Projeto: Memória Furnas
Entrevista de Caio Pompeu de Souza Brasil Neto
Entrevistado por Karen Worcman e Rosana Miziara
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2022
Código da entrevista: FURNAS_HV031
Realização: Museu da Pessoa
Transcrição: Selma Paiva
Revisão: Grazielle Pellicel
P1 – As minhas perguntas são muito mais pra gente começar a história, do que responder, realmente, qual é a pergunta. E como eu disse, a ideia é muito mais a gente fazer uma narrativa da sua trajetória, da sua vida um pouco até, a chegar no momento presente, em Furnas. Então, a gente vai primeiro pra pessoa, pra família. Então, essa é a dinâmica.
R1 – Está ótimo!
P1 - Eu vou começar a entrevista perguntando seu nome de novo, local e data de nascimento.
R1 – Tá. Meu nome é Caio Pompeu de Souza Brasil Neto, eu sou natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, nasci em 6 de novembro de 1965. Sou filho de um oficial da Marinha e, em 1965, quando eu nasci, meu pai não se encontrava no Brasil, ele estava a trabalho, numa força de paz das Organização dos Estados Americanos, a OEA, em São Domingos (República Dominicana). Por essa razão, eu fui pra Belo Horizonte com a minha mãe e, pra que a minha mãe tivesse assistência da família, eu nasci lá. Tão logo meu pai retornou para o Brasil, ele passou em Belo Horizonte, pegou toda a família e nós fomos morar aqui no Rio de Janeiro. Fui estudante do colégio militar, fiz sete anos. No período da faculdade, eu comecei fazendo curso de Engenharia e logo me interessei por estudos relativos a finanças e economia. Depois eu migrei pra Economia, acabei me formando em Economia, fiz alguns cursos de pós-graduação em Economia, mestrado em Economia e alguns cursos de finanças. Ingressei em Furnas em 1996, pelo concurso público, onde exerci o cargo de técnico e em 2003 eu exerci o meu primeiro cargo de gerente, fui gerente de divisão de contas a receber e faturamento, depois fui chefe de departamento, chefe do...
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Entrevista de Caio Pompeu de Souza Brasil Neto
Entrevistado por Karen Worcman e Rosana Miziara
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2022
Código da entrevista: FURNAS_HV031
Realização: Museu da Pessoa
Transcrição: Selma Paiva
Revisão: Grazielle Pellicel
P1 – As minhas perguntas são muito mais pra gente começar a história, do que responder, realmente, qual é a pergunta. E como eu disse, a ideia é muito mais a gente fazer uma narrativa da sua trajetória, da sua vida um pouco até, a chegar no momento presente, em Furnas. Então, a gente vai primeiro pra pessoa, pra família. Então, essa é a dinâmica.
R1 – Está ótimo!
P1 - Eu vou começar a entrevista perguntando seu nome de novo, local e data de nascimento.
R1 – Tá. Meu nome é Caio Pompeu de Souza Brasil Neto, eu sou natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, nasci em 6 de novembro de 1965. Sou filho de um oficial da Marinha e, em 1965, quando eu nasci, meu pai não se encontrava no Brasil, ele estava a trabalho, numa força de paz das Organização dos Estados Americanos, a OEA, em São Domingos (República Dominicana). Por essa razão, eu fui pra Belo Horizonte com a minha mãe e, pra que a minha mãe tivesse assistência da família, eu nasci lá. Tão logo meu pai retornou para o Brasil, ele passou em Belo Horizonte, pegou toda a família e nós fomos morar aqui no Rio de Janeiro. Fui estudante do colégio militar, fiz sete anos. No período da faculdade, eu comecei fazendo curso de Engenharia e logo me interessei por estudos relativos a finanças e economia. Depois eu migrei pra Economia, acabei me formando em Economia, fiz alguns cursos de pós-graduação em Economia, mestrado em Economia e alguns cursos de finanças. Ingressei em Furnas em 1996, pelo concurso público, onde exerci o cargo de técnico e em 2003 eu exerci o meu primeiro cargo de gerente, fui gerente de divisão de contas a receber e faturamento, depois fui chefe de departamento, chefe do Departamento de Recursos Financeiros, assistente de superintendente, depois superintendente de finanças corporativas, depois superintendente de planejamento e controle orçamentário, depois diretor financeiro interino, em 2016, voltei a ser superintendente, porque estava ocupando a diretoria financeira em caráter interino e em 2019 fui convidado para ser diretor de finanças de Furnas. Em 2019, então, me tornei diretor de finanças e em 2022, diretor-presidente. Hoje eu acumulo o cargo de diretor de finanças e diretor-presidente interino na companhia.
