Meu nome é Silvia dos Santos Pimenta. Nasci no dia 13/02/62, estou com 56 anos. Meu pai chamava Silvio Alves dos Santos. Minha mãe chamava Benedita Alves dos Santos. Meu nome foi uma homenagem ao meu pai, a parteira fez questão. Eu iria chamar Raimunda, a parteira não aceitou de jeito nenhum! Foi a parteira quem escolheu o nome. Ela chamava Adelaide. Ela falou, "não, um bebezinho tão bonitinho com esse nome grande e feio". Graças a ela eu chamo Silvia. Ela conseguiu convencer a minha mãe. Então minha mãe colocou Silvia Raimunda dos Santos. Quando eu casei eu poderia tirar um nome. Pra não ficar muito grande eu acrescentei o sobrenome do meu esposo e tirei o Raimunda, ficou Silvia dos Santos Pimenta. Meu parto foi demorado, mas no final deu tudo certo. Eu nasci em Nova Lima. Eu morava em Honório Bicalho. É bairro de Nova Lima, aí se diz Nova Lima, e o bairro Honório Bicalho. Depois que eu casei eu vim aqui pra Rio Acima. Meu esposo é de Itabirito, mas mudou pra
Rio Acima também. O meu pai morava em Honório Bicalho, e a minha mãe veio de um lugar que chama Conceição do Mato Dentro. Minha vó e minha mãe, são de lá. Vieram pra cá por conta do meu avô. Abriram aquela Mina do Morro Velho, e foram buscar trabalhadores nos arredores, e meu avô veio trabalhar na Mina do Morro Velho. Ele já veio com serviço já arrumado, pra trabalhar na mina. Trabalhou até aposentar. Com meu avô não convivi, só com minha avó. Minha avó é que cuidava da gente pra minha mãe ir trabalhar. Minha mãe ficou viúva muito cedo. Naquela época era difícil uma pessoa que morria e deixava uma pensão, era raro. As pessoas trabalhavam muito em lavoura, em carvoaria. Meu pai trabalhava em carvoaria. Não era fichado, então quando ele morreu minha mãe não teve direito a pensão nenhuma. Ela teve que dar os pulos. Meu pai morreu novo. Eu passei a infância em Honório Bicalho. Foi dura, foi sofrida, a gente passava muito aperto, muita necessidade, mas por...
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Meu nome é Silvia dos Santos Pimenta. Nasci no dia 13/02/62, estou com 56 anos. Meu pai chamava Silvio Alves dos Santos. Minha mãe chamava Benedita Alves dos Santos. Meu nome foi uma homenagem ao meu pai, a parteira fez questão. Eu iria chamar Raimunda, a parteira não aceitou de jeito nenhum! Foi a parteira quem escolheu o nome. Ela chamava Adelaide. Ela falou, "não, um bebezinho tão bonitinho com esse nome grande e feio". Graças a ela eu chamo Silvia. Ela conseguiu convencer a minha mãe. Então minha mãe colocou Silvia Raimunda dos Santos. Quando eu casei eu poderia tirar um nome. Pra não ficar muito grande eu acrescentei o sobrenome do meu esposo e tirei o Raimunda, ficou Silvia dos Santos Pimenta. Meu parto foi demorado, mas no final deu tudo certo. Eu nasci em Nova Lima. Eu morava em Honório Bicalho. É bairro de Nova Lima, aí se diz Nova Lima, e o bairro Honório Bicalho. Depois que eu casei eu vim aqui pra Rio Acima. Meu esposo é de Itabirito, mas mudou pra
Rio Acima também. O meu pai morava em Honório Bicalho, e a minha mãe veio de um lugar que chama Conceição do Mato Dentro. Minha vó e minha mãe, são de lá. Vieram pra cá por conta do meu avô. Abriram aquela Mina do Morro Velho, e foram buscar trabalhadores nos arredores, e meu avô veio trabalhar na Mina do Morro Velho. Ele já veio com serviço já arrumado, pra trabalhar na mina. Trabalhou até aposentar. Com meu avô não convivi, só com minha avó. Minha avó é que cuidava da gente pra minha mãe ir trabalhar. Minha mãe ficou viúva muito cedo. Naquela época era difícil uma pessoa que morria e deixava uma pensão, era raro. As pessoas trabalhavam muito em lavoura, em carvoaria. Meu pai trabalhava em carvoaria. Não era fichado, então quando ele morreu minha mãe não teve direito a pensão nenhuma. Ela teve que dar os pulos. Meu pai morreu novo. Eu passei a infância em Honório Bicalho. Foi dura, foi sofrida, a gente passava muito aperto, muita necessidade, mas por outro lado foi bom pra gente. Tinha muita amizade, tinha muita criança na rua, a gente brincava muito e muitas vezes a gente comia na casa dos colegas, que eles já sabiam da situação da gente, colaboravam bastante. A gente brincava muito na rua, brincava até tarde. A gente brincava de queimada, de pique-esconde, rouba-bandeira, brincava de bolinha de gude, brincava de futebol, brincava de tudo. As meninas, os meninos, eram as mesmas brincadeiras. Era tudo misturado. Era tudo muito tranquilo, era raro ter uma briga. Todo mundo combinava com todo mundo. O Morro Velho mesmo que fez as casas, então era tudo parede de meio, de duas em duas. O pessoal era muito unido. A mineradora fez as casas e o pessoal ia pagando. Ia pagando igual hoje, nessa "Minha Casa Minha Vida". O pessoa ia pagando, e quando aposentava quitava. Quitava a casa e a pessoa só ficava recebendo o salário, já não tinha desconto mais. Nós éramos oito irmãos, morávamos na mesma casa com minha avó, uma tia também viúva com mais quatro filhos. O que marcou de triste é que os primos, irmãos, de vez em quando dava umas brigas bem pesadas. Nessa época um brigava e todo mundo apanhava, e a gente apanhava bastante. Todo mundo apanhava. Tipo assim, se eu apanhasse, eu apanhava mais era de graça. Se meu irmão apanhasse, e eu olhasse pra ele e ele falasse que eu tava rindo, pra evitar isso todo mundo já apanhava mesmo, que aí ninguém ria de ninguém. Depois os meninos foram ficando espertos e aí parou com essa brigalhada. A gente apanhou bastante, não tinha esse negócio de bater em irmão não. Eu estudei até a quarta série. Tirei meu diploma da quarta série e não pude estudar mais. Não tinha condições de estudar mais. Em Honório Bicalho não tinha na época quinta a oitava, nem o segundo grau. Então ou teria que ir pra Nova Lima, ou teria que vir aqui pra Rio Acima, que a maioria dos meus colegas vieram, mas quase nenhum formou, concluiu. E nessa época você tinha que pagar passagem, comprar livro, comprar uniforme. Tinha que pagar uma "mensalidadezinha", pouca mas tinha. E eu quando formei na quarta série, eu ganhei lá um presente, que era um corte. Naquela época usava esses cortes de pano, e eu ganhei porque eu formei, na sala, com a maior nota. Então eu ganhei. Minha professora me orientou muito, me ofereceu até estadia na casa dela pra eu estudar. Mas isso só não bastava. Tinha livro, e livro era caro. Todas as matérias, tinha que comprar tudo. E tinha passagem, porque eu não podia ficar na casa dela também. Uma coisa assim, sem chance. Então eu fui trabalhar em casa de família com 12 anos. E antes disso, quando eu estava frequentando a escola, eu ia na escola de manhã. De manhã tomava um café ralo, puro, e ia pra escola. Quando chegava, escolhia: ou ia arrumar a cozinha, ou ia buscar lenha. Só que eu fugia de arrumar a cozinha porque, nessa época, tinha vez que não tinha sabão direito, bombril nem pensar, era com aquela areia fininha que a gente pega, hoje eles falam areia branca lavada, a gente buscava na beira do rio pra lavar vasilha. Então eu preferia ir à lenha. Comecei a trabalhar em casa de família com doze anos. Trabalhei muito tempo, sempre trabalhando. Às vezes saía porque a pessoa não precisava mais. Então ficava ajudando minha mãe, porque minha mãe lavava roupa pra fora, passava. Então eu buscava, quando não era eu era minha irmã. Buscava roupa, a gente ia longe buscar roupa. Sempre ia uma ou duas coleguinhas com a gente, a gente ia brincando, demorava. Às vezes chegava em casa e apanhava porque demorou. E, quando a gente tava em casa, a gente tava ajudando minha mãe ou minha tia a lavar roupa, passava aqueles ferros de brasa, aqueles trem pesado. Nunca fiquei à toa, sempre estava trabalhando. Então comecei a namorar com 15 anos, namorei muito cedo. Com 16, quase 17 anos, casei. Casei em dezembro, em 1978. Quando foi no final de 1979 tive meu primeiro filho, com 17 anos. Ele chama Ricardo. Hoje ele vai fazer 41 anos. Trabalha na Vale. Já tem 14 anos que ele trabalha na Vale. Eu tive mais duas filhas, então no total tive três filhos. O meu casamento foi uma coisa boa porque eu tive um outro tipo de vida, apesar que a gente tava novo e tudo, mas a gente se gostava. Ele também começou a