Projeto Memórias do Comércio de Ribeirão Preto 2020 e 2021
Entrevista de Robson Zioti
Entrevistado por Luís Paulo Domingues e Hérika Aguiar
Ribeirão Preto, 31 de março de 2021
Entrevista MC_HV032
Transcrita por Selma Paiva
Robson, pra começar eu queria que você me falasse o seu nome completo, a data de nascimento e o local que você nasceu.
R- Tá. O meu nome completo é Robson Zioti Machado, mas eu utilizo só Robson Zioti, devido a minha família Zioti, de italianos, chagar aqui em Ribeirão em 1898. Então eu sou bem conhecido como Zioti, né? Mas o nome completo é Robson Zioti Machado. Nasci no dia vinte e oito de janeiro de 1969. Então, portanto, tenho cinquenta e dois anos. Nasci em Ribeirão Preto, tá?
P/1- Legal.
R- Sou nascido e moro em Ribeirão Preto há cinquenta e dois anos.
P/1- Legal. E qual o nome do seu pai e da sua mãe?
R- O nome da minha mãe é Zenilde Zioti. E o nome do meu pai é Olívio Machado.
P/1- Legal. E os avós? Você conheceu? Conviveu com eles? Qual é o nome deles, também?
R- Eu conheci os meus avós maternos, né? Convivi com eles e conheci. Os avós paternos, eu conheci muito pouco. Eu era muito criança. E também conheci os meus bisavós maternos, a qual eles chegaram aqui em Ribeirão em 1898. Criança, eu tinha cinco, seis anos de idade quando eles faleceram, tá, os meus bisavós. Então, eu cheguei a conviver com os meus bisavós e meus avós maternos. Inclusive, aqui no restaurante tem uma foto gigante de toda a família Zioti. Não sei se você chegou a ver. Tem uma foto no fundo da pista lá, que são os filhos dos filhos. E uma foto aqui no café, dos Zioti que chegaram em Ribeirão, os filhos dos Zioti.
P/1- Certo.
R- Então, eu convivi com os meus avós maternos e bisavós maternos também.
P/1- E você sabe por que eles vieram pra Ribeirão? Eles vieram da Itália? Vieram trabalhar em Ribeirão? Arrumaram emprego? Como foi?
R- Bom, eu sou professor de História. Então, eu posso te dar uma orientação um pouco melhor.
P/1- Legal.
R- Os imigrantes italianos que vieram pro Brasil, nessa época, eram todos calabreses. Todos do sul da Itália: Calábria, Sardenha, ali. E você sabe que, diferente do Brasil, a parte pobre da Itália é o sul. Então, quem mora no sul é a parte mais pobre da Itália. Quem mora no norte é a parte mais rica. No Brasil é ao contrário: o sul é mais rico e o norte é mais pobre. Então, eles saíram da Itália, da Calábria e vieram pro Brasil em busca de uma melhoria de vida, porque eles eram muito pobres, né? Eles eram muito pobres. É a mesma coisa que comparar com os imigrantes nordestinos que vieram pra São Paulo, construir São Paulo. Os imigrantes italianos calabreses vieram pro Brasil, pra construir também, o Brasil. Eles vieram do sul da Itália, da Calábria.
P/1- Legal. Calábria. E eles foram morar em fazendas de café? O que eles foram fazer?
R- Então, quando eles chegaram em Ribeirão Preto, eles chegaram no porto de Santos e vieram pra Ribeirão Preto pra trabalhar na lavoura de café. Porque nesse período, a mão-de-obra escrava foi substituída pela mão-de-obra assalariada, no caso, italiana. E não tinha muita diferença, né? (risos) Era uma escravidão também. Você só recebia o dinheiro. Mas você recebia o dinheiro, você tinha que pagar pra morar, comer e se vestir. Você trabalhava a troco de nada, como os escravos. Então, eles vieram pro Brasil, no caso pra Ribeirão Preto, pra trabalhar na lavoura de café. Não podemos esquecer que, em 1890 alguma coisa, Ribeirão Preto era o maior produtor e exportador de café do planeta Terra. Então, eles vieram pra trabalhar na lavoura de café, pra substituir os escravos. Eles iam trabalhar na lavoura de café. Quando eles chegaram em Ribeirão Preto, alguns foram trabalhar na lavoura de café e o meu bisavó Cesário Zioti foi morar na Vila Tibério e lá ele comprou umas terrinhas e começou a plantar hortaliças. Então, ele era um “chacreiro”. Ele tinha uma chácara de hortaliças: alface, couve, essas coisas todas. Era um chacareiro. Na época, chamava chacareiro. Ele veio morar na Vila Tibério, ali na Rua Bartolomeu de Gusmão, que hoje, seguindo a Rua Bartolomeu de Gusmão, é a Rua Paranapanema. Lá em cima da Paranapanema todos os imigrantes italianos foram morar lá, que chama-se Travessa Nossa Senhora Aparecida, mas os mais antigos chamam de “corredor dos calabreses”, porque só morava calabrês lá. Então, quem vinha da Itália ia pra lá, pra Ribeirão Preto. Italiano, imigrante italiano, onde eu vou morar? Vila Tibério, corredor dos calabreses, que é uma travessa da Paranapanema, que hoje chama Nossa Senhora Aparecida. Mas é conhecida, os antigos, como corredor dos calabreses. E aí eles compraram as terrinha deles e ficaram plantando hortaliças e foram seguindo a vida deles, né?
P/1- Sei. Eu estudei bastante isso aí, sobre a história de Ribeirão. A Vila Tibério foi loteada pra esses que já tinham um dinheirinho, né, pra comprar uma chacrinha, né?
R- Sim.
P/1- Legal.
R- Quando você chegava de trem em Ribeirão Preto, na estação Barracão, as famílias se dividiam. Um pouco ia pro Ipiranga, um pouco pra Vila Tibério e um pouco pra Vila Virgínia. Tanto é que o meu bisavó tinha um irmão, o Olívio - o nome do meu pai, coincidência, não tem nada a ver, Olívio Zioti – foi pra Vila Virgínia e o Cesário Zioti foi pra Vila Tibério. Então, tem dois clãs de Zioti: os Zioti da Vila Virgínia e os Zioti da Vila Tibério. Por quê? Porque os nossos bisavós, no meu caso, foi pra Vila Tibério e o outro foi, o irmão do meu bisavô, pra Vila Virgínia. Então, esses três bairros eram os bairros que os colonos iam chegando, iam morando, porque é próximo da estação Barracão.
P/1- Verdade. E você teve bastante coisa italiana na sua vida, quando você era criança? Comida, música italiana? Eles mantiveram?
R- Ah, sim. Não muito italiano, porque eu lembro, quando eu era criança, que a minha bisavó e a minha avó, que é viva até hoje, tem noventa e cinco anos e a irmã da minha avó tem cento e cinco, foi feita uma entrevista com ela, aqui em Ribeirão Preto, que é a pessoa mais idosa de Ribeirão Preto é a minha tia Lúcia, que é irmã da minha avó materna, tem cento e cinco anos. E eu lembro, quando eu era moleque, na casa da minha mãe, da minha avó, na casa do meu bisavô, quando saíam umas discussões, eles discutiam em italiano. Por quê? Porque saía a emoção, né? Eles estavam aprendendo o português. Então, aquelas discussões, com aquelas palavras que eu não conhecia, né? Eu falava: “Mas o que está acontecendo? Eu não estou entendendo nada”. Eles falavam italiano. E uma coisa muito interessante da Vila Tibério e dos italianos, que hoje está se acabando, é almoçar em família. Todo italiano que se preza, domingo é o dia de almoço com a família. Isso está se perdendo. A Vila Tibério, por ter uma colonização italiana, os vizinhos sentavam nas calçadas pra ficar batendo papo, um vizinho com o outro. Isso já está acabando, porque hoje, se você ficar na rua, você é assaltado. Então ainda tinha, eu lembro, olha que coisa interessante: quem cuidava de nós, eram os vizinhos. Então, às vezes, as nossas mães iam trabalhar, a minha avó cuidava da gente, ou então os vizinhos cuidavam. Porque era tudo italiano. É uma coisa muito interessante, que se perde hoje, na modernidade das famílias. Você não vê isso. Às vezes, você mora num prédio, você nem conhece o seu vizinho. Na Vila Tibério todo mundo sentava na calçada, batia papo, ficava até tarde da noite. As crianças eram cuidadas pelos vizinhos. Era uma comuna italiana, que a gente falava, né? E a massa também, né? Eu adoro nhoque. Adoro macarrão. Adoro lasanha. Todo italiano que se preza adora isso, né?
P/1- É verdade. E você nasceu lá na Vila Tibério? Que bairro você nasceu?
R- Nasci na Vila Tibério. O bairro é Vila Tibério. Eu nasci na Rua Epitácio Pessoa.
P/1- Na Rua Epitácio Pessoa.
R- Eu nasci na Rua Epitácio Pessoa, perto da Avenida do Café, na Vila Tibério.
P/1- Sei. Onde vai pra USP, lá.
R- A Avenida do Café tem esse nome por causa que era a avenida que levava nas fazendas de café, que hoje é a USP, né?
P/1- Sim.
R- A Faculdade USP de Ribeirão Preto era a antiga Fazenda Schmidt. Então aquele corredor era chamado Avenida do Café, só tinha café ¬¬cortado. E eu nasci ali.
P/1- Você pegou essa época, ainda? Tinha um pouco de fazenda de café quando você nasceu?
R- Eu nasci em 1969. Não. Já não tinha mais. Já tinha, já vinha a modernidade, já. Então eu não peguei. Essas fazendas de café já não são da minha época. As fazendas de café foram até meados de 1930, quando teve o crash da Bolsa, em 1929. Então essas fazendas perduraram aí até 1933, 1934. Depois veio a Segunda Guerra. Então, se você era italiano, tinha que tomar cuidado, suas coisas eram confiscadas, né? Porque a Itália fazia parte, contra os aliados, na guerra. Então, você tinha que tomar cuidado. Eu lembro que os meus avós contavam isso, né? Então, eu nasci em 1969, não peguei essa parte, não.
P/1- Tá legal. E o seu pai e a sua mãe faziam o que, profissionalmente, assim?
R- Meu pai tinha uma profissão muito interessante que, infelizmente, ele não seguiu. Eu deveria ter seguido. Vidreiro. Sabe o que é isso, ou não? Sabe o que é vidreiro?
P/1- Mais ou menos. Especialista em vidro?
R- O que é o vidreiro? O vidreiro, você põe o vidro no forno, derrete. Aí você pega o vidro e vai assoprando um cano. Você assopra o vidro. Ele, mole. Aí faz garrafa, copo, jarras, castiçais. Tudo no sopro. É uma arte muito interessante, que infelizmente o meu pai não seguiu, se adoentou, né, tal. E acabou não seguindo a profissão que eu deveria seguir. Então, é uma profissão extinta. Hoje, quem consegue fazer essa profissão é bem específico: vidreiro. Você faz uma garrafa, você faz objetos de vidro no sopro, né? Você pega o cano assim e vai soprando e vai moldando, o vidro vai moldando. É uma coisa muito interessante. E a minha mãe trabalhava numa fábrica de malhas, né, na época. Era uma fábrica de malhas, né, vestimentas, de roupa. Ela saía cedo pra trabalhar. O meu pai saía cedo pra trabalhar. E eu era criado com a minha avó materna, a minha avó Genoveva, a famosa Gina, está com noventa e cinco anos, hoje.
P/1- Que legal. E como é que foi a sua infância lá na Vila Tibério? Assim, como era o ambiente? Devia ser muito diferente de hoje. Eu conheci a Vila Tibério, eu fui andar por tudo, lá.
R- Totalmente. Totalmente diferente.
P/1- Como era?
R- Você ficava na rua das sete da manhã às sete da noite, na época de férias. Não tinha problema. Não tinha assalto, não tinha morte, não tinha nada. Eu lembro quando eu era moleque, no colégio, eu estudei no Colégio Hermínia Gugliano, também na Vila Tibério. Eu lembro que, não sei se você se lembra, pra apontar lápis, o pessoal pegava, desmontava o apontador, pegava a lâmina, pegava uma caneta Bic, esquentava no fogo e punha aquela lâmina pra apontar o lápis. Quem tinha um negócio daquele na escola era um bandido, né? Se você aparecesse com um canivete, então, nossa Senhora! Era o máximo que nós tínhamos, né? Era esse negócio de apontar o lápis e um canivete, que alguém aparecia. Então, era uma infância bem legal. Eu era bem pobre, né? Muito pobre, de família muito pobre, assim como toda a maioria de imigrante italiano. Eu comecei a trabalhar muito cedo. Eu comecei a trabalhar com o meu tio-avô, que era irmão do meu avô Zioti, o famoso Mangueira. Vicente Zioti, vulgo Mangueira. Ele tinha uma oficina de funilaria. Olha que coisa louca, como as coisas passam na vida da gente! Ele era um mestre em funilaria. Ele era um artesão. E hoje, quem tem esse dom de ser artesão, você pega aí nos programas Discovery, History Channel, aquele pessoal reformando carro, transformando carro. O meu tio Mangueira, o Vicente Zioti, tinha esse dom como ninguém. E eu cheguei a trabalhar com ele. Eu comecei com doze anos de idade. Eu comecei a trabalhar muito cedo. Também não segui essa profissão. Deveria ter seguido, porque se eu sigo essa profissão de funileiro, hoje, talvez, quem sabe, eu seria um ícone da funilaria, assim como Cheep Foose, que você vê por aí, o _______ (19:08) do Joias sobre Rodas. Mas eu não segui a profissão. Era uma profissão muito pesada, muito difícil pra uma criança de doze anos, né? Eu lembro que eu entrava na escola à uma hora da tarde. Eu trabalhava das sete da manhã ao meio-dia, mais ou menos e entrava na escola à uma da tarde. Então, eu tive uma infância muito pobre. Eu comecei a trabalhar muito cedo. Mas embora a infância fosse pobre, era uma infância gostosa. A gente jogava bola na rua, jogava bets na rua. O dia inteiro jogando bola no terreno baldio. Com chuva, com sol, jogava bola na rua, bets, andava de bicicleta, andava de carrinho de rolimã. Então, embora uma infância muito pobre, mas uma infância que me traz boas recordações.
P/1- Sim. E tinha brincadeiras, assim, jogos que não existem mais? Porque bets ainda existe, que eu sei. Bets, eu joguei.
