Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o Outro - Compartilhando Valores – Pronac 128976
Depoimento de Antoninho Canal
Entrevistada por Tereza Ruiz
Águia Branca, 01/06/2014
Entrevista NCV_HV_015_Antoninho Canal
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Ana Carolina
MW Transcrições
P/1 – Então primeiro, Antoninho, eu queria que você falasse pra gente o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Antoninho Canal. Dia de nascimento 27 de outubro de 1951 e o local de nascimento Domingos Martins, Espírito Santo.
P/1 – E agora o nome completo dos seus pais e se você souber também a data e o local de nascimento deles. Senão o nome completo só.
R – É Armir Canal e Isabel Canal.
P/1 – O senhor sabe se eles são do Espírito Santo também?
R – São do Espírito Santo. Domingos Martins também.
P/1 – Tá certo. O que o seus pais faziam?
R – Sempre forma agricultores também. Sempre foram agricultores.
P/1 – E trabalhavam com café também?
R – Trabalhavam com café.
P/1 – Seu pai e sua mãe?
R – Meu pai, minha mãe. Inclusive quando eu nasci, eu sou de oito meses, minha mãe foi juntar um café, guardou o café e na noite ela teve o parto e teve seu Antoninho, essa pessoa que tá aqui hoje.
P/1 – Foi em casa o parto?
R – Foi em casa.
P/1 – Os seus pais te contavam como é que foi o parto?
R – Sim. Sim. Sempre contaram. Disseram que eu nasci pretinho.
P/1 – É? Conta pra gente como é que foi.
R – Graças a Deus estou aí tranquilo, com saúde, nunca tive problema de saúde. Muito bem, isso faz parte da pessoa que trabalha na roça é isso aí. Agricultor tem essas dificuldades mesmo.
P/1 – Quem que fez o parto do senhor, o senhor sabe?
R – Não. Foi uma senhora que era uma parteira mesmo na época, que tinha na região. Foi uma parteira.
P/1 – E o senhor tem irmãos?
R – Tenho.
P/1 – Tem?
R – São 12 irmãos. Tem uma irmã mais velha do que eu e eu dos homens sou...
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Projeto Nestlé - Ouvir o Outro - Compartilhando Valores – Pronac 128976
Depoimento de Antoninho Canal
Entrevistada por Tereza Ruiz
Águia Branca, 01/06/2014
Entrevista NCV_HV_015_Antoninho Canal
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Ana Carolina
MW Transcrições
P/1 – Então primeiro, Antoninho, eu queria que você falasse pra gente o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Antoninho Canal. Dia de nascimento 27 de outubro de 1951 e o local de nascimento Domingos Martins, Espírito Santo.
P/1 – E agora o nome completo dos seus pais e se você souber também a data e o local de nascimento deles. Senão o nome completo só.
R – É Armir Canal e Isabel Canal.
P/1 – O senhor sabe se eles são do Espírito Santo também?
R – São do Espírito Santo. Domingos Martins também.
P/1 – Tá certo. O que o seus pais faziam?
R – Sempre forma agricultores também. Sempre foram agricultores.
P/1 – E trabalhavam com café também?
R – Trabalhavam com café.
P/1 – Seu pai e sua mãe?
R – Meu pai, minha mãe. Inclusive quando eu nasci, eu sou de oito meses, minha mãe foi juntar um café, guardou o café e na noite ela teve o parto e teve seu Antoninho, essa pessoa que tá aqui hoje.
P/1 – Foi em casa o parto?
R – Foi em casa.
P/1 – Os seus pais te contavam como é que foi o parto?
R – Sim. Sim. Sempre contaram. Disseram que eu nasci pretinho.
P/1 – É? Conta pra gente como é que foi.
R – Graças a Deus estou aí tranquilo, com saúde, nunca tive problema de saúde. Muito bem, isso faz parte da pessoa que trabalha na roça é isso aí. Agricultor tem essas dificuldades mesmo.
P/1 – Quem que fez o parto do senhor, o senhor sabe?
R – Não. Foi uma senhora que era uma parteira mesmo na época, que tinha na região. Foi uma parteira.
P/1 – E o senhor tem irmãos?
R – Tenho.
P/1 – Tem?
R – São 12 irmãos. Tem uma irmã mais velha do que eu e eu dos homens sou o mais velho.
P/1 – Quantos homens, quantas mulheres?
R – São sete homens e cinco mulheres. Aí, tem dois falecidos, dois homens e o restante estão vivos, graças a Deus. Pai e mãe também. Meu pai com 88 anos e minha mãe com 84.
P/1 – E conta um pouco pra gente como é que eram os seus pais, de jeito assim. Como é que era o temperamento deles.
R – Minha mãe sempre foi mais tranquila, calma, mas meu pai tinha... Até hoje mesmo tem um temperamento meio difícil. Ele é meio enérgico, sempre gostou de criar os filhos no... Então, a gente tem que agradecer isso também. Eu agradeço muito ele a isso por ter dado essa educação também pra gente, né? Que foi também que eu sempre fiz pros meus filhos também e graças a Deus estou vendo que ele teve um bom resultado. Graças a Deus. Todo mundo tá tranquilo, tem suas famílias, então isso aí acho que faz parte. Ser enérgico eu acho que hoje em dia já tem até um problema pra você criar os seus filhos com essas leis que tem hoje, é meio difícil. Então, isto daí traz até certo problema até pra família, né?
P/1 – Vocês se davam bem, o seu pai e sua mãe?
R – Não, nós trabalhamos sócios até hoje. Agora que a gente tá dividindo a propriedade. Em 79 que a gente comprou a propriedade, 50% eles, 50% eu. Paguei, né? E agora que a gente tá dividindo a propriedade.
P/1 – E Antoninho... Desculpa. Pode falar. Pode terminar.
R – Mas todo esse período que a gente sempre trabalhou sem problema nenhum. Havia as brigas de negociação quando a gente ia fazer uma coisa, talvez ele era mais difícil de entender e aí que talvez vinha um pouco da dificuldade, mas não briga de... Sempre aquela briga pra poder estar resolvendo as coisas. Mas eu mais ele graças a Deus nunca tivemos problema. Graças a Deus.
P/1 – E você se lembra da casa em que você passou a infância, Antoninho?
R – Muito pouco. Praticamente fui criado mais com o meu avô.
P/1 – Onde?
R – Em Domingos Martins.
P/1 – E como que era o nome do seu avô?
R – É David. David Canal.
P/1 – E como é que era, você morava com o seu avô, é isso?
R – É. Ficaria mais com ele que até hoje as minhas tias lá, que têm duas tias solteironas, elas têm roupa minha lá de quando eu era criança ainda guardado em casa, nas casas delas lá guardadas, entendeu?
P/1 – E essa casa do seu avô, como é que era?
R – Ah, era uma casa de madeira que nem antigamente fazia. De estuque, alta. Essa aí eu lembro ainda, era criança, eu lembro. Aí, meu avô também sempre foi agricultor, sempre plantou café também. Só que lá é mais morrado ainda do que aqui. Aí, ele subia capinando, eu junto com ele, quando descia eu vinha no pescoço dele. Aí, que eu passava a mão na cabeça dele, tinha a cabeça branquinha, eu falei: “Quando eu ficar velho também eu quero que a minha fique branquinha também”. Ainda vem de tradição de família mesmo.
P/1 – Conta um pouquinho como é que era a casa. Era de madeira, como é que era o chão assim?
R – Era tábua. Assoalho de tábua, parede de barro, né? Assoalho de madeira, era o que... Fogão a lenha. Não existia naquela época geladeira, não tinha nada, fogão a gás, nós não tínhamos nada. Tudo era... Isso aí ainda me recordo bem disso aí.
P/1 – E a casa do seu avô era dentro de uma propriedade em que ele trabalhava, era dele?
R – Dentro da propriedade dele mesmo. A propriedade era dele mesmo. E tá lá até hoje ainda, existe a propriedade.
P/1 – Tem um nome?
R – Não. Não tem um nome, não.
P/1 – E seus irmãos viviam junto também na casa do seu avô contigo?
R – Não, porque na época... Depois aí que a gente mudou que veio pro norte, porque quando saiu de lá éramos eu e mais duas irmãs.
P/1 – Mas elas ficavam também na casa do seu...
R – Não. Eles ficavam mais junto com o meu pai mesmo e a minha mãe.
P/1 – Até quantos anos você morou com o seu avô?
R – Não, não é dizer que eu morei mesmo junto com ele, não. Eu passava alguns dias com ele lá.
P/1 – Passava mais tempo com ele.
R – Isso. Mais tempo com eles, porque moravam pertinho, né? Então a gente... É igual hoje, meus netos quase vivem mais comigo do que com os pais deles. Moram aqui pertinho, estão sempre junto com a gente.
P/1 – E as brincadeiras assim de infância, Antoninho, você lembra? O que você fazia pra se divertir?
R – Era bolinha de gude. Era a brincadeira na escola que mais rolava mesmo, era brincadeira de bolinha de gude e estilingue, aquela de matar passarinho que hoje em dia a gente tenta proteger ao invés de... Mas era isso aí que era o brinquedo.
P/1 – E vocês que faziam o estilingue?
R – Fazia o estilingue.
P/1 – E como é que fazia?
R – Fazia com a borracha de pneu. A gente conseguia, era muito difícil também porque quase não existia carro. Quando a gente conseguia um pedacinho daquilo era uma fatalidade. Era uma... Passava o tempo com aquilo. Então, o que mais a gente usava mesmo era isso aí, o estilingue e a bolinha de gude. Escola então, na escola era bolinha de gude o que rolava.
P/1 – E quantos anos você tinha quando você entrou na escola?
R – Sete anos.
P/1 – E qual que é a escola? Você se lembra do nome e onde que era?
R – Era Escola Córrego do Trinta. Escola Córrego do Trinta.
P/1 – Aqui pertinho então?
R – Aqui pertinho. Era aqui pertinho, era ali em cima. Tinha a comunidade, tem a igreja, a escola era do lado. Tinha a igreja e a escola.
P/1 – E qual que é a primeira lembrança ou as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Ah, isso era... A gente ia, mas não gostava muito, não.
P/1 – Não? Por quê?
R – Não sei. Era porque a gente era acostumado na roça, desde pequenininhos sempre o meu pai levava a gente pra roça. Tinha que trabalhar junto com ele, como era o filho mais velho, então tinha que ajudá-lo também. Então, a gente já saía da escola, já também direto pra roça. Aí a gente ia pra escola, saía da roça, de manhã cedo a gente ainda ia pra roça antes de ir pra escola, que meu pai sempre levantou cedo. Aí a gente ia, dava o horário pra vir pra escola, a gente vinha, passava a mão nos caderninhos, ia pra escola, no horário do recreio a gente vinha em casa almoçar, que a escola ficava pertinho na época, aí dali voltava pro serviço.
P/1 – Vocês iam e voltavam da escola a pé então?
R – A pé.
P/1 – E como é que era a escola? Você lembra qual que era a estrutura? Era pequena, era grande?
R – Não, era uma escolinha até grande. Era também estrutura de madeira com os esteios, parede de estuque, de barro, assoalho de madeira. Era até bem organizadinha. Era ótimo.
