Projeto Memórias do Comércio 2020-2021 – Módulo Bauru
Entrevista de Senhor Orlando Burgo
Entrevistado por Cláudia Leonor e Wiliam Carneiro
Bauru, 26 de janeiro de 2021
Entrevista MCHV_014
Transcrita por Selma Paiva
P1: Ô, ‘seu’ Orlando, obrigada pela presença do senhor, por o senhor ter aceito o convite aqui pra gente.
R1: É um prazer, viu?
P1: É muito bom mesmo, viu? Porque a Casa Burgo é uma referência aqui em Bauru, na parte de calçados, né?
R1: Ela foi e continua ainda, com outro proprietário.
P1: Isso. Mas, seu Burgo, vamos conversar, assim, um pouquinho, assim: qual o nome completo do senhor, o local e a data de nascimento?
R1: Pode deixar. Eu vou... vou começar pelo... eu nasci no município de Jaú, na data de 13 de novembro de 1931. O meu nome é Orlando Burgo, filho de Antônio Burgo e Júlia de Carvalho Burgo.
P1: E, ‘seu’ Orlando, Burgo é um sobrenome de origem italiana ou espanhola?
R1: Não. Nem espanhola e nem italiana. É austríaco. O meu avô era austríaco.
P1: E como que eles vieram pro Brasil, ‘seu’ Orlando?
R1: Olha, eu... eles se conheceram... os meus avós se conheceram no Brasil e se casaram aqui e, deles, eu tenho três tios, que eu conheci, todos falecidos e e nós começamos praticamente... eu nasci numa fazenda chamada Alfredo Veríssimo, no município de Jaú. E, depois de um tempo, o papai resolveu, veio para o lado de Macatuba, ele trabalhou numa fazenda de um coronel. E, mais tarde, ele, convidado pelo meu avô, assumiu uma loja comercial que, naquela época, era chamada venda. Ali você comprava o arroz, feijão, a caixa de fósforo, você comprava tecido, comprava quase tudo. E era um bairro chamado Bairro dos Macacos.
P1: Hum!
R1: Ele ficou lá por uns três anos, mas como ele não se deu bem com meu avô, porque português é triste, viu? Quando eles encrencam, eles não querem saber. Aí meu pai saiu. E meu pai foi muito feliz. Meu pai foi muito feliz, por quê? Porque ele era conhecido na cidade de Pederneiras. E teve um senhor, que tinha outra venda, num bairro do lado de Pederneiras, chamado Bairro dos Bambus, porque só tinha bambu naquele lugar. Ele falou: "’Seu’ Burgo, assuma minha loja aí, porque eu não consigo tocar isso aí”. Porque ele trabalhava, se não me engano, na Caixa Econômica Estadual.
P1: Uhum.
R1: O meu pai assumiu, falou pra ele: "Eu não tenho dinheiro, porque meu sogro me mandou embora e eu tô duro”. E ele falou: "Burgo, paga... você vai me pagar como puder”. E meu pai assumiu essa loja e foi muito feliz. Eu acho que nós ficamos lá uns quatro ou cinco anos. Ele pagou o senhor que cedeu a loja num período de um ano. Ele pagou a loja e continuou mais três anos. Aí ele vendeu e veio pro Centro de Pederneiras e ele montou uma loja dele, também e, como ele era muito comerciante, meu pai era um homem muito inteligente, ele preparou a loja e vendeu. Depois disso, ele comprou mais uma loja, bem perto da linha férrea de Pederneiras. Ali também ele ficou por muito tempo, calculo uns quatro, cinco anos e vendeu. Foi pro sítio novamente, mas ele não conseguiu ficar no sítio, porque não acostumou, porque acostumou na boa vida da cidade e voltou pra cidade novamente. E, nesse tempo, apareceu um senhor chamado Giovenazzi. ‘Seu’ Giovenazzi tinha uma loja de calçado e falou: "Seu Burgo, eu quero ir pra São Paulo, porque meu filho...". O filho dele é aquele artista lá, o Giovenazzi. Eu não me recordo o primeiro nome dele. E ele falou: "Mas eu não conheço, não sei nada de sapato”. Ele falou: "Eu vou ficar em Pederneiras com o senhor por mais sessenta dias e vou ensinar o senhor a trabalhar com calçado”. E, neste início, foi mais ou menos no ano de 1942. E o papai assumiu a loja e começou a trabalhar. E eu já era obrigado a trabalhar com o meu pai. Ele falou: "Você vai continuar aqui”. E o ‘seu’ Giovenazzi... eu falei: "Como que arruma?". Era umas vitrines, até era uma loja muito boa em Pederneiras. "Como que eu faço as vitrines, ‘seu’ Giovenazzi?" "Você tira, limpa, aí você vai montar assim: você põe esse pedestal, põe esse vidro em cima, põe esse outro pedestal do chapéu”. Ali a gente vendia muito chapéu, naquela época. E ali o papai começou. Foi muito bem. Muito bem. E a sorte nossa, é que a estrada de ferro Paulista, montou... veio com, se não me engano, não é de Jundiaí, de outra cidade e fez a baldeação em Pederneiras. Você sabe que é aquela transferência de trens. E veio muita gente junto, tinha mais ou menos quatrocentas pessoas que trabalhavam nesse setor e todos passaram a comprar na loja.
P1: Olha!
R1: E assim se foi. Nós ficamos lá até 1949.
P1: Que rua que era, seu Orlando?
R1: Em Pederneiras?
P1: É. Que rua que ficava?
R1: Coronel Coimbra.
P1: Coronel Coimbra.
R1: Rua Coronel Coimbra, perto do Jardim.
P1: Uhum.
R1: Tinha as lojas Pernambucanas na esquina e abaixo tinha... e na frente, tinha o Banco Nacional, que a fundadora foi a família Ruiz. Aí nós ficamos até 1949, porque o meu pai tinha que mudar, que os filhos tinham que estudar, com cursos superiores. Que eu fiz uma escolinha lá, estava muito bem. E mudamos. Viemos pra Bauru, viemos primeiro de fevereiro de 1950. E meu pai foi muito feliz na quadra 2 da Batista de Carvalho. Tinha um senhor com uma loja, que ele queria vender a loja, que ele não se adaptava na loja. Ele ofereceu pro meu pai. Meu pai falou: "Olha, eu tenho pouco dinheiro”. E você sabe: sai de um lugar, vai pro outro, a mudança, tudo é difícil. E ele comprou a loja. Olha, eu vou contar uma história pra você, que você vai rir: a loja tinha mais ou menos mil bonecas, bonequinhas e mais ou menos, suspensórios, porque usavam muito suspensório naquela época, mais de trezentos. Mas o suspensório, com o calor, vai esticando. Ele estica. A minha mãe, ((risos)) pra fazer normal, ela era costureira, ela abaixava, acertava as coisas e costurava e punha pra vender. No Natal daquele ano de 1950, o namorado da minha irmã, que é mais antiga, a Leontina, estava lá. E o meu pai falou: "Euclides, você vai ficar na porta vendendo bonecas. Só que você não perde nenhum negócio. O que oferecer, você vende as bonecas". Por quê? Porque meu pai queria pôr calçados. E, nesse ínterim, olha, o meu cunhado chegou a vender uma média de cem bonecas por dia. Acabaram as bonecas. Era época de Natal. Foi embora. E olha, foi uma felicidade tremenda, porque nós fomos buscar sapatos em Franca, em Birigui, que meu pai conhecia muita... e principalmente em São Paulo, que a gente comprava muito sapato em São Paulo. E muitas marcas, não conhecidas, famosas, mas marcas boas. E cresceu muito o nosso comércio aqui em Bauru. E nós crescemos... você vê, que em cinco anos de Bauru, o meu pai comprou o prédio de onde é a Casa Burgo hoje. Você vê, foi uma felicidade tremenda. E, ali, só nós crescemos. Crescemos, crescemos. Em 1967, meu pai falou: "Nós precisamos construir uma loja nova, porque esse prédio está muito antigo”. E construímos o prédio atual. Compramos uma loja que tinha abaixo, no Calçadão, na quadra 1. Compramos aquela loja de um amigo, colocamos a nossa loja lá, até a construção do prédio. Construímos o prédio em 1969. Em novembro, inauguramos a loja nova. Era uma das lojas mais bonitas de Bauru naquela época.
P1: Vamos voltar um pouquinho. Vamos voltar um pouquinho, pra gente... pra eu tirar algumas dúvidas?
R1: Uai, vamos.
P1: O senhor falou que a família... o senhor seu pai, junto com a sua mãe, resolveram, né, vir pra cá, pra vocês estudarem, né?
R1: Foi.
P1: Quantos irmãos vocês eram, ‘seu’ Orlando?
R1: Nós éramos cinco. Cinco irmãos. Duas mulheres e três homens. A Leontina, hoje, mora em Pederneiras e em Campinas, por causa da idade dela, que ela tem noventa anos.
P1: Ó!
R1: É. A minha irmã, a Elenice, mora em Curitiba. Ela casou-se com um advogado de Curitiba, até o pai dele foi prefeito de Bauru. Doutor Lins. E cada um foi separando. Aí nós ficamos... papai era muito correto, ele falou: "Não, vamos montar uma loja com o nome da família”. Então ele pôs: Antônio Burgo e Filhos.
P1: Ah!
R1: A loja que nós construímos. Então, ficou o meu pai, a minha mãe, eu, que era o homem mais velho, né? Tinha o Osvaldo, que faleceu e o Waldemar. Nós ficamos todos trabalhando em família, até começar a pôr empregados na loja, porque a loja não vencia. Nós tínhamos uma felicidade tremenda no atendimento. E a baldeação de Pederneiras veio pra Bauru, então a loja estourou de vendas. Você sabe que eram - antigamente, a quadra 1 e 2 - as duas melhores quadras de Bauru. Por quê? Tinha a estação ferroviária, ali nós tínhamos a Sorocabana, a Paulista e a Noroeste e despejavam gente de todo lado. Nós tínhamos o Franciscato, né, com o ônibus pra São Paulo ali e a Reunidas do outro lado.
