meia hora eu tava em casa. Eu ia ajudar o meu pai na roça, era rapidinho eu tava lá na roça junto com o meu pai. Então aquilo lá foi uma novidade.
P/1 – Como é que ela era, essa bicicleta?
R – Era uma Caloi. Era antiga, sabe? Eu deveria ter guardado ela pra relíquia, mas as coisas que a gente fica guardando, sucata. Sucata não pode ficar guardando. Eu lembro direitinho que era Caloi e não tinha Caloi na época. Então quem tinha bicicleta era Monark. Eu comprei uma Caloi que era muito melhor, mais cara. Na verdade era a mesma coisa que você comprar um carro da Chevrolet e um carro da Ford ou um da Fiat. Você compra um com o mesmo motor, mas um é muito mais caro que o outro. E a Caloi era mais cara, mas só que ela era mais afamada. Então quem tinha uma bicicleta Caloi era aquela novidade: “Ah, ele tem uma Caloi. Ele tem uma Caloi”.
P/1 – Você lembra como que era o modelo? Descreae pra gente um pouco.
R – Do modelo dela?
P/1 – É. A cor assim.
R – Eu lembro. A cor dela eu lembro. Na época que a gente foi comprar tinha vermelha e azul. Então eu fui com o meu pai pra comprar e não... Sabe onde eu fui comprar? Guaxupé. Que Nova Resende não tinha quem revendesse bicicleta. Fui, cheguei lá tinha uma vermelha e uma azul. Quando eu bati o olho na azul, eu gostei da azul. Falei: “Essa aqui me serve”. Eu já tinha aprendido a andar de bicicleta com os vizinhos que tinham a Monark, que fala Monark. O cara falou: “Pode experimentá-la”. Eu lembro direitinho, em Guaxupé tinha um calçadão, calçada de bloquete, de pedra, ele falou: “Esse trem aí é liso”. Falei: “Que liso da onde, eu sei andar nisso aqui”. E já saí, dei uma volta nela, falei: “Não, é essa aqui mesmo que eu vou levar”. Aí falou: “Eu vou desmanchar ela pra você ficar mais fácil”. Eu falei: “Não. Não vai desmanchar, não. Eu vou levar inteirinha do jeito que tá”. A gente era criança, aquilo lá é uma novidade. Tem que trazer inteirinho, já quero chegar e já ir andar de bicicleta. Chegou a Nova Resende, eu falei: “Meu pai, se eu montar nessa bicicleta, eu chego a casa na frente do senhor”. Ele falou: “Não. Vai fazer isso não” (risos). Então foi muito gostoso.
P/1 – Com o dinheiro que sobrou, você lembra se você comprou alguma coisa, com o dinheiro que sobrou da bicicleta?
R – O dinheiro que sobrou eu comprei as coisas para o meu gasto, pra mim, que aí o meu pai me entregou tudo. Meu pai, nesse ponto ele era... A gente trabalhava assim quando catava café, depois quando a gente... Sempre todo ano ele dava pros irmãos catarem os cafés pra comprar as coisas que precisavam, que a pessoa precisava. Sempre ele ficava: “Não vá gastar à toa”. E com razão. A gente comprou roupa, comprou calçado. Naquela época não existia sapato de sola, era só de plástico, você não se lembra disso, mas você pode perguntar pra pessoa de antigamente que lembra. Eu falei: “Não, eu quero comprar uma botina”. Eu lembro direitinho, eu comprei uma botina que era sanfonada. No lugar de ser a goma dela era sanfona, sanfonadinha. Capaz, aquilo era o maior chique que tinha. Aquilo lá eu não usava à toa, não, só dia de festa.
P/1 – E era couro? Era de couro?
R – Era couro. Eu acho que ela durou uns três anos. Quando eu a deixei é porque ela não servia mais pra mim, eu dei para os meus irmãos mais novos.
P/1 – Gostou muito.
R – Era gostosa. Uma botina boa, mas a gente ia crescendo, tinha oito, nove anos, por aí, eu a usei uns três anos, quer dizer, não ia servir a vida inteira.
P/1 – Uma hora não dava mais pra usar.
R – Ah, não dava mais pra usar, passava pros irmãos. Aí os irmãos já ficavam: “Dá ela pra mim?” “Dou sim. Eu compro outra pra mim”. Aí comprava outra e dava aquela pra eles. Nossos irmãos eram tudo muito bom, porque um ajudava o outro, um passava roupa para o outro, um passava calçado para o outro, então não tinha aquele negócio de um não ajudar o outro. Minhas irmãs trocavam as roupas, sabe, trocava roupa uma com a outra. Minha mãe fazia roupa pra uma, a outra: “Eu queria essa aí” “Então eu troco com você, eu pego a outra”. Fazia desse jeito, aquelas “breganhas” de até roupa.
P/1 – Depois, mais tarde um pouquinho, Geraldo, eu queria saber quando que você conheceu a sua esposa e como é que vocês se conheceram. Quando e como. Quantos anos você tinha?
R – Eu acho que eu tinha uns 17 anos. Não, 17, 18 anos, por aí. A minha esposa, os pais dela eram evangélicos. E eu com o meu pai tínhamos ido pra frente do Bom Jesus ver um gado, que o meu pai gostava de comprar umas criações e vender. Tinha ido ver um gado pra frente de Bom Jesus. E essa pessoa que ele foi ver o gado era da igreja dela. Tinha a igreja, aí o meu pai resolveu passar de Bom Jesus em vez de vir direto pra cá passar por lá pra encontrar essa pessoa pra conversar a respeito desse gado que ele queria comprar. Chegamos à igreja estava o meu sogro, a minha sogra, hoje a minha mulher, as minhas cunhadas, estavam lá. Nós chegamos lá, por um acaso tinha terminado o culto naquela hora. E conversa vai, conversa vem, a minha sogra... Na verdade, eu tinha mais relacionamento com a sogra, que era parente do meu pai, mas nem sabia que era. E conversando com ela lá, ela foi me perguntar filho de quem que eu era, eu acho que sim, eu falei o nome do meu pai correto, Antônio Vieira Bueno. “Uai, eu também sou Bueno. Que Bueno que ele é?”. Eu comecei a conversar com a minha sogra e passou a saber que nós éramos parentes. Longe, mas éramos parentes. Que os Buenos, aí eles vieram pra Muzambinho, depois esparramaram pra Juruaia, pra Monte Belo, veio pra Nova Resenda. E naquela época não tinha muito contato, não, porque era menos contato. E fiquei conhecendo. Fiquei conhecendo a minha mulher. Mas eu não me interessei nela, nem ela se interessou em mim, acho que não. E com o passar do tempo, a gente vai a um casamento que tinha, e chegando ao casamento, ela também era convidada. Ela tava com uma prima minha, uma parente minha, que a gente tinha amizade. A gente foi pra igreja junto no casamento e lá a gente se interessou em namoro. E namoramos. Acho que namoramos três anos, quatro anos por aí, e casamos.
P/1 – E como foi a época de namoro de vocês? O que vocês faziam juntos?
R – Uai, sempre a gente ia à cidade junto, aí ela passou a ir a minha igreja. Toda vida a gente foi muito religioso, que isso meu pai ensinava pra gente que tinha que ir à igreja todos os domingos, então dava muito incentivo religioso. E o pai dela também era, porque ele era evangélico, levava os filhos à igreja. Isso, todo final de semana levava os filhos à igreja. Mas só que quando a gente foi começar a namorar, eu fui pedir ao meu sogro pra namorá-la. Não existia isso, não, mas eu falei com ele se podia namorar, falei com o meu sogro, minha sogra, eles concordaram. Aí eu expliquei, falei: “Só que a gente é da igreja católica e eu não pretendo mudar de igreja, não” “Não. Não tem problema, não. Desde que namore corretamente, não tem problema”. E ela começou a ir à igreja comigo. Na verdade, até depois quando a gente foi casar, ela deu testemunho na igreja que ela já era batizada e levou o batistério da igreja, ela não precisou batizar de novo. Isso quando a gente foi casar. Depois de uns três, quatro anos, a gente casou.
P/1 – Como foi o pedido de casamento? Como vocês decidiram casar? Como foi isso?
R – A gente namorou, que não tinha condição na época. Quando a gente viu que tinha condição de casar, a gente conversou, eu com ela, eu fui, falei com o pai dela, eles concordaram plenamente, que não tinha problema não, e fui muito bem aceito. E graças a Deus a gente vive bem até hoje. Graças a Deus.
P/1 – E como foi o casamento de vocês? Conta um pouco pra gente.
R – Então a gente casou... No civil, a gente casou em Bom Jesus. Não sei por que... Ah, não, ela era nascida em Bom Jesus. Como eu nascido em Nova Resende, a gente casou no civil em Bom Jesus. E depois que a gente casou no civil, em Bom Jesus, a gente foi pra casa dela, tinha um almoço lá, almoçamos lá e fomos pra Nova Resende, casamos em Nova Resende na igreja católica. Em Nova Resende. Só que nós tivemos uma falta de sorte que o cara que ia tirar foto, no dia do casamento, naquela época só tinha um fotógrafo em Nova Resende que tirava foto. No dia do casamento ele ficou doente e não pôde tirar foto. Não temos uma foto de casamento. Mas tudo bem.
P/1 – Que pena.