R- Bets ainda existe. Ah, tem uma coisa, não sei se existe ainda: namoro no escuro. Você lembra disso? Ou não?
P/1- Não. Isso não.
R- (risos) Era o seguinte: todo mundo ia brincar, os vizinhos iam brincar. A molecada ficava ali, ficava namoro no escuro. Então fazia uma fila de meninas e os meninos. Aí, ia lá, tampava a vista: “É esse?” “Não” “É esse?” “É” “O que você quer dele?” “Um beijo de azeitona” “Um beijo de uva”. Ou era beijo no rosto, beijo na boca. Eu lembro muito bem disso. E engraçado, que legal, a gente sempre tinha aquela paquerinha, né? Então, quando você ia pra fila, que a pessoa punha a mão nos seus olhos, a hora que chegava naquela pessoa que você queria, a pessoa te dava um cutucão assim, ó. Dava um cutucão, aí você falava assim: “É essa”. Aí ia lá e abraçava ou beijava, né? Eu não sei se a molecada de hoje faz isso. Uma outra brincadeira também que eu lembro, brinca de escola, né? Nós fazíamos as brincas nas garagens. E sempre o mais feio... eu sei porque eu era tortinho, feinho, desgraçadinho, né? Muito pobre. Hoje eu sempre falo, né: “Não existem pessoas feias. Existem pessoas pobres”, né? Então, eu era muito pobre: dente torto, calça pula brejo. Então, a gente ia nas brincadeiras e o pessoal começava a dançar. E tinha um que ficava com a vassoura. Não sei se você lembra disso.
P/1- Sim.
R- Ficava com a vassoura. Então você pegava: “Eu quero dançar com aquela menina”. Você pegava a vassoura, dava pro cara, pro moleque. O moleque ficava com a vassoura e você começava a dançar com aquela menina. Também não vejo mais isso, também. Bets. Carrinho de rolimã, não tem também carrinho de rolimã. Pique esconde. Não vejo a molecada brincar de pique esconde. Não vejo a molecada brincar de namoro no escuro. Não vejo a molecada brincar com a vassoura nas brincas de canção. O que mais que nós brincávamos? É. Era isso daí.
P/1- Búricas? Essas coisas? Búrica, você é da época?
R- Búrica?
P/1- É. Aquele negocinho...
R- Ah, bolinha de gude também, né? Bolinha de gude. Jogava bolinha de gude na rua, né? Travessa Maracanã é onde a gente jogava as bolinhas de gude, nossas. O que é búrica?
P/1- Búrica é uma bolinha de gude. Aqui em Bauru chama búrica.
R- Ah, tá. Eu conhecia como bolinha de gude. Joguei muito. Joguei muito.
P/1- Robson, e nessa época era tudo asfaltado já, a Vila?
R- Não.
P/1- Tinha muito paralelepípedo, né?
R- Não. Na Vila Tibério era tudo terra.
P/1- Ah, era terra?
R- Onde eu morava era terra. Não era paralelepípedo, não. Paralelepípedo era aqui no Centro da cidade. Os bairros nobres eram tudo paralelepípedo. Inclusive a Nove de Julho, é uma briga aqui na cidade pra se revitalizar a Nove de Julho e colocar paralelepípedo. Quiseram, um vereador aqui, colocar asfalto em cima do paralelepípedo da Nove de Julho. Pô, você vai matar a história da cidade, né?
P/1- É verdade.
R- Então, na Vila Tibério, eu me lembro que era terra. Quando deixou de ser terra, veio o asfalto. O paralelepípedo é antes do asfalto. Então, o paralelepípedo é no Centro, nos bairros mais nobres. Nessa época ou era terra, ou era asfalto.
P/1- E na escola, como era? O seu dia-a-dia, assim, você acordava, você ficava solto na rua? Ou ia trabalhar e depois ia pra escola? Como foi a sua vida na escola?
R- Veja, no meu caso, eu levantava cedo, ia trabalhar na oficina do meu tio, depois eu ia pra escola. Houve épocas que eu não trabalhei mais, que eu só fiquei estudando. Então, você ia ou de manhã, na escola, né? Quando era bem criança. Eu entrei na escola com sete anos. Então eu lembro até hoje: eu acordava cedo, ia pra escola, né? Saía da escola, ia pra casa almoçar, assistir os Flintstones, que passava na TV, o Scooby-Doo, aquelas moças que se vestiam de onça, que eu vou lembrar... Josie e as Gatinhas. Urso do Cabelo Duro. E assistia isso daí. E à tarde, nós íamos jogar bola ou andar de bicicleta. Era o que nós fazíamos. A molecada toda na rua. Ia dormir dez horas da noite. Andava só descalço e camisa, de shorts. Ia dormir, eram dez horas da noite. Não tinha assalto, não tinha nada dessas violências, absolutamente nada. Era uma infância muito legal.
P/1- Certeza. Essas memórias do passado, todo mundo fala isso. A infância era muito mais livre, mais solta.
R- Muito mais. Muito mais. Muito mais. Eu vejo essa molecada de hoje, dá dó. Dá dó.
P/1- Verdade. E o pessoal todo torcia pro Botafogo, lá? Porque não era ali, o Botafogo?
R- Quem era da Vila Tibério, era botafoguense. Tinha as exceções. Olha que coisa louca: a minha mãe não era botafoguense, ela era comercialina. O Comercial foi um clube fundado pelos comerciantes da cidade. E a minha mãe, nascida na Vila Tibério também, em vez de ser botafoguense, era comercialina. Não dava pra entender. E quem nascia na Vila Tibério também, quem morava na Vila Tibério era tudo italiano, tinha que torcer pra quem? Pro Palmeiras. Eu e o meu avô éramos os ‘ovelhas negras’, nós torcíamos pro Corinthians. Então olha que coisa louca: nós éramos, eu, no caso e o meu avô Mário, italianos, mas éramos diferentes, porque nós torcíamos pro Corinthians. Enquanto que todo mundo na Vila Tibério, que era base italiana, torcia pro Palmeiras. E todo mundo na Vila Tibério torcia pro Botafogo. Inclusive eu também torcia pelo Botafogo. Eu lembro que eu era moleque, eu ia no campo do Botafogo, que hoje está largado, parece que foi leiloado, está largado, dá dó. Dá dó, né? O Botafogo fica entre a Doutor Loiola e Santos Dumont, Epitácio Pessoa e Paraíso. Esta lá, onde era o estádio do Botafogo, está lá a arquibancada, até hoje e tal. Eu me lembro que eu ia ver os jogos. Eu era muito criança. E, geralmente, quem nasceu na Vila Tibério, era botafoguense.
P/1- Legal.
R- Eu sou botafoguense até hoje, né?
P/1- Continua, né? Continua.
R- É. Eu sou botafoguense até hoje.
P/1- Mas agora tem um estádio moderno, né, novo, do outro lado da cidade.
R- Sim, agora tem o estádio do Botafogo, que fica na Costábile Romano. Inclusive com um bar. Agora, com essa pandemia, está meio indeciso se vai abrir de novo o bar, ou não. Mas tem um bar. Hoje tem o estádio do Botafogo na Costábile Romano. E tem dois bares ícones: um chama Seo Tibério, em homenagem a Vila Tibério, em homenagem ao Botafogo, que nasceu na Vila Tibério. E tem o Hard Rock Café. Eu acho que é o único Hard Rock Café do interior do Brasil. Fica no estádio do Botafogo, na Costábile Romano. Legal isso, né?
P/1- Legal.
R- Legal. É.
P/1- Eu passei na frente, mas eu nunca entrei. Já passei várias vezes na frente, mas nunca entrei.
R- No estádio?
P/1- No estádio.
R- O estádio é muito legal, moderno, bacana, um gramado espetacular. O Comercial também tem estádio. Aí fica aquela rixa. Eles chamam o estádio do Botafogo de buraco. E nós chamamos o estádio do Comercial de galinheiro. Então, fica essa rixa aí. Mas tem o estádio do Botafogo e tem o estádio do Comercial, ainda, né? E agora, com o bar Seo Tibério e com o Hard Rock Café no estádio do Botafogo.
P/1- Que legal. E na escola? Na escola, você já gostou de alguma matéria que já te deu um norte sobre o futuro? Gostou de alguns professores? Como é que foi a escola pra você? Era naquela escola...? Eu passei na Vila Tibério, numa escola linda, que fica na frente de uma praça. Antiga.
R- Aquela é a Sinhá Junqueira. Eu estudei lá, um ano.
P/1- Aquela é outra?
R- É. Eu estudei lá apenas um ano. Por quê? Da primeira série até a quinta série eu estudei no Hermínia Gugliano, que eu estudava de manhã. A sexta série ia ser à noite. Aí a minha mãe não queria que eu estudasse à noite. Aí eu fui transferido pro Sinhá Junqueira, aquela escola maravilhosa que você viu, em frente à praça. Uma escola espetacular. É assim: a arquitetura dela é magnífica. Você viu lá. Assoalhos de madeira. Eu estudei apenas um ano nessa escola. Foi a sexta série que eu estudei, nunca me esqueço. No Hermínia Gugliano, da Vila Tibério, tinha o senhor Rafael, que era um professor de Matemática espetacular; o senhor Lara, professor de Português. O Lara, o Rafael, o senhor Flauzino, professor de Geografia. E aí eu fui transferido pro Sinhá Junqueira. Sempre fui bom aluno. Nunca tirei uma vermelha na minha vida, uma nota baixa, vermelha. Nunca bombei de ano. Nunca fiquei de recuperação. Sempre, sempre fui bom aluno. Porque eu enxergava que a única maneira de ser alguém na vida e deixar de ser pobre é o estudo. Eu penso isso até hoje, tá? E foi no Sinhá Junqueira que eu aprendi a gostar de livros. Lá tinha uma biblioteca muito legal, no Sinhá Junqueira. E eu nunca me esqueço, o primeiro livro que eu peguei pra ler chamava-se O Gênio do Crime. Rapaz, depois que eu li esse O Gênio do Crime, eu peguei um gosto pela leitura! Eu devorava um livro por semana: A Montanha Encantada, A Mina de Ouro, O Caso da Borboleta Atíria, O Gênio do Crime. Todos os livros de Yago Avenir dos Santos, que é Missão Perigosa: em Paris, em Tóquio, Bahamas, Nova Iorque, em Roma, em Paris. Todos os livros de Yago Avenir dos Santos, eu já tentei procurar esses livros, não encontro mais. Então, eu gostava. Eu era um bom aluno na escola e sofria muito com isso. Bullying que essa molecada sofre hoje? (riso) Tadinho deles. Eles não sabem o que é bullying. Porque hoje, você sofre bullying na escola, você chega em casa, a mãe vai lá brigar, fazer um escarcéu. Quando você sofria bullying na escola, na minha época e não tinha essa palavra bullying, você tinha que aguentar as pontas. Se chegava em casa e reclamava com a mãe, você apanhava da mãe, entendeu? Você apanhava da mãe. Esse negócio de bullying, quando eu vejo bullying eu lembro da minha infância. Rapaz, como eu sofria. Por quê? Olha que coisa louca: como eu era bom aluno, eu nunca repetia de ano. Só que eu chegava numa hora que tinha repetentes. Então, você imagina eu, com treze anos, estudando numa sala de aula com meninos de quinze. Dois anos de diferença, quem tem treze e quem tem quinze, é muito grande a diferença. De tamanho, de físico, de tudo, né? Então eu sofria muito bullying. Não era bullying, tinha outra palavra. Não era bullying, era outro nome. O pessoal ‘pegava no pé’, judiava. Chegava no recreio: “Dá um “peda” aí”. Você tinha que dar um “peda”. O que é “peda”? Um pedaço do seu lanche. Se você não desse, você apanhava, entendeu? Vou repetir, de novo: se você não desse um pedaço, uma “peda”, os marmanjões – marmanjão que eu falo é de quinze anos, eu tinha treze, ele tinha quinze – se você não desse, você apanhava dentro da escola lá, porque não tinha conversa não, tá? E outro bullying que a gente sofria, que não era bullying o nome... lembre-se que nessa época você tinha uma miscigenação muito grande de alunos: o filho do lixeiro, o filho do pedreiro, o filho do médico, estudavam todos em escolas públicas. Porque quem estudava em escola particular, tinha um jargão que tinha que carregar: “Papai pagou, passou”. Olha que coisa louca! Como mudaram as coisas hoje, né? Hoje a escola pública está um estrago, está totalmente desprestigiada. E a escola privada, hoje, é o que há, né? Mas na minha época, então, por estudar muitas pessoas de várias classes sociais, você sofria bullying. Bullying de poder econômico. Eu lembro até hoje qual era o tênis que eu usava. Inclusive, tem até um aqui na parede, aqui de exposição, aqui no restaurante: kichute. Não sei se você lembra disso, o kichute?
P/1- Lembro.
R- Lembra do kichute? Lembra da Conga? Do Bamba?
P/1- Sim. Eu tinha também.
R- O Le Cheval? O rico usava Le Coq Sportif. O pobre usava Le Cheval. Então, sofria-se muito bullying econômico. Porque você tinha que usar a sua calça até não acabar mais. Hoje é assim, né: “Ai, mamãe, ficou um pouquinho...” _______ (34:04), tá? Eu estou só fazendo um teatro aqui: “Ai, mamãe, papai, a calça está apertada”. Vai lá e compra duas. Não, filho. Na nossa época, você tinha que usar a calça até não caber mais. Hora que ela não abotoava, ou a hora que ela ficava no meio das canelas, não te servia mais. Só assim você podia ter outra calça. Não tinha dessa não, filho. Então, você ia pra escola de kichute, tá, com as calças no meio da canela, o dente torto, porque não tinha aparelho. Só rico tinha aparelho nessa época. Então, você era chamado de Mazzaropi. Eu sofria tanto bullying. (risos) Meu apelido era Mazzaropi, por causa da calça curta, dente torto, entendeu? E usava conga. Usava conga que, quando eu ia jogar na quadra, no sol, o cimento da quadra era tão quente e o solado da conga era tão fino, que queimava o seu pé. Você tinha que molhar a conga na torneira pra jogar com a conga molhada, na quadra, pra não queimar os pés. Você acredita nisso?
P/1- Acredito.
