Entrevistada: Sueli Pereira Vissoto
Entrevista: FURNAS_HV017
P/1 Torigoe
P/2 Daniela
:10
P/1 - A primeira pergunta é sempre protocolar para deixar registrado aqui, me fala por favor qual é o seu nome completo, local e data de nascimento?
R - Olá, meu nome é Sueli Pereira Vissoto, eu nasci em Icém, no estado de São Paulo no dia 22 de julho de 1962.
0:33
P/1 - E me diz uma coisa, o seu Pai ou a sua mãe de repente te contaram como foi o seu nascimento? Ou como foi o período na sua gestação?
R - Olha, a minha mãe era muito jovem, ela se casou aos 16 anos, e antes dos 18 anos dela eu já havia nascido e foi de parto normal com parteira, eu nasci na casa dos meus pais e naquele momento não teve atendimento médico, mas ocorreu tudo bem graças a Deus.
1:23
P/1 - Sueli, o seu pai e sua mãe eles faziam o que nessa época? Qual é a origem deles?
R - O meu pai é de família italiana, os pais dele eu conheci que sãos meus avós, eles vieram morar em icém por conta de trabalho, e o meu pai era operador de máquinas de terraplanagem e ele trabalhava na construção de estradas, pontes e assim ele tinha uma orgulho da sua profissão, e no final de semana ele levava eu e meus irmão para ver as máquinas que ele trabalha, nós não víamos as máquinas funcionando porque era o momento dele de descanso, mas ele gostava muito de mostrar as máquinas pra gente, já a minha mãe era costureira, ela fazia esse trabalho de corte e costura e formava novas costureiras, isso tudo na minha casa.
2:32
P/1 - E me fala o nome completo da sua mãe e do seu pai por favor?
R - O nome da minha mãe é Onofra Pereira Vissoto, e hoje a minha mãe é de 1944, tem 77 anos e ela é artista plástica, ela abandonou a profissão de costureira e ela pinta muito bem, pinta quadro óleo sobre tela e já até ganhou um concurso que foi realizado no SESC na cidade São José do Rio Preto, então é gratificante ver a trajetória dela e o que ela previu sem ter cursado uma faculdade, é muito gratificante mesmo. O meu pai infelizmente nós sofremos um acidente de trânsito no trevo do acesso aqui da nossa cidade e ele faleceu em 1976 ele tinha só 39 anos, e então o início do meu trabalho foi por necessidade, eu comecei a trabalhar com 14 anos de idade e na época eu disse para a minha mãe que queria ajudar dentro de casa, porém ela me disse que não queria que eu trabalhasse com faxineira porque não tem muito futuro, e então ela pagou um curso de datilografia, e eu fui fazer esse curso e logo em seguida entrei em um escritório de contabilidade aqui na minha cidade e fiquei até os 17 anos, e ingressei em uma empresa maior depois.
4:28
P/1 - E você tem mais irmãos Sueli?
4:32
R - Tenho só um.
4:35
P/1 - Qual o nome dele? Ele é mais velho, mais novo que você?
R - Ele se chama Antonio Donizete Vissotto, ele é mais novo que eu há 1 ano e 6 meses.
4:49
P/1 - É pouca coisa então, vocês brincavam juntos? Faziam tudo juntos, como era na época?
R - Brincávamos sim, e eu tive que me adaptar a brincadeiras de meninos, então eu jogava bola, beth’s, soltava pipa, porque se nãotinha com quem eu brincar, eu tive que aprender as brincadeiras dele e até hoje nós temos uma boa convivência, uma boa amizade, ele estudou e fez vários cursos técnicos de mecânica, projetista, depois ele fez faculdade de economia e administração, hoje ele tem a própria empresa, e eu me lembro quando eu fiz o curso de operador de usina hidrelétrica e subestação, ele me ensinou muito a parte do desenho mecânico porque eu não tinha noção de como desenhar um peça, então ele faz parte da minha história.
5:59
P/1 - Vamos chegar lá ainda, eu queria perguntar outras coisas antes sobre a família do seu pai e família da sua mãe, você disse que a família do seu pai tem ascendência italiana, o que os seus avós por parte de mãe e pai faziam? E como eles se encontram em Icém, como a família se encontrou?
R - Olha, a minha avó sempre trabalhou em casa, ela teve vários filhos e sempre cuidava da casa e da criançada, e o meu avô era carpinteiro, e eu lembro que ele tinha um barracão que não deixava a gente entrar lá dentro sem ele estando presente, tinha muita ferramenta e trabalho iniciado, era o lugar que ele mantinha rigoroso o acesso e não deixava nós a entrar para bagunçar as coisas dele, mas ele era carpinteiro. O nome dele era João e da minha avó Soledade.
7:18
P/1 - E me conta uma coisa, como era Icém na época da sua infância Sueli, o que tinha para fazer, onde vocês gostavam de ir, aonde seus pais levavam vocês?
R - Olha, eu não vivi a minha infância toda aqui, quando eu tinha 7 anos de idade o meu pai foi transferido para outra cidade também no estado de São Paulo e a gente morou em Marília, Guaimbê e depois Paraibuna também no estado de São Paulo. Aí ele decidiu voltar para Icém ele não gostava de ficar longe da família, dos pais e dos irmãos e a gente voltou para cá, nós voltamos em 1975 e nessa época não tinha lugar de passear ou clube, era praça e acontecem muitos eventos regionais, como quermesse, igreja, mas não tinha muita opção de passeio e ele gostava de levar nós para pescar, eu tenho esse costume até hoje a cidade aqui tem rios lagos e represas, então era um ambiente bom para o lazer no campo, nós fazíamos piqueniques e passeava mais em local de campo, mas tinha um cinema que depois de um tempo fechou e nós íamos bastante. A minha cidade tem 8.000 mil habitantes, é uma cidade pequena bem interior e oferece uma qualidade de vida boa e nós moramos próximos de cidades maiores, e é uma cidade bem tranquila de se viver.
9:24
P/1 - Icém para quem não conhece conta para gente, é perto de que cidade do estado? Que região que fica? E você me fala o seguinte, eu imagino que vocês fazem e faziam muitas em outras cidades como você falou, próximas.
R - Isso, aqui nós estamos há 10km do estado de Minas Gerais e a cidade maior próxima, fica a 60 km é onde nós estudamos, fazemos compras e temos todo apoio de saúde, eu fiz faculdade nessa cidade e eu viajava diariamente e nós consideramos muito perto cerca de 50 minutos estamos lá, e é o nosso meio e recurso mais próximo São José do Rio Preto. Também no estado de São Paulo.
10:26
P/1 - E tinha alguma coisa antes de você fazer datilografia que você já sonhava em ser, e você já sonhava em fazer?
R - Olha, faz parte aqui da minha cidade uma vila residencial que naquela época da minha juventude só tinha moradores que trabalhava na usina hidrelétrica de marimbondo e essa vila é linda e tem um padrão de casas muito parecida como de outras usinas tem, tem um lago muito bonito, tem um que era frequentando só pelos empregados de Furnas e por isso não tem acesso. Eu lembro que uma vez eu fui pescar com o meu avô e nós fomos a pé, o meu pai já tinha falecido e ele não tinha carro, e nós passamos no meio daquela vila e eu fiquei deslumbrada com o que eu vi, as casas eram todas de laje, tinha muros e eu fiquei encantada com o que eu vi, eu disse para o meu avô que um dia iria morar ali e ele deu risada e me disse: que Deus te abençoe. E a gente passou pela vila e fomos pescar na represa. E quando nós estávamos pescando passou um ônibus azul de furnas cheio gente, e eu falei para ele que iria andar naquele ônibus, e ele me respondeu que eu iria sim, para não me contrariar e dar crédito na conversa de menina, e no fim tudo isso eu realizei, não tinha perspectiva não tinha nem está estudado ainda, mas foi a primeira vez que eu sonhei com um trabalho diferente que a minha família fazia aqui na minha cidade, o melhor que alguém poderia conseguir era trabalhar em FURNAS, e foi o que no final eu consegui.
13:09
P/1 - Me conta uma coisa então, como foi a sua entrada na escola antes de falar de faculdade? Como foi as primeiras escolas que você frequentou? Como você era na escola?
R - Eu sempre estudei em escola pública e não fiz o pré-escola não tive essa oportunidade, aos 6 anos de idade eu já ingressei no primeiro ano primário, e sempre estudando em escola pública nunca repeti nenhum ano mesmo mudando de escola com as transferências de trabalho do meu pai, eu consegui acompanhar e nunca perdi nenhuma ano. O colegial, que é antes da faculdade, eu fiz aqui em Icém eu nunca fui uma boa aluna em matemática tinha as minhas duvidas, mas em português eu era muito boa e me desenvolvi melhor e assim nunca tive trabalho exagerado para estudar, eu sempre fazia as tarefas com prazer e não era um sacrifício, eu gostava de estudar.
14:33
P/ - E tem alguma coisa que aconteceu na sua infância que te marcou alguma história que você considera marcante, claro que tem o acidente, mas para além disso? Tudo bem te perguntar isso?
R - Olha, tirando o acidente do meu pai porque nós estávamos juntos, sempre foi tudo tranquilo e não tem nada em especial, a minha mãe sempre cuidou muito da gente ela nunca deixava passar os nossos aniversários em branco mesmo que estive eu, ela e meu irmão, sempre tinha bolo ela mesmo fazia, e esses costumes eu trago para a vida, para minha casa que eu tenho família, esposo, filhos o pai dele já morou com a gente quando perdeu a mãe, então nós trazemos para a vida valorizar essas coisas pequenas e não só ficar valorizando coisas que não está no nosso alcance, mas eu tive momentos muito bom que compensa o lado triste, eu vou falar para você que quando eu lembro desse acidente o coração aperta, mas não é uma ferida aberta mais, não é uma coisa que me prejudica o que eu levo essa tristeza e já é uma ferida cicatrizada que eu faço questão de não saber o dia que foi, não comemoro essa data de jeito nenhum tem os dias que eu comemoro o aniversário do meu pai e não comemoro a morte, as coisas boas fez a gente seguir em frente e fez renascer, fez a gente continuar e seguir.
16:46
P/1 - E falando nisso me fala um pouco do seu primeiro emprego, foi nesse escritório de contabilidade?