P1: A Praça Machado de Mello era...
R1: Praça...
P1: ... a antiga rodoviária, né?
R1: É isso aí, você definiu.
P1: Né? Nós não tínhamos uma estação rodoviária, mas os ônibus, as empresas estavam ali, né?
R1: Estavam. E boas, viu? Era um movimento bárbaro, principalmente na quadra 1 e 2. Nossa loja vendia demais. E outra coisa que aconteceu, foi que os bolivianos vinham da Bolívia pra comprar sapato em Bauru.
P1: Mesmo?
R1: E olha, vou te contar, vendíamos muito sapato pra Bolívia, viu? Nós tínhamos que encomendar lotes no Rio Grande do Sul, de sapatos femininos, porque eles levavam muito sapato feminino. Masculino, eles não levavam. Mas era coisa, assim, de quinhentos, seiscentos, setecentos pares, cada vez que os bolivianos vinham. Então...
P1: Era por causa da ferrovia?
R1: Por causa da ferrovia. Porque depois que as empresas de ônibus passaram a pegar gente lá em Corumbá, no Mato Grosso do Sul e levar pra São Paulo, tirou todo o nosso movimento. Aí nós ficamos somente com o povo de Bauru, da região, que compravam muito na minha loja. Agudos, Pederneiras mesmo, vinham comprar. Marília vinha comprar na minha loja. Sem contar Agudos, Piratininga. Então, foi um crescimento maravilhoso, que até hoje eles falam da Casa Burgo.
P1: É. E, assim, com essa clientela tão diversificada, que tipo de calçado que vocês vendiam, ‘seu’ Orlando?
R1: Olha, eu vou falar pra você: o forte da minha loja era o calçado masculino. E o feminino... era 70% de calçado masculino e 30% de feminino. E nós tínhamos outra coisa: nós vendíamos chapéu e começamos vender muita mala de couro, naquela época, do Rio Grande do Sul. Malas, aquelas pastas grandes de couro, com abertura em cima, aquilo lá vendíamos, também, demais. E depois vieram as carteiras, aquelas... é pochete, né? Que hoje é pochete, masculina, vendia-se demais, também. Eu acho que vendíamos até pastas de cromo, nós vendíamos na nossa loja. Então, era uma loja que tinha um movimento maravilhoso, viu? E o atendimento nosso, começamos _______ (17:25) empregados, nós chegamos a trabalhar, uma época, com seis japonesas.
P1: É mesmo?
R1: Uma no crediário ((riso)) e mais cinco atendendo, fora duas brasileiras que trabalhavam na loja, a Lola e a Dalva, né? Estou falando o nome delas porque eram amigas maravilhosas. E foi assim que a Burgo cresceu, viu?
P2: ‘Seu’ Orlando e, no caso, os chapéus, né? Se eu fosse comprar um chapéu, hoje, o que eu teria que me atentar? Quais que são os tipos de chapéus?
R1: Hoje? Hoje...
P2: É, na época também.
R1: Hoje...
P2: É.
R1: ... normalmente, chapéu, mesmo o chapéu europeu, é aba estreita. Antigamente vendia-se muito a aba sete, sete e meio. Hoje, a aba mais vendida é a aba cinco, que é essa aba que você vê até em novelas, tudo, você vê, é uma abinha, assim, de aba estreita. É um chapéu delicado e bonito, viu? Só que tem o seguinte: não temos mais fábricas de chapéu no Brasil, porque a Ramenzoni fechou, a Cury comprou o nome, vendia Cury e Ramenzoni; tinha a Prada de Limeira, também, que era um bom chapéu, fechou. Nós não temos fábrica de chapéu... mas o chapéu está vindo da China, hoje. E você, dificilmente, vai encontrar um chapéu, hoje, feito em material bom, porque o chapéu, você sabe que ele é feito em lã ou em pelo. O chapéu de pelo é o melhor. É uma categoria de chapéu fino pra você usar. Chapéu, em Bauru, não sei se você encontra um chapéu em pelo em Bauru, hoje.
P2: E o senhor sabe qual animal que era?
R1: Como?
P2: Qual era o animal que se fazia, tirava o pelo e tudo mais? Ou não, é só o nome?
R1: Acho que a lontra.
P2: Hum.
P1: Hum.
R1: Eles falavam chapéu de lontra.
P2: Uhum.
P1: E por que é importante a aba maior ou uma menor, mais estreita, ‘seu’ Orlando?
R1: Olha, a pessoa de sítio não comprava aba estreita, comprava aba sete e meia, que era a aba mais larga. E a pessoa, assim, o rapazinho da cidade, porque usava muito chapéu no inverno, eles compravam tudo da aba cinco, cinco e meio, no máximo. E vendia todos. Nós ficamos com as duas melhores marcas de chapéu do Brasil, porque os viajantes, inclusive o primeiro viajante, o senhor Rodrigues, que vendia o Ramenzoni, vinha de São Paulo, parava em casa, mesmo em Pederneiras, almoçava conosco, vendia e ia embora. Ele chegou em Bauru, nós estávamos lá na loja, ele chegou e falou: "Burgo, eu vim aqui vender chapéu pra você”. Meu pai falou: "Mas como? Tem essas lojas aí, como que você vai fazer? Tem essa, tem aquela”. Ele falou: "’Seu’ Burgo, tem o seguinte: eu nunca entrei na loja deles, eles nunca me convidaram pra almoçar com eles”. Pra você ver como é que é. "E vou te mandar chapéu, você queira ou não queira, eu vou mandar chapéu. Faça um pedido aí, que eu vou te mandar chapéu”. E o meu pai fez o pedido. Começamos a trabalhar com esse chapéu em Bauru, naquela época, porque nós vendíamos em Pederneiras, né? E...
P1: E aí passou a vender em Bauru?
R1: Bauru. E muito chapéu, hein? Todos, até o Panamá legítimo, fabricado... montado, né, pela Ramenzoni, que era um Panamá fino. Vinha do Panamá pra São Paulo e a Ramenzoni o montava na loja, nas duas abas: aba cinco e a aba sete. O que vendia mais era o aba sete, que cobria o sol, então as pessoas o usavam muito pra cobrir o sol, o chapéu.
P1: Maravilha. Voltando ainda um pouco, né, desse momento da chegada da família em Bauru, onde vocês foram estudar, seu Orlando?
R1: Bom, eu estudei no Liceu Noroeste. Agora, a minha irmã, a Leontina, estudou lá na melhor escola de Bauru, aquela do lado da prefeitura, a Ernesto Monte.
P1: Instituto de Educação, né?
R1: Isso. Isso. Ela se formou em primeiro lugar, porque ela era uma cabeça boa.
P1: É mesmo?
R1: Olha, você sabe que, naquela época, quem se formasse em primeiro lugar, já tinha a cadeira, o Estado dava a cadeira. Você vê como que era? A Leontina pegou... não deram Bauru pra ela não e nem Pederneiras, ela foi pra uma cidade distante, até ela voltar pra Pederneiras e demorou uma média de seis, sete anos. A Elenice casou-se, casou-se bem, com um advogado de Curitiba, político, que o pai dele era político e foi deputado pelo estado do Paraná e ele foi trabalhar no Ministério do Trabalho do Paraná e foi muito bem, por muitos anos. E ela continua lá até hoje, ele faleceu e ela continua lá até hoje, não quis voltar pra Bauru, não, viu? Apesar do frio que é aquela cidade, viu?
P1: É, que é bem frio, né? O senhor estudou no Instituto Ernesto Monte também?
R1: Não, eu não. Eu estudei só no Liceu. Eu fiz o curso de contabilidade, técnico em contabilidade do Liceu Noroeste. Eu comecei a estudar lá com o senhor Ranieri em 1950, 1951 e 1952 eu me formei. Os meus amigos, todos foram pra advocacia, foram embora: "Vamos, Orlando, vamos fazer Direito”. Falei: "Ah, eu não vou, não, estou trabalhando demais, eu não tenho tempo pra fazer Direito". Trabalhava-se, viu? Que eu pegava vitrinas, às vezes, pra arrumar, uma vez por mês, desmanchava tudo as vitrines, limpava todos os vidros e eu... os empregados limpavam e deixavam comigo. Eu ia montando a vitrine até as duas ou três horas da manhã.
P1: Nossa!
R1: Pra estar a loja pronta pro outro dia. Então, era... a vida era essa. Eu não tinha vontade de sair pelo... tinha que... não era todo dia que... quando a gente pegava, eram cinco vitrines. Você tinha que arrumar uma por dia, porque você tinha que limpar. Só a de chapéu, que era mais simples, limpava, montava durante o dia __________ (25:01) de pasta, mas a de calçado era um capricho e uma briga. E nós tínhamos a Caviar em Bauru, Casa Pagani, tinha um outro também, na minha época, eu não me recordo agora, era da família Valuni, também uma loja muito boa. E...
P1: A Yara tinha outra... quem que era o proprietário da Yara?
R1: Era o Blair Martini, que ficou...
P1: Ele tinha outras lojas também, com outros nomes, não?
R1: Não. O Blair, não. O Blair só tinha a Casa Yara.
P1: Ah, tá.
R1: Depois ele vendeu a Casa Yara pra Nardi Lopes & Cia, que...
P1: Isso.
R1: ... ficou com a loja. E ele montou uma loja na Avenida Rodrigues Alves, só pra ele passar o tempo dele. Mas depois ele comprou um prédio ali na quadra, se não me engano, quatro. Não, na quadra 6. Ele comprou um predinho e passou a loja pra lá novamente, mas o Blair tinha um... ele era um cara maravilhoso, muito meu amigo, mas ele bebia muito. Ele gostava de um whisky, que eu vou te contar, viu? Era demais, viu? Mas era muito bom. Olha, eu fui muito feliz, porque fui convidado pelo Ibrahim Tobias e ele que me levou pro CDL: "Não, Orlando, se eu for presidente, você tem que ser meu vice”. Eu falei: "Ó, Ibrahim, eu sou comerciante, eu não gosto muito disso, não" “Vamos lá comigo”. Tinha lá... nós tínhamos um monte de amigos lá, né? Inclusive, quando eu entrei no CDL, a diretoria do CDL só tinha gente importante, viu? Olha, até as Lojas Americanas, a gerente era diretora do CDL.