P1 – Ótimo! Agora já tem a trajetória inteira. Eu vou voltar lá pra trás, antes, tá? Eu queria saber o nome do seu pai e da sua mãe e um pouco qual que era a família que estava em Minas, de onde vinha a família paterna e materna. Mas primeiro me conta o nome deles.
R1 – O meu pai tem o mesmo nome, não dá nem pra dizer que eu não sou filho do meu pai. Meu pai é Caio Pompeu de Souza Brasil Filho e eu sou Caio Pompeu de Souza Brasil Neto. A família do meu pai, a origem está no Ceará, meu avô é cearense, e a família da minha mãe é de Portugal. Os meus avós maternos, tanto meu avô, quanto minha avó, vieram de Lisboa e se instalaram no Brasil, não sei em que ano. O nome da minha mãe é Maria Lúcia Reis Pompeu de Souza Brasil. Se conheceram no Rio de Janeiro e casaram em 1958. São vivos até hoje, meu pai tem noventa anos e minha mãe, 86.
P1 – Nossa! E eles se conheceram aqui no Rio. Você sabe a história?
R1 – No Rio de Janeiro, no Bob’s, tomando sorvete.
P1 – Lá aquele Bob’s da Visconde de Pirajá?
R1 – Não, no Bob’s em Copacabana. Me esqueci como é o nome daquela rua, ali. Ah, meu Deus! Acho que é Domingos Ferreira.
P1 – E nessa época, o seu pai, então, estudava o quê?
R1 – Meu pai era guarda-marinha. Era estudante da Escola Naval e tão logo meu pai se formou foi a segundo-tenente, meu pai e minha mãe se casaram em 1958.
P1 – Deixa eu fazer uma pergunta sobre essa família do Ceará e esse nome Caio Pompeu, acho que veio vindo, já estamos pelo menos no Neto. De onde veio esse nome?
R1 – Agora você me pegou! O nome do meu avô é Caio Pompeu de Souza Brasil, meu avô é do Ceará e ele foi engenheiro da rede ferroviária. Agora, o sobrenome Pompeu de Souza Brasil é único, e eu não tenho o sobrenome da minha mãe.
P1 – Pompeu de Souza Brasil era tudo família paterna?
R1 – Tudo família paterna.
P1 – E como que era, em termos de cultura, dentro da família? Como era? Era uma família muito disciplinada? Qual era o papel da mãe, do pai? Como é que era a vida de vocês?
R1 – Muito. A minha mãe sempre foi dona de casa e eu tenho mais três irmãs mais velhas. Eu sou o caçula. Minha mãe sempre foi muito rígida, sempre me cobrando e cobrando de minha irmãs uma disciplina muito rígida.
P1 – Dentro de casa?
R1 – Dentro de casa. E engraçado: meu pai é militar e acho que minha mãe é tão militar quanto meu pai. Então, tive uma educação muito rígida, mas com muito amor, a ponto de eu dizer pra vocês que eu tento, na medida do possível, dar aos meus dois filhos a educação que eu recebi em casa.
P1 – O que é uma educação rígida com amor?
R1 – É uma educação onde você tem obrigações. A minha obrigação era estudar, manter tudo que eu tenho no lugar e um respeito muito grande junto aos mais velhos, de uma maneira geral. Aos meus avós, aos meus pais. Eu tinha horário pra estudar, horário pra lazer e eu posso dizer pra você que isso deu muito certo.