R - O meu pai já tinha falecido e eu já tinha decidido ajudar no orçamento de casa até por necessidade, para você ter uma ideia o carro que nós tínhamos era um Volkswagen e foi vendido para o ferro velho, a casa que nos morávamos foi construída pelo meu pai ela estava inacabada não tinha nem forro somente o telhado, e a gente precisava de dinheiro para continuar sobrevivendo e o meu irmão foi trabalhar em uma padaria, eu tinha 14 anos e ele 12, ele entregava pão de madrugada e eu fui trabalhar nesse escritório. No dia que a minha foi conversar com o dono do escritório como eu era criança ainda e como aqui era cidade pequena então quando acontece uma tragédia desse nível todo mundo fica sabendo a repercussão foi muito grande e todo mundo sabia das nossas necessidades, então ela foi conversar com ele para eu trabalhar no escritório, dizendo que eu tinha curso de datilografia e não importava o quanto ele iria me pagar, mas queria que eu trabalhasse para aprender, e eu fui auxiliar de datilografia eu me sentia realizada nesta função eu era muito rápida e quase não errava, eu fui muito bem nessa função como auxiliar de contabilidade, ele me pegava menos que 1 salário mínimo tinha outras duas meninas jovens trabalhando e outro mocinho trabalhando, ele era office boy, e hoje ele é dono deste escritório, esse escritório ainda existe aqui a gente não era registrado não tinha registro na carteira de trabalho e nós limpava o prédio, cada dia um cuidava da limpeza e tinha as faxinas mais pesada que era realizada no sábado que o movimento era menos, o ambiente era muito bom nós éramos jovens e tudo era motivo de alegria, poderia até não ter um reconhecimento de salario a altura do que fazíamos, mas sempre era elogiado e isso também motivava a gente, nós fazíamos um trabalho de campo de cobranças e quase todas as empresas da cidade com bar, loja, restaurante era cliente deste escritório e então tinha os dias de fazer essas cobranças, era um trabalho tanto feito fora quanto dentro do escritório e tudo foi tranquilo para mim o aprendizado foi muito grande, e graças a esse escritório eu adquiri experiência principalmente na datilografia, porque a gente não tinha uma maquina datilografia em casa se você não trabalhasse, você não desenvolvia aquilo que aprendeu na escola. E foi meu alicerce, se eu cheguei aonde eu cheguei, foi graças a essa primeira pessoa que me deu oportunidade, mesmo eu sendo menina ainda.
20:42
P/1 - E durante você ficou 3 anos, isso?
R - Quase 3 anos, eu saí em dezembro porque havia passado em um concurso em FURNAS, foi um concurso pra uma vaga de auxiliar de escritório em uma empresa contratada, tinha umas 30 pessoas concorrendo e eu passei em primeiro lugar foram 3 dias de prova conhecimentos gerais, redação, matemática, português e teve prova de datilografia prova prática, e eu terminei em primeiro lugar foram 10 minutos assim e foi até quando eu conheci a máquina elétrica porque aqui aonde eu trabalhei não era elétrica e eu passei em primeiro lugar e tenho certeza que a datilografia contou muito porque eu terminei primeiro e todos ficamos quietos esperando os demais participantes terminarem.
21:53
P/1 - Me conta um pouquinho, eu sei que a datilografia das máquinas é uma coisa que depois de um tempo passou para teclado e tal, você se lembra de modelo de máquina ou diferença que você tinha de uma elétrica para uma que era só movida mecanicamente? Como era sua intimidade com essas máquinas? O que você se lembra?
R - Olha, a marca acho que era Herinton se não me falhe a memória, tinha uma máquina que era grande era uma calculadora enorme, e era usada para fazer cálculos contábeis e eu lembro que um dia eu me enrolei no fio da máquina de somar a calculadora e derrubei no chão, foi pecinhas para todos os lados e o dono do escritório não me cobrou. Sabe por quê? Sabe essa instalação de energia mal feita, tinha uma tomada no centro da sala e mandava fiação para todas as mesas e eu fiquei muito assustada com medo dele me mandar embora, mas nada disso aconteceu. Bom voltando para a máquina de datilografia o teste em FURNAS foi feito com as máquinas manuais e então eu não estranhei muito, mas quando eu comecei a trabalhar era uma máquina elétrica e assim a prova tinha um padrão com um papel bem fininho, tipo papel manteiga. E a gente digitava datilografava as 5 cópias para economizar, 5 cópias com carbono e veja bem se não errássemos um acento já perdia porque não tinha como apagar aquilo e meu gerente muito exigente, ele não gostava que usasse corretor para pintar o erro ele achava isso muito grosseiro e realmente era, o tipo de papel que a gente usava e o método de trabalho exigia 100% de eficiência e não podia errar, mas era muito rápido e muito diferente das máquinas que eu conheci. Agora o top da máquina elétrica foi quando eles compraram uma máquina e tinha uma esfera e nós trocava essa esfera e trocava a letra da máquina aquilo era lindo porque você podia escolher a letra embora tinha um padrão que usava em FURNAS não podia usar letra muito florida mas era bonito demais, então a gente trocava a esfera da máquina e mudava de letra. Eu lembro que eu datilografei um trabalho que meu gerente, já era do setor de segurança, segurança do trabalho eu só trabalhei nesse departamento em FURNAS, ele apresentou um trabalho de segurança e escavação subterrânea que exigia um tipo de letra e teve que comprar essa esfera porque não tinha, e eu datilografei o trabalho do jeito da datilografia foi publicado nos jornais, e foi o trabalho mais importante da datilografia que eu fiz, cheguei a levar o trabalho para datilografar em casa.
25:38
P/1 - Agora antes de você entrar em FURNAS Sueli, você tinha tempo para namorar? Ou você tinha esse interesse? Porque ficou estudando enquanto trabalhava no escritório, como foi isso aí?
R - Olha, eu comecei a namorar acho que no meu aniversário de 17 anos, e a minha mãe como sempre me fez uma surpresa que já era uma surpresa porque eu já sabia que iria ter, ela já sabia que eu tinha trocado correio elegante na quermesse com esse moço, e ela convidou ele para ir em casa, ai pronto já facilitou tudo. Então quando eu comecei a trabalhar eu já estava namorando e continuei, e depois ele passou em um concurso público, ele já era da polícia civil ele era carcereiro e aqui em Icém não tinha preso então ele trabalhava no cartório da delegacia, por isso que eu tenho esse RG bonito aí preso 214. E 214 foi ele que fez. E ele é quase 11 anos mais velho que eu, acho que ele tinha 26 pra 27 anos, ai ele foi fazer faculdade, porque ele trabalhava na roça e não tinha como fazer aula normal, e ele foi estudar depois de adulto, trabalhou em FURNAS como vigilante na obra de construção da usina, mas eu não o conhecia porque ele tinha 18 e eu tinha 8, e parece que um dia ele lá conversando com um gerente que depois de tantos anos foi o meu gerente também, ele foi pedir uma ajuda para melhorar o salário e o gerente perguntou se ele estava estudando e ele disse que não porque estava parado e pensando em fazer supletivo, aí esse gerente disse para ele estudar porque sem estudo ninguém pode fazer nada por ele, e foi nessa que ele pediu demissão e foi estudar. Então quando eu o conheci ele estava começando a faculdade de Direito e logo no ano seguinte eu entrei em FURNAS e já estava namorando ele, e demorou dois anos ele passou em um concurso público para delegado estadual e hoje eu continuo em FURNAS e desenvolvi minha carreira lá mesmo mas até então nem eu me interessei por outra pessoa, e olha que lá tinha muito moço a empresa era predominantemente masculina e eu só encontrava mulheres no ambulatório médico, e umas 3 secretarias pois o resto era tudo homem, e nem ele também com toda a progressão não se interessou por outra pessoa, somos casados e construímos umas casa, compra a casa de FURNAS aquela que eu tanto sonhava, deixei a minha mãe morando lá porque é uma casa de família e a gente se casou, temos 1 filhos, estamos aposentados, e eu só dou graças a Deus por tudo que estamos vivendo pela nossa trajetória e por tudo que a gente viveu.
29:36
P/1 - Enquanto você estava contando essa história eu estava me perguntando se ele era o seu marido atual, e onde vai chegar essa história (risos).
R - É sim.
29:49
P/1 - Eu vou retornar depois para você falar do seu casamento e do seu filho, mas pelos meus cálculos você entrou em FURNAS no ano 1980 aproximadamente?
R - 1979, esse foi o ano que eu entrei na empresa contratada como auxiliar de escritório, já nesse setor era uma divisão de segurança e higiene industrial e naquela época não havia concurso público e surgiu uma vaga em FURNAS para serviços administrativos, eu fiquei sabendo dessa vaga e fui conversar com o meu gerente e ele disse olha, nós temos interesse em você e vou ver se consigo. Então tinha um manual de organização que você tinha que preencher uma série de requisitos além de exigir experiências em outros trabalhos, e ele fez uma correspondência falando ao meu respeito, não sei te explicar como foi esse processo porque era tudo confidencial e no ano de 1981 eu passei a integrar o quadro de funcionários efetivos, ainda como auxiliar de escritório e o salário era muito melhor.
31:20
P/1 - E que você foi trabalhar em que gerência? Superintendência de FURNAS? Em que cidade ou escritório você foi trabalhar?
R - Olha, a cidade se chama Tropeira e fica em Minas Gerais, mas fica a 10km da minha casa em Icém, então é muito tranquilo fica 10 minutos até o local e eu viajei muito naquele ônibus azul que eu queria entrar dentro e vinha até almoçar em casa de tão próximo que era.
32:03
P/1 - E como foi o seu primeiro dia de trabalho em FURNAS? Você lembra o primeiro dia também que você entrou nesse ônibus azul, como é que foi?
R - Depois que eu recebi a informação foi por telefone, que eu havia passado no concurso interno eu pedi demissão do escritório que eu trabalhava e o dono me disse que já sabia, pensa bem eu fiz tudo calada com medo de não dar certo, mas não tinha vínculo empregatício eu não era nem registrada. E no dia seguinte cheguei em FURNAS para fazer a admissão e então eu fui preparar a documentação como carteira de trabalho RG eu já tinha mas os outros documentos não e na hora da admissão que eu estava no escritório da contratada a pessoa que estava preenchendo os papéis disse que eu não podia entrar aqui não porque eu não tinha 18 anos, e a que tinha ficado sem segundo lugar tinha pouca diferença de pontuação comigo, muito pouco e a concorrência estava muito acirrada aí foi me dando aquele desespero, eu disse a mim mesma que não podia ficar chorando aqui na frente, você imagina uma menina com 17 anos em FURNAS eu não conhecia ninguém ali, e aí eu disse que não podia mais voltar atrás e não podia perder esse emprego porque eu já havia saído do outro, e agora eu vou ficar desempregada? Aí eles pediram licença da sala e foram fazer uma reunião entre eles e depois de meia hora eles voltaram e uma pessoa me perguntou quando eu iria fazer 18 anos? Eu disse que em Julho e nós estávamos em Dezembro e deu tudo certo, como era um serviço administrativo, eles conseguiram efetivar, pois só faltavam 6 meses para os meus 18 anos. E deu tudo certo, o meu primeiro dia foi meio assim cheio de muitas expectativas, fiquei assustada com um pouco de medo, mas deu tudo certo, e fui bem recebida com muito carinho já havia uma outra moça que já tinha formação em Administração de empresas e me ajudou no início do trabalho, era divisão de segurança e tinha um gerente engenheiro de segurança muito capacitado, ele acompanhou a construção da usina de Marimbondo onde eu estava iniciando as atividades o grupo de profissionais eram todos técnicos de segurança e engenheiros, o quadro administrativo era somente duas pessoas, eu e essa outro moça formada que era secretária, tínhamos a zeladora que fazia os cafezinhos então era um quadro muito pequeno de funcionários, o jeito de trabalhar era diferente tinha que ser bem formal e todos os gerentes da divisão nós os chamavam de Doutor, tinha o chefe de departamento que estava situado aqui ele era da Diretoria de Operação também chamado de Doutor, e com o tempo a empresa foi mudando hoje não existe mais essa formalidade, mas naquele tempo sim até as roupas, eu lembro de quando nós não tinha uniformes e foi lançado aquelas calças de lycra eu comprei logo uma e o meu chefe disse que estava bonito mas não era a roupa adequada para o trabalho. Então era uma realidade que eu fui me adaptando aos poucos, e depois nós fomos deixando de lado, porque a empresa foi crescendo e se modernizando.