P/1 – E as salas eram misturadas assim, estudava menino e menina junto?
R – Tudo junto. Série, a primeira série, segunda série, terceira série e a quarta série.
P/1 – Na mesma sala?
R – Na mesma sala. Era tudo junto. E uma professora só que dava essas aulas pra primeira a quarta séria. É uma professora só.
P/1 – Você lembra se você teve alguma professora marcante? Essa professora você lembra o nome dela?
R – Não. Eu sinceramente sempre gostei de todas as professoras que eu estudei. Nunca teve problema. Eu nunca tive problema na escola. Graças a Deus sempre foi muito tranquilo, nunca teve... Que a pessoa marca quando a professora te dá um castigo, te dá um... Mas graças a Deus todas que eu tive aula com elas sempre foi muito bem, graças a Deus. Não tenho o que reclamar, não.
P/1 – Tinha uma preferida assim, não?
R – Não. Todas elas... Tinha uma pretinha que eu gostava muito dela, ela me levava pra casa dela quando ela ia. Talvez ela ia pra casa, na casa dela, morava perto ali em outra comunidade, aí eu ia pra casa dela. Mas muita gente boa também.
P/1 – O nome dela você lembra?
R – Não me lembro. Não me lembro do nome dela.
P/1 – E tinha uniforme?
R – Tinha uniforme. Tinha que ter. Tinha uniforme.
P/1 – Como é que era o uniforme?
R – Era um calçãozinho escuro e uma camiseta branca, que era o uniforme.
P/1 – E calçado?
R – Calçado eu fui colocar calçado no pé com 18 anos.
P/1 – Nunca tinha calçado?
R – Nunca tinha calçado. Que a gente veio de uma família muito pobre mesmo, né? Mas graças a Deus sempre com dignidade.
P/1 – Mas andava como? Descalço mesmo?
R – Descalço mesmo. Descalço mesmo. Eu fui colocar o meu primeiro sapato com os 18 anos de idade, que eu calcei o primeiro sapato. Machucou-me os pés todinhos, deu vontade de jogar fora.
P/1 – Não tá acostumado.
R – Não tava acostumado, né?
P/1 – E chinelo usava também?
R – Não. Nada mesmo. Era descalço mesmo. Ia a igreja descalço. Eu fiz a minha primeira comunhão descalço. Na foto botou todos os meninos na frente, eu fiquei por trás porque eu tava descalço. Mas não tenho vergonha de falar disso, não. Graças a Deus faz diferença, não. Hoje, graças a Deus a gente tem pra se virar, mas a gente passou um período, mesmo quando a gente mudou pra essa fazenda, a gente teve um rapaz que ajudava a gente. Ele dava os cachos de banana, levava pra casa, minha mãe cozinhava e a gente vivia disso aí, uma farinha. Mas com muita luta e muita vontade a gente venceu na vida.
P/1 – Qual que era essa fazenda?
R – Fazenda Catelan. É aqui pertinho também, faz quase divisa aqui com a propriedade.
P/1 – E aí os seus pais trabalhavam nessa fazenda?
R – Nós trabalhávamos nessa fazenda. Entramos trabalhando a dia, em 70 a gente a gente plantou a primeira lavoura de café. Aí, graças a Deus, também aí a eles a gente têm que agradecer muito esse pessoal que deram liberdade pra gente trabalhar. Era tudo mata, a gente foi morar pra dentro de uma mata, num barraco tampado de casca de pau, e ali a gente começou. Depois fizeram uma casa igual essa aqui pra gente, e ali em 70 a gente começou a plantar café. Aí sim. Aí a gente multiplicou.
P/1 – Aí você falou que vocês quando começaram a trabalhar lá era a dia, que você diz.
R – A dia.
P/1 – Como é que é o trabalho a dia?
R – Era, por exemplo, como a gente era meeiro na época, se era dez reais o dia de uma pessoa de fora, a gente que morava dentro da propriedade era sete reais. Tinha essa diferença que eles cobravam, mas graças a Deus a gente foi rompendo ali. Já logo depois eles resolveram plantar café, então que foi aonde que a gente começou a mudar um pouco, que aí a renda já modificou, né?
P/1 – Qual que é a diferença assim? Quando você começa a plantar café, vocês começaram a plantar dentro dessa propriedade mesmo, né?
R – Dentro dessa propriedade.
P/1 – E aí o que mudou?
R – E era meio, né? Por exemplo, se a gente colhia cem sacas, 50 era da gente, 50 é do patrão. Mudou, o café é um produto que, sabendo trabalhar com ele, ele te dá certo resultado também. Foi onde que a gente começou, né? Isso foi em...
P/1 – Já era uma fazenda de café lá?
R – Não. Era tudo mata.
P/1 – Tudo mata.
R – Tudo mata. Aí que a gente foi...
P/1 – Mas quando vocês trabalhavam a dia já era uma lavoura de café?
R – Não. Aí que a gente saiu de outra propriedade e veio pra dentro dessa propriedade. Onde a gente trabalhava nessa propriedade tinha assim uma lavourinha, mas era muito pouco. Mas a gente trabalhava a dia, fazia a farinha, vendia farinha, de mandioca, né?
P/1 – O senhor falou que o seu pai te levava desde pequenininho pra trabalhar na roça.
R – Desde pequeno pra trabalhar na roça.
P/1 – Qual que era o trabalho quando você era criança?
R – Seria capinar ou colher um cafezinho, alguma coisa assim. Talvez ele pegava empreitada, roçar um pasto, aí a gente ia ajudar. A gente tava sempre junto. Sempre junto, sempre pegando junto.
P/1 – E o senhor ficou na escola até que idade?
R – Até... Eu não... Das séries, aos 12 anos. Porque foram quatro anos, eu nunca fui reprovado. Todo ano sempre passei de ano, não teve problema.
P/1 – E aí quando saiu da escola, saiu pra trabalhar, foi isso?
R – Isso. Eu saí já foi direto pra roça. Eu tinha muita vontade de estudar, mas naquela época a gente não tinha pra onde sair, família pobre também, não tinha estrutura nenhuma. A gente tava na roça mesmo.
P/1 – Essa escola que o senhor estudava só tinha até a quarta série ou tinha...
R – Até a quarta série. Até a quarta série. Aí se quisesse estudar mais teria que sair pra cidade, né? E aí até a oitava série. Até a oitava série. E por isso que eu sempre gostei que os meus filhos estudassem. Sempre pedi pra eles estudarem. Hoje você viu ali, tem aquele que estava aí, já fez duas faculdades, Administração depois Direito. Tem a menina também formada em Contabilidade. Tem o outro filho meu caçula que é formado em Administração também, com pós-graduação. Graças a Deus todos tiveram...
P/1 – Todos estudaram bastante, né?
R – Graças a Deus. E o Ginivaldo que é esse que tá aqui comigo, que fez até a oitava série também. Aí ele não quis estudar, quis me ajudar na roça, porque ele viu que eu tava precisando. Aí ele ficou me ajudando e hoje praticamente é ele que administra. Eu já passei mais pra ele, quem administra é ele mesmo.
P/1 – Antoninho, você falou pra gente que na sua infância você citou os cachos de banana com farinha, queria que você contasse um pouco assim como é que era a alimentação na sua casa. Qual que era a base da alimentação de vocês?
R – A base de alimentação nesse período era isso aí, isso aí mesmo, né? Alguma caça, porque tinha muita caça naquela época.
P/1 – Vocês caçavam?
R – Ahã. Meu pai gostava de caçar. As caças vinham pra dentro de casa, que era... Seria mais isso aí. Aí a minha mãe... Também uma galinha, uns ovos. Aí a gente foi... Quando a gente começou a se estruturar, pronto. Aí já modificou.
P/1 – E caça era o quê? O que tinha de caça?
R – Caça na época era parca, o tatu, que tinha muitos. Inclusive conforme a cultura que você plantava destruía tudo, né? Então tinha que tá... Que tinha muito, né?
P/1 – O tatu destruía?
R – O tatu destruía, a paca. Destrói milho, plantio de feijão.
P/1 – Por quê? Elas comem? Eles se alimentam?
R – Comem. Eles se alimentam. Alimentam-se.
P/1 – E café? Vocês consumiam café na sua casa?
R – Já consumia o café. Consumia o café. Era também torrado e o açúcar era o caldo de cana. Moía a cana e passava o café com caldo de cana. Fazia o melado e fazia o café. Fica muito gostoso.
P/1 – Era feito na tua casa mesmo?
R – Feito lá em casa mesmo. Minha mãe que fazia.
P/1 – Como é que prepara? Conta pra gente como é que é esse preparo.
R – O preparo primeiro pegava o café e torrava-o. Moía a mão, torrava, depois tinha um moedorzinho a mão, torrava, guardava o grãozinho torrado, conforme de manhã cedo ia passar o café já moía aquela quantidade que ia fazer o café. Aí moía a cana de tarde, minha mãe guardava o caldo, de manhã cedo ela levantava, botava fogo no fogão e fervia aquele caldo de cana até ele ficar meio melado, aí passava o café com um pouco de água e café e o melado de cana.
P/1 – E esse café vinha da onde?
R – Esse café era da região aqui mesmo. Era da região mesmo, que a gente produzia, sempre guardava um pouco pra beber, pro consumo.
P/1 – Era o café que vocês mesmos produziam?
R – Era o café que a gente mesmo produzia, só que naquela época ainda era café arábica. Aí, depois que veio o café conilon. O café conilon veio depois.
P/1 – Explica pra gente a diferença. Qual que é a diferença do arábica e do conilon? O senhor estava falando que na época vocês plantavam o arábica, é isso?
R – É.
P/1 – Eu queria entender um pouquinho qual que é a diferença assim de um e de outro, do conilon e do arábica.
R – O arábica depois passou a ter muita doença, né? Então, tinha muita dificuldade de você manter a lavoura. Aí que foi que começou a aparecer o conilon.
P/1 – Que tipo de problema tinha o arábica?
R – O arábica dava muita doença. Dava muita doença, então a gente teve dificuldade mesmo com ele. Depois veio o período de arrancação, né? Aí arrancou, aí já começou a se plantar mais o conilon. E aí foi expandindo.
P/1 – Hoje o senhor planta conilon só?
R – Só conilon.
P/1 – E nessa fase o senhor contou que quando a sua família começou, pegou essa propriedade que era só mata, queria que o senhor contasse assim como é que foi que vocês começaram a montar a lavoura de café. O que teve que fazer, teve que limpar a mata, conta um pouco como é que...
R – Teve. Teve que derrubar a mata. Na época se brocava, né, eles falavam, de foice, roçava tudo primeiro de foice, depois vinha com machado, derrubava, aí fazia os aceiros pro fogo não fugir pra mata e queimava...
P/1 – Como que é o aceiro?
R – Aceiro é uma área que você limpa envolta pra você poder queimar aquela parte ali. Aí queimava e se plantava o café. Atirava as mudas e plantava. Só que naquele tempo ainda era muda que a gente arrancava assim no meio das lavouras e plantava.
P/1 – E da onde vieram as mudas, as primeiras mudas de vocês?