R- Então, eu tenho boas lembranças da escola. Foi nessa época que eu vi... eu estudei muito, era um excelente aluno. Só tirava notas boas, tal. E eu estudei na escola do Hermínia Gugliano. E no Sinhá Junqueira, aquele que você viu, frente à praça. Foi lá que eu aprendi a tomar o gosto pela leitura. E hoje eu sempre falo - eu sou formado em História, eu sou professor também de História - pros alunos: “Se você quer escrever bem, se você quer falar bem, se você quer ter um bom conhecimento, leia. Leia. Leia o que você goste, pra você pegar o gosto pela leitura. Depois você parte pra uns negócios mais chatinhos. Mas leia o que você goste”.
P/1- Sim. E aí na escola, você foi até o terceiro colegial trabalhando com o seu tio? Tio-avô, né?
R- É. Mas eu tive vários empregos, tá? Eu tive vários empregos. Eu trabalhei com o meu tio-avô na funilaria, até os treze, catorze anos. Depois eu trabalhei como feirante com a minha prima Ivete, que é neta dessa tia Lucia, que tem cento e cinco anos, hoje. A Ivete. Na época que as feiras livres eram muito famosas, muito cheias de gente. As feiras estão acabadas, né? Então, eu trabalhei como funileiro, como feirante e como, depois, eu virei guardinha, aquela guarda mirim. Aí, quando eu comecei a ficar mais velho – mais velho, que eu falo, é catorze, quinze anos - eu comecei a trabalhar no Banco, tá? O extinto Banco Auxiliar, que é uma história muito interessante como eu consegui o emprego. Rapaz, eu fico vendo essa molecada, hoje. Essa molecada não pega um ônibus. Eu, com treze anos, punha uma bolsa debaixo do braço, com o RG, eu ia procurar emprego, com treze anos de idade. Hoje, essa molecada não pega ônibus. É inacreditável. Então, nesse trabalho eu fui até o colegial, tá, até o terceiro colegial. Eu lembro que eu estudava no Industrial, que era uma escola de curso técnico. Eu saia às sete horas da manhã, ia pro Banco, trabalhava até às cinco da tarde. Entrava na escola às seis horas e saía às onze e meia. Chegava em casa à meia-noite e cinco. Eu até brincava: eu saía um dia e voltava no outro, né?
P/1- Sim.
R- Então, no meu estudo, eu estudei até a oitava série nas escolas da Vila Tibério. Depois da oitava série, eu comecei a me aperfeiçoar no trabalho, eu já era bancário. Aí eu fui fazer - eu estudei no Cônego Barros, aqui no Centro e na Escola Industrial, no Campos Elíseos - um curso de arquitetura. A época que você desenhava casa na régua T, no esquadro e na aranha. Hoje, você faz os desenhos arquitetônicos no computador. Você põe lá as medidas, o computador faz tudo pra você. Eu sou da época que fazia na régua T. Então, eu estudei no Industrial...
P/1- Esse era curso técnico, de Arquitetura?
R- Curso técnico. Aí faltou - como a minha mãe era uma pessoa muito humilde uma orientação pra que eu fizesse faculdade nessa época. Porque aí, quando eu terminei o colegial, eu era jovem, trabalhava no Banco, aí eu fui curtir a vida, né? Eu ganhava bem. Bancário, naquela época, era top. Então, eu fui curtir a vida. Deveria ter feito faculdade, se eu tivesse uma orientação melhor. Mas eu não tive, infelizmente. A minha mãe é uma pessoa muito humilde. Aí, eu fui fazer... eu fui só trabalhar e não fiz faculdade. Fui fazer faculdade, comecei a fazer em 1994, no Moura Lacerda. Fiz Economia, não dei conta, porque eu não tinha aptidão para Exatas, né? Eu tenho aptidão pra Humanas. Mas pra Exatas eu não tenho. Aí chegou na Matemática Aplicada I, II, III, IV; Estatística I, II, aí a água foi pro brejo, né? A vaca foi pro brejo. Não terminei o meu curso de Economia. E entrei na faculdade de História. Me formei na faculdade de História em 2006. Então, eu fui fazer faculdade depois dos meus trinta anos, tá? Então, até aí eu estudei em escolas da Vila Tibério.
P/1- A História você fez na pública ou privada?
R- Na escola privada. Porque eu tinha que trabalhar, né? Alguém tinha que pagar a faculdade, né? Então, eu tinha que estudar e trabalhar. Nessa época eu já tinha o restaurante. Porque o restaurante, nessa época, foi um caso à parte, tá?
P/1- Sei.
R- Eu fiquei no Banco até 1990. Em 1990 eu saí do Banco. E em 1990 eu entrei no ramo do comércio. Eu tinha uma lanchonete que chamava Brazil com Z. A fachada era verde, amarela e azul. E a calçada era azul, cheio de estrela branca. Chamava Brazil com Z. Uma referência ao Brazil com Z lá fora, aqui com S, lá fora com Z, então eu fiz uma analogia. Então, em 1990 eu entrei pro comércio. Eu comecei a fazer, a ter essa lanchonete Brazil com Z. Depois eu montei o primeiro restaurante por quilo em Ribeirão Preto, em agosto de 1991. Foi o primeiro restaurante em Ribeirão Preto, por quilo.
P/1- Não existia?
R- Não existia. E aquela velha história, né? Perdi a chance de ser vidreiro lá atrás, a profissão do meu pai. Perdi a chance de ser funileiro, a profissão do meu tio-avô. E o cavalo passou mais uma vez na minha frente e eu deixei escapar. Por quê? Porque eu era o primeiro restaurante por quilo em Ribeirão Preto. Servia seiscentas refeições por dia, certo? As pessoas ficavam na rua, na fila, debaixo de sol e chuva, pra almoçar. E a hora que pegava o prato, ainda tinha que subir uma escada, com o prato na mão. Hoje isso é impensável. Só que nessa época do restaurante, que na época chamava-se Restaurante Casablanca, na Marcondes Salgado, primeiro restaurante por quilo em Ribeirão Preto, a ideia do restaurante por quilo veio do interior de Goiás, depois foi pra Santos, eu copiei essa ideia de Santos e nós montamos o primeiro restaurante por quilo, em 1991. Mas, de novo, era muito jovem, vinte e dois anos, né? Imagina um jovem sem orientação nenhuma, família humilde, vinte e dois anos, começa a servir seiscentas refeições por dia. Imagina o dinheiro que eu via todo dia. O que eu fiz? Curti a vida, né? Fui curtir a vida. O cavalo passou de novo e eu não pude selar, né? Como eu tenho um restaurante, não posso reclamar, né? Exceto esse período de pandemia que nós estamos sendo dizimados, tá? Totalmente dizimados. E o cavalo passou na minha frente e eu acabei não aproveitando, porque eu poderia ter uma rede de restaurante hoje, né? Mas eu tinha vinte e dois anos de idade. Eu precisava ter a experiência que eu tenho hoje, com aquela idade. É o que todo mundo quer.
P/1- Mas então o que te motivou a sair do Banco e ir pra esse ramo de ser um comerciante, primeiro dono de uma lanchonete e depois de um restaurante? Você já estava bem no Banco, né?
R- Estava bem no Banco. Tinha um cargo bom. Ganhava bem. Tinha status. Morava sozinho. Moto do ano. Estava um espetáculo. Mas chegou 1990, houve uma greve no Banco. E eu, como todo bom bancário, revolucionário, participei da greve. E impedi que o Banco abrisse. Eu coloquei super bonder nas fechaduras, né? Não se esqueçam que, em 1990, você não chama um chaveiro pra agora, né? Não tem celular pra chamar chaveiro. Isso, tudo era mais demorado. E aí eu impedi que todos evitassem que entrassem no Banco, como um bom bancário, na greve que eu estava participando. E um colega meu tomou a culpa, ele ia ser demitido. E eu falei: “Não, não, não, não. Você não pode fazer isso. Quem fez isso fui eu. Vocês estão acusando a pessoa errada. Quem tem que pagar sou eu” “Então nós vamos te transferir. Você não pode ficar mais aqui na agência” “Não. Não vai transferir, não. Vocês vão mandar eu embora”. Aí eles me mandaram embora. E eu saí do Banco. E foi minha sorte, tá? Minha sorte foi ter saído do Banco com vinte anos de idade. Porque se eu estivesse no Banco até hoje e você perder o emprego com cinquenta anos, meu amigo, você começar tudo de novo com cinquenta anos é muito difícil. Então, foi a minha sorte. Bom, e aí eu saí do Banco. O que eu ia fazer? Peguei o acerto e fui comprar moto e vender moto. Só que eu cheguei à conclusão que o dinheiro do acerto que eu peguei não dava nem pra comprar a metade de uma moto. O que eu fui fazer? Fui puxar muamba no Paraguai. Rapaz, essa é uma história aí... quer que conta, ou não?
P/1- Pode contar. Pode, claro.
R- Essa é uma história, meu irmão. Rapaz, olha que coisa louca! Eu peguei o meu acerto do Banco, queria comprar uma moto pra fazer negócio, não deu nem pra comprar metade da moto. O que eu vou fazer com esse dinheiro, desempregado? Puxar muamba do Paraguai. Na época era um espetáculo, né? Vou te recordar algumas coisas. Pote Tartaruga, de creme, vocês lembram disso? Eu estou vendo a colega aqui, Érica. A Érica não deve lembrar disso. Pote de Tartaruga, uns potões assim, de creme. Vinha na cor verde, vermelha, roxa, tudo em camada. Você lembra disso, né? Ela não vai lembrar. Ia pro Paraguai, importar esse pote deTartaruga. Trazia walkman. Lembra do walkman, que você punha a fita cassete, punha aqui do lado e punha o fone de ouvido?
P/1- Sim.
R- Walkman. Fax, meu amigo. Ia trazer fax! Hoje nem sei mais quem sabe o que é isso, o que é fax. Então, o que eu fiz? Peguei o dinheiro e ia pro Paraguai. Mas ninguém queria me levar pro Paraguai. Porque você vai levar um cara pra ser seu concorrente, pra vender as muambas do Paraguai em Ribeirão Preto? “Não. Não vou levar essa cara, não”. Esse moleque, né? Rapaz, saiu um filho de Deus, gostou de mim, foi com a minha cara e falou assim: “Eu vou ajudar esse cara aí”. O Mazinho. Ele me levou pro Paraguai. Catei todo o meu dinheiro, comprei tudo em muamba. Tudo. Tudo estava ali. Voltando do Paraguai, barreira na fronteira. E eu, dormindo no banco. Nunca tinha ido pro Paraguai. Dormindo no banco, aquela confusão dentro do ônibus, aquela choradeira: “Meu Deus, vou perder tudo” e aquela mulherada chorando e todo mundo enlouquecido. E ¬¬¬¬¬mal eu sabia o que ia acontecer. Aí eu cheguei pro Mazinho e falei assim: “Mazinho, o que está acontecendo?” “O que está acontecendo? Nós vamos parar na aduaneira aí. Nós vamos perder tudo. Vamos perder tudo”. Eu falei: “¬¬¬Não, você está de brincadeira. Tudo o que eu comprei? O dinheiro que está tudo ali, eu vou perder tudo?”. Ele falou assim: “Vai”. Rapaz, eu entrei em desespero. Olha o que eu fiz, hein, que história! Os ônibus encostados todos no pátio da Polícia Federal. Todos estavam descendo com as muambas tudo ali. Tudo estava sendo preso, tudo preso, preso, preso. Eu falei assim: “Eu vou ter que arriscar”. Olha como que... inclusive, essa história eu contei pra ser admitido no curso Empreender, não, Empretec, você já deve ter ouvido falar. O Sebrae tem um curso chamado Empretec. Eu contei essa história pra participar do curso, pra ser selecionado, essa história aí da muamba, porque isso aí são riscos né? Quando você é um empresário, você tem que se dispor a correr riscos. E olha o risco que eu corri: todo mundo lá perdendo tudo, enlouquecido, tal, eu peguei as minhas muambas, deixei lá, fui no banheiro, troquei a camisa, pulei o vidro do banheiro, fui pra uma outra fila, catei as minhas sacolas e catei as sacolas do Mazinho, tá, fui andando no meio do pátio. Olha que coisa louca! Eu falei assim: “Eu vou perder tudo, mesmo. Eu tenho que arriscar alguma coisa, certo? Perder, eu já sei que eu vou perder. Então, eu tenho que arriscar”. Rapaz, eu peguei aquele monte de sacola, cruzei o pátio. Ninguém me parou, porque ninguém ia imaginar que um cara ia fazer isso, (risos) em pleno estacionamento da Polícia Federal da aduaneira lá do Sul, Foz do Iguaçu. Quem é o cara que vai pegar a sua sacola? Rapaz, bati num ônibus que estava saindo, eu falei assim: “Motorista, me ajuda , por favor. Nós vamos perder tudo” “Entra aí, meu filho”. Entrei. Nem sabia pra onde era. Fui pro Rio de Janeiro sem saber.
P/1- Sério?
R- Resumo da história: naquele dia, todos perderam os seus pertences. Quais foram as duas únicas pessoas que não perderam? Eu e o Mazinho, que eu peguei as sacolas dele. Daquele dia pra frente todos queriam me levar pro Paraguai: “Não, Robson, você vai comigo” “Não, Robson, você vai comigo”. Quem eu fui apoiar? O Mazinho, né? Foi o cara que “carçou” a cara pra me levar. Então, eu nunca me esqueço dessa história do Paraguai. Aí fiz a muamba, puxei a muamba, levantei um dinheiro e comprei uma lanchonete.
P/1- Mas você teve que ir várias vezes, né? Em uma vez já dava dinheiro?
R- Não. Várias vezes. Eu fui várias vezes. Fui várias vezes. Fui várias vezes pra levantar um dinheiro, né? Mas a primeira vez que eu fui, eu não sabia ir, né, eu tinha que ir com alguém. Esse cara me ajudou. E aconteceu de todo mundo perder tudo. E eu fui o único que não perdi, junto com ele, porque eu peguei as muambas dele e salvei também. Aí eu fui várias vezes junto com ele. Aí eu levantei uma grana, tal. Quando eu tinha uma grana, eu comprei uma lanchonete. Américo Brasiliense com a Marcondes Salgado, com a Cerqueira César, hoje, nesse lugar existe um bar que chama Paddock, tá? Paddock. E a hora que você entra no Paddock, você vê o piano lá, o piano manual, não é de cauda, o piano lá no canto. Naquele canto eu comprei o meu primeiro comércio, Brazil com Z, uma casa de vitaminas, em 1990. Foi aí que eu ingressei no comércio. E aí, trabalhando na lanchonete, um trabalho extenuante. Aliás, lanchonete e restaurante, pior que isso só padaria, viu, cara? Pior que restaurante e lanchonete, só padaria. Ô trem que dá trampo, hein? Nossa Senhora! E aí...
