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História
Por: Museu da Pessoa, 10 de junho de 2021

A menina que chegou lá, suas crenças e suas lutas

Esta história contém:

A menina que chegou lá, suas crenças e suas lutas

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O meu nome completo é Deise Cristina Donizete de Souza. Eu nasci em Piá, Minas Gerais, uma cidade que tinha 15 mil habitantes, no dia 4 de julho de 1988. A minha mãe se chama Maria Aparecida Donizete. Eu não tenho o sobrenome do meu pai, que é Adenilson Conceição Brás, mas como eu vim de uma família de pessoas negras, é historicamente muito comum essa estrutura da base familiar ser uma mulher preta. Os meus pais fizeram um casamento que não deu certo, pois ele era alcoólatra. E a minha mãe se separou dele quando eu era muito pequena, eu tinha uns quatro anos de idade - isso é muito comum, né? Então eu já cresci num lar em que a minha mãe era mãe e pai, era “pãe”. Ela sempre trabalhou como empregada doméstica, cozinheira e babá. Sempre trabalhou na informalidade e nunca teve um registro em CLT.

Eu tive uma infância muito, muito pobre, e muito difícil. Eu nasci num contexto que eu tinha tudo pra não dar certo. A minha mãe já catou algodão, plantou batata, colheu café. Eu era muito pequenininha, e a minha mãe tinha que me levar pra lavoura, não tinha com quem deixar. Ela me colocava num saco de estopa, e enquanto ela trabalhava na lavoura, eu comia café maduro, pra matar a fome. A gente chegou a não ter roupa, calçado, a não ter comida.

A memória mais afetiva, relacionada à cultura, que pra mim é sensacional, é a questão do cabelo, né? Eu me lembro de sentar no meio das pernas da minha mãe e ela trançar o meu cabelo. Então, era o momento ali, meu e da minha mãe, pois a trança é um símbolo de resistência na nossa família.

Mas aí minha mãe se casou de novo, com o meu padrasto, e nós viemos pra Rio Preto. Quando chegou aqui, o meu padrasto era registrado numa empresa, ele tinha salário e CLT, o que pra nós era novidade. E a minha mãe começou a trabalhar de doméstica aqui também. Então, tinha dois salários. Pra mim foi fantástico. Eu fui pra escola e logo mais eu já...

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Projeto Memórias do Comércio de São José do Rio Preto - 2020-2021

Entrevista de Deise Cristina Donizete de Souza

Entrevistada por Luís Paulo Domingues e Claudia Leonor Oliveira

São José do Rio Preto, 10 de junho de 2021

Entrevista MC_HV086

Transcrita por Selma Paiva

(00:28) P1- Deise, pra começar eu gostaria que você falasse o seu nome completo, a data de nascimento e o local que você nasceu.

R- Vamos lá. Bom, o meu nome completo é Deise Cristina Donizete de Souza. Eu tenho trinta e dois anos de idade. Eu nasci em Piá, Minas Gerais, uma cidade que tinha quinze mil habitantes, aproximadamente, no ano de 1988. No dia quatro de julho de 1988.

(00:58) P1- Muito bom. E qual é o nome do seu pai e da sua mãe?

R- A minha mãe se chama Maria Aparecida Donizete. Eu não tenho o sobrenome do meu pai. O nome do meu pai é Adenilson Conceição Brás. Como eu vim de uma família de pessoas negras e é, historicamente, muito comum, essa estrutura da base familiar da pessoa negra, ser uma mulher preta, né? Os meus pais foram um casamento que não deu certo. O meu pai é alcoólatra. E a minha mãe se separou dele quando eu era muito pequena, eu tinha uns quatro anos de idade, por conta da questão do alcoolismo, né? E isso é muito comum, né? É muito comum que pessoas negras tenham uma base familiar com mulheres muito fortes. Então, eu já cresci de um lar aonde a minha mãe era mãe e pai, era “pãe”.

(01:51) P1- Sim. Muito bom. Você chegou a conhecer os seus avós, pelo menos de parte de mãe?

R- Eu conheci os meus avós paternos. Eu tive pouquíssimo contato com eles, até os cinco anos de idade. Hoje ambos já são falecidos. Os meus avós maternos, a minha mãe ficou órfã com doze anos de idade. A história da minha mãe também daria um livro. Então, eu não conheci os meus avós maternos. Ela foi criada por tios. Então, eu não conheço.

(02:23) P1- Está certo. Deise, a sua mãe, qual é a profissão dela?

R- A minha mãe não se formou....

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Título: A menina que chegou lá, suas crenças e suas lutas

Data: 10 de junho de 2021

Local de produção: Brasil / São José Do Rio Preto

Autor: Museu da Pessoa

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