R – Já veio da região mesmo que já tinha alguns plantios. Já tinha algumas áreas plantadas. Tinha umas propriedades que já tinham, né? Que na época tinha um prefeito do município que pertencia a São Gabriel, que começou a incentivar e trazer essas plantas, aí a gente começou a plantar. O pessoal, todas as propriedades começaram a aderir esse plantio devido a produção dele também que é diferente. A produção é melhor.
P/1 – Quem que trabalhava na época, era a família? Era só a sua família que trabalhava nessa primeira lavoura assim quando vocês começaram?
R – Sim. Nessa propriedade sim. Aí depois foi expandindo, né? Dentro dessa fazenda depois chegou a ter 25 meeiros, que a gente quem tomava conta. Chegou a produzir 35, 40 mil sacos de café seco. Café seco já pronto pra pilar.
P/1 – Bastante.
R – Era muito. Era muito café.
P/1 – O tamanho mais ou menos da propriedade o senhor tem?
R – A propriedade tinha 62 alqueires. Era uma propriedade grande.
P/1 – E a área que vocês plantavam, da lavoura de vocês?
R – Que nós plantávamos?
P/1 – É.
R – Seria uma média de uns cinco alqueires, mais ou menos, que a gente cuidava.
P/1 – E aí conta, assim, depois que planta a muda, essa preparação do terreno igual ao senhor explicou, daí planta a muda, aí como é que é o cuidado até a colheita?
R – Aí você tem que estar sempre cuidando, não deixar as ervas daninhas tomarem conta. Você tem que estar sempre limpando. Então naquela época pra se fazer a primeira colheita se gastaria quatro anos, que seria fazer um contrato com o proprietário, produzia dentro de quatro anos, dentro daquela área, era seu. Você plantava o milho, o feijão, uma mandioca, o que você plantaria dentro daquela área tudo era seu. O café, um pouquinho que ia dando. Então, a primeira colheita boa era com quatro anos. Era com quatro anos que vinha a primeira colheita.
P/1 – Demora, né?
R – Demorava. Agora, hoje não. Hoje com esses clones que já tem ali, já secou essa lavourinha mesmo ali, que a gente tava nela, ela tá com um ano e meio, ela já tem produção. Ela com três anos de idade ela se paga já o custo dela. Com três anos de idade.
P/1 – E naquela época quando vocês começaram era quatro anos, isso é o tempo o quê? Da plantinha crescer?
R – Quatro anos. Isso. Da plantinha crescer até ela chegar no porte de produção. Porte de produção.
P/1 – E assim irrigação, adubação, como é que é?
R – Naquela época não existia nada disso, não. Chovia muito, então não tinha adubação, não tinha irrigação. Adubação, irrigação começou a partir de 80, 85, por aí, começou a se adubar, começou a se irrigar.
P/1 – Na época deixava pra natureza?
R – Deixava pra natureza e produzia muito. E produzia muito. Dali pra cá já veio mudando, né?
P/1 – E aí depois a colheita, quando dava a primeira colheita como é que fazia pra colher na época?
R – Era tudo igual se faz mesmo hoje. Não modificou nada, não. Porque a nossa região aqui não tem como você colher com maquinaria e até hoje também ainda não foi assim inventada uma máquina pra colher o café conilon. Que é diferente do arábica, né? Não se consegue nenhuma máquina pra se colher, então é tudo manual. A peneira, coloca a peneira na cintura e você vai colhendo o café.
P/1 – Mas chacoalha a planta? Como é que é que faz?
R – Não. É tudo puxado na mão mesmo. É tirado na mão. Tudo tirado na mão. Não tem... Ele não cai igual o arábica, não. O arábica se chacoalhava o pé, ele caía, depois você juntava no chão. Esse já, o conilon, ele já não cai no chão. Já é tudo apanhado mesmo ou lona, com uma lona espalhada no chão, ou na peneira que é o mais coisa é na peneira.
P/1 – E tem alguma proteção assim pra mão ou não?
R – Agora que apareceu. De primeiro era na base da munheca mesmo. Arrancava o couro da mão. Mas depois agora tem a luva, né? Usa-se a luva. Usa-se a luva.
P/1 – Mas quando vocês começaram a plantar não, era na mão mesmo?
R – Não. Era na mão mesmo. As primeiras semanas era difícil. Chegava a tirar o couro da mão mesmo. Sangrava. Era muito difícil. Ele é meio duro de tirar. É por isso que ele não cai. Pode chover, pode molhar. Ele seca em cima do pé, mas ele não cai. Ele tem que ser tirado mesmo.
P/1 – E depois calejava a mão assim?
R – Calejava. Depois que calejava pronto. Não tinha esse negócio, não. Pegava e arrastava mesmo. Não tinha...
P/1 – Aguentava.
R – Era meio dificultoso, viu? Era fácil não. Tinha que ter coragem. Tinha que ter coragem, mas era bom, era divertido. Ficava esperando pra chegar a época da colheita. Era muito divertido.
P/1 – Por que era divertido? O senhor gostava?
R – Gostava porque dava muito movimento, vinha gente de fora, de outros estados também pra ajudar a apanhar, ajudar a colher que eles também ganhavam bem por produção, trabalhava por produção. Então era muito divertido. Secava no terreiro, era tudo secado no terreiro, não tinha secador, não tinha... Tudo secado. Só tinha máquina pra beneficiá-lo depois.
P/1 – Como é que era a secagem no terreiro?
R – Secagem no terreiro. Era tudo secado no terreiro. Trazia da roça, colocava no terreiro, ia espalhando aí ia mexendo. Aí a tarde teria que juntar, quando chegava num certo ponto você já tinha que estar cobrindo ele pra não deixar molhar, chovia muito.
P/1 – Mas esse terreiro assim, era preparado de uma maneira específica pra receber o...
R – É.
P/1 – E como é que era?
R – Era um terreiro de chão mesmo, entendeu? Mas era um terreiro maquinado, bem preparado.
P/1 – Plano? Bem plano?
R – Plano. Bem plano. Tem que ser bem plano, não pode ser com caída. Tem que ser bem plano.
P/1 – Aí traz o café que colhe e faz o quê? Espalha?
R – Trazia o café que colhia, espalhava ele e o sol, a natureza que fazia o restante pra gente, o secava.
P/1 – E aí quando secava cobria com lona depois?
R – Isso. Aí tinha a tulha quando ele dava o ponto, a gente guardava nas tulhas. Tulha de madeira fechada, só com uma porta de entrada pra você guardar, aí guardava. Terminava de fazer a colheita, aí vinha a máquina pilar.
P/1 – Aí era a parte de pilar?
R – Tinha as máquinas que vinham. Era a parte de pila-lo e limpá-lo. Fazer a limpeza dele.
P/1 – Mas já era com maquinário pilar?
R – Já era. Já era com maquinário. Sempre foi porque ali pra limpá-lo tem que ser o maquinário mesmo. Máquina mesmo.
P/1 – E aí depois que faz, qual que é o próximo passo?
R – Aí já pilava, ele é ensacado no saco de estopa. O peso dele são 60 quilos, 61, com a estopa. E depois ia pros armazéns onde que tinha compradores que compravam. Depois veio a cooperativa, aí o pessoal começou já... Tinha o armazém, já fazia o armazém na cooperativa, armazenava na cooperativa. E até hoje.
P/1 – Quanto tempo que dura a colheita, o tempo de colheita?
R – O tempo de colheita é a média de 90 dias. Três meses mais ou menos. Inicia em maio, início de maio e vai maio, junho e julho termina a colheita. Hoje já tá se antecipando até mais a colheita, porque já tem material que vai madurando primeiro. Hoje já são separados, já tem material separado que madura primeiro, que eles falam precoce, médio e tardio.
P/1 – E aí começa quando esse daí?
R – Esse começa o final de março, início de abril já tem algumas plantas que já estão plantas pra serem colhidas.
P/1 – O senhor estava terminando de explicar essa colheita que maduração é mais... Maduração que o senhor fala?
R – É. Isso.
P/1 – É mais cedo, né?
R – É. Que a genética hoje já é diferente. Daquele material antigo quase não se planta mais. Hoje é tudo já separado pra você também melhorar a qualidade do café. Aí é que vem o momento de você melhorar a qualidade do café, é nessa... Porque quando ele é separado igual ali, que to te falando que tem o precoce, o médio e o tardio, em lavouras plantadas misturadas você não tem como fazer uma colheita separada. Você entra na lavoura e já vai apanhando tudo. Aí apanha o maduro, apanho o verde. Aí começa a complicar um pouco na qualidade do café. Com o material separado você tem como melhorar a qualidade do café.
P/1 – E antigamente era junto, é isso?
R – Antigamente era tudo misturado. Tudo misturado. Então, hoje já tem essa exigência de uma separação que a própria Secretaria da Agricultura do Estado já faz essa pesquisa, já fizeram, lançaram e que a gente tá... E tá dando muito certo.
P/1 – E como é que reconhece qual que é a diferença do que é precoce, do que é tardio?
R – É porque ali você vai fazer o plantio, no que você faz o plantio você vai vendo as plantas que maduram primeiro, você já começa a separar. Aí você vai fazer os próximos clones dessa planta que madura primeiro. Depois você pega, por exemplo, o médio. Aí você vai pegar, vai fazer ali. Tem várias plantas ali no meio, aí você começa a separá-los ali, no que você planta você já vai plantando em linhas separadas. Madurou isso aqui, eu vou apanhar isso aqui. Esse aqui tá verde, mas quando eu termino esse aqui, esse aqui também já tá no ponto de eu pegá-lo. Vou pegá-lo. Aí já são as etapas.
P/1 – Então, primeiro tinha a lavoura toda misturada e foi reconhecendo e vai separando conforme vai reconhecendo.
R – Toda misturada. Isso. Foi separando, exatamente. Exatamente. Foi separando. Por isso hoje já melhorou muito a bebida do conilon. Hoje já tem alguns países que já estão tomando o conilon purinho, sem o arábica. E a mistura dele também já aumentou mais no arábica também devido que ele foi melhorando. O que vocês tomaram hoje aí já é um material separado já também.
P/1 – Porque quando você mistura o grão que está mais verde, por exemplo, ele...
R – Isso. O sabor é diferente porque o café é uma fruta e a fruta tem que estar no ponto certinho pra você provar o sabor dela, né? Se você for pegar uma manga verde ela não tem... Qual o sabor de uma manga verde, uma laranja verde? É ácida, é azeda. E o café também é a mesma coisa, que ele é uma fruta.
P/1 – E como que o senhor reconhece o ponto de colheita? Qual que é a aparência da fruta, da planta?
R – Quando ele tá todo madurinho mesmo. Ele fica vermelhinho. Ele fica vermelhinho. Ele estando vermelhinho tem até... Eu acho que eu trouxe ali... Aqui tem uns ramozinhos que a gente trouxe pra você ver quando ele tá no ponto de ser colhido. Esse aí no terreno aqui já tá no ponto de ser colhido, tá vendo? Aqui ele tá no ponto de ser produzidos. Ele tem alguns, você tá vendo, maduros, alguns grãozinhos já secando e o que tá de verde é muito pouco, já não vai influenciar praticamente nada. Então, esse aqui é o ponto de você estar colhendo ele. Por isso que ele também, você já pode ver, que ele é uma planta mais... A maturação dele é quase toda por igual, que já tem planta que não tem essa maturação. Ela aqui no meio dá caroço verde, você entendeu? Isso aqui já é um material já pesquisado, separado, registrado. Esse aqui tem 20 anos de pesquisa, então...