P/1- E esse Brazil com Z era uma lanchonete que o pessoal ia pra comer? Ou era tipo barzinho, que ia pra tomar uma cerveja?
R- Não. Era uma lanchonete que eu servia vitamina e salgado. Vitamina e salgado. Então, não era um barzinho. Era uma lanchonete. Uma casa de sucos, vitaminas e salgados. E eu fiquei ali, trabalho muito extenuante, tal. E aí surgiu a ideia de eu montar um restaurante por quilo. Antes do quilo eu queria montar um varejão, uma quitanda em que você ligasse... olha só, eu estou falando de 1990, hein? São trinta anos atrás. Mais que trinta anos, né? 1990, 2000, 2010, 2020, trinta anos...
P/1- Opa. Desligou.
R- Eu tinha ideia de montar uma quitanda ou um varejão, em que as pessoas ligassem, eu pesasse lá e fosse entregar de Vespa, que a moto da época era a Vespa. E aí, nessas, querendo varejão, quitanda, pesquisa aqui, pesquisa ali, surgiu a ideia do restaurante por quilo que eu montei na Marcondes Salgado, um quarteirão pra cima de onde eu tinha a lanchonete. Rapaz, explodiu, foi um sucesso total. Eu vendi a lanchonete, fiquei só com o restaurante. Depois, já prevendo... eu sou uma pessoa que sempre enxerga à frente do meu tempo, tá? Sempre enxerguei à frente do meu tempo. E aí, eu já...
P/1- Desligou.
R- ... como tinha, começou a ter vários restaurantes por quilo, eu observei que eu comecei a sofrer muita concorrência. E eu tinha deficiências naquele local. Ah, detalhe, hein: quando eu fui alugar eu não tinha dinheiro, não tinha fiador, não tinha nada. Eu fui falar com o dono do imóvel, o senhor Constantino, expliquei pra ele, fui sincero. Ele falou assim: “Meu jovem...”
P/1- Desligou.
R- “Você me lembra quando eu era jovem. Você me lembra muito eu. Eu vou te alugar a casa sem fiador, sem nada”. Aluguei a casa sem fiador, sem nada. Era o que tinha na época, né? E, como eu vinha sofrendo muita concorrência, eu tinha que partir pra um lugar melhor. O que era um lugar melhor? Um lugar mais espaçoso, que as pessoas não ficassem na rua, não tomassem sol, não tomassem chuva e que não precisava subir as escadas com um prato na mão. Foi aí que eu vim no meu endereço que eu estou até hoje _______ (54:21) abril de 1994. Então, 1991 eu fiquei com o Restaurante Casablanca na Marcondes Salgado. Aí eu vi que a concorrência começou a bater, começou ir. Eu falei assim: “Tenho que melhorar esse restaurante”. Em matéria de aspectos físicos, né? Foi aí onde que em 1994 eu vim pra cá, que eu estou até hoje.
P/1- E como chamava o por quilo, o restaurante por quilo?
R- O primeiro restaurante foi Casablanca. Restaurante Casablanca.
P/1- Casablanca.
R- Isso.
P/1- Aí você falou... opa, desligou de novo.
R- Era um nome muito interessante, porque na época tinha aquele filme Casablanca de romance, todo mundo comentava, tal. E a tinta mais barata pra pintar o restaurante era a cor branca, que era a mais barata. (risos) Então, reuni o útil ao agradável: tinta barata com nome legal. Virou Restaurante Casablanca. Servia seiscentas refeições por dia. E aí começou a concorrência bater, começou a pipocar um monte de restaurante. E eu resolvi sair de lá, pra vir pro meu endereço atual. Então, do Casablanca virou Esquilão. Depois virou Toca do Esquilo.
P/1- Sim. E nessa época você morava aonde? Você já morava sozinho, já faz tempo, né?
R- Já morava sozinho. Quando eu fui morar com a minha esposa, eu nunca me esqueço. Rapaz, eu montando um restaurante, quebrando parede aqui dentro, fazendo faculdade de Economia e morando com a minha esposa. Eu fui morar com a minha esposa num quarto, num colchão no chão. Eu que fiz a reforma. Eu mais o meu amigo Inedilson fizemos a reforma do restaurante, nós quebramos parede com a própria mão. Depois saía daqui, ia pra faculdade ainda. Ó, trampo, viu, fio? Trampo, né? E nessa época, aqui desse endereço... até me perdi um pouco, mesmo. Você falou do...
P/1- Onde que vocês moravam? Que você já morava_____ (56:44)?
R- Não. Aí eu morava no Jardim Paulista. Eu montei, acabei de montar o restaurante Esquilão, que é que eu tenho hoje, que depois virou Toca do Esquilo, não sei se você se recorda que teve um temporal em Ribeirão Preto, em 1994, cujo prefeito era o Palocci e a cidade foi devastada? Não sei se você lembra disso.
P/1- Não lembro.
R- Em 1994 teve um temporal em Ribeirão Preto, que devastou a cidade. O prefeito era o Palocci. Ele foi pra Brasília pra buscar dinheiro, porque a cidade virou calamidade. Rapaz, eu tinha acabado de montar o restaurante fazia vinte dias. Estourou telha, estourou vidro, entrou água, queimou computador, queimou um monte de coisa, queimou freezer, queimou carne. Pô, agora você imagina, cara, fazendo faculdade, indo morar junto, montando um restaurante, ainda vem essa coisa aí pra dificultar. Por isso que nessa pandemia, eu falo pras pessoas: “Trabalhe. Se reinvente. É difícil? É. Trabalhe. É o único jeito”. Então, às vezes, as pessoas falam assim: “Pô, mas você não fica preocupado, você está passando essa dificuldade toda?” O dinheiro está sendo torrado, né? O dinheiro está sendo torrado. As economias estão sendo torradas. Mas eu falei assim: “Eu já passei por tanta coisa, que vocês nem sabem”. E eu morava no Jardim Paulista. Depois eu vim morar no Centro, onde eu moro até hoje. Eu moro de frente ao restaurante. Eu atravesso a rua, eu demoro vinte e seis segundos pra chegar do meu trabalho à minha casa. O pessoal de São Paulo que vem aqui não acredita no que vê, né? Porque, pô, quem mora em São Paulo, cara, o cara demora duas horas pra chegar em casa, meu! Duas horas pra chegar no trabalho. O cara perde quatro horas da vida dele no trânsito. É sofrimento que não acaba mais. Eu atravesso a rua, rapaz. Você acredita nisso? Então hoje, eu moro no Centro, desde 1997. Eu moro no Centro, em frente ao meu trabalho. Mas antes, depois da Vila Tibério, eu fui morar no Campos Elíseos, depois Jardim Paulista e Centro, até hoje.
P/1- Até hoje. Robson, você disse que na época que você ganhou muito dinheiro com o Casablanca, você resolveu curtir. O que é curtir a vida? Você foi viajar? Pegou uma moto e saiu andando?
R- Sexo, drogas e rock’n roll, né, fio? É o que todo jovem fazia naquela época. Sexo, drogas e rock’n roll. Então, você ia pra esbórnia, né? Imagina um moleque de vinte e dois anos ganhando, vamos pôr aí, hoje, uns vinte contos por mês. Imagina. Uma ideia. Vamos simular, tá? Um jovem de vinte e dois anos ganhando vinte mil reais por mês. Ia pra discoteca, pagava pra todo mundo. Ia viajar, levava os outros de graça. Usava droga. Bebia igual um cachaceiro. Era viver a vida. O que eu devia ter feito nessa época? Guardado dinheiro, centrado, feito franquias, feito outras lojas do restaurante Casablanca. Mas não tinha quem me orientasse, né? Eu vinha de família humilde, de família pobre, imigrante italiano. Avô semianalfabeto. Bisavô analfabeto. Mãe humilde. Então, eu não tive orientação, né? Então, eu deveria, naquela época, ganhando-se muito dinheiro, ter juntado e ter feito outras coisas. Mas eu aprendi a lição. Vou te explicar o porquê. Hoje eu faço parte de vários grupos de comerciantes, de empresários aqui de Ribeirão, da própria ACI, a qual eu sou expulso de vários grupos, né, porque eu falo o que eu tenho que falar e as pessoas não gostam de escutar a verdade. Então, guarde essa frase, que eu aprendi lá nos vinte e dois anos no sexo, drogas e rock’n roll: “Venda. Não ande de Mustang zero, ande de Camaro velho”, tá? O que as pessoas fazem? Certo? Eu vou repetir a frase: “Não ande de Mustang zero. Ande de Camaro velho”. Por que eu estou dizendo isso? Enquanto todo mundo estava surfando na onda de ganhar dinheiro antes da pandemia, o que os caras faziam? Trocavam de casa, moravam na cobertura, compravam rancho, fazia piscina, comprava um Mustangão zero, pra desfilar na cidade. O que o Robson fazia? Guardava dinheiro, certo? Guardava dinheiro, certo? E guardava dinheiro. Então, você quer andar de Mustang? Vai pros Estados Unidos, aluga um Mustang lá, que sai de graça. Você vai andar de Mustang até enjoar. Aí você enjoa, você entrega lá. Então, um carro desses custa trezentos mil. Compra um carro de cinquenta, que vai te levar no mesmo lugar e você guarda os duzentos e cinquenta contos. Foi o que eu fiz, certo? Enquanto todo mundo... eu estou perdendo dinheiro, tá? Hoje eu estou perdendo dinheiro.
P/1- Por causa da pandemia.
R- Mas enquanto todo mundo está vendendo casa pela metade do preço, enquanto todo mundo está vendendo o seu Mustang pela metade do preço, eu estou com o meu dinheiro guardado lá. Está sendo sangrado, tá? Todo mês está diminuindo. De duzentos mil que eu tinha guardado, um exemplo, em março do ano passado, tem cinquenta mil. Foi-se cento e cinquenta, pra manter a empresa aberta, tá? Eu tenho cinquenta. E eu acredito que esse cinquenta vai dar até voltar ao normal. Só que quem não quebrou, agora quebra. Agora, imagina você, se você conseguir manter a sua empresa aberta, manter o seu nome na cidade, as pessoas falarem: “Nossa. Aquele cara lá conseguiu passar essa pandemia”. A hora que voltar ao normal, de dez restaurantes vão ter quantos? Três, ou dois, ou quatro. É aí a hora de não comprar o Mustang zero, (risos) guardar dinheiro de novo e andar nos Estados Unidos, de Mustang zero. Então, essa lição que eu aprendi com vinte e dois anos de idade, lá atrás, foi me servir de exemplo nos meus cinquenta anos, hoje. Se eu não tivesse dinheiro guardado, filhão, estava ferrado. Estava ferrado. Eu já tinha sido liquidado.
P/1- E como é que você conseguiu terminar a faculdade de História no meio disso tudo? Não da pandemia. Antes, né?
R- Rapaz, olha que coisa louca! Na faculdade de História eu sempre fui mediano. O que é mediano? Eu estudava o suficiente pra passar na prova. Por quê? Porque eu não tinha tempo, tinha que trabalhar, filho. Tinha que trabalhar aqui no restaurante. Você chega aqui no restaurante sete horas da manhã, você sai daqui três e meia, quatro horas da tarde, exausto. Aí você tem que estudar pra uma faculdade. Por isso que eu falo que quem faz faculdade e quem trabalha já é uma seleção natural, que é pra poucos. Você trabalhar e estudar é pra poucos. O cara tem que estar muito firme mesmo, tem que ter muita força de vontade. E na faculdade de História, enquanto todo mundo tirava nove, dez, o Robson tirava cinco, cinco e meio, seis. Porque eu estudava o suficiente pra passar de semestre. Detalhe: não peguei nenhuma DP na faculdade. Ah, mas hoje tem, vou dar um exemplo: vinte e três de dezembro, prova na faculdade de História, na sala três. Quem está fazendo prova de recuperação do último, da última chance, da última chance, da última chance? O Robson. Vinte e três de dezembro. Mas não entreguei os pontos. Fazia... tirava as notas que não eram suficientes, então eu tinha que fazer trabalho. Às vezes eu não entregava o trabalho, porque não dava tempo. Então eu ia levando assim: “Precisa de quanto pra passar?” “Precisa de cinco”. Eu tirava 5, 01. “Precisa de quanto pra passar?” “Oito” “Ah. Eu tirei seis. Faltou dois” “Ah, mas vai ter uma prova de ajuda a semana que vem, não sei o quê” “Opa, eu vou fazer a prova de ajuda”. Então, na faculdade de História eu não pude ser aquele bom aluno que eu era no colégio e na escola, no primário e no colegial, no ensino médio. Não tinha como, porque eu era um empresário, eu tinha que cuidar da empresa. Então, eu consegui terminar a faculdade, tirando a nota suficiente. E olha que coisa louca! Depois que eu terminei a faculdade, eu montei uma biblioteca na minha casa, eu devo ter uns quatrocentos livros de mais variados temas, tal, que hoje, qual é o meu passatempo? Ler. (riso) Não preciso mais fazer prova pra faculdade, mas eu vou ler. E eu tenho certeza que eu posso discutir qualquer assunto. Coisa louca, né?
P/1- É. Você pegou aula? Começou a pegar aula depois, pra dar aula de História? Ou não?