36:58
P/1 - Como eram os modos de etiquetas para mulher? Cabelo solto ou preso? Qual o tamanho de saia tinha essas coisas?
R - Olha, formalmente não tinha nada escrito mas esse nosso gerente era bizarro não podia usar roupa transparente de jeito nenhum, saia curta nem pensar e como nós não andava na área industrial podia usar um saltinho sim, roupa apertada também não é a meta era não chamar atenção até mesmo porque tinha pouquíssimas mulheres, na época tinha uns 300 funcionários na usina e não tinha nem 20 mulheres e eu entendo esse lado de não chamar atenção e ser o menos visto possível e não despertar muita atenção.
37:57
P/1 - E o escritório era perto de alguma Usina, perto de Marimbondo?
R - Era dentro da Usina de Marimbondo e tinha um prédio destinado para a segurança do trabalho.
38:13
P/1 - Então vocês trabalhavam muito próximos com o pessoal de operação e manutenção?
R - Muito próximo, nós viajávamos no mesmo ônibus e nesse setor tinha um auditório e nesse auditório tinha treinamentos e eu me lembro de uma época que os funcionários de Angola vieram receber um prêmio no Brasil e passaram por aqui, então tinha bastante movimento. Teve um encontro da CIPA com os presidentes da empresa inteira, o primeiro encontro foi feito aqui e teve bastante atividade.
38:58
P/1 - Sueli me conta como foi a primeira vez que você fez um tour pela usina toda quando viu tudo, como foi e o que você sentiu quando viu por dentro ou enfim, mais proximamente?
R - Olha, na época que eu era auxiliar de escritório não tinha um programa dos empregados da área conhecer outros setores, cada um ficava no seu local e até porque usinas e subestações, são áreas de risco, então não era qualquer pessoa que tinha acesso aos locais ou programa de visitação. Depois dentro do programa de qualidade até teve, mas eu já era técnica de segurança e tinha acesso a esses locais, enquanto eu era do administrativo eu não tinha acesso e só fui conhecer a área industrial e casa de forças subestação, quando eu passei a exercer a função de técnica de segurança do trabalho e isso só ocorreu em 1985, eu entrei em Dezembro em FURNAS e em Janeiro eu já estava estudando administração e foi isso que me proporcionou a estudar eu não tinha conta em banco, eu não tinha cartão de crédito e nem dinheiro para estudar e como eu entrei em Dezembro com um salário já razoável em Janeiro eu comecei a estudar, foi quando eu ingressei na faculdade e quando eu estava no último ano de faculdade surgiu a oportunidade de estudar Segurança do Trabalho em São José do Rio Preto porque a legislação obriga as empresas ter um técnico de segurança do trabalho e no Brasil tinha poucas cursos nessas áreas e os técnicos que existiam em FURNAS todos os formados no Rio de Janeiro porque não tinha em outros locais. E em 1982 saiu esse curso pelo SENAC e eu fui procurar meu gerente porque eu tinha interesse e queria saber se a empresa podia me ajudar porque eu já sabia que teve outras pessoas com essa formação que a empresa ajudou, ai ele me disse, olha você é muito eficiente uma pessoa muito trabalhadora mas infelizmente não tem mulher nessa profissão em FURNAS e eu acredito que você fazendo o curso pode não dar certo para essa área em específico. E eu já tinha uma admiração tão grande por esse trabalho de cuidar das pessoas e poder cuidar dos trabalhadores, eu prestava muito apoio aos técnicos de segurança ajudando ele a desenvolverem material didático. Eu ajudava eles a preparar as palestras e pregamentos, fazia estáticas de acidente porque a gente tinha usinas em construções como Serra Negra, Itumbiara, usina de Corumbá e esses dados de acidente eram encaminhados todos para a nossa divisão e eu ajudava na elaboração dos relatórios, relatórios de acidente, registro e inspeção de segurança, relatórios com recomendações de melhorias nos locais de trabalho e isso aos poucos foi me fascinando, e eu decidi fazer o curso do meu próprio bolso e fiz, foi muito difícil pois tinha aula todos os dias e aos finais de semana e foi em conjunto com a Fundacentro, e no final do curso eu atualizei meu currículo também terminando a faculdade, e eu voltei a falar com esse gerente, olha Doutor o senhor havia me dito que as chances poderiam ser mínimas por eu ser mulher mas eu não tenho pretensão de me casar agora e nem de ter filhos, eu quero a chance de tentar e se não der certo eu vou a primeira a falar, mas eu gostaria muito de ingressar nessa área e ele pediu para eu deixar o meu currículo que iria ver o que poderia fazer e ele fez, só que eu não sabia e ele fez tudo sem eu saber. Eu fui chamada para ir até o Rio de Janeiro com avião da empresa. Um avião bandeirantes pequeno, e eu nunca tinha andado de avião antes na minha vida para fazer uma entrevista com o gerente de departamento sobre esse assunto da mudança de cargo. E em 1985 eu fui promovida para técnica de segurança, e eu fui a primeira mulher a executar essa função em FURNAS, e eu tive comigo o desafio e responsabilidade muito grande.
44:55
P/1 - Uma responsabilidade que pela função eu acredito, mas também a hipótese de ser a primeira mulher a ocupar esse cargo, é isso?
R - Também, eu queria desenvolver o trabalho com precisão um trabalho que não fosse diferente em termo de qualidade ou diferente do trabalho que os homens desenvolviam, e eu iria provar que dava certo e que mais pessoas poderiam se interessar, eu queria abrir a portas para mais mulheres, porque além do trabalho ser bastante técnico tinha esse lado de amparar as pessoas. Eu me lembro que participei de uma comissão de análise de acidentes graves, fatais e você acaba desenvolvendo um trabalho meio que social de conversar com as famílias, de ter que conversar com testemunhas e graças a Deus esse paradigma foi quebrado, e hoje não existe mais essa barreira.
46:21
P/1 - Me conta mais como foi essa entrevista no Rio de Janeiro, você foi no prédio central que fica na real grandeza conversar com o gerente?
R - Nós fomos em duas pessoas, foi eu e um moço chamado Milton ele também tinha essa ambição de ser promovido ele também era do administrativo e tinha a formação em segurança, e nós se encontramos no Rio no hotel para a mesma entrevista, e eu muito ansiosa com o Rio de Janeiro pois era um mundo totalmente desconhecido e a sede da empresa muito formal tanto no tratamento quando nas roupas o gerente de departamento muito formal de terno, e eu fiquei bem ansiosa e preocupada mas ele me disse, você é formada em administração e concluiu o curso técnico de segurança e tem chance de crescer na empresa tanto na área administrativa quanto na área de segurança do trabalho. Qual que você prefere? Na hora eu não pensei em dinheiro eu estava muito fascinada com as atividades que os técnicos de segurança desenvolviam, e eu disse para ele que queria a área técnica e tinha uma outra barreira porque eu estava na área administrativa e fui para uma área técnica então eu sabia que um dos meus desafios era estudar mais porque somente com curso profissionalizante não era suficiente e isso não iria me abrir as portas para desenvolver meu trabalho na empresa. Voltando para entrevista do Rio, eu falei bem pouco porque estava bem inibida porém eu fui bem objetiva no que eu queria e pretendia para mim e ele confiou, e com o passar do tempo mais uma vez o meu gerente da divisão me ajudou com esses trabalhos que eu fazia na área técnica, e ele adicionou como experiência mesmo me dando pouca esperança para fazer o processo. Ele foi crucial para a minha promoção na área como Técnica de Segurança do Trabalho.
49:24
P/1 - Me conta o seguinte, quem que te marcou no período administrativo na usina de marimbondo? Você teria alguns colegas que gostaria de lembrar, alguma história que você gostasse de lembrar nesse período?
R - Assim, na parte administrativa nós seguíamos muitos manuais, formato de carta, circular, nós usávamos faz para transmitir as coisas então era tudo muito engessado e a gente seguia as normas da empresa, não dava para criar muita coisa e até por isso eu preferia a outra área, mas tinha pessoas muito admiráveis eu me lembro do Marcio Balducci, ele trabalhava na área de treinamento aqui da usina de marimbondo e esse centro de treinamento recebia pessoas de toda a empresa e formava deste eletricista até profissionais de manutenção então vivia sempre cheio de muita gente e aluno, e eu me lembro a forma que ele executava as atividades eu achava ele muito capacitado, tem muita gente na verdade, tem pessoas muito valiosa e inspiradora que fazia do seu trabalho prioridade e desenvolvia com amor. Eu acho que quando você não tem um trabalho administrativo o resto não funciona, ele é a base de tudo e quando aquelas pessoas estão naquele setor dependem dessa pessoa administrativa que vai dar todo suporte para os demais para realizarem suas tarefas e era um período que a pessoa chegava e falava, vou viajar, e era o administrativo que fazia tudo desde requisição de pagamento até reserva de hotel, reserva de refeição, veículo, passagem era o administrativo que fazia tudo, então era a pessoa chave ali dentro. Tinha o setor de contabilidade pessoal, compras e era todo mundo muito unido, era uma equipe muito junta, almoxarifado, transporte.
52:25
P/1 - Uma pergunta meio ingrata para você falar tantos nomes, pois sempre pode esquecer ou vai ficar outras pessoas de fora.
R - É, tem umas pessoas que eu me lembro que ficou na minha memória, são duas pessoas um se chama Nivaldo e outro se chama Carlos Alberto Storneollo, e esses dois trabalhavam em um outro setor diferente do meu e foram eles que aplicaram a prova para o curso de auxiliar de escritório e eles foram os dois primeiros que eu conheci dentro da empresa mas assim é um setor que eu te falei, chave, é um setor que ajuda o resto a fluir.
53:20
P/1 - Uma coisa que eu fiquei curioso em saber é como foi pegar aquele ônibus azul? Quando você entrou você se lembrou de quando havia olhado para ele quando você tinha 15 anos?
R - Foi legal porque alguém já havia avisado o motorista e eu não precisei pedir, eu não morava nessa vila ainda e só fui ter direito a casa 1985 quando eu passei para a função de técnica de segurança, só fui ter direito quando atingi esse nível de função. Eu vi um ponto de ônibus próximo a minha casa e fui esperar o transporte chegando lá o pessoal no ponto comentando é funcionária nova? Comentei que havia entrado na divisão de segurança e tal e na hora que eu entrei no ônibus ainda pensei em entrar com o pé direito que não era pra dar nada errado, e só tinha homem dentro onibus e eu não sabia se tinha lugar marcado ou se poderia sentar em qualquer lugar. Esse dia foi bem interessante não tem como esquecer, o motorista do ônibus falava quando não tem mulher no ônibus é uma bagunça e ele fala que dá graças a Deus quando encontra uma mulher no ponto porque vai todo mundo comportado, o pessoal fica mais educadinho quando tem uma presença feminina.