R – Pois é. Que pena mesmo. Isso é uma coisa que os filhos até cobram isso: “Cadê as fotos de casamento?” “Não tem”. As netas, a gente tem duas netas. Mas não tem.
P/1 – E as lembranças? Que lembrança você tem do dia do seu casamento? Do dia mesmo no casamento na igreja?
R – Não, foi tudo... Correu tudo muito bem. Inclusive, no dia do casamento, na véspera do casamento tava muita chuva. Na véspera. Mas no dia do casamento tava o tempo bom, o tempo melhorou. Eu acho que aquilo foi tudo muito... Deus prepara as coisas certas na hora certa. No dia em nós casamos, casaram três colegas meus, no mesmo dia, um em Bom Jesus, outro em Nova Resende, que casou quase no mesmo horário que eu casei, que naquela época terminava um casamento, tinha outro casamento, quando não fazia dois casamentos juntos. Só que esse de Nova Resende tá com a mulher até hoje, agora esse outro de Bom Jesus, pouco tempo depois eles se separaram, depois a mulher teve uma depressão e morreu. Ele ainda é vivo.
P/1 – Qual foi a igreja que vocês se casaram?
R – Católica.
P/1 – Não, mas o nome da igreja.
R – Igreja Matriz de Nova Resende.
P/1 – E depois que vocês se casaram, vocês foram morar onde, Geraldo?
R – Nós fomos morar no município de Bom Jesus. Eu tinha uma propriedade lá que era herança do meu pai, meu pai já tinha morrido. E a gente fez uma casa lá. Já tinha uma casa, a gente fez outra casa. Tinha um caseiro que morava lá, que esse caseiro morou 33 anos na propriedade do meu pai, só que ele não era empregado do meu pai, não. O sogro dele era muito bem de situação, mas não deixava os filhos morarem na propriedade. Aí ele foi morar nas terras do meu pai e morou 33 anos lá. Meu pai dava terra pra ele plantar pra ele, para o gasto dele, dava pasto pra ele por um cavalo pra ele andar. Aí quando me pai morreu, ele ia mudar, mas nem tinha pra onde mudar, ele ia ter que ir pra cidade. Ele já tava de idade, a mulher de idade, só tinha um filho solteiro. Eu conversando com ele, falei: “Olha, tá medindo a terra lá pra dividir, pra fazer a partilha”. Ele falou: “Você dá um tempo que eu vou para o Bom Jesus”. Até ele falava (Raiá?). (Raiá?) era a cidade de Bom Jesus. “Eu vou alugar uma casa lá pra mudar pra lá.” “Mas pra quê vai alugar lá? Pode ficar morando aí, uai.” “Mas você deixa?”. Falei: “Deixo. Eu vou vim morar aqui”. Só que eles não sabiam. Eles nem sabiam que eu tinha namorada e que ia casar. Só que eu já era noivo. Só que não ficava comentando as coisas de noivado com ninguém. Falei: “Eu vou casar, vou vir morar aqui”. A mulher dele era muito faladeira, faladeira assim, falava bastante. Pode pensar que é falar mal, não é falar mal, não, falava muito. “Mas você tem namorada?”. Falei: “Tenho” “Mas você é um ‘bassoura’”. Eu falei: “O que é isso? O que isso, ‘bassoura’?”. Porque “bassoura” podia ser de “barrer” casa. Falou: “Você não para com nada, com mulher nenhuma”. Falei: “Não, eu vou parar, eu vou casar. To falando que vou” “Então eu quero conhecer a sua namorada”. Um dia eu chamei a Elisabete pra ir lá à casa deles, pra conhecê-la, pra ela conhecer. Eu falei pra ele: “O senhor pode fazer uma casa. Se quiser ficar morando nessa, eu faço a outra pra mim”. Nós fomos lá, ela conheceu. Ficamos lá cinco anos. Nós moramos lá cinco anos nesse lugar. Vivia bem. O casal de velho era igual pai nosso, a gente saía de casa, enquanto nós não voltávamos, eles não iam dormir, ficavam esperando a gente chegar pra eles irem dormir. Só que morava pertinho um do outro. E tudo que eles precisavam, iam lá em casa. A gente precisava... Ia sair de casa, pedia: “Olha, trata das criações”. Na época tinha galinha, tinha peru, tinha pato. Tirava o leite para o gasto, que a gente tinha vaca de leite. Hoje não, hoje a gente perdeu a vergonha, nem leite para o gasto não tira mais. Mas ele fazia de tudo. Continuava aquela vida tudo em casa, como se fosse tudo da família. E era gostoso naquela época. Depois eu comprei aqui passado acho que uns cinco anos, aí eu resolvi mudar pra cá. Já plantei café, depois que o café tava formadinho, falei: “Vou mudar pra lá”. Ele já ficou velho, ficou doente, morreu antes de eu mudar pra cá. E a velha ficou lá com o filho dela que casou e ficou lá. Eles ficaram mais uns três, quatro anos, a velha começou a ficar doente também, foi para o Bom Jesus com os filhos, e ainda tem um filho dele que mora lá até hoje. Ele nasceu lá e mora lá, é da minha idade, quase 60.
P/1 – Passou a vida inteira lá.
R – Nasceu e mora lá até hoje. Agora, eu sou contra ele morar lá. Eu acho que ele devia mudar para o Bom Jesus. Que lá só pra ele... A hora que eu cheguei aqui, eu tava lá, tava adubando café lá. Mas ele não tem um vizinho perto. O vizinho mais perto dele dá um quilômetro. Então acho que não vale a pena você morar na roça pra não ter alguém perto. Então fica muito difícil. Só que se a gente for falar isso pra ele, ele pode pensar que a gente tá mandando-o mudar. Tem que deixá-lo quietinho lá. Mas eu acho que não vale a pena ele morar lá.
P/1 – Muito sozinho, né?
R – A mulher doente, tem uma filha doente, então eu acho que não vale a pena.
P/1 – Aqui, esse lugar que você mudou depois de cinco anos, que a gente tá agora, chama como?
R – Aqui, o nome dessa propriedade chama Morro Vermelho. A gente comprou aqui e pôs na escritura que queria que chamasse Morro Vermelho, mas o bairro aqui ainda é Penha. Faz parte do bairro da Penha. A propriedade chama Morro Vermelho.
P/1 – E por que você escolheu Morro Vermelho?
R – Sabe por quê? Meu pai tinha outra propriedade em outro lugar, e lá o nome do bairro era Morro Vermelho. E eu preferi, falei: “Vou por o nome de Morro Vermelho”. Por achar engraçado, bonito aquilo lá, e pus o nome de Morro Vermelho. Só que aqui hoje já dividiu. Eu comprei outras propriedades virando no outro bairro pra lá, já é Cachoeirinha. Depois que a gente comprou lá, unificou, aí pôs Cachoeirinha e Morro Vermelho. Você entendeu? Aí já não ficou só o Morro Vermelho. Pra unificar a escritura, unificar cartão do produtor rural, o CCR. Aí já unificou. Em primeiro lugar ficou o Morro Vermelho.
P/1 – Geraldo, você falou que seu pai morreu antes de você casar, foi isso?
R – Foi.
P/1 – O que aconteceu?
R – O meu pai sofreu um acidente de trator. Ele tava indo com três irmãos meus pra outra propriedade dele, num trator semi zero que ele tinha comprado. E ele não era bem acostumado com aquele trator. Eu acredito que foi uma falha dele. Não foi falha mecânica, não, foi falha dele. E ele lá ia descendo uma estrada, não era descida muito forte, não, e o trator tem dois freios, um de cada roda. E acho que ele pisou no freio de uma roda, o trator bloqueou aquela roda e a outra roda torceu o trator. Ele subiu no barranquinho, o barranco dá a altura desse murinho. Ele subiu no barranco, acho que ele tava andando meio depressa, ele tombou com três irmãos meus junto com ele no trator. Esparramou meus irmãos pra todo lado. E ele bateu, tombou de ficar com o volante no chão. O volante pegou no chão assim, cortou três pontas de dele no acidente, e ele teve uma fratura no abdômen. Mas não foi nada grave a fratura, não. O vizinho dele viu, foi na porta do vizinho de estrada. Viu-o tombar o trator, mas ele levantou. Ficou meio transtornado na hora, mas saiu andando. E os outros irmãos meus esparramaram para o chão afora. Aparentemente, parecia que os meus irmãos tinham machucado mais do que ele. Aí veio correndo na casa do meu pai pra ver se tinha alguém pra levá-los. Chegou lá, por sorte eu tava saindo pra uma festa na Petúnia. Não é festa, não, é festa de comício de político, sabe? Só que eu tava indo pra Petúnia. Ele pegou, falou, eu falei: “Não, eu vou lá buscá-lo”. Meu pai tinha o jipe dele que tava lá, eu peguei o jipe, fui, já encontrei com ele na estrada, ele vinha embora voltando pra casa, ele e meus irmãos. Eu olhei na mão dele, falei: “Uai, cadê os pedaços de dedo?”. Aí que ele viu. Falou: “Nem vi”. Falei: “Não, entra no jipe aqui, vamos lá”. Fui ao lugar que o volante bateu no chão, que afundou o volante no chão, estavam os pedaços de dedo. Peguei aquilo lá de qualquer jeito, viramos, fomos... Nova Resende não tinha hospital, era fundação que chamava, um posto de atendimento. Não tinha hospital. Chegamos lá ao posto, por sorte tava o médico que tinha ido atender uma mulher que tava ganhando neném, viu, falou: “Olha, vou mandá-lo pra Passos”. Mandou-o pra Passos, eu fui com ele pra Passos. Mas foi conversando normal, sabe? Só que reclamando de dor na barriga. Foi, chegou lá a Passos, acompanhei, fez uma radiografia, tal, falou: “Teve uma lesão no abdômen, mas não é nada grave, não. Não vai nem precisar fazer cirurgia, não. Espera o outro clínico chegar”. Esperei até a noite, umas dez horas da noite, o outro clínico chegou, falou: “Vamos por só um dreno aqui, vai resolver o problema”. E ele ficou conversando bem, a gente veio embora. Saí de lá a noitão. Vim embora. Quando foi no outro dia, foram meus tios, foram meus irmãos, voltaram pra lá, e eu fiquei em casa. Quando eles saíram de lá, eram seis horas da tarde, ele tava jantando. Quando eles andaram uma meia hora voltando pra trás, meu pai sofreu um infarto cerebral e morreu. Quando eles chegaram aqui, eles já tinham ligado lá em Nova Resente, só tinha uma pessoa que tinha telefone lá em Nova Resende. Ligaram em Nova Resende, que era um taxista, pra ele que meu pai tinha morrido. O taxista veio a minha casa e contou. Falei: “Mas meu povo tá pra lá”. Falou: “Tava. Mas seu pai teve um infarto e morreu. Um derrame cerebral e morreu”. Quando meu povo chegou a casa, nós já estávamos esperando pra voltar de volta pra trás pra ir buscar o corpo dele lá em Passos, que ele tinha morrido. Eles não sabiam, pensavam que ele tava... Deixaram-no jantando, tava bom, conversando. Mas a morte é assim mesmo. Morreu. Aí vem aquela história, morreu proveniente de um acidente que teve de trator.