R- Eu dei aula em Porto Ferreira. É uma coisa muito interessante. É outra história. Eu sou cheio de história, viu, fio? Eu já contava história, agora eu sou autorizado pelo MEC, em contar história. Mas eu contava muita história. Então eu vou contar mais uma história pra você. Na faculdade tinha os meninos lá que eram mais jovens que eu, né? E aí, em Porto Ferreira, no Objetivo, ninguém dava conta dos alunos de Porto Ferreira. Porque a molecada é o demônio, fio. Nossa Senhora, a molecada está punk, hein? Bom, isso eu estou falando de 2008. 2008, há doze anos, mais ou menos. Doze, treze anos atrás. O meu amigo, colega de classe, o Fernando, morava em Porto Ferreira, dava aula de Geografia em Porto Ferreira. Só que precisavam de um professor de História, porque não parava nenhum lá. A molecada moía. A diretora falou assim: “Eu preciso de um professor diferente. Eu preciso de um professor louco”. O Fernando falou assim: “Já sei, o Robson” “Robson, você abraça essa bronca aí?”. Eu tinha que fazer isso como experiência de vida. Tudo é uma experiência de vida. Rapaz, se eu te contasse quanto eu ganhava (risos), rapaz, você vai me chamar de mentiroso, tá? Cara, eu fui pra Porto Ferreira de moto. Peguei um sobretudo russo que eu tenho, que eu já fui pra Moscou, né? É uma outra história, né, meu passado de militância política, é uma outra história. E eu fui pra Moscou e lá eu trouxe um casaco russo. E nesse dia que eu fui lá na escola, eu fui de moto, com o casaco russo, cheguei acelerando a moto, casaco russo. A molecada ficou enlouquecida. “O que é isso aí, meu irmão? O que é isso aí?”. Aí eu fui contratado, né, pra Porto Ferreira. Eu comecei a dar aula em Porto Ferreira. Olha que coisa louca! Porto Ferreira é perto de Poços de Caldas. Então, geralmente, as famílias de Porto Ferreira vão passar o final de semana em Poços de Caldas, porque é próximo de lá, fica a cem quilômetros, oitenta quilômetros, pertinho. E depois que o Robson começou a dar aula em Porto Ferreira, as crianças não queriam mais ficar com os pais (risos) em Poços de Caldas, queriam vir pra escola, pra ter aula com o professor Robson na segunda-feira. Os pais falavam assim: “Tem alguma coisa de errada aí. Peraí. Filho, você que não gosta de estudar, você que não gosta da escola, você quer ir na aula de segunda-feira? Você quer que o seu pai saia de Poços de Caldas, aqui no rancho, na fazenda, sei lá, onde diabo for e vá te levar? Ah, está errado”. Você acredita que os pais fizeram uma reunião pra conhecer o professor Robson? Que eles não estavam acreditando que os filhos queriam ter aula com o professor Robson. Aí você vai falar assim pra mim: “Mas como você conseguia?”. Teatro, né? A molecada gosta de teatro. Você fez teatro, você convence os alunos, né? Então, dei aula em Porto Ferreira, nove meses. Eu não aguentava mais. Eu já estava muito cansado. Cara, eu chegava em Porto Ferreira, às sete e dez da manhã. Eu pegava o ônibus aqui na rodoviária. Eu saia da minha casa às cinco e quinze, pegava o ônibus na rodoviária às cinco e meia, descia em Porto Ferreira às sete horas, pra estar às sete e dez na escola, a pé. Fiz isso nove meses. Pra ganhar trezentos e cinquenta reais, na época, as aulas que eu dava. Mas eu tinha que passar por essa experiência de dar aula, de ter o contato com a molecada. E depois disso a molecada vinha no restaurante me ver. Depois que eu saí de Porto Ferreira, eles vinham almoçar no restaurante, pra matar a saudade, pra me ver. Você acredita nisso?
P/1- Sei. Mas enquanto você estava dando aula, o restaurante funcionava? Continuava?
R- Funcionava. Eu dava aula lá em Porto Ferreira até as dez horas. Pegava o ônibus às dez e meia. Chegava aqui no restaurante às onze e meia e ia tirar prato, fio. Tirar prato, fazer um monte de coisa, atender cliente, ajudar, fazer. Acordava às cinco horas, trabalhava esse tempo tudo. Sem medo. Sem medo de ser feliz. Tem que trabalhar, entendeu?
P/1- Legal. Robson...
R- E aí, eu fiquei nove meses como professor.
P/1- Pode terminar. É que, às vezes, dá um...
R- E aí eu fiquei nove meses dando aula de História no Objetivo de Porto Ferreira. E aí eu passei, né, minhas andanças no mundo aí. Eu fui cinco vezes pra Cuba. Já fui conhecer as Farc, na América Latina. Fui pra Moscou. Eu gosto dessas coisas diferentes. Se me chamar pra ir pra Disney, obrigado. Se me chamar pra ir pra Londres, obrigado. Agora, se me chamar pra ir pra Bósnia, se me chamar pra ir pra Montenegro, pra Albânia, pra Kosovo, pra Cuba, pro Equador, é lá que eu quero ir, pode me chamar que eu vou. Agora, não vai me chamar pra Disneylândia, não, que eu estou fora, não gosto desse negócio, não. E aí, nessas andanças minhas de ir pra viajar, tal, eu comecei a dar aula em faculdade pra alguns amigos, tá, dar aula de faculdade pra alguns amigos. Hoje eu não dou mais aula porque eu estou cansado, né? A minha ideia era parar já o ano passado, me aposentar. Deixar o restaurante. Contratar uma empresa pra fazer franquia. Contratar a minha prima. A minha prima já é contratada. Expandir a gerência dela. Pra eu ficar quinze dias fora, quinze dias aqui, né? Porque como eu trabalhei desde os meus doze anos de idade, então, eu trabalho há quarenta anos. Chega, né? Porque você vai ter que aproveitar a sua vida enquanto você tem saúde. Com setenta anos você não vai pode acampar nas Farc. Com setenta anos você não vai poder ir pra Kosovo. Você tem que ir agora, enquanto você tem um pouco de saúde, enquanto você é mais ou menos saudável. Quando chegar setenta anos, fio, é do quarto pro alpendre, do alpendre pro quarto, entendeu? Então, eu já deveria ter parado o ano passado. Mas essa pandemia veio pra nos dar uma lição: que vai sobreviver quem for melhor. Só vai sobreviver quem trabalhar. Só vai sobreviver quem proteger os seus colaboradores, tá?
P/1- Sim.
R- Porque eu tenho uma coisa muito interessante aqui no restaurante: os meus funcionários são bem antigos, tá? Eu, pra mandar um funcionário embora, ele tem que folgar muito, ele tem que falar assim: “Eu não quero fazer nada, certo?”
P/1- Sim.
R- Mas, caso contrário, eu procuro resolver todos os conflitos e todos os problemas. Por quê? Quando você veio aqui... em que ano mesmo, você veio?
P/1- O ano passado...
R- O ano passado. Tá. Vamos supor quem veio aqui em 2015. A pessoa veio aqui em 2015, almoçou aqui: “Nossa, que comida boa”. Voltou em 2020, é a mesma comida. Porque são as mesmas pessoas que estão fazendo. Então, isso é uma característica muito interessante. E as pessoas não observam isso. Porque aquela pessoa que fez aquele arroz e feijão, depois que você voltou cinco anos, é a mesma pessoa que fez o arroz e o feijão, aqui com a gente. Porque, se você volta cinco anos depois e é diferente, não dá aquela lembrança que você ficou marcada, você vai falar assim: “Hummmm, não é mais a mesma coisa. A comida não está boa. É outra cozinheira. Eles mudaram de cozinheira”. Não. Se você veio há cinco anos... aliás, se você veio há dezessete anos e vier aqui hoje, é a mesma cozinheira. Dezessete anos. Então, eu acho isso muito interessante.
P/1- Robson, e como é que você teve essa mudança? Primeiro era Esquilo? Como é que chamava, o primeiro nome?
R- O primeiro nome chamava Esquilão. Por que Esquilão?
P/1- Esquilão.
R- Por que Esquilão? Olha só! Quando surgiu a ideia desse nome, foi a mãe de uma amiga minha, a mãe da Luciana, a Dona Márcia, que deu esse nome. Esquilão eu tenho uma fantasia. Não sei se você chegou a ver a fantasia do Esquilo. Você viu?
P/1- Eu vi. Eu fiquei sabendo dela, da história dela.
R- Você ficou sabendo, né? Aquela fantasia foi feita em São Paulo, das pessoas que faziam, da loja de fantasia que faz fantasia pro Faustão, pra Rede Globo etc e tal. Eu fiz aquela fantasia em 1999. Por quê? Porque com Esquilão, vem com o nome de Esquilo, eu tinha em mente de fazer um buffet infantil. Então, eu queria ter o restaurante e um buffet infantil. Pra agradar, o buffet infantil tem que ter um personagem, assim como tem Mickey, Minnie, Pluto e etc, tinha que ter um personagem. E surgiu a ideia desse personagem de esquilo, que é fofinho, bonitinho, tem no norte, na América do Norte, na Europa, na Argentina, tal. É um bichinho curioso, um bichinho bonito. Então, ficou o nome Esquilão. E eu fiz a fantasia do esquilo. Esse esquilo saía pelas ruas. Mas não cheguei a montar o buffet infantil, tá? O restaurante começou a dar certo, então eu não precisei montar o buffet infantil. E do lado tinha um pensionato. Olha que coisa louca! Olha como eu sou à frente do meu tempo. Em 1994 eu montei um hostel que, na época, você falava hostel, ninguém sabia o que era. Hoje todo mundo sabe que é um lugar de pouso bem mais simples. Na Europa é bem comum. Mas na época ninguém sabia. Então, eu montei um hostel, nome: Toca do Esquilo. Só que o nome Toca do Esquilo é um nome bem mais gravável, é um nome bem mais gostoso de se falar, de bem mais lembrar, do que Esquilão. Esquilão lembra assim, esquinão, panelão, quilão, menos esquilão. E eu fiquei com o pensionato uns dez anos. Aí resolvemos parar de mexer com o pensionato, porque a molecada estava ficando muito louca. Eu falei assim: “Não vou dar conta. Eu vou parar com isso aqui, antes que me dê problema”. Mas a ideia era tão boa que o senhor Chaim, que é o dono do COC, aqui em Ribeirão Preto, comprou um hotel inteiro, o Holiday Inn. Comprou um hotel inteiro de quinze andares e fez de lá a ideia que eu tinha durante dez anos. Hoje esse negócio chama Uliving. Chama Uliving, tá? Tem em São Paulo, tem e tal. Mas aqui em Ribeirão é do senhor Chaim. Quer dizer, a ideia era boa. Só precisava de investimento pra continuar. Mas não vou competir com o Chaim, né, fio? Não tem nem como, né? O cara tem um patrimônio de seis bilhões, coitado de mim. Então aí o Chaim comprou lá o prédio inteiro, fez esse Uliving, que hoje os alunos do COC moram lá. E eu resolvi fechar o pensionato, porque eu falei assim: “Essa molecada vai me dar problema”. E aí eu resolvi passar o nome do pensionato Toca do Esquilo para o Esquilão. Então, tirei o nome do Esquilão e Toca do Esquilo. Mas no Google, se você pesquisar, vai estar lá. Toca do Esquilo - Esquilão, entendeu? Hoje o pessoal já vai esquecendo o Esquilão, né? Hoje o Toca do Esquilo está bem mais na memória das pessoas.
P/1- Robson, como é que você deu essa cara pro seu restaurante? É um restaurante muito interessante, porque ele é bem rústico, o ambiente. Esse tipo de comida bem caseira, muito boa, com umas pimentas muito boas, que eu comi aí. Como foi a ideia? Por que você o criou desse jeito que ele é? Aí, onde ele é?
R- Antes, o restaurante era um restaurante comum. Ah, deixa eu só te contar um episódio, lá da época do Casablanca. Cara, quando eu montei o Casablanca, eu não tinha dinheiro. Eu montei um restaurante sem dinheiro. Montei um restaurante com dois talões de cheque e com prazo. Chegava pro cara, falava assim: “Eu vou te dar um cheque, mas não tem dinheiro. Você vai ter que pôr esse cheque em quarenta e cinco dias”. Eu montei o restaurante em vinte dias. Depois, o restante dos dias eu fui pegando aquele monte de dinheiro e pagando, tal, tal, tal. E deu certo. Mas no começo, cara, olha que coisa louca! No restaurante, eu não tinha dinheiro pra comprar mesa. Então, o que eu fazia? Eu alugava as mesas. Eu estou falando de 1991, tá? Então, eu alugava as mesas de uma empresa que chamava Sobebe. Essa empresa, Sobebe, alugava mesas pra festas de final de semana,e de semana ela ficava com as mesas ociosas. Eu fui lá, fiz o negócio com o cara: “Vamos fazer uma parceria aí? Você me aluga as mesas de semana, mais barato. E de final de semana eu te entrego as mesas”. Rapaz, encostava um caminhão na segunda-feira, nove horas da manhã, descarregava as mesas e as cadeiras, que eram aquelas de abrir e fechar, aquelas vermelhinhas de ferro. Sabe aquelas vermelhinhas de ferro? Abria e fechava, limpava tudo. Nós trabalhávamos de segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado. Sábado, três da tarde, encostava o caminhão, levava as mesas embora. O restaurante ficava sem mesa sábado, três horas da tarde e domingo. O caminhão voltava segunda-feira. E quando eu abri o Esquilão, o Toca de Esquilo, as mesas também eram de ferro e de abrir e fechar. Só que aí, eu tinha conseguido comprar. Mas era um restaurante como os outros, como um restaurante qualquer. E aí, eu falei: “Não. Tem que mudar isso aqui. Não pode ser. Eu ser mais um? Não adianta”. Nas minhas andanças por aí, nas minhas viagens, que eu gosto de viajar muito... rapaz, eu tenho um currículo de viagem que, se eu falar pra você, são seis dias de história, o meu currículo de viagem. E, na minha opinião, o estado mais bonito, mais acolhedor, que tem a comida mais gostosa, mais de sustância, mais fácil, mais barata, é Minas Gerais. Pra mim, Minas Gerais é, puts, espetáculo. Então, eu falei assim: “Eu vou transformar meu restaurante em estilo mineiro”. Eu desenhei aquele fogão à lenha que você viu ali, eu que desenhei. Contratei uma empresa pra construir o fogão à lenha de verdade, que você viu ali também. E aí eu comecei a mudar a cara do restaurante. Coisas rústicas. Quando você vai pra Minas Gerais, na casa da avó lá, da tiazinha que fica no sítio, na fazenda, no interior, é mesa de madeira, feita da árvore que caiu. A árvore caiu, você foi lá, meteu o machado, tal e fez a mesa de madeira, fogão à lenha, panela de barro, panela de ferro, coisas. Então, eu quis montar... isso foi mudando aos poucos, viu? São vinte e oito anos de restaurante. Então, foi mudando aos poucos. Aos poucos. E foi dando certo. Hoje, a nossa visão é fazer que a hora que você vem almoçar aqui, você lembra lá da sua avó, quando você ia pro sítio da sua avó, pra fazenda, ou pra chácara, né? Que lá na sua avó você comia aquela costelinha na banha de porco, aquele frango caipira, aquele quiabo colhido na horta. Então, a gente quer que a pessoa, quando entra aqui dentro, remete ao passado de quando ela era feliz e não sabia. Porque quando era criança, toda criança é feliz. Então, a ideia nossa é transformar o ambiente, não só te dar uma experiência de refeição boa, mas uma experiência que você relembre os seus avós, os seus antepassados, quando você era criança. Te dar um conforto. Te dar um ambiente agradável. Um ambiente de conforto. E tem dado certo. Tem dado certo. Então, a ideia veio de Minas Gerais, das viagens e foi mudando aos poucos, viu? Aos poucos.