55:43
P/1 - E como foi o técnico de segurança, foi no SENAC, SENAI? Como foi fazer esse curso?
R - Olha, foi um curso muito bom o sistema todo ele foi um curso muito rápido pela necessidade de contratação de técnicos de segurança porque a legislação exigia em função dos riscos e dos números de empregados de cada empresa, a empresa tinha que ter no seu quadro de funcionários o profissional de segurança e naquela época o Brasil estava carente de profissionais formado, então o SENAC fez um convênio com a Fundacentro e ministraram esse curso, era um curso noturno com aulas aos finais de semana com visitas já em algumas empresas e foi um curso que naquela época foi bem montado e muito bem feito poucas mulheres tinha o interesse no curso e eu acredito que seja pelo não conhecimento da área, e quando eu entrei em FURNAS e me colocaram na divisão de segurança, eu achei que ia trabalhar com segurança patrimonial, eu não imaginava que existia segurança do trabalhador nem mesmo não tinha a mínima ideia, e era uma profissão pouca difundida, as pessoas sabiam que trabalha era essencial, mas voltar vivo para casa era uma obrigação legal da empresa, principalmente do trabalhador mas era um papel principal da empresa. Eu tinha professores que eu acho que eles nunca haviam dado aulas, um era capitão do bombeiro e deu a aula muito bem, mas eu sabia que ele era capitão e não professor, então eu não sabia se naquela época tinha professores formados para aquelas atividades, só foi feito o recrutamento dependendo da experiência de cada um e foram admitidos com instrutor nesse treinamento. Eu lembro até hoje o dia que peguei minha carteira e não era Técnico de Segurança e sim Supervisor de Segurança, com o registro no ministério do trabalho que eu posso desenvolver essa função em qualquer empresa do Brasil, e eu fiquei assim muito honrada quando eu peguei o certificado de faculdade impressionado e era uma coisa que queria muito, foi muito gratificante mesmo.
58:54
P/1 - E como era o seu dia a dia quando você estava fazendo faculdade e depois fazendo curso, trabalhava ao mesmo tempo, como que era isso?
R - Terrível, e eu até falo assim que se eu não fosse tão jovem eu não teria conseguido, mas pensa bem, eu saia da empresa às 17h30 e pegava o ônibus aqui na praça de Icém 17h40, eu não tomava banho e nem jantava eu viajava de ônibus quase 1h porque as aulas começavam 19h até as 23h e no último ano foi muito complicado porque foi bem quando eu fiz o curso de segurança do trabalho, e também grande parte de noite, tinha vez eu assinava a lista de presença e andava a pé até o SENAC e era muito longe e naquele ano fiquei de exame em algumas matérias da faculdade foi o único ano que eu não consegui fechar todas as minhas notas, mas aí eu fiz o exame para a segunda chamada e deu tudo certo, mas foi bem cansativo também porque sempre tinha o trabalho de visitas para escritas de relatórios, e então eu dormia muito pouco porque a volta para casa eu nunca chegava antes da 00h00 noite, esses ônibus de viagens eram cedidos pela prefeitura de São José do Rio Preto então eu não tinha custos com transportes somente com a alimentação e faculdade, e depois o curso do Senac também. Foi uma fase de resistência, sabe? Hoje eu acho que não teria condições físicas para fazer isso, acho que não.
1:01:14
P/1 - E nessa época o seu namorado ele fazia direito, ele já era delegado?
R - Olha, ele terminou a faculdade 1 ano antes de mim e no último ano eu fiquei sozinha, ele foi estudar para fazer o concurso, ele estudou quase 3 anos ele devora livros, nós não saiamos para passear, não fazia nada era o tempo todo estudando, e é isso quem não nasce rico tem que correr atrás estudando porque nada não vem de graça não. E o último ano foi o mais difícil, mas depois foi tudo tranquilo, fomos só colhendo e valeu muito a pena.
1:02:03
P/1 - Então quando você trocou a sua função em FURNAS você foi trabalhar em Marimbondo, ou em outra usina?
R - Eu fiquei em Maribondo, mas viajávamos muito a serviço, todas as usinas do Rio Grande era a gente que atendia e eu tanto atuava nas inspeções de segurança, levantamento de segurança, desde iluminação até temperatura.
1:03:11
P/1 - E o que você inspecionava e como era o serviço de um profissional de segurança naquela época?
R - Todas as usinas de Rio Grande era dessa área de atuação aqui, a usina de Itumbiara não é desse mesmo rio, Corumbá, Serra da Mesa, os empreendimentos em brasília então tinha várias subestações também, Araraquara então nós viajamos muito mas o polo era aqui, viajava para prestar serviço de depois voltar para cá, eu só fui ser transferida de setor quando o gerente daqui se aposentou eu não lembro a data mas ele se aposentou o gerente que substituiu era de Campinas, aí ele levou a divisão para Campina e eu fui de mudança e foi um ano muito difícil porque eu fui morar sozinha, e tinha aquele vínculo porque eu nunca havia saído da casa da minha mãe, então foi muito difícil o meu namorado na época pediu para que eu deixasse o trabalho e a gente se casasse porque ele já era delegado, e que a gente fosse para onde ele estava trabalhando, ele trabalhou em mais 4 cidades diferentes também e todas eram no estado de São Paulo. E passou 1 ano e houve uma mudança da empresa que conseguiu tirar a divisão desse lugar e voltou para a usina de FURNAS, a usina é o lugar ideal para ter uma divisão de segurança e até hoje está lá, eu voltei para marimbondo o outro técnico que estava aqui já estava se aposentando e ele tinha preferência porque era casado e na época era solteira e o justo era eu sair para ele ficar porque só tinha vaga para um aqui, e logo que eu voltei ele se aposentou e eu permaneci aqui. Você queria saber das roupas? Quando eu passei a ter uma rotina técnica era botina o dia inteiro, calça jeans com camisa de manga comprida, quando tinha treinamento, a gente podia ir com uma roupa mais esporte, sem muita coisa seria, já participou de congressos representando a empresa, seminários e sendo assim você usa uma roupa melhor, mas no dia a dia era roupa de fábrica e botina sempre. E era um trabalho que exigia sempre muito aprendizado porque ao mesmo tempo no mesmo dia que eu estava ali dando uma orientação para uma pessoa, eu estava ali falando da importância do óculos do protetor auditivo, de não tirar a contenção da máquina porque eles tinham o hábito de fazer isso, e eu estava dentro da sala do gerente falando de segurança com ele, então você tem contato com todos os níveis hierárquicos independente da profissão e às vezes no mesmo tempo, e eu fiz vários cursos dentro da empresa que a própria empresa nos proporcionou, fiz curso em Jacarepaguá de Construção de Subestação, soldagem, pintura, manutenção de baterias, o curso maior que eu fiz em Furnas foi o curso básico de Operador de Subestação, onde eu aprendi o que é cada equipamento dentro da subestação, para que serve, como funciona, quais os riscos, quais as medidas de controle aplicáveis e basicamente ele abrangia alta tensão, eu fiz esse curso e fiquei em segundo lugar e foi um curso que o meu departamento proporcionou para a equipe de segurança, nós fizemos parte teórica parte prática mas não visando passar para o setor de operação era para adquirirmos conhecimento e conversar no mesmo nível de informação que a gente tinha que tratar com os técnicos de manutenção técnicos de operação de usina e subestação, e também analisar mais a fundo quando acontece qualquer acidente, e saber o que tinha acontecido dentro dessas áreas de riscos, mas aí depois nós tivemos uma revisão da norma regulamentadora 10 do ministério do trabalho que trata da segurança de serviços de instalações elétricas, e eu disse gente que não sei nada e sabia muito pouco de baixa tensão, eu fiz um curso maravilhoso em FURNAS mas foi de alta tensão, e de baixa tensão eu não sei muita coisa não, eu vou ter que aprender, e fui fazer o curso de eletrotécnica por dois anos e meio por minha conta também de noite, e só de você saber instalar um alarme, instalar uma lâmpada é chique demais, eu não quis trabalhar na área e nem exerci a profissão, mas eu percebi que as pessoas passaram até a me respeitar mais um pouquinho, e eu sei que o ideal era eu ter estudado engenharia, mas aqui na faculdade da região não tinha o curso no período da noite então era fora de cogitação e eu fui estudar o que dava para não ficar parada e eu fiz o curso de eletrotécnica e acabou abrindo muitas portas. Depois eu fui fazer uma pós-graduação mas eu queria dentro dessa área de segurança e voltei para o Senac e fiz o curso de Pós graduação em Gestão Integrada de segurança, Saúde, Meio ambiente, Responsabilidade social e Qualidade de vida, e esse curso foi maravilhoso ele tanto me dá a possibilidade de assessorar uma empresa quando ela precisa de certificações dentro de qualquer área, pode ser uma ISO 9001 ISO 18.000, então eu tenho qualificação para esse assessoramento como também me deu qualificação para ser auditora e eu posso fazer auditagem com as empresas já certificadas e que querem manter a sua certificação, então foi um curso que me abriu portas e muita coisa que tive condição de aplicar na empresa embora nós não tivesse certificação mas eu trabalhei e foi de grande valia, mas o que eu aprendi é que quando adquirimos mais conhecimento, aumenta a nossa responsabilidade, eu já não virava a costa para determinado assunto que às vezes ali naquela hora eu não conseguia entender porque eu não entendia do assunto, então a responsabilidade de você bater o olho e saber que você pode contribuir para aquilo ali melhorar, não deixa a gente virar as costas e ir dormir sem tomar providência nenhuma, e é isso.
1:11:16
P/1 - Vou voltar um pouco para perguntar algumas especificidades além do que você já falou, você começou pelo que eu entendo supervisionando a segurança do trabalho dentro de projetos já feitos, usina no chão industrial, você chegou a trabalhar em construções de empreendimentos? Você chegou a assessorar esses empreendimentos também?
R - Cheguei, eu fui a Serra da Mesa umas três vezes durante a obra de construção e é um outro mundo, é diferente de uma área de manutenção, operação e acompanhei mais foi ampliação de subestação acompanhei aqui dentro mesmo na estação de Marimbondo também na subestação de Araraquara e na subestação de Porto Colômbia e foram essas três que me marcou bastante.
1:12:43
P/1 - Você acha que tem diferença substantiva em trabalhar na operação e trabalhar na construção?