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Na época? Deveria ter uns 15 anos, por aí. Ah, não, tinha mais, tinha uns 17 anos, 17, 18 anos.
P/1 – E como vocês fizeram pra organizar a família, o trabalho na roça? Como foi isso pra vocês?
R – Foi difícil, só que na época até o que foi mais difícil, que esse trator que meu pai tinha comprado, ele era financiado. Ele tinha financiado no Banco de Brasil em Muzambinho. Nem Banco do Brasil em Nova Resende não tinha na época. Aí teve que negociar essa dívida, pagar o financiamento, porque não tinha como fazer o inventário se não quitasse a dívida. Tinha um gerente no Banco do Brasil que foi muito bom, mandou dar início no inventário, que falava inventário na época, de partilha. Isso foi no começo do ano, que foi dia 31 de janeiro que ele morreu. Falou: “Pode dar início no inventário, depois a gente vê se...”. Aí ele fez uma proposta de transferir o financiamento pra um da família, e assumir quem tivesse a partilha em dia. A gente fez a partilha e passou a partilha para o meu nome, eu assumi o financiamento até acertar. Só que a intenção da gente era quitar aquilo lá. A gente já tinha um pouco de dinheiro em reserva que dava pra pagar metade do trator em um ano de safra que a gente fez com esse trator novo. Porque tinha vendido o outro, tinha esse trator novo. Só que a gente tinha dinheiro, o meu pai tava reservando o dinheiro, tava no banco, por falta de sorte. E para o banco liberar esse dinheiro, entrava no inventário. Era e é até hoje, quem tem dinheiro em banco tá garantido, mas se a pessoa morrer, dá trabalho pra família receber. Aí a gente assumiu essa dívida, mandou arrumar o trator, que ele não estragou muito. O estrago dele foi muito pouco pelo estrago que foi feito, pelo que aconteceu. E continuou trabalhando com ele. Quando foi liberar o dinheiro pra quitar a dívida já foi depois da colheita de café. Colheu o café, colheu o milho, juntou o dinheiro tudo e acertou essa dívida. E teve que todo mundo trabalhar adoidado pra acertar isso. O trator ficou pra minha mãe. Juntou o dinheiro de todo mundo, dos filhos, da minha mãe, pra pagar aquele montante. E ficou pra minha mãe, os filhos tinham direito de trabalhar com ele. Então foi complicado isso aí na época.
P/1 – Vou voltar então um pouquinho agora pra parte que você já tava casado. Você casou, depois vocês se mudaram pra essa propriedade aqui que a gente tá agora. Eu queria saber quando veio o primeiro filho.
P/1 – Ah, o primeiro filho, nós já estávamos na outra propriedade. Foi a Maria Elisabete. Na verdade, até a Elisabete, que é a minha mulher, ela teve uma gravidez nas trompas, isso fazia pouco tempo que a gente tinha casado. Quase morreu. Ela não morreu porque Deus abençoou que na época eu tinha um carro, ela sentiu mal, nós estávamos saindo pra ir pra casa do meu sogro. Ela sentiu mal no banheiro, quando ela foi tomar banho, como se fosse uma espécie de um desmaio. Nós a pegamos, a tiramos... Só que a gente tava em casa, que ia sair junto, por sorte, a trouxe correndo pra cá, levou pra Nova Resende, em Nova Resende não tinha hospital, só tinha em Juruaia. Levou-a pra Juruaia, chegou lá, o médico viu que ela tinha tido uma gravidez nas trompas e tinha estourado. Aí teve que fazer uma cirurgia muito rápido, perdeu sangue demais da conta, quase que ela morreu. Aí teve que tirar uma trompa. Esse foi o primeiro. Depois, passados acho que uns três anos, veio a Maria Elisabete, que foi gerada na outra trompa. Mas veio bem, saudável, nasceu lá na (cebola?), inclusive ela é registrada em Bom Jesus da Penha. Ela é conterrânea de Bom Jesus. E o Marcos já veio, a Elisabete quando ficou grávida tava aqui, só que ela foi ganhar em Muzambinho, porque fez o pré-natal em Muzambinho e o ganhou em Muzambinho. A Bete também, quando ganhou-a, foi em Juruaia, ela fez o pré-natal em Juruaia. De mês em mês ia fazer o pré-natal lá. E ganho em Juruaia, só que na verdade os documentos falam que ela nasceu no município de Bom Jesus.
P/1 – Você acompanhou os partos, Geraldo, dos seus filhos?
R – Não. O parto mesmo, não. Mas acompanhei assim, depois que eles nasceram, a gente acompanhou a vida deles, mas o parto, não.
P/1 – Você lembra a primeira vez que você viu sua filha e que você pegou nos braços?
R – Lá em Juruaia, no hospital. A enfermeira, ela é de Nova Resende, inclusive ela foi colega minha de escola. Ela falou: “Vem cá pra você ver a negrinha que jeito que é, do cabelo enroladinho”. Eu levei aquele choque, falei: “Negrinha do cabelo enroladinho? Não é possível”. Fui lá ver. Cheguei lá, totalmente diferente. Ela era cabeludinha mesmo, o cabelinho dela, mas clarinha, que inclusive ela é clara. Ela é mais clara que o Marcos. Que o Marcos, que é meu segundo filho, é mais moreninho. Mas a Elisabete tem família morena e eu tenho família morena, na família, sabe?
P/1 – E qual foi a sensação de ver a sua filha pela primeira vez?
R – Ah, foi muito bom. Como diz o outro, a gente tinha vontade de ter os filhos, tanto eu, quanto a Elisabete, sempre programava de ter filho e não deu certo o primeiro, então a gente ficava naquela. Quando a gente orava, pedia muito a Deus pra que Deus preparasse filhos e filhos saudáveis, e ver nascer, chorar. Então era muito importante isso aí. Foi muito impressionante.
P/1 – E o que mudou na sua vida, Geraldo, quando você foi pai? O que a paternidade mudou na sua vida?
R – Olha, mudar, mudar, não mudou muita coisa, porque a gente tava esperando por aquilo. Era um sonho que realizou. Mas os filhos, como diz o outro, é mais uma oportunidade que a gente teve na vida de ver os filhos nascerem, ver os filhos crescerem. Mesmo que na época nós tivemos muita dificuldade financeira. Nós tivemos muita crise financeira, mas Deus superou tudo. Coisa que o tempo vem, acontece, mas a gente com o tempo vai vencendo. Então acho que Deus prepara as coisas certas na hora certa. Depois veio o Marcos. O Marcos foi quatro anos depois. Aí a Elisabete fica grávida de novo. Quando a Bete nasceu não tinha ultrassom, então esperava um homem ou uma mulher. Então torcia: “Ah, eu quero um hominho, eu quero uma mulher”. Não, seja o que Deus quiser, vindo com saúde tá tudo bom. Do Marcos não, o Marcos já foi diferente, porque ela fez o pré-natal em Muzambinho, já tinha ultrassom. No segundo ultrassom que fez: “É um hominho” “Ah, que beleza, um casalzinho”. Aí a Bete já derretia: “Ah, vem meu irmãozinho por aí”. Foi uma beleza, graças a Deus. Veio bem. E veio muito saudável, inteligente, trabalhador. Trabalhou na roça, só parou de trabalhar quando saiu pra estudar. Mas graças a Deus... Inclusive, até hoje ele tem lavoura de café, a gente toca pra ele, mas o ramo dele já não é esse.
P/1 – Que ótimo. Queria te perguntar agora da sua relação com a Cooxupé. Desde quando você é cooperado?