P/1 – Tem um nome específico? Tem uma classificação?
R – Esse aqui é o 12V, que é o material do Vitória, que eles falam conilon do Vitória. Esse é o 12. São 13...
P/1 – Esse V é de Vitória?
R – É.
P/1 – É?
R – Esse material aqui é o Vitória. Todos eles são do Vitória, que eles são um material que eles foram já reproduzidos pra isso mesmo. Aí por isso que eu to te falando, ele tem esse aqui, esse aqui é o médio, o precoce já foi colhido. Esse aqui é o médio. E tem o outro que é o tardio ainda que ele tá começando a chegar agora. Aí quando se colhe esse aqui o outro tá chegando também, entendeu?
P/1 – Tá lindo esse.
R – É. Esse aqui é o 12V que eles falam. Prá nós aqui é o 12V.
P/1 – Esse número 12 tem a ver com o tempo de maturação?
R – Também. Também.
P/1 – E com o que mais?
R – Aquele ali, você quer ver, nesse aqui você tem o 12, você tem o seis, aquele é mais ou menos o dez. Que eles chegam todos por igual. Aí depois mais tardio, médio, tem o cinco, que ele é médio, e o nove. Aí depois tardio tem o dois e tem o 13.
P/1 – E o senhor sabe o porquê desse número assim? O que quer dizer essa numeração?
R – Essa numeração quem fez essa numeração foi o próprio pessoal da Secretaria de Agricultura do Estado, que fizeram a pesquisa que deram esse nome, essas plantas. Aí a gente que tá produzindo a muda dele também, então a gente tá acompanhando esses mesmos... Inclusive a gente já tem até material ali que a gente tá pesquisando, o material da gente mesmo, que já foi feita uma degustação, deu uma excelente bebida e deu sabor de amendoim. Esse ano a gente já separou de novo e vamos tornar a fazer a degustação dele pra ver certinho pra poder lançá-lo.
P/1 – Essa daí é uma planta, essa que vocês estão fazendo degustação, é uma planta aqui da sua propriedade?
R – Da minha propriedade. Isso. Tinha duas plantas no meio da lavoura, essa lavoura que eu arranquei ali. Ela só tinha duas plantas. Aí a gente já vem a algum tempo pesquisando-o. Como a gente tem o acompanhamento técnico, tem o rapaz que faz o acompanhamento com a gente, ele também se interessou por essas plantas e a gente foi pesquisando-as. A gente já plantou separado, tem uma boa produção, é um grão muito graúdo, muito bonito e vamos ver agora o que vai dar. Talvez daqui a um ano ou dois a gente tá lançando ele também no mercado.
P/1 – É conilon também?
R – É conilon também. Conilon também.
P/1 – Deixa só eu entender, por que vocês a escolheram? Porque elas eram plantas que se desenvolveram bem?
R – Elas se destacaram no meio das outras. Por isso que essas plantas foram separadas por isso. São plantas que foram se destacando no meio da lavoura, que foram tiradas do meio dessas lavouras, plantadas, que eram misturadas. Então teve um acompanhamento. Você vai no meio da lavoura, você marca aquela planta e todo ano você vai fazendo, pelo menos uns quatro anos, é a média mais ou menos.
P/1 – Como é que é a marcação? Essa marcação da planta, faz como?
R – Você amarra uma fita nela, né? E você vai acompanhando. Você tá sempre a acompanhando para ver, que tem plantas que variam de um ano pro outro. Tudo isso aí você tem que estar verificando. Tem plantas que têm o grão mais pesado, outras mais leve. Tudo isso aí você tem que estar pesquisando pra lá na frente depois você também não ter até prejuízo com isso aí. Então isso que é interessante nisso aí.
P/1 – E essa classificação que você falou, a degustação e classificação dessas plantas, como é que é feito isso?
R – A gente manda pra pessoas responsáveis por isso.
P/1 – Que são quem?
R – São técnicos mesmo já preparados pra isso. A própria Secretaria da Agricultura do Estado tem essas pessoas pra fazer isso pra gente.
P/1 – E aí o que eles avaliam?
R – Eles vão avaliar o teor de sabor do café. Qual o teor dele, o adocicado dele, o sabor que ele vai dar, que eu acho muito interessante. Pra gente isso é muito bom. De primeiro não tinha isso, né? Inclusive a Nestlé acho que já está vendo isso aí pra deixar uma pessoa dessas pra poder também fazer pra gente também. Porque hoje a gente leva um café pra um armazém, eles classificam o café como tipo seis, tipo sete, sete ou oito.
P/1 – O que é essa classificação, essa numeração?
R – Essa numeração são os cafés melhores. Por exemplo, sete oito já é um café mais fraco. O tipo sete que é a média mesmo de mercado, é o tipo sete. Essa classificação você tem que fazer, no trabalho que você faz que você chega nesses números. Você tem quem caprichar bem pra poder chegar nesses números.
P/1 – E quando eles fazem essa avaliação e a degustação eles mandam o quê? Um certificado pra vocês?
R – É. A gente recebe um certificado, é um talão que você tem, quando você vai vender o seu café você tem o preço do mercado do dia naquele valor que você tem ali do teor que ele deu, se é seis, se é seis sete, sete oito. Você recebe pela qualidade, você vai receber, você vai vender o seu produto.
P/1 – Antoninho, deixa só eu voltar um pouco. Eu quero voltar na época que sua família começou a plantar assim a lavoura de café de vocês. Você falou que gostava muito da época de colheita porque vinha um pessoal de fora. As pessoas ficavam onde nesses três meses de colheita?
R – Eles ficavam praticamente junto com a gente, nas casas da gente mesmo. A gente daria a alimentação e a gente pagava pela produção deles. Era praticamente vivia uma família, você entendeu?
P/1 – Era muita gente a mais assim?
R – Não. Na época, que a família também era grande, a gente pegaria sempre ali umas dez, 12 pessoas que vinham de fora.
P/1 – Dobrava praticamente.
R – Dobrava. Aí aumentava a despesa. A cozinheira sofria. Era mais comida pra fazer, roupa pra lavar, que a gente dava tudo como se fosse mesmo uma pessoa da família. O sistema de a gente trabalhar sempre foi esse. A gente nunca separou ninguém, não.
P/1 – E aí eles dormiam em quê? Rede ou no chão?
R – Não. Tinha cama, colchão. Igual a gente dormia. Eles comiam o que a gente comia e dormiam como a gente dormia.
P/1 – E você e os seus irmãos dormiam todos o quê? No mesmo quarto com...
R – É. Não. Dormia quatro, cinco no mesmo quarto. A casa era grande, era casarona grande, né? Aí dormia embolado. Era muito bom, muito gostoso. Hoje as famílias já são pequenas. Hoje já não se tem muitos filhos mais.
P/1 – E era cama assim de madeira mesmo?
R – Cama de madeira mesmo. Naquele tempo era madeira maciça. Não era essas camazinhas hoje fraquinhas que você compra aí, não. Cama de madeira maciça mesmo. Tinha as pessoas que faziam, na roça mesmo tinha os carpinteiros, que eles falavam, que faziam isso aí.
P/1 – E era grande essa casa da sua família então?
R – Era bem grande.
P/1 – Quantos cômodos, você lembra?
R – Ah, nem me lembro. Era uma casa grande e tudo cômodo grande. Tinha acho que era... Ah, tinha mais de dez cômodos. Muito mais. Uma média de 15 cômodos, 12 a 15 cômodos.
P/1 – E era de madeira? Essa também era de madeira?
R – Não. Já era já de estrutura de fundação, já vinha na lajota, né? Era uma casa mais bem melhorada.
P/1 – E quem cozinhava era a sua mãe? Quando vinha esse pessoal todo era tudo a sua mãe sozinha?
R – Minha mãe. Aí depois quando a gente separava era a minha esposa que aí começou... Quando foi casando, cada um já foi pegando a parte de lavoura deles, aí já trabalhava... Quando tava junto era minha mãe que cozinhava, quando a gente separava a minha esposa que cozinhava. Além de ter os filhozinhos pequenos pra cuidar, ainda cuidava do... E quando ela não ia, ainda ia a roça também ajudar a gente a apanhar café também. Ela apanhava mais café do que eu.
P/1 – Tua esposa?
R – Minha esposa. É. É acostumada, né? Que na casa dela também ela era vaqueira, ela tirava leite, ela fazia de tudo.
P/1 – Ela é da mesma região? Ela é daqui também?
R – Ela é da mesma região. Pertinho aqui.
P/1 – E o (interrupção) contou da sua primeira comunhão que você fez descalço. Depois que você sai da escola, fora o trabalho assim na lavoura, o que vocês faziam? Ia pra cidade de vez em quando? Ia pra igreja? A igreja era perto?
R – A igreja era pertinho. A igreja era perto de casa também. Na cidade a gente ia na época quando se faltava alguma coisa pra se comprar. Comprava-se muito pouco na... Comprava-se roupa, era um sal, na época era um querosene porque não existia energia. Era um querosene, era mais ou menos o que se comprava. Aí talvez levava algum produto que a gente já produzia na propriedade e trocava nas vendas, levava ovos de galinha, talvez galinha, que se produzia, porco. Então era...
P/1 – Além do café, o que vocês produziam na propriedade pra vocês mesmos?
R – Era milho, o feijão, uma mandioca, criação, galinha, porco. Era o que a gente produzia, tinha, né? Que a gente já plantava o milho e tinha a galinha e o porco. E se aproveitava isso aí.
P/1 – E era mais pra vocês mesmo?
R – Mais pro consumo mesmo. Mais pro consumo da família. A gente até vendia, quando sobrava a gente vendia, mas primeiro era pro consumo da família. A gente faz até hoje, a gente tem uma galinha, tem... Agora que eu não tenho um porquinho, mas tinha um porquinho até pouco tempo, aí o matou. O boizinho a gente tem no pasto. A carne que a gente come é a do próprio boi que a gente produz. Termina uma, a gente vai lá, mata outro, coloca no congelador.
P/1 – Leite também vocês têm?
R – Leite. Uma vaquinha de leite, sempre tivemos. Eu já fui vaqueiro, trabalhei de vaqueiro muito tempo também.
P/1 – E quantos bois você tem? É um pouquinho? É uma produção pequena?
R – É pequena. A gente já teve até uma produção mais alta, mas hoje a gente diminuiu, devido ao plantio de café a gente teve que diminuir os animais. Hoje a gente tem mais pro consumo da família mesmo, pra ter um leite, pra ter uma carnezinha, que é uma carne mais saudável, que é a gente mesmo que produz.
P/1 – E mata aqui mesmo, vocês fazem tudo?
R – Mato aqui mesmo. A gente faz tudo. Faz a separação da carne, separa tudinho. A gente mesmo.
P/1 – E aí nessa, voltando de novo pra essa fase com a sua família ainda da lavoura de vocês, essa igrejinha você se lembra do nome da igreja?
