Memória dos Brasileiros
Depoimento de Emilia Nogueira Nunes
Entrevistado por Claudia Leonor e Claudia Domingues
Juazeiro 7 de dezembro de 2007
Museu da Pessoa
MB HV088
P/1 – Dona Emilia, eu vou pedir para a senhora falar seu no me completo.
R – Meu nome é Emilia Nogueira Nunes.
P/1 – Que dia a senhora nasceu?
R – No dia 23 de janeiro de 17.
P/1 – Aonde? Aqui em Juazeiro?
R – Aqui em Juazeiro.
P/1 – E o nome do seu pai e da sua mãe?
R – Meu pai chama Severian Agostinho Nogueira, minha mãe Joana Nogueira dos Santos.
P/1 – E que eles trabalhavam?
R – Meu pai era vaqueiro e minha mãe trabalhava em casa.
P – Mais vocês moravam, na roça, como é que era isso?
R – Não, na roça a gente ia assim, mas voltava. NO mesmo dia, tinha os trabalhador, só ia pra tomar conta. Tem aquela responsabilidade da dona, né?. Agora tinha os trabalhador que fazia o serviço.
P/1 – E Juazeiro nessa época, como que era a cidade?
R – Era aqui era mato. Quando eu mudei aqui pra essa rua mesmo, só tinha era (mussambeiro?), (muquem?) , (coro?) e era mato. Tinha cinco casa.
P/1 – Como é que chama o bairro aqui?
R – O bairro aqui tinha (barro?) do Perpétuo Socorro, botaram esse nome do princípio, Rua do Perpétuo Socorro. Agora a Rua Perpétuo.
P/1 – Ficou mais curtinho o nome?
R - O nome?
P/1 – É.
R – O nome da casa aqui?
P/1 – Depois a gente fala. "Deixa eu" perguntar pra senhora: quando a senhora era criança, quais eram as brincadeiras?
R – Era carnaval, samba, rei de bois, essas coisas.
P/1 – Como que era o carnaval antigamente? O que tinha no carnaval?
R – Era muito diferente do que era hoje. A gente podia sair. Nos mesmo não saia porque meu pai (pedia?) , a gente era muito obediente. Ele pedia que a gente olhasse mas não entrasse nas batucada, nos cordão, naquelas coisas.
P/1 – Ele bravo?
R – Quem?
P/1 – Seu pai era bravo?
R – Não, era um pai humilde. Minha mãe era mais nervosa, mas meu pais era um pai humilde. Tudo dele era comigo.
P/1 – Como assim tudo dele? Ele pedia pra senhora fazer as coisas?
R – Não era muito difícil. A coisa que fazia era isso. Ele trabalhava, fazia calçado em casa e eu só vivia no pé dele. Ia ajudar bater o prego no solado. Ele botava nas forma e eu ia bater os prego. Tudo dele era comigo. Ate o dinheiro, ele não virava pra mamãe pra dizer: “Joana arranja ai tanto”. Era minha filha. A nossa casa era ali onde é um sobrado verde, ali. Meu quarto era o da frente. Ele botou a cama, botou a mesa que é essa que tem da cozinha até hoje. Comprou uma cria de mão. Eu com dez anos já fazia as roupinha, abria o buraco no chão, botou um caixão, ali era de botar o dinheiro de papel, uma lata era de (dedo de nica?). Quando parecia uma reis, um cavalo pra comprar ele não virava pra mamãe. Era: “Minha “fia”, eu achei assim, assim, será que minha “fia” tinha ai algum” trocadinho “pra dar seu pai?”. Eu ia apanhava, dava. Também todo "trocadinho" dele era de minha mão. Eu com 12 anos já pagava _____ na Prefeitura, na mão do coronel Aprigio Duarte.
P/1 – Quem que é esse coronel?
R – Como?
P/1 – Quem que é esse coronel? Quem que é o coronel Aprígio?
R – Amigo.
P/1 – Era amigo?
R – Era, ele era assim o “perfeito”. Ele passou muitos anos só ele sendo “perfeito”, só ele sendo “perfeito” Aprigio Duarte.
P/1 – E ele comandava a cidade?
R – Era.
P/1 – E a senhora ia a escola?
R – Como?
P/1 – A senhora tinha alua, ia a escola?