R - Eu acho que a empresa mudou muito, e hoje o trabalho é urgente e isso não existe mais porque o trabalho precisa ser feito a qualquer custo não importa como, isso acabou e fez melhorar a própria conscientização do trabalhador e ele sabe o que tem de mais valioso que é sua vida e não vai expor ela a favor de salários e a própria empresa mudou, hoje temos planejamento de trabalho, existe dentro das novas normas a NR10 análise preliminar de riscos perfeita antes de começar o trabalho pela equipe toda independente do técnico de segurança estar ou não eles fazem, e se técnico puder acompanhar é melhor ainda, mas isso já virou um hábito até por questões de lei e foi acatado, então isso é feito antes por exemplo, FURNAS usa ferramentas elétricas termo horários duplo e vou precisar de 12 cabos amanhã para manutenção, mas só temos 6 e eu posso usar um tecnicamente a empresa não permite, mas alguém vai fazer? Já nem acontece o desligamento porque no planejamento você já fica sabendo se tem o equipamento ou não, já em uma obra eu cheguei a ver quando eu era administrativa, é absurdo e vergonhoso, mas eu cheguei a ver previsão de mortes em empreendimentos e construções, então existia um cálculo uma forma padrão de calcular o números de mortes em função das horas homens trabalhadas o número de empregados, o tempo que iria durar aquela construção, então tinha um cálculo matemático que previa o números de mortes e eu nunca tinha visto algo parecido com aquilo e nunca entendi, por mais que meu gerente me explicasse eu nunca entendi, se a previsão de morte foi 5 e só morreu 3 está bom, sabe? Pelo amor de Deus, o que era aquilo, e graças a Deus eu saí da empresa com a meta de acidente zero, tanto para acidente leve quanto fatal a meta sempre foi acidente zero.
1:15:40
P/1 - E quando você começou nesse trabalho, como era a cultura que o trabalho tinha em relação a isso e como isso foi mudando ao longo do tempo, e que sinais poderiam ser vistos dessa mudança e o que não houve de repente?
R - Olha, houve uma mudança na forma do profissional de segurança trabalhar, eu no meu ponto de vista e não estou falando pelos trabalhadores, mas é o meu ponto de vista e eu tive muita ajuda até de pessoas da área e me deram dicas de como fazer uma palestra, uma inspeção e o serviço de equipe de trabalho que já era no quadro efetivo na qual eu agradeço muito mesmo. Teve uma época que nós saiamos com uma máquina de fotografia em campo para fotografar coisas erradas, aí ficamos uma semana para fazer o bendito relatório e só com o gerente da área para que na hora dele ver aquele relatório com informações dos funcionários dele sem capacete, sem óculos e então a equipe era chamada para um feedback e isso provocava um desconforto para o profissional de segurança pois acontecia um distanciamento por parte dos outros colaboradores da empresa, eles queriam ver qualquer um menos a gente no campo, e por outro lado quando caracterizado uma falha gerencial também ficava um pouco deselegante e com o tempo com a mudança a forma de trabalhar mudou, não que o profissional de segurança virou omisso mas ele passou a fazer parte da equipe e estava presente no planejamento da ação falando o que era preciso e o que não era, quando tinha que explicar uma falha para a equipe ele juntava todo mundo e colocava dentro de uma sala e passava as informações necessárias, ele chegava no local e antes de fazer o relatório apontando as falhas ele chamava o supervisor de canto, olha isso não está bom mas pode melhor assim, e a partir disso ele começou a integrar a equipe de trabalho, e ele não era um fiscal de empresa e com o tempo foi se criando uma proximidade e ficou bem mais fácil de ter um resultado positivo para todo mundo. Algumas empresas hoje no Brasil ainda considera a segurança como uma interferência no processo produtivo, olha só veio aqui para atrapalhar e cada dia mais eu via que a segurança estava sendo considerada parte do negócio da empresa, um exemplo no passado setores procuravam fazer trabalhos escondidos do técnico de segurança, fulano está tá viajando então hoje nós vamos fazer essa manutenção, e era assim o pessoa olhava o carro da segurança chegando o pessoal já sumiu já parava de trabalhar, eu tinha uma sala do lado da gerente de manutenção, dentro da usina dentro da casa de controle e tudo que aconteceu ali dentro estava envolvido tudo. Eu tinha acesso ao SIRO um sistema informatizado que todos os dias eu abria aquele programa era de uso exclusivo da divisão de segurança, tinha previsão de um acidente, trabalhos aprovados a serem realizados, quais as atividades estão sendo realizadas naquele dia pelo setor de manutenção operação, isso sim é uma mudança de postura tão grande né porque realmente eles estavam entendendo, a empresa entendeu que a gente estava fazendo parte do processo.
1:21:38
P/1 - Você criou um jeito próprio de conversar com os trabalhadores de Furnas? Você sofreu muita resistência em dar conselhos ou direções para essas pessoas, como é que era a experiência em geral para você ?
R - Eu te falar que tudo foi flores é mentira, é lógico que a gente teve algumas dificuldades mas eu me lembro que eu fiz uma inspeção na área de compartilhamento de instalações isso foi terrível porque o empreendimento estava bem na área que existia uma corresponsabilidade porque era a área de uma empresa, mas é outra empresa com outros empregados às vezes envolve a gente ou não, mas era uma situação difícil e eu fiz a inspeção em uma área e tinha muitas irregularidades, existia um fiscal de Furnas lá dentro e na véspera de carnaval essa pessoa não estava não teve jeito de conversar com ela e eu não poderia ir embora sem fazer nada porque o pessoal iria trabalhar , e eu fiz o bendito relatório e mandei. Embora a gente tivesse conversado em situações anteriores não teve como resolver porque não dependia dele e sim da gerência, então assim eu não tive desavenças sérias com ninguém e nem ficar magoado para o resto da vida, porém a função exige um jeito de tratar não omisso faça chuva ou faça sol.
1:26:21
P/1 - E você acha que nesses embate tinha uma necessidade de falar de uma forma para alguns trabalhadores de falar de outra forma com uns outros trabalhadores ?
R - Tem sim, a linguagem precisa ser muito acessível para cada pessoa, as vezes não basta dizer para a pessoa que ela está sujeita ao acidente, e ela diz que trabalhou dez anos assim e nunca aconteceu nada e está acostumada, então você vai gastar um tempo maior para convencê-lo e caso a gente não consiga pela conscientização infelizmente tem que ser pela hierarquia, chamar o supervisor da pessoa e avisar porque a responsabilidade pelas pessoas não é do técnico de segurança do trabalho e sim da supervisão então quando você tem um supervisor conscientizado ciente da responsabilidade civil e criminal ele cuida da equipe dele, não vai precisar chegar o técnico de segurança e falar que precisa colocar o cinto de segurança, a função do supervisor não é desenvolver medidas de segurança e sim fazer o papel de distribuir as tarefas e informações juntamente com os equipamentos e fiscalizar, então quando você pega um supervisor trabalhando é porque está errado e vai acontecer coisa que ele não vai conseguir enxergar o supervisor é uma peça chave ele é o nosso braço direito e vai cuidar de todo mundo, até porque cuidar de mais de 300 funcionários um técnico e segurança você infelizmente não vai conseguir ver, a hora que você vira as costas vai ter um ali que pode está correndo risco, mas a forma de falar é muito importante sim e nós não podemos ficar criando inimigos porque as pessoas ficam se distanciando da gente, você tem que usar o terno não omisso mas falar o que tem que falar por mais que seja difícil, mas você precisa chegar na pessoa, agora o problema maior era com gerência eu tive um colega de segurança que o gerente assino a lista de presença no treinamento e saiu, ele simplesmente cortou o nome da pessoa e não deu o certificado e não teve atrito porque ele foi muito honesto ele estava certo, e depois esse gerente veio fazer o treinamento e por mais que você não queria ferir, tem uma hora que não tem jeito.
1:29:54
P/1 - E você teve a impressão que durante esse trabalho você ia ganhando aos poucos a confiança dos trabalhadores, você foi conquistando isso por estar nessa posição?
R - A sim, era muito comum principalmente com funcionários terceirizados que hoje são a maioria, ele liga para nós, tem um telefone que fica acessível para todo mundo e avisava que estava fazendo atividade tal que está faltando isso, e nós vamos até o local para fazer a inspeção e você consegue ajudar sem comprometer quem falou, e isso era muito comum. A nossa CIPAT tinha um disque CIPAT, e qualquer empregado pode ligar e registrar sua denúncia porque fica tudo no anonimato, então chegar a esse ponto de um funcionário ligar para um técnico de segurança e falar das não conformidades, isso é confiança e estreitamento de laço porque a gente vai fazer o que precisa ser feito sem comprometer ninguém.
1:31:36
P/1 - E você acha que tinha alguma forma de constrangimento com você por ser mulher e trabalhar em um ambiente muito masculino, e estar nessa posição de supervisão? Você chegou a sentir isso ou não ao longo dos anos?
R - Acredito que não, a primeira emergência que eu acompanhei foi em uma linha de transmissão e só tinha um banheiro para as mulheres e para os homens, e eu chamei um colega de trabalho para vigiar a porta enquanto eu usava o banheiro e foi tudo muito tranquilo, até pelo contrário nós temos muita ajuda. Eu dei treinamento prático de formação de brigadistas, e esses treinamentos eram na usina de Furnas e eu fiz cinco treinamentos como aluna. Depois fiz uma avaliação com o corpo de bombeiros e fui aprovada como instrutora e só parei de dar treinamento quando eu fiquei grávida e não voltei mais porque era um ambiente de muita fumaça muito calor, o meu gerente naquela época falava que queria uma instrutora mulher na equipe porque tem brigadista que fica com medo de entrar em uma área confinada para apagar um incêndio e tinha gente que mesmo colocando o pé na porta ele não empurrava, aí quando eles olhavam uma mulher fazendo para eles eram o fim do mundo, se ela faz eu também faço então olha só a mentalidade da época, então graças a Deus eu nunca me senti discriminada pelo o que eu fiz, eu subia em torre e energia para fazer treinamento de resgate e eu não era tão forte, confesso que meu deu tremedeira mas eu fiz e ocorreu tudo bem, eu queria conhecer porque se acompanhasse uma manutenção eu precisaria saber a técnica de resgatar alguém, eu posso não precisar subir lá mas preciso orientar.
1:35:01
P/1 - E como é para você atuar em situações de emergências, cai torre e essas coisas, como que é para você fazer isso?
R - Eu tive algumas experiências, mas sempre tem mais profissionais de segurança nas equipes, o nosso trabalho teve uma grande mudança quando nós tivemos que virar equipes multidisciplinares, juntou departamento de saúde com segurança, ambos eram separados e também juntou o departamento de serviço social com o de educador físico e hoje está tudo em um serviço integrado no mesmo departamento e subordinado a uma mesma gerência e isso eu considero um avanço dentro da nossa empresa e dentro do nosso trabalho mas claro que muita coisa teve que ser adaptada, a gente estabeleceu novas metas formas de trabalhar um exemplo é a emergência, hoje tem psicólogo, assistência social, educador físico, um médico ou enfermeiro o técnico de segurança e o engenheiro, então nós temos uma equipe fortalecida e qualquer problema que surgir tem um grupo pronto pra te ajudar, cada um com sua especialidade, então nós temos a solução de alguns problemas ali mesmo no posto de trabalho e isso foi com o passar do tempo. Eu fui indicada para o grupo de análise de planejamento e foi aí que a minha faculdade de administração contou muito, e cada divisão indicou sua pessoa, eu fui a da minha, e a gente trabalhava direto no departamento de planejamento estratégico, antes de sair da empresa eu passei para a coordenação da equipe de segurança do Polo Minas, e eu fui em uma emergência na linha de transmissão próximo a Poços de Caldas, foi a última emergência que eu participei e como coordenadora de equipe e foi uma experiência que eu nunca tinha passado você coordenar uma equipe inteira, nós só tivemos pequenos incidentes não graves e que dependeu da equipe toda para não se agravar, o que era interessante é que no final do dia todo mundo saia e se reunia para discutir o que tinha acontecido naquele dia, até mesmo porque não era somente uma torre e eles distribuíram quem iria ficar em cada lugar e no final do dia eu via essa informações, e no dia seguinte nós definimos as estratégias e esse trabalho eu tive que fazer um relatório para a coordenadora e apresentei o relatório para equipes e gerências envolvidas no rio de janeiro no escritório central, foi um trabalho muito grande que eu fiz antes de sair da empresa e 1 ano depois eu saí.