P1: É mesmo?
R1: Todos ali. A Casa Pagani tinha um representante, a Yara, o Blair era o representante. Porque o CDL foi fundado pelo Sérvio Túlio Coube, não sei se vocês sabem disso.
P1: Não. Pra gente registrar: quem que é o Sérgio?
R1: Sérgio Evandro?
P1: Coube. É. Pra gente registrar. Oi?
R1: É, mas o Sérgio veio pra Bauru mais tarde. Ele comprou o Santinho da quadra 2, a loja. Ele veio de Jaú, que o pai dele tinha fábricas de calçado em Jaú e ele comprou ali e pôs Cisne Calçados, mas era a Casa Santinho, na quadra 2.
P1: Ah!
R1: Da Rua Batista de Carvalho.
P1: Entendi.
R1: Olha, eu... o Ibrahim foi muito sem vergonha comigo, viu? Meu amigão, ele ficou seis meses como presidente do CDL e depois como presidente. Olha, vou te contar, foi duro, porque nós tínhamos gente espetacular em Bauru pra fazer promoção. Olha, era uma promoção em cima da outra e todo mundo cooperava. Hoje, ninguém coopera, porque hoje está cheio de chinês aí, você vai pedir um dinheiro pro chinês, ele não te dá nada. E você vê, eles estão dominando o Centro de Bauru.
P1: Uhum.
R1: Agora, o Centro de Bauru está perdendo muito, porque está crescendo... você vê, hoje, se você for, qualquer vila de Bauru, tem lojas boas. Não é? E o que pesa? Tira de quem? Do Centro. Você vai no Mary Dota, tem lojas maravilhosas. Vai no Altos da Cidade, sem comentário, né? Depois veio o shopping center, que aí tudo puxou... tirou o povo bom que comprava, o rico, que tinha dinheiro, ele não vinha mais pro Centro, não veio mesmo. E eu fui o único comerciante que consegui segurar a minha loja. Essa turma boa. Que o meu irmão, Waldemar, foi fazer um curso de _________ (29:23) no Rio de Janeiro, pra vender os produtos Scholl. Eu não sei se você lembra.
P1: Eu queria que o senhor, depois... explica pra gente, o que é o produto Scholl...
R1: Produto Scholl...
P1: ... que marcou uma época, né?
R1: ... era uma palmilha metálica, forrada em couro em cima, que era pra pé chato, pra criança de pé chato. E nós tínhamos três médicos em Bauru, que recomendavam essas palmilhas. Inclusive, o nosso vice-prefeito, viu? O Orlando.
P1: O Doutor Orlando?
R1: É. O irmão dele e o Sala. Alberto Sala, Doutor Alberto Sala Franco. Eles recomendavam essa palmilha. E o Waldemar tinha que ajustar no... tinha uma forma metálica, que ele punha lá e batia, que as palmilhas tinham que se igualar, por causa... às vezes porque dava diferença de uma perna pra outra, que nós não somos normais, de meio centímetro, a palmilha tinha que corrigir.
P1: Uhum.
R1: Então, a palmilha, uma era mais baixa e a outra era mais alta e eram aquelas botinhas de couro lá, que vinham de São Paulo e que vendiam barbaridades também. E meu... ah, outra coisa: meu irmão foi calista. Naquela época... hoje é podólogo, né? E ele era calista. ((Risos)) Era uma fila de gente trabalhando com ele, levava lá pro quarto, lá pra tirar calo da família Martha. Todos eles iam tirar calo com ele. Então, isso aí foi a Casa Burgo daquela época, viu?
P1: Que maravilha, né? E, ‘seu’ Orlando, que outras lojas ou comércios tinham ali entre a quadra 1 e a quadra 2, que o senhor conhece muito bem?
R1: Bom, na quadra... naquela época, as lojas eram quase todas de pessoas de Bauru. Dificilmente... só as Lojas Americanas que era de fora, a Casa Buri de calçados, na quadra quatro, era de fora e a loja que, se não me engano, onde é a Magazine Luiza hoje, tinha uma loja de fora ali, antiga também, que eu não me recordo o nome agora, que o gerente... hoje, ele faleceu, ele é que fundou essa relojoaria fina da quadra seis, de Bauru, a... como que chama? Ele foi montar em Botucatu e de Botucatu ele veio, comprou o ponto ali do lado da Casa Carvalho e montou aquela relojoaria que tem ali, que hoje eles vendem óculos...
P1: É do Raduan Trabulsi, o Tâmbara...
R1: Não, o Tâmbara era na esquina, né?
P1: É. É.
R1: O Tâmbara era na esquina. O Raduan já era onde ele é hoje, o Raduan Trabulsi. Nós tínhamos, ali, a Lalai, que era famosa...
P1: A Lalai.
R1: ... na época, o restaurante da Lalai, que o Zé, o Zé lá do... que fazia os sanduíches da Bauru lá, o Zé trabalhava lá. Nós tínhamos... quer ver lojas famosas...
P1: E a Casa Lusitana?
R1: A Casa Lusitana. Casa Lusitana era a maior loja de Bauru naquela época. O vitrinista da Casa Lusitana era o Paulo Medina.
P1: Ah!
R1: Paulo Medina.
P1: É mesmo?
R1: É, ele era o vitrinista lá, naquela época. Eu conheci o Paulo ali. E o Paulo, depois, montou a loja dele. Ele e o Moacir também. Os dois meus amigos, principalmente o Moacir. Moacir foi diretor comigo da Hípica, também muito meu amigo. E Moacir montou uma loja de... ele fazia uns vestidos maravilhosos naquela época lá. E o Paulo era...
P1: Da Capristor, né?
R1: É, a Capristor, isso. Matou. Olha, era um cidadão, que eu vou te contar, o Centro de Bauru era maravilhoso naquela época. Lojas de primeira. Porque, se você pensar, pensando bem, o que tinha de lojas boas, é indescritível. Hoje, que cortaram muito, é tudo lojinhas pequenas, hoje, né? Mataram o comércio, viu? E esses chineses aí...
P1: Mas eram muito grandes antes, né?
R1: Muito! Nossa! Era tudo diferente, viu? Mudou muito.
P1: Ô ‘seu’ Orlando e tinha, assim, muita... assim, esses comerciantes, assim, que são de diferentes origens? Os árabes, os italianos.
R1: Tinha. Tinha, sim. Você fez me lembrar até de um árabe que tinha uma sorveteria na quadra seis e ele era famoso, o sorvete dele, tinha fila pra comprar sorvete árabe.
P1: É?
R1: ... pra comprar sorvete desse árabe. Mas nós tínhamos o Jorge ali, que era descendo a Rua Azarias Leite, tinha o Jorge...
P1: O Jorge Elias?
R1: O Jorge Elias Salomão também, a loja dele era famosa, em tecido. Tinha a Tropical na esquina, também era uma loja maravilhosa, só vendia tecido de primeira. Tinha a loja Síria...
P1: Sim.
R1: ... também, na quadra cinco, esquina. Olha, é muita coisa pra eu lembrar, viu? A minha cuca não dá desse jeito, viu?
P1: O senhor está lembrando muito bem. Assim, eu estou vendo a cidade. ((Risos)). Casa Sampaio era perto do senhor, ali?
R1: Casa Sampaio, quando ele construiu o prédio dele, que era um prédio baixo, eles tinham uma loja. Aí que o ‘seu’ Sampaio construiu aquele prédio naquela época, foi um espetáculo. Era uma loja maravilhosa de ferragens. Depois, com o tempo, acho que o seu... ele morreu e o Wallace montou um supermercado embaixo. Um supermercado ali. Foi o primeiro supermercado de Bauru, o Wallace montou. Mas não deu resultado, o Wallace foi infeliz. Os irmãos não ajudavam, porque todo mundo quer tirar uma parte, né?
P1: Uhum.
R1: E eles eram muito irmãos, se não me engano, eram cinco irmãos, cada um queria uma parte. E você sabe onde que todo mundo põe a mão, some.
P1: É.
R1: E, hoje, eu sou tesoureiro do Wallace Sampaio no sindicato.
P1: Ah! ((Risos))
R1: Eu comecei com... ah, tinha a Casa Rasi, na esquina...
P1: Casa Rasi.
R1: ... na esquina, que era uma casa famosa, Oswaldo muito meu amigo.
P1: ‘Seu’ Oswaldo Rasi, né?
R1: Isso.
P1: Era do que, a Casa Rasi?
R1: Era ferragens também.
P1: Ferragens também.
R1: Ferragens também. Ele vendia muitas ferragens naquela época.
P1: E o seu Hecmet Farah também tinha loja ali, no começo?
R1: O Hecmet tinha, mas foi curto, viu? Não foi um espaço grande, não. Tinha na Avenida Rodrigues Alves também, tinha lojas... tinha as lojas grande, viu? Tinha a Casa de Queijo, que vendia o queijo, tinha muitos bares, viu? Muitos bares. Porque o comércio, como ficou forte... você sabe que nós tínhamos diversos cafés famosos em Bauru?
P1: É mesmo?
R1: Aqui. Nós tínhamos o café. Tinha na quadra acima da Americana, como que eles chamavam? O sogro do Ignacio Fraile tinha um café ali, muito famoso. Tinha o Tudo Azul, que era outro café famoso, também. Tínhamos na Primeiro de Agosto, na quadra seis, também que era um café famoso. E um restaurante muito famoso, que tinha ali na esquina, onde era o Tem Tudo, onde era o Tem Tudo, que o Tem Tudo fechou...