R – Não fui na escola, minha “fia”. Eu fui pra uma escola ali onde hoje é a maçonaria . Ali tinha um escola e a profesora ia com a gente, quando chegava largava a gente lá na rua e ai conversar com o namorado. Ela morava ali de frente a igreja de São Cosme e Damião. Eu era toda vida, eu fui muito nervosa, o que eu tinha de dizer eu dizia. Quando foi um dia eu entrei e ela deixou a gente lá e ficou todo mundo e eu peguei o livro e ajuntei, botei os livros debaixo do braço e fui me embora. Mamãe disse: “Cadê as meninas?”. Eu disse: “Ficaram lá”. Não disse porque. Quando ela veio toda nervosa: “Emilia porque você veio embora?”. Eu digo: “Porque você não vai ensinar ninguém”. ________ da rua veio pra casa , ai não fui mais na escola. Aprendi a ___ meu nome ___ em casa. Pegava os livros ____.
P/1 – A senhora tinha irmãs e irmãos?. Quem que eram seus irmãos?
R – Irmãos?
P/1 – A família isso.
R – Pois é, só irmãos “nóis” era 19.Ali tudo deles era comigo. Uns me chamava comadre, o mais velho me chamava minha filha, os mais velhos, os outros era minha comadre e os mais novo tudo era minha madrinha, tudo me chama madrinha, tudo me chamavam madrinha. Que também tudo que eles queriam era comigo.
P/1 – A senhoras que organizava a casa?
R – Era, era que fazia tudo. Mamãe saia pra aqui pra li pra acolá, e ia "prosaria", pra fazenda da minha vó , e eu ficava tomava conta, pequena tomava conta de tudo. Esse que morreu um tempo desse mesmo, eu criei na hora que nasceu. Era um filho, hoje mesmo eu disse aqui chorando, mas onde Deus tiver_____tivesse deixado meu irmão.
P/1 – Como ele chama? O nome dele?
R – José Nogueira. Pega ali ó.
P/1 – Depois a gente pega. E qual era a educação dos meninos e a educação das meninas.
R – Educação. Eu, uma filha que eu tinha era uma filha de um jeito, e ela não ia olhar uma festa , um cinema, ela não ia que não fosse mais eu. Ela dizia pra mim assim: “Minha mãezinha, se é deu ir mais os outros eu vou mais a senhora”. Ou ela ia mais eu ou mais meu irmão. Era aquela filha educada e morreu de repente bordando, ai mandou me chamar, eu sai. Quando chega lá disse: “ Senta aqui minha filhinha que eu to tão cansada”. Ai eu me sentei , ela sentou aqui assim, ai olhou assim pra mim, beijou aqui, _____, morreu.
P/1 – Nossa!!
R – Sei não minha filha, tenho sofrido tanto.
P – É né?. Me fala uma coisa. Quando a senhora era criança era costume ir a igreja? Como que era isso?
R – Como?
P/1 – Igreja. A senhora ia a igreja quando era criança?
R – De confiança?
P/1 – Não. Ia a missa? Rezava? A senhora ia a missa?
R – A bença?
P/1 – Isso.
R – Eu ____ hoje ____ toma bença, tomava bença meu pai, minha mãe, esse pessoal mais velho. Tudo a gente tomava bença. Agora eu hoje recebo muita bença, porque eu fico ai nessa porta, "veiz" ajunta dez criança. Essa aqui mesmo elas não vão pra escola pra não passar aqui tomar bença.
P/1 – É um costume antigo né?
R – É
P/1 – E a senhora que ensinou as crianças? E rezar, a senhora gosta de rezar?
R –Como?
P/1 – Rezar.
R – Hoje o povo não reza mais. Antigamente a gente rezava, não é?. Eu mesmo não rezo. O meu terço ta ali dentro.
P/1 – A senhora rezava aonde?
R – Eu rezava na Igreja de Cosme, rezava na Catedral e dentro de minha casa mesmo.
P/1 – E procissão?
R- Procissão eu ia de Maria Gorete, de Cosme. Agora ta com dois anos que eu não vou minha filha, porque ando as queda não adianta eu ir pra cair por ai, não vou.
P/1 – Ai fica difícil?