P/1- Sim. E você sentiu a mudança na clientela? Os clientes mudaram também, ao longo do tempo?
R- Sim.
P/1- O seu cliente é o que _____ (1:23:50)
R- O meu cliente é o quê? É o dono da loja que tem aqui no Centro. É o dentista. É o médico. É o professor. É o dono da escola. Eu tenho poucas pessoas, hoje, que trabalham, que são empregados das lojas. Por quê? Porque tem marmitex por aí a dez contos, né, fio? O cara ganha mil e quinhentos cruzeiros, vai comprar um marmitex de vinte? Ele vai pegar uma de dez, né? Entendeu?
P/1- Sim.
R- Então, as pessoas que vêm aqui são pessoas que têm empresas, que têm lojas. E grande parte das pessoas que vêm aqui, é da região de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto não produz dinheiro. Ribeirão Preto passa o dinheiro de mão pra mão. O que produz o dinheiro é a região. Como você produz o dinheiro? Quando você planta, colhe e vende. É a terra que te deu o dinheiro. Ou então, quando você tem uma empresa de tecnologia e você inventa um aplicativo. Agora, Ribeirão Preto, como nós somos comércio e serviço, eu compro um sapato na loja da esquina, o cara lá da esquina toma um café na cafeteria, o cara da cafeteria vem almoçar aqui no restaurante. Então, esse dinheiro é passado de mão em mão, ele circula, não é produzido. O que produz dinheiro é terra, agronegócio, se você plantar, você jogou uma semente, cresceu, vendeu, você pôs dinheiro no bolso, aí você vai distribuir, vai gastar. E tecnologia, quando você inventa um aplicativo, quando você inventa algo de novidade tecnológica. Então, grande parte dos nossos clientes é da região de Ribeirão Preto. E agora, eu tinha um projeto o ano passado, que é transformar o meu restaurante num ponto turístico. Você vem pra Ribeirão Preto, você tem que ir no Pinguim e na Toca do Esquilo. Você tem que beber chopp no Pinguim e almoçar na Toca do Esquilo. Então, eu quero passar essa imagem. Porque todo mundo que vem pra Ribeirão Preto, vai no Pinguim. Legal, vá no Pinguim. Mas vem almoçar aqui. Bebe lá e almoça aqui. Então, esse é o meu planejamento do ano passado, que veio tudo por água abaixo. Por enquanto, né? Por enquanto.
P/1- E você precisa, pra movimentar aí o restaurante, de quantos funcionários você tem, hoje?
R- Eu tinha quinze, tá? Eu fiquei com os quinze até onde deu. Depois eu tive que cortar, né? Não teve jeito. Eu tinha a Maria, que foi a minha primeira cozinheira lá do Casablanca, estava com sessenta e cinco anos. Cara, a Maria, eu punha no fogão à lenha, com a saiona preta dela, uma negona assim, fortona, que eu amo, né? E ela foi a minha primeira cozinheira lá no Casablanca. Cara, eu ponho uma saiona nela, aquele negócio de turbante que o pessoal gosta de usar e ela fica mexendo no fogão a lenha, o que é isso, cara? É foto pra tudo o que é lado, vira artista de cinema, todo mundo quer bater foto dela. E ela é uma pessoa de sessenta e poucos anos. Eu tenho um carinho muito grande por ela, porque a Maria, a minha mãe a chama de nega: “Ê nega, você não tem jeito, mesmo. Você vai pro forró, hoje?” “Ai, Dona Zenia, eu vou”. Então, eu tive que afastá-la, porque a Maria é uma pessoa de grupo de risco, né, cara? Já é de idade. Então, eu não posso fazer com que ela corra o risco de ficar trabalhando aqui. Eu falei: “Maria, o que você quer fazer?” “Não, Robson. Eu vou ficar em casa. Cuidar do meu velho. E, quando passar isso tudo, se eu estiver bem de saúde, eu volto". Então, ela está afastada. A minha mãe também, de setenta anos, que está trabalhando com a gente, também encostei em casa, pra ela ficar resguardada disso daí, tá? E algumas pessoas que não aguentaram a pressão, né, cara? Porque nós estamos passando por um pressão absurda, cara. Imagina você, com medo da pandemia, ter que vir trabalhar. Porque se você não vem trabalhar, você não tem salário. Mudou totalmente o esquema: a gente não fazia delivery, estamos fazendo delivery. Estamos pondo no potinho. Então, quer dizer, o esquema mudou tudo e duas pessoas não aguentaram a pressão. E aí pediram pra sair. Eu até tentei reverter, tal, mas não teve jeito. Então, hoje nós somos, de quinze, em nove pessoas, aqui no restaurante.
P/1- Certo. E a comida de vocês é bem diferenciada, porque é de muita qualidade, são coisas diferentes, modo de fazer diferente. É fácil, numa cidade como Ribeirão, conseguir comprar esse material todo, de uma qualidade maior? Você traz de onde, a comida?
R- A coisa mais fácil do mundo é fazer comida. Qualquer um de nós, a Érica, você, Luis Paulo, vocês, se você comprar uma maminha Bassi, qualquer um de nós, não tem como errar, vai pegar uma maminha Bassi e fazer uma maminha na panela, uma maminha no forno, não tem erro uma maminha Bassi. Mas o segredo é cozinhar com amor, com carinho, com dedicação. Essa é a diferença. Então, a pessoa que vem trabalhar aqui, tem que saber que o patrão dela, o chefe dela está entregando marmita de moto, de Biz. Ela tem que saber que o patrão dela briga com unhas e dentes pra manter o emprego dela. Então, ela sabe que aqui é um porto seguro. Ela sabe que aqui, ela trabalhando, ela vai ter o salário dela. Eu não atrasei o salário de ninguém, ninguém ficou sem salário desde março do ano passado. Então, essa garantia, essa estabilidade, esse compromisso faz com que as pessoas façam a comida com carinho. Eu tinha uma cozinheira aqui, ela está afastada. Está ficando velha, né, fio? Vinte e oito anos de restaurante. Eu não mando as pessoas embora. Eu tento segurá-las no máximo, eu tento resolver os conflitos. E essa foi ficando velha, né, fio? E a Dona Eunice ficou velha, com problema no joelho, tal, tal, tal. E uma vez eu tive um problema com a Vigilância Sanitária, porque a Vigilância Sanitária veio aqui e a minha cozinheira estava cantando, a hora que estava fazendo comida. E a Vigilância falou assim pra mim: “Olha, a sua cozinheira não pode cantar” “Como que não pode cantar?” “Porque se ela cantar, saliva”. Eu falei: “Não, fio. A panela está longe, lá. A panela é tampada. Está longe. Não vai atrapalhar” “Mas por que você quer que ela canta?”. Eu falei assim: “Você quer uma comida melhor de uma pessoa cozinhar cantando? Ela está cozinhando feliz. Ela está cantando. Imagina a comida que ela vai fazer. A hora que você colocar na boca a comida, meu irmão, você não vai acreditar o que você vai comer. Porque ali tem carinho, tem amor”. Então, essa é uma frase muito interessante, que eu sempre falo aqui, tá: “Fazer comida com matéria-prima de qualidade, qualquer um de nós faz. Agora, fazer comida com carinho e com amor, isso daí não é qualquer restaurante”, tá?
P/1- Sim.
R- Tem várias histórias. Por exemplo: minha cozinheira, essa mesma Dona Eunice, uma vez ela foi - olha só! - nas Casas Bahia, comprou uma geladeira lá. Geladeira de aço inox, com coisa de gelo na porta, clique e botão pra tudo quanto é lado, a geladeira só falta falar. E aí eu cheguei pra ela e falei: “Dona Eunice, vem cá”. Ela estava toda feliz, né, que comprou a geladeira. Mas eu, como sou um... experiência de vida. Porque esse pessoal que trabalha no restaurante são pessoas muito humildes, são pessoas que não têm grau de instrução, são pessoas bem humildes. Ah, uma coisa: dobradinha. Ó, dobradinha, moela, frango caipira, sarapatel, rabada, não tem pra ninguém. Sabe por quê? Porque lá no nordeste, de onde que elas vieram, elas só comem isso. Se você pegar um filé mignon e dar pras minhas cozinheiras fazerem aqui, elas não sabem fazer, porque nunca comeram, entendeu? Então, olha que coisa louca, elas são acostumadas a comer isso. Cara, se você comer uma dobradinha que as minhas cozinheiras fazem aqui, você não acredita. Você não credita. Voltando à história da geladeira. Aí, rapaz, eu a peguei toda feliz: “Dona Eunice, a senhora está feliz?” “Comprei uma geladeira assim, assim. Ai, que legal”. Eu falei assim: “Dona Eunice, dá esse carnê aqui pra eu ver”. Rapaz, tinham enfiado nela uma geladeira que custava, não lembro o valor na época, mas tipo dois mil, que ela ia pagar cinco e meio, certo? Humilde, uma pessoa humilde. Eu falei: “Dona Eunice, a senhora fez essa conta aqui? Papapapa” “Não, não fiz. Não fiz”. Ah, fio. Liguei lá pro gerente, eu falei assim pro gerente: “Ou você faz essa geladeira em dez vezes, igual vocês estão anunciando, ou eu vou processar vocês todos”. Por quê? Porque aquela felicidade dela vai acabar e vai sobrar só o carnê. E ela vai vir trabalhar triste. Porque aquilo nunca vai acabar. E ela foi enganada. Rapaz, fui lá. O cara rasgou o carnê e fez pra ela em dez vezes sem juros, como tinham anunciado. Então, eu prezo muito os meus funcionários. Uma aqui também estava com a casa atrasada, tal: “Filha, vem cá. O que está acontecendo que você está jururu?” “Eu estou com quatro prestações da minha casa, eu estou com medo de perder a casa” “Quanto que são as parcelas?” “Parcela de duzentos e vinte reais” “Quanto você deve?” “Devo cinco” “Dá quanto?” “Dá mil e quinhentos, mil e quatrocentos reais” “Traz a boleta aqui. Paguei. No seu salário você vai descontando o quanto você achar que pode, certo?”. Você acha que eu vou deixar um funcionário meu morar na rua? Ele vai vir trabalhar como, aqui? Então, isso o empresário não enxerga. Eu faço parte do meio empresarial. A hora que eu lancei: “Venda seu... não ande de Mustang zero e ande de Camaro velho”, eu fui excluído do grupo, né? Lógico. E aí eu tenho que ouvir de empresário que, quando o funcionário troca de moto, o empresário acha que o funcionário está lhe roubando. Você acredita nisso? Não, isso, aí... espera aí... então espera aí, você tem uma empresa e você não quer que o seu funcionário progride? Você não quer que o seu funcionário compre uma moto? Você não quer que o seu funcionário troque de moto? Ô filho, época de escravidão acabou. O cara tem que vir trabalhar, tem que subir na vida, ele tem que ter sonhos. Ele tem que vir trabalhar e saber que o salário que ele está recebendo, vai construir um sonho. Ou construir um cômodo. Ou comprar uma moto. Ou sei lá o que ele vai fazer. Mas o cara não pode trabalhar estagnado na vida. E eles não entendem isso, cara. Eu fico de cara quando eu escuto alguém falar isso: “A minha funcionária lá trocou a moto dela. Fui olhar nas câmeras. Acho que ela está me roubando”. Dá vontade, cara, de... é sem palavras. Então, o funcionário que está progredindo na vida, você tem que ficar feliz, porque a sua empresa também está progredindo. Porque o seu funcionário só progride se a sua empresa está progredindo. Porque se a sua empresa estiver no buraco, ele também vai estar no buraco. Ele vai estar sem receber, pagamento atrasado ou perder o emprego. Então, fique feliz quando o seu funcionário progride de vida. Então, pra você fazer, pra você ter uma comida boa, um restaurante bom, você tem que fazer com que os seus colaboradores trabalhem com amor, entendeu? E você tem que dar condições pra eles progredirem na vida. Sem isso, meu irmão, não tem restaurante que vai pra frente. “Ah, mas eu comprei um mignon lá da Bassi, um contrafilé Angus”. Contrafilé Angus, você vai em qualquer mercado e compra. Mas o seu colaborador fazer com carinho, isso não é pra qualquer um.
P/1- Certo. Robson, e propaganda? Você precisa fazer propaganda? Você usa rádio, jornal? Já usou TV alguma vez? Que tipo de propaganda você faz?