1:39:06
P/1 - Como é estar em uma Emergência? Já falaram para mim que parece uma operação de guerra e que vocês ficam bastante tempo, como é que é essa situação que eu imagino que seja tanto crítica com um monte de coisa acontecendo ao mesmo tempo? Tem perigos? Você pode contar para mim como é que foi?
R - Olha tem muito risco desde o trajeto, às vezes você tem uma estrada ruim também às vezes nem tem estrada para chegar, normalmente quando cai torre é porque o tempo está ruim e então tem chuva tem vento frio lama então os riscos são muito adversos, mas também já conseguimos fazer o planejamento então se caiu uma torre em algum lugar eu já tenho quais hospitais que tem ali perto e pode prestar socorro quais os recursos que cada hospital tem, se eu precisar comprar o que seja eu já tenho um mapa me dizendo onde eu encontro determinado recurso eu já tenho onde comprar barraca, alugar sanitário, onde eu vou comprar refeição, então nós já temos um planejamento até para emergência e eu só preciso saber onde foi porque sendo assim eu já tenho deslocamento de pessoas, kit de emergência, então é um trabalho que demanda uma certa agilidade na realização? É, Por quê? Porque tem uma linha desligada e o quanto antes resolver essa questão melhor, mas como já eu disse não se faz de trabalho, nem emergência a qualquer custo, primeira a preservação da vida e da saúde das pessoas isso está muito claro, eu cheguei a presenciar determinada frente parar por precisar de determinados recursos então é um trabalho que demanda pressa, mas tudo dentro de um planejamento. A pessoa precisa estar preparada porque ela vai pisar em barro, vai passar frio embora nós tenhamos os equipamentos certos, existe uma jornada prolongada dentro do limite de cada um.
1:41:32
P/1 - Sueli, você falou anteriormente que às vezes tinha que falar com família, você pode comentar se já pegou acidentes mais graves, como é que o profissional de segurança age nesse momento que é mais delicado, enfim, eu gostaria de registrar também?
R - Na nossa equipe tem assistentes sociais que quando nós pedimos socorro, ela vai estar ali para ajuda, e temos psicólogos também que vão atuar, no primeiro momento que você chega no local às vezes vai estar tudo ali, no primeiro momento quando você chega no local quando a área é pequena e as pessoas moram perto da Usina mora na vila perto, e então é bem complicado. Uma coisa que me marcou muito, foi um acidente com vítima fatal por soterramento, foi numa vila residencial não me lembro se o trabalho era uma troca de tubulação de esgoto ou algo sim, a pessoa que morreu era jovem e tinha 3 filhos, e então a esposa ela pediu para a gente mudar o percurso do ônibus dos trabalhadores, porque todos os dias mesmo sabendo que o pai morreu as crianças ficavam no portão esperando o pai, e isso dói de um tanto que você nem faz ideia, para gente morrer alguém é a pior coisa e não importa o cargo não importa a empresa, é uma coisa inaceitável e você acaba entendendo que identificar falhas e esse trabalho é muito dolorido, dolorido mesmo é um trabalho que demora a gente tem que fazer e às vezes tem uma pessoa testemunhas que também tem que esperar para você conversar, esperar a liberação órgãos de saúde para poder conversar porque a gente tem que conversar tem que ter o máximo de informações chegar na realidade o que realmente aconteceu você tem que ter especialista naquele determinado trabalho naquele determinado equipamento para chegar o mais próximo possível da realidade só com um único objetivo, eu sempre falo que as responsabilidades são apuradas por órgãos da polícia e não pelo técnico de segurança ou engenheiro de segurança, esse problema não é nosso, o nosso problema maior é sanar aquela não conformidade e fazer resolvido para não acontecer nunca mais, quando acontece um acidente grave fatal, eu falo que todo mundo falhou todo mundo, a segurança porque não identificou o risco não conseguiu tomar medidas viu eu não estava presente, a supervisão estava junto e também não se atentou para o fato, o próprio trabalhador que às vezes é uma pessoa experiente mas que às vezes por uma falha comportamental ou com algum problema pessoal que o corpo tá ali mas a cabeça em outro lugar ou porque havia um bloqueio, eu tenho um trabalho muito grande sobre bloqueio de falhas, mesma a pessoa falhando ele não deve morrer, você tem que estabelecer um mecanismo que a falha pode acontecer, mas que você não vai levar ele a morte então a empresa tem que atuar muito nessa área, eu participei do congresso de manutenção e mandei meu trabalho de segurança e ele foi classificado, o congresso aí foi feito pela ABRAMAN Associação Brasileira de Manutenção e apresentei esse meu trabalho de bloqueio de falhas Humanas e suas consequências e apresentou alguns cases de Furnas que conseguiu encontrar aqui mesmo em Marimbondo e no final do evento eu entre os 5 melhores trabalhos e meu ficou em 4º lugar e foi como um presente para mim, Presente por quê? Era um congresso de manutenção não era um congresso de segurança, e você ter um trabalho de segurança classificado em um evento desses foi demais, e assim o que que eu deixei bem claro lá para todo mundo que tinha a maior parte dos participantes engenheiros, gerentes de empresas do Brasil inteiro, que a gente não pode nunca exigir a máxima eficiência do trabalhador a massa eficiência do homem se eu não garantir a máxima eficiência o meu processo, então eu tenho que ter um processo redondo um processo seguro para depois eu exigir a massa eficiência do trabalhador, então é nesse sentido que eu digo que quando acontece um acidente muita gente já tá ali não foi só a pessoa que sofreu o acidente, é um conjunto que era para funcionar não funcionou, sobre o bloqueio de falhas dentro de casa eu ligo micro-ondas vem uma criança e abre a porta e o que acontece? Nada, o micro-ondas trava e desliga, a máquina de lavar roupas eu abro ela ligada ela desliga, então isso está no nosso dia a dia e as empresas de eletrodomésticos vem melhorando mais, então se eu tenho uma Usina construída nos anos 70 no caso aqui foi inaugurada em 75, olha o universo de coisas que eu tenho para melhorar, olha o universo de equipamentos que foram construídos precisa ser construídos ou importados, a maioria vem de outros países que foram construídos numa época que não se falava de segurança não tinha esse cuidado porque a gente precisa melhorar, então assim a minha bandeira sempre foi a melhoria dos processos para depois a gente trabalhar o ser humano que é relevante dentro de um ambiente de trabalho, eu não posso focar a segurança só no comportamento, eu preciso melhorar as condições de trabalho dele também
1:49:13
P/1 - E você acha que estaticamente houve uma diminuição nos números de acidentes fatais, números de incidentes ao longo do tempo que você esteve na empresa? Um longo tempo inclusive.
R - Sim foram 39 anos, antes de entrar na usina de marimbondo ela já estava em operação, houve um acidente com choque elétrico e a pessoa morreu, e eu estudei esse acidente eu vi depoimentos escritos a mãos manuscrito de testemunhas, esse acidente também foi analisado por essa equipe de segurança que depois no futuro foi integrado e eu tive acesso a esse relatório, depois eu passei a integrar a equipe e nós tivemos um acidente fatal de trânsito nesse percurso de usina de marimbondo para São José do Rio Preto que a pessoa morava lá ele viaja todos os dias de ônibus e nesse dia estava conduzindo o carro da empresa à serviço, e a gente não teve outro acidente nem em usinas e subestações e me marcou muito esse acidente porque estava grávida mas ainda não estava de licença, eu fui no local da ocorrência eu vi a pessoa que era meu amigo preso nas ferragens e dói muito, mas hoje a gente tem um programa muito grande na empresa de direção defensiva para qualquer condutor de veículo, ele tem que passar por esse curso para reciclagem mas qualquer empresa perde esse controle administrativo da pessoa que sai da barreira pra fora não tem mais, e a pessoa saiu das instalações da empresa você não tem controle mais, então é uma situação muito difícil mas graças a Deus depois no meu ambiente de trabalho que eu passei a técnica de segurança eu não vivi um acidente dentro da empresa não, teve um outro que foi queda de altura, um poste de madeira mas eu não era da equipe, então sim de 85 para cá até nos dias de hoje graças a Deus a gente teve nenhum acidente fatal nas instalações da usina
1:52:04
P/1 - Agora você tem esses dados a nível nacional de Furnas de diminuição ou aumento de acidentes?
R - Olha, depois que eu me aposentei em 2018 eu nunca mais fui aos congressos, nunca mais participei de nada, e sabe quando você se permite viver mais leve? Eu permiti viver de corpo de alma, eu não sabia nem cozinhar eu não tive chance de aprender, fazer um bolo um pão, fazer bordado, então eu estou me permitindo viver mais leve, eu já fui convidada para dar palestras, treinamentos e eu disse que não quero, por enquanto eu quero viver de um jeitinho eu que não conheço, um lado mais descomprometido, ficar mais dentro de casa mesmo mas assim de maneira geral a gente entendia que a NR10 que ela ia contribuir significativamente para a redução dos acidentes no setor elétrico brasileiro mas no último congresso que eu fui as estatísticas ainda mostraram que os acidentes não reduziram tanto quanto que se esperava, então tem um trabalho incansável e acho que não vai ter fim porque é aquilo que eu te falei a meta também é 0 e evitar acidentes 0 é muito complicado, agora o que eu vou falar não é política, mas a terceirização ela também de certa forma ela não dá um nível de segurança para empresa principal que contrata, que contrata os seus empregados, e a gente já tem muito gerente entendendo que se ele contrata o problema é dele e não é assim, quando eu sai da empresa eu fazia parte de uma equipe formada por 3 pessoas, um engenheiro de segurança muito capacitado Wagner Leroy, uma engenheira de segurança que estava exercendo a função de técnica porque não havia acontecido o concurso ainda Gabi de campinas, e o Mário que era técnico da estação de Ibiúna, a gente estava fazendo um trabalho na empresa inteira justamente sobre a segurança na gestão de contratos e esse trabalho era de um dia de seminário e não conseguimos participar porque estávamos rodando a empresa e abrangia o gerente de contrato pessoal contrata gerentes, supervisores, fiscais, para conscientizá-los de que a responsabilidade pela segurança de quem contrata também é grande não é só da empresa terceirizada, porque às vezes você fala a empresa terceirizada que teve acidente, mas é comum a gente ver as empresa de distribuição que faz o seu próprio trabalho, porque tudo ela terceirizou, aí você vê as condições precárias de trabalhadores que estão expostos e a partir daí você vê que nada mudou, a diferença é que nunca aparece nas estatísticas das contratantes, ela está ganhando prêmio de segurança medalha e as terceirizadas daquela empresa que a contratou estão com os índices de acidente muito alto de acidente, e eu particularmente não acho justo isso.