trabalhar muito cedo. Com 12 anos ele já estava fichado no armazém aqui, que hoje é o Vovô Benzinho. Nessa época eles empregavam os meninos de menor e pagava metade do salário mínimo. Então ele já estava pra fazer 18, mas ainda recebia o salário de menor. Mas os pais dele ajudaram também. Então eu tive uma vida melhor, foi bom. O nascimento dos meus filhos também foi bom. E eu fiz uma viagem que eu almejava. Eu tinha vontade de conhecer o mar, a praia e tudo. A primeira viagem eu fui pra Marataízes, no Espírito Santo. Uma cidadezinha bacana. Nessa época minha cunhada sempre viajava pra lá. Eu passei um ano tumultuado, no final de 1996, meu irmão ficou doente e eu ia pro hospital todo dia cuidar dele. Ele deu câncer no estômago. Em janeiro ele faleceu. Então minha cunhada falou assim, "ah, está tendo uma vaga, você está tão cansada, você está tão abatida, arruma o dinheiro pra você ficar lá e a gente não vai cobrar sua estadia." Na primeira viagem eu fui pra Marataízes. Com ela eu voltei mais uma vez a Marataízes, depois eu fui em Guarapari. A minha viagem dos sonhos, eu queria ir de avião pra Porto Seguro. Nossa, que delícia! Teve um ano que... sempre o pessoal adoecia, eu começava a ajudar, e depois a pessoa não queria outra pessoa. Eu ficava indo ajudar minha sogra, meu sogro, minha cunhada, minha concunhada, meu irmão. O pessoal falou assim, "a gente vai te levar pra Porto Seguro, mas você tem que ter o dinheiro pra você gastar lá". Nessa época meu marido tinha um cofre que ele estava juntando só moeda de 1 real. Então ele tirou mil reais e me deu. Mil moedas de um real! Mas foi fácil trocar, porque os comerciantes gostam de moeda de um real. A viagem foi maravilhosa! Foi a viagem realmente dos sonhos. Fiquei sete dias lá igual madame. Só gastando, tomando uma geladinha. Bom demais! Porto Seguro tem pra todos os gostos, lá em bom demais. Voltei a estudar esse ano. Eu sempre tive vontade de continuar estudando. Mas aí eu ficava naquela assim, "quando for ter alguma prova eu faço". Quando teve o concurso público em 2002 eu fiz o concurso. Só passei porque meus filhos estudavam nessa época, uns na sétima, e o meu filho mais velho na oitava, então eu sempre interessei, eu sempre corri atrás, pra estar ajudando eles a fazer o dever, a pegar no pé também. Muita coisa, igual matemática mesmo, que eu aprendi de curiosa, que foi o que me valeu no concurso. Porque na época a prova estava pedindo ensino fundamental incompleto, e eu até então achava que ensino fundamental é até a quarta série. E não, hoje é até o nono ano. Abrange essas séries todas. A prova estava muito difícil. No dia que saiu o gabarito com o resultado, o que eu fiz foi servente escolar, auxiliar de dentista, atendente de saúde e telefonista, era um resultado só. E eu consegui passar. Nessa época quem trabalhava na prefeitura cada um ano ganhava meio ponto. Então eu entrei sem benefício nenhum. Eram 24 vagas e eu consegui. Na classificação geral eu fiquei em 13º lugar. Tem 13 anos que eu trabalho concursada, de servente escolar, e hoje eu estou trabalhando de desvio de cargo. Hoje estou de monitora no ônibus, no escolar. Ajudo lá no recreio. Quando o professor precisa sair da sala pede pra eu ficar lá. Eu sempre tive vontade de voltar a estudar, mas sempre pensava, "ah, não vou nada...". Esse ano eu decidi mesmo. Porque ano passado eu fiz a prova do ENCCEJA, e é desagradável você abrir uma prova pra você fazer e você ver que você... pouca coisa você vai acertar ali. É igual eu falo com os meninos aqui: se eu pego o seu caderno e copio, eu estou copiando, então não estou aprendendo nada. Se precisar de eu fazer mesmo uma prova, um concurso, eu não vou me dar bem. Eu vou chutar tudo. Eu vou na sorte. Eu achei assim, "ano que vem eu vou fazer de novo, mas eu quero estar preparada." Então eu resolvi voltar a estudar. Pretendo me formar. Meu diploma do nono ano, eu quero ele nas minhas mãos! E também depois eu quero fazer o primeiro, o segundo e o terceiro ano do médio também. Eu quero ter o meu diploma.
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