R- Bom, outra história também interessante: além do esquilo, né, que a gente fez a fantasia e circulava nas ruas, hoje está impossível com esse calor, se colocar uma pessoa dentro daquela fantasia, ela vai morrer. Então, esquece o esquilo. O esquilo vai estar aqui só pra enfeite, pra criança bater foto. Propaganda, eu fazia panfleto. Eu fiz um panfleto de historinhas em quadrinhos. Então, tinha um panfleto que o cara saía com a bolsa, suado, aí chegava no restaurante, olhava assim, com aquela carinha de triste, sem dinheiro. Aí chegava na Toca do Esquilo, bom, bonito e barato e comia. Então eu fazia panfletos com historinhas em quadrinho. Foi muito legal. O meu amigo Inedilson, aquele que quebrou parede comigo aqui, em 1994, fez isso aí pra mim. Foi uma propaganda muito interessante. Propagada da fantasia de esquilo também foi muito interessante. E a última que eu inventei, eu tenho instalado aqui um apito de Maria Fumaça. Então, nas minhas andanças, fui em Passa Quatro uma vez e eu fui andar de trem. Eu adoro trem, amo trem. Pra mim, trem é uma coisa espetacular. E, nas minhas andanças de Passa Quatro, tem um trajeto que o trem faz de Passa Quatro a Cruzeiro. E eu fui andar de trem. E tem o apito de trem, que é espetacular. E eu falei assim: “Eu vou atrás desse negócio aí”. Rapaz, deu um trabalho! Mas deu um trabalho, que não tem noção. Pus na cabeça que eu queria ter um apito de trem de Maria Fumaça aqui no restaurante. Pus na cabeça. Rapaz, eu fui atrás de quem fabricava o apito de Maria Fumaça, na época da ferrovia. ‘Seu’ Armando, lá de São Paulo. Liguei pra ele, papapapa. Fez o apito de trem pra mim. É espetacular. Só que eu não tinha planejado um detalhe: não é só comprar o apito, você precisa fazer soprar. Pra fazer o apito soprar, meu amigo, você precisa de um compressor de duzentas libras, gigante. Fui lá e comprei o compressor. Pra fazer o apito assoprar, além do compressor, você precisa das instalações elétricas, pra fazer o compressor funcionar como estação elétrica especial. Um compressor puxa uma energia do cão. Vamos fazer uma instalação elétrica pro compressor. E, pra fazer o compressor assoprar, você tem que ligar o compressor num apito. Fomos atrás de mangueira e conexões. As instalações ficaram cinco vezes mais caro que o apito de trem, mas ficou um espetáculo, tá? Um espetáculo. E aí, todos os dias, às onze horas, meio-dia e uma hora, eu apitava o apito de trem, são oito segundos. Ah, não durou muito tempo, vieram as reclamações. Tem gente que não gosta de apito de trem: “Você está fazendo essa sirene, essa buzina” “Isso não é uma buzina. Isso não é uma sirene. Isso é um apito de Maria Fumaça com notas musicais”. E aí, briga vai, briga vem, vizinho briga, xinga de cá, xinga de lá. “Não. Vamos entrar num acordo? Eu não vou apitar o apito às onze horas e nem a uma hora. Eu vou apitar o apito de trem só ao meio-dia”. Então, todos os dias ao meio-dia. Agora na pandemia, não. Por quê? Eu sei que é alto, tá? Eles têm um pouquinho de razão. A gente tem que ceder também. Então, tem muita gente trabalhando em home office. Cara, eu toco o apito, escuta até do outro lado da cidade, lá. Então, isso estava atrapalhando as pessoas. Então, nesse momento de pandemia, eu não estou tocando o apito de trem. Mas esse apito de trem de Maria Fumaça é uma propaganda espetacular. Agora, televisão eu nunca fiz. Rádio eu nunca fiz. Outdoor também nunca fiz. Agora, a propaganda que a gente está batendo firme é o Facebook e o Instagram, né, que você coloca no Facebook, coloca no Instagram e paga, porque se você não pagar, não resolve.
P/1- Não _______ (1:42:17)?
R- Não. Não. Você tem que pagar. Você tem que impulsionar lá, gastar dez reais, quinze reais. Tem que impulsionar, aí você tem um resultado, tá? Mas só colocar no Facebook, no Instagram, sem impulsionar, sem gastar dinheiro, você não tem resultado. Claro que a maior empresa do planeta, a Google, não ia deixar isso de graça, né? Claro que não. Não são a maior empresa do planeta à toa. Então, atualmente, a minha propaganda é Instagram, Facebook e Google. Mas já fiz jornalzinho e panfleto, contando as histórias de vários personagens, a propaganda do esquilo, da fantasia e o apito de trem. E tinha mais uma coisa que eu queria fazer, que eu estou com preguiça, uma preguiça esses dias, eu estou trabalhando tanto. Eu estou trabalhando tanto, não ganhando nada, eu estou meio com preguiça. Eu vou colocar aqui em cima, aqui dentro do restaurante, na parede, um trilho de trem, aqueles trens miniaturas, da Frateschi. Inclusive, eu até comprei o trem, comprei as linhas, a ferrovia lá, os negocinhos com o negócio. Só que aí eu tenho que furar a parede, pôr o negócio, medir, pintar. Eu estou com preguiça de fazer isso aí. Então, isso é uma propaganda pra criança. Detalhe: o apito de trem, quando estava ao meio-dia apitando, chovia de molecada aqui no Toca. Chovia, certo? E, quando o filho quer, o pai não abre a boca. Então, você agradou a criança, o pai vai ter que vir aqui gastar. Então, muita gente vinha almoçar aqui pro filho poder apitar o apito de Maria Fumaça. Ideia muito boa.
P/1- Sim. Robson, o esquilo, a fantasia que eu vi aí, diz que tem também... ela andava no meio da cidade, inclusive em manifestações políticas, né? Era um amigo seu que ia, né?
R- Sim, o Herbert, vulgo Salsicha. O Herbert. É. Inclusive, esse esquilo saiu no Jornal Nacional.
P/1- Sério?
R- Lógico que não faz a propaganda do restaurante Esquilão, lá. Mas o fato do esquilo ir lá... e esse Herbert fazia teatro. Rapaz, ele punha esse esquilo, incorporava, que você não acreditava o que ele fazia. E o dia que tinha uma manifestação na porta da prefeitura, ele foi lá com a fantasia de esquilo e dançou lá na frente, rebolava e todo mundo aplaudia. Aí saiu no Jornal Nacional, saiu na Folha. Então, era muito legal. Claro que não tinha o nome, mas as pessoas associam, né? “Ah, aquele esquilo lá do restaurante, tal”. Então, o esquilo ajudava bastante.
P/1- Certo. E você, politicamente, já mostrou que você tem uma baita consciência política e você gosta do assunto. Isso aí vem da faculdade? E aí, depois, você foi com os amigos nesses locais? Conta um pouco dessa sua parte política aí, que parece que até tem a ver com o restaurante também.
R- Veja bem: como todo bom brasileiro, infelizmente eu tenho que te falar isso, a gente entra pra política pra ganhar dinheiro. Lá atrás, em 1993, eu tive essa ideia de ser candidato a vereador, mas não pra salvar o povo, nada, pra ganhar dinheiro, pra ganhar um bom salário. Olha só que coisa cruel! Triste falar isso, né? Triste. Em 1993. Mas aí eu tive a sorte de entrar pro Partido Socialista Brasileiro, o PSB. E comecei a aprender, comecei a militar. Comecei a ver como funcionam as coisas. Comecei ver que as pessoas precisam de ajuda, as pessoas também precisam se ajudar. E a gente veio vindo nessa toada. Eu fui Secretário de Esportes da cidade. Eu militei durante muito tempo. Eu participei das eleições do Vladimir Putin em 2000. Em abril de 2000, eu estava segurando bandeira vermelha com a foice e o martelo. Inclusive, eu tenho uma foice e um martelo aqui, ó.
P/1- Sim. (riso)
R- A foice e o martelo, está vendo? Uma foice e um martelo aqui. Ninguém sabe disso: “Ô Robson, o que é esse martelo aqui?” “Vai estudar. Inferno!”. Então, aí eu fui pra Moscou. Fui pra Cuba cinco vezes. Pro Equador. Acampei nas Farc. Fui pro Leste Europeu, República Tcheca. E aí, quando eu quis ser candidato a vereador para ganhar dinheiro e tive a sorte de entrar num partido socialista, a minha consciência mudou. Eu comecei ver a política de forma diferente. Ou seja: entrar na política para mudar o seu país. E aí eu fui Secretário de Esporte. Militei. Tomei borrachada. Ensinei os estudantes a fazer bomba de botijão de gás de pipoqueiro, que aquilo é um espetáculo, né? Fazer bomba de botijão de pipoqueiro, aquilo é um míssil espetacular. Ensinei a molecada a fazer coquetel molotov, revolução, pichação. E isso tudo eu fui aprendendo a ter uma consciência política. Hoje, eu não movo uma palha pra ajudar mais ninguém. O povo não merece a minha ajuda. O povo não merece a minha dedicação. Então hoje eu abandonei a política. Não quero mais saber. Não quero mais. É desgastante, nojento.
P/1- Qual foi a decepção maior, assim? A decepção maior.
R- Cara, pelo próprio povo. O povo põe todo mundo no mesmo saco. As pessoas põem todo mundo no mesmo saco. Você não pode falar que todo político é ladrão. _______ (1:48:08) ladrão. Eu militei, ajudava as pessoas. Cara, eu ganhava um salário de cinco contos, quando eu era Secretário de Esportes, eu distribuía o salário pra todo mundo. Olha só como a gente muda, né? Eu falava assim: “O meu ganha-pão é o restaurante. Aqui na política, eu estou dando a minha contribuição como cidadão”. Como que muda, né? Você entra pra política com uma consciência pra você ficar rico, ter um bom salário. Isso em 1993. E você, nessa transformação de vida e de militância... ainda bem que eu entrei num partido bom. O PSB é um partido vermelho, de esquerda. Se eu tivesse entrado num PP de um Paulo Maluf, num PMDB, num PL, num PFL, com certeza eu devia estar enchendo os bolsos. Mas eu tive a sorte de entrar num partido vermelho, partido de esquerda. E isso foi criando uma consciência política de ajudar as pessoas, de ajudar o país, de construir um país diferente. E aí chegou nas eleições últimas, em 2004. Nós perdemos as eleições. Porque, cara, tudo o que nós fizemos, as pessoas não reconheceram, punham você no mesmo saco: “Político é tudo ladrão”. Não. Nem todo político é ladrão. Tem os políticos bons, que querem o bem do país. Nem todo professor é vagabundo. Tem professor que quer ensinar aquele garoto, quer mostrar, quer pôr aquele garoto no caminho certo. Então, você não pode colocar todo mundo no mesmo saco. E as pessoas estavam colocando. Aí eu peguei, cansei. Cansei. Então, eu não mexo mais com política. Hoje, as pessoas falam assim pra mim: “Robson, você podia ser candidato a presidente da ACI. Você podia ser candidato a vereador. Você podia ser candidato disso. Podia ser presidente disso”. Eu falo assim: “Não vou ser presidente de nada. Se vocês quiserem ser, eu posso até orientá-los como ser e o que fazer. Mas eu não vou mais”. Encheu o saco, entendeu? Encheu o saco. Porque você faz tudo pela sociedade, faz tudo pelo povo e você é colocado no mesmo saco, no mesmo balaio de gato. Então, eu vou me desgastar mais? Não. Eu vou ficar com o restaurante, vou curtir a minha vida, aposentar e acabou. Eu não mexo mais com política, por decepção, tá, do povo, tá, do próprio povo, entendeu? Do próprio povo.
P/1- Está certo. E a gente falou da sua esposa, que você falou que foi morar com ela num quartinho, tal. Como você conheceu a sua esposa? Como é que foi?
R- Rapaz, a gente conhece as pessoas nos lugares mais improváveis do planeta. Eu gosto de rock’n roll, né?
P/1- Sim
R- Eu gosto de rock’n roll. Rock, tanto internacional, como nacional. Adoro. Tenho várias coleções de CDs raros. Adoro. E um dia eu namorava, trabalhava no Banco, ganhava bem, motocona. Aquele Mazzaropi lá, do bullying, do passado, agora estava com dinheiro, estava bonitão, tinha vinte e dois anos, motocona. E eu briguei com a minha namorada. E aí eu falei assim: “Hoje eu vou dar uns beijos por aí”. E aí tinha um lugar aqui em Ribeirão Preto que chamava... não sei se eu lembro. Esqueci agora. Terraço. Não é Terraço. Eu vou lembrar, eu vou lembrar. É hoje onde é um posto de gasolina BR, lá no balão do motoqueiro, na Treze de Maio. Tinha um balão do motoqueiro ali, tinha um lugar lá que tocava forró e xote. Mas eu não gostava, não era a minha praia. Mas eu tinha brigado com a namorada: “Ah, eu vou dar uns beijos aí”. E lá, como diz meu amigo, como dizem os meus amigos: “Se você quiser beijar, vá no sertanejo. Lá é o lugar mais fácil pra beijar”. Eu falo assim: “Mas por que, meu fio, você vai pro sertanejo? Eu não gosto de sertanejo. Mas por que você vai pro sertanejo?” “Ah, fio, as mulheres, hora que ouve aquelas músicas carentes lá, é só chegar, dar um abraço, elas choram no seu ombro”. (risos) Então, na época tinha... Mosteiro! Lembrei. Chamava Mosteiro. Só tocava forró e xote, não era a minha praia. Mas eu encostei a motocona lá, bonitão. Aí tinha aquele monte de mulherada lá. E a minha esposa estava de costas. Eu falei assim: “Nossa”. Detalhe, hein: a minha esposa já foi capa de revista, já foi capa de caderno, já desfilou, já morou nos Estados Unidos, desfilou lá. Então, a minha esposa é muito bonita. Eu falo assim pra ela: “Eu não sei o que você viu em mim. Ainda bem, né? Levei sorte”. Então, ali, ela conhecia lá, estava lá nesse forró que ela, também, não gosta de forró e não gosta de xote. Ela também gosta de rock’n roll. E o que ela estava fazendo lá? Ela foi levar a irmã dela. A irmã dela era mais jovem. A minha esposa, na época, tinha dezoito anos; a minha cunhada, dezesseis. A minha cunhada queria ir lá passear, mas a mãe não deixava ir sozinha. Então, pegou a minha mulher: “Vai com a sua irmã pra lá, pro Mosteiro”. Tanto é que a minha esposa estava lá fora e a irmã dela lá dentro. Por que a minha esposa não estava lá dentro? Ela não gosta de forró, nem de xote, né? E eu estava com a motocona lá, gostei dela, achei ela bonita, aquele mulherão, cabelão, modelo, tal, tal, tal. Eu fiquei doido, né? Eu me apaixonei. Mas ela, pergunta se ela gostou do Mazzaropi. Claro que não, né, fio? Eu tinha um cabelo... parece o Chitãozinho e o Xororó. Eu tinha um cabelo, sabe, Chitãozinho e Xororó que vem aqui aquele rabinho, coisa horrível? Aqui, aquele rabinho aqui? Eu tinha o cabelo de Chitãozinho e Xororó. E ela não gostou de mim, tal. E olha só que coisa louca, mais uma história interessante: na hora de ir embora eu peguei na mão dela e não queria deixá-la ir embora. E a irmã chamando, arrumou um namoradinho lá e o cara queria ir embora dar uns beijos. E: “Vamos, Kelly” “Não vamos”. Eu seguro na mão: “Dá o seu telefone” “Não. Não vou dar o meu telefone”, tal. Naquela confusão toda, ela teve o azar ou a sorte de dar o telefone pra mim. Ela podia ter mentido. Mas nesse tumulto, ela falou o telefone, a verdade. Cara, era na época que você pegava o número do telefone, olhava na lista telefônica, tinha o endereço da pessoa. Hoje não tem mais. Hoje, se eu te passar o número do telefone, se você for lá procurar o telefone, não existe o telefone. Você tem que saber, a pessoa tem que te dar o endereço pra você procurar na lista. Com o número você não acha mais o endereço dela na lista. Naquela época tinha. Com o telefone, eu descobri o endereço dela. E aí eu liguei pra ela, falei que ia visitá-la, que eu queria falar com ela. Ela pegou e falou assim pra mim: “Não adianta vir aqui com esse cabelo de Chitaõzinho e Xororó. Você é sem chance comigo”. Cara, eu fui lá e rapei a cabeça. Rapei a cabeça.
