Projeto Minha História, Sua História, Nossa História
Depoimento de Walquiria Barboza Ribeiro
Entrevistada por Marcia Trezza
Recife, 09/03/2018
Realização Museu da Pessoa
HTC_HV05_Walquiria Barboza Ribeiro
Participação de Teresa Farias
Transcrito por Karina Medici Barrella
Revisão/Edição:...Continuar leitura
Projeto Minha História, Sua História, Nossa História
Depoimento de Walquiria Barboza Ribeiro
Entrevistada por Marcia Trezza
Recife, 09/03/2018
Realização Museu da Pessoa
HTC_HV05_Walquiria Barboza Ribeiro
Participação de Teresa Farias
Transcrito por Karina Medici Barrella
Revisão/Edição: Paulo Rodrigues Ferreira
P/1 – Walquiria, para a gente começar, por favor, diga o seu nome completo, a cidade onde nasceu, o estado e a data.
R – Meu nome é Walquiria Barboza Ribeiro. Eu costumo dizer: Walquiria com W, Barboza com Z (risos). Antes que me perguntem, eu já digo: “Walquiria com W, Barboza com Z”. Eu nasci no município de Terra Nova, bem próximo de Salvador, uma hora de viagem de Salvador. Filha de Eduardo Barboza do Carmo, falecido, e Marieta Ribeiro do Carmo. Meus queridos (risos).
P/1 – Ela também é falecida?
R – Todos os dois.
P/1 – Em que data você nasceu?
R – Eu nasci dia... Eu vou dizer minha data mesmo, viu? Do meu aniversário. Treze de setembro de 1941. Agora, não me lembro... ‘Mainha’ já me disse, inclusive, foi um parto relâmpago, diz que eu ‘espirrei’. Ela estava na cozinha (risos). Isso foi história. Se era verdade ou não, mas foi uma história que ela contou, que deu a vontade de parir e não deu tempo de ir para o quarto, então ali eu ‘espirrei’ (risos).
P/1 – Que ótimo (risos).
R – Agora, ela brincava muito, então não sei. A minha cidade é uma cidade pequena, aconchegante, todo mundo que vai lá em Terra Nova gosta de estar por lá - vai e volta. Não tem nada a cidade, mas todo mundo vai e gosta de voltar.
P/1 – Vai ver é o pessoal de lá.
R – Deve ser. Dizem que é a água (risos).
P/1 – Você tem irmãos, Walquiria?
R – Tenho. Nós hoje somos quatro, mas éramos cinco. Eu sou a mais velha. Depois tem o Viraldo, que é o segundo, mas que quer ser mais velho do que eu, eu deixo (risos). É, ele se comporta como o mais velho. Tem a Vera, minha terceira irmã. E Wilsa. E Wilson, que morreu ainda pequeno; com a idade de uns quatro anos, mais ou menos, ele morreu.
P/1 – E você falou dos seus pais, da saudade. Que lembranças você tem do seu pai?
R – Ah, principalmente dele! Tanto que ele... Eu ficava até assim, parecia que eu gostava mais dele do que da minha mãe (risos). Mas eu gostava dos dois. Mas ele, realmente, era mais carinhoso. Acho que é porque ele não batia na gente, mas ela sim (risos). Ela era mais... Mas não era bater para ficar jogado no chão, nem com marca, nem com nada, não. Mas ele, bastava passar a mão no cinto assim (risos)... Então a gente já entendia o que era e todo mundo ficava na dele. Mas eu tive uma infância muito boa, uma infância alegre, com os meus irmãos. Estudei numa escola pública, junto com meu irmão Viraldo. Enquanto pequeno, eu mandava nele (risos). Ele cresceu, passou a mandar em mim.
P/1 – Essa escola era lá em Terra Nova?
R – Lá em Terra Nova. Era a Escola Jaime Vilas Boas - era o nome da nossa escola.
P/1 – Você disse que teve uma infância muito gostosa.
R – Foi, era sim.
P/1 – Vocês brincavam?
R – Brincava. Não tinha esse perigo de menina brincar com menino. A gente brincava à noite, de roda, de picula, de esconde-esconde. A única coisa que eu não aprendi foi andar de bicicleta. Caía e não quis mais. Nadar, também nunca quis nadar. Porque tinha um rio muuuito bom no fundo lá de casa e todo mundo ia tomar banho no rio. Aprenderam a nadar, mas eu...
P/1 – Você não gostava.
R – Não gostava (risos). E até hoje não gosto muito. Eu vou à praia, sou caranguejo (risos), fico na areia.
P/1 – Água não (risos).
R – Não (risos).
P/1 – E vocês moravam na cidade ou no sítio?
R – Na cidade.
P/1 – Na cidade mesmo.
R – Na cidade, bem no centro.
P/1 – Qual era a atividade dos seus pais?
R – Ele trabalhava na Leste, era escriturário. E ela, doméstica.
P/1 – Leste era...?
R – Viação Leste Brasileiro, então chamava-se Leste (risos). Mas era viação - trem, essas coisas.
P/1 – E você disse que a escola era lá mesmo.
R – Lá.
P/1 – Como era essa escola?
R – Uma professora muito rígida, professora Alice. Mas, apesar da rigidez, ela gostava de mim, me paparicava (risos). Enquanto meu irmão tomava... Ele não gosta dela até hoje, era no tempo da régua, batia, batia nas pernas, batia na mão. E eu, para não ficar... Pouquíssimas vezes, que eu me lembre, ela me botou de joelho. Mas não botava no milho e nem no sal (risos).
P/1 – Tinha gente que ela punha?
R – Era. Mas eu...
P/1 – O que você vai fazer com a (inaudível). Qual era o segredo?
R – Não sei (risos). Eu tenho essa coisa assim das pessoas gostarem de mim (risos).
P/1 – Foi essa a primeira professora sua?
R – Minha primeira professora primária. Quando saí dela foi para fazer o admissão, no tempo tinha admissão. E quando eu fiz admissão, tive que ir para Salvador porque lá não tinha escola, passei logo, fiz. Aí, fui morar com uma tia enquanto fazia o admissão. E passei, fui cursar, cursei a primeira série, não é? Hoje eu não sei mais como chama.
P/1 – Mas era primeira série nessa época.
R – Era.
P/1 – Do ginásio.
R – Do ginásio. Eu, o meu irmão não, ele não fez, veio a fazer depois. E eu acho... Há poucos dias estava pensando nisso. Eu perdi o primeiro ano e, quando o Viraldo entrou, nós ficamos iguais. E aí eu fiquei pensando: “Será que é porque o Viraldo não estava, eu tive que atrasar para a gente estudar junto?” (risos).
P/1 – Walquiria, os quatro anos foram com a mesma professora?
R – Não.
P/1 – Como era?
R – Saí do primário e aí vim para Salvador.
P/1 – Mas antes.
R – Ah, sempre foi ela.
P/1 – Sempre foi ela? As quatro séries?
R – Foi.
P/1 – E seu irmão, coitado (risos), quatro anos.
R – Também ele foi (risos)... Já as outras minhas irmãs estudaram com outros, elas não pegaram mais a professora Alice (risos). Elas pegaram outras professoras mais...
P/1 – E vocês, para estudar em Salvador, mudaram. Você falou que foi morar...
R – Mudamos. A gente morava em casas alheias, casa de amigos. Horrível.
P/1 – Quantos anos você tinha, mais ou menos?
R – Eu estava com dez anos quando fui fazer.
P/1 – Você foi morar com quem?