R – Pedra do Trinta. Ela tem até hoje que eu fui coordenador, passei muito tempo como dirigente, 20 anos eu trabalhei como líder na comunidade. Aí hoje são meus filhos, minha nora, que também faz lá dentro, a mesma faixa.
P/1 – E quais que eram as atividades que tinha a igreja?
R – A igreja seria o culto, catecismo pras crianças, reunião de jovens. Sempre foram as atividades da igreja essas aí. Até hoje ainda tem os catecismos, as crianças têm que participar. É uma equipe que trabalha junto, é a catequista, tem o coordenador, tem as pessoas que dão as reuniões.
P/1 – E na sua infância assim, adolescência, tinha festa também promovida pela igreja?
R – Tinha.
P/1 – Que festas?
R – Mais era o mês de maio, coroação, e a festa do padroeiro. Nosso padroeiro aqui é o São Bento. Até hoje ainda faz as festas de padroeiro.
P/1 – E como é que eram essas festas?
R – Ah, era muito boa. Nossa, Deus. Era divertido. Dava muita gente, muita gente mesmo. Era festa... Principalmente a nossa comunidade, na região era a que sempre promovia as melhores festas. Vinha muita gente de fora. Hoje já diminuiu bastante, mas antigamente era...
P/1 – Mas era na rua assim? Onde que montava?
R – Não. Na roça mesmo. É na roça. É pertinho aqui. Dá quatro quilômetros.
P/1 – E aí o que vocês comiam? Tinham música?
R – Tinha. Ih, tinha música, na época tinha muita fruta, tinha leilão. As pessoas levavam as prendas, era leiloado. Aquilo lá era uma festa... Passava quase a noite toda.
P/1 – O que leiloava, você lembra?
R – Leiloava era porco, galinha, frutas que o pessoal levava. Todos os produtos produzidos na propriedade, todo mundo levava uma prenda. Bolo, pudim, seria essas coisas assim. Era interessante. Era muito bonita. Tenho saudade.
P/1 – E música? Tinha música?
R – Música. Tinha.
P/1 – O que tocava?
R – Sempre vinha pessoas mesmo da própria comunidade, entendeu? Tinha pessoas que tocavam bem. Inclusive tinha um primo meu que ele tocou até na Rádio Vitória. Fazia a festa.
P/1 – E que tipo de música que tocava?
R – Era caipira. Maior parte das músicas era música caipira mesmo, sanfona, acordeão. Era muito bonito. Violão, pandeiro.
P/1 – E o senhor se lembra de alguma música assim que fosse especial, que o senhor gostasse bastante?
R – É muito difícil, porque tinha muitas músicas bonitas na época. Luiz Gonzaga, essas pessoas, Tonico e Tinoco, eram muito bonitas as...
P/1 – E dançava também?
R – Dançava. Nossa. Quando tinha um casamento o forró era certo. Amanhecia o dia. Amanhecia o dia dançando. Eu gostava muito.
P/1 – E enfeitava a roça também nessas festas? Era enfeitada assim?
R – Era tudo enfeitada com bandeirinhas. Tudo era muito bem organizado. Era muito bonita. Minha esposa mesmo era mestra pra trabalhar com isso, fazer isso, produzia essas bandeirinhas, essas... Era muito bonito. Muito gostoso.
P/1 – Hoje em dia não tem mais? (interrupção) Queria, seu Antoninho, que o senhor contasse pra gente como é que o senhor conheceu a sua esposa.
R – Foi num casamento de uma irmã dela. A gente já se conhecia assim de vista, tinha um primo meu já casado com uma irmã dela. Aí num casamento de uma irmã dela foi que a gente passou a se conhecer.
P/1 – Foi o senhor que chegou assim pra conversar com ela? Como é que foi?
R – Foi. Fui eu mesmo. Um ano de namoro a gente se casou, foi em 75. Adquirimos a nossa família. Foi no casamento de uma irmã dela que a gente se conheceu.
P/1 – E como é que foi o casamento de vocês?
R – Foi bacana. Gostei também. Foi na igreja, depois da igreja teve uma festinha que foi até o meu patrão que bancou a festa na época. Ele gostava muito da gente, então ele que bancou a festa. Ele deu o boi pra matar, deu a bebida, tudo. Bancou a festa. Foi muito bom.
P/1 – E onde que foi a festa?
R – Foi lá na casa mesmo onde meu pai morava. Na propriedade mesmo onde ele morava, a gente morava. Aí foi feita a festinha. Casamos em São Gabriel, na matriz, e foi feita a festinha na roça, na propriedade.
P/1 – E teve música também na festa?
R – Teve.
P/1 – O senhor estava contando como é que foi a festa de casamento. Conta um pouquinho pra gente onde que foi, o que tinha de comida, o que tinha de música.
R – Era o churrasco. Mais a parte de churrasco, a bebida, a cervejinha, cerveja, refrigerante. Música era na sanfona, violão. E aí foi a festa durante a noite toda. Festa a noite toda. O pessoal dançando, tinha um salão muito grande que era na tulha onde a gente largava o café foi a festa do casamento. Ali fez aquele salão grande e o pessoal divertiu ali dançando e festejando, graças a Deus foi muito bom.
P/1 – E aí vocês foram morar na casa dos seus pais?
R – Não. Aí eu já tinha construído uma casa pra mim também. O pessoal da fazenda já tinha construído uma casa pra mim, já fui pra minha casinha. Teve minha casa.
P/1 – O senhor já morava na sua casa ou foi quando casou?
R – Não. Passou pra casa quando a gente casou. Depois que a gente casou que a gente foi pra casa. A gente morou lá uns... Eu saí de lá, casei em 75, saí de lá em 86, dessa casa, que aí eu já vim pra propriedade.
P/1 – Era a mesma propriedade?
R – Aí já vim pra minha propriedade, que eu já tinha comprado a propriedade. Nós casamos em 75 e 79 já compramos a propriedade. Aí ficamos mais uns tempos lá, depois que a gente já construiu aqui eu passei pra aqui.
P/1 – E sempre com lavoura de café?
R – Sempre com lavoura de café. Quando a gente comprou aqui não tinha café, era mais pasto. Aí a gente trabalhando lá, mas formando aqui também.
P/1 – Lá vocês eram meeiros?
R – Lá a gente era meeiro.
P/1 – Qual que era essa propriedade?
R – Fazenda Catelan. É divisa mesmo aqui pertinho. Tratava-se da Fazenda Catelan, né? Que era o nome dos proprietários, era o nome dos proprietários. E ali dali a gente construiu aqui e passou pra cá, foi em 86 eu mudei pra aqui, pra propriedade e to até hoje.
P/1 – E como vocês descobriram essa propriedade? Que quando o senhor comprou, em 79, né, como é que foi essa decisão de comprar e como vocês descobriram?
R – O proprietário que tinha aqui resolveu vender aí eles procuraram a gente. Ofereceram pro meu pai, meu pai não quis comprar, ficou com medo. Aí a gente tinha o interesse de ter um pedacinho de terra também, aí a gente começou a forçar o papai também pra comprar. Ele achou difícil pra comprar sozinho, ele não queria. Ele me chamou sócio, aí que eu entrei sócio com ele que a gente comprou na sociedade. Aí a gente conseguiu comprar.
P/1 – E como é que era aqui quando vocês compraram? Em comparação com hoje?
R – Hoje tá totalmente diferente.
P/1 – Como é que era na época?
R – Antigamente mais era pasto mesmo. Só tinha pasto. Aí depois que a gente foi diversificando, colocando café, tem umas áreas de pasto, mas mexendo com café.
P/1 – Mas vocês compraram já com a intenção de fazer a lavoura de café?
R – Ia fazer lavoura de café, que era o que a gente sabia fazer, que a gente sabe até hoje, graças a Deus, e a gente convive com ele. Vive com ele.
P/1 – E de 79 até 86, antes de vocês mudarem pra cá, vocês vinham trabalhar na terra aqui, mas moravam...
R – Isso. Morava lá. A gente vinha, trabalhava aqui, mas voltava outra vez lá pra lá. Aí depois em 86 que aí eu mudei pra cá, né? E meu pai ainda continuou morando lá. Depois que ele construiu aqui também mudou pra propriedade também.
P/1 – E assim que vocês compraram vocês já começaram a preparar a terra pra fazer a lavoura de café?
R – Sim.
P/1 – Como é que foi essa preparação assim?
R – A gente já começou, na época era tudo na base da enxada mesmo. Enxada, enxadão, a gente foi destocando e cavando as covas e já começou já a plantar o café. E fomos cuidando.
P/1 – E as mudas traziam lá da outra...
R – As mudas vinham de fora. Já vinham também de outra... Vinham de fora. Foram compradas fora as mudas. Na época já era uma muda que ela já vinha dentro de uma sacolinha. Era muda de caroço também, mas já era na sacola.
P/1 – Como que é isso? Onde vocês compravam e como é que é essa muda na sacola?
R – Essa muda a gente comprava perto de São Domingo ali. Tinha um senhor ali que fazia as mudas e a gente adquiria. Trazia pra propriedade e plantava.
P/1 – E o que o senhor fala dentro da sacola, por quê? Como é que é?
R – Era uma sacolinha de plástico, né? Com a terra e a muda plantada dentro. Que é até hoje como a gente faz, só que hoje já é no galho. Já não é mais o caroço. Já é no galho.
P/1 – Qual que é a diferença de ser o caroço ou ser no galho?
R – A diferença já muda o período de produção, que ele se antecipa mais a produção dele. Já começa a produzir mais precoce. Antigamente na muda de caroço ela tem certo período que demora mais.
P/1 – Então hoje em dia vocês fazem direto do galho, é isso?
R – Isso. Já é feito do galho. Já é feito do broto mesmo do pé de café.
P/1 – Que desenvolve mais rápido?
R – Que ali você tem uma genética mais apurada. Tem uma genética mais apurada.
P/1 – Por quê? O que influencia, o senhor sabe? O que influencia no caroço assim de... Tem mais influência na genética da planta se planta no caroço?
R – No caroço é aquilo que eu até já te falei. É a mistura que você não consegue separar, já no broto, no galho você tem uma condição de separar esses materiais, o que madura primeiro, o que é mais tardio. Você tem essa facilidade.
P/1 – Garante que é o mesmo tipo de planta.
R – Exatamente. A planta mãe vai ser a planta filha. É a mesma genética, não muda. Ela não muda. É aquilo ali. Você viu lá a planta mãe, você vai ver a planta filha. (interrupção)
P/1 – Quero conversar um pouco mais aqui da propriedade do senhor, mas antes queria saber quando sua esposa engravidou a primeira vez. O senhor tem três filhos, é isso, né?
R – Quatro.
P/1 – Uma menina e três meninos, é isso?
R – Uma menina e três meninos. Foi logo depois que a gente casou já engravidou. Casamos em 75, dia 13 de dezembro de 1975, dia de Santa Luzia que a gente casou.
P/1 – E o senhor lembra como é que ela deu a notícia pro senhor da gravidez?
R – Não tem bem essa lembrança, não.
P/1 – Não lembra. E como é que foi a gravidez? Foi uma gravidez tranquila?
