P/1 – Então, eu vou pedir “pro” senhor repetir o nome do senhor e o local de nascimento.
P/1- Pode começar. Qual é o nome do senhor?
R- Meu nome é Neives Batista, eu sou natural da cidade de Pelotas do Rio Grande do Sul, 250 km adiante de Porto de Alegre. E eu nasci em Pelotas em 1936. Portanto, eu “tô” com 71 anos.
P/1- Qual que era o nome da mãe do senhor?
R- Bernardina Meirelles Batista.
P/1-- E o teu pai?
R- Ramón Batista.
P/1- Qual que era a atividade deles?
R- Meu pai era oleiro. Trabalhava em olaria. E a minha mãe era doméstica.
P/1- E o senhor “se recorda” do trabalho deles?
R- O meu pai era encarregado de uma seção de manilhas. Manilhas, naquela época, se usava muito em esgoto. Ainda não “existia esses canos” práticos, né, de “brasilite”, e se usa manilha de barro vidrada. E ele trabalhava na Cerâmica Pelotense. E a Cerâmica Pelotense na época... Inclusive, eu acho assim, no meu ver, que ela tava muito adiantada pra época, por que ela quebrou em 1959... Em 59 ela quebrou, desistiu. Na Cerâmica Pelotense eles tinham máquina, na época, máquina da Alemanha, máquina da França... Então, tinha máquina pra fazer “telhas francesa”, tinha máquina pra fazer telha ________, tinha máquina pra fazer telha nacional, tinha máquina pra telha paulista e tinha máquinas pra fazer tijolo refratário. Então, se fazia de tudo na Cerâmica Pelotense. Pra época era muito adiantada, tinha tudo que era negócio pra construção, existia tudo, “desde da” área, do cal até o cimento. Inclusive tinha uma fábrica de ladrilhos. Por exemplo, hoje em Pelotas, se procurar com calma, ainda vai ver muito material da época da Cerâmica Pelotense. Eu digo isso, até com um pouco de emoção, por que quando eu entrei pra Cerâmica Pelotense eu tinha 16 anos, eu era muito jovem. E ninguém esperava, por exemplo, que a Cerâmica Pelotense fosse quebrar! Por que ela tinha um movimento muito grande de venda de material. Ela vendia material pra todo o estado do Rio Grande do Sul. E pra surpresa nossa foi anunciada a quebra da Cerâmica Pelotense. Então, eu digo isso hoje, com muita tristeza... E inclusive fez parte do meu inicio de venda, nesta vida, né? E lá trabalhava eu, trabalhava o meu irmão, trabalhava o meu pai, trabalhava um tio meu, por parte... um irmão da minha mãe. Então, quando faliu a Cerâmica Pelotense... Eu “tô” falando, praticamente, da minha mocidade e é por isso que eu me emociono.
P/1- O senhor se lembra como era a cidade, quando o senhor era criança?
R- Eu tenho até impressão que eu fiz parte... Eu faço parte da história da cidade de Pelotas. Eu posso contar muita coisa. Mas, Pelotas não era uma cidade grande não, é uma grande cidade. Inclusive pra quem não sabe, Pelotas é a cidade aqui no Sul da país, que tem o maior numero de negros, só perdendo para salvador e para o Rio de janeiro. Em Pelotas teve uma atividade muito grande dos escravos, devido as charqueadas. Pelotas mandava na época, charque pra Europa. Era usado trabalho escravo. Então, tinha muito negro. Depois terminou a escravidão e os negros ficaram lá em Pelotas. Hoje é uma cidade, segundo o censo do IBGE, parece que “ta” com “300.000 habitante” ou 320 alguma coisa assim. Mas, como se trata de uma cidade, basicamente, central, que envolta da cidade de Pelotas existe muitos municípios, né? Eu creio hoje que Pelotas deve “tá” em torno de 400.000 habitantes ou mais, em Pelotas. Então, as vezes eu fico me lembrando... Eu não nasci em Pelotas por causa de _______. Pra mim Pelotas foi um presente de Deus. Eu me sinto muito bem em Pelotas. Eu nasci lá, me criei lá, me casei lá! Criei meus filhos em Pelotas. Era uma cidade muito civilizada. E veja, por exemplo, Pelotas tem “duas universidade” e “duas faculdade”. E existe uma escola técnica lá também, federal que era Escola Técnica Federal, agora é (CEFET?), né, aonde abriga um número grande alunos, não sei o número exato, mas tem muitos alunos. Eu me orgulho muito da cidade de Pelotas e eu gostaria até, pra aproveitar esse ensejo, para as pessoas “vim” conhecer Pelotas, é uma cidade turística, tem muita coisa pra se ver lá. E eu “tô” aproveitando por que a mídia hoje, nacional, ela ta centrada muito para outros estados, mais central, do Nordeste, então a mídia se voltar para o interior do Rio Grande do Sul, principalmente. Então, eu convido quem estiver assistindo a essa entrevista, esse vídeo, que venha visitar Pelotas.
P/1- E o senhor conhece as histórias do seus avós, bisavós?
R- Não. Não conheço. Não foi passado pra mim essa história. Eu conheci “meus avós materno” que foram o vovô Damacedo e a vovó Manuela já falecida, já foram embora a muitos anos, “tão” quase reencarnando já. Então, eu tenho essa lembrança deles, até com muita saudade. Mas, assim, história mesmo deles, eu não... Não passaram isso, eu não sei.
P/1- O que eles faziam?
R- Olha a lembrança que eu tenho “dos meus avô”, eram aposentados. Era caseiro, estavam separados, já a muitos anos. Ele mesmo fazia a comida dele, vivia sozinho. E a minha avó, a falecida Manuela, ficou cuidando dos filhos. Eles tinha uma distancia de moradia de mais ou menos uns 5 quilômetros, a distância entre a vovó e o vovô. Mas, eles praticamente, não... Eles cortaram a ligação, não se davam mais. Por quê também, eu não sei qual é o motivo. É só o que eu me lembro deles. Mas, era pessoas muito honestas, muito sérias. Um época em que se cobravam muito das pessoas, probidade, né, que tivesse vergonha. Eram pessoas com muita vergonha, muita probidade. Agora, o porquê eles se separaram eu até hoje não sei, não procurei saber também, né? E aonde estiver, a minha saudade e o meu respeito.
P/1- E o senhor mencionou que o pai do senhor era Uruguaio, como que ele veio para o Brasil?
R- O meu pai nasceu no Uruguai, na província de Melo. Numa fazenda chamada (Cinturião?). E o meu avô, pai do meu pai, ele era do exercito lá no Uruguai, deu uma revolução lá e o pai do meu pai teve que fugir para o Brasil e trouxe as crianças junto. E o meu pai entrou aqui por Jaguarão, né, e veio se instalar em Pelotas. Não voltou mais, até a época que eu me lembro ele tinha a língua meio enrolada, ele não conseguiu assumir o idioma, o português na sua totalidade. A ele também tenho os meus respeitos, a minha saudade, foi ele que meu a educação, “teja” aonde ele “teje”, muita luz pra ele.
P/1- E como era a cidade quando o senhor era criança, as brincadeiras, como que era o dia-a-dia?