R –Pois é, mais fácil (minha devoção de casa?). Rezo, tem dia que eu rezo cinco terço, com o terço na mão eu rezo pra mim, pra meus parentes que morreram, rezo pra aquelas pessoas que me olham que tem aquele cuidado comigo. POrque eu não tenho um filho eu não tenho mais um irmão, não tenho pai, não tenho mãe, não tenho nada. Então eu tenho aquelas pessoas que tem aquele carinho, aquele cuidado comigo que é justamente essas pessoas que eu... me sente descaroçar meu terço. Hoje mesmo eu fui na piranga aonde está um que tá muito ruim, eu não to achando nem que ele vai escapar. Que ele pra mim é um filho, não é nem parente, mas pra mim é um filho. Tanto que ele quando piorou falava pra irmã que ia morrer e não me via, que ia morrer e não me via. E a irmã me telefonou, eu fui, quando cheguei lá ele só fazia ____ dizia: “ Ai Jesus, ai Jesus”. Agora hoje já eu achei ele com uma "melhorazinha" pouca, mas ____ minha “fia”. Mas é pra essas pessoa que eu rezo. Você me faz uma caridade, eu lhe entrego a Jesus que tome conta daquele beneficio que você me fez,. Não é minha “fia”?
P/1 – Com certeza. E dona Emilia fala um pouquinho do quatro do santo que a senhora tem aqui. Sabe lá que a senhora mostro pra gente?
R – Como?
P/1 – O quarto do santo que a senhora arrumou? Fala um pouquinho, porque que é isso, o que acontece?
R – Que eu arrumei?
P/1 – Isso.
R – Eu arrumo toda semana eu mudo os pano, acendo aquelas vela, levando meia noite, vou lá no quatro, se a vela acabou acendo outra, faço meus pedido. Hoje eu posso fazer por você, posso fazer por eles, por "quarquer" um que me faz o beneficio, porque se vem eu acho que não é pra anarquizar, é pra cuidar, não é minha filha?
P/1 – Com certeza. Que santo que a senhora é devota? Qual é o santo que a senhora gosta?
R – Eu acho que é todos, São Roque, São Sebastião pra mim ___ especialidade.
P/1 – Por que?
R – Porque era de meu pai. Era de meu pai. Ele pedia muito assim: “Minha filha, se eu morrer, minha filha nunca despreza esses santos”. E eu tenho eles até hoje com aquela estima. Ainda ante ontem mesmo veio um sargento aqui sobre uma família que tem aqui, que fica chateando, batendo nas parede meia noite, ai o sargento veio aqui , que soube, não sei quem falou pra ele. Ai ele disse: “porque a senhora não procura uma pessoa pra dormir mais à senhora?”. “Eu não procuro ninguém, Deus dorme e minha arma é essa aqui, e a hora que eu chegar no portão eu mato”. Ele riu muito: “ A senhora é doida?”. Eu digo, e digo todo dia, minha “fia”, o que vier a bater ai no portão, levanto.
P/1 – A senhora não tem medo?
R – Eu levanto daqui pra te mostrar.
P/1 – Não , depois a senhora mostra, é que tem o microfone, depois a gente faz uma volta na casa, porque ta com o microfone, ta tudo com fio, depois a senhora me mostra. Então, esse altar dos santos vem desde a época do seu pai? Seu pai que começou a fazer o altar?
R – Meu pai o que?
P/1 – Começou o altar do santo?
R – Começou , ele tinha devoção muito grande, ele era muito religioso. Meu pai era mais do que minha mãe. Quando mamãe fazia certas coisas ele dizia assim: “Joana, olha pra diante, que quem não olha pra diante pra trás de fica”. E eu nisso to até hoje. O que eles dizia é antigo. Mas hoje o povo nao se conforma mais com nada, só se conforma com a vaidade, com a traição , a falsidade. Ainda hoje eu tava falando ai com um vizinho. Eu sai pra e ______ uma menina pra ir mais eu lá na feira ___ doente. Ai cheguei numa casa que as pessoa é assim com os outros, rasgando. Vigi, minha filha , aquilo me deu um estado de nervo tão grande, que faz com os outros faz comigo. Ai vim assim tão contrariada, meu Deus, sei não.
P/1 – "Vamos fala" da procissão dos penitentes? Como que começou isso?
R – A penitencia foi começada assim: eu achava muito bonito, eu desse "tamainho" assim. Meu pai fez um quatro pra uma velha que era chefe, que a velha não tinha... só tinha uma filha,bebia muito, não ligava ela. Então quando a velha saia com aqueles penitentes eu ficava chorando. Ai quando foi um dia meu pai botou num braço e assim: “Minha “fia”, quer ser penitente?. Eu digo:“Eu quero meu pai”. Ai ele chamou minha mãe: “Joana, amanhã”. Isso foi um dia de sexta-feira. “ Amanha eu vou pra rua e vou trazer o pano pra você fazer a roupa de Emilia. Ela disse: “Oh vai caçar o que fazer, eu não faço, não faço”. Fez aquela zoada. Ele trouxe pra minha madrinha bitu tamarati fazer. Ai entrei com cinco anos, completei cinco anos dia 23 de janeiro, no dia 16 de fevereiro de 21 eu entrei na penitencia e to até hoje.