R – Foi tranquila, que é aquele meninão que tava ali te interrogando na hora que você chegou ali. Graças a Deus com muita saúde, muita inteligência que Deus lhe deu, graças a Deus.
P/1 – Ele é seu mais velho então?
R – Ele é o mais velho. Ele foi o primeiro.
P/1 – E o senhor acompanhou o parto?
R – Não. Naquele tempo era muito difícil. Eu levei, ela ficou internada no hospital, aí eu já voltei pra roça, quando voltei no outro dia ela já tinha ganhado o neném.
P/1 – E o senhor se lembra assim da sensação como é que foi ser pai?
R – Ah, foi muito bom, né? Você ver uma criança, que eu sou apaixonado por criança, sempre fui. Eu sou uma pessoa apaixonada por criança. Quando eu era solteiro eu ia pra igreja com uma mulher que tinha um neném pra eu poder carregar. Sentava no banco da igreja perto de uma mulher que tinha uma criança pra eu segurar no colo. Então eu sempre fui apaixonado por criança. Só que eu não tive muito tempo pros meus filhos. Foi muito difícil. Praticamente não tive tempo pros meus filhos, que a gente trabalhava sozinho, quem se virava mais com as crianças era a mulher e ainda assim mesmo me ajudava na roça também ainda. Levava, em época de colheita, levava o menino pra roça, colocava dentro de uma peneira e ia apanhar café. A hora que tinha que dar o mamá ia lá dar o mamá, na hora que precisava trocar a roupa trocava. Formiga mordia, eles ficavam bravos. A vida da gente era essa, mas muito bom, graças a Deus.
P/1 – Ele ia junto? As crianças iam junto?
R – Criança ia junto. Ia junto.
P/1 – Tem muita diferença de tempo entre os seus filhos, entre um e outro?
R – Não. São todos um atrás do outro. Tem deles ali que não tem um ano de diferença. Fazem ano junto.
P/1 – Qual que é o nome deles, de todos?
R – O mais velho Givanildo, né? Depois o Ginivaldo, a Girlane e o Gilbert. O Gilbert é o caçula.
P/1 – E eles iam de pequenininhos também pra roça com vocês?
R – Sempre. Sempre. Sempre ajudou. Com cinco, seis anos de idade eles já me ajudavam a tirar leite, ia pro curral, ajudava a tirar o leite. Sempre junto também. Sempre pegaram junto, graças a Deus.
P/1 – Desde pequeno.
R – Desde pequeno. Estão hoje todos rapazões fortes, graças a Deus com saúde. O que eu fico indignado é hoje que você não pode, né, ter uma criança trabalhando que... Porque eles estudavam, mas o período que... Ao invés de eles ficarem em casa talvez ou brigando, ou fazendo uma bagunça, ou fazendo arte, ou se machucando, estaria junto com a gente na roça. Hoje você não pode fazer isso. Se chegar um fiscal você pode ser penalizado por isso, que eu acho muito estranho isso. Eu acho que isso deu certo abalo nas famílias também. Hoje mesmo na roça a gente vê algumas famílias que têm dificuldade com os filhos.
P/1 – E por que o senhor acha que isso acontece?
R – Porque talvez a pessoa fique com medo até talvez de levar uma criança na roça ou fazer alguma atividade que pode chegar alguém e pode achar que você está explorando essa criança, mas na verdade você tá educando, né? Meus filhos foram criados assim e, graças a Deus, nunca teve problema. Todos eles muito bem, com saúde e tudo.
P/1 – Todos estudaram.
R – Todos estudaram. Isso aí eu concordo, porque aí o estudo é o principal. Eu sempre exigi meus filhos que estudassem, até onde pudessem ir, que fossem. Graças a Deus tenho três formados, tenho o Ginivaldo também com a oitava série que hoje serve pra administrar. Oitava não. Segundo grau. E que ajuda a administrar a propriedade. Sem ele eu estaria sem um braço.
P/1 – Ele foi o que ficou contigo?
R – Ele foi o que ficou comigo. Os outros também estão sempre juntos, mas ele que ficou comigo. Ele que encarou a dureza da roça, da propriedade, poder ter uma continuidade da propriedade, senão para tudo.
P/1 – Quando o senhor veio pra cá em 86 o senhor já fazia parte da cooperativa já?
R – Já. Já fazia parte.
P/1 – Conta como é que foi assim, como é que a cooperativa surgiu, com é que o senhor começou a fazer parte.
R – A cooperativa surgiu de um grupo de... Um padre que iniciou essa cooperativa. Ele que iniciou, fez uma reunião com um grupo de proprietários e resolveram formar essa associação, que de associação passou a ser uma cooperativa.
P/1 – Qual que é o nome?
R – Cooabriel. Aí foi onde que começou a ir juntando, aí a gente na época entrou sócio e continua até hoje. Já tem uns 30 anos, mais ou menos, de sócio da...
P/1 – Da cooperativa.
R – Da cooperativa.
P/1 – E o que a cooperativa mudou assim pro produtor rural? Pro senhor, pros outros produtores que são associados, o que muda assim na produção do café, na comercialização?
R – O que a cooperativa mais ajudou o proprietário foi na parte de armazém, que deu a oportunidade da pessoa armazenar o seu café, vender na hora que precisa e no preço que ela ajuda, é um termômetro do preço de café. Ela ajuda a segurar um pouco o preço de café. Agora, no restante não tem muita... Ela poderia talvez fazer até mais. Teria condições de estar fazendo bem mais pro produtor.
P/1 – A coisa do armazenamento como é que é? Por que antes vocês não tinham onde armazenar grandes quantidades e a cooperativa ajudou nisso?
R – Ajudou.
P/1 – Como assim? Arrumou um lugar?
R – Ela construiu o armazém. Através da própria associação construíram os armazéns e aí começou a armazenar o café.
P/1 – E são da cooperativa os armazéns?
R – São da cooperativa. Lá ela paga seguro, ela paga tudo. Você bateu o seu café lá dentro ele tá seguro. Se você for vender daqui a um ano, daqui a dois anos, se você bateu cem sacas de café, você vai receber seu talãozinho com a qualidade do café e no dia que você for vender ele tem o preço na tabela lá daquele produto que você tem na mão, da qualidade dele. Você vai receber por aquilo.
P/1 – E o café sai da sua propriedade identificado? As sacas saem identificadas?
R – Não. Sai com a nota fiscal, que você tem que guiá-lo, né? E vai com a nota fiscal pro armazém da cooperativa.
P/1 – Mas eu digo assim, pensando nas sacas mesmo, elas têm alguma identificação no saco?
R – Não.
P/1 – Nada, nada. Elas saem...
R – Nada, não. Sai do jeito...
P/1 – Com um carimbo, uma coisa assim?
R – Não. Não. Lá é que depois eles vão furar a sacaria, fazer a mostra do café pra chegar no determinado produto que ele vai chegar, que ele vai dar.
P/1 – Mas como... Porque é mais de um produtor associado na... E aí como é que separa a produção de um produtor...
R – São 4000 e poucos associados. Mas lá não tem separação, não.
P/1 – Não tem?
R – Não. Só separa o tipo do café, que eu já te falei. Só separa o tipo do café, mas ele vai todo pra um lote só. Junta tudo. A maior parte de produtor que bate lá vende através da cooperativa mesmo, que a cooperativa faz essa negociação pra você. Ela vende pra indústria, então conforme o que o produtor vai vendendo ela vai repassando pra indústria. Vai repassando pras indústrias.
P/1 – Então todos os produtores associados ou que têm o café controlado, padrão de qualidade, é o mesmo tipo de controle, e aí separa por tipo de café, é isso quando chega lá?
R – Exatamente. É isso aí. Exatamente isso aí. Tem essa vantagem. E hoje a gente também tem uma parceria, que eles fazem essa parceria que a gente tem com o Sebrae e o rapaz que faz o acompanhamento. Então, a cooperativa ajuda nessa parte também. Ela ajuda a pagar uma parte do rapaz que faz o acompanhamento, do técnico.
P/1 – Essa parceria do Sebrae começou quando?
R – Tem nove anos.
P/1 – E no que é? O que essa parceria faz? No que o Sebrae ajuda ou colabora?
R – Eles ajudam na área da administração da propriedade. Fazer essa administração pra você saber no final qual o custo da sua saca de café. Pra você ter noção. Na propriedade são todas divididas as áreas e tem um acompanhamento. Você vai saber se essa área está te dando lucro ou ela tá te dando prejuízo. Aí o técnico vai dizer pra você: “Você tem que mexer nisso aqui. Você precisa fazer isso aqui”.
P/1 – Que coisas, por exemplo? Dá um exemplo pra gente prático assim pra gente entender melhor.
R – Assim, você diz no...
P/1 – Por exemplo, você diz por áreas, é por área de tipo de café?
R – Não. Dividido a propriedade em áreas, porque tem café com dez anos, tem café com um ano, tem café com cinco anos. Então são divididas essas áreas, aí ele vai acompanhando isso aí, vendo pra você. Aí faz a colheita, final de julho agora é feito o fechamento. Aí a gente vai saber quanto custou a saca de café, quanto ficou, se deu prejuízo, se deu lucro. O Sebrae, essa parceria que a gente tem é pra isso, pra você trabalhar organizado, você entendeu? É uma organização.
P/1 – E o Sebrae é uma parceria com a cooperativa ou é direto com o produtor?
R – Com a cooperativa.
P/1 – Com a cooperativa.
R – E o produtor.
P/1 – Então ele atua com todos os produtores associados a coopertiva?
R – Não. Só uma parte. Só quem aderiu esse projeto, que é o Projeto Café Eficiente.
P/1 – E que tipo de... O Sebrae acompanha então do plantio a colheita e tudo e que tipo de orientação eles dão pra vocês?
R – Eles dão curso, procuram dar cursos, reuniões, explicação.
P/1 – E o que tem de conteúdo nesses cursos, nessas reuniões?
R – São mais em cima de área pra administração mesmo, pra você poder saber administrar a sua atividade ali, a sua cultura. É pra isso. Mais é isso aí. Foi uma melhoria mesmo também até pra gente. Eu achei muito bom. Nos demos muito bem com essa parceria. Melhorou muito a atividade na propriedade.
P/1 – O que melhorou o senhor acha assim depois dessa...
R – Principalmente nas qualidades de café, que a gente começou a mudar, começou a implantar poda, adubação, análise de solo que tem que ser feito. Ajudou muito.
P/1 – E isso quem orienta é esse técnico?
R – É o técnico. É esse técnico quem orienta a gente. Ele vem um dia por mês na propriedade. Ele vem na propriedade, faz toda uma análise das lavouras, vê o que precisa, irrigação, adubação, qual o produto que você tem que aplicar pra você não aplicar qualquer produto. Hoje tem muitos produtos no mercado ali que são proibidos e que as lojas não querem nem saber, eles vendem. O produtor chega lá não conhece, compra. Então isso aí que vem ajudando muito nesse sentido. Esse projeto mais é pra isso também.
P/1 – Ele é um agrônomo esse técnico, é isso?
R – Ele é um agrônomo. Ele é um agrônomo, ele é muito bem formado nessa área, tem muito conhecimento. Muito bom. A gente teve... Graças a Deus, acho uma pessoa muito boa de trabalhar com ele. Ele é um parceiro da gente. É um parceiro.