P1: Fechou.
R1: ... agora não tem mais o Tem Tudo, não é mais Tem Tudo ali. Ali tinha um restaurante espetacular, viu?
P1: Qual que era? O senhor lembra o nome?
R1: Ai, agora é difícil, eu não me lembro. Tinha o do Amantini, que ele também era na mesma quadra, tinha o restaurante do Cláudio, que era muito bom também. Esse...
P1: E o Fuentes, era ali perto também?
R1: Ah, espera aí, espera aí, estou esquecendo. O famoso Bar Crystal.
P1: Sim. ((Risos))
R1: Na esquina. Olha, foi onde tinha uma farmácia lá. E tinha também, outro famoso também, que vendia sanduíches, na quadra seis, que eu não me recordo o nome agora, que era de um nortista, mas eu não me recordo o nome, passou muito tempo.
P1: Não tem problema. E tinha o Fuentes? O restaurante.
R1: Ah, o Fuentes. Também. Era lá. O Fuentes que era na esquina.
P1: Ah!
R1: Você está sabendo mais do que eu, hein? O Fuentes era na esquina. Era o Fuentes que era na esquina...
P1: Perto do cinema.
R1: ... que era famoso. Perto do cinema. Não, o Fuentes era na esquina.
P1: Na esquina?
R1: Na esquina, onde era o Tem Tudo ali.
P1: Ah, tá.
R1: Ali era o Fuentes e abaixo um pouco, do lado esquerdo de quem desce, tinha o restaurante do Cláudio Amantini também, que era famoso. Tinha o Hotel Central, que tinha um restaurante muito bom, que aos domingos muita gente ia almoçar no Hotel Central, que é ali na Primeiro de Agosto, que hoje é a Lojas... uma loja, aquela loja grande, que vende tudo lá dentro, a...
P1: Company?
R1: Não, a Company não.
P1: Casa Company?
R1: Não. É a... bom, ali são três lojas grandes, né, que vende aparelho eletrônico ali.
P1: Hum!
R1: Tem a Magazine Luiza, tem a...
P1: Casas Bahia.
R1: ...Bahia e mais embaixo tem a... na outra esquina, ao lado daquele prédio que era a Caixa Econômica Federal ali. Tem a...
P1: Eu não estou lembrada.
R1: Bom...
P1: Não tem problema, não tem problema. Diz uma coisa, ‘seu’ Orlando: por que que o Bar Crystal era tão famoso também?
R1: Porque os donos eram maravilhosos. O Antônio...
P1: É?
R1: É. O Antônio era muito meu amigo, tinha o outro que eu não me lembro. Ali o... era engraçado, os juízes de futebol, que vinham apitar o jogo do Noroeste, todos eles almoçavam ali. Eles vinham de São Paulo: “Não, nós vamos almoçar no Bar...”. Porque ele tinha um... ele fazia um prato de filé mignon, que eu vou te contar viu? Era irresistente. Tinha que comer, viu?
P1: É mesmo? ((Risos))
R1: Não tinha como. Família muito boa. Eram três irmãos e eu não me recordo o nome dos... o ‘seu’ Antônio eu não esqueço, porque é o nome do meu pai.
P1: Antônio Padilha, né?
R1: Antônio Padilha. Isso aí. Eram três irmãos.
P1: Muito bom.
R1: E mais acima tinha uma casa de vinho também, que foi do... difícil de lembrar as coisas.
P1: Não tem problema. É muita coisa, né?
R1: Uma casa de vinho também ali, na quadra sete tinha uma casa de vinhos ali, também famosa.
P1: Ô, ‘seu’ Orlando, o senhor falou uma coisa que acho que, assim, o senhor falou assim... e eu queria que o senhor falasse mais, da importância do viajante pra atender as lojas. Porque é uma coisa que a gente quase não se vê mais, né?
R1: Ah, era só viajantes. Só viajantes. Todo produto nosso, 90% era comprado de viajantes. Nós que, com o crescimento da nossa loja, fomos conhecendo as pessoas e viajantes de Franca - porque nós comprávamos muito de São Paulo -começaram a levar gente pra comprar em Franca. Eu, em 1951, fiz uma viagem que eu saí daqui de Bauru, fui em Araraquara, peguei o trem, fui até Barrinha, de Barrinha um ônibus até Ribeirão, de Ribeirão à Franca. Eu fiquei um dia viajando. Um dia. E dormi no Hotel Imperial em Franca, que era o hotel que Dom Pedro II se hospedava.
P1: Ah! ((Risos))
R1: Eu falei: “Dom Pedro II passou aqui e eu também”.
P1: ((Risos)) Mas, assim, eles movimentavam também o comércio, né? Porque eles não só ofereciam os produtos, mas eles também se hospedavam, almoçavam...
R1: Nossa, os hotéis ficavam cheio de viajantes, porque todas as firmas tinham viajantes. Todas, todas. Não tinha. Qualquer firma tinha viajante. Tanto de eletrônico, produtos de eletrônico, todas elas tinham viajante. Ah, estava esquecendo: teve uma loja muito famosa, que era de um amigo do meu pai, a Loja Sol. Era na esquina da Azarias Leite, na esquina, do lado direito de quem sobe, aquela loja foi famosa também. Ela foi a primeira, vendia muito aparelho de som, a Loja Sol. Também da família Ribeiro. Aquele eu não esqueço também.
P1: Qual que é o... o senhor lembra o nome inteiro dele? O Pupo Ribeiro?
R1: Não. Pupo Ribeiro era na quadra... acho que quadra quatro, na esquina, era... era do Hélcio Pupo Ribeiro. Ah, não, o Hélcio tinha... ele teve a loja lá com o pai dele, mas depois o Hélcio montou uma casa só de disco, ele vendia disco, porque ele gostava de música, né? O Hélcio é tio do meu genro.
P1: Ah!
R1: O Hélcio Pupo Ribeiro. É tio do meu genro. Cara maravilhoso, viu?
P1: Ele tinha a discoteca de Bauru, né?
R1: Ah, a discoteca de Bauru. É isso aí, mesmo. Mas eu estou querendo lembrar mais alguma coisa, mas está um pouco difícil.
P1: Nossa, está maravilhoso. ((Risos))
R1: Está um pouco difícil.
P1: Ô, ‘seu’ Orlando e assim, esse lado assim, dessas datas mais específicas: Natal, Ano Novo, começo das aulas, como é que era assim, a performance da Casa Burgo? Como é que mudava?
R1: Bom, o Natal, eu vou te contar, era coisa que... você sabe o que é uma loja mais ou menos com cem pessoas dentro? O tamanho que era a minha loja? Não dava pra você andar, pra atender as freguesas e todo mundo queria ser atendido. Naquela época, nós tínhamos oito funcionárias e mais os três da família e mais o meu pai no caixa, não venciam. Não venciam de tanta gente. Mas não era só a minha loja, viu? A Feira dos Calçados, na esquina, do ‘seu’ Barbosa, também tinha o Franzolin. O Franzolin tinha aquela loja de móveis na quadra três também, famosa também, que era de Jaú. O Franzolin era um espetáculo! Além de tudo, era um gozador, né?
P1: Era a Bauru Progride?
R1: Espera aí. Tinha a loja do ‘seu’ Alfredo Avallone.
P1: Ah!
R1: ‘Seu’ Alfredo Avallone, de calçados, meu concorrente. Aquele era concorrente, viu? Ele segurava os viajantes, pra não vender. Mas, no fim, os viajantes que vendiam pra gente de Pederneiras, iam visitar a gente e acabavam vendendo. Mas eu cortei o assunto.
P1: Eu estava falando das épocas de grandes vendas, né? Natal.
R1: Ah sim. O Natal, do Natal, a reunião das lojas de Bauru era muito grande, todo mundo cooperava. Você vê, estava chegando... nós tínhamos aquele... o Paulo que fazia shows em Bauru, o...
P1: Fazia Carnaval?
R1: É, esse.
P1: O Paulo Keller.
R1: Paulo Keller, ele que enfeitava o Calçadão. Pra mim. Que, na época que eu fui presidente do CDL, o Paulo tinha muita amizade comigo, mas muita. Falava: “Orlando, o que nós vamos fazer esse ano?”. Falei: “Paulo, o que você pensa?”. Aí ele vinha, pedia dinheiro pra gente, que o Paulo era sempre duro, né? Sempre não tinha dinheiro. A gente tinha que dar dinheiro pra ele, pra ele comprar todo o material em São Paulo, pra ele arrumar o Calçadão. E arrumava __ (49:00).
P1: Ele que fazia decoração de Natal da Batista?
R1: Fazia. Paulo fez muitos anos. Enquanto eu fui presidente do CDL...
P1: Assim, já que a gente está fazendo uma entrevista histórica, né, descreve um pouco o Paulo Keller, assim, uma pessoa que foi muito querida, né?
R1: Nossa! O Paulo era fora de série, né? O Paulo, não tinha. Ele era grande amigo, tinha aqueles problemas dele, né? Que ele era meio diferente da gente, né? ((Risos)) Mas, fora isso aí, um grande amigo.
P1: Ele era decora... vê se eu estou errada...
R1: Decorador.
P1: ... ele era decorador...
R1: Decorador.
P1: ...estilista, fazia decoração de Carnaval do Tênis Clube.
R1: Fazia, fazia. E fazia do __ (49:47) também.
P1: Desfilava em escola de samba.
R1: É, o Paulo fazia tudo. O Paulo era um cara... Eu não sei como tinha tempo pra tudo, né? E era costureiro também.
P1: Sim.