R – Deixe-me te falar um negócio, a vida da gente teve muito transtorno, teve muita dificuldade. Teve uma época que eu tinha uma moitinha de café, mas era pequena. E tava com dificuldade financeira, sabe? E eu comecei a comprar café picado dos vizinhos, fazia os lotezinhos e corretava os cafés, vendia para exportadora, tal. E um dia, eu lá na exportadora do Olavo Barbosa em Guaxupé, resolvi chegar à Cooxupé pra... E lá só levava café quem era cooperado. Isso faz pouco tempo. Deixe-me te falar o número da minha matrícula, 2760. Tinha dois mil 759 cooperados na época, eu sou o 60. Cheguei lá e o doutor Isaque era presidente. E o doutor Isaac na época era novo, isso há mais de 30 anos. E por sorte, eu conversando __________ lá no balcão, que era um atendente que tinha lá. Ele tava na parte de gerenciamento, conversando com ele, falou: “Olha, o presidente é esse”. Falei que queria entrar de cooperado e tal, tinha um pouquinho de café, contei que eu comprava os cafezinhos, tal, comecei com isso porque o serviço da gente era pouco e tinha enfrentado uma situação financeira, mas resolveu porque a gente começou a trabalhar assim. Ele perguntou quanto de café eu tinha. E na época, sabe quanto de café eu colhia? De meu, 15, 20 sacas de café por ano, era a minha média. E contei a verdade pra ele, falei: “A minha média é de 15 a 20 sacas por ano. Meu café é pouco. Só que eu to plantando uma lavoura mais nova e tal”. Ele falou: “Traz os documentos. E quem pode assinar?”. Aquela época tinha que ter uma testemunha pra assinar, hoje nem precisa mais. Mas ele falou: “Quem pode ser sua testemunha pra assinar aqui pra você entrar de cooperado?”. Eu falei: “Eu não sei quem em Nova Resende é cooperado aqui”. Que Nova Resende, se tivesse, uns dez cooperados. Aqui o que tinha mais era Guaxupé, Guaranésia, cidade vizinha lá, mas Nova Resende nem sabia. Ele falou: “Olha, tem o Jarbas Correa, tem o Zé Baquião”. Aí foi falando. O Zé Baquião era primo da minha mãe. Eu falei: “Olha, esse Zé Baquião é primo da minha mãe”. Aí tem o Osvaldo Baquião... Foi falando. Eu falei: “Osvaldo Baquião...”. Os que tinham em Nova Resende eram tudo conhecido meu. Que ele lembrou na hora que falou. Eu falei: “Então tá bom. Tem que pedir para um...” “Tem”. Eu vim, cheguei aqui. Só que meu café mesmo tava aqui. Eu tava lá na exportadora pra corretar outro café, de outra pessoa. O primeiro que eu falei, com o Zé Baquião. Passei na casa dele, falei com ele. Ele falou: “Pode levar meu nome, eu vou lá e assino pra você”. Falei: “Mas será que precisa o senhor lá pra assinar?” “Tem. Tem que assinar, sim”. Ele falou que já tinha assinado pra outra pessoa, teve que ir lá. Eu arrumei os documentos, voltei lá à Cooxupé outro dia e levei o nome dele, falei: “Ele vem cá assinar o dia que vocês quiserem”. Falou: “Não, é só você dar o nome aqui, não precisa de ele vir cá assinar, não. Depois a hora que ele vier pra vender café...”. E o Otto que falou, e o Otto era comprador de café. “A hora que ele vier aqui, ele assina. Você já entra de cooperado hoje.” Ele falou: “Olha, vai de 30 a 60 dias pra aprovar, mas o seu tá aprovado hoje, você pode mandar o café amanhã se você quiser”. Isso, pra você ver, deve fazer mais de 30 anos isso. Faz mais de 30 anos. Não tinha filial em Nova Resende. Depois, quem trouxe a filial pra Nova Resende, sabe quem? Eu e o Zé Gabriel Cardoso. Nós estávamos lá em Guaxupé e conversando na sala de recepção lá, pra esperar pra vender café, que só vendia lá. Falei: “Eu precisava levar uma filial pra Nova Resende”. A Cooxupé já tinha filial em outra cidade vizinha, mas não em Nova Resende. Isso há 26 anos, quatro anos depois. Quatro ou cinco anos depois. O Zé Gabriel Cardoso falou: “Vamos conversar com ele”. Chamamos o Otto, fomos conversar com ele, ele falou: “Ah, é só com o doutor Isaac. Que Nova Resende tem muito pouco cooperado”. Falei: “Mas se fizer, se levar a filial pra lá, pega mais que qualquer outro lugar”. Ele ligou para o doutor Isaac, que era o presidente da Cooxupé, o chamou lá, falou: “Olha, ele tá pedido pra levar uma filial pra Nova Resende, como faz?”. O doutor Isaac pôs tudo quanto foi gosto ruim, falou: “Olha, tem que por gente de lá pra trabalhar, funcionário de lá, aumento de despesa”. Ele falou a quantidade, era muito pouco cooperado que tinha em Nova Resende. Mas nós o convencemos que Nova Resende, se trouxesse a filial pra cá, entrava muito cooperado bom. O Zé Gabriel falou pra ele: “Olha, e funcionário, eu tenho uma filha que acabou de se formar” – que trabalha até hoje na Cooxupé, ela é uma das chefes lá da Cooxupé aqui em Nova Resende – “ela pode trabalhar com vocês, ela é uma pessoa dedicada e tal, tal, tal”. Foi o primeiro passo. Quando foi um dia, to lá em Nova Resende, encontro Zé Gabriel, falou: “De tarde o doutor Isaac vai vir aqui em Nova Resende, você espera pra bater um papo com ele”. Eu não me esqueço disso. Eu tinha que ir a cavalo pra Nova Resende, acho que fui ferrar um cavalo. Esperei até a tarde o homem vir. Só que eu tava assim, do jeito de roça. Importa-me lá com isso. A roupa assim, igual eu to hoje, roupa de roça mesmo, que fui lá só pra levar um cavalo pra ferrar. Esperamos, foi na casa do Zé Gabriel, conversamos: “Ah, e o local?”. E o Zé Gabriel já tinha visto onde é o Supermercado Mamata hoje, o aluguel de um cômodo lá, que era o supermercado que tinha lá, o supermercado tinha ido pra Guaxupé. Nós fomos lá. Chegou lá, ele olhou, gostou e já foi atrás do proprietário pra comprar o lugar. O cara ficou meio assim: “Não, mas só vemos pra cá se for comprado”. O cara: “Não, então eu vendo também”. E negociou com ele e comprou. A Cooxupé comprou lá e abriu a loja lá. Depois que fazia oito anos já tava pequeno, entrou cooperado demais da conta na Cooxupé. Porque aí a fonte... Tinha uns marreteiros, que era eu e mais um punhado de marreteiro, acabou os marreteiros, todo mundo levava o café pra Cooxupé. Inclusive, a gente aconselhava: “Entra de cooperado. Lá você compra adubo, lá você compra isso, lá tem os insumos se você for cooperado, porque senão você tem que comprar em nome dos outros só à vista, lá você compra a prazo”. E o pessoal começou a gostar e foi entrando. Uns oito anos depois, eles resolveram comprar onde é a Cooxupé lá hoje. Mas só que pra eles comprarem, eles tinham que vender onde é a Cooxupé. Puseram à venda. Puseram à venda, eu me interessei em comprar, eu e o Deodato Magalhães. Eles pediram, nós oferecemos. E eles correram a praça e não acharam quem dava mais. Nós fizemos a nossa proposta, eles entregaram pra nós. E comprou lá. Inclusive, lá onde foi a Cooxupé, fui eu que comprei lá. Os outros falavam que nós tínhamos ganhado aquilo lá porque nós tínhamos trazido a Cooxupé pra cá. Mas quem pediu a Cooxupé fomos eu e o Zé Gabriel Cardoso, que era prefeito na época. Mas quem comprou foi o Deodato Magalhães, não tinha nada a ver uma coisa com a outra. Nós compramos da Cooxupé e eles ficaram mais quase três anos pagando aluguel pra nós. Até eles prepararem, porque na época, até pra preparar era difícil. Terraplanagem, fazer os armazéns, fazer a parte de escritório. Fez só um armazém na época. Não era muito grande, não, mas tinha um armazém na época, de lá. Foram três anos e ficou pagando aluguel pra nós. Quando eles mudaram pra lá, o armazém, eu achei um negócio muito bom na minha parte. Eu achei um sítio muito bom, até o tenho até hoje. Eu ofereci para o Deodato Magalhães de comprar a minha parte. Eu falei: “Não, eu vendo a minha parte também se você achar”. Eu pedi na parte, falei: “Se você achar isso, eu vendo a minha parte também”. Eu tinha negócio dos dois lados, que a gente sempre entrosou muito em intermediar as coisas e corretar as coisas. Já arrumei o comprador, falei: “Tá aqui o comprador que vai comprar a nossa parte”. Vendemos para o cara lá e tá com ele até hoje. E eu comprei o sítio. E o Deodato, nem sei o que ele fez com o dinheiro. Então foi por intermédio nosso que veio a Cooxupé pra cá. Eu não tenho o que reclamar da Cooxupé. Nós tivemos um gerente na loja de Cooxupé, já tem mais de dez anos, ele foi um grande amigo meu, até hoje é um grande amigo meu, chama Toninho. Os outros o xingavam até umas horas, eu defendia. Eu acho que era o único que o defendia de carne e unha. Porque ele era certo com as coisas certas. Eu fiquei devendo muitas vezes, atrasei pagamento, só que eu falava pra ele: “Olha, Toninho, eu vou atrasar e vou precisar comprar mais coisas até tal época. Tá ok?” “Tranquilo”. Então quer dizer que ele era um bom gerente. Agora, o cara atrasar a vai querer rolar sem avisar, sem nada, claro que ele não vai ser bonzinho. Bonzinho como? Depois a responsabilidade é dele.