P/1 – E aí quando o senhor pensa assim, quando o senhor começou a trabalhar com lavoura de café menino ainda, e hoje em dia que o senhor tem a sua própria propriedade, o que mudou no jeito de produzir o café?
R – Ah, mudou muito, né? Mudou demais.
P/1 – Mais quais são as principais mudanças que o senhor percebe?
R – São... Hoje o material que foi modificando, foi melhorando. Foi melhorando a produção e a produção de primeiro seria ali a média de 20 sacos por hectares. Hoje nós já chegamos a produzir aqui 120, 130 sacos por hectares. Então houve uma revolução muito grande nisso aí, devido mais a essa separação de material que tem. É isso aí que faz a gente ganhar.
P/1 – Mudou assim de técnica? As técnicas evoluíram?
R – Exatamente. Mudaram as técnicas e a maneira de se trabalhar.
P/1 – E preparação do solo, por exemplo, irrigação, como é que é isso hoje?
R – Exatamente. Tudo também. Isso aí tem o técnico que faz o acompanhamento, a gente faz um projeto certinho, você tem que ter toda uma licença ambiental pra você poder usar essa água. Tudo é muito bem feito. Então a gente trabalha em cima daquilo que tem que ser trabalhado. A gente já teve fiscalização aqui dentro, denúncia de pessoas que denunciaram a gente. Tem muitas pessoas que não gostam de ver a sua atividade crescer. Mas graças a Deus o pessoal que esteve olhou toda a documentação, tudo certinho, e deixaram até um laudo pra gente ainda parabenizando pelo trabalho da propriedade. Graças a Deus.
P/1 – Quem que fez a fiscalização?
R – Foi o pessoal do Idaf. O pessoal do Idaf que veio fazer a fiscalização porque houve denúncias, então eles vieram verificar a denúncia pra ver se realmente estava acontecendo. Mas graças a Deus, como a gente... Nesse dia o técnico tava até na propriedade. Eles saíram, no que saíram até encontraram um chegando. A gente tava até com a papelama, que a gente tem um escritoriozinho ali, tava com a papelama tudo em cima da mesa, eles verificaram tudo. Todo produto que a gente usa, tudo com nota fiscal, tudo bem organizado. Tem separação de produtos, tudo separado. Então, eles chegaram a parabenizar a gente, deixaram um laudo parabenizando a gente pelo trabalho, graças a esse trabalho que a gente vem fazendo, né?
P/1 – Qual que é a água que vocês usam pra irrigação aqui?
R – São águas de represas mesmo que a gente construiu. Foram fazendo as represas, represando, segurando a água pra poder... Também não deixando faltar pros vizinhos, porque também tem os vizinhos que precisam. Então a gente tem toda uma organização, tudo certinho pra não... E tem muita água. Graças a Deus a propriedade tem oito nascentes de água. São quatro nascentes encanadas, inclusive tem uma ali até com bebedouro que já vem direto da nascente, tem o bebedouro ali. Então é isso que a gente procura preservar isso aí. Que a gente tá tendo um pouco de dificuldade pra poder fazer isso aí. Inclusive até o próprio Meio Ambiente que teria que estar ajudando a gente nessa parte, estão até prejudicando ainda, tentando dar laudo a empresa pra poder extrair granito, né? E aí não é compatível com a propriedade.
P/1 – Conta um pouco pra gente qual que é essa história da extração do granito.
R – Isso aí iniciou em 88. 87, 88. Apareceu um pessoal, olharam o material, material de boa qualidade, né? Aí eles vieram, a gente não tinha conhecimento nenhum. Na região não existia isso, existia na região de Cachoeiro, aqui ainda não existia, foi uma das primeiras pedreiras implantadas dentro dessa região. Aí eles vieram com uma conversa pra gente, os primeiros anos funcionou direitinho com contrato, com tudo certinho. Quando a empresa começou a se levantar e crescer, aí eles esqueceram que a gente existia. Aí começaram a não querer mais fazer contrato, trabalhando de qualquer jeito, destruindo as nascentes de água, mata. Arrancaram mata, Jequitibá com 400, 500 de rodo. Destruíram tudo, Jacarandá. Que era uma reserva que a gente tinha, você entendeu? Tinha uma nascente de água com um poço de água dentro da mata muito grande, inclusive as pessoas lá da escola agrícola aqui levavam as crianças pra ver aquilo ali que era dentro da mata, fazia um piquenique as professoras com os alunos. Era muito lindo. Eles no dia de um casamento de uns primos meus, que a gente saiu da propriedade, eles entraram com a máquina e destruíram. A gente procurou denunciar, inclusive veio até a TV Gazeta, eles impediram que entrasse na área, ameaçaram o pessoal. Aí um deles era deputado, deputado estadual. Isso aí a gente teve um sofrimento muito grande com isso aí.
P/1 – Hoje eles estão explorando ainda essa...
R – Não. Tem uns três anos que tá parado. Graças a Deus venceu a documentação deles, aí a gente conseguiu travar. Aí tá travado, graças a Deus. Vamos ver até quando vai. Mas o Iema, se fosse pelo Iema, o Iema já liberava pra eles trabalharem dizendo que não tem nascente de água dentro dessa área. É incrível isso. Isso deixa a gente muito indignado, né? Eu fui chamado de ambientalista. Não. Eu não sou ambientalista, eu simplesmente quero proteger a minha propriedade que eu vivo da água, eu preciso da água. Eu sem água não tenho nada.
P/1 – Claro.
R – Não tem jeito. Eu necessito dessa água. Tem muito valor pra mim. Não tem royalty, não tem nada que pague isso aí.
P/1 – Claro.
R – Que se eu destruir hoje, amanhã você não consegue mais. Então é isso que...
P/1 – Qual que é a área da sua propriedade hoje?
R – Hoje ela é 13 alqueires. A gente tá colocando oito, que a gente tá tentando fazer uma reserva legal, inclusive dentro dessa área, pra poder evitar isso. Eu to tirando cinco alqueires da propriedade pra reserva. Eu to ficando com oito alqueires pra se trabalhar e cinco estou tentando tirar pra reserva, pra poder preservar ali porque ali estão as nascentes de água. Pra mim o maior valor da propriedade está ali. E é a área onde eles querem explorar com o granito, né?
P/1 – E que vocês estão tentando transformar em reserva legal?
R – Exatamente. Pra poder ver se evita esse tipo de... Mas a gente tá tendo essa dificuldade até com o próprio Meio Ambiente do estado que parece que não tá dando muito valor pra isso aí. Teria que ter uma fiscalização melhor, verificar certinho. Mas é meio complicado. É muito difícil.
P/1 – Seu Antoninho, quanto vocês produzem hoje na sua propriedade, de café?
R – No geral hoje... Você tem uma noção, Gigi, você lembra pra mim?
P/1 – Mais ou menos assim? Mais ou menos qual que é a produção de vocês?
R – Hoje tá em torno de umas 700 sacas. Umas 700 sacas, mas a gente já chegou a produzir até 1200, porque a gente está renovando as lavouras. Está tirando as lavouras velhas e modificando.
P/1 – E é feita uma vez por ano a colheita?
R – A colheita é uma vez por ano. Entre março e junho, julho.
P/1 – E quem comercializa todas essas sacas, é tudo comercializado através da cooperativa?
R – Através da cooperativa. Toda a produção aqui é através da cooperativa. A gente já tem certa confiança, né? Porque tiveram algumas empresas aqui que deram muito prejuízo a produtores ali, que comprou o café, levou o café embora e não pagou o produtor. Então a cooperativa já não tem esse problema. É uma coisa séria que tudo é guiado, tudo certinho. É muito bom. Pra essa área, essa parte é muito interessante.
P/1 – Eu queria saber um pouquinho, eu queria conversar um pouco com o senhor sobre como o senhor teve contato a primeira vez com o pessoal da Nestlé que trabalha. Como é que foi essa abordagem? Como é que o senhor conheceu esse pessoal do Nescafé Plan, que é esse...
R – Foi através de uma reunião em Águia Branca, no município de Águia Branca, que eles vieram com um projeto de fazer uma distribuição de mudas. Então como eu tenho o viveiro, eles me convidaram também a participar. Ali já sabiam que a gente já tinha uma parceria com técnico, já trabalhava já organizado, então eles me procuraram também pra poder dar até uma orientação pra eles pra ver como é que eles poderiam estar lançando esse projeto. E aí a gente entrou fazendo uma parceria com eles, distribuindo mudas, eles pagavam 25% do valor da muda pra gente distribuir ao produtor. O produtor já tem esse desconto de 25% no valor da muda.
P/1 – Aí o senhor participou da distribuição, é isso, dessas mudas?
R – Sim. Foram quatro contratos já que a gente teve com eles, fizemos.
P/1 – Que ano que foi essa primeira reunião em Águia Branca?
R – Foi em 2010. 2010, 2011, por aí.
P/1 – E essas mudas que foram distribuídas, elas têm uma característica específica assim em termos de qualidade?
R – Sim. Todas com qualidade. São materiais registrados, registro lá da Secretaria de Agricultura. Tem que ser tudo muito bem organizado. O trabalho deles que eles fazem é um trabalho muito bem feito em cima disso aí, que eles exigem que tenha toda a documentação toda certinha mesmo (breve interrupção no áudio) a gente manda fazer. Tudo muito bem feito.
P/1 – O que é esse laudo da raiz?
R – É pra você não levar pra propriedade talvez uma doença que pode estar no viveiro. Então exigiram que faça esse laudo também pra poder entregar um produto de garantia também pro produtor.
P/1 – E essas mudas que eles trouxeram eram diferentes das mudas que vocês tinham aqui?
R – Não. Eles estão usando aquilo que a gente tinha. Eles estão usando o mesmo material que a gente tinha, porque a gente já apresentou pra eles, que esses são os melhores materiais, né? São materiais mesmo que a gente já tinha, que a gente já tava trabalhando com ele.
P/1 – Então essa venda das mudas, essa distribuição a um valor mais baixo, que 25% era coberto pela própria Nestlé?
R – Isso. Por exemplo, o preço da muda nossa aqui é 600 reais, entendeu? Então o produtor vai pagar 475 reais. O produtor paga o que é o restante, que é o meu. E esses 25% são a Nestlé que tem bancado. É muito bom pro produtor. Só não planta o café quem não tem vontade mesmo de plantar.
P/1 – Qual que o senhor acha que é a vantagem? No que isso ajuda o produtor?
R – Porque esse desconto que a Nestlé tá pagando também de diferença pra ele, eles já compram o adubo pra poder adubar a cova pra poder plantar o café. Então já é um incentivo muito bom aí. Já é um incentivo muito bom. Praticamente cobre o custo do valor do adubo pra poder plantar a muda, esse valor que eles estão cobrindo, pagando ali a diferença.
P/1 – Ajuda a aumentar a produção o senhor acha?
R – Ajuda. Ajuda com certeza porque vai muda com mais tecnologia, já muda com mais qualidade. Ajuda muito. Porque eles só compram mesmo as mudas de viveiros registrados. Eles fazem esse contrato só com viveiro mesmo registrado e com muda de qualidade, se não tiver isso aí eles não fazem o contrato.