R1: Teve um tempo costureiro também, o Paulo. Mais alguma coisa aí, deixa eu ver. Teve minha passagem pelo CDL, oito anos como presidente do CDL, que depois passou pro Sérgio Evandro Motta. E nesse ínterim, eu tinha grandes amigos. O Rubens __ (50:21), era gerente de uma loja de tecidos e o Rubens gostava de enfeitar e promover o Calçadão. Mas como ajudava, viu? Todo gerente de loja ajudava a gente, promovia o Calçadão o tempo todo. O ano inteiro, não era só no Natal, Dia dos Pais, Dia das Mães, Dia dos Namorados. Tinha sempre alguma coisa no Calçadão. Houve uma briga muito grande entre o Sindicato dos Hotéis e Similares, com o CDL porque, naquela época, nós colocamos a Coca-Cola, quem comprasse na loja, um certo valor, recebia um cupom, ia lá e tomava uma Coca-Cola de graça. E os bares ficaram loucos, né? Porque era muita gente que comprava aquela importância, como se fosse hoje trinta reais, recebia algum vale, dois vales quem comprava sessenta e era muita Coca-Cola, viu? E depois, tinha o Toledinho. O Toledinho também, quando viu que a Coca-Cola entrou, no outro ano, falou: “Não, esse ano aqui, quem faz sou eu”. O Toledinho dava o guaraná de graça pra nós, pra fazer a promoção do guaraná da Brahma. Você vê, isso aí tudo fazia movimento. Era barraca na Rua Batista de Carvalho, pra servir os clientes das lojas.
P1: Que beleza, né?
R1: Ah, era um... era algo diferente.
P1: Agora, o senhor está falando do Calçadão, mas o Calçadão mesmo, construído, é mais recente, né, ‘seu’ Orlando?
R1: O Calçadão, quem fez foi o prefeito...
P1: O Izzo?
R1: O Izzo. Foi o Izzo que fez. O Izzo, vou te contar, está de parabéns, viu? Pra nós, naquele ano, primeiro ano dele, ele fez um ano maravilhoso como prefeito, viu? E ajudava muito o comércio. Mas ajudava em tudo. Até na promoção... até a decoração, ele participava com uma importância, pra ajudar a decorar o Calçadão. Que ele tinha razão, né? Porque é o que dá mais ICM aí na... naquela época, era o Calçadão e não tinha loja fora do Centro de Bauru, quase. Não é como hoje. Hoje, você não pode nem discutir um prefeito, ele dar alguma coisa pra você, ele fala: “Eu tenho que fazer a vila tal também, porque lá tem comércio. Na outra vila tem comércio”. Então, mudou. Não tem condições do prefeito... a única briga maior hoje no Calçadão, é a estação, que está parada lá. Então, aquilo lá é um túmulo, né? E está parado. E não tem um prefeito, Agostinho comprou, pagou seis milhões, de uma coisa que passou pela nossa mão, por exemplo, pra ser comprada por dois milhões e pouco. Eles pagaram seis milhões e deixaram a estação lá, fechada. Você vê, aquilo lá podia trazer tudo essas casas alugadas, que eles alugam pra prefeitura, podiam levar pelo menos 12, 13, porque ali, o prédio tem trezentos metros de comprimento. Eu conheço aquilo lá, porque eu andava muito na Noroeste e eu conheço toda a parte de cima, porque tinha o Doutor Carranca, que era engenheiro da Noroeste, me convidava pra ir lá tomar café. Eu ia tomar café lá. Eu era famoso naquela época, viu? ((Risos)) Então, eu ia lá tomar café com o Doutor Carranca e ele me levava, mostrava todos os escritórios da Noroeste. Né? Tinha uma parte que era da Paulista, tinha uma parte que era da Sorocabana. Então, era isso aí. É uma pena aquilo lá estar parado. Ali podia levar tudo pra lá, viu? Dá pra fazer tudo que quisesse.
P1: Eu acho que o Wilian quer fazer uma pergunta, né, Wilian?
P2: Isso. ‘Seu’ Orlando, pra quem nunca viu, né, a Batista, pensando, né, em outras pessoas assim, o senhor pode contar como que eram essas decorações assim, de Carnaval, Dia dos Namorados. Como é que era essa decoração toda lá?
R1: Bom, principalmente o Natal, era uma decoração especial. Vinha o... como o Paulo que fazia, era um enfeite maravilhoso, cheio de coisas, mesmo. Tinha bonecos, tinha... ó, o que você pensasse. Era uma festa o Calçadão. Uma festa. Viu? Principalmente. Agora, o Dia dos Pais, Dia das Mães, aí já era menos, né? Não dava pra fazer, porque, uma época daquela lá, um enfeite, ficava em vinte, vinte e cinco mil reais. Era um dinheirão, viu? Era como hoje, se você for fazer um enfeite daquele hoje no Calçadão, fica em duzentos mil. Só pra você ter uma base o que nós fazíamos naquela época. Começava lá da Estação, já vinha subindo da quadra um até a quadra sete. Era coisa diferente. Bauru era coisa diferente. Chamava atenção. O Calçadão nosso, ficou, porque nós fizemos o Calçadão, um estudo que o Wallace Sampaio, presidente do sindicato, foi até Curitiba pra ver o Calçadão de Curitiba, pra ver como é que era lá, pra sentir o movimento que dava. E ele foi muito feliz pra passar essa ideia pro Izzo, viu? No entanto que era ________ (56:45) Calçadão, depois veio outra cidade, se não me engano, o Calçadão. Marília não conseguiu fazer, Franca fez um Calçadão simples, que eu conheço. E Campinas tem um Calçadão também agora, que antigamente não tinha. Mas o Calçadão, naquela época, ficou famoso. Os arcos que ele fez, tudo. Era uma coisa diferente. O Izzo foi muito feliz naquilo lá.
P2: Era o que eu ia perguntar, sobre os arcos, né? Como é que... o senhor sabe como é que foi pensado?
R1: É, foi estudo da... os engenheiros que trabalhavam na prefeitura naquela época, viu? Engenheiros, teve um decorador que veio, que projetou os arcos, as coberturas. Tinha um problema muito grande, que tinha que ter espaço pra Corpo de Bombeiro. Porque você sabe que o Calçadão tem espaço pra Corpo de Bombeiro. Todos, você pode notar que tem. Tem aquela parte central, que não é coberta, eles podem tirar aquilo lá pro Corpo de Bombeiro apagar um fogo num prédio, alguma coisa. Apesar que os prédios do Calçadão hoje, são baixos. Teve gente que demoliu prédio alto pra fazer a loja num... você pega a loja Jô Calçados, era um prédio de cinco andares, ele demoliu e fez um salão, que é mais prático, porque dá problema de entrada de pessoas do lado, tudo isso. Única coisa. E outra coisa: os Bancos, tinha Bancos lá. Na quadra dois tinha o Banco São Paulo, que depois ele foi comprado pelo Banco do Estado de São Paulo e todos os funcionários passaram pro Banco. Era ali na quadra dois também, bem em frente à Cisne Calçados de hoje. Você vê, mudou muito, né? Tinha Bancos. Tinha Banco... você quer ver? O Bradesco. O Bradesco era na quadra cinco ou seis, viu?
P2: Uhum. E quando o senhor também fala da questão dos viajantes, né? Tinha bastante daqueles que vendem de porta em porta, os mascates, os caixeiros viajantes? Era uma profissão...
R1: Ó, essa turma não entrava no Calçadão.
P2: Uhum.
R1: Porque era proibido. Esses picaretas que têm hoje no Calçadão, que teve vereador que votou pra fazer isso aí, esses caras, esses vereadores, mataram o Calçadão. Tem cara vendendo laranja, outro abacaxi, outro... se você chegar lá, é um absurdo aquilo lá. O Calçadão foi feito pro comércio. Só podia entrar pessoas que fazem bordado, essas coisas manuais. Como é que chama?
P1: Artesanato?
R1: Como?
P1: Artesanato?
R1: Artesanato. Era, só podia entrar artesanato. E agora você vai lá tem abacaxi, tem laranja, tem... você compra tudo ali, viu? Só picareta, viu?
P1: Ô ‘seu’ Orlando, voltando um pouco à época dessas promoções, né? É uma lembrança que eu tenho de infância, né, de comprar sapato escolar no começo do ano e pasta escolar.
R1: Era, vendia-se muito. Aí veio... entrou nesse período, depois veio a Jalovi, que montou uma loja, a Jalovi, que vendia muito a pasta escolar e começou a sair as sacolinhas, né? A...
P1: A mochila.
R1: As mochilinhas, tudo. O Jair trouxe muito pra Bauru, isso aí. Jair também era um cara esperto. Foi diretor nosso também no CDL, comigo. Mas vendia-se muito. Eu vendi muita pasta de couro pra criança, pra escola, aquelas pastinhas marrons. Viu? Você também? ((Risos)) Você comprou na Casa Burgo?
P1: É. ((Risos))
R1: Tinha. Nossa, a gente vendia. A gente comprava quinhentas pastas daquelas de couro, do Rio Grande do Sul. Eram baratinhas, viu? Uma pasta de couro daquela hoje está duzentos, trezentos reais. Isso em couro de segunda, né?
P1: É. E durava três, quatro anos, né?
R1: Ô, o pai já comprava um pouco maior, pra ele fazer o primeiro, segundo, terceiro, até o... às vezes até o quarto ano, viu?
P1: Ô, ‘seu’ Orlando, mas a gente tinha que ter uniforme, né? Então, a gente tinha que usar sapato preto.
R1: Não e você veio outro assunto bom. O Zé do Kuekão, foi um dos primeiros a lançar, a fazer uniformes em Bauru. Fez muito uniforme.
P1: Ah, é?
R1: Não do estado, porque já vinha lá de São Paulo pra cá, né? Mas essas escolas, aí o Colégio São José, São Francisco. O São Francisco era o Zé do Kuekão que fazia todos uniforme. Você vê e o Zé começou... era aquela lojinha ali, mas ele tinha, fora da casa dele, uma (talieira? 01:02:29) ali que ele fazia todos uniformes. Ele chegava a fazer ali... uniforme... setecentos, oitocentos uniformes pra São Francisco. Que minha filha lecionou lá, a Lúcia Lia, se aposentou lá no Colégio São Francisco. E ela era intermediária das freiras pra verificar os preços e o Zé sempre ganhava.