P/1 – O que você acha que é a importância da cooperativa para o produtor rural?
R – Então, hoje a cooperativa e o produtor rural têm diversas vantagens: um, você pode armazenar o seu café, você vende o dia e a hora que você quiser. Então o mercado da Cooxupé igual a melhor que os outros lugares. Porque o corretor que faz corretagem em outros comércios de café, não to falando mal, não, na safra de café ele mostra uma imagem que o café sempre o preço é melhor que a Cooxupé, um real, dois reais por saco. Mas quando passa aquela época de café, que você pôs no armazém deles, passou a safra de café, o café tá armazenado com eles, eles jogam dez reais pra baixo. E a Cooxupé é a bolsa BMF, a bolsa deles. Então seja na época de colheita, seja fora da época, o preço dela é aquele. Então tem essa vantagem. E outra, você compra insumo, você paga de uma safra pra outra. Inclusive, eu comprei __________, comprei adubo, já comprei adubo, já comprei produto pra solo, pra pagar o ano que vem. Quem faz isso? Então tem as grandes vantagens. Inclusive, eu trabalho com café certificado. Esse ano é o primeiro ano que eu to mandando café certificado pra Cooxupé. Café certificado meu não ia pra Cooxupé, porque tinha ágio. Agora esse ano, até agora eu não vendi, mas diz que vai ter o ágio que diz que vai ser compensativo. E eu to acreditando que sim, que não é possível que eles vão fazer... Se não for também, eu tiro de lá e vendo em outro lugar, resolvo o problema.
P/1 – Qual a certificação?
R – Certifica Minas. Faz seis anos que eu sou... Eu era Fair Trade e Certifica Minas. Aí a Fair Trade... E vendia pra Coopervita, a Cooperativa dos Orgânicos. Só que teve um probleminha de uma troca de diretoria, eu saí da Coopervita. Só que eu fiquei no Certifica Minas, que era o mesmo ritmo da Certifica Minas e Fair Trade. E to no Certifica Minas até hoje.
P/1 – É orgânico esse café?
R – Não. É convencional, só que é tudo muito bem rastreado o café. É tudo rastreado. Então é um café que você vende em qualquer lugar o Certifica Minas. Eles dão muito valor, eles verificam tudo, e dão muito valor ao café que é certificado no Certifica Minas.
P/1 – O café certificado tem maior valor de mercado?
R – Tem por causa da rastreabilidade do café. Então eles sabem como o café foi produzido, a origem do café, de onde bem, quem trabalha, se não tá tendo trabalho escravo, se você tá preparando bem o meio ambiente, se você tá cuidando do ambiente, do meio ambiente. Agrotóxico, você tem que ter a planilha de agrotóxico. Você vai usar agrotóxico, você tem que saber aonde você vai por, que hora você vai por, que dia você pode voltar a trabalhar lá. É tudo programado. Eu tenho planilha de acompanhamento. E todo ano tem auditoria, o auditor vem fazer auditoria pra ver se tá tudo certinho. Então é muito interessante isso.
P/1 – E em termos assim, a diferença de café certificado pra um não certificado em termos de valor de mercado é quanto assim pra gente ter uma noção?
R – Deixe-me te fazer uma mudancinha pra você ver. A diferença não é tão grande, não. Eu acho que vale mais a pena o consumidor saber que tá comprando um café certificado, tá sendo rastreado. Ele prefere mais isso. Então a diferença não é muito grande, não. Dá uma diferença hoje em torno de uns dez reais por saca. Mas se você colhe mil sacas de café tendo uma diferença de cinco a dez reais já é um bom negócio. E outra, só pra você ter uma educação ambiental boa vale muito mais do que isso. Então se você ganhar cinco, dez reais por saca, é bom? É. Mas melhor é você saber que você aprendeu a trabalhar de novo. Porque quando entrou a certificação, o Fair Trade, foi em 2006 que eu entrei no Fair Trade, 2005, 2006, a primeira auditoria que foi feita, nossa, que apanhei demais da conta, porque agrotóxico, você não pode por lá no barracão de qualquer jeito, você não pode por aplicador de veneno no barracão, tinha que fazer os cômodos apartados. Vasilha de agrotóxico, naquela época ainda não devolvia, a gente caía de cima da Cooxupé. Pra você como a Cooxupé foi parceira da gente. A gente pediu pra Cooxupé por o depósito pra agrotóxico, vasilha de agrotóxico. O Toninho, que eu falei pra você que a gente... Eu sentei com o Toninho, contei pra ele que tava na certificação e tal, tinha que dar destino correto pra embalagem e não tinha como fazer isso, eu não tinha como fazer isso, não tinha um lugar pra mandar. Ele falou: “Eu vou estudar isso aí”. Dentro de oito dias ele me deu retorno: “Vai ser aqui em Nova Resende”. O primeiro lugar que foi em Nova Resende. Então como você vai falar mal do gerente, da loja, se ele é amigo seu, ouviu a gente? Então até isso a Cooxupé teve essa... Deu essa oportunidade para o pessoal. Depois eu passei pra Certifica Minas, que eu entrei pra Certifica Minas também, daí já não mudou nada. Aí já tava tudo esquematizado. Você vai colher o café, você tem que rastrear o café da roça até o terreiro, depois do terreiro ao secador, do secador à tulha, e da tulha para o preparo dele, para o armazém que vai. Não é difícil, é uma educação que você tem. E vale a pena isso aí.
P/1 – Quanto de terreno você tem cultivado hoje de café e qual a sua produção, qual o volume?
R – A área total? São uns 40 hectares de café no município de Nova Resende e Bom Jesus. Só que de uns seis anos pra cá, eu to reformando lavoura, mudando espaçamento, mecanizando as lavouras. Hoje eu já to com 80% da lavoura mecanizada. Eu tenho 20% que não é mecanizada e to querendo vender. É uma área torta, eu to querendo vender essa área pra ficar tudo mecanizado. Então são uns 40 hectares, mais ou menos, de café que eu tenho.
P/1 – E você produz quanto por ano?
R – Então, só pra você ter noção, em 2010 eu colhi duas mil e 200 sacas de café. 2011 nós tivemos um problema, que era ano de safra média, tivemos uma chuva de pedra que atingiu a nossa região aqui, Bom Jesus, Nova Resende, Conceição Aparecida, e infelizmente pegou a minha propriedade. Em 2011, eu tinha uma certeza que ia colher mil e 200 sacas de café, colhi 600 sacas de café. Quando foi 2012, e já tava mudando lavoura, mudando espaçamento, pegou uma lavoura nova minha, deu um trabalho danado pra recuperá-la. Em 2012 era ano de eu ter colhido mais ou menos umas duas mil sacas de café, voltou pra mil e 500 sacas por causa dessa chuva de pedra de 2011, que feriu muito a lavoura. E lavoura feriu, você tem que tratar dela mais do que uma criança, igual uma criança nova. Então pra recuperar a lavoura, sabe? Eu venho arrancando café, mas tá mantendo essa média de... Esse ano era ano que eu fazia base de colher mil e 800 sacas de café. O ano passado... Já pulamos pra 2013. Em 2013 deu quase duas mil sacas de café. Então esse ano de mil e 800 a duas mil sacas de café por causa das lavouras novas que estão chegando. Eu to tirando lavoura, mas to pondo lavoura no lugar. A natureza, veio a seca, 60 dias de seca, eu tive perda de 40% da produção esse ano. Eu tive perda de 40%, garantido. Mas to feliz, porque teve 40% de perda, mas tive colheita esse ano, o preço estimulou um pouco. Não foi 100%, mas teve estímulo do preço. Só que as minhas lavouras estão preparadas, se Deus preparar que corra bem, o ano que eu vem eu não vou falar que vão dar dois mil sacos, não, já falo que o ano que vem eu devo entrar na faixa de uns mil e 200, mil e 500 sacas de café, se Deus preparar que tudo corra bem. O que der mais é lucro, é festa. Mas o produtor de café é assim. Qualquer apicultura é assim. A natureza, você tem que pedir que Deus faça o melhor pra natureza, porque a natureza é a natureza.
P/1 – Você faz irrigação aqui?