P1 – Qual que era o seu lazer, nessa época?
R1 – Eu adorava jogar futebol na praia, eu gostava muito de...
P1 – Vocês moravam onde?
R1 – Sempre morei em Copacabana, aqui no Rio de Janeiro. Gostava muito de ir à praia, de jogar futebol, sempre tive muitos amigos e o meu maior lazer era futebol de praia.
P1 – E até os onze anos você estudou onde?
R1 – Eu estudei numa escola pública, na Avenida Atlântica, chamada Escola Cícero Penna. Uma escola municipal.
P1 – Aquela do lado do Copacabana Palace?
R1 – É, pertinho do Copacabana Palace. Aí, um ano antes de ir pro colégio militar, eu fiz um curso preparatório pra admissão. Então, aos dez anos eu fiz esse curso preparatório e aos onze anos de idade eu ingressei no colégio militar.
P1 – E quem decidiu que era pra você ir pro colégio militar?
R1 – Foi opção minha.
P1 – Por quê? Me explica.
R1 – Porque eu sempre tive uma admiração muito grande pelo meu pai. Meu pai sempre foi um exemplo pra mim. O exemplo de caráter, de valores. Eu achava linda aquela farda. E meu pai sempre foi um apaixonado por aquilo que ele faz, até hoje. Ele sempre me disse: “Faça e seja um apaixonado por aquilo que você faz, pra você ser sempre um bom profissional”. Meu pai sempre foi exemplo de militar, de pai, de valores, caráter e isso tudo, se eu sou alguma coisa hoje, na vida, eu devo ao meu pai e à minha mãe.
P1 – Que bom! Me conta como foi essa entrada no colégio militar e esse período. Foram sete anos no colégio militar?
R1 – Sim, foram sete anos no colégio militar. Foi um período difícil, porque a gente está falando da época do regime militar. E era um colégio... naquela época, só tinha homem, era uma hierarquia muito rígida, era um regime militar. Agora, você imagina o regime militar pra um garoto de onze anos de idade. Depois fica mais fácil, você acostuma, mas eu sei que tive um impacto grande quando eu comecei a estudar lá, [que] era uma educação muito rígida, disciplina extremamente rígida. Se você deixasse de cumprir as suas obrigações de estudo, de disciplina, horário, você tinha algumas punições que hoje em dia...
P1 – O que era uma punição, por exemplo?
R1 – A gente tinha diversas punições, desde a suspensão, até detimento. Detimento nós tínhamos que ir durante o final de semana pro colégio, nós ficávamos numa sala enorme onde o estudo era obrigatório. Você não podia falar e era estudo obrigatório de oito e meia da manhã ao meio-dia e meia. Então, por exemplo: se você quisesse sair da sala por qualquer motivo, ir ao banheiro...
P1 – Não podia?
R1 - ...só podiam sair duas pessoas por vez. Então, tinha uma senha que você levantava o dedo, tinha um sargento lá na frente, ele te dava uma senha. Se as duas senhas estivessem ocupadas, você tinha que esperar. E aí aproveitava, claro, pra estudar. Então, sempre fui um excelente aluno, porque eu passava... se eu chegasse atrasado... tinha que chegar seis e meia da manhã lá perto do Maracanã...
P1 – Era perto do Maracanã?
R1 - Perto do Maracanã. Se eu chegasse [às] seis e 35 da manhã, você já era punido.
P1 – Você era detido, por exemplo?
R1 – [Era] detido. Então, você tinha que ficar… enquanto os meus amigos iam pra praia de manhã, eu ia pro colégio, [com] estudo obrigatório e aproveitava mesmo pra estudar. Então, fiquei detido alguns finais de semana e quando não estava detido, eu tinha que estudar, porque minha mãe mandava eu estudar. (risos) Mas sempre com muito amor, com muito carinho. E ela sempre fixava horários, então eu tinha um horário pra acordar, pra tomar café da manhã, pra estudar e pra lazer. Ela sempre falava: “Você precisa estipular uma agenda, de tal forma que você consiga desenvolver todas as suas atividades. Então é importante que você faça o seu esporte, encontre com seus amigos, enfim, que você tenha o lazer, mas é importante que você cumpra as suas obrigações enquanto estudante. A única obrigação que você tem aqui nessa casa é estudar”.