R – Eram uns amigos de meu pai, família Leite Neves. E a gente ficou um tempo lá. Depois então ele me tirou da casa e me colocou internada num convento. Foi um tempo bom que eu passei.
P/1 – Você gostou?
R – No período não, mas depois que a gente sai, que eu tive outras experiências (risos), aí eu vi como foi bom o tempo que eu passei no convento. Sempre paparicada (risos). As freiras... Era um colégio de freiras, então todo mundo fazia aqueles trabalhos grosseiros de ir para a lavanderia lavar roupa, esfregar o chão com aqueles rodos. Ela não deixava. Ia para a cozinha para fazer – por isso que eu não gosto de cozinhar até hoje, nem sei (risos). Elas não deixavam. Um monte pequenininho, não. E aí me levavam para a cozinha das freiras, porque a comida delas era separada da nossa. E lá eu não fazia nada.
P/1 – Olha só!
R – Eu não fazia nada. Então, cada setor tinha uma freira que tomava conta, e todas elas me ajudavam. E eu ia... Eu me lembro de Madre Socorro e a da lavanderia, mas Socorro era mais. Mas, mesmo assim: “Ô, minha filha, você não aguenta”. Está voltando tudo na minha cabeça agora (risos). “Oxente! Você não aguenta fazer isso, não. Deixa aí, deixa aí”. Assim. Então, passei meu tempo assim lá no convento. Hoje eu... Se eu não sei costurar, agradeço às minhas freiras, porque não me obrigavam a fazer as coisas. Eu fazia o que eu queria.
P/1 – Por esse lado foi bom.
R – Foi bom! E ruim ao mesmo tempo porque eu não aprendi a costurar, não aprendi a cozinhar. Não suporto cozinha (risos). Então, essas coisas assim.
P/1 – E, Walquiria, você lembra da idade com que você foi para esse convento, mais ou menos? Você era pequenininha.
R – Ah, sim, lembro por causa de um vestido (risos). Eu tinha treze anos e foram comemorados os meus treze anos como se fossem quinze anos.
P/1 – Olha! E que vestido era esse?
R – Era um vestido assim, cheio de... Era um vestido rosa e o tecido, eu não sei o nome daquele tecido...
P/1 – Meio furadinho?
R – Ele tinha umas bolas do próprio tecido, em alto relevo. O tecido era todo assim.
P/1 – Cambraia?
Teresa – Bordadinho, não é?
R – Não, ele não era bordado.
Teresa – As bolinhas eram bordadas?
R – Não, as bolinhas não eram bordadas.
P/1 – Piquet, não era piquet?
R – Eu não sei o que é piquet.
P/1 – Mas, enfim, a gente entendeu (risos).
R – Eu não esqueço desse vestido. Eu não sei por que, mas eu não me esqueço dele.
P/1 – Alguém lhe deu? Você lembra quem lhe deu?
R – Não. Pode ter sido eles mesmos. ‘Mainha’... Eu chamo ‘mainha’ até hoje (risos). Foi ela mesmo, ela que fazia.
P/1 – Walquiria, deixa eu entender como funcionava. Você foi com dez anos para essa casa de família, não é?
R – Sim.
P/1 – E você ficou um ano, dois, lá.
R – Eu acho que fiquei o período que perdi, foi no período em que eu perdi a primeira série.
P/1 – Você falou que era ruim.
R – É. Aí voltei para ___00:13:08___
P/1 – E já foi para o convento.
R – Aí já fui para o convento. Passei dois anos lá.
P/1 – E na parte de estudos lá? Tinha as aulas? Como era?
R – Não, não, era como um pensionato. Eu morava no convento, mas estudava fora.
P/1 – Ah, entendi!
R – Estudava no Iceia. E meu irmão estudava em outro colégio, no Duque de Caxias.
P/1 – E você fez o ginásio lá nessa escola.
R – Eu fiz o ginásio. Quando foi na quarta série, eu fui para Santo Amaro porque saí do convento, não tinha condição de alugar uma casa, meu pai não tinha dinheiro. Ele trabalhava em Santo Amaro, aí alugou uma casa em Santo Amaro da Purificação e passei um ano lá, que foi um ano maravilhoso. Maravilhoso. Porque tinha o pai, ‘mainha’ estava lá, os irmãos, todos juntos, aí a gente só podia... E, em termos de estudo, de colegas, foi uma turma... Para lhe dizer, eu fui colega de Caetano Veloso (risos). Então, meus colegas, nesse período, quase todos são famosos.
P/1 – É mesmo? Quem são eles? Você também ficou (risos).
R – Fiquei com Telecurso (risos). Emanoel... Emanoel de quê...
P/1 – Araújo?
R – Araújo. Emanoel Araújo. Tinha Caetano, tinha um Zé Wilson, já morreu. Esse que é da Rede Globo. Portugal. Jorge Portugal.
P/1 – E como era a convivência? O que vocês faziam na escola? Enfim, como era?
R – Estudava e brincava (risos). Até hoje esses colegas ainda têm aquele... E a gente sempre disse: “A gente precisa voltar a reunir esse grupo”. Mas ninguém nunca... Só faz falar (risos).
P/1 – Tem saudades dessa época.
R – É. Foi um ano só que eu passei em Santo Amaro, mas que valeu pelos quatro anos.
P/1 – Era final do ginásio?
R – Era. Aí voltei para Salvador.
P/1 – Mas fala um pouquinho dessa escola, desse ano que tinha esses amigos todos, o ensino.
R – Um ensino muito bom, era um dos melhores, era o Teodoro Sampaio, o nome do ginásio. Eram bons professores, professores de renome mesmo, muito bom.
P/1 – E aí você terminou o ginásio...
R – Terminei o ginásio e voltei para Salvador para poder fazer o segundo grau.
P/1 – E aí, como foi?
R – E aí, deixa eu me lembrar como foi. Nessa época, meu pai já alugou uma casa para ‘mainha’. Alugou, mas era muito ruim para ele porque todo final de semana ela tinha que ir lá levar a feira. Porque fazia as compras, quando chegava final de semana ela levava. Eu me lembro muito que a gente morava na Baixa de Quinta. Vocês não conhecem lá e eu vou dizer (risos)... Conhece Água de Meninos? Já ouviu falar? Não é que conheça, mas já ouviu falar?
P/1 – Sim.
R – Água de Meninos, onde era o terminal de ônibus. Não havia rodoviária ainda nesse tempo, era terminal de ônibus. Então ‘mainha’ vinha com aquelas cestas enormes, coitada, a pé, subia aquela ladeira e descia a outra para poder chegar lá em casa. Então, a gente lembra muito disso. E aí, eu e Viraldo esperávamos, cada um também segurando as sacolas para poder... Ela passava... era o fim de semana que ela passava com a gente, porque segunda-feira era dia de feira, dia de domingo tinha missa em Terra Nova e ela não faltava às missas (risos). Ela cuidava da igreja, então ela tinha que ir. Segunda-feira era dia de feira em Terra Nova, fazia feira para poder levar para a gente. Aí ela já levava carne, trazia as coisas bem arrumadinhas e a gente passava o resto da semana só nós mesmos cuidando.
P/1 – Quem era? Você, seu irmão...
R – Eu, Viraldo e Vera. A outra caçula não pegou isso, não, Wilsa, não me lembro muito da passagem dela.
P/1 – Como foi, Walquiria, morar sozinhos os irmãos em Salvador?
R – Foi bom e até hoje a gente fala isso. Moramos sozinhos e ninguém nunca deu para ruim. Ficamos ali bem, todo mundo. Era uma avenida de casas... Cuíca de Santo Amaro, já ouviram falar de Cuíca de Santo Amaro? Era nosso vizinho (risos).