P/1- Rapou?
R- Rapei a cabeça, cara. Rapei a cabeça. Eu lembro que tinha uma novela que o Mauricio Mattar trabalhava e tinha o cabelo bem baixinho assim, bem quase máquina zero, máquina dois, mais ou menos, bem baixinho. Era o Mauricio Mattar. Rapaz, eu fui lá e raspei a cabeça, máquina dois. Telefonei lá, falei: “Desce aqui, que eu não tenho mais cabelo de Chitãozinho e Xororó”. E aí nós começamos a namorar. Você acredita um negócio desses? Que coisa inusitada! A vida nos prega peça que a gente nem imagina. Nem imagina. E aí eu a conheci, começamos a namorar, né? Começamos a namorar, fomos morar junto. “Vamos morar junto?” “Então, vamos”. E fomos morar com colchão no chão. Eu falo assim pra Kelly: “Nossa, você lembra quando eu morava com colchão no chão?” Porque eu não tinha dinheiro, né, pra comprar cama, colchão no chão no quarto. Eu falo assim pra ela: “Hoje, se nós quisermos, nós compramos a fábrica de colchão, né? Não precisa mais se preocupar com o colchão”. Como que a gente muda na vida! Tudo embasado ao trabalho. Então, eu a conheci muito jovem, né? No Mosteiro, numa coisa inusitada, que nem eu, nem ela era pra estar lá, foi um acaso. Coisa louca, né?
P/1- Pois é. Mas vocês casaram, mesmo? Chegaram a casar?
R- No papel, não. Porque eu tenho alguns traumas com isso, né? Cara, você vai dar satisfação da sua vida pra um padre e pro governo? Não, não tem que dar satisfação pra eles. Satisfação é eu e a minha esposa, nós dois. Então, eu não sou casado no papel. Os nossos bens são tudo divididos. Hoje eu compro um apartamento no meu nome; amanhã eu compro um apartamento no nome dela. Hoje eu compro um terreno no meu nome; amanhã eu compro um terreno no nome dela. Então, de bens é assim, bem dividido, tá? Mas no papel não somos casados. Sabe por quê? Cara, eu acho que a hora que você faz uma obrigação, porque a hora que você casa e você assina o papel, parece que você é obrigado a cumprir aquilo. Parece que é uma obrigação, você assinou, é um contrato. Cara, você não tem que ter obrigação. Você tem que estar com a pessoa porque você gosta, porque você a quer bem, porque você se dá bem. Você não pode ter obrigação de nada. Então, a gente não é casado no papel. Mas moramos juntos aí, há trinta anos, cara. Trinta anos. Um tempão, hein? Um tempão. E ela é companheirona demais, né? Companheira demais. Lógico. Tem que ser.
P/1- Sim. Sempre trabalhou com você?
R- Sempre trabalhou comigo. No início do restaurante, ela trabalhava no shopping. Modelo, né, fio? Bonitona, tal. Trabalhava naquelas lojas chiques do shopping. E aí, com o passar do tempo, eu aqui no restaurante, precisando de
P/1- Robson, e quanto ao futuro? O que você pretende fazer no futuro? Você já falou que está meio a fim de sair viajando por aí, conhecer Kosovo. Eu também adoro o leste europeu, acho demais aqueles lugares lá. Mas o futuro do restaurante, você pensa um dia em ter uma rede? Em expandir pra outros bairros de Ribeirão? Outras cidades? O que você pensa do futuro, nesse sentido?
R- Bom, eu pretendo o seguinte: no momento, transformar o restaurante num ponto turístico. Se você vier em Ribeirão: Pinguim e Toca do Esquilo. Num futuro mais distante, um pouquinho mais, é transformar o restaurante numa franquia ou ter uma filial. Não que o Robson vai tocar. Não quero mais. Vai ser a minha prima, que está gerenciando aqui. Eu tenho uma irmã que logo, logo vai ter cinquenta anos, não mais vai ficar como promotora de remédio ou de cosmético, que você precisa, pra ser promotora, ser bonita e a idade, quando chega, ninguém mais fica bonito. Então, eu estou prevendo isso, quando a minha irmã abandonar esse tipo de trabalho, pra ela ter o restaurante dela. _______ (2:03:09) tocar o restaurante aqui, tiver mais uma unidade. Então, a minha intenção é essa. É, num primeiro momento, transformar o restaurante como um ponto turístico. Num segundo momento, uma filial ou uma franquia. Porque eu quero morar num barco.
P/1- Ah, num barco?
R- Quero morar num barco. Num barco. É. Inclusive, eu já sou mestre amador. Eu já tirei a minha arrais de mestre amador. Velejo. Já velejei pra vários lugares aí. Porque vamos pensar numa filosofia: todo mundo quer comprar uma casa na praia, né? Todo mundo quer ter uma casa na praia. Só que ninguém lembra e todo mundo esquece que, quando você compra uma casa na praia, você só vai pra aquela praia, você vai ficar escravo daquele lugar. Então, por exemplo: “Ah, comprei uma casa lá em Ubatuba”. Cara, você só vai pra Ubatuba. Final de ano: “Onde você vai?” “Ubatuba” “Ah, vamos pra Gramado?” “Vamos. Mas tem a minha casa em Ubatuba” “Vamos lá pra Nova Iorque, passar o Natal lá em Nova Iorque?” “Mas eu tenho uma casa em Ubatuba”. Então, você fica escravo da casa, do lugar. Então, o barco, a ideia do barco, é ter um barco que custa, mais ou menos, quanto custa uma casa, um barco de quinhentos mil. Você vende a sua casa, todo mundo tem um apartamento, tem uma casa aí, né, tal. A minha casa, eu acredito que deva valer uns quinhentos mil, a minha casa. Então, você vai vender a sua casa de quinhentos mil e você vai comprar um barco usado de quinhentos mil. Pô, mas um barco? É muito barato? É muito caro? Um barco pra você morar, vai de duzentos mil a dez milhões. Depende do seu bolso. O meu bolso não é de dez milhões. O meu bolso é pra um barco de quinhentos mil, que eu vendo minha casa. Mas por que um barco? Eu posso ficar três meses em Ubatuba. Aí levanto a âncora, dois meses em Ilhabela. Três meses em Salvador. Dois meses no Rio de Janeiro. Um mês em Parati. Ou seja, você tem essa mobilidade de você morar hoje aqui e amanhã, morar lá. Uma casa na praia você não vai poder fazer isso. E fora o transtorno de quando você for ter que vender a sua casa na praia. O barco não, o barco você mora e você viaja com o barco, você leva a sua casa. “Robson, e por que não um motorhome, que é igual e até mais barato?”. Problema de segurança, né? Embora o barco também tenha problema de segurança, de você ser assaltado etc e tal, mas o motorhome você está muito mais arriscado, né? Existem muito mais ladrões de motorhome do que ladrões de barco. Porque quando você assalta o barco, você tem que ser um pescador, você tem que ter um barco, você tem que ter conhecimento de navegação. Então, isso diminui os possíveis suspeitos, né? Agora, no motorhome, não. No motorhome qualquer um pode assaltar. Se eu encosto o motorhome aí num camping, ou num posto, alguma coisa, qualquer um pode assaltar. E pra você achar esse assaltante? Agora, num barco, já é mais específico, não é qualquer um que vá assaltar lá no barco, no mar, tal. O assaltante é específico. Então, é mais fácil você achar o assaltante e é mais fácil você se precaver. Então, o barco, a ideia do barco é como um motorhome: viajar, só que você ter mais liberdade de escolha e um pouco mais de segurança. Você não pode ir com o motorhome, daqui pra Europa; com o barco, você pode, você pode atravessar o oceano. Então, é essa a minha idéia. Era pra ter feito nesse ano que passou, em 2020. Mas, com essa pandemia, os planos foram por água abaixo. Já torrou duzentos contos. Duzentos contos a menos na conta. Então, isso atrasou a minha vida em um ou dois anos. Então, a minha ideia é fazer isso com o restaurante, a minha prima tocar. E eu ficar no barco e viajar. Essa é a minha ideia.
P/1- Legal. Robson, você quer falar mais alguma coisa que a gente não perguntou? Foi excelente a entrevista. Falamos de um monte de coisa.
R- Foi bom, pô. Duas horas aqui de conversa.
P/1- Legal. Robson, primeiro eu queria te agradecer, que eu achei muito legal a entrevista. Eu queria te dizer que vai ligar pra você, o nosso fotógrafo. A gente tem um fotógrafo em cada cidade.O fotógrafo daí eu não sei o nome dele ainda, eu conheço o daqui de Bauru. Mas ele vai ligar pra você, marcar um dia pra tirar umas fotos, fazer um ensaio aí com você no restaurante, tal. Onde você quiser tirar foto, pode ser na sua casa. Mas no restaurante é mais legal, porque todo...
R- Aí, nós deixamos pro profissional resolver. É o fotógrafo que resolve. Ele resolve onde vai tirar a melhor foto.
P/1- Verdade. E a nossa produtora vai te ligar também pra, se você tiver fotos antigas da sua vida, do começo do restaurante. Porque todo o projeto Memórias do Comércio dá origem a um livro, esses livros bonitos que o Sesc faz, ó. Uns baita livrões. Chique, ó. E aí fica no Sesc.
R- Legal, hein?
P/1- Então, por causa da pandemia não vai sair agora, o livro. Por enquanto vai tudo pro portal do Museu da Pessoa e pro Sesc. Mas quando acabar a pandemia...
R- Eu posso assistir isso no portal do Museu da Pessoa?
P/1- Pode. Primeiro vai ter um tratamento, né? Melhorar o som, essas... depois isso vai pro Museu da Pessoa. Se você clicar aí na internet Museu da Pessoa, você vai ver que é o maior portal de histórias de vida, do mundo. O Museu da Pessoa é o maior museu de histórias de vida do mundo. Tem história de tudo quanto é lugar. Inclusive, muitas histórias do museu, que existe desde 1994, estão enterradas lá naquele lugar na Noruega, naquela ilha, que eles estão deixando aquelas cápsulas pra, se a gente _______ (2:16:09) com tudo e chegar alguém, saber um pouco do que é a história do mundo, tal. Então, o Museu da Pessoa é muito legal. E o Sesc vai divulgar tudo isso aí também. Mas eu queria agradecer muito. Se você vier a Bauru, visitar o seu sogro, me dá um toque. A gente vai ouvir um rock’n roll na casa mais antiga do rock que tem aqui em Bauru, quarenta anos fez o Armazém, o ano passado.
R- O Armazém. Conheço. Já fui, já, ué.
P/1- Já foi?
R- Já. Inclusive, eu falo aqui em Bauru... cara, tem uma concessionária de carro aí, que eu esqueci o nome, fica na avenida do Armazém, só tem carro top. Um dia eu estava passando lá, tinha um Rools-Royce, lá. Puta que o pariu, Bauru tendo Rools-Royce pra vender? Caraca. Puta concessionária de caranga em Bauru.
P/1- Sei. Mas aqui o pessoal, é o que você falou: tem muita gente que tem esses carros e depois não sabem o que fazer com eles. Tem também.
R- É. Eu fui inspirado pra morar no barco, aí pelo Bar do Português de Bauru.
P/1- Ah, sei. Tem aí também, né? Tem em Ribeirão.
R- Mas aqui é outra pessoa, tá? A franquia do Bar do Português nasceu aí em Bauru.
P/1- Sei. É o Fernando. Ele foi morar no barco, mesmo. É verdade.
R- Isso. A Paula e o Fernando estão morando no barco.
P/1- Sim.
R- O barco chama Strega, que é bruxa em italiano. Eles estão nas Bahamas. E eles fizeram o blog Do bar para o mar. E eu e a minha esposa fomos inspirados pra morar no barco por causa da Paula e do Fernando aí de Bauru. Olha que coincidência!
P/1- Que legal. Muito bom.
P/2- E aí, Robson, deixa eu só te contar uma coisa: tem um livro que chama Livraria Mágica de Paris, que é uma livraria, também num barco. O rapaz levou os livros que ele tem. Ele trabalha, vive como um farmacêutico literário. Então, ele levou os livros dele pra um barco e ele vive, vai passando nas cidades com o barco dele. E a livraria dele também fica dentro do barco. Pra você, que tem os seus livros, a sua biblioteca, leva os seus livros...
R- Uma ideia boa. Muito boa ideia. Legal. Bacana, hein?
P/2- Aí, se tiver um tempinho, lê o livro, que é um romance bem bonito.
R- Deixa eu só pegar aqui e marcar, porque o meu computador já acabou a bateria e o celular já começou a apitar. Então, antes que acabe a bateria, eu vou pegar o nome de onde eu tenho que fuçar e ver. Só um minuto.
P/1- Tá bom. Eu vou pegar a fonte também, que está descarregando aqui.
R- Vamos lá! É Instituto Museu da Pessoa, né?
P/1- Isso. Mas só digitar Museu da Pessoa, que você já acha.
R- Certo. E do barco, lá. Ela falou...
P/1- Ela foi pegar o livro, eu acho.
R- Livraria Mágica de Paris. Muito legal. Já marquei.
P/2- Legal, mesmo.
R- Livraria Mágica de Paris e Instituto Museu da Pessoa. Perfeito. Espetáculo.
P/1- Legal. Muito obrigado, viu? Pela entrevista...
R- Quando você vier em Ribeirão, está convidado pra vir aqui.
P/1- Com certeza.
R- E, Érica, quando passar por aqui, manda um oi pra nós.
P/2- Certeza.
R- Muito legal.
P/2- Muito legal, mesmo. Obrigada.
R- Abraço.
P/1- Obrigado, Caio. Tchau, Érica.
P/2 – Tchau, tchau. Beijo, abraço.
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