P1 – Qual era a diferença entre a sua educação e a das suas irmãs? Você foi o único filho homem, né?
R1 – Único filho homem.
P1 – O que era, o que significava isso, naquela época?
R1 – Eu não tive muita diferença, a minha educação não teve muita diferença das minhas irmãs. As minhas irmãs também tiveram esse tipo de educação.
P1 – De estudar sério, rígido...
R1 – De estudar. Elas só não estudavam no colégio militar, porque naquela época somente alunos do sexo masculino. Estudavam em colégios de freiras e também tinham uma educação bastante rígida. E hoje, quando a gente se encontra, por exemplo, sábado foi aniversário da minha mãe, e a gente se encontra, dá gargalhadas então das histórias que a gente tinha enquanto criança. Porque é claro - você pega quatro crianças dentro de casa, com essa, vamos dizer assim, disciplina mais rígida - que existem momentos de lazer, que a gente dava uma fugidinha e como que minha mãe encarava essa fugidinha.
P1 – Ela batia em vocês?
R1 – Não, nunca! Aí é que está: por isso que eu digo pra você que é um modelo de educação muito eficiente. Eu acho que eu nunca tomei um tapa da minha mãe e do meu pai. Era respeito. A gente respeitava. Hoje em dia as crianças, não sei, acho que são completamente diferentes, mas não tinha essa coisa de não obedecer pai e mãe. O pai e a mãe falavam, a gente obedecia. Ao mesmo tempo, nas horas de lazer, sentavam os quatro em volta da minha mãe, minha mãe abraçava, beijava, meu pai chegava em casa do quartel, abraçava, beijava os filhos. Então, assim, um ambiente muito propício pra você desenvolver cidadãos que eu vou dizer que são pessoas do bem, educadas, disciplinadas. Por isso que eu digo pra você que foi uma educação que eu tento, na maneira do possível, reproduzir para os meus filhos.
P1 – Uma última pergunta sobre isso era que… foi o período militar, né?
R1 – Sim.
P1 – Como isso se refletia? Vocês chegaram a discutir quando vocês estavam um pouco mais velhos, até os 17 anos? Qual era a conversa sobre isso dentro de casa ou dentro da escola?
R1 – Eu nunca tive essa discussão com meu pai, com a minha mãe, com os meus irmãos. A gente pouco discutia sobre política. Eu vim a ter consciência do que foi o lado ruim desse regime muito mais tarde, quando tomei, comecei a ler daquilo que, de fato, aconteceu.
P1 – Já na faculdade, então?
R1 – Já na faculdade. Eu não tinha noção do lado perverso que foi esse momento no Brasil. Eu acho que muita coisa boa existiu nesse momento, mas teve realmente um lado muito triste, que eu acho que serve de lição pra gente não mais repetir.
P1 – Uhum. Vamos, então, ‘andar’. Agora, como é que se deu a sua entrada, sua opção pela escola, pelo estudo, pela universidade? O que aconteceu naquele momento? Pra onde que você foi?
R1 – Eu sempre gostei muito de matemática. Eu sempre tive um raciocínio muito lógico e àquela época, o jovem tinha que fazer... hoje em dia, né, o jovem tem que fazer opção por carreira muito cedo. E como eu gostava muito de matemática, eu fui fazer Engenharia e comecei a fazer, cheguei a fazer três anos.
P1 – Onde era?
R1 – Na PUC. Então fiz todo o ciclo básico de Engenharia, fiz algumas matérias de Engenharia Elétrica, depois fiz algumas matérias de Engenharia Metalúrgica e comecei, sempre lia muito, sempre me interessei muito em me informar e comecei a me interessar por Economia. Eu comecei a fazer algumas cadeiras na faculdade, de Economia.