R- Olha, eu pude até dizer que eu tive uma infância. Hoje a gente vê essas crianças cheirando cola, viciado em cocaína, usando craque, tudo essas porcaria que “tão” aí, né? E na minha época não existia isso, por que nós tínhamos uma infantilidade, muito assim, como é que eu vou explicar... Muito saudável. Então, nos brincávamos. Era uma época inclusive... Por que em Pelotas teve bonde, né? Existia bonde em Pelotas e até agora não tinha nada o que fazer, então a gente se dependurava nos bondes pra, na época nós dizíamos, pra gozar... Nós diziamos: “Vamos gozar.” Quando chegava perto do fim da linha nós puxávamos a corda, que era a ligação do bonde, que o bonde era elétrico, tinha um fio em cima que ocorria a alavanca que passava a corrente pro bonde elétrico. E nós puxávamos. No momento que “nós cortava” aquilo ali o bonde parava e nós saiamos disparando. Era uma infância muito saudável. Tinha diversos tipos de brincadeira, na época, a gente jogava bolinha de unha que chama hoje, bolinha de gude, a gente jogava buraco, fazia o triangula e pulava ali em cima... Teve diversos tipos de brincadeira que a gente fazia quando era mais jovem. Eu me lembro com muitas saudades, “apesar que” a partir daí, de uma certa época, eu passei a me comprometer mais com o social. Meus pais tinham vaca de leite e eu tinha que levar de manhã as vacas pros campo e depois de noite teria que buscar. E eu ia ajudar o parceiro do meu pai, também a ordenhar as vacas. Aprendi, inclusive, a tirar leite. Entregava leite. E a partir daí o meu tempo de criança foi se eximindo, né? Então, as brincadeiras, praticamente, foram parando. Eu muito jovem eu já comecei a assumir a casa, que nós éramos cinco irmãos. Eu digo éramos por que uma irmã já foi embora, já partiu pro mundo espiritual. E o meu pai era analfabeto, “a minha mãe semi-analfabeto”. Então, a gente tinha “inúmera dificuldade” pra se sustentar, pra sobreviver na época. E, então, meu pai disse que eu ia parar de estudar, é por isso que eu deixe o primário. Eu não consegui ir além do primário, por que meu pai disse pra mim que “eu fosse parar de estudar” e fosse trabalhar. Na época eu me lembro que a minha mãe: “Mas, o nego tá tão adiantado! Já ta no quinto ano aí.” E ele disse: “Mas, já ta bom de estudar. Já aprendeu a ler e a escrever. E mesmo que nego nunca vai ser doutor. Então, ele vai trabalhar pra ajudar a criar os irmãos dele”. Foi quando eu trabalhar na Cerâmica Pelotense. É mais ou menos o que eu me lembro, por que já faz muitos anos, já. Eu to com “71 ano”, né? Eu to falando de praticamente, 65 anos atrás é muita coisa, né? É isso aí.
P/1- E essa brincadeira do buraco como é que era que o senhor mencionou?
R- O buraco é... Eles faziam “uns triangulo”, né, e “uns retângulo” e a gente pulava ali. Só que era de um pé, não podia errar, tinha que pular com um pé só dentro do buraco e as vezes, tinha uma distancia de um metro e as vezes, você desequilibrava, caia e “tava ferrado”, perdia a aposta. E se jogava também a bolinha de gude, que naquela época a gente fazia com os dedos assim, e tinha que botar a bolinha aqui dentro aqui, desse arco aqui e se fazia a bolinha de unha que se fazia um triangulo e atirava a bolinha, pra tirar a bolinha de dentro, e pegava se acertasse a dali, pegava e botava no bolso. Era coisa de guri mesmo, né? Então, a minha infância, praticamente, foi saudável. Mas, não foi muito tempo não, como eu “tô” dizendo, eu tive que imediatamente assumir os meus irmãos também e eu tenho outro irmão mais velho que eu começamos a trabalhar pra ajudar a sustentar a família, tinha mais três irmãs também, que eram menores que nós. Nós morávamos numa casa alugada, na época, e o aluguel tava nos comendo por uma perna. Aí foi quando o pai resolveu comprar um terreno, e partimos para fazer a residência nesse terreno. Começamos a trabalhar para pagar o terreno, depois compramos na própria Cerâmica Pelotense o material a prestação, pagávamos por mês e conseguimos fazer nossa residência. Então, a gente tava ocupado, a gente não tinha tempo pra droga, certo? A gente trabalhava, a gente assumia a família então, a minha infância não foi assim, muito longa. Eu tive uma infância, mas não foi muito longa não, com treze, quatorze anos eu comecei a pegar compromissos sociais, né? Ajudar a criar a família, né? E ali já comecei a trabalhar, já fui pra dentro da fabrica e eu sou feliz por causa disso aí. Eu não parti para delinqüência, né? Eu me considero hoje, uma pessoa de bem. Eu gosto de gente, eu me sinto muito bem quando eu “tô” no meio das pessoas. E é isso aí. Mais alguma pergunta?
P/1- A gente vai continuar fazendo. E quantos irmãos eram?
R- Cinco. “Dois homem” e “três mulher”. Hoje uma irmã já foi embora, a mais velha já nos deixou. Então, resta quatro irmãos só. Eu tenho outro irmão com 73 anos.
P/1- E como é o relacionamento com os homens, as mulheres, irmãos, irmãs?
R- Era muito bom, por que a gente não tinha motivo pra brigar, todo mundo trabalhava. Tudo mundo trabalhava e não existia tempo para briga. Então, nós nos amávamos e dentro daquele sacrifício que nos foi imposto. A gente começou a trabalhar, né? Então, enquanto um trabalhava, a outra fazia comida, certo? Quando o outro trabalhava, o outro lavava roupa. Todo mundo tinha responsabilidade dentro de casa. E a minha cobrava muito dos filhos, dava “muito duro” nos filhos. Graças a Deus hoje “tá” todo mundo casado, todo mundo casou e todo mundo tem filhos, eu tenho filhos, o meu irmão tem filhos, as “minhas irmã” tem filhos também, tão casada. Então, a gente não partiu pra delinqüência, a gente tinha compromisso na época, né, os pais nos cobravam, nós tínhamos um compromisso social. Social e espiritual, que inclusive, que essa entrevista que eu “tô” dando aqui pra vocês faz parte já desse privilegio espiritual, por isso que eu falo eu nasci na cidade de Pelotas e não foi uma oposição do sistema, foi um presente, eu nasci em Pelotas por merecimento. Eu espero continuar sempre merecendo essa atenção dos Orixás, né, dos donos da vida sempre me cuidando. Então, hoje pro exemplo eu “tô” aqui numa situação de (grio?), (mestre grio?). Então, tudo isso aí é um presente divino, a mim só cabe agradecer, né, essas coisas bonitas que eles botam nas minhas mão, eu sou um privilegiado.
P/1- Tinham festas religiosas na casa, quando o senhor era criança?