P/1 – Olha!!!
R – Ele mesmo, o Cuíca, a gente não gostava muito dele, não. Mas todo mundo ali cuidava da gente. Nós morávamos sós, tem a avenida, todo mundo se conhece. Mas todo mundo respeitava as filhas de dona Santinha, as filhas de “seu” Eduardo. E, mais adiante, tinha a casa da família com quem eu morei, que também cuidava da gente. Que eram amigos, um deles era padrinho de minha irmã. Mas a gente não queria ficar na casa deles, tanto que a gente não ia muito lá na casa deles, não. Também a gente ficava em casa estudando...
P/1 – Isso é que eu ia perguntar. O que vocês faziam nessa juventude?
R – Estudava, ficava estudando.
P/1 – E passeios para divertir?
R – Sabe que isso não me passa na cabeça? Não me lembro muito, não, da gente sair assim para se divertir.
P/1 – Lá em Salvador.
R – Não. Nossa coisa era mais em Terra Nova. A gente ficava direto, só ia mesmo nos feriados, nas festas, que a gente ia para Terra Nova.
P/1 – Tinha amigos, além da escola?
R – Muito poucos, que não são muito lembrados. Que eu me lembre, não.
P/1 – Dedicava mais ao estudo.
R – Ao estudo.
P/1 – E aí foi fazer o ensino médio?
R – Fiz o ensino médio. Porque casa alugada tem que ficar sempre mudando de lugar. Aí fomos morar... Ele alugou uma casa que era do padre de lá, ficava em Santo Antônio Além do Carmo, não sei se já ouviram falar dessa rua, que é perto do Pelourinho, não é? Então, tem uma rua ali que era paroquial, o padre alugou e ficamos lá até a formatura, quando nós concluímos. E aí, quem ficava conosco? Minha tia uma vez foi ficar conosco. Tinha uma outra tia que a filha dela também precisava estudar e colocou lá, mas foi um período ruim também.
P/1 – Por quê?
R – Porque...
P/1 – Se você quiser falar, não é?
R – Eu falo sim. ‘Mainha’ continuava naquela mesma vida de levar a feira para a gente, essa coisa toda. Só que levava e essa tia, que era mulher do meu tio, ela não era minha tia, era tia emprestada, não dava comida para a gente. Quer dizer, servia a filha dela e a gente passava fome, ela não dava. Quer dizer, ‘mainha’ fazia... Duque é meu pai - a gente não chamava ele de pai não, chamava Duque (risos) - se acabando de trabalhar, mas a gente...
P/1 – E vocês não contavam.
R – Não contava. É, não contava.
P/1 – E você e seu irmão se formaram juntos.
R – Foi.
P/1 – Sempre juntos.
R – Sempre, sempre foi.
P/1 – E como foi esse dia, teve alguma coisa?
R – Não. Isso eu tenho, inclusive, da minha parte, eu tenho arrependimento. Porque quando eu me formei em professora eu não falei com ninguém lá em casa, não fiz solenidade. E aí, fui sozinha para o colégio para receber. Nesse período, eu era noiva - agora que me passou - aí, só ele foi assistir eu receber a colação de grau. Só ele. Aí ‘mainha’ ficou: “Por que você não falou que ia ter isso?” “Ah, ‘mainha’, não ia ter nada, para quê? Não tinha nada”. Como realmente não teve nada, porque eu não falei (risos). E me arrependi depois, porque as famílias mesmo... Foi no próprio colégio, na secretaria que fizemos a colação de grau, o juramento que ia fazer, ali na secretaria mesmo. Mas as outras famílias estavam, menos a minha.
P/1 – Você achou que não ia precisar.
R – Ah, não precisava (risos).
P/1 – Você fez Magistério.
R – Fiz Magistério. Foi.
P/1 – E até aí vocês estudavam. Quando começou a trabalhar?
R – Comecei a trabalhar logo depois que eu terminei o curso de Magistério. Meu pai era muito querido e tinha muitos políticos, apesar dele não gostar de política, mas cada um queria servir melhor, tanto que eu tive duas nomeações e duas designações (risos).
P/1 – Na mesma época? (risos).
R – Sim! Porque uma foi o padrinho da minha irmã, Lourival, que era dessa casa que eu fiquei, que a gente ficou quando pequeno, não é? E o outro era o padrinho da outra irmã, de Vera. Então, um estava medindo força para ver quem podia. Só que os dois... Saíram as duas no mesmo dia, no mesmo diário (risos).
P/1 – E era para Salvador?
R – Não, saiu como professora primária.
P/1 – Sim, mas em Terra Nova.
R – Em Terra Nova, lá em Terra Nova. Sabe como é, não é? As coisas lá em Terra Nova... E foi assim, então teve que fazer a opção. Agora, não me lembro como foi, qual dos dois foi que prevaleceu, isso aí realmente eu não me lembro, não.
P/1 – Walquiria, antes da gente começar agora essa parte...
R – E foi ela... posso?
P/1 – Você tem o quê? Começa a falar então (risos).
R – Pode perguntar.
P/1 – A Teresa está perguntando se você, enquanto professora primária, quando você começou a dar aulas, se você tinha alguma coisa de dona Alice (risos).
R – Dona Alice (risos). Foi a dona Alice mesmo. Ela era diretora da escola, queria que eu assumisse o lugar dela como diretora. Eu não quis, porque assim... Eu estou entrando agora, sem nenhuma experiência, ela era durona, eu não quero, não. Ela se zangou comigo porque eu não quis, que ela só tinha confiança de entregar o cargo dela a mim e eu não aceitei, não fui, não aceitei. Mas, (risos) eu fui uma professora dura (risos). Dura mesmo, não é?
P/1 – Você falou: “Dona Alice, eu não vou ser diretora, mas vou ser igual à senhora” (risos).
R – Aí...
P/1 – Mas conta como era você professora.
R – Ah, eu exigia muito, principalmente dos meus parentes. Porque tinha sobrinhos, tinha primos... Ninguém queria que eu fosse professora, porque era deles que eu exigia mais. Agora, não era de botar de castigo. Eu era de falar, de reclamar, mas esse negócio de bater... Nesse tempo eu acho que não existia mais esse negócio de bater, nem botar de castigo, nem nada, não.
P/1 – Mas era...
R – Eu era dura.
P/1 – Firme.
R – (risos) E eles me obedeciam.
P/1 – Você era professora de que ano?
R – Eu ensinei da terceira à quinta série. E meus alunos eram bons alunos.
P/1 – Você lembra do primeiro dia em que você entrou numa sala de aula?
R – Não me lembro, não. Isso aí não.
P/1 – Enquanto você deu aula, de terceira à quinta série?
R – De terceira à quinta. Eu fiquei seis anos lá em Terra Nova.
P/1 – Nesse período, teve alguma situação marcante para você, ou com algum aluno que lhe marcou, um momento que vem sempre à memória?
R – Não. Deve ter tido, mas eu não estou me lembrando.
P/1 – Você não teve nada que tenha ficado assim, não, mas no geral foi o que você disse, você era uma pessoa (inaudível).
R – É. Enquanto professora primária, que eu estive lá, eu fiz o curso chamado Cadis. Foi quando criou o ginásio lá de Terra Nova e eu fui professora lá no ginásio, continuei com a dureza (risos).
P/1 – Dava aula de quê, Walquiria?