P1: Porque tinha que ter aquele casaco com a logomarca da escola.
R1: Tinha. Tinha. Uma pena, né? Hoje as escolas, a turma... não, o Colégio São Francisco e o Colégio São José têm uniforme hoje. Tem a camiseta e tem até... todas as escolas, né? As escolas particulares...
P1: Têm.
R1: ... todas elas têm, tem até a blusa de frio, que eles compram, que fica caro, viu, pra estudar numa escola daquela.
P1: É. ‘Seu’ Orlando e a forma de pagamento?
R1: Pagamento, naquela época, era fiado. Depois que veio o crediário. Porque nós montamos, eram umas fichinhas, a gente fazia... não sei se seu pai chegou a comprar com a gente, ele tinha o nome dele, o endereço, o telefone dele e... comprava na fichinha. Ia lá, comprava pra família, marcava, dava X lá, trezentos reais. “Ó, seu Burgo, eu posso pagar o senhor assim, trinta reais por mês. Pode?” “Pode”. Fazia já crediário. Mas tudo na fichinha, né? E hoje em Bauru tem lojas que têm a fichinha ainda.
P1: Ah, é?
R1: Tem. Tem. Não vou falar o nome, porque não pode. Porque, ((risos)) se falar o nome, a Receita Federal vai lá, porque não pode. Tem que ter crediário ou vender pelo cartão. Apesar que hoje, a venda por cartão é muito maior.
P1: Mais prático também.
R1 - Eu tenho loja de amigos que vendem produtos bom de roupa, é tudo com fichinha. Quer dizer, se você quiser comprar no cartão, é um preço; na fichinha, é outro. Por causa de imposto, né?
P2: E era, no caso, tudo na base da confiança, né? A pessoa.
R1: Ah, sim. Mas era só gente especial, viu? Que compra desse jeito aí.
P2: Uhum.
P1: E cheque? Era comum cheque?
R1: Cheque era comum. Todo mundo dava cheque, às vezes. Pré-datados, né? Ah, quando fechou o Santo Antônio, que o João fechou o Santo Antônio, supermercado, um dia, numa reunião do sindicato, nós estávamos conversando, o João chegou perto de mim, eu falei: “João...” - nós estávamos abrindo a cobradora do CDL - “você não tem cheque pré-datado lá que ninguém te pagou?”. Ele falou: “Orlando...”. Isso naquela época, hein? Que ele fechou, ele tinha mais de um milhão. Mais de um milhão naquela época. Ele deu tudo pro CDL receber pra ele. Aí, depois, o CDL, um dia, chegou o Jad. O Jad chegou, eu falei assim: “Ô Jad, você não tem cheque pré-datado lá que você recebeu, pra dar pro CDL?”. Ele falou: “Tenho”. Ele também deu. Aí falou: “Mas peraí”. Eu falei: “Ó, conversa com o João, que o João te explica”. O João falou: “Jad, pode fazer, que é dinheiro em caixa”. E a cobradora subiu, porque recebia. A gente chegava a receber sete, oito mil reais por mês do Confiança, de cheque perdido. Que passava tudo pro SPC, né?
P1: Uhum.
R1: Pegava... você pegava o cheque do cara e o negativava. E ele psssssst parava. Então, ele não podia comprar em lugar nenhum. Ele não podia dar cheque em lugar nenhum. Então, ele era obrigado a ir lá e pagar o cheque.
P1: O CDL que organizava o SPC?
R1: Era. O SPC era do CDL e o sindicato era o Wallace que... depois do Rasi... porque o Rasi queria que eu fosse o presidente do sindicato, eu não aceitei. E como o Wallace estava lá, eu falei: “Wallace, você vai entrar, você vai ser presidente do sindicato”. Ele falou: “E como que fica?”. Eu falei: “Eu estou com você. Eu sou o tesoureiro do sindicato há cinquenta anos”. Não precisa falar mais nada pra você. E só conheci três presidentes do sindicato: o meu pai, que ficou por um período curto e ele falou: “Filho, eu não quero, eu vou pôr você lá no meu lugar”. E o Rasi era o vice-presidente dele e o Rasi aceitou ficar e eu fui do lado, fui ser secretário do Rasi. E nós fomos embora. O Rasi construiu aquele prédio lá na avenida, tudo, no sindicato. O CDL, nós construímos dois prédios do CDL. A turma estudava ali, participava. Hoje, não participa mais não, viu?
P1: É mais difícil, né?
R1: Muito difícil. Muito difícil. Porque espalhou o comércio de Bauru. Se você sair nas vilas aí, você sai, o comércio... você vai na Vila Falcão tem comércio, você vai na (Altos da Cidade)_________ (01:08:40) da cidade então, sem comentário, né? Tem mais... derrubando casa lá, fazendo comércio. Isso aí eu não sei até que ponto vai. Que vai... se tem gente que vai aguentar tudo isso aí, principalmente nessa crise aí, que está acabando com o comércio. Você vai no Calçadão hoje, da quadra 1 à quadra 2, tem 27 portas fechadas.
P1: Vinte e sete?
R1: Vinte e sete. Tudo fechado.
P1: Mas isso foi por conta da pandemia ou já era um processo que estava vindo, ‘seu’ Orlando?
R1: Uma foi a pandemia e também o processo, né? Que não ajuda o comércio. Porque a pessoa não aguenta pagar o aluguel. O dono, o proprietário do Calçadão achava que ele era o máximo, ele queria aluguéis absurdos e acabou. Inclusive o meu prédio, eu negociei com ele, o que eu ia fazer? Eu falei: “Não, não tem problema” “Orlando, eu estou com a loja fechada, eu não posso te pagar. Como que eu vou te pagar aluguel, se eu não tenho?” “Não tem nada, vamos estudar. O que você quer?” “Ah, eu quero 50% de desconto”. Eu falei: “Tudo bem”. Aí abriu a loja novamente, começou a vender, todo mês ia subindo, até chegar no valor certo. Mas muitos aí que não fizeram isso aí... você vê, onde é a Tropical ali já fechou três lojas lá.
P1: Ah, é?
R1: Está fechado até agora, em frente à farmácia. Você vê, tem prédios grandes aí que estão fechados. Se você pegar lá perto do Raduan tem prédio, tem lojas fechadas lá. Sem contar a Primeiro de Agosto, que tem quadras que era Bancos ali que fecharam, estão tudo fechado ali, perto do Sampieri. Sampieri é tradicional também, viu? A Casa Sampieri. Só que, antigamente, eles vendiam materiais pra fábricas de calçados, o pai do...
P1: Ah, é?
R1: É. Quer dizer, o pai dele...
P1: Couro, né? A parte de couro, pra fazer calçado.
R1: Couro, couro. Vendia, vendia, o Sampieri...
P1: Pros sapateiros, né?
R1: É. Eu conheci. Eu conheci até o pai deles. Então, mudou muito, viu? Mudou. Infelizmente, mudou muito. A gente fica triste, viu?
P1: É.
R1: Que você chega lá e começa a ver todas aquelas portas fechadas... ali em frente à estação está tudo fechado. Você viu que derrubaram as... lá tem terreno vazio lá. Tinha um hotel, agora diz que vão derrubar o hotel. Ali era um hotel até bonzinho, um hotel ali que... da família lá do...
R2: Martha.
R1: Não bem, não é, não é esse. Ela está falando do Martha, mas o Martha também fechou. Não, o Martha tem... está até hoje funcionando.
P1: É um daqueles que estão fechados?
R1: Fora, fora. O Hotel Bauru fechou. Fechou o Hotel Bauru. E, se não me engano, vai fechar o outro, que é ali do outro lado também, que o Corpo de Bombeiro não aceita. Tem que mudar tudo, pra dar segurança pro cliente, né? Então, está mudando.
P1: Agora, o senhor falou uma coisa interessante, né? Assim, da pandemia, que o rapaz que está com a Casa Burgo hoje, negociou com o senhor, né?
R1: Foi.
P1: O valor do aluguel. Quais que seriam, então, assim, as lições, os aprendizados assim, desse período tão difícil que é a pandemia?
R1: Olha...
P1: Com essa experiência toda que o senhor tem assim, como que o senhor olha esses aprendizados?
R1: Olha, eu estou fora, não sei se você sabe, desde 2002. São 18 anos fora. E mudou muito. O calçado mesmo mudou que, olha, vou te contar: tem marcas famosas que são especiais, né? Você vai, que compra, né, conforto, tem o salto alto que as meninas usam. Mas isso aí não está mais no Calçadão. Você não encontra isso. Você tem que ir no shopping, você tem que ir numa loja especial, porque senão, você não encontra esse calçado. E as meninas usam mesmo, né? Mas a Casa Burgo tem. A Casa Burgo, até hoje, mantém isso aí. Eu vendi muito sapato de senhora, naquela época. E você vê, a família Martha comprava comigo, porque a Linda Martha usava... ela tinha um metro e... quase um metro e noventa de altura e ela usava 41.
P1: Nossa!
R1: E eu tinha que fazer... o Carrara que tinha uma fábrica em Jaú, era muito meu amigo, então o viajante chegava na minha loja, eu chamava a Linda. Falava: “Linda, vem aqui, entra aqui pra você escolher”. E ela escolhia sandália, tinha que ser baixinha, né? Que o marido dela, o Albino, não sei se você conheceu o Albino.
P1: Não, não.
R1: É, era um português. E ele era quase menor do que ela e ela tinha que mandar fazer tudo saltinho dois e meio. Dois e meio, três. Então, ela escolhia um modelo que desse certo no pé dela, que ela gostasse do modelo, ela comprava o mesmo modelo em cinco, seis cores. Então, cada vez que ela ia lá, ela escolhia dois, três modelos e ela comprava 15 pares de sapato.
P1: Ó!