P1 - Dentro, já, na PUC?
R1 – Na PUC. E aí me encontrei. Eu falei: “É isso que eu quero ser”. Então, eu comecei a fazer. A minha ideia era me formar em Engenharia e comecei a fazer o curso de Economia à noite, e estudava de madrugada. E comecei a trabalhar depois, fui convidado pra trabalhar em um banco.
P1 – Tipo estágio, assim?
R1 – Estágio. Trabalhei no mercado financeiro como estagiário e aquilo ali realmente me motivou muito. E sempre me dediquei, tudo que eu começo a fazer, eu sempre me dedico, tento fazer da melhor forma possível. E aí começou a ter um problema de que o dia só tem 24 horas, né? Eu estudava Engenharia, trabalhava de tarde, estudava de noite, gostava de fazer exercício físico também, e aí...
P1 – Como assim exercício físico? (risos)
R1 – Pois é. Era uma loucura! A minha vida era uma loucura, porque você é jovem, você consegue, de alguma forma, conciliar isso tudo, mas chega uma hora que eu comecei a, cada vez mais, me interessar pelo meu curso de Economia e o curso de Engenharia ficou ‘pra trás’. Aí me formei em Economia e saí da faculdade com a impressão de que eu sabia pouco de economia. Aí fui fazer uma pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas. E aí, após essa pós-graduação, eu continuava achando que eu pouco sabia de economia. Aí eu fui fazer mestrado em Economia. E nisso, eu estava fazendo estágio em Furnas. Eu entrei como estagiário. Estava na faculdade, vi um cartaz: estágio Furnas. E aí me inscrevi, fiz uma prova, passei na prova, passei em segundo lugar nessa prova do estágio e comecei a fazer meu estágio em Furnas.
P1 – E era o que, exatamente?
R1 – Eu comecei a estagiar no Departamento de Planejamento Financeiro. Basicamente, eu fazia acompanhamentos. Naquela época, você tinha uma tarifa de suprimento de energia, que era estabelecida pelo antigo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) e, basicamente, o que eu fazia era o acompanhamento do insumo energia elétrica, comparando com vários outros preços de maior relevância na economia, de uma maneira geral. E aí eu me formei e fui contratado aqui em Furnas. Naquela época, você já tinha que ter [feito] o concurso público para o ingresso numa empresa estatal. E aí eu fiz um ano, um ano e meio, dois anos como contratado e vi que eu não tinha a possibilidade de ascensão sendo um terceirizado aqui dentro da companhia.
P1 – Nós estamos falando de que ano, mais ou menos?
R1 – No início da década de noventa. 1993, por aí. Aí foi nessa época que eu pedi demissão da empresa e fiz uma prova para fazer o meu mestrado. Fiz o meu mestrado em Economia e quando eu estava terminando meu mestrado, surgiu o concurso pra Furnas, em 1996. Imagina, eu estava saindo do mestrado! Uma prova de Economia, pra mim, era a coisa mais trivial possível. Eu fiz o concurso, fui o primeiro colocado e ingressei no mesmo departamento que era estagiário. Alguns anos depois, eu fui convidado pra ser chefe de divisão. Depois - agora os anos eu realmente não me lembro - chefe de departamento, assistente de superintendente, superintendente, diretor e agora, recentemente, presidente.
P1 – Me conta como era essa Furnas dos anos noventa. Como era que funcionava?
R1 – Completamente diferente.
P1 – Como que era isso?
R1 - Você tinha uma cultura muito diferente. A informatização, a automatização dos processos era muito reduzida. Agora, desde aquela época a gente tinha um quadro técnico de excelência. Eu aprendi muito aqui em Furnas. Aprendi muito. E desde aquela época, esse amor que você tem por essa empresa, esse sentimento de pertencimento, é muito forte na nossa cultura. E você tinha uma empresa que começava a dar os primeiros sinais de esgotamento da sua capacidade financeira. Então, Furnas...