R – Eu dava aula de Matemática. Muito engraçado porque quando eu dava aula de Matemática, na parte de Geometria, essas coisas eu não sabia. Mas eu tinha um amigo chamado Raimundo - hoje ele é engenheiro de nome - e eu disse: “Raimundo, vamos trocar. Na hora em que eu for dar Matemática e Aritmética, eu dou e você vai para a sala dar a parte de Geometria” (risos). Pronto, assim que a gente fazia. Tanto que, no planejamento, a gente já colocava isso (risos).
P/1 – E ele era professor.
R – Ele era professor também. Leigo como eu, ele era professor leigo como eu, mas já era formado, era arquiteto. Ele não era formado, estudava Arquitetura.
P/1 – E esse curso Cadis era um curso...?
R – Era um curso.
P/1 –
Era para fazer o quê?
R – Era formação de professores leigos.
P/1 – E o que você achou dessa iniciativa de vocês assumirem como leigos?
R – Ah, naquela época a gente gostava. Não tinha outro professor, então eram aproveitadas as pessoas que apareciam mais, todo mundo achava que era bom (risos).
P/1 – Pode falar.
R – (silêncio)
P/1 – Eu perguntei o que você achou desse curso que formava professores leigos. Leigos assim, o que queria dizer leigo?
R – É justamente porque não tinha a formação universitária, entendeu? Ele não era formado, não estudou numa faculdade para ter o curso. Então pegava os professores e ia dar essa formação para poder ensinar aquela disciplina.
PAUSA
P/1 – Walquiria, você disse que funcionou.
R – Funcionou sim.
P/1 – E assim... Você acha que fez falta o professor formado, ali, naquele momento?
R – Naquele momento eu acho que não.
P/1 – E poderia ser assim, pelo que você viveu naquela experiência? Sempre assim?
R – Não, não.
P/1 – Por quê?
R – Porque aí as coisas mudam, não é? O ensino muda. Mas nós sempre estávamos fazendo cursos, a gente não ficou parado, não. A gente, apesar de ser professor leigo, quando tinha um curso daquela disciplina, então, aqui... aqui em Salvador (risos)...
P/1 – Lá em Salvador.
R – Lá em Salvador (risos). O prefeito, o diretor da escola nos encaminhavam para fazer aquele curso. Então a gente estava sempre modernizando.
P/1 – E a equipe de professores? Você sentia esse movimento? Como era?
R – Como era?
P/1 – De buscar se formar.
R – Todos os professores?
P/1 – É, a equipe.
R – Era quase que obrigatório. Era uma exigência da direção.
P/1 – E depois dessa experiência, como foi seu caminho?
R – (risos) Aí eu vim. Nosso diretor do ginásio era um padre e eu briguei com o padre (risos).
P/1 – Conta essa briga. O que aconteceu?
R – Eu briguei, e aí agradeço a ele hoje porque eu briguei com ele. Porque brigando com ele, me forçou a sair de Terra Nova.
P/1 – Mas por quê? Conta a briga como foi.
R – A briga, deixa eu lembrar... Por que foi que eu briguei com padre Moisés? Eu não me lembro, não me lembro.
P/1 – Mas teve a briga.
R – É. Foi uma briga feia. Inclusive teve... Não me lembro por que também, mas ele me chamou de ladra. Agora, não me lembro por que, não sei o que foi que aconteceu. Então eu vim embora para Salvador, fiquei na casa da tia que não dava comida (risos), fiquei na casa dela um período enquanto eu fazia o vestibular - eu e a filha dela. Aí, fizemos o vestibular, fizemos um grupo assim, minha concunhada hoje. E passei logo. Agora, não fiz Matemática porque tive medo de não passar em Matemática e ter que voltar para Terra Nova. Fiz Português e fui estudar Letras, passei logo. Eu fiz Língua Portuguesa, não ensinei, ensinei pouco tempo porque eu não gostava de ensinar, eu sempre gostei foi de Matemática. E não fiz Matemática por medo de perder. Porque se eu não passasse no vestibular, ia ter que voltar para Terra Nova. E eu não queria voltar. E Português, eu sabia que passava. Agora, por quê? (risos) Mas eu sei por que. No grupo em que eu estava, que era um grupo de amigos, a gente se reunia para estudar para fazer o vestibular. Então, a maioria ia fazer Letras. Por influência de minha cunhada, inclusive porque ela era professora de Português, então ficava me influenciando: “Não, faça Letras, Letras que é bom!”. Aí eu fui e fiz Letras.
P/1 – E você depois continuou dando aula ou foi trabalhar…?
R – Fiquei dando aulas até um certo tempo porque, como sempre, a paparicação (risos), eu não achava uma escola que me adequasse, eram lugares não muito bons. Eu chegava... E minha professora de Português era diretora lá na Secretaria de Educação, e era ela quem encaminhava para as escolas. Aí eu fiz assim... Era Joselita o nome dela: “Ah, professora, não quero mais, todas as escolas que eu vou não servem”. Ela disse: “Minha filha, você quer trabalhar comigo?” (risos) Eu disse: “Eu quero sim”. “Então, agora chame Raimunda ali”. Na mesma hora fez minha transferência da escola para a Secretaria.
P/1 – Opa!
R – Aí pronto, entrei e nunca mais saí.
P/1 – Trabalhando na Secretaria de Educação.
R – Trabalhando na Secretaria de Educação.
P/1 – Estadual?
R – Estadual. Passou um tempo, aí surgiu um concurso para a Prefeitura. E aí as meninas: “Wal, vá fazer o concurso”. “Ah, eu não quero nada”. “Vai sim, menina, aproveite! Se você não passar, você vai estar com seu emprego. Aproveite e vai”. Eu fui e passei (risos). E aí fiquei com os dois.
P/1 – Em Secretaria, não é?
R – Não, fiquei dando aula na Prefeitura. Eu dei aula por um bom tempo, bastante tempo, aula de Português (risos).
P/1 – E era o quê? EJA, ou era...
R – Não, classe regular. Eu fiquei dando aula até que a própria Joselita pediu a minha disposição porque eu saía tarde da Secretaria para ir para a escola, lugares que hoje realmente eu não iria, são lugares hoje muito perigosos, hoje eu não iria. Aí ela pediu a minha disposição e o Secretário de Educação na época - Barbuda era o nome dele - era amigo, muito amigo de Joselita e tornou-se também meu amigo (risos). Aí, na mesma hora em que Joselita me mandou: “Leva um bilhete ali para o Barbuda e diga a ele que é para fazer a sua remoção aqui para a Secretaria”. Na mesma hora. Não era remoção que chamava, não. Disposição, fazer a sua disposição. E eu fiquei à disposição da Prefeitura no estado, então tinha um horário só. Unir o útil ao agradável.
P/1 – E como é que você conheceu o Telecurso? Como foi esse encontro?
R – Ah, esse encontro foi bonito! (risos). O Telecurso foi assim: quando a Fundação esteve... Eu estava trabalhando na Secretaria já, e trabalhava com treinamento, essas coisas. E aí, a Fundação esteve lá na Secretaria e minha chefe, Joelice, estava lá reunida com eles, na sala de reunião. E eu cheguei lá, fiquei sentada, escutando a conversa, aquela conversa bonita, eu disse: “Meu Deus, que coisa bonita!”, falando sobre o projeto. “Ai, meu Deus, eu tenho que trabalhar nesse projeto, tenho que trabalhar nesse projeto”. Fiquei até o final da reunião. Chegou no final, a Joelice me chamou. Me chamou, me apresentou ao grupo, que era aqui da Fundação, me apresentou ao grupo e disse: “Você vai ficar com esse projeto”. Aí, pronto, caiu a sopa no mel (risos). Aí fiquei trabalhando. Na mesma hora ela já me deu as incumbências: providenciar, chamar as escolas... Tivemos seis escolas piloto, essas escolas é para dar... Escola piloto é escola que tem que ser a modelo para as demais escolas. Então essas seis escolas, que eu não me lembro o nome de todas...