1:56:19
P/1 - Até mesmo porque você havia comentando que não adianta só martelar a questão do comportamento individual do trabalhador se não tem o subsídio, e qual a sua visão e seu sentimento o seu pensamento sobre a história da empresa desde quando você entrou até quando você se aposentou, houve mudanças na empresa, você vê algumas fases se passando e qual a sua visão sobre isso Sueli?
R - Dentro da área de segurança e Furnas em geral o que pesa e é assustador foi a redução no quadro de empregados, você vê ao longo dos anos que são 30, nós tínhamos 300 empregados e você não vê ninguém desocupado porque todo mundo estava trabalhando e hoje você vê 50, foi uma redução drástica e então algumas pessoas estão sobrecarregadas, algumas pessoas já desistiram mesmo, sabe aquela manutenção preventiva que você fazia com todo o cuidado? Hoje não tem mas, somente depois que você se quebra para fazer, pelo lado da segurança um trabalhador estressado ele acaba se desviando mais do seu objetivo de trabalho porque o corpo está ali e a cabeça em outro lugar, isso não tem como controlar e não adianta você falar para deixar os problemas de lado na barreira e entrar porque não vai dar certo. Eu me lembro quando foi falado de desligamento dos contratados, foi muito tenso foi horrível, tinha data marcada para as pessoas saírem e isso gerou uma instabilidade danada porque eram pessoas muito importante dentro do sistema e não teve como ficar, e sinceramente como eu saí antes de todos eles eu não sei como as pessoas estão se virando hoje, eram pessoas com cargos importantes imprescindíveis então eu acho que não tem muita coisa porque a empresa já foi a mudança foi muito drástica agora o fantasma da privatização para quem faz parte do quadro da empresa há muito tempo outras pessoas alguns são a favor e a maioria pelo que eu entendi tem o receio do que possa acontecer e não é sobre perder o emprego e sim sobre o excelente trabalho que o profissional faz e ele não vai ficar desempregado saindo, vai passar por uma dificuldade como qualquer pessoa e ele vai trabalhar. A mudança que assusta porque você não sabe se vai ser melhor ou pior, e mudança sempre assusta e quem não tem a capacidade de adaptação vai sofrer. O departamento de segurança eu não sei se vai continuar dimensionado como está caso haja privatização, por exemplo, aqui em Marimbondo eu não sei, mas pela legislação tem que ter um técnico de segurança a partir de 100 funcionários um técnico de segurança, e aqui nós temos os técnicos de segurança porque a gente entende que o departamento entendo que é uma usina e que precisa ter independente dos números de empregados, porto colômbia a coisa, estreitos mesma coisa, Mascarenhas a mesma coisa, então você acha que se isso for privatizado o empreendedor vai entender a mesma coisa, o grau que ele ocorre de risco, ou ele só vai querer cumpri a lei, se for só cumprir a lei a gente pode discutir de repente o quão é relevante aquilo para os funcionários, então acaba sendo tudo muito instável, o trabalho remoto não é todo mundo que tem essa facilidade então é situações constante que exigem adaptações rápidas e não dá para pensar tem que ser muito rápido. Agora sim pensando mais longe no passado eu falei que para a segurança, eu acho que um passo grande que foi dado foi trabalhar de forma integrada com vários profissionais no mesmo barco, então um ajuda o outro dentro das suas condições de conhecimento e trabalho, e isso eu achei muito fantástico, e em termo de legislação tiveram várias mudanças, falta fiscalização do Ministério do Trabalho? Falta! Durante esses 39 anos o ministério nunca veio aqui, o ministério do trabalho parece que atualmente que tem um corpo muito reduzido, e só vem no caso denúncia ou acidente fatal, tem o problema das terceirizações que é um caso a se preocupar e sobre a análise preliminar de riscos nós temos um formulário próprio, hoje Furnas tem uma APR digital que os empregados têm senha e cada um entra com a sua matrícula e faz sua APR, imprimi e companhia e fica no sistema é uma beleza, ele não permite copiar e colar você precisa desenvolver um estudo para cada trabalho, mesmo que seja um trabalho repetido digital. Então Furnas viu a importância da ferramenta para qualquer atividade e hoje eu falo hoje parecendo que está em 2018, mas até quando eu saí da empresa em 2018 em dezembro todo mundo fazia APR e os profissionais de segurança deu o treinamento para todos os funcionários da empresa, todos os terceirizados, todos aqueles estavam ali dentro porque estávamos na mesma área trabalhando e tinha que conhecer a ferramentas e todas as normas internas da empresa, e eu considero que foi um sucesso, o resultado satisfatório muito bom.
2:05:25
P/1 - Depois do seu diagnóstico que foi acompanhado por muitos, dos quais a gente já entrevistou eu queria perguntar sobre outras coisas do lado bom da vida vamos dizer assim, agora é outra pergunta ingrata, e na área de segurança do trabalho você levantaria algum colega algum amigo que você fez durante esse tempo ou algum funcionário em geral que foi importante para a sua trajetória tanto que você conheceu assim emergência, em construção que não era da sua área quanto era o que era da sua área mesmo ou seu colega de serviço?
R - Olha pela minha trajetória eu tenho um carinho muito grande pelo Silvio Perote, que foi o meu primeiro gerente foi vendo ele trabalhar com a capacidade de inteligente dele numa época que sequer tinham computador e ele fazias as coisas acontecer, ele falava inglês com outras pessoas por telefone para treinar, então assim um homem que naquela época que a gente tinha restrição para entrar dentro da Usina, você acredita? Tinha que pedir para o gerente da usina para entrar e falar o que iria fazer lá, e no fim da minha carreira profissional eu tinha uma sala dela do lado da dele e então foi uma mudança muito grande então eu considero ele como pioneiro ele tinha conhecimento muito grande muito mesmo, ele discutia qualquer assunto qualquer um e a pessoa acatava as recomendações dele não por obrigação, e porque a gente era do mesmo nível dele e numa época que a gente tinha pouca legislação no país e ele fazia relatórios, fazia projetos baseado em legislações internacionais e aplicava isso na época dele, acompanhar a construção de uma usina do porte da de Marimbondo com pouquíssimos profissionais com experiência e foi como eu te falei não tinha técnico de segurança formado no país, era auxiliar e pessoas que ele estava ajudando e eu cito ele porque ele está vivo e mora em Belo Horizonte, faz muito tempo que a gente não conversa mas eu admiro o muito por ser pioneiro nessa área, e se hoje é difícil trabalhar na área imagina naquela época, que você enfrentava os mesmos problemas que hoje mais os problemas daquela época sem recursos, então eu nunca posso falar da minha história sem citar ele, tive outros gerentes que foram importantes na minha formação e cada um com a sua experiência e seu modelo de gestão, para falar a verdade nenhum nunca me decepcionou, todos contribuiu de alguma forma para o meu crescimento, e tenho um colega de trabalho que é o Wagner Leroy, ele é uma pessoa que seja a dúvida que eu tiver, se eu ligar para ele, ele vai me clarear, sabe quando você confia na pessoa e mesmo ela não te ajudando ele vai te indicar o caminho correto para encontrar essa ajuda? Então eu não posso esquecer dele também não, olha o Gilberto Ferreira foi técnico e segurança que já estava trabalhando quando eu ingressei, ele era da segurança e ele me ensinou a dar palestras a primeira palestra que eu dei foi para estagiários, o meu gerente disse vai lá e faz uma palestra com os estagiários, isso com a sala cheia, e não se preocupa porque se você não souber muito bem eles também não sabem porque são estagiários e está tudo bem, e ele colocou o Gilberto comigo para eu não meu expor e me socorrer em qualquer falha que eu tivesse, então seria meio ingrato a gente não lembrar de cada um porque de certa forma te ajudaram em certos pontos, você não encontra tudo possível em uma pessoa só, mas tem pessoas que praticam passam e ficam por perto e você sabe que pode confiar, para qualquer um que eu ligava o Sergio no Rio o Túlio, você tem certeza? Tenho! Então mantém sua postura e sua posição e isso é muito bom é importantíssimo.
2:11:27
P/1 - Você acha que o funcionário de Furnas tem um jeito ou um perfil que destaca ele de pessoas de outras empresas?
R - Eu sou suspeita de falar, mas eu vejo pessoas parecidas, pessoas com o mesmo amor a camisa que veste, e eu sempre falo que quando você o cara com a camisa da empresa, é porque ele tem orgulho do trabalho que ele faz, e aqui é comum você encontrar no dia a dia pessoas comuns seus uniformes que sai da empresa, então o que a gente vê é o orgulho sim na camisa que veste e eu acho que a forma de contratação agora através de concurso e como não está tendo concurso está ficando prejudicado, porque tinha que abrir mais concursos para as pessoas terem a chance de conhecer essa imensidão que é essa empresa e importância do papel que Furnas desempenha junto da comunidade, aqui a gente tem um programa de voluntariado dentro da responsabilidade social que abriu os portas para os empregados de Furnas prestar serviço a população, então você vê uma cidadezinha pequena como tem aqui isso é fantástico e fora de série aqui nesse programa de voluntariado eu fui numa escola de primeiro grau fazer palestra sobre segurança no lar, eu fiquei impressionada porque eu falei de várias coisas e riscos dentro da nossa casa que é assim um dos locais que teoricamente teria que ser o mais seguro possível, e não é, várias crianças virem me mostrar cicatrizes um porque caiu, o outro porque queimou, ralado no braço e essa palestra na época atingiu aproximadamente 500 participantes entre professores e alunos, eu falei da segurança dentro da lei e que todo mundo usa igual o celular, e eu fiquei mais conhecido ainda na cidade e vejo moleque por aí até hoje por aí me cumprimentando então assim a visão que que eles têm nossa é muito boa, eu acho que o sonho de qualquer menina aqui é conhecer a Usina e trabalhar lá dentro como foi o meu um dia, outra coisa interessante é que quando qualquer pessoa vai se referir a mim ele fala Sueli de Furnas e até hoje mesmo eu tendo saído da empresa o meu nome tá em qualquer lugar, parece que faz parte do meu nome e qualquer lugar que eu vou a Sueli de Furnas está aí, e é impressionante isso, outro dia eu queria fazer a inscrição em um congresso online aí perguntou empresa que eu trabalho, e eu meu Deus e agora? Agora eu não trabalho mais e não vou conseguir passar na inscrição, então é um peso muito grande sabe, eu acho que a gente é diferenciado sim, e como você conseguiu uma emergência as pessoas não vão te perguntar aonde você vai dormir, o que vai comer, se vai dar certo ou não e se tu não vai fazer depois sabe lá então quando, ele vai fazer e trazer o resultado.
2:15:54
P/1 - Você viajava para muitos lugares do país por conta de Furnas eu imagino e qual foi o lugar que você conheceu assim, que você nunca imaginou que você ia conhecer a situação você esteve que você nunca imaginou que você iria estar mas você esteve por conta de Furnas por bem ou por mal?