R- Tínhamos. As festas religiosas naquela época “eram católica”. Eu fui batizado, fui crismado, numa igreja católica. Eu tive uma doutrina católica. Só que na época eu tava ali, mas já tava meio desconfiado. O meu bojo espiritual queria outra coisa. Com o decorrer dos anos eu fui me espiritualizando, né, e passei a praticar a Ubanda. Hoje eu “tô” um pouco afastado, que eu tive muitos anos dentro da religião da Ubanda e hoje eu “tô” agora... Eu fui espiritualizado, eu mediunizado dentro da Ubanda, mas eu tenho um grande respeito na Igreja Católica. Eu acho que inclusive a humanidade, eu acho não, eu tenho certeza, que a humanidade deve muito ao catolicismo, pelo o que eles fizeram pela humanidade e continuam fazendo. Mas, eu já era meio espiritual na época, eu desde de guri eu enxergava, eu nunca acreditei em morte. Eu me lembro uma vez, que o meu tio faleceu e na época em Pelotas se costumava a velar o corpo das pessoas na casa, na sala da casa. Inclusive, na época se botava uns fumo, que era uns pano pretos, botavam na porta pra anunciar que ali estava sendo velado um corpo. E o meu tio tava se velando na sala lá de casa, e eu tava umas três ou quadro peças da onde ele tava, eu tava lá na cozinha... Daqui a pouco eu chamei a mãe e disse: “Mãe, vem cá!”. E ela: “O que é que foi?”. Eu disse: “O tio não tá morto.” E ela: “Como não tá morto?” Eu: “Ele passou aqui agora, tava brincando. Inclusive, olha lá onde ele tá, ele tá na volta do caixão, olha ele lá”. Ela: “Tu ta enxergando?!” E eu: “Tô enxergando!”. Então, eu já tava me espiritualizando, eu passei a partir dali a estudar o que é a morte. Eu resolvi até tirar umas conclusões, que a morte não existe. A morte é meio e não é o fim. A partir dali eu passei a me interessar mais pelo espiritismo. Eu queria saber aqueles fenômenos que aconteciam comigo. Até hoje eu ouço vozes, eles falam comigo. Eu me lembro que esses tempos eu tava em Porto Alegre dormindo e eu fui atacado por umas entidades da pesada. E vei uma voz, que eu botava minhas guias na beira da cama, por que as guias falam que não dormisse com as guias, e eu tirei e fui atacado. Quem mandou... O que eles queriam também, eu não sei. Veio uma voz e me acordou: bota tuas guias. E eu disse: “quem que é?” E disse: “Bota tuas guias!”. Aí, é claro, eu peguei as minhas guias e botei e aí saíram arrastando corrente. Eu tenho um contato com o mundo espiritual muito grande. Resumo: eu “tô” mediunizado, eu sou um médium. Eu não acredito na morte, a morte é um meio, não é o principio e nem o fim.
P/1- o senhor se lembra mais ou menos, quantos anos o senhor se deu conta disso?
R- Ah! Eu era criança. Eu me lembro uma vez que me bateu, eu não me lembro que doença que era, se foi varicela ou “variloa”, tinha uma epidemia que tava dando lá em Pelotas que tava até matando criança e me deu essa doença. E meu pai mandou chamar um cidadão que receitava homeopatia que eu já tava desenganado pelo médico. Tanto é que eu já tava abandonando o corpo. E aí chamaram o falecido, seu “Sossó” e ele começou a me dar homeopatia de cinco em “cinco minuto”. E eu me lembro de quando ele chegou, eu tava em cima, eu tava no alto e tinha umas entidades junto comigo ali também. Eu já queria partir e disseram: “Não, não, não... Não, parte, não! Isso aí agora vai dar certo!” Disseram pra mim: “Isso vai dar certo! Volta pro teu corpo!” E realmente começaram a me dar aquele negocio de cinco em “cinco minuto” , mas eu lá de cima tava enxergando tudo aqui em baixo, inclusive o meu corpo. Aí foi quando eu retornei e hoje eu “tô” aqui. Então, eu sempre enxerguei essas coisas espiritual, eu sempre tive em contato com o mundo espiritual. E aí passei a estudar o espiritismo, praticar o espiritismo por que eu posso dizer hoje que eu não sou, eu estou no espiritismo há cinquenta anos ou mais. Por que ser espírita ou ser ubandista requer uma serie de virtudes angelicais que eu ainda não possuo, certo? Agora, a minha prática é o espiritismo. Acredito, tenho convicção e hoje eu me encontro com vocês dando essa entrevista por que vocês, também estão fazendo parte desse contexto. Não existe casualidade, existe propósito. Vocês tem um propósito, eu tenho um propósito e os donos da vida também tem um propósito, e é esse que eu “tô” fazendo aqui.
P/2- Só uma pergunta sobre o espiritismo: Nunca o senhor teve medo de nada do que viu?
R- Não, por que eles nunca me fizeram mal. A primeira vez eu tive medo! A primeira vez, quando apareceu a entidade pra mim no pé da minha cama, eu era muito jovem, eu tava dormindo no meio, por que o quarto tinha o meu irmão mais velho dormindo a minha esquerda e o meu tio já falecido na minha direita, eu tava no meio. Aí tocou a campainha e eu acordei e vi aquela entidade nos pés da minha cama: branco, chapéu panamá, roupa branca, sapato preto, gravata vermelha, ele não me agrediu, não me violentou em nada e fez um contato comigo espiritual. O espírito não fala, né? Ele fez um contato comigo espiritual, eu me lembro como se fosse hoje, ele disse: “Não te assusta que eu sou teu amigo e protetor, eu tive contigo até agora.” Eu já tava com sete, oito anos mais ou menos. E ele: “Eu tive contigo até agora. A partir de agora, eu vou subir, eu vou te abandonar que é pra tu desenvolver o teu livre arbítrio e toma conta da tua vida.” Aí, mas, eu tava apavorado! Eu tava simplesmente apavorado, eu queria gritar e não podia. Aí, ele saiu em direção a cozinha aquela entidade, saiu pela parede e desapareceu. Quando ele desapareceu tocou a campainha, né, aí foi como eu consegui abrir a voz. Aí, sim eu botei a boca no trombone de vez: “Mãe! Pai! Tem uma assombração aqui dentro de casa!” Aí, vieram lá, me acordaram. E eu disse: “Não, aqui eu não durmo mais!” Fui embora lá pro meio “das cama”, com eles, que eu era muito criança e foi a primeira vez que eu me assustei. Então, como eu tava dizendo pra vocês, eu sempre tive em contato com o meio exterior. Hoje em dia eu não assusto mais. Mas, alguma pergunta?
P/1- Como é que a família lidava com isso, com a mediunidade do senhor?
R- Ah! Eles estavam, simplesmente, preocupados! Por que teve uma época que o espiritismo era visto como coisa do demônio, coisa do diabo ou loucura, inclusive, na época muita “gente foi levado” “aos psiquiatra” por que eles achavam que aquilo era uma manifestação de loucura, de demência. Então, eles estavam simplesmente, assustados. Eu me lembro uma vez, também, que eu enxerguei uma entidade e a minha mãe me pegou e me levou lá na igreja, aí, pediu uma audiência com o padre lá e disse: “É, esse negrinho tá enxergando entidades, pessoas mortas e a gente veio aqui pra ver o que dá pra fazer”. O padre: “O que é que tu enxergava?”. E eu: “Enxerguei isso, isso e isso...”. E ele falou assim: “Isso aí é obra do satanás, isso aí é coisa do demônio”. E eu disse: “Não é padre, eles não me fizeram mal, eles até conversam comigo.” E ele: “Mas, é... Isso é obra do satanás!” Aí, eu ia fazer o que? Então, a partir dali quando eu tinha “essas visão”, eu não falava mais para os meus pais, por que senão eu ia terminar no hospício, né? Eu ia terminar num hospital psiquiátrico. Então, a maneira “deles lidar” com aquilo era que eu não falasse mais que eu tava vendo essas coisas. Era a maneira que eles lidavam com isso aí. E depois de grande, eu passei a mediunizar, a participar dessas peregrinações espíritas, foi aí, que eles se convenceram que eu tinha um dom espiritual. Aí, passaram a me respeitar mais, inclusive, passaram até a socorrer das minhas entidades.
P/2- Qual era a mensagem que ele te passou, aquele que falou que tava indo embora, que tava deixando o senhor por livre arbítrio? Qual era a mensagem que ele passava quando o senhor via ele?
R- Não, eu só ele uma vez, tanto é que ele se despediu: “Eu te acompanhei até agora. Desde o seu nascimento até agora. Era o seu protetor, meu guia, meu anjo da guarda, e agora estou me afastando que é para você desenvolver o seu livre arbítrio, pra tu cuidar da tua vida.” E foi embora, foi o que ele me falou, mas ele não falou, ele usou a telepatia.