P/1 – Não vem ao caso.
R – Aí, fiquei.
P/1 – E você lembra em que ano foi?
R – Eu acho que foi em 2000, 2001, por aí assim.
P/1 – Você lembra quem foi da equipe para lá?
R – Me lembro bem de Vilma. Vilma eu me lembro.
P/1 – Você lembra o que ela falou que lhe chamou a atenção?
R – Não, explicou a metodologia do Telecurso. E eu já trabalhava, eu ficava muito com os adultos no ensino noturno, treinamento no ensino noturno. E eu gostava muito dos meus alunos. Fazendo um parênteses, uma das escolas onde eu estava ensinando era uma escola perigosa, quase ninguém gostava de ir para essa escola. Tinha um menino -
eu vim a saber depois porque vi o retrato dele no jornal - que era um menino super perigoso, que era de alta periculosidade. E era meu amigo. Ele chegava na sala, sentava com aquelas pernas para cima e eu dizia: “Ô filhão, que coisa mais feia, tira esse pé”. Eu não sabia quem ele era (risos), talvez se eu soubesse iria ficar com medo e não iria querer. “Que coisa mais feia, como é que um homem senta para ficar com essas pernas assim para cima, rapaz? Tem uma porção de mulher aqui na sala. E também tem eu, viu? Ó o respeito!”. Aí ele tirava. O carro de todas as professoras e diretoras eram arranhados, furado pneu. O meu, intacto, ninguém bulia no meu carro. Também eu não dava carona a ninguém, eles me levavam até o carro de carona. Eu não sabia quem era ele. Talvez se eu soubesse, não tratasse como tratei, ia tratar com medo. E depois é que eu vi o retrato no jornal, ele já preso. E daí então eu nunca mais soube dele, não sei se continuou preso, se morreu. Eu não sei o que foi que aconteceu com ele.
P/1 – E você era professora, nessa época, de Português.
R – Português, era professora de Português.
P/1 – E aí você disse que assumiu o Telecurso.
R – Sim. Fechei o parênteses (risos), porque eu abri e não fechei.
P/1 – Parênteses bom!
R – Sim. Aí, Joelice me chamou, me explicou e disse: “Agora vamos escolher quais as escolas para poder a gente começar”. Aí, eu fiz a relação das escolas, escolhemos as melhores escolas da Prefeitura, foram seis. Contatei com os diretores, expliquei para eles como seria o projeto. Eles ficaram encantados. Mas isso eu não fazia sozinha, Joelice sempre me dando apoio. E quando ela não podia estar comigo, ia outra pessoa; eu não queria nunca ficar sozinha, não ficava sozinha numa reunião.
P/1 – As escolas aceitaram bem?
R – Aceitaram muuuito bem.
P/1 – O que você acha que convencia?
R – Convencia era a metodologia, a idade dos alunos, que eram já aqueles senhores que não tinham que estudar, estavam trabalhando. E eles assumiram, tinha um horário, eram três horas de aula que a gente dava.
P/1 – Explica como era o Telecurso? Você chegava lá, o que era o Telecurso? Você levava o quê para a escola? Explica um pouco, como se fosse falar para os diretores.
R – Quando eu conversei com eles, a Fundação foi dar o curso para eles.
P/1 – Mas, para ver se eles topavam, se eles aceitavam, o que você dizia? Em poucas palavras.
R – Mostrava a metodologia, mostrava o material. Eram três etapas. Começamos pela primeira etapa, que foi Português e Ciências a primeira etapa. Mas aí, nesse momento, a gente falava sobre as três...
P/1 – Como funciona? Até para a gente deixar registrado.
R – A primeira era Português e Ciências. A segunda etapa era História do Brasil, História Geral e Geografia. E na terceira era Matemática e Inglês. E os encontros, já falando com os professores, eram de acordo com essas etapas. Então, primeira etapa Português e Ciências. Ia um grupo daqui, de professores especializados nessas disciplinas, para dar o curso para esses professores. Os diretores tinham que participar dessas aulas para eles tomarem conhecimento. Eu não dava aula porque eu também precisava aprender (risos). E depois que eles entendiam, os professores criavam as salas.
P/1 – E tinha essas três etapas. Para que alunos era?
R – Alunos que não alcançaram o seu objetivo de estudo. Isso porque trabalhavam, porque tinham a idade avançada, então escola nenhuma queria aceitar. Também tinha uma coisa: para aceitação deles, eles tinham que ter uma noção de leitura, não era preciso que eles soubessem ler corretamente, mas tinha que ter uma noção de leitura.
P/1 – Não importava a série em que eles estavam?
R – Não, não, não. A série não existia, não existia a série. A gente só não pegava alunos de quinta série, quarta série, assim não. A gente não pegava esses alunos porque não havia necessidade, eles tinham oportunidade fora. E os outros que não tinham nenhuma, que não sabiam ler, eram prejudicados no seu trabalho porque não sabiam escrever.
P/1 – Então seria mais de sexta série até oitava.
R – É.
P/1 – E com essas três etapas era feito em quanto tempo?
R – Um ano e três meses. Ainda tinha o segundo grau.
P/1 – Eles podiam concluir o ensino fundamental...
R – Em um ano e três meses. Então, por conta disso, já no final, o pessoal começou a criticar – e vendo o resultado do Telecurso. Porque muitos alunos que estudaram o Telecurso, depois que se formaram, procuraram crescer, procuraram outros meios. Uns foram fazer vestibular, fazer o cursinho para fazer o vestibular. Uns passaram, outros não. Uns fizeram outros cursos, procuraram melhorar na vida. E com isso, eles também melhoraram no trabalho, eles foram mais aproveitados no trabalho, porque aí eles já sabiam ler, já sabiam discutir, já sabiam ouvir. Então, tudo isso nós tínhamos etapas que o Telecurso ensinava. O Telecurso, ai que sonho, é uma maravilha. É uma maravilha. Eu fiquei até quando pude, até quando eu pude eu fiquei tomando conta do Telecurso porque eu tinha tempo de me aposentar, mas não me aposentei (risos). Mas eu precisava sair da Secretaria, porque minha mãe ficou doente e eu precisava cuidar dela.
P/1 – Então você disse tudo isso, como funcionava... E os alunos eram só alunos que já estavam na escola?
R – Não. Não eram somente alunos que... Alunos que não aprenderam a ler.
P/1 – Podia ser da escola...
R – Da escola e fora da escola. Conheceram o projeto, aí iam me perguntar se podia, podia sim: “Vai na escola que tem vaga”.
P/1 – E como fazia essa mobilização dos alunos para eles saberem?
R – Ah, colegas. Eles iam conhecendo, um ia passando para o outro, é um boca a boca, como chama. E aí, todos se encantavam. Todos os alunos que faziam o curso, enquanto alunos, amavam.
P/1 – Por quê? Alguém chegou para você? Se você puder contar o que o aluno falou um dia ou outro para você, alguém falou.
R – Eles eram muito agradecidos por estarem escrevendo. Teve alunos que começaram do nada, estaca zero e já estavam escrevendo história. Tive aluno que foi orador de turma. Eles escreviam o discurso e passavam para a nossa equipe, onde a gente ia fazer as correções, na presença deles. Eles estavam ali, então diziam: “Isso aqui não pode ser assim, vamos trocar”. Iam fazendo. Eles, inclusive, na hora dessa correção, davam outra opinião. Então, nunca era feito nada escondido, sempre na presença deles. Tudo o que a gente queria fazer de mudança tinha que ser com os alunos.