P/1 – Como que é a penitencia?
R – A penitencia pra mim é uma chama de fé e de valor. Eu to aqui sofrendo minha “fia” por causa da penitencia. Eu tenho muita fé em Deus, primeiramente na penitencia, porque tem essa idade de penitencia. Nunca levei uma queda, nunca levei um "atropessada" pra cair, até hoje, Posso até levar agora, mas até hoje não levei. Mexo o mundo vou pra aqui, vou pra li, ___ mais nunca cai. É uns dos mais novo ___ pra cair. E é por isso que eu digo: “ A fé levanta a gente”.
P/1 – Porque que a gente tem que fazer penitencia?
R – A gente tem porque a gente tem os falecido da gente, tem os mortos. Dizia minha vó que o vivo só sentava no pão e os velhos na oração, e os mortos na oração. E é justamente isso que eu faço até hoje, eu rezo pras almas abandonadas, que não tem quem lhe reze. Eu rezo pra aquelas que morreram jogada assim, pra tudo isso eu rezo. É uma devoção que eu tenho assim, uma fé, não sei o que é, aquela fé que parece que só aquela fé me alevanta, viu?
P/1 – Dona Emilia, que época que é a época da procissão? Quando que é a procissão? É na semana santa?
R – É, a procissão? Dos penitentes?
P/1 – Isso.
R – A gente faz os encontro. Quarta-feira santa, faz uma visita. Saiu daqui, “nóis” sai por aqui, pega o de rosa ali na vila ___, entra na igreja de Cosme e Damião, vai lá pra rua do hospício, pega o de lá da banca, vem pelo cemitério, reza o (planto?) no cruzeiro de fora e vem pra casa. Quando chega aqui vai entrando , entra um , entra dói, entra três e vai entrando e saindo e o meu é o ultimo que entra.
P/1 – Pra ir no quarto do santo?
R – É todos tem que vai ali, todos entram pra ir ali. Primeiro entra o de rosa, segundo entrava o selina, e terceira entrava o da banca e o meu de joelho. Todo mundo até quando entra o ultimo que sai e vão embora.
P/1 – E isso acaba que hora? É noite?
R – Como?
P/1 – Isso é à noite?
R – A dois?
P/1 – De noite?
R – Os dois?
P/1 – É de dia ou de noite? Deixa. Por que que a senhora usa roupa branca? A roupa?
R – A roupa?
P/1 – É fala um pouquinho da roupa.
R – É porque ____ só pode ser de branco. Eu sou aquela pessoa que me compreendo na penitencia. Eu só "companho" de branco, um pano branco amarrado na cabeça, direto. Agora se é um enterro é todo mundo de branco. Se vaio fazer uma visita de cova, é todo mundo de branco,m que é penitente, é tudo de branco. Os meu ____ não veste. Se for pra ir com outra roupa pode sair fora, é sai não.
P/1 – Como é que é na cabeça?
R – Eles vestido o lençol coberto com o cordão de São Francisco amarrado aqui. Agora se é pra acompanhar um enterro vai com uma roupa comum, mais branca, como eu visto assim, branco. Eu não faço uma entrevista que não seja de branco. Se eu sou a chefe eu vou sair, acompanhar meu cordão de penitente com um vestido ______, vestido decotado?. Vou não minha “fia”. Eu acho esquisito isso. E aqui tem muitos velha, velha mesmo sai assim. Uma saia listada, uma blusa branca cavada, decotada, vou não.
P/1 – Tem algum ritual, quando vai visitar o cemitério?
R – ao, acho que não vê não. Eu não vejo (risos)
P/1 – E você s cantam? Tem alguma cantiga durante a procissão? Qual que é a reza?
R – Qual é a reza?. Quarta-feira de cinza a gente sai rezando, bendita quarta-feira de cinza. E sexta-feira da paixão a gente sai rezando o bendito de Jesus.
P/1 – A senhora pode rezar pra gente?
R – O bendito de quarta-feira de cinza é esse: “Na quarta-feira de cinza, um dia determina, Jesus fez penitencia na estrada da liberdade”. É isso , é isso ai. Agora na sexta santa a gente tira esse: “ Na sexta-feira santa, com três dias antes da páscoa, quando Jesus se asoitou na corta foi amarrado. Ele chamava por um a dois e três se ajustaram, outra _____ sangue que Jesus Cristo (lançava?).