R – Não. Esse ano, até em janeiro, aconteceu tão engraçado, que eu tenho (esforpador?) de café, (esforpador?), desmucilador, tenho dois lavadores de café, e é tudo pertinho aqui. Aqui em cima só seca limpa, mas os outros preparos são lá embaixo, no outro terreiro. Eu tenho mais um terreiro de cinco mil metros quadrados, tudo cimentado, não tem um palmo no terreiro de terra. Eu tenho dez mil metro de terreiro cimentado. Então o café meu vai para o chão, ele já sai da lavoura na máquina ou no pão, vem para o terreiro cimentado, e depois do terreiro cimentado, vai para o secador, e do secador para a tulha. Quando eu tava preparando lá embaixo, pra por as máquinas lá embaixo, esse ano preparando as máquinas, veio a seca de janeiro. Eu tinha plantado dez mil pés de café, tava novinho o café, tinha plantado fazia um mês. E na minha região teve muita planta de café em dezembro, janeiro do ano passado. Não só minha , de muita gente. Eu falei: “Eu vou parar com os maquinários de fazer reforma, vou aguar esse café”. Eles começaram a rir, eu falei: “Eu vou aguar”. Eu tenho tanquinho de puxar água pra roça, comecei a irrigar todo dia á tarde. Pegava quatro horas, ia até 11 horas da noite, todo dia. Pegava quatro horas da tarde, 11 horas, 11 e meia eu terminava de aguar. A minha lavoura, você precisa de ver, tá dessa altura assim, a coisa mais linda, não deu replanta. O pessoal que não fez isso... E investimento que ficou caro. Eu gastei três mil reais de combustível e hora que eu passei pra funcionário. O dia que eu não podia ir, eu mandava o funcionário ir. Eu pagava oito reais por hora pra ele, pra ele aguar. Só que não deu replanto o café, tá a coisa mais linda. Já vai dar café esse ano. O pessoal arrancou os cafés tudo que plantou, porque não fizeram isso.
P/1 – Que dó, né?
R – Sessenta dias de seca, janeiro e fevereiro, quem aguenta? Nem lavoura grande não aguentou, a lavoura grande deu 40% de queda. Tá certo que a lavoura mais velha tava gestando, parte de gestação de café, enchimento de grão. Agora, as lavourinha nova não ia aguentar nunca na vida. Eu não me arrependo, não. Valeu a pena fazer isso, pelo menos não perdemos mais do que poderia ter perdido.
P/1 – Então pra retomar a pergunta, Geraldo, eu queria saber qual tipo de café que você planta.
R – A qualidade de café? Eu já tive café mundo novo, tive café acaia, e hoje eu to só com catuaí. Por causa da altitude aqui e a lavoura, o catuaí é um café mais resistente à praga e doença. O café mundo novo é mais resistente ao frio, mas praga e doença, ele é fraco. Ele é um café mais frágil, ele depende de mais tratamento. E ele é um café mais pra lugar muito plano. Pra você trabalhar com máquina ali, tem que se plantar rua mais larga e lugar muito plano. E o catuaí não, já é um café que você planta de três metros e meio, você trabalha bem com qualquer máquina, e ele é mais resistente à praga e doença, e é um café que depende de menos trato, assim, não precisa ser um tato muito bom pra ele produzir. Na minha região, eu já tive catuaí, tive acaiá e tive o mundo novo. Ele produz mais que qualquer um dos dois. Em termos de bebida também, o catuaí é nota dez pra bebida. Vai enchimento de grão, peneira mais alta. Então eu vinha notando que o mundo novo é da peneira mais baixa, não da peneira mais alta. E hoje o consumidor lá fora quer um café bonito, com peneira mais alta, então eu to mantendo o catuaí ainda.
P/1 – Tá bom. Eu queria conversar um pouco contigo agora sobre o Nescafé Plan. Saber assim, quando você conheceu o programa?
R – Então, foi através da Cooxupé. Até, na verdade, a gente participa de quase todas... Você viu hoje o Paulo convidando pra uma reunião amanhã. E os técnicos da Cooxupé são tudo muito amigo da gente. Eles sempre estão convidando pra palestra, pra reunião, pra essas coisas, e 80% de todas as reuniões que eles me convidam, eu faço questão de participar. De curso, faço muito curso, inclusive o Senar, a Cooxupé patrocina através da Nescafé. Patrocina muitos cursos pra... Passa pra Cooxupé e a Cooxupé se organiza. Aqui na minha casa já formam feitos muitos cursos. Então por intermédio da Cooxupé eu fiquei conhecendo a Nescafé.
P/1 – Faz tempo já? Quando foi isso?
R – Ah, faz uns três anos já, ou quatro anos, que a gente vem acompanhando e tal, e através da Cooxupé.
P/1 – E que cursos são esses que você já fez?
R – Já fiz curso de praga e doença, de controle de praga e doença, controle de erva daninha, de agrotóxico. O curso de agrotóxico pra você saber trabalhar com agrotóxico, a época, quando, como, o uso de EPI. Então tudo esses cursos a Nescafé repassa para o sindicato. Inclusive, eu faço parte do sindicato. Eu sou tesoureiro do sindicato, só que dinheiro não tem, não, viu? Eu já to falando que sou tesoureiro sem dinheiro (risos). Então a gente tá por dentro e a Cooxupé sempre foi uma parceira do sindicato muito boa. Hoje ela que dá muito incentivo para o sindicato e o sindicato abre as mãos pra Cooxupé, e onde a gente recebe isso aí. A gente fez um curso de administração pela Cooxupé. A Cooxupé que conseguiu esse dinheiro pra fazer esse curso e o sindicato arranjou um instrutor pra dar o curso. Só que a gente já tinha toda a planilha de custo. Mas tinha muita gente que era produtor de café, mas não sabia quanto custava um saco de café, não sabia quanto custava o plantio de um pé de café, não sabia quanto custava a terra. E pra completar, eu entrei na turma. Foi muito bom, valeu muito a pena. E era o casal que fazia o homem e a mulher, que isso é muito importante. Quem trabalha na agricultura, acho que o homem e a mulher têm que conhecer da agricultura. Então foi muito importante isso.
P/1 – E esses cursos, algum desses que você citou, ou um específico ajudou você a mudar alguma coisa na sua prática de plantio de café, de cultivo?
R – Todos eles. Não tem um. Não tem que falar que um melhor que o outro. Quando você fala assim, eu fiz um curso pelo Senar, ou fez um curso pela Cooxupé, é porque tá vindo alguma coisa pra mudança. E se tem mudança é mudança pra melhor, não pode mudar pra pior. Então quando você fala: “Olha, você faz um curso de controle de praga e doença”. Que é um dos cursos que a Nescafé passa pra Cooxupé, a Cooxupé passa para o sindicato, o sindicato organiza e a Cooxupé ajuda a organizar. Com você faz o controle? Porque tem muita praga e doença que você não sabe como controlá-la. E você fazendo o curso, você sabe como controlá-la sem desperdiçar dinheiro, sem jogar dinheiro fora. Você entendeu? Então é uma explicação que eu to dando pra você. Como você controla praga e doença? Com o tratamento correto e na hora certa, senão você não consegue fazer isso. Você só consegue fazer isso se você fizer o curso e tiver um técnico pra te acompanhar, pra orientar.
P/1 – Você se lembra de algum outro exemplo, assim, de uma mudança que você tenha feito? Uma coisa que você tenha aprendido e aplicado na sua propriedade? Esse da praga e da doença é um exemplo.
R – É um exemplo.
P/1 – Tem algum outro exemplo que você lembre agora?
R – De agrotóxico. Então me deixe te falar um pouquinho de agrotóxico. A primeira que nós fizemos de agrotóxico, só que não era pela Nestlé, não, era a Cooxupé que programou esse curso pra uso de EPI, faz dez anos. Há dez anos não tinha EPI. EPI, você sabe o que é? É a roupa pra quem tá usando o produto. Inclusive, foi na propriedade do Nivaldo Resende, próximo a Cooxupé hoje. E nós estávamos numas 40 pessoas, eu não me esqueço disso, só que eu já tinha EPI.
P/1 – Tava falando do EPI, né?
R – EPI. Mas quando foi ter o curso lá, eu sempre tive funcionário que trabalha com a gente há bastante tempo, e eu sempre exigi que ele usasse bota, usasse EPI. Chegou lá, o pessoal não concordava. Eu levantei a mão e falei: “Não, eu uso EPI e exijo que o funcionário use EPI. Ou usa o EPI ou não trabalha”. Aí o cara, até produtor rural e amigo da gente, falou assim: “Então você é muito enjoado para os seus empregados”. Eu falei: “Não, eu quero o melhor pra eles. Eu não sou enjoado, não. Eu quero melhor pra eles. Se eles acham que eu sou o pior, então procurem outro lugar melhor”. Bom, aí nesse dia que teve o curso de agrotóxico, eles doaram, fizeram um sorteio de alguns EPIs. Não sei se a Cooxupé, ou alguém patrocinou a Cooxupé, e por coincidência saiu um pra mim. Ah, mas não deu o que os outros falarem, falou: “Aí pra você. É só o cara falar, elogiar o EPI, sai pra ele”. Foi o primeiro que sorteou, saiu pra mim. Eu falei: “Não, saiu, saiu. Agora, eu poderia ser o primeiro, eu poderia ser o último a sair” (risos).
P/1 – Claro. E qual você acha, Geraldo, de uma parceria de uma empresa como a Nestlé com o produtor rural, dessa aproximação da empresa com o produtor?