Teresa – Wal, conta aquele convite que a universidade lhe fez.
R – Foi assim. A universidade federal soube do projeto. Já tinha havido conclusões e as conclusões eram feitas em lugares VIPs (risos), podemos dizer assim. Era feito no Centro de Convenções várias vezes, eu já estava dona do Centro de Convenções (risos). Em hotéis 5 estrelas. Othon Salvador, que é o da Bahia. Eram os lugares.
P/1 – Reunia todos os alunos formandos?
R – Sim. A gente juntava todas as escolas. Porque os planejamentos eram feitos toda segunda-feira, era planejamento semanal. Então, todas as escolas tinham que seguir o mesmo programa.
P/1 – Reunia os professores todas as segundas, de todas as escolas ou cada um na sua?
R – Não, todas as escolas. A gente já tinha um salão lá. Ia um professor, que tirava as dúvidas deles. A Fundação ia uma vez por mês. Nesse dia então, a gente... Eles tiravam as suas dúvidas, explicavam. “Você tem uma dúvida?” Porque a pior de todas era essa, não é? Matemática e Inglês, principalmente o Inglês. Aí, um professor de Inglês vinha aqui e ensinava, explicava a eles como devia ser. Muitos professores, orientadores de Inglês foram fazer curso de Inglês para poder ensinar no Telecurso. Então, isso me engrandecia demais, porque eu via a boa vontade deles e a responsabilidade para não jogar na rua qualquer pessoa. Por isso que a universidade, quando ouviu falar no Telecurso, me chamou para eu poder explicar a metodologia do Telecurso. E ficaram encantados.
P/1 – Você foi lá?
R – Eu fui e expliquei para eles. Nunca vou só (risos). Porque acho que não é bom a gente andar sozinho. Se eu tinha uma equipe, então sempre iam dois, três. A gente ia falando e explicando lá na universidade como era. Eles pediram uma classe para poderem sentir de perto como era.
P/1 – Ah, foi feito um lá?
R – Sim, marcou com os funcionários de lá, aqueles que não tinham formação, então foi feito para a universidade sentir como era feita a metodologia, in loco. Então, ficaram encantados, e eu mais ainda (risos).
Teresa – E aquela professora que foi aluna sua...
R – Ah sim, lá na universidade.
P/1 – Conta essa história.
R – Ela era professora do Telecurso e foi dar aula na universidade.
P/1 – Mas conta como aconteceu isso.
R – Eu vim a saber depois, que ela estava dando aula. Alguém me falou, aí eu fui lá, fui assistir a aula dela e vi. Eu disse assim: “Não foi isso o que você aprendeu lá. A metodologia não foi essa”. Ela dando aula... Porque Telecurso, professor não sentava, não sentava porque eram equipes, então o professor tinha que ficar... E era de muita responsabilidade, então ela não podia ficar sentada e deixar. Embora no Telecurso pudessem os alunos trabalhar sozinhos, eles podiam mas a gente não deixava. Então, era uma turma preparando... Porque a gente dividia as tarefas, assim, para cada coisa. No dia do planejamento, que era sempre dia de sábado, a gente dividia. Então, todo mundo sabia o que estava dando, todo mundo sabia o que a escola estava fazendo, o que todas as escolas estavam fazendo naquele dia. Por isso que a gente tinha a data certa de dar formação, para dar conclusão.
P/1 – E aí você passou e viu...
R – Ah, sim! Aí vi, não me lembro o nome dela. Aí eu disse assim: “Não. Não foi isso que você aprendeu lá, não foi isso. O Telecurso não é isso que você está fazendo. Se você quer passar o método do Telecurso, está faltando, veja o que é que está faltando”. Aí conversamos, tudo. Ela tomou aquele susto quando me viu, não é? Agora eu falando assim é que eu estou vendo que eu era dura (risos).
P/1 – Dona Alice?!
R – Dona Alice (risos).
P/1 – Dona Walquiria (risos). Walquiria, só para fechar... Ela estava dando aula de outra coisa.
R – Era.
P/1 – Não era Telecurso.
R – Não, não! Ela levou o método do Telecurso para lá.
P/1 – Mas...
R – Não fez certo. Ela não fez certo, não é? Aí eu chamei. Se ela foi para lá para mostrar uma metodologia, ela tinha que mostrar. Quer dizer, ela fazendo errado, o que é que ia se dizer? Não é? E ela não estava dando a professores leigos, estava dando a professor, a pessoas da universidade, os alunos de universidade estavam sendo formados. E ela estava aplicando a metodologia, a metodologia. E aí, aplicando errado.
Teresa – Wal, e a sua experiência com os garis?
R – Ah (risos). Com os garis é assim. Sabe como é que são eles, não é? São pessoas... Aliás, todos eles, de um modo geral, sem ser somente garis, eles são muito humildes. São pessoas carentes e são... Não é isso o que eu queria dizer, não é menosprezando, não é isso propriamente, mas eram pessoas carinhosas, eles queriam aprender e queriam ser gente. E isso eu fazia com que eles... Eles achavam, realmente, que eu era dura, mas mesmo assim eles gostavam de mim. E esses alunos, quando eu cheguei perto de um deles… Porque eles ficam assim: “Pro, venha ver o que eu fiz”. “Pro, venha ver o que eu fiz”. Ele fez uma carta para mim, mas eu não me lembro mais, eu devo ter até essa carta por lá, um dia desses eu vou até procurar nos meus alfarrábios, como diz o outro (risos), para ver se eu encontro. Ele fez uma cartinha assim, bem... Não era bem legível, correção perfeita, mas para uma pessoa que entrou sem saber nada, só sabendo fazer o nome dele, que a gente tinha que aceitar. O nome dele somente... Então, para mim, foi muita coisa. Ele fez essa carta para mim, agradecendo o que ele conquistou ali. E em tese foi isso, um agradecimento por ele estar ali. Porque eles aprendiam socialização, se socializar com as pessoas. Eles aprendiam a não... como é que eu quero dizer? Aprender a aprender - é uma palavra do Telecurso - aprender a aprender. Esse aprender a tratar as pessoas, a não violência. Quando existia... Inclusive no próprio Telecurso tem um trecho dizendo isso, quando tinha as desavenças, quando começou o Telecurso, a não querer a nossa metodologia, a criticar, então a gente sempre apresentava para eles, ensinava para eles essas coisas: “Vamos aprender a ouvir, a querer, a querer e não…”. Não foi esse termo, não, mas era isso. Não bater testa com ninguém. Mas o Telecurso tem um outro termo que diz, mas eu não estou me lembrando agora. E isso fez com que as pessoas amassem o Telecurso. Qualquer professor que eu encontro, que trabalhou no Telecurso, me diz que tem saudades do Telecurso, como eu tenho muita saudade (risos).
P/1 – Walquiria, esses termos, esse jeito de não vamos bater de frente, isso vocês falavam para quem?
R – Para os professores orientadores. E os professores que iam dar aula aos treinandos.
P/3 – Eu achei bem legal a história do gari, e aí a gente acabou emendando um outro assunto, eu queria só que você fechasse a história. Como é que foi, o que você sentiu, aquele rapaz só sabia ler o nome, entregando uma carta. Como você se sentiu?