P/1 – E o senhor sabe se a Nestlé compra da cooperativa?
R – Compra. Compra bastante até. Ela compra bastante. Ela compra bastante café da cooperativa. Uma das empresas que acho que mais compra café da cooperativa, só que eles são muito exigentes. Produto tem que ser do jeito deles, que se não tiver do jeito deles também eles não compram. Eles são muito exigentes na compra deles. Inclusive tava conversando com o gerente de armazém esses dias passados, ele tava me falando. Ele falou: “Eles compram muito, mas eles são exigentes”. Tem que ser aquele material que eles olharam, gostaram, comprou, tem que ser aquele ali.
P/1 – E o senhor sabe qual que é o padrão assim que eles exigem?
R – É o tipo sete. É o tipo sete. O mais exigido deles é o tipo sete, que é um café mais melhorado, né? É um café melhor.
P/1 – E essa visita, porque a Nestlé tem também, acompanhando esse Nescafé Plan, eles têm agrônomos que trabalham com eles e tal. Eu queria saber se o senhor já teve contato com alguém dessa parte da área técnica.
R – Teve um rapaz deles aqui. O Paulo já esteve aqui. Já esteve aqui olhando, fazendo um levantamento, vendo o trabalho da propriedade. Já teve um deles aqui.
P/1 – Mais de uma vez, não?
R – Não. Foi... Não, ele teve mais do que uma vez já. Já esteve umas três vezes. Já tiveram umas três vezes que ele esteve aqui.
P/1 – E recentemente? Foi recentemente?
R – Não. Tem uns três a quatro meses que ele esteve aqui a última vez.
P/1 – E aí quando ele visita o senhor é pra conversar sobre o quê? Qual que é o trabalho que ele faz?
R – É verificando mesmo que a gente tá trabalhando sobre o viveiro, a distribuição de muda, que a gente faz o contrato, saber quantas mudas estão faltando pra terminar ali a entrega de mudas, tem ainda muda sobrando, como tá, né? Mais essa parte ainda.
P/1 – Como é que o senhor faz a distribuição das mudas?
R – Por exemplo, a pessoa faz a encomenda. Um pega 5000 mudas, outro pega dez, duas, três e a gente vai anotando, que tem o meu filho que faz essa parte de administração, ele quem faz.
P/1 – Mas vocês pegam... A Nestlé manda um número de mudas específico ou o senhor que faz o pedido? Como é que é?
R – Isso. No contrato já especifica uma quantidade de mudas, por exemplo, cem mil mudas. Eu vou fazer um contrato com eles de cem mil mudas, aí eu vou entregar essas cem mil mudas. Quando terminou ali eu já ligo pra eles: “Terminei de fazer a entrega”. Aí a gente passa o relatório pra ele dos produtores que pegaram as mudas e a quantidade de cada um.
P/1 – São todos produtores dessa região aqui aos arredores, é isso?
R – A maior parte é isso. Aqui é São Domingo, Águia Branca, São Gabriel, bairro de São Francisco, Ecoporanga.
P/1 – Faz de caminhão essa distribuição?
R – Faz de caminhão.
P/1 – Isso gera renda pra quem está envolvido? Gera renda pro senhor, por exemplo, essa distribuição?
R – Sim. Com certeza.
P/1 – De que maneira?
R – Com certeza ajuda muito. É uma renda extra que a gente tem, além de estar também beneficiando o próprio produtor porque ele tá recebendo uma qualidade que hoje é difícil quem tem mesmo essa qualidade. São poucos viveiros. Está começando agora. O pessoal... A cooperativa faz muita entrega de muda também. Todo o material que a gente trabalha também aqui é mais ou menos o mesmo material.
P/1 – O distribuidor fica com uma porcentagem, é isso?
R – Isso. A gente fica com uma porcentagem. Isso ajuda muito. É uma renda extra na propriedade, né? Dá pra você ir mantendo o dia a dia da despesa da propriedade que ela é muito cara. Hoje a despesa de uma propriedade não fica barato, não. Tem muita gente até desanimando e vendendo as propriedades mais é por isso. A mão de obra hoje está muito difícil. Não se encontra, quando se encontra é ruim. É complicado.
P/1 – Quantas pessoas trabalham aqui com o senhor? O senhor tem fixo assim um número de...
R – Praticamente sou eu mais o meu filho, a família, minha nora, minha mulher, o neto ajuda também e quando a gente precisa assim a gente consegue os próprios vizinhos. Vem, talvez ganhe o dia, a gente paga o dia. É uma parceria mesmo também com... A gente faz talvez uma negociação de muda, entrega muda. Mais são os vizinhos mesmo. Mas é um trabalho em família mesmo.
P/1 – Mas na colheita aí precisa de mais gente?
R – Na colheita a gente contrata alguém de fora. Aí a gente contrata de fora.
P/1 – Aí precisa vir quantas pessoas a mais assim?
R – Uma média de oito a dez pessoas.
P/1 – Não é tanto, não.
R – Pra ajudar a fazer uma colheita. Não. Não é muito, não. Por enquanto é mais um trabalho mais familiar, então a gente contrata poucas pessoas de fora. A propriedade como é bem organizada, a produção é boa, todo mundo gosta de colher. Os próprios vizinhos mesmo praticamente é que fazem a colheita pra gente. Deixa até de colher o deles pra vir colher o da gente.
P/1 – O senhor pode falar qual que é, nessa coisa da distribuição das mudas, qual que é a porcentagem que fica pro distribuidor?
R – Deve dar uns 20% mais ou menos de renda pro produtor que está produzindo a muda. É uma ajuda. Uma ajuda extra.
P/1 – E esse agrônomo que visita, que é o técnico da Nestlé, ele orienta também em questões de técnica de plantio, técnicas de cultivo ou...
R – Não. Por enquanto ainda não. Da Nestlé, não. Mas eles têm uma intenção de fazer essa... Eu acho que já deveriam estar fazendo, porque seria muito interessante pra eles também, que seria um acompanhamento dessas mudas que foram distribuídas, ver... Isso aí seria muito importante. Eles estão muito ainda meio devagar nessa área. Seria interessante eles terem já uma pessoa indicada pra isso, pra fazer. Tem o Paulo que está fazendo, mas ele é sozinho, não tem como ele... Por exemplo, ele vem aqui mais é na área sobre o viveiro, essas coisas assim.
P/1 – Mas quando ele vem ele vê como é que ficam as mudas aqui do seu viveiro e acompanha como é que foi a distribuição?
R – Isso. A distribuição. Exatamente. Ele pega uma relação, um relatório do que foi entregue, o que falta pra ser entregue.
P/1 – E às vezes esses produtores pra quem o senhor distribui, eles dão um retorno pro senhor assim em relação a essas mudas? Se pegaram bem, se a...
R – Sim. Graças a Deus. A gente sempre tem um produtor que vem agradecer a gente pelas mudas. Tem muitos. Isso aí é muito bem feito. Eles procuram muito e agradecem a gente.
P/1 – E é positivo o retorno? É positivo normalmente o retorno?
R – É positivo. Até falei, né, a gente precisaria receber alguma crítica também, mas graças a Deus até hoje todos que pegaram as mudas estão satisfeitos. Ontem mesmo teve um rapaz que está satisfeito, está colhendo o cafezinho que ele plantou, os primeiro caroços que está dando, e tá admirado com a produção eu está dando. A produção dele já é diferente, a produção é excelente, muito boa.
P/1 – E o senhor estava falando que acha que a intenção desse projeto específico com a Nestlé é que eles comecem a acompanhar, é isso? O senhor sabe quais são os próximos passos do projeto até onde o senhor tem conhecimento?
R – Não. Ainda não passaram pra gente ainda nada, não. Não passaram ainda, não. Vamos ver de agora pra frente o que eles vão resolver. Porque agora está meio parado devido a colheita também, então praticamente para tudo, até a distribuição de muda é muito devagar, são poucos produtores que estão pegando. A gente tem até um pouco de dificuldade pra poder fazer essa distribuição.
P/1 – Aí retoma quando acaba a colheita?
R – Quando termina a colheita. Aí retoma novamente a distribuição de mudas.
P/1 – Tá certo, seu Antoninho. Eu vou começar a encaminhar pro final, antes de encaminhar eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não perguntou e que o senhor gostaria de falar. Qualquer coisa. Contar uma história, falar alguma coisa mais aqui sobre...
R – Eu acho que tá... Foi muito bem, você me explorou bastante.
P/1 – Explorei bastante? Eu exagerei?
R – Não. Eu acho que dentro do possível, né?
P/1 – Não tem nada que o senhor queira falar que tenha ficado de fora assim? Vou encaminhar pro final então. Tem umas três questões finais, queria saber primeiro, eu sei que o senhor tem netos, queria saber quantos netos o senhor tem.
R – São três... Dois meninos homens, duas meninas. Quatro.
P/1 – E como é que é ser avô?
R – Ah, é gostoso demais. É muito bom.
P/1 – O senhor curte?
R – Como não tive tempo pros meus filhos, eu tenho tempo pros meus netos. Aí gera até ciúmes com a minha nora.
P/1 – O que vocês fazem juntos?
R – A gente brinca, a gente trabalha, a gente faz de tudo. Faz de tudo. É muito gostoso. Muito bom. Briga. Muito gostoso.
P/1 – Que idade que eles têm mais ou menos?
R – O mais velho é o Mateus, está com 12 anos. Depois o Pedro... 13, 13 anos. O Pedro com sete. A Beatriz com três, quatro e a Isabela dois.
P/1 – Tem de toda idade.
R – Tem toda idade. Aí são dois homens e duas mulheres. Muito bom, graças a Deus. A hora que a gente pode estar junto a gente está. Com certeza. Bom demais.
P/1 – Então agora é a penúltima pergunta, queria saber quais que são os sonhos do senhor hoje.
R – Hum (risos). Gostaria de ter outro tanto de vida pra estar vivendo e estar junto com a família e produzindo isso que a gente vem produzindo, fazendo o que a gente vem fazendo. Isso eu acho que é um sonho que todo mundo gostaria de ter e que é muito bom. Eu acho que esse seria pra mim o melhor sonho, esse aí. A gente continuar isso aí que a gente tá e vivendo isso que a gente vem vivendo. É muito bom. Com certeza.
P/1 – Tá certo. E agora por fim então como é que foi contar a sua história? Como é que foi dar esse depoimento aqui pra gente?
R – Pra mim foi até uma surpresa, né? Porque eu não esperava isso. Pra mim foi uma surpresa, mas foi muito bom. Foi bom que deixa a gente um pouco meio assustado no início, mas depois a gente vai acostumando. É excelente. É uma história que a gente gosta de guardar também, aí é bom. Com certeza. Gostei.
P/1 – Tá certo.
R – Foi excelente. Agradeço muito a vocês por estar tendo essa iniciativa.
P/1 – A gente é que agradece. Muito obrigada, viu?
R – Nada. Eu que agradeço. Muito bom mesmo. Graças a Deus.
P/1 – Obrigada. Foi ótimo.
R – Foi excelente.
FINAL DA ENTREVISTA
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