R – Eu acho que a empresa como Nestlé, como ela é uma grande exportadora de café, não só de café, mas ela conhecer a vida do produtor rural, isso pode ser bom para o produtor rural. O produtor rural, ela vai dar mais valor ao produtor, na vida do produtor rural lá no campo. Que às vezes o cara é um produtor rural, citamos assim, é um grande produtor, mas ele não vive no campo, ele trabalha na cidade, ele tem uma empresa, ele tem outra fonte de renda. E a Nestlé não procura grande produtor, ela prefere o produtor médio ou o pequeno que tá no campo. Ela valoriza o homem do campo. Então esse eu acho que é uma das vantagens que a Nestlé... Ela se interessou a entrar nessa parceria com a Cooxupé e com o produtor rural.
P/1 – Vocês recebem visita de técnico da Nestlé? Você recebe na sua propriedade?
R – Ah, deixe-me te falar outra... Voltando a essa... Como a gente tem a certificação, voltar um pouquinho à certificação, eu vou chegar à pergunta que você me fez. Como tem a certificação, a gente sempre tem que fazer análise de água, análise de solo, análise de folha de café, análise de água do uso. Que a certificação, de um modo geral, exige isso. Então pelo menos uma vez por ano você tem que fazer análise de folha do café, análise do solo. E numa análise de água que a gente fez, pedido da Certifica Minas, a nossa água era boa, deu um coliforme na água, e foi feito na Cooxupé. Quando foi feito na Cooxupé, os técnicos agrícolas que entregam a análise pra gente. Mas pela primeira vez que aconteceu de ter isso. A gente ficou apavorado com aquilo, falou: “É água nossa, nós lavamos a caixa de quatro meses, três meses, sempre pomos”. Cloro que a gente punha, mas um cloro que a gente comprava lá na casa de piscina. E deu esse problema, ele falou: “Olha, isso aí é interessante você cuidar dessa água”. Então vamos procurar alguém que... Aí perguntando até o engenheiro agrônomo da Cooxupé, que é o Érick, falou: “Pode fazer limpeza na caixa, bem feita, torna por o cloro, a gente vai providenciar isso aí você. A gente tá estudando esse assunto, o seu não é o primeiro”. Falou: “Já teve muitos casos de pessoas que fazem análise todo ano e agora tá dando problema nas águas”. A gente ficou, mas vai esperar quando? E eu cobrei, cobrei o Paulinho, cobrei o Érick, cobrei o Lenin. Toda semana eu ligava e cobrava. Aí marcou uma reunião lá em Nova Resende, na Cooxupé, e veio uma moça da Nestlé pra dar uma palestra e deu uns clorador pra aqueles que tiveram problema com a água. Eles doaram clorador. E a gente nem conhecia clorador. Que a gente punha... Na verdade, eu comprava o cloro na casa da piscina em Muzambinho, a gente comprou um clorador que você punha a pedra dentro, uma quantidade de pedra dentro e punha dentro da caixa. E hoje tem duas caixas de dois mil litros. Meu depósito é grande, que minha água não é natural. Então se der problema numa bomba, você tem reserva. Mas a gente achava que aquilo lá era o ideal, mas a gente não pensava que água podia abaixar e ficava sem o cloro. Aí a Nestlé ofereceu o cloro, o clorador de água. Ofereceu, eu peguei o meu, já corri atrás do Paulinho, já viemos aqui, instalamos na água, já começamos a usar, dali uns 15, 20 dias a Cooxupé deu a análise de novo pra aqueles que deram problema, de graça, isso pra incentivar o produtor a fazer a análise. Aí a água tava tudo ok. E há pouco, deve fazer uns dois meses, um mês, por aí, já teve um pessoal da Nestlé que veio ver o clorador se tava funcionando. Até eu nem tava aqui, só a minha mulher que tava. Eles vieram cedo, por sorte eles vieram cedo, porque se eles vêm das oito e meia, nove horas, até quatro horas da tarde, não me acham, nem a minha mulher, mas eles vieram cedo, ela não tinha saído. Aí eles viram que tava funcionando tudo certinho. Foi a única visita que eles fizeram foi essa do clorador de água.
P/1 – Resolveu o problema então.
R – Resolveu. Aí agora lá pra semana que vem eu vou tornar a fazer, que eles pediram pra fazer de seis em seis meses, mesmo com o cloro, fazer uma análise. Então lá pra semana que vem já vai fazer uns seis meses, tem que fazer.
P/1 – E o café que você leva pra Cooxupé, ele é vendido pra Nestlé? Você sabe, Geraldo?
R – Então, esse ano que a gente vai... Que fizemos a parceria com o café certificado pra eles mandarem pra Nestlé por causa da certificação. Sabe quem me comprava café? A Café Responsável em Varginha, que é uma grande exportadora de café, isso faz muitos anos que eu venho vendendo pra eles. E de dois anos pra cá, a Exportadora Guaxupé, uma exportadora que tem em Guaxupé. Aí eu até passei a vender pra eles em Guaxupé por causa do frete ser mais perto pra gente. Você entendeu? Porque de daqui a Varginha dão 300 quilômetros. Daqui a Guaxupé dão 60 quilômetros.
P/1 – Então esse é o primeiro ano que você vai vender pra Nestlé?
R – Pra Nestlé. O primeiro ano.
P/1 – E tem um valor mais alto por saco, ou não, é igual ao mercado?
R – No ano passado, na exportadora, ele deu seis reais de bônus a mais e deu mais um prêmio que é pra investimento, deu quatro reais. Então nesse investimento, vamos supor, o ano passado eu mandei quatro mil sacas de café pra lá, tá quatro mil reais, eu posso comprar roçadeira, posso comprar bomba de pulverizar, posso comprar qualquer coisa que seja em benefício... Só que tem que comprar e apresentar a nota que comprou. Você entendeu? Então é uma espécie de um bônus que eles dão pra investimento na agricultura.
P/1 – Isso da Nestlé? A Nestlé que oferece?
R – Não. Da Nestlé não, da exportadora. A Nestlé, o primeiro ano que eu vou negociar com eles é esse ano. A Nestlé, eu ainda não sei. Segundo informação, que vai ser igual pra melhor. Mas vamos experimentar esse ano.
P/1 – Que eles pagam um valor mais alto, deve ter uma bonificação também.
R – A Nestlé, eu vendi café, mas não certificado. A Nestlé passou um bônus, acho que é de quatro reais, ou três reais por saca, mas eu nem sei por que motivo que eles passaram em 2013, inclusive eu peguei, mas só assinou o cheque, você nem ficou sabendo como. Agora, com o café certificado que tem esse diferencial de preço que eu espero que aconteça esse ano, senão o ano que vem eu volto a levar pra exportadora de novo café certificado (risos).
P/1 – Mas você já recebeu uma bonificação da Nestlé então há... Quando você falou, desculpa?
R – 2013.
P/1 – E essa bonificação, você usou como?
R – Ela vem em cheque, você pode usar no que você quiser. Você pode pagar conta, você pode comprar o que você quiser. Não exige nada. É um bônus que a Nestlé repassou em 2013. E mais esse clorador que foi a Nestlé que doou também. Que esse aí foi a Nestlé que doou, que a gente sabe, que a gente foi à palestra, a gente tava lá na palestra, e eles falaram que ia dar o clorador pra todos que deu problema na água. Todo produtor de café que deu problema na água.
P/1 – Esse bônus de 2013, você lembra como você gastou, ou não? Foi com a propriedade, ou foi outra coisa sua?
R – Foi na propriedade. A gente gastou propriedade. Não exigiu o que era, mas a gente não gastou em outra coisa a não ser na propriedade.
P/1 – Mas você não lembra no que você investiu na propriedade?
R – Não. Não.
P/1 – Tá certo. Eu vou encaminhar para as perguntas finais então agora. Eu quero perguntar antes se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado e que você gostaria de deixar registrado. Alguma coisa que você quer dizer que eu não perguntei?
R – Eu não tenho uma recordação de alguma coisa. Acho que você perguntou muita coisa. Não sei se eu respondi de acordo com o que você me perguntou.
P/1 – Respondeu. Respondeu, sim.
R – Eu acho que às vezes a gente fica... Assim, a gente não sabia como ia ser a pergunta sua, a gente respondeu conforme a gente foi sentindo, mas respondeu.
P/1 – Não, você respondeu superbem. Não sei se você sentiu que faltou alguma coisa.
R – Não, eu acho que as perguntas que você fez, você quis saber... Só faltaram as fotos que eu não te mostrei.
P/1 – A gente vai ver agora. Quando terminar, desligar aqui, daí a gente vai ver as fotos.
R – Ah, certo. De quando a gente era criança.
P/1 – É.
R – Eu acho que tem alguma coisa por aí, sim.
P/1 – A gente vai ver. Você é avô já?
R – Eu tenho duas netas. Tenho uma de seis anos, já tá na escola, tá no primeiro ano, e tenho a outra que vai fazer três anos agora dia 23, 23 de setembro, que também já tá no pré, no prezinho já.
P/1 – Como é o nome das suas netas?
R – Maria Clara e Maria Beatriz. Inclusive, muito linda, todas as duas.
P/1 – Elas são filhas do seu filho ou da sua...
R – Da minha filha. O meu filho é solteiro.
P/1 – E como foi ser avô, Geraldo? Como é ser avô?