R1: Mandava fabricar. A Linda, fiz. A esposa do Eliseu dos Santos usava 37 e meio, não podia ser 38 e não podia ser 37, que pegava um dedo que ela tem, um problema do pé. Eu também mandava fabricar pelo Carrara, os sapatos dela, da Linda. Então, quer dizer, tudo isso aí puxa o freguês, viu?
P1: Puxa, né?
R1: Eu trabalhava mais... trabalhei com muita marca famosa naquela época. Quem lançou o Passo Doble em Bauru fomos nós, quem lançou o Vulcabrás em Bauru fomos nós. Você vê, o Vulcabrás seu pai usou, né? ((Risos))
P1: Eu tive um. ((Risos))
R1: Você teve?
P1: Pra ir pra escola, pra ir pra aula.
R1: Uh! Tinha o Vulcabrás pra escola, sim.
P1: Solado alto, assim. Não era?
R1: É, o Vulcabrás.
P1: O solado alto. Durava assim...
R1: Durava. Os pais compravam porque ele durava mais de um ano. O Vulcabrás escolar tinha o de enfiar o pé e tinha o de amarrar, o escolar, da Vulcabrás. Mas vendia barbaridade.
P1: 752 da Vulcabras.
R1: É, o 752. ((Risos)) Você conheceu também, hein?
P1: Eu já sou antiga, ‘seu’ Orlando. ((Risos))
R1: É, mas não é muito, não. Dá impressão que você é bem... você é nova ainda, viu?
P1: Não, mas eu tive essa... eu tenho essas lembranças assim, essas memórias assim, de ir até à loja do senhor e... e eu lembro muito das pastas, assim, elas... meus pais compravam e era isso que o senhor falou assim: comprava pra família toda, um calçado pra durar o ano inteiro, tinha que durar, era só um.
R1: É.
P1: Era esse da Vulcabrás, porque tinha o solado, então não gastava sola.
R1: É.
P1: Ele tinha que durar o ano inteiro, até o pé crescer.
R1: E o Vulcabrás tinha uma vantagem: dia de chuva - se não chovesse muito, né? - você podia andar, que ele não molhava o seu pé.
P1: Não.
R1: Ele era impermeável. Então, dava pra usar tranquilamente na época de chuva.
P1: É. Ô, ‘seu’ Orlando e assim, alguns eventos de Bauru assim, que são, foram marcantes assim, o senhor lembra de alguma coisa?
R1: Ó, os eventos de Bauru, tinha aquele lá dos bois lá, como que chama lá? O... lá em cima, o...
P1: Ah... a exposição?
R1: A exposição. Era um evento que trazia muita gente de fora, principalmente pros hotéis.
P1: Hum.
R1: Os hotéis, enchiam os hotéis de Bauru, com muita gente, viu?
P2: ‘Seu’ Orlando, era quarto de milha?
R1: Vinha gente de todo lado pra ir na exposição. Nós íamos visitar a exposição. Nós tínhamos um prédio do sindicato, pra pôr lojinhas dentro da exposição, pra vender. Então, você vê como que era o movimento, era muito grande. Hoje, mudou muito também a exposição, né? Estou vendo você, Wilian, você está quietinho aí.
P2: Ah, eu ia perguntar, é... porque eu já ouvi falar que o nome era chamado quarto de milha.
R1: Como é que é? Ah, o quarto de...
P2: ... de Milha.
R1: Você diz as competições de cavalos.
P2: Isso. Que vinha muita gente aqui.
R1: Quarto de milha. Nós tínhamos isso aqui em Bauru também. Na Hípica teve, na Hípica, fazia... mas não trazia muita gente não, viu? Porque era disputa assim, de cavalos.
P2: Uhum.
R1: Então, ali vinha uma média de trezentas, quatrocentas pessoas. Era isso aí. Teve na Hípica. Depois da Hípica, eles saíram e agora está todo mundo no... lá na... mas também muito pouco. Você vê que você nem ouve falar, que era tudo cavalos especiais, né? Eram mangalarga, né?
P1: Ô, ‘seu’ Orlando e falando um pouco assim, mais da vida pessoal do senhor, né? O senhor casou? Como é que foi o casamento? Como é que é isso?
R1: Bom, eu casei...
P1: Filhos.
R1: Eu não gosto nem de falar em casamento, viu? Porque o meu casamento durou... primeiro casamento, 12 anos. Eu tive dois filhos: tive a Lúcia Lia e tive o Antônio. Antônio Burgo Neto. E depois, eu só os ajudei a estudarem. A Lúcia Lia estudou, se formou professora, em Biologia. Depois, o meu filho não estudou muito. E eu tive mais um filho, que hoje é engenheiro químico, está com 28 anos. Essa é a minha vida. Sou casado __ (01:20:33).
P1: Oi?
R1: Sou casado novamente, né?
P1: Muito bom. E eles não quiseram seguir o ramo de...
R1: É ruim ficar sozinho, viu?
P1: É ruim, né?
R1: É ruim ficar sozinho.
P1: Concordo com o senhor. ((Risos)) Mas eles não quiseram seguir a carreira aí de comerciante?
R1: O meu filho e a minha filha pegaram a loja, eu dei a loja pra eles montadinha, eles não conseguiram tocar. Infelizmente. Foram falhando, falhando, falhando, teimosos. Eu falava: “Filho, filha, a loja é 70% masculino e 30% feminino”. Eles começaram a ouvir viajantes. Viajante, cada um conta uma história. E o que aconteceu? Acabaram com a loja. É, mas é isso aí.
P1: Entendi.
R1: Filhos acabaram com muitas lojas em Bauru, viu? Não foi só a minha, não.
P1: Não tem aquele tino comercial dos pais?
R1: Não, não tem. Não tem. São teimosos. Eles ouvem quem não pode ouvir. Se você ouvir viajante, você fecha a sua loja. Você tem que ter o seu tino comercial, você tem que saber comprar pro povo, não pra você. Você está me entendendo?
P1: Não é o seu gosto.
R1: Então, nós temos que comprar pra todo mundo, não é comprar pra atender poucas pessoas. Tem que ser um comércio bem livre e que todo mundo se interesse em comprar na sua loja.
P1: É verdade.
P2: ‘Seu’ Orlando e também, como que era essa questão da logística assim, o senhor buscava sapatos onde? Como é que escolhia os sapatos?
R1: Bom, nós tínhamos sapato... depois de um tempo, isso já em 1965, começaram a aparecer os sapatos do Rio Grande do Sul, de Novo Hamburgo, de Campo Bom. Viu? De outras cidadezinhas, de fabricantes de sapatos maravilhosos de senhora. Eu fui umas sete ou oito vezes comprar sapato no Rio Grande do Sul. Que a gente fazia o negócio diretamente com o dono das fábricas, viu? Como Azaleia. O Azaleia foi muito famoso. O Dakota, outro sapato também que foi muito famoso. Mas já tem outros sapatos hoje que estão no lugar deles, que já foi a época deles, né? Não acreditaram nos pais também. Que foi o que aconteceu, foi isso aí. Mas o... nós íamos muito pra Franca também e Birigui, comprar sapato de criança. Que era ___ (01:23:42) da minha loja, né?
P2: Uhum.
R1: São Paulo a gente comprava só cromo alemão. Eu vendia muito cromo alemão, naquela época, era um sapato caro, mas eu tinha uma freguesia especial desse sapato de cromo alemão. Eu tinha freguês de Tupã, tinha freguês de Marília, sem contar o Orsi aqui, de Lençóis Paulista. A família Orsi, que eles têm uma indústria muito grande de macarrão, eles compravam comigo também. E Jaú, os próprios homens de Jaú vinham comprar cromo alemão comigo. Era a única loja que vendia cromo alemão. As outras lojas compraram pra vender e não conseguiram. Teve lojas que foram lá e me ofereceram pra trocar com mercadoria com eles, pra me dar o sapato de cromo alemão deles e eu passar outra mercadoria pra eles. Você vê como que é o comércio? Isso aconteceu. Ih, saiu do ar aqui.
R2: Deve ter acabado a bateria, não acabou não?
P1: Virou só. ((Risos)) Espera aí. Ele vai voltar. Acho que ele bateu a mão, né?
P2: É, porque saiu a câmera. Mas ele não desconectou. Está aqui, ainda. Acho que ele saiu, Cláudia.
P3: Saiu agora.
P1: Vamos ver se volta. Espera aí.
P2: Tem mais umas perguntas, né?
P1: É, porque não pode acabar assim. Deixa só ver se ela vai voltar. Estou pedindo pra ela uns dez minutos. Eu acho que ele bateu a mão. Vamos ver. Ela não visualizou ainda as mensagens. Muito bom, né, Wiliam?
P2: É, sim, excelente.
P1: Nossa, que delícia!
P2: Ele conhece muita coisa, muita coisa. Muito rico, né? Conhecimento dele sobre Bauru...
P1: Muito detalhe, né?
P2: Aham. Ai, Cláudia, você ajudou também com alguns nomes, né? Ele falou: “Está sabendo mais do que eu”. ((Risos))
P1: É que, assim, um pouco isso daí eu já li muito, né? Eu já li muito e um pouco também, assim, esse período mais anos 1970 pra 1980, é um pouco o que eu vivi também, né? Assim, algumas coisas eu lembro bem assim, de pincelada, mas outras, assim, eu lembro bem assim, bem forte.
P2: Tem algumas coisas que eu sei por causa do __ (01:29:20), em sala de aula.
P1: Uhum.
P2: Ele falava antes da Praça Rui Barbosa, né? Do Izzo, dessa redecoração toda da Batista...
P1: É.
P2: __ (01:29:32). Eu ia até perguntar, que eu fiz um trabalho sobre __ (01:29:37). Então, vai se encontrando, né, Cláudia, as narrativas.
P1: Acabou a bateria.
P2: Se tiver como pegar um outro celular, momentaneamente.
P1: Dez minutos, ela vai voltar. (risos)
P2: Caiu minha internet três vezes, eu não sei se você percebeu.