R – Eu fiquei muito gratificada e eu não me lembro, mas devo ter chorado de alegria quando vi aquela carta de agradecimento, vi aquela coisa. Ave Maria! Eu era muito de abraçar e beijar. Ah, eu peguei, afaguei um velho (risos). Olha, estou me lembrando do cara! Ele era pequenininho, um gordinho assim, sentado, assim. Aí eu fui, dei um abraço nele, de agradecimento. Foi muito gratificante. E eles também, todos os alunos também. Aí um queria mostrar o que fez, depois desse cada um queria mostrar a sua sabedoria, mostrar o seu aprendizado, mostrar as coisas boas que eles... No dia da... Você foi a alguma das formaturas deles? Aí, os depoimentos, meu Deus do céu, eram os mais bonitos!
P/1 – Você lembra de algum?
R – Não me lembro assim, não.
P/1 – O que eles diziam, em geral?
R – No geral, eles diziam o quanto foi gratificante. De um modo geral, aquilo. Porque eles melhoraram no trabalho. Até então eu não conhecia nenhum que tivesse feito vestibular, então eles melhoraram no trabalho, no relacionamento com a família, eles falavam que eram aqueles homens grosseiros, que batiam, já não faziam mais isso. Tudo isso é o Telecurso. Tudo isso é o Telecurso (risos).
P/1 – Walquiria, a gente também está registrando um pouco como funciona, a história. Ficou quanto tempo lá o Telecurso? Não era a Prefeitura, era...
R – Era a Prefeitura.
P/1 – Teve esse projeto especial com os garis.
R – Que é Telecurso.
P/1 – Também.
R – Foram ao todo... Eu tive...
P/1 –
Que anos, assim?
R – Quando eu saí... Eu saí de lá quando me aposentei. Deixa eu me lembrar, porque quando eu me aposentei, eu saí logo. Ele ficou lá em Salvador mais ou menos uns cinco anos, enquanto eu estava. Quando eu saí, o projeto acabou.
P/1 – A que se deve?
R – Eu acho que ao sargento (risos). Sabe como é o sargento? Porque, não é que eles tivessem medo de mim, eles me respeitavam e queriam fazer o melhor para me mostrar que sabiam fazer.
P/1 – Os professores.
R – Os orientadores, vamos chamar assim, porque eram os orientadores. E os alunos mesmo. Então os orientadores queriam mostrar, ah, isso nas reuniões, nossa, era debater, um querendo saber mais do que o outro, fazer mais bonito do que o outro.
P/1 – Os orientadores da (inaudível).
R – Sim, é. Porque lá era um professor só para todas as áreas.
P/1 – Sim.
R – Para todos. Mas isso... Aqui, a Fundação ia, acho que era de quatro em quatro meses uma etapa, era... Ou era seis. Se eram três etapas, era um ano e três meses, eu acho que era de seis em seis meses.
P/1 – Agora, o que você chama orientador é professor?
R – Professor, é o professor que chama de orientador, que chama mediador.
P/1 – Aí acabou assim?
R – Não, ainda ficou. Depois que eu saí ainda ficou, mas aí já não tinha mais quem batesse testa com eles, que mostrasse para eles que era um projeto bom. Aí, nem a Secretaria. O pessoal da Secretaria desacreditou também, não quis mais. Embora a Nélia, que trabalhou comigo, tenha lutado lá. Quando eu saí, ela ficou no meu lugar, lutou muito para ver se continuava o projeto, mas ela sozinha... Aí não teve mais apoio, como eu tive o apoio de Joelice, ela não teve apoio. Então, foram saindo os alunos, foram saindo os orientadores e aí acabou o projeto. E foi uma pena.
P/1 – E durante esses cinco, seis anos.
R – Sim, mais ou menos.
P/1 – No início, a Fundação dava a formação. Fez a formação até o final?
R – Sempre deu, sempre deu.
P/1 – E havia recursos de material?
R – De material e financeiro.
P/1 – E os recursos financeiros eram para quê?
R – Os professores que davam aula. Não eram milhões (risos), não existiam ainda os marajás. Podia até existir, mas...
P/1 – Mas tinha uma remuneração.
R – Tinha sim. Eu recebia e os orientadores também.
P/1 – E era da Fundação.
R – Da Fundação.
P/1 – Mas se a Secretaria quisesse continuar, continuava.
R – Se quisesse. Mas não houve. Como até hoje estão tentando ver se reabre, mas ninguém... Porque eles não sabem o que estão perdendo. Eu, realmente, agradeço muito ao Telecurso. Inclusive, apesar de eu ser sargento, mas agradeço muito o meu crescimento dentro do Telecurso. Eu era uma pessoa pacata assim, tímida, não brigava pelos meus direitos e, com o Telecurso, eu aprendi a fazer isso tudo. Aprendi. E também, além disso, fui respeitada dentro da Secretaria e demais órgãos. Daí eu era simplesmente uma professora lá dentro, uma técnica, cheguei a ser uma coordenadora geral. Gerente, o nome.
P/1 – Na Secretaria.
R – Na Secretaria. Eu passei a ser, porque era um dos cargos... Depois do Secretário de Educação, o gerente era o segundo. Então cheguei a isso. E isso eu agradeço a quem? Ao Telecurso.
P/1 – A gente entendeu a metodologia, os professores, como funcionava. Mas assim... Para empoderar tanto você, você consegue falar um pouco mais disso? Me ajudou, me fez crescer...
R – Sim. A própria metodologia mostra.
P/1 – Fale dela. Vocês falam da metodologia, mas vamos dizer que você vai falar para alguém que não sabe.
R – Que não sabe (risos). É assim: ela ensina a pessoa a viver em grupo, saber se socializar. A metodologia ensina a ter habilidades, habilidade... de quê, meu Deus? Está me fugindo a palavra.
P/1 – Não, de socializar...
R – É.
Teresa – Saber ouvir.
R – Saber ouvir! É isso. Isso eu ainda tenho um pouco. Se uma pessoa tiver, acho que é até demais. Se você estivesse falando e eu quisesse responder, mas ela... Eu não corto a palavra de ninguém para poder falar, e isso o Telecurso também ensina. A saber ouvir e esperar sua vez para poder interceder.
P/1 – E se o outro fala?
Teresa – Se o outro fala você não precisa...
R – É. Aí se os dois falarem ao mesmo tempo cria-se, então, na minha concepção... Justamente por isso eu me calo, se estiver falando eu me calo, eu não continuo. Mesmo se eu quisesse dizer a mesma coisa que ele falou, mas eu não digo mais, eu não falo mais. Então, eu era tida como uma pessoa que não falava, porque eu ia para as reuniões e não falava. Se eu não começasse a falar antes daquela pessoa eu também não falava mais. E isso Joelice sabia (risos). E sempre que tinha uma coisa assim: “Fale, Wal”. Porque ela sabia: se alguém falasse aquilo que eu queria falar, eu não ia falar mais.
P/1 – Mas também não precisava.
R – Não precisava. Eu achava que não precisava. Mas eu também podia dizer a mesma coisa em outras palavras, não é? Mas eu não fazia.
Teresa – Ô Wal, que legado você acha que deixou para seus professores? Os professores que você coordenava?
R – Meus professores (risos). Eu acho que a gente tem... Inclusive essa menina que eu fiquei até de falar com ela, como é o nome dela, menina? Que está trabalhando aqui também...
P/1 – Célia?