P/2- Mas, o senhor viu outras pessoas?
R- Vi! Até hoje eu enxergo!
P/2- Mas, eles passam alguma mensagem? Eles ficam quietos?
R- Não, se eles tiverem que passar alguma mensagem eles passam. Inclusive, eu sou médium, eu incorporo, sou um médium falante, certo? Eu recebo entidade mensalmente, semanalmente. E graças a Deus que essas coisas aconteceram comigo, é por isso que eu falo, eu sou um privilegiado. Então, é por isso que eu digo que a morte ela é um meio, não é um fim. E nós que estamos conversando aqui, somos irmãos, somos espíritos que “temos” na matéria aqui. É nos temos uma missão, uma função pra cumprir aqui na Terra, e pra evoluir. È isso que os senhores estão fazendo aqui nessa matéria, né? E eu praticamente, “tô” no fim, por que eu “tô” com 71 anos. Mas, eu continuo obrando e vocês estão iniciando, vocês tem muita coisa na frente, né, na vida de vocês. Mas, vocês já “tão” tendo sucesso, né, estudaram pra isso e vão ter mais sucesso ainda, tenho certeza disso aí.
P/1- E aí, o senhor falou que a partir de um momento o senhor não podia falar pra família, e como é que o senhor lidou com isso?
R- Não, aquilo ali passou a ser pra mim, normal. Inclusive agora se tiver... Eu não “tô” sozinho aqui, eu tava numa conversa, como eu “to” conversando com vocês aqui. Aquilo passou a ser, passou a “tá” dentro da normalidade pra mim. Eu fui mediunizado, me explicaram como é que era, por que era, quem era eu, da onde eu vim, por que eu vim, pra onde eu vou, por que eu vou. Então, hoje, mais ou menos, eu tenho uma convicção de quem eu sou e por que eu “tô” aqui. Inclusive, disseram pra mim, voc~e não tenha medo da morte, por que cada vez que tu “tá” dormindo, tu “ta” em ensaio com ela, tu ta fazendo contato com a morte, a morte é um sono.
P/1- E esse momento de livre arbítrio como é que foi? Depois que esse espírito saiu da vida do senhor, como é que foi depois?
R- Ah, isso aqui é uma delas! Eu “tô” usando meu livre arbítrio. Vocês também, têm o livre arbítrio de vocês. Por que se não fosse assim, Deus nos botava um cordãozinho, né, e nós seriamos marionetes, esses bonecos... Então, Deus nos deu o livre arbítrio. A gente faz o que quer fazer, só que tem que assumir as responsabilidades, tem que assumir as consequências dos nossos atos, certo? O nosso livre arbítrio nos leva, as vezes, a ascendência ou a descendência e pode nos fazer, as vezes, cometer desatinos. Por que como eu falei pra vocês, vocês são meus irmãos, eu sou irmão de vocês, não posso fazer mal pra vocês e vocês não podem fazer mal pra mim, por que nós somos dia e noturnamente observados. As coisas que acontecem com nós é pra “nós evoluir”. E se botar uma pedra e a gente pular: “Puxa, essa pedra tava alta aí. Se eu conseguir mais vezes, ela vai ta mais alta”. Tem que pular. Por que essa luzes que a gente enxerga no céu á noite, não é pra recriar as nossas vistas, isso são outros planetas, igual a Terra, e tem vida. Veja vocês, por exemplo, eu não sei qual é a religião de vocês, mas eu respeito todas, que na própria Bíblia, São João, o mestre Jesus fala: “Na casa do meu pai há muitas moradas, lá cada um receberá de acordo com suas obras.” Qual é essas moradas? São as diversas camadas espirituais e os planetas. “Tá” certo? “Tá” na Bíblia! Alguma pergunta?
P/1- Na história de vida do senhor, depois que esse espírito ele te deixou, esse anjo da guarda, assim, na sua vida o que começou a acontecer, na história de vida do senhor?
R- Depois que ele foi embora? Não. A tendência foi só a melhora! Então, hoje eu bendigo as coisas que se interpõe na minha vida eu fico até desconfiado quando as coisas facilitam pra mim, porque pra mim as coisas sempre “foram difícil”.E essas coisas sempre houve dificuldade, que é pra mim exercitar o meu espírito, que é pra mim poder evoluir.... então não tem facilidade, no mundo espiritual as pessoas que são candidatos a evolução não tem facilidade quer aprender então vai pro sacrifício e é o que aconteceu comigo, mas em contrapartida também vem a compensação e essa entrevista que eu to dando aqui pra vocês é a recompensa ..entenderam? Isso aqui é a recompensa, esse trabalho que eu to fazendo aqui como “griô”é a recompensa!
Eu quero deixar bem claro pra vocês também que em 1969 eu ingressei na empresa Nossa Senhora da Penha e tive uma imensa dificuldade pra entrar nos quadros de motorista da empresa, mas eu venci, então eu quero deixar bem claro que eu fui o primeiro negro no Rio Grande do Sul que trabalhou na Nossa Senhora da Penha, quando eu falo Nossa Senhora da Penha eu digo com muitas saudades, uma empresa que me tratou como gente, eles foram cavalheiro comigo, depois de 20 anos que eu trabalhei lá , eu me aposentei lá, nunca me envolvi com acidente, eles fizeram uma festa pra mim, deram presente pra minha mulher, mandaram um carro leito em Pelotas me buscar, eu e meus convidados, eu podia trazer 17 pessoas nesse carro, e deram uma festa pra mim lá em Porto Alegre num restaurante italiano num rodízio de massas ..certo? E esse relógio inclusive aqui é um presente que eu ganhei deles, a minha mulher ganhou um faqueiro.
Então quando eu cheguei na empresa Nossa Senhora da Penha eu pensei que eu era motorista, mas só aproveitaram a minha carteira e a minha boa vontade, houve uma reciclagem no profissional que eu pensei que eu era e me ensinaram tudo de novo, foi por isso que eu fiquei 20 anos na empresa Nossa Senhora da Penha e nunca me envolvi com acidente. Então são essas coisas......aconteceu coisas de ruim comigo?Aconteceu. Mas aconteceu muito mais coisa de boa, do que de ruim. Então é por isso que eu digo, esse livre arbítrio tem dois peso: se você usa o seu livre arbítrio pra ferir o seus irmão você pode se dar mal, se você usar o seu arbítrio pra dar carinho pro seu irmão, pra socorrer ele , pra dar caridade pra ele você vai se dar bem, certo?
P/1- Conta um pouquinho pra gente como o senhor entrou na olaria e começou a trabalhar fora de casa, como que foi?