P1: Eu percebi. Eu esperei você voltar, estar com o microfone aberto, pra te passar a pergunta, que eu vi que você queria fazer a pergunta, mas é isso daí, é uma dinâmica, né?
P2: Sim, sim. Falei: “Se ela ver que eu apaguei tudo aqui, é porque alguma coisa deu errado”. (risos)
P1: É. Pode acontecer comigo também, entendeu?
P2: Sim, sim. É por isso que tem que estar preparado, mesmo, com as perguntas.
P1: Ele vai voltar. Deixa eu só combinar... não, ainda dá tempo. Está esperando, Caio, abrir aí, pra entrar na sala.
P3: Aceitei, já. Está falando que está entrando.
P1: Oba!
P3: Pronto, entrou.
P1: Voltamos.
R1: Voltamos.
P1: Voltamos. Vamos acabar, né? O senhor deve estar cansado.
R1: Não, não estou cansado não, estou sentado. O que você precisa mais?
P1: A gente estava falando um pouco assim, que eu falei pra Fernanda agora, né, pra gente começar a encerrar a entrevista, né?
R1: Então vamos.
P1: Então, assim, quais foram as grandes lições do comércio que o senhor teve, assim, na sua experiência toda, ‘seu’ Orlando?
R1: Olha, a experiência que eu tive, é que todo comerciante tem uma experiência muito grande na vida, porque o comércio ensina a pessoa em tudo. Tudo. Tudo que você pensar. Pra fazer negócios. Mesmo fora do comércio, você vai fazer negócio, ele ensina você. E outra coisa: a pessoa também tem que ter uma boa matemática, tem que ser inteligente. Antigamente, não tinha maquininha de somar. Hoje, você tem maquininha de somar, essas coisas. Hoje não tem mais. Hoje tem, só tem maquininha. Você fazia todo o processo, esse... só pela cabeça. Hoje, não. Então, a gente aprende muito. Matemática, principalmente. Até hoje, eu uso a matemática mais na cabeça do que outra coisa.
P1: É pensar rápido, né?
R1: Ô! Hoje, você vai em qualquer lugar, é maquininha. Vai somar dois reais com dois reais, é a maquininha.
P1: ((Risos)) E, assim, o senhor falou que o senhor deixou a loja faz 18 anos. Mas o senhor continua acompanhando a Casa Burgo?
R1: Eu continuo, estou lá quase... toda semana eu estou lá. Duas, três vezes por semana eu passo lá, dou uma olhada, que eu me dou muito com o dono, né? E ele quer que eu vá lá, porque ele fala: “Orlando, se você vê que tem alguma coisa diferente aí dentro, que não estão cooperando, você me avisa”. Mas, normalmente, os funcionários dele são bons, são trabalhadores tudo e...
P1: Como é que chama o atual proprietário, ‘seu’ Orlando?
R1: É Luiz... espera aí.
P1: Luiz.
R1: É Luiz, pronto. Você marca aí: Luiz, da Casa Burgo.
P1: ((Risos)) E o senhor...
P2: E ‘seu’ Orlando, e...
P1: Desculpa. Pode ir, Wilian.
R1: Eu vou fazer uma pergunta pra você. Eu vou fazer uma pergunta pra você agora.
P2: Oi.
R1: Você me pediu, eu tenho fotografias em casa, se você precisar, mas eu preciso escolher as fotografias também pra você levar.
P1: Sim. Vamos combinar.
R1: Viu? Pra você levar. Tenho cartões. Eu vou te contar mais uma: eu tenho título de eleitor do meu pai.
P1: É mesmo?
R1: A última vez que ele votou. Aqueles títulos grandes. Tenho até o título dele ainda. Tenho.
P1: Ai, que maravilha.
R1: Se você quiser. Ele foi o fundador, né?
P1: Sim, o fundador.
R1: É.
P1: Wiliam quer fazer uma pergunta, ‘seu’ Orlando.
R1: Fala pra ele que eu respondo.
P2: O atual proprietário, ele tem um ramo, né, da Casa Burgo Kids também, pra criança?
R1: Tem, tem. Tem, sim. Tênis pra criança, sapatinho pra menina, pra menino. Eles têm tudo isso aí hoje na Casa Burgo. Só que hoje é normal, toda loja tem tudo. Antigamente, existia uma loja em Bauru que chamava Casa Buri, só vendia artigo de criança. Hoje não dá mais. O Luiz tentou fazer isso aí, dono da Casa Burgo, ele precisou fechar e voltar a vender calçado novamente, normal.
P1: Entendi.
P2: Uhum.
P1: Deixa eu ver aqui: o que o senhor gosta de fazer assim, nas suas horas de lazer? Assim, a gente está um pouco em isolamento, é meio difícil. Mas o que que o senhor gosta de fazer assim, nas horas de lazer pra se distrair? Como hobby, passatempo?
R1: Ó, normalmente, eu jogava bocha.
P1: Ah!
R1: Eu gostava de ir na Hípica jogar bocha, bater papo com os meus amigos e gosto muito, às vezes, eu e minha esposa, nós saímos e bato muito papo com ela e assisto televisão. E gosto de jogo de futebol. Eu sou palmeirense, meu time esse ano está muito ruim, viu?
P1: ((Risos)) Maravilha. E, ‘seu’ Orlando, assim, pra gente encerrar mesmo, né, o senhor é conhecido assim, tem toda essa atuação junto ao CDL, ao Sindicato do Comércio, né, mas assim, o que o senhor achou, assim, de ter passado esse tempo com a gente, de ter gravado uma entrevista pro Museu da Pessoa, deixando registrada a sua história, a sua memória e a história da Casa Burgo?
R1: Ah, eu acho interessante, né? Porque vocês estão perguntando pra mim, que eu estou contando uma coisa pra vocês o que passou na minha vida porque eu, com todos esses diretores que eu tive, da Hípica, que eu fui presidente da Hípica também, presidente do CDL, sou tesoureiro do sindicato, fui diretor do Conselho de Bauru. Então, eu participei de tudo, graças a Deus, né? Pude participar. E de tudo que eu fiz, eu acho que eu fiz tudo direitinho, viu? Não errei nada, não. Viu? E sou feliz. Eu tenho uma mulher muito bacana, que me trata muito bem, me ajuda. Então, o que você quer, mais do que isso? Na minha idade, 89. É isso aí, está bom demais.
P1: Que maravilha, né?
R1: Isso. E quanto às fotografias, tudo isso, você me liga...
P1: Eu vou combinar com o senhor.
R1: ...a gente marca um dia, você vai lá em casa e escolhe.
P1: Tá bom.
R1: Tá bom?
P1: Tá bom. Então, assim, vou encerrar, pra gente combinar. Então, em nome do Museu da Pessoa, do Sesc de São Paulo, Sesc Bauru, eu e o Wiliam, nós agradecemos muito a participação do senhor no Projeto Memórias do Comércio. Foi muito importante esse olhar todo sobre o Centro de Bauru. Foi fantástico. Agradeço muito o senhor, viu, Orlando? E eu agradeço muito a Fernanda de ter ajudado tanto a gente a colocar assim, a entrevista pra andar mesmo, pra acontecer. Agradeço muito a ela, viu?
R1: Ah, sim. Ela é maravilhosa, viu? A Fernanda, nós precisamos arrumar, que ela está sem emprego. Nós precisamos arrumar um emprego pra ela. Você não me ajuda?
P1: Opa! Vamos ajudar. ((Risos))
R1: Fala pro Wiliam aí, dar uma olhada aí. Ela é formada como advogada, mas não pôde fazer a OAB porque até, agora, os concursos acabaram.
P1: Entendi.
R1: Mas ela precisa trabalhar. Viu? Precisa trabalhar. Ela trabalhava numa firma, saiu, porque a firma não pagava.
P1: É, aí não dá, né?
R1: É, não dá. Ela saiu e agora está... qualquer emprego que você achar. Se conseguisse aí no Sesc, então, seria uma maravilha, viu?
P1: Ah, vamos torcer, né? O Sesc é muito bom. Então, eu agradeço o senhor, viu, ‘seu’ Orlando e a Fernanda também, vocês foram maravilhosos. Obrigada mesmo, viu?
R1: Nada. E um abraço pra você, pro Wiliam e pro outro...
P1: Pro Caio.
R1: E agradeço também, né? Porque vai ficar uma lembrança minha.
P1: Vai.
R1: Não é verdade?
P1: Vai. Se Deus quiser vai sair o livro, vai sair a exposição mais pro final do ano, vai dar tudo certo. A gente vai conseguir se conhecer pessoalmente, né?
R1: Se Deus quiser.
P1: E aí, a gente vai ligar, pra ver essa questão das fotos, tá bom?
R1: Tá bom. Tá ok.
P1: Uma pessoa vai ligar pro senhor e vai combinar de pegar as fotos pra digitalizar e devolver. Tudo devolvido, eu prometo.
R1: Tá bom. Tá. Está combinado.
P1: Tá bom?
R1: Está bom.
P1: Então tá. Obrigada, ‘seu’ Orlando. Tchau.
R1: Tudo de bom. Um abraço, dá um abraço no Willian aí.
P1: Deixa eu tirar uma foto do senhor, espera aí.
P2: ‘Seu’ Orlando, eu gostaria de agradecer, que o senhor, desde o primeiro momento, me atendeu super bem, né, lá na loja, a gente tomou um cafezinho. Não sei se o senhor recorda, o ano passado.
R1: Lembro.
P2: (risos) Então, queria agradecer, né, pela participação e por, né, ter dado ali a entrevista na hora ali que eu estava passando também, ter disponibilizado seu tempo.
R1: Tá bom. Foi um prazer, viu, Wilian? Pode crer.
P1: Então, até mais, ‘seu’ Orlando.
R1: Até se ver.
P1: Até, se Deus quiser, né?
R1: Tchau.
P1: Tchau. Ah, está ótimo. Tchau, tchau, obrigada.
R1: Nada.
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