R – Não sei se é Célia. Que foi professora de Telecurso, não é? Então... Esses professores orientadores, eu acho que eles cresceram também, cresceram muito, eles aprenderam. Enquanto eles estavam estudando para ensinar, eles estavam aprendendo. E eles tinham aqui, da Fundação, eles tinham esse apoio. Então, qualquer coisa que eu precisasse aqui da Fundação para eles, eu ligava para cá e a Vilma imediatamente providenciava de mandar o que eu estava precisando. Se eu precisasse de uma pessoa... Por exemplo, as matérias que eu tive mais dificuldade foram Matemática e Inglês. Então, eu falava com ela aqui. Muitos orientadores foram fazer curso de Inglês, mas Vilma, por várias vezes, mandou um técnico, um especialista nas disciplinas de Matemática e Inglês para poder auxiliar os professores. Então tudo isso é crescimento para eles. Sem precisar ir para a Universidade eles estavam aprendendo.
P/1 – E para a Secretaria, você acha que ficou alguma coisa? Algum legado para aquele grupo, pelo menos? Para a política da Secretaria de Educação?
R – Enquanto tinha a Joelice. E enquanto tinha a professora Dirlene, que era outra incentivadora do Telecurso. Tanto que tem ali o retrato de Dirlene e tem o retrato de Joelice, também. Então, enquanto elas duas estavam, o Telecurso aconteceu.
P/1 – Quer perguntar mais? Alguma história que você conhece?
R – Alguma coisa que a gente tenha conversado lá na sala que...
Teresa – Você falou da transformação, que ele transformou, das transformações que o Telecurso fez, você disse que o Telecurso transformou você...
R – A mim?
P/1 – Isso, falou.
Teresa – Não só isso, não. Mas você disse também que...
R – Eu vou pegar o papelzinho ali (risos).
P/1 – Não precisa, não (risos).
Teresa – Não precisa, não!
P/1 – Alguma história, acontecimento que ela fala: “Aquela história!”. Já acho que ela contou, não é?
Teresa – Acho que contou tudo já. Das que ela me contou (risos). Mas eu ainda tenho uma curiosidade. Você disse que o Telecurso fez algumas transformações. Dona Alice ficou onde? Onde você deixou dona Alice?
R – Joelice?
Teresa – Não, dona Alice, a professora primária, eu quero saber! Você disse que dona Alice tinha influenciado na sua carreira de professora primária. No ginásio ela também continuou lhe influenciando. Quando chegou o Telecurso, você deixou dona Alice de lado ou você transformou dona Alice também? (risos).
R – Eu acho que dona Alice está aqui até hoje (risos).
P/1 – Às vezes precisou chamar a dona Alice (risos). Eu ouvi dizer que tinha um sargento na escola, achava que ia parecer a dona Alice (risos).
R – Acho que dona Alice está aqui até hoje, viu?
P/1 – Às vezes precisa, não é? Precisa de dona Alice.
R – Precisa (risos).
P/1 – Wal, a gente está terminando. Aninha, alguma coisa? A gente está terminando, quer dizer, você viu que tem assunto para muito tempo, não é?
R – Tem sim.
P/1 – Você terminou a história dizendo que se aposentou. E você quer contar alguma coisa que a gente não perguntou? Sabe aquilo que você gostaria de deixar gravado e a gente não perguntou?
R – Deve ter, deve ter, mas não estou me lembrando, não. Depois vou até me lembrar, mas agora, no momento, realmente... depois, eu tenho certeza de que vou lembrar (risos).
P/1 – Sempre acontece! E você tem ainda algum sonho, quer dizer, sempre a gente tem sonhos, mas tem algum sonho forte ainda, assim, que você gostaria de realizar?
R – Sonho forte. Eu já estou com uma idadezinha precisando de descansar (risos). Mas um trabalho que eu faria com muito gosto seria o Telecurso. Com todo o cansaço. Tanto que quando eu recebi a ligação da Fundação eu estava na casa de meu irmão, porque toda quinta-feira eu almoço com ele - mas, nesse dia, foi até uma terça-feira - eu vou para a casa dele almoçar. Aí, o telefone tocou e eu disse assim: “Olha Isa, a Fundação me chamando”. Ela fez assim: “Você vai trabalhar!?” (risos). Eu disse assim: “Não, menina, está me chamando, não sei o que é ainda não”. Eu não atendi na hora. Primeiro eu não atendi porque se Iza já disse assim: “Você vai trabalhar?”, então se eu fosse conversar na vista dela, ela ia me influenciar (risos). Aí, eu disse: “Estou no trânsito, depois eu converso com você” (risos). Aí fui para casa... Almocei o mais rápido possível e fui embora para casa. Liguei para a Secretaria: “Anaaa!”. Foi Ana quem me ligou, liguei aqui e falei com ela. Aí pronto, eu me abri, falei. Primeiro a ligação não estava muito boa, realmente, ali não foi mentira não, viu? (risos). A ligação não estava boa mesmo e eu também não queria conversar na vista de minha cunhada porque eu tenho certeza de que qualquer coisa que eu falasse ali ela ia interceder, eu não estaria aqui porque ela ia ficar falando, ia dar uma resposta bem (risos)... E a Fundação para mim, meu Deus do céu, é uma coisa que eu tenho paixão. Por tudo o que a Fundação fez por mim. Eu amo demais aqui essa coisa.
P/1 – A proposta, não é?
R – É.
P/1 – Que fez também pelos alunos, eu acho.
R – Ah, e fez muito!
P/1 – Vocês fizeram, não é?
R – Muito, muito mesmo. Muitos dos meus alunos, Ave Maria, são hoje... Como eles passam por mim e me falam: “Muito obrigada!” “Hoje eu sou um homem”.
Teresa – Você tinha falado, quando você chega, assim, nos espaços públicos que você encontra o reconhecimento deles, você falou.
R – É. Às vezes eu não sei quem é que está falando comigo, mas eu não corto, não. “Ah, tá, tudo bem”. Aí espero uma palavrinha, uma coisa aqui que me leve a isso. Nos engrandece muito, eu fico mais do que contente. Aí ele diz assim: “Ô pro, como você está bonita, está mais moderna do que eu”, não sei o quê. E eu ainda estou sem saber com quem é que eu estou falando (risos), até quando chega... Porque sempre chega uma palavra, qualquer coisa assim que a gente sabe com quem a gente está falando. Mesmo que não saiba o nome, mas sabe. E aí, pronto. Aí é aquele abraço (risos).
P/1 – A gente vai fechar mesmo. O que você achou de hoje vir aqui contar a sua história?
R – Eu achei muito bom, estava muito apreensiva. Primeiro eu fiz um relato, um discurso (risos), eu fiz uma palestra (risos), pensando que fosse isso. Aí liguei para Nélia: “Me dê dados”, não sei o quê. E fiz aquele catatau que está ali do lado (risos).
P/1 – E aí?
R – Aí chegou aqui, uma conversa informal. E é desse tipo de conversa que eu gosto, que aí é aquele negócio. Esqueci até que estava com o microfone, nem estava me lembrando (risos). Muito boa, muito bem conduzida, muito bom encontro, momento maravilhoso esse, muito bom!
P/1 – Que bom!
R – Muito bom mesmo.
P/1 – Para nós também, viu? Muito bom mesmo, é um privilégio a gente ouvir.
R – Me senti assim como se eu não tivesse sendo entrevistada. E isso foi bom para mim, porque se uma hora eu botasse na minha cabeça que era isso... E teve horas que eu realmente esqueci, justamente por isso.
P/1 – Olha só!
R – Porque eu estava sendo entrevistada. Vinha na cabeça assim, entrevista...
P/1 – Mas eu ainda acho que a maior parte foi o que você demonstrou aí, veio muita coisa boa, muitas memórias importantes. Para nós foi ótimo.
R – E para mim também.
P/1 – Obrigada, viu Walquiria? Parabéns pela história.
R – Obrigada a vocês.
FINAL DA ENTREVISTARecolher