R-“Óia”, eu primeiro trabalhei numa fábrica de vidro, que lá em Pelotas existia duas fábricas de vidro,a Ideal e a Cruzeiro, então eu carregava vidro quente,saía da forma eeu carregava num carrinho pra ir pro depósito, pro resfriamento ....e depois passei também a fechar forma, trabalhava sentado botava o vidro ali , a massa de vidro,e eu fechava a forma e ele assoprava, eu batia com o pé, eu abria a forma e ele tirava já o vidro pronto. Depois dali “fumo embora” pro curtume Carvalho Teixeras, tive num lembro quanto tempo, mas tive uma época boa no Carvalho Teixera, foi a partir dali que eu entrei na cerâmica Pelotense como oleiro, mas como oleiro eu entrei carregando tijolo,tijolo verde, nos carrinhos.... era um carrinho..como é que eu vou explicar? Ele tinha uma frente assim , que era pra escorar os tijolo e aqui do lado era aberto, com uma roda só. Então a gente carregava os tijolo, pegava o carrinho e levava pro gradiamento, e quando chegava lá tinha um funcionário que ficava esperando, ele mesmo tirava os tijolo do carrinho pra ir gradiando que é pra secar. Então na cerâmica pelotense, praticamente eu fiz carreira, depois eu passei pra ajudante de caminhão, depois de ajudante de caminhão eu aprendi a dirigir, eu tive lá uma alma boa, um espírito que me ensinou a dirigir, aí eu fui me embora, com 17 anos eu fui embora pra Bagé, fui servir em Bagé 220 Km de Pelotas, servi no 3º Regimento de reconhecimento mecanizado e motorizado, e lá então eu desenvolvi a minha profissão de motorista, quando eu voltei de Bagé eu já voltei então com uma carteira militar de motorista, eu só troquei ela por uma carteira de motorista civil quando eu voltei pra Pelotas, a partir dali começou a minha peregrinação como motorista e não demorei muito já peguei um caminhão na cerâmica pelotense,eu cheguei a motorista, foi justamente quando a empresa quebrou, eu era motorista da cerâmica pelotense.
A partir dali eu trabalhei como táxi, foram 10 anos de vida noturna consecutivos, no tempo da vida noturna, que Pelotas tinha muita vida noturna, vida noturna romântica, hoje tá violenta, tão matando até motorista..então foram 10 anos, aí começou a terminar a vida noturna e já não tava dando mais lucro aquilo ali né, eu já tava no prejuízo, foi quando eu resolvi deixá os táxi. Aí eu fui pra um urbano em Pelotas, a empresa Turfe, trabalhei 2 anos, em seguida eu fui embora pro expresso embaixador, aquele que faz Pelotas - Porto Alegre, Pelotas – Chuí, Pelotas – Cambuçu, Pelotas – Rio Grande, então eu fazia essas linhas, aí tive 3 anos, aí foi em 66/67 entrou a Nossa Senhora da Penha em Pelotas, aí me apaixonei a primeira vista, amor a primeira vista, aí botei na cabeça que eu ia trabalhar ali, em 69 eu resolvi fazer teste na empresa Nossa Senhora da Penha.
Então hoje eu vejo com muito orgulho, com muito prazer,com muita saudade, eu tenho saudade da empresa Nossa Senhora da Penha, eu fui tratado como gente como pessoa dentro da Nossa Senhora da Penha, eles nunca viram a minha cor nem meu tamanho tanto é que eu sai de lá condecorado pelo DNR e pela empresa Nossa Senhora da Penha Então foi uma passagem da empresa Nossa Senhora da Penha muito “salutária” muito benéfica na minha vida porque eu aprendi muita coisa, aprendi a ser gente, a ser homem e a ser motorista dentro da empresa Nossa Senhora Penha, então eu desejo pra essa empresa aí é toda felicidade, que eles “teje” sucesso nesse comércio que é de carregar passageiros, que é carregar gente. E que Deus proteja eles.
P/1 – O que primeiro chamou a atenção do senhor nessa empresa ?
R - A organização. É uma das empresas mais organizadas do mundo. Ela é tão organizada que ali as peças do ônibus é trocada por Km, se você quer saber... Você embarcou num ônibus aqui em Pelotas, você quer saber o estado daquele ônibus, não precisa se preocupar, ele tem uma certidão, existe um livro neste ônibus, no porta-luvas dele, você pega aquele livro ta toda a história daquele ônibus ali que você vai dirigir. Então você vai ler ali, pneus dianteiros, foram trocados em Salvador na Bahia com tantos Km no dia tal/tal/tal aí se você olhar pelo velocímetro, o que marca a quilometragem, hoje em dia é tacógrafo, você vai ver quantos Km tem aquele pneu. Você quer olhar, por exemplo, caixa de câmbio: foi trocada em janeiro com tantos quilômetros, você olha no tacógrafo “ Essa caixa tá boa foi trocada com tantos quilômetros”, e ali no próprio certidão dele já tá com quantos quilômetros tem que ser trocado. Então ele tem um período de vida, e ali a Penha não deixa passar daquele período, e outra ela responsabiliza tanto o motorista quanto o mecânico, que se um ônibus pifar durante a viagem eles vão procurar saber quem é o culpado. Então não é fácil não, o motorista que ta viajando tem que cuidar de todos os pormenores daquela nave pra quando ele chegar na oficina, botar na ficha de oficina o que ele sentiu na viagem..se o carro tremeu, se oscilou, senão tá engrenando a marcha direito, se ta pegando, tem que botar tudo aquilo na ficha de oficina, que aí ele livra a cara dele, certo? Aí depois o mecânico que vai examinar. E se aquele carro quando voltar, pifar, eles vão procurar, por que essas fichas são tudo recolhidas para Curitiba. Eles vão procurar: “Mas, pifou e o mecânico não arrumou”. Aí, pobre do mecânico. Eles vêm em cima mesmo, não querem nem saber. Agora, também, eles não botam na rua assim, também, eles simplesmente recolhem e levam para escola lá em Curitiba. Então, você vai ser reciclado, por que isso aqui não pode acontecer mais. Por que, aliás, eles estão certo por que eles fazem uma prestação de serviço para o governo, que é o DNR, né? Então, aquilo ali é uma concessão e de repente eles podem perder até, a linha. Tem que andar direito. Eu vejo agora o que aconteceu com as linhas aéreas aí, que não podia ter acontecido aquilo, né? Morrer 199 pessoas! E “óia” aí, o que ta dando agora, o que “tá” acontecendo aí. Então, é o que “tô” dizendo, nós seres humanos estamos aqui para evoluir e não pode acontecer essas coisas. De jeito nenhum. E tudo isso eu aprendi na empresa Nossa Senhora da Penha, e eu aplico na minha vida, aplica no meu carro. Certo? Então, eu tive um exemplo de vida na empresa Nossa Senhora da Penha, eles me ensinaram a ser gente. É isso aí?
P/2- O senhor fez muitos amigos lá dentro?
R- Não. Eu faço amigo aonde eu estiver! Vocês vão passar a ser meus amigos também, aonde eu estiver eu “faço amigos”. Eu fiz sim, eu fiz muitos amigos lá. Inclusive quando eu me aposentei, quando eu cheguei em Porto Alegre e o Carlos _______, foi buscar eu e a minha família tinha um pano lá, dizendo... Por que lá o meu nome de guerra na Nossa Senhora da Penha era Meirelles, que eu sou Neives Meirelles Batista, mas eu não uso o Meirelles, então a maioria me conhece como Mestre Batista. Eu uso Neives Batista, mas o meu nome lá era Meirelles, o nome de guerra na Penha. Então, tava ali na____: “Meirelles já estamos com saudades de ti. Não nos abandone!” Mas, eu já tinha outras coisas para fazer. Foi uma passagem da minha vida e infelizmente, parei, deixei.
P/2- Depois dali o senhor foi pra onde?
