Sra Zulmira, mulher militante e membro da Irmandade de São Benedito do Lauzane Paulista - Zona Norte de São Paulo, foi também Presidente do Conselho Nacional das Irmandades de São Benedito. Participou ativamente na igreja católica e me ensinou que a religião nem sempre está atrelada à fé. Ela me disse um dia que eu deveria seguir minha fé e não me preocupar com os dogmas da Igreja Católica, pois eu tinha uma fé que estava muito mais ligada à ação solidária que a oração. Ela afirmava que nada poderia desmerecer ou esmorecer a fé de um cristão que agia com Cristo agiu, acreditando, auxiliando, ensinando, cantando, dançando, pois se o corpo é sagrado quando oramos com canto e dança, rezamos muito mais. D. Zulmira era daquela pessoas fervorosas na luta contra o racismo, combatia o racismo na igreja fervorosamente, resistia, para que pudesse manifestar sua e a nossa fé com nossos elementos culturais, pois se somos seres plurais, plural e nossa cultura, plural é nosso jeito de rezar, plural é nosso jeito de amar. D. Zulmira me ensinou que devemos resgatar nossa identidade ancestral e resgatar e apoiar todos os grupos de manifestação popular, apresentar aos mais novos. Registrar tudo o que fazemos, pois sem memória um povo não sobrevive. Dona Zulmais como assinava era também artista plastica. Foram longos os anos de caminhada junto a esta senhora que me apresentou as irmandades negras e me fez ter certeza que nada tem de errado em querer estar com a bíblia, o jornal do dia e o atabaque para manifestar minha fé.