R - As minhas viagens eu não tive tempo talvez pelo meu perfil, de não me ter permitido de passear na cidade nós íamos ata e chegada e horário de saída, então eu fui a Salvador, mas não pode passear ou fazer lazer porque eu havia ido para fazer duas palestras eu não sai de dentro do hotel o congresso era no hotel, a gente saiu um dia a pé para jantar e nada mais, outra vez foi em Gramado que não parece Brasil também só sai para jantar, então sim, eu fui em vários lugares bonitos, o Rio de Janeiro primeira vez a serviço depois eu voltei várias vezes então esses dois lugares eu conheci que me chamaram mais a atenção.
2:18:13
P/1 - Agora você tem algum projeto ou alguma usina e barragem que seja é mais simpática para você ou você gostou mais e fica mais na sua memória por acaso?
R - É aqui, eu tenho uma paixão por esse lugar, sabe quando você conhece cada pedacinho aí é difícil você gostar de um lugar que você viu o macro e como aqui eu conheço cada pedacinho eu me apaixonei mais por aqui, eu não lembro, mas o pessoal que aqui tinha umas cachoeiras e tenho até uma foto eu pequenininha ao lado de uma cachoeira, muito borrada, mas eu não lembro dessa época eu fui na inauguração dessa Usina quando criança parece que a inauguração foi aberta ao público foi um churrasco no campo eu fui mas é aqui mesmo, eu amo esse lugar, eu fui conhecer Foz do Iguaçu a serviços, mas só vi a subestação e não consegui ver a usina, aí a pouco tempo eu fui passear e levei minha família e a gente foi visitar a usina. Então nas minhas viagens de trabalho eu não conseguia fazer a parte mais legal que era o turismo, mas aquilo que me deu vontade eu fiz depois, aí você vê aquela usina perto dessa e vê que é pequenininha, mas ainda é a minha preferida.
2:20:23
P/1 - Agora é o seguinte a gente tem feito uma pergunta ou duas de um bloco específico que Dani está montando, um material específico para isso que é sobre alguma história engraçada, pitoresca que soube durante Furnas, tem algum causo ou história de alguma pessoa, algum acontecimento desse tipo?
R - Aqui tem está na internet, mas tem uma história aqui antiga de um vigilante que teve contato com um extraterrestre, e desceu um disco voador em cima da barragem, ai o vigilante conta que teve contato, mas que depois ele desmaiou e não lembra de muita coisa não, saiu no jornal e tem um desenho sobre isso, e que até a Dani pode levantar, e as pessoas comentavam será que é, será que não é, esse vigilante a gente não conheceu porque ela era da época de construção da usina e eu que me lembro todo mundo daquela época acreditava nessa história que a gente não conhecendo de construção e assim eu me lembre é uma história então acredito que seja verdade sim da época.
2:22:35
P/1 - Quando você se casou com seu marido você nunca ouviu essas histórias de fantasmas em obra ou em construção, no meio do mato ou já ouviu esse tipo de história circulando por Furnas já?
R - Não, se tem não me incluíram na conversa não, não sei.
2:22:58
P/1 - Agora quando você se casou com o seu marido, ou vocês nunca se casaram?
R - Sim, casamos em 2000 em novembro, foi isso cada um foi fazer a sua vida profissional, e ele transferido depois que passou no concurso, trabalhou em quatro lugares diferentes e eu estava em Furnas e não queria sair, depois eu comprei a casa de vila de Furnas e seu casasse a gente não iria morar lá porque nós já tínhamos construído aí em agosto de 2000 nós compramos a casa de Furnas e foi um alto negócio porque eles venderam barata para os funcionários e eu queria deixar a minha mãe bem, ela ama o lugar e eu não queria tirar ela de lá, em agosto a gente vende e em novembro nos casamos, e eu tive meu filho em 2001, eu não podia esperar porque já tinha 38 anos ou era ou não era, eu sou super feliz e ele é maravilhoso está me incomodando um pouco porque já foi estudar fora, eu me aposentei em 2018 e 2019 ele se mudou para Assis e está na UNESP fazendo história e ele foi morar lá e eu passei mais tempo em 2019 do que aqui em casa, eu não conseguia romper aquele laço e deixar ele sozinho, foi difícil me adaptar e ficar sem ele mas eu entendi que precisava deixar ele livre para que na hora que ele precisar de verdade eu esteja ali, e em 2020 e 2021 ele está tendo aula online então está aqui em casa e acabei me apegando de novo, é difícil ser mãe porque você se apega e o filho cresce mas a gente continua preocupada do mesmo jeito.
2:25:30
P/1 - Agora antes de perguntar do seu filho, como é ser namorada, esposa de um delegado, você se sente em perigo, como é isso?
R - Ele é muito bom, ele é muito humilde e ele nunca quis trabalhar aqui na nossa cidade justamente porque ele tinha o pessoal que ele jogava bola e todo mundo muito amigo e tem a política que é muito acirrada em cidadezinha pequena e então ele escolheu um lugar neutro para trabalhar e desde os anos 2000 ele não trabalha mais e não fez nenhum inimigo graças a Deus, ele não anda armado e é muito tranquilo nós levamos uma vida normal e nem lembramos que ele foi delegado.
2:26:35
P/1 - E como foi a gestação do seu filho, vocês escolheram o nome dele, qual o nome dele, e por quê?
R - Toda a gestação dele eu trabalhei eu só evitei área de riscos o médico de Furnas não me liberou do trabalho não, eu continuei trabalho e tive muito enjoo no começo que é normal para uma grávida, fiz treinamentos e exercícios no trabalho não precisei tomar remédio o ficar de observação porque foi tudo bem tranquilo, a gravides foi tranquila e acompanhada pelo nosso médico de confiança e eu estava doida para esse menino nascer, eu estava muito confiante e queria que ele nascesse logo por conta dos enjoos, o resto foi tudo bem, e um belo dia na consulta de rotina do meu medico ele pediu uma ultrassom era 09h da manhã e eu voltei lá umas 14h e ele me disse que o menino estava prontinho para nascer, e eu disse vamos e a minha mãe ficou louca porque ela estava junto. E a mãe dela com o irmãozinho morreram no parto e ela estava com medo. E eu disse vamos fazer esse parto logo, a cidade que nos morávamos ficava 60km do hospital e eu tinha medo de ganhar o menino do meio do caminho e para mim foi excelente ele nasce um menino ótimo super saudável e escolher o nome foi muito fácil colocamos o nome do pai sem o Junior José Eduardo Vissoto Rodrigues.
2:30:12
P/1 - Como é que foi morar em vila, na vila de Furnas, você ficou pouco tempo lá?
R - Não, eu fiquei bastante tempo eu só saí de lá quando eu casei isso de 1985 até 2000 eu morei bastante, olha a cidade é muito pequena então tem muita diferença, lá é mais organizado mais limpo e acho que as pessoas se respeitam mais em termos de cuidar do seu lixo, do seu quintal a cultura é bem diferente daqui da cidade, só que mudou muito depois que as casas foram vendidas, cada um tratou de fazer sua cerca e seu muro e acabou aquela vila dos sonhos, cheio de gramado verde e sem muros, mudou um pouco e está com cara de cidade mesmo e alguns empregados venderam para terceiros e então agora não mora só empregados de Furnas agora as pessoas estão todas juntas empregados e não empregados de Furnas. Mas é um lugar muito tranquilo de se morar.
2:31:35
P/1 - Sueli eu vou encaminhar algumas últimas perguntas a nossa conversa, o que você vê para o futuro de Furnas, qual a visão vê no horizonte e o que você espera e acha que vai acontecer?
R - É tudo muito incerto muito ruim e não tem como se posicionar contra ou a favor de alguma coisa política, mas a visão eu tenho eu acho que esse não é o momento de privatizar até pelo momento que estamos passando pelo mundo inteiro de pandemia não é o momento de você vender algo tão essencial e não se privatiza uma empresa desse tamanho sem envolver outras coisas como água por exemplo, o nosso nível aqui está muito baixo e afeta a energia elétrica e no fim acaba sobrando para o consumidor também, então eu como administradora de empresa poderia pensar em mudanças, poderia pensar em privatizar alguma coisa mas não agora e para quem está trabalhando seria muito ruim, seria irrelevante para o país um trabalho de alto risco, e esse momento afeta diretamente a vida dos trabalhadores. Então se fosse minha a empresa eu não pensaria em privatização nesse momento, as pessoas são mais importante você pensar e eu não vejo, as pessoas têm a mania de falar que empresa pública é cabide de empregos e tem muitas interferências políticas, aqui que eu considero chão de fábrica nunca vi isso, nunca vi uma pessoa ganhar sem trabalhar eu nunca vi alguém entrar na empresa porque o outro ajudou, é muito rígido o controle de presença a vida inteira eu bati cartão de ponto independente da minha função, então aqui eu não via essas coisas que as pessoas falam das empresas, aqui tudo sempre foi bem organizado e feito com seriedade então eu acho que não vai ser uma boa coisa para ninguém.
2:34:34
P/1 - E agora para sua vida pessoal o que você quer ver para o seu futuro, o que você quer fazer agora? Já que você está há um tempo fora e Furnas o que você quer fazer da vida?
R - Eu estou em um período mal acostumado porque eu só quero viver tranquila sem me preocupar muito me permitindo viver essa liberdade, mas eu adoro fazer palestra adoro dar treinamentos, esse trabalho de auditoria ele me encanta e eu não pretendo trabalhar em uma empresa num emprego diariamente, mas serviços eventuais eu posso sim, só que não agora, agora e quero um tempo para mim mesmo de ficar mais livre e mais a vontade por enquanto eu estou bem assim e no futuro eu pretendo prestar algum serviço sim, mas não pretendo ter vínculo com uma empresa.
2:36:00
P/1 - Como foi você contar um pouco da sua história hoje, Sueli?
R - Foi muito tranquilo, eu sempre fico muito ansiosa com os compromissos que eu assumo, cheguei a perder o sono na semana passada, nós ficamos sem internet na cidade, mas foi muito tranquilo você conduziu bem me deixou a vontade e não foi constrangedor, você não perguntou nada que não pudesse responder ou que eu não quisesse falar, então eu acho que ganhei bastante com isso com essa oportunidade que você me deu, eu me sinto muito realizada com a profissão que eu escolhi para minha vida e se não fosse qualquer outra coisa que não sei como seria minha vida, durante a minha trajetória eu fui convidada a me tornar gerente de divisão e as duas vezes que isso aconteceu tinha interferência da localidade de residência e eu não estava preparada para isso, eu mesmo disse que não queria e nem avisei a minha família eu preferi ficar e em relação deu ter saído eu acho que saí no momento certo 39 anos é muita coisa e a gente precisa viver outras experiências não somente uma, mas eu ainda sonho com o meu trabalho sonho lembrando de conta de segurança, é um presente que vou levar para a vida inteira e a palavra que levo comigo é gratidão, então gratidão por tudo mesmo para os meus primeiros passos e pela minha caminhada inteira.
2:38:12
P/1 - Obrigado Sueli nós também temos muita gratidão de ter ouvido a sua história, agradeço muito e tenho certeza que a empresa também mesmo não tendo um representante oficial aqui, mas ela vai agradecer bastante também por você ter disposto o seu tempo e sua história para nós guardar aqui nos arquivos da empresa, foi muito bom e esclarecedor, foi uma maravilha para mim também.
R - Eu agradeço vocês também, se precisar falar comigo agora refazer alguma coisa vocês tem o meu contato, está bom.
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