R- Eu passei pra... Em 1990. Eu me aposentei em 89. Em 1990 eu passei a freqüentar o carnaval, o mundo da percussão, que é o que tava no meu ____ espiritual. Certo? Então, a primeira bateria show de Pelotas fui eu que tive o privilegio de montar. Eles nem sabiam o que era a bateria show. E olhe que o carnaval de Pelotas já foi o segundo e o terceiro do Brasil. Por que pra quem interessar possa em Pelotas tem muito negro, é uma das cidades mais negras do Brasil, só perde pra Salvador e pro Rio de Janeiro, né? E do Sul do país, é uma das cidades mais negras. Eu creio eu que é por causa das charqueadas, né, teve muito negro lá em Pelotas e tem. Então, o carnaval de Pelotas. Inclusive eram 7 dias da semana de carnaval e eu me lembro quando eu tava na empresa Nossa Senhora da Penha, que eu tava em atividade, nós ficávamos com alguns ônibus lá, quatro, cinco, seis ônibus lá no Rio de Janeiro na quarta feira de cinzas pra quando terminasse o carnaval trazer as pessoas do Rio pra assistir o carnaval de Pelotas. Depois eu passei a ser ensaiador, eu ensaiei todas as escolas de samba de Pelotas. Eu ensaiei a Estação Primeira, a do (Areal?), essa escola pertence uma empresa de ônibus, da Santa Maria. Ensaiei a Academia do Samba por três vezes. Ensaiei a General Teles, uma vez inclusive fomos campeões. Idealizei uma escola de samba em Pelotas. Se vocês ouvirem falar da Imperatriz de Pelotas, foi eu quem idealizei, e junto com um presidente de uma associação o sr. Benedito, nós montamos a escola, e hoje essa escola existe lá. E partir daí eu passei a confeccionar instrumento de percussão. Aí foi me lançado um desafio pelo artista, compositor e cantor, Giba Giba, de Porto Alegre. Um Pelotense ilustre que nunca esqueceu das origens, nunca esqueceu da cidade dele. Ele veio guri para Porto Alegre e ele tinha um projeto em mente e quando ele foi captado pelo governo do Estado, senhor Olívio Dutra... O Olívio Dutra abraçou esse projeto com ele. Então, ele montou o Projeto (Cabobô?). O Projeto (Cabobô?) era uma homenagem aos contemporâneos da época do (Sopapo?). O (Cabobô?) era as iniciais de três sujeitos que tocavam instrumentos: que era o (Cacaio?), o (Boto?) e o (Bucho?) – (Cabobô?). Aí, ele me procurou pra ver se eu confeccionava os quarenta instrumentos. Como não existia mais, por que até 1970 as baterias de Pelotas usavam esse instrumento, mas depois foram se acomodando, e veio esses instrumentos sintéticos de náilon, essas coisas todas, mas levianos por que o (sopapo?) tem um metro de altura, ele é pesado. E então, deixaram os (sopapos?) de lado. E deixar bem claro que o (sopapo?) inclusive, bate com “as mão”... É mais ou menos o que eu sei, bate com “as mão”, tem que ter habilidade. _________. E me pediram para fazer os instrumentos e eu disse: “Faço.” Queriam saber como é que eu ia fazer. Mas, eu daí: “Como é que eu vou fazer não interessa. Tu quer que eu faça o instrumentos.” E eles: “Então, ta... Eu aguardo.” Aí, eu fiz contato com o exterior, né, com os espíritos e aí eles me ensinaram como é que eu tinha que fazer. Então, o (sopapo?) é um vaso, como isso aqui... Ele tem uma base 52, 55, de boca e 1 metro de altura. Ele é feito com compensado 4 milímetro, por que em Pelotas não vai mais 3 milímetros pra lá, inclusive isso torna o (sopapo?) um pouco pesado, né? E leva ferros, leva 4 aras de ferro, leva um embaixo pra manter o instrumento redondo, leva outro por dentro que é pra manter o instrumento redondo, leva outro redondinho que é pra botar o couro, certo? E leva outro por fora que é pra puxar o couro por fora, que é pra afinar ele. Eu funciono, trabalho, com couro de cavalo por que em Pelotas é comercializado, tem até matadouros de cavalo lá e é comercializado a carne de cavalo só que é mandado pra França, lá pra Europa, por que lá em Pelotas não comemos carne de cavalo. E é comercializado o couro também, então eu pego o couro em natura lá do curtume e eu mesmo faço a constituição dele. O (sopapo?) é instrumento de origem africana, um legado dos escravos, que deixaram em Pelotas, aquela área de Rio Grande, Pelotas, Guaíba, Barra do Ribeiro. É um instrumento muito gostoso de tocar nele, tem “vários tom”. Então, vamos supor que se você aprender a manusear ele, a tirar som dele, você não quer outra coisa. Então, inclusive, o Giba Giba, ele se imortalizou praticamente, virou celebridade, por causa desse instrumento. Por que aí, eu fiz um instrumento pra ele, bonito mesmo, caprichado, no capricho, ele veio em Porto Alegre e eu dei de presente pra ele. Nesse meio tempo foi feita a Orquestra de Sopapos de Pelotas. Coube a mim também, montar essa orquestra, então foram dois anos de plena felicidade, o (Cabobô?). Mas, como se tratava de um projeto político, a gente sabia que ia terminar, e terminou! Por que o senhor Olívio Dutra não se reelegeu e o outro governo que assumiu, não quis assumir o Projeto. O Projeto, praticamente morreu. Aí, como tinha muita gente que tava envolvida, meninas, mulheres, tinha muita gente, a gente desfilava lá em Pelotas. Nós tínhamos uma orquestra de 40 sopapos, tudo trovoando lá... Por que o sopapo, pra quem não sabe, é um atabaque rei, só que algumas religiões usam ele, mas a maioria não usa. Eu fiz alguns exemplares pra “terreira” lá de Pelotas. Tem “muitos terreira” que não tem esse instrumento, talvez eles não usam por que não tem, não fabricam mais. Então, foi esse instrumento, o sopapo, que celebrizou o Giba Giba. Eu agora dentro desse Projeto, que eu “tô” aqui, eu queri ver se eu ministro oficina num ginásio lá em Pelotas que já existiam 20 alunos, dez alunos e dez pais de alunos. Eu vou orientar, ensinar eles a fabricar esse instrumental. E conforme fosse se nos vier a nos ver novamente, acredito eu que em outro novembro em Belo Horizonte, acredito eu que tem outro encontro de (griot?), eu vou levar um exemplar, aí vocês vão conhecer esse exemplar também. Ok?
P/2- Só mais um minutinho, que a gente vai trocar a fita...
P/2- E sobre o instrumento, o senhor nunca vi nada quando era pequeno, nunca tocou nada? Isso surgiu já na fase adulta?