P1 – Isso nos anos noventa?
R1 – Isso.
P1 – O que significou esse esgotamento? Como isso se mostrava?
R1 – Isso se mostrava muito claro quando a gente tinha a necessidade clara de expansão. Sempre fomos uma empresa, principalmente naquela época, de engenharia e começávamos a ter dificuldades de empreender, desenvolver projetos, financiar esses projetos. Então, ali, naquele momento, já estava claro que você tinha um esgotamento da nossa capacidade de financiamento, e aí que a gente começou a ver alternativas de desenvolver empreendimentos em parceria; E, recentemente, ficou claro a necessidade de você ter uma capitalização da empresa, pra que essa vocação, sempre presente em Furnas, de empreendedorismo, fosse resgatada.
P1 – Ainda nessa época, 1998, chegou [a ser] uma época de privatização no Brasil.
R1 – Sim.
P1 – Teve a privatização da Vale, da Embratel, acho, de várias empresas.
R1 – Sim, é verdade.
P1 – Isso chegou a ser discutido, tava discutido já que tinha esse modelo de esgotamento? Você lembra disso?
R1 – Sim, nós discutimos. Eu me lembro que, no início, acho que foi no próprio 1998, nós discutimos a privatização de Furnas. Naquela época, a gente tinha um projeto pra separar a geração de transmissão, a transmissão permaneceria estatal e a geração seria privatizada. À época, a única empresa do Grupo Eletrobras que foi privatizada foi a Eletrosul e uma parte, a de geração da Eletrosul, foi privatizada e a transmissão permaneceu sob o ‘guarda-chuva’ da Eletrobras.
P1 – Então a gente está falando um pouco desse trabalho do pertencimento, das relações humanas, daquele momento da sua entrada em Furnas. Como era que se dava? Como era o dia a dia no trabalho? O que as pessoas...
R1 – Era...
P1 – O que era uma ‘cultura Furnas’? Vamos pensar assim.
R1 – Essa ‘cultura Furnas’, hoje, a gente faz um trabalho de fortalecimento cultural, mas Furnas é uma empresa que nasceu em 1957 com um grande desafio. Você imagina, em 1957, construir uma usina de mil e duzentos megawatts. Hoje você vê que é uma empresa extraordinária, que foi marcada por - e isso eu falo até hoje, nas visitas que eu faço às áreas regionais -, é uma empresa movida a desafios. Nós sempre, sempre, correspondemos a todos os nossos desafios. Então, você tem (união?) de Itaipu, construção de usinas, diversos ativos onde essa marca Furnas está presente. No dia a dia, quando você frequenta uma área regional de Furnas, você vê esse sentimento de pertencimento, esse amor à empresa. Quando você tem um operador, um mantenedor de uma linha de transmissão, quando o sujeito sobe e passa horas lá em cima, o compromisso desse funcionário com o setor elétrico, com a empresa, é extraordinário. Isso é um valor que nós nunca vamos deixar de ter. Eu posso dizer pra você que, desde o dia que eu entrei, você é completamente absorvido por essa atmosfera, a ponto de eu ter algumas propostas pra sair da empresa no início da minha carreira e nunca pensei em fazer isso. Por quê? Porque isso aqui é Furnas. Furnas é Furnas. É diferente. E eu tenho um orgulho tremendo de fazer parte dessa empresa, que é extraordinária.
P1 – Vamos seguir. Muito bom. Você quer perguntar alguma coisa?
P2 – Não. Pode seguir. Se você quiser, eu pergunto algumas coisas mais específicas.
P1 – Tá. Eu vou só seguir aqui: no fim dessa sua carreira, que foi ‘andando’, no fluxo e o que começou... a gente está falando de noventa, na sua entrada, depois temos vinte anos desde a ‘virada’ do milênio. Muitos desafios energéticos, alguns de questões ambientais, outros de crescimento, modelos. Eu queria falar um pouquinho disso, como Furnas foi enfrentando esses desafios, o quanto isso passava pra vocês, no dia a dia. Por exemplo, acho que seu setor sempre foi na área mais financeira, né?