P/1 – Porque os homens e as mulheres?
R – Como?
P/1 – Os homens são separados das mulheres?
R – Os meu é.
P/1 – Por que?
R - Os homem é na frente e as mulher atrás
P/1 – Por que?
R – Porque eu não quero misturado.
P/1 – Da confusão?
R – Os outros ta tudo misturado assim, é homem , é mulher, homem adiante, mulher. Não, o meu é "home" na frente, encostado (maneirista?), as criança pra cá, os outros homens e depois consigo as "mulé". Não quero misturado de jeito nenhum. Se um passar: “ Volta, vem seu lugar é aqui”.
P/1 – Vocês vão no cemitério?
R – Se vai pro cemitério? Vai.
P/1 – Por que?
R – Porque é obrigação que lá é onde existe os mortos, é lá onde vai os restos mortais, é no cemitério. Todos tem que ir, seja os nosso, seja os de disciplina, todos tem que obedecer o cemitério.
P/1 – O que você fazem no cemitério? Reza? Que que tem lá?
R – Faz as estação. Primeiro a gente faz no cruzeiro par depois fazer as outras, mas a primeira é no cruzeiro, segundo da _____uma chefe antiga. Agora no cemitério novo se faz no cruzeiro e faz em outras sepultura que tem necessidade. Mas é obrigação, nenhum pode passar por falta de cemitério.
P/1 – E vocês se flagelam?
R – Como?
P/1 – Eu já vi na televisão, vocês...
R – Os de disciplina é particular, é fora da gente. Só o dia que a gente encontra, é que o chefe vem pra o meu (badeiro?) e pra eles beijar e a gente passa e beija um deles. Mas ninguém pode misturar uns com os outros não.
P/1 – Então o grupo da senhora não se flagela? É disciplina que fala?
R – Como?
P/1 – O grupo da senhora não..
R – O nome?
P/1 – O grupo não se bate?
R – Os que se cortam? Não sei o nome deles.
P/1 – É outro grupo?
R – É, é diferente do nosso, o nosso é vestido.
P/1 – Eu vou ler aqui. É disciplina que fala né?( pausa) Mas é outro grupo?
R – Aqueles disciplinado demais que caiu.
P/1 – Mas no grupo da senhora não tem disciplina?
R – Não. Os nosso não tem não. Todos esse aqui são de disciplina, olha aqui oi.
P/1 – Por que que é diferente dona Emilia?
R - Eu não sei minha “fia”, porque não pode ir os homens com as "mulé", os de disciplina com a gente não pode ir junto não.
P/1 – Sempre foi assim?
R – Foi sempre uns por um lado , outros por outro, não pode se misturar de jeito nenhum.
P/1 – Os de disciplina, por que eles fazem isso?
R – Como?
P/1 – Esses de disciplina, por que eles fazem isso?
R – É se cortar e rezar, como a gente reza. O chefe ____ o ____ com madeira, o chefe de um lado e eles atrás se disciplinando, todo banhado de sangue.
P/1 – Por que que eles fazem isso? Por que?
R – Não sei minha “fia”, eu acho que não sei não. A tradição que já vem do principio de muitos anos, não sei explicar.
P/1 – A senhora é chefe do grupo?
R – Sou.
P/1 – O que uma chefe de um grupo em que fazer pra organizar a procissão?
R – A gente quando... eu acho que quando não tiver mais condições procura uma de responsabilidade e entrega. Eu hoje mesmo já falei com uma das minha aqui, que ela carrega o "cusufico", eu carrego um como chefe aqui desse lado e ela aqui no cordão carrega o outro. Eu falei pra ela, ela disse: “Mas dona Emila eu to pra morrer ____”. “Mas não vai morrer não”. A gente tem que procurar uma pessoa pra tomar aquela responsabilidade. Agora tem uma coisa, pra tomar responsabilidade tem que fazer outro (madeiro?) porque eu morrendo esse vai pra minha sepultura.
P/1 – O quarto do santo?
R – O madeiro.
P /1 – O que é o madeiro?
R – A cruz. A cruz vai pra cova da chefe. Quando meu chefe morreu, o Antenor, aqui tava sendo responsável achou que não devia botar o madeiro, eu digo :”Bota”. Nesse tempo eu não era chefe, era penitente, eu digo: “Bota”. Ai chamei o "barraqueiro", falei com ele: “Seu João, quarta-feira o senhor vai de tarde pra gente fazer a visita de Antenor”. Ela ficou assim e acompanhou, disse: É vai acabar a penitencia”. Digo: “Não acaba não”. Fui falei com o padre Carlos, com Conceição, era uma velha antiga da penitencia. Eu dei 10.000 reis, ela deu dez, o Carlos deu dez, "mandemos" fazer esse. Era pra Romira, mas ela foi morrer em Salvador, não quis o madeiro, é meu. No dia que eu morrei vai pra minha sepultura, quem quiser fazer que faça outro, é.
P/1 – E quem que vai ficar como chefe?
R – To com vontade de ver se a Sebastiana tiver condições só ela pode entrar como chefe, e outra não tem responsabilidade como chefe não.
P/1 – É sempre mulher?
R – Como?
P/1 – É sempre mulher que é chefe?
R – É.
P/1 – Por que?
R – Porque só pode ser mulher. Pode ter um homem ali que vá de lado pra ajudar mas chefe mesmo é uma mulher, não sei quem vai.
P/1 – E vocês fazem alguma comida nessa época, tem alguma comida junto? Tem algum prato, vocês comem alguma coisa?
R – Não, a gente saindo, jantou em casa acabou. Só quando chegar se quiser. (risos)
P/1 –E quais os instrumentos que vão tocando?. Tem a matraca?
R – Como?
P/1 – Quais são os instrumentos que vem acompanhando a procissão?
R – Da matraca?
P/1 – É. Tem a matraca, que mais que tem?
R – A matraca quem carrega é um homem, o "matraqueiro". Antigamente era uma mulher, mas Antenor tirou porque ela bebia. Antenor tirou a roupa dela no meio da estrada, tomou a matraca e deu a um homem, a seu João. Até hoje, seu João morreu, ficou pra esse que ta passando mal agora, o Otto. E é assim cada alguém tem seu matraqueio.
P/1 – É? Desde quando a senhora é chefe?
R – Parece que já tem 17 ou mais sei lá, tem um bocado de ano ai.
P/1 – O que a senhora gosta da penitencia?
R – Ave Maria adoro minha “fia”. Pra mim [e a coisa do mundo que eu mais adoro na vida. Eu to sofrendo o que to sofrendo dentro dessa casa por causa da penitencia, porque não vou dar a ninguém e nem jogo fora. Vou esperar pro dia que Deus me chamar, quero ir pra meu lugar.
P/1 – A senhora ta sofrendo por causa da penitencia?
R – Não. To sofrendo porque você acha uma pessoa na minha idade sozinha dentro de uma casa assim sem tem por quem chamar, sem tem um filho, sem tem um neto, sem tem um irmão , em ter nada minha “fia”. Com essa idade de 91 anos que eu vou fazer. A gente sofre, não é?. Não posso mais trabalhar, não posso mais fazer nada. Faço só as coisas de dentro de casa.
P/1 – A senhora mora sozinha?
R – E Deus.
P/1 – A senhora e Deus.
R – Sozinha e Deus. Anoiteço e amanheço sozinha e Deus aqui dentro dessa casa.
P/1 – A senhora casou dona Emilia?
R – Como ?
P/1 – A senhora chegou a casar?
R – Casar?
P/1 – É
R – Casei. Levei 60 ano se 10 meses de casada.
P/1 – Como chamava o marido da senhora?
R – O meu marido?
P/1 – Isso.
R – Martins Fugencio Nunes.
P/1 – E a senhora teve filhos?
R – Tive duas, morreu uma morreu pequena e a outra morreu com 25 anos.
P/1 – É mesmo?
R – Foi aquela que eu mostrei ali.
P/1 – Que tem o diploma dela ali?
R – O nome dela é Elisabete Nogueira Nunes.
P/1 – O que ela teve? Ela teve alguma doença?
R – Não.
P/1 – Ela morreu de repente, né?
R – Foi de repente, lendo, lendo a novena perpetua. _______ “Senta aqui minha filhinha pra eu encostar no seu colo que eu to tão cansada”. Ai eu me sentei ______ passou _____ ficou me olhando. Quando eu vi ela _____tava acabando de morrer. ______ sei lá. Berbela conheceu ela muito.
P/1 - _______________?
R – Como?
P/1 – Como que a senhora conheceu a Berbela?
R – Conheci do tempo____________________antigo, aquelas pessoas antiga, do tempo ___________ da viação era uma rocinha de ______________(risos). E ele_____ ele inventou um candeeiro _______(problema no CD a partir de 36:09)
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