R- Bom, em primeiro lugar, tu sabe que “os descendentes de africano” já traz na alma, já traz no sangue essa musicalidade. Todo mundo sabe disso aí. Então, eu em menino já tocava quase todos os instrumentos de percussão. Inclusive, eu tocava violão. E depois que eu me aposentei um fiz um curso no Conservatório de Musica de Pelotas e passei a tirar o violão clássico. Eu tenho o violão lá em casa, eu toco o violão clássico. Então, desde menino que eu tenho essa tendência pra musicalidade, que isso “tá” no sangue da gente, certo? Não adianta a gente não querer, que “tá”, “tá” no sangue da gente. Eu inclusive da próxima vez que “nós nos encontrar” eu vou levar “três instrumento” meu, vou levar um sopapo, um exemplar pra “vocês conhecer”, vou levar o bandolim, que eu toco o bandolim também e vou levar um instrumento que me celebrizou em Pelotas, a cuíca. De difícil manuseio a cuíca, e eu vou levar a cuíca também, então em novembro eu to levando esses instrumentos pra Belo Horizonte, se o pai permitir de eu ta lá e ver vocês novamente, vocês vão conhecer esse instrumento, certo ? eu desde guri que tive tendência pra isso aí , desde menino,inclusive no grupo escolar que escolar que eu estudava eu batia (tarol?), tinha uma banda lá de percussão e eu batia (tarol?), e sempre tive andamento, sempre tive ritmo e nunca atravessei o samba, certo? Então quando se oportunizou lá em Pelotas em 1990 , foi que eu comecei a mostrar aquilo mais ou menos que eu tinha em mente imediatamente me botaram um apelido: mestre Batista, esse é o mestre. Aí eu passei a ser mestre Batista, então vocês tão conversando com o mestre Batista, eu digo isso não com vaidade mas com bastante orgulho porque eu trabalhei muito pra chegar onde é que eu to, e trabalhei mesmo,pode ver que até couro eu curto, se vocês sentirem o cheiro desse couro de cavalo vocês cai duro, porque fede mesmo, eu tenho que chegar com eles em casa e meter diretamente no veneno, nos “toné” que é pra acabar com o cheiro, porque de repente até as moscas varejeiras,aquelas azul, vem atrás da carne, elas vem atrás da gente. Então me sacrifiquei muito pra chegar aonde eu cheguei , quando eu comecei com a bateria show lá em Pelotas sabe qual era o apelido da bateria show lá em Pelotas?Banda marcial, então tá cheio de banda marcial lá em passo, então hoje ninguém mais fala em mini-bateria, todo mundo é bateria show, então eu digo isso também com orgulho porque eu dei uma contribuição muito grande pro carnaval de Pelotas, então se você chegar em Pelotas, qualquer rua principal e você ver o movimento, onde é que falo com Mestre Batista? Já te diz, porque eu sou mais conhecido lá que erva ruim, pior que é , porque você quer aparecer em cidade do interior vai pro carnaval, porque as rádio falam , as televisão transmite então você se torna muito popular, muito conhecido, então eu sou muito conhecido lá em Pelotas lá, e é isso aí .
P/2 – E por falar em mestre, o que o senhor acha da ação (griot?) qual a importância dela?
R- É uma boa pergunta. “Óia”, eu “tô” com “71 ano”. Eu até pensei que eu tivesse terminado, acabado, tivesse chegando no fim, né? Eu já tinha até providenciado um tumulo lá em Pelotas. Comprar um ali mesmo, eu dizia: “É aqui mesmo que eu vou dormir...” (risos). Já comprava alguma coisa pra família. Eu achei que eu já tava no fim. Aí, de repente entra na minha vida esse tal de (griot?). Eu me sinto assim, privilegiado em pertencer a um projeto a nível federal, a nível nacional, que é Ponto de Cultura (Griot?). E me procuraram, mandei meu currículo pra eles, pra Brasília e foi aprovado, eu passei a mestre (griot?). Pra mim o (griot?) faz parte daquilo que eu falei ainda agora pra vocês, da evolução dos espíritos. De repente o governo se volta pras minorias, que pra mim não é minoria, é maioria. Certo? Por que negros e pobres, e brancos pobres são maioria aqui nesse país. E aí, de repente o governo faz um projeto voltado pra essas minorias. Isso é divino. Eu “tô” muito contente, eu “to” muito feliz. Eu me acho assim, privilegiado. Eu “tô” tipo guri novo, quando ganha bala, né? Então, eu “tô” simplesmente assim, abismado, abobado, com o que eu vi nesse encontro aqui, que é o meu primeiro encontro, embora eu “teja” cinco meses no Projeto. Isso aqui faz eu me lembrar justamente, aquilo que eu falei pra vocês, a Nossa Senhora da Penha, a organização... Por que se vocês não sabem, eles estão nos preparando, por que a gente não sabe tudo. Eles tem uma proposta, eles fazem esses encontros que é pra justamente, nos orientar, para nos ensinar, o que nós temos que fazer. Eu “to” simplesmente, apaixonado por esse Projeto (Griot?) e eu espero eu que Deus ilumine essas cabeças aí, esses organizadores, esses coordenadores, “esses projetista” que esse projeto não termine mais, por que o Brasil é um país de terceiro mundo, tem muita pobreza aqui, certo? Então, num momento, por exemplo, que acabar esse projeto, vai ser um desastre. Ou seja, esse projeto “tá” vendendo ilusões. Certo? São muita gente, aí. Eu sou um que “tô” ilusionado com esse projeto Esse projeto não pode terminar, tem muitas crianças que “tão” precisando desse Projeto. O que eu posso dizer pra sintetizar melhor pra vocês, eu “tô” tri apaixonado por esse Projeto. Espero eu dar mais alguma coisa de minha vida, do que eu fiz pelo carnaval de Pelotas e aquilo que eu sei fazer, que eu aprendi até agora. Agora com as minhas limitações, que eu possa do (griot?) aproveitar essa oportunidade que eles estão me dando e levar isso que eu sei para essas crianças que estão precisando, essas crianças de periferia, que eu possa ajudar eles a tirar eles da rua, ou aqueles que não foram que também, não vá para rua. Arrumar uma ocupação pra eles, eles vão fazer instrumento, eles vão tocar instrumento, eles vão dançar. Eles vão ser tratados como gente. Esse é o trabalho do (griot?), ele ta voltado para “as minoria” e a melhoria das pessoas, para a melhoria social das pessoas. É assim, que eu “to” vendo o (griot?). Alguma pergunta mais?
P/1- Como é que o senhor passa esse conhecimento para as crianças? Como é que é passar esse conhecimento que o senhor tem?
R- Não é muito difícil por que a criança é muito receptiva. A criança, você sentou ali, começa a conversar com ele, já “tá” aberto, já “tá” cuidando de tudo, já “tá” escutando tudo. Ele quer aprender, pra ele é muito bom por que ele sabe que não pode vacilar. Aqui ele vai ser profissionalizado, aquilo vai ser uma profissão pra ele. Ele não pode de maneira nenhuma deixar de aprender aquilo que tá ali. Aquilo, inclusive é o nosso trabalho como mestre (griot?), é passar pra eles aquele nosso conhecimento. Nós temos que fazer com que ele entenda que aquilo ali é o futuro dele. As vezes a gente tem que passar, o que nem se deve dizer pra criança, que simplesmente um dia o pai deles vão embora. Certo? Que eles não vão sempre depender dos pais deles, que eles vão ter que aprender uma profissão. Eles têm que aprender fazer as coisas, que é pra poder sobreviver nesse planeta aqui. Então, não é muito difícil não ensinar a criança, que mesmo que nós trabalhamos com as escolas, com os grupos escolares, os ginásios, então, já são crianças que já tem uma certa disciplina. Quando essas crianças vem até nós, que nós primeiro vamos eles, nós escolhemos a escola, qual tiver mais carente, né? Quando eles vêm pra nós, eles já tão preparados, as diretoras, as professoras já preparam eles. Então, eles praticamente, já sabem o que eles vão fazer “naquelas reunião” ali. Por exemplo, no meu caso, eu vou ensinar eles a fazerem o instrumento, não é só sopapo, surdo também, instrumento de percussão. Eu também vou ensinar eles a fazer isso aí. Então, simplesmente, eu vou pegar uma caneta, pegar o papel, aplicar a raiz quadrada pra eles. Eles tão na escola, eles sabem. Eu vou ensinar pra eles, tem que fazer assim, assim e assim: “O tio primeiro vai fazer agora, pra vocês aprenderem a fazer”. E aí, eu vou fazer. Necessita de uma serra, eu trabalho com uma serra tico-tico. Necessita de uma furadeira, que eu não trabalho com cola. É muito perigoso trabalhar com cola perto de criança. Eu trabalho com arrebite, aquele macho e fêmea e trabalho com “dois martelo”, vou arrebitando o instrumento. Eu fecho esse instrumento pra eles, ensino eles, faço umas duas, três vezes. Aí, depois eu pego eles: “Agora, vocês é que vão fechar!” Eu “tô” ali ajudando, olhando: “Não, não é assim!” Até umas dez vezes vão continuar aprendendo. A gente quando vai numa escola, a gente faz um contato por um ano, num ano eles aprendem. Agora eu tenho em mente, nesse ginásio que a gente vai trabalhar com eles em Pelotas, inclusive até montar uma orquestra de sopapo. Eles vão fazer o sopapo, eu vou ensinar eles a tocar o instrumento. Desse ginásio vai sair a Orquestra de Sopapos de Pelotas. Então, eu já tenho mais ou menos uma prática disso aí. Tem a primeira bateria show, tem uma gurizada lá em Pelotas, isso foi, foi e foi até eu conseguir botar eles como eu queria, por que eu não abro mão da disciplina, sempre disse isso pra eles. E eu trabalho com “três item”, quando eu “to” trabalhando, ensinando, “muito importante” pra gente ter sucesso em qualquer coisa da vida que é a disciplina, a disciplina e a disciplina. Isso aí, eu não abro não. A não abro mão mesmo. Se quiser aprender tem que ter disciplina. Então, essa bateria que teve sucesso lá em Pelotas, a primeira bateria show lá em Pelotas ela hoje toca em santa Catarina, em Florianópolis, eu entreguei ela pro meu filho. Certo? Que filho de onça nasce pintado, né? E ele também é meio metido a ensaiador, então eu dei a bateria já contratada lá pra ele. Ele toca lá em Florianópolis, num dos maiores clubes de Santa Catarina que é o Lagoa Iate Clube. Todos os anos ele vem para Santa Catarina, toca em Araranguaia, Criciúma e em Florianópolis é essa bateria show que “tá” fazendo sucesso lá. Então, os meus meios para ensinar essa gurizada é isso aí: disciplina, disciplina e disciplina. Não brigo com eles, não xingo ninguém, certo? Eu dou um trabalho, que praticamente, vai chamar a atenção deles, eu também, vou levar um exemplar e vou mostrar pra eles, o que eles devem fazer, vou tocar pra eles verem como é que é... Qual é a criança que não gosta de percussão, bem tocado, bem manuseado. É verdade, ou não é? Então, eles vão se interessar por aquilo ali, e quando vocês menos esperar eu “tô” com essa mini orquestra de sopapos pronta e nós vamos encantar o mundo, por que passa a ser tambores de Pelotas, que esse tambor, realmente, embora de origem africana são tambores fabricados em Pelotas. Eu vou fabricar eles, então são os tambores de Pelotas.
P/1- E era muito diferente essa forma de ensinar de quando o senhor era criança?
R- Em primeiro lugar o seguinte, a mim ninguém ensinou. Já “tá” no meu bojo espiritual, como eu falei pra vocês é a descendência africana. Por que se vocês pegarem, por exemplo, uma criança branca e um neguinho e botar um instrumento de percussão ali; o “nego” vai se sobrepor. Isso já “tá” no espírito da gente. E não se esqueçam que a forma de comunicação que se iniciou no mundo foi através “dos tambor”. Até hoje, essa comunicação existe na África. Então, a gente tem que aprender a separar “as batida dos tambor” que é pra ver o que é que aquela tribo “tá” mandando dizer. Na África usa “os tambor”, usa-se a fumaça também, fumaça branca, fumaça negra, fumaça azul. Então, os africanos, a madeira verde sabe como é que vai sair a fumaça, a madeira seca eles sabem como é que vai sair a fumaça. Se quiser, por exemplo, muito fogo, bota a água e já muda a cor da fumaça. É a maneira de comunicação deles. Então, os tambores faz parte, sim, da nossa vida. Os tambores é um legado dos Orixás. Eu, por exemplo, faço esses sopapos, pro carnaval eu faço de um jeito, pra religião eu faço de outro jeito, se trata de um atabaque rei, certo? E a nossa vida “tá” ligada a percussão. Se você parar e ouvir o seu coração, ele “tá”: tuco, tuco, tuco, tuco... Se parou, já era, morreu, mas é uma percussão. O negro, ele “tá” ligado por excelência, em principio, ele “tá” ligado a percussão. É claro que hoje, a gente “tá” um pouco longe de nossas origens,né? Faz muitos anos que nossos ancestrais foram libertados e de lá pra cá, ouve uma miscigenação na raça, né, e nos foi imposto uma série de costumes europeus que não tem nada a ver com o africano. Vocês vão ver hoje. Eu não tenho nada contra, mas vocês vão ver negros evangélicos, negros pastores, certo? Não é nada contra, mas não tem nada a ver com o africano, por que o africano, o que é, é percussão, dança, é sarava. O africano gosta de um sarava, né, que é essas religiões umbanda, candomblé, é tudo africano, os negros foram se distanciando, devido a essa miscigenação e “dessas imposição dessas coisa brancas” que veio pro negro. Então, hoje é bem difícil você... Por que com o tempo esses mestres desapareceram. A tendência é desaparecer esses mestres, justamente, devido essas miscigenação e essas impostora que a sociedade “tá” dando pra nós. O meu trabalho é ensinar, fomentar, preparar... Eu fico muito feliz quando vejo, por exemplo, essa gurizada que estão interessadas, principalmente “nego preto”, esse nego bem retinto, me chama muita atenção. Se eu puder ensinar pra ele, orientar pra ele, trazer ele de volta para as origens dele, por que senão vai acabar “os mestre”. Então, eu vou ensinar ele, vou orientar ele. É por isso que eu dei a bateria pro meu filho, vocês vêem ele trabalhando na frente da bateria, parece que ele é um Deus incorporado, ele trabalha bonito, mas ele herdou de mim. Certo? Então, se vocês verem ele trabalhar na bateria vocês vão dizer: “Quem é esse negão aí?” Ele “tá” incorporado, não é eu... É tipo uma orquestra sinfônica. Eu ensaio, eu preparo, eu crio “os arranjo”, certo? Então, na hora eu sei o que é que tem que fazer. Eu não uso apito, eu só mando a senha, por que eles já estão disciplinados, “estão orientado”. Então, eles sabem que quando eu fizer isso aqui, eles sabem o que que é. Eles já tão disciplinados, naquela maneira que eu quero trabalhar. É uma missão que eu tenho e eu quero cumprir ela. Eu “tô” cumprindo... O (griot?) me proporcionou e “tá” me proporcionando a fazer essas coisas espiritual, que eu quero fazer. O (griot?) pra mim representa muita coisa, pra mim ele é vida, certo? “To” muito contente, “tô” muito feliz, “tô” muito privilegiado. Eu não “tô” aqui por casualidade, eu “tô” sendo premiado em “tá” dentro do (griot?) e “to” premiado e agraciado por essa entrevista que eu “tô” dando para vocês.
P/2- A gente queria agradecer também a entrevista. Obrigado pelo tempo cedido.
R- Não, não tem nada que agradecer. Eu que agradeço, certo? Por que vocês pertencem ao quarto poder, certo? E o quarto poder decide. O quarto poder tem mais força do que os outros “três poder”. Eu me sinto muito privilegiado por vocês me convidar a dar essa entrevista que a partir daí, eu “to” falando com o mundo. Tem muita gente que não me conhece e passa agora a me conhecer. Que essa mensagem que eu “tô” dando aqui, que vocês estão me proporcionando, é pro mundo. Eu agradeço essa oportunidade e assim que vocês precisarem de mais alguma coisa, alguma informação vocês tem meu telefone, tem o meu endereço, e pelo amor de Deus, não me abandone, eu preciso de vocês.
P/1- Muito obrigada.
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