R1 – Sim.
P1 – Como isso era discutido e vivido, por exemplo? O desafio do crescimento, de modelos energéticos, as crises de energia no Brasil: como isso era vivido, no dia a dia?
R1 – Era uma intensa discussão entre técnicos, gerentes. Nós tínhamos um planejamento, que nos impunha a necessidade de expansão e sempre tivemos uma discussão muito intensa da forma como nós superaríamos esse esgotamento da nossa capacidade financeira, através de modelos de crescimento onde fôssemos pioneiros. Então, tínhamos que, constantemente, estar ‘pensando fora da caixa’, desenvolvendo estratégias de financiamentos, pra que a gente pudesse alcançar o nosso objetivo, que era manter a nossa participação de mercado. Eu digo pra você que uma empresa estatal tem diversas dificuldades, uma governança muito complexa e, mesmo com toda essa governança complexa, com todas essas ‘amarras’, está aí a importância de Furnas no cenário do setor elétrico brasileiro. Então, eu acredito que nós cumprimos uma fase importante do desenvolvimento do país e da empresa. E hoje a gente tem uma capacidade de investimento, uma perspectiva completamente diferente com o processo de capitalização.
P1 – Fala você, Rosana.
P2 – A Karen acabou perguntando de uma maneira mais abrangente, exatamente sobre esse sistema, quando se pensa em construção, geração, transmissão e comercialização, você acrescentaria mais alguma coisa nesse modelo?
R1 – A gente tem hoje um movimento disruptivo muito grande no setor elétrico, em termos de inovação, de novas tecnologias. Então, o grande desafio que a gente tem hoje, dentro da companhia, é continuar a gerar, transmitir e comercializar energia acompanhando todos esses movimentos disruptivos que temos muito presentes em outras empresas. Então você tem hoje desenvolvimento de novas fontes energéticas: a energia solar, eólica, armazenamento, hidrogênio verde. E hoje a companhia tem uma capacidade muito maior, como uma empresa privada, de desenvolver essas tecnologias dentro da companhia, ou absorvendo essas mesmas tecnologias de fora, pra que a gente tenha condições de competir, de igual pra igual, com toda e qualquer empresa do setor elétrico mundial. Hoje a gente não fala mais... falamos de Furnas em um conceito mais amplo, a gente fala de Eletrobras, a nossa proposta é ser uma das maiores empresas de energia elétrica do mundo. E temos a capacidade de nos tornar.
P2 – Durante a pesquisa, e alguns funcionários trouxeram alguns marcos, um deles foi o apagão que teve entre 2001 e 2002. Você vivenciou? Como que foi, você viu esse momento?
R1 – Eu estava aqui em Furnas. Desde aquela época, a gente tem uma mudança climática muito grande. Em 2001 e 2002, no início dos anos 2000, a gente tinha a energia hidráulica como uma fonte predominante. Hoje nós temos ainda algo em torno de 65%, 70% da fonte hidráulica como carro-chefe da matriz energética, mas esse percentual era muito maior em 2001 e 2002. E tínhamos, no início do ano 2000, um ‘estrangulamento’ na nossa capacidade de transmissão, que o nosso sistema é interligado. Hoje a gente tem um sistema muito mais robusto, nós temos muito mais linhas de transmissão capazes de transportar grandes blocos de energia entre os nossos supermercados. Supermercado norte, centro-oeste, nordeste e sul. Hoje a realidade do setor elétrico é completamente diferente do início dos anos 2000. E nós temos também essas outras fontes intermitentes, a eólica e a solar, que complementam essa matriz. Então, hoje o setor elétrico é completamente diferente daquele do início dos anos 2000. Agora, é claro que você tem uma mudança climática, a matriz energética ainda é predominantemente hidráulica e no ano passado, por exemplo, você teve uma escassez de água extremamente mais severa do que no ano 2000. Exatamente por você ter um sistema muito mais robusto, nós não tivemos o racionamento da energia.