R – Foi bem, porque a Bete já era casada, aí a gente... Quando ela ficou grávida da primeira, que era a Maria Clara, ela estudava, ela tava terminando Direito. Foi no último ano de Direito dela. E ela grávida, ia daqui a Alfenas, 130 quilômetros todo dia, ia e voltava. Que ela não tinha como morar lá em Alfenas, então tinha umas colegas dela que trabalhava no fórum, cada uma tinha um carro, aí eu tinha dado um carro pra ela, ela ia de carro. Eu só ficava pensando a volta dela. A ida eu não preocupava, não, preocupava na volta. Isso foram dezenas de vezes, que eu tive que buscá-la em ________, Alfenas, que o carro delas quebravam, não só o da minha filha. Da minha filha aconteceu também alguma vez, mas das outra também acontecia. Quem era o socorro delas? Era eu. Então o carro quebrava... Teve um dia que ela quebrou saindo de Alfenas, 11 e meia da noite. Só vinha pra Nova Resende elas. Ela ligou, a Bete ligou 11 e meia da noite, eu tinha acabado de desligar a máquina de café, não e me esqueço disso, nem banho eu não tinha quebrado. “Papai, o carro da Ana” – Ana era a colega dela – “o carro da Ana morreu no asfalto aqui, na primeira empresa de Alfenas, e nós estamos aqui sozinhas na beira da empresa, o senhor tem como vir nos buscar?”. Eu falei: “Tenho, daqui uma hora e pouquinho eu chego aí pra buscar vocês. Uma hora e meia eu to aí. Fique tranquila aí com o carro, não se apavore não”. Falei:” Fique dentro do carro”. Cheguei aqui, falei pra Elisabete, eu tava no barracão, vindo do barracão pra cá, falei: “Bem, to indo buscar... O carro da Ana quebrou, to indo buscá-las”. E o carro da Elisabete com o pneu furado. Minha mulher sempre teve quatro dela. E eu tinha uma D20, e elas eram quatro, falei: “Eu vou buscá-las na D20. Vão vir em cinco na cabine da D20”. Peguei a D20, saí correndo daqui. Quando fez uma hora e dez, eu cheguei lá. Meia-noite e 40 eu cheguei lá onde elas estavam. Quando cheguei lá, que parei lá com ela, acabei de parar, veio outro cara e parou, era um cara de Muzanbinho. Eu falei: “O carro na pista não pode ficar, senão os outros quebram vidro, inventa coisa, então leva para o posto”. E tinha um posto logo na frente. Passei a cinta no carro, a Ana ficou com medo: “Ah, e tenho medo de bater”. Falei: “Vai na caminhonete” “Não, não vou”. Aí a Bete: “Não, eu vou”. Nunca tinha dirigido D20. “Não, pode deixar que u vou.” Falei: “Você põe segunda, você vai daqui a Nova Resente. Foi até o primeiro posto. Olha pra você ver que situação que a gente vivia. Foi até o primeiro posto, eu falei: “O pedal do freio vai endurecer, mas segura firme, não bomba o frei, só solta o frei na subida. Eu vou te descer arrastando, nas baixadas eu vou te arrastar, na subida você solta o freio. Fui até o primeiro posto: “Olha, papai, to achando que dá pra ir até Nova Resende”. Falei: “Só que nós vamos gastar duas horas e meia daqui lá” “Não, não tem problema não, Se der pra levar... Que a Ana tá com medo de deixar o carro dela”. Chegamos quatro horas em Nova Resende, da manhã. Chegou a Nova Resende quatro horas da manhã, deixei o carro dela na porta da casa dela, vim embora, falei: “Ah, não vou dormir”. Porque cinco horas tinha que levantar pra fazer café para os funcionários. Eu não tomo café, mas coo café ara os funcionários. Coei café cedo e fui acender a fornalha de secador de novo Elas foram embora. Naquele dia foi no carro da Bete pra Alfenas. Vem de carro pra cá, arrebenta a correia dentada na escola agrícola em Muzaminho. Onze e meia da noite, eu dormindo, eu fui dormir mais cedo, o telefone toca: “Papai, meu carro morreu aqui de novo”. Na ponte da escola agrícola. Tinha dormido umas duas horas, mas já tava bom. Sai eu correndo de novo, peguei o carro da Elisabete, aí já tinha arrumado o pneu do carro dela, joguei a cinta que tava na caminhonete tudo no carro, chegamos lá: “Nós queremos levar o carro pra Nova Resende”. Agora nós não sabíamos o que era. Falei: “Então vamos levar”. Tornei rebocar o carro dela, duas horas da manhã eu tava em Nova Resende de novo. E ela grávida pra ganhar a Maria Clara. Grávida assim, já completando nove meses.
P/1 – Pra nascer já.
R – Pra nascer. Passaram uns diazinhos... E ela dirigindo. Veio dirigindo de lá aqui. Era eu na frente e ela atrás dirigindo. Passaram três dias, três ou quatro dias, ela ganhou a Maria Clara, essa mais velha que eu te mostrei no celular. Depois da formatura dela, ela formou naquele ano que ela ganhou a Maria Clara, no final do ano ela se formou. Porque ela ganhou a Maria Clara no meio do ano, e quando foi no final do ano, ela formou. Deixe-me te falar o maior pra você, ela foi destaque acadêmico da faculdade. Foi a melhor aluna que teve da faculdade.
P/1 – Que ótimo.
R – Foi bom. E a Maria Clara participou da formatura, que nós fomos ficar com ela lá na formatura. Não deu trabalho. Era pequenininha, mas ficou belezinha, todo mundo queria pegá-la, mas era criança, ia com todo mundo: “Ai, que linda” Quando foi entregar o certificado, que entregou o certificado, que a hora do destaque acadêmico, ninguém sabia quem... Toda formatura tem um destaque acadêmico, lá em Alfenas era assim. Quando chamou lá que ia chamar a pessoas pra entregar o certificado de destaque acadêmico, tal, tal, tal, capaz. A gente pensava: “Quem será? Quem será?”. Eu não conhecia ninguém. Eu conhecia poucas colegas dela e poucos colegas de sala e tudo mais. Que chamou ela, capaz, todo mundo chorou (choro), porque ninguém esperava por aquilo. Mas tudo valeu a pena.
P/1 – Ficou orgulhoso. É pra ficar orgulhoso.
R – O Marcos, meu filho, ele estudou na PUC. Ele começou no Rio de Janeiro, depois ele formou na PUC de Poços. Ele foi destaque acadêmico três vezes da PUC. A PUC nunca teve um aluno que fosse destaque acadêmico três anos seguidos. E ele foi destaque acadêmico três anos seguidos. Então isso também valeu a pena.
P/1 – Claro.
R – Isso é muito interessante.
P/1 – Tá certo, Geraldo. Eu vou fazer as últimas duas perguntas então pra você. A primeira é: quais são seus sonhos?
R – Como?
P/1 – Quais são seus sonhos?
R – Olha, hoje, na verdade, como diz o outro, o sonho da gente era criar os filhos e dar o que fosse melhor pra eles, e ter uma vida digna. Eu falo assim, uma vida digna, uma vida que tivesse conforto razoável, eu acho que tudo isso a gente reali... (corte no áudio).
P/1 – Você tava falando que seu sonho era criar os filhos.
R – É. Criar, estudar, dar o que fosse melhor pra eles. Na verdade, a gente pensava que talvez eles até continuassem a atividade rural na roça, ou mesmo que quisessem seguir outra carreira, eles que teriam que escolher o melhor pra eles. Sempre a gente teve esse diálogo com eles. Pra eles estudarem já foi mais fácil de que quando eu estudei, porque o ônibus passava na porta, aqui tem linha escolar que vai pra Bom Jesus, vai pra Nova Resende. Quando chovia, que não vinha o ônibus, eu punha no carro e eles nunca faltaram de aula. Punha no carro e levava em Nova Resende, esperava, trazia de volta. Isso acontecia a semana inteira, porque estrada terra, choveu a semana inteira, acabou a linha. Mas a gente conseguia levar e trazer e sempre explicando que eles tinham que estudar, e graças a Deus foi um sonho que a gente realizou, e a gente sente valorizado por isso, que eles deram valor e conseguiram, hoje todos estão encaminhados. Eu acho que de agora pra frente é curtir os netos, curtir a vida e, como diz o outro, pagar as contas também (risos). Porque isso é impressionante. E pedir a Deus que Deus abençoe que o tempo corra tudo bem. E viver o resto da vida com a família.
P/1 – Tá bom. E por último, como foi dar essa entrevista aqui pra gente? O que você achou?
R – Uai, eu achei que foi ótimo, que a gente lembrou muita coisa passada. Agora, eu não sei se você se sentiu confortada ou se você se sentiu amedrontada (risos).
P/1 – Não, eu achei ótimo.
R – (risos) Do que aconteceu com a vida da gente.
P/1 – Eu achei ótimo.
R – Que a vida da gente é assim mesmo, teve muitas passagens... Vocês são crianças, então você ouvirem coisa do passado é, como diz o outro, de por o pé no chão mesmo. Eu falo porque você deve ser bem mais nova que meus filhos. Vocês dois devem ser bem mais novos que meus filhos, e eles já vieram depois de mim, e de agora pra frente são totalmente diferentes. Mas tem que lembrar as coisas passadas. E é bom pra vocês saberem como foi a vida do campo anterior também. Pra mim foi ótimo isso aí.
P/1 – Tá certo.
R – Acho que valeu a pena ter interesse de vocês em fazer essa entrevista.
P/1 – Tá bom, Geraldo, muito obrigada, viu?
R – De nada.
P/1 – Pra gente foi ótimo também.
R – Obrigado.
FINAL DA ENTREVISTA
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