P1 – O que... a gente, chegando nesse... como foram esses últimos anos, onde você acabou acumulando e ficando com essa parte da diretoria financeira? O que é, qual foi o seu principal desafio nesse setor e como isso veio se somar à presidência?
R1 – Já de um tempo pra cá, o meu grande desafio era diminuir o endividamento de Furnas. Furnas é uma empresa que investiu muito no início dos anos 2000. Tivemos um endividamento muito pesado e eu recebi a incumbência de equacionar essa dívida, de melhorar o nosso perfil de dívida. E eu acho que eu e toda a diretoria de finanças cumprimos essa missão que nos foi dada, a ponto de hoje ser reconhecido no mercado como a empresa com uma capacidade de investimentos extraordinária. Então, meu grande desafio era o equacionamento da dívida, tornar a dívida de Furnas com um prazo maior, com custos menores e um volume inferior ao que nós tínhamos no início, por volta de 2016. 2016 foi o ápice do endividamento da companhia.
P1 – E as principais estratégias, quais foram?
R1 – As principais estratégias que nós tínhamos era renegociar com bancos, cortar custos e ter uma gestão mais eficiente dos nossos projetos.
P1 – Qual que é a característica, quais são, que mudam, que vão mudar, doravante, do modelo de gestão de uma empresa enorme, estatal, de estratégia de infraestrutura, pra uma empresa de capital aberto?
R1 – A governança é completamente diferente. É um processo decisório muito mais ágil, onde você tem uma capacidade de negociação completamente diferente, uma liberdade que hoje você tem, que à coisa de dois, três meses, a gente não pensava, é você não ter um órgão de controle questionando toda e qualquer iniciativa que você tenha. É uma liberdade muito maior de você inovar, de comparar essa empresa com outras, que são benchmarking (empresas com as melhores práticas de gestão) no mercado. Então, é um potencial completamente diferente. É muito difícil você trabalhar num setor competitivo, como é o elétrico, com as ‘amarras’ de uma empresa estatal. É impossível.
P1 – Essa é a parte que é boa. E a ruim? Digamos, ruim. E a parte que ______?
R1 – Eu não vejo essa parte ruim em Furnas. Eu me lembro que cheguei a trabalhar numa empresa com nove mil funcionários. Hoje, Furnas tem dois mil e oitocentos. Furnas está se preparando pra esse momento não é de hoje. Então, hoje eu vejo uma empresa ‘enxuta’, que tem uma capacidade técnica muito respeitada no mercado e que tem problemas, claro, toda e qualquer empresa tem, mas você tem aqui um quadro técnico extremamente respeitado, uma empresa ‘enxuta’ e que tem perfeito domínio de tudo aquilo que faz. Então, eu vejo Furnas hoje [com] um padrão bastante respeitado no mercado e eu, sinceramente, digo isso com muita tranquilidade e tenho dito isso pra todos os funcionários da companhia, que todo e qualquer processo de mudança gera uma insegurança, é claro, mas nós não temos absolutamente nada a temer. Hoje temos um padrão de qualidade comparável a toda e qualquer empresa eficiente no mercado. Agora, é claro, você vai dizer: “Então você acredita que nada vai acontecer?” Não. Acredito que toda e qualquer empresa moderna tem um processo de mudança, eu acho que a empresa necessita de ter quadros mais jovens, mas acredito piamente que o modelo de sucesso é a gente ter funcionários mais sêniores, antigos, passando toda a experiência para os mais jovens. E acho que isso aí vai ser um caminho natural, toda e qualquer empresa passa por isso, e não vejo [como] um processo traumático, como alguns funcionários de Furnas acham que vão passar. Não. Por quê? Porque nós estamos nos preparando pra esse dia não é de hoje.
P1 – O que significou pra você... você já tinha imaginado que se tornaria o presidente?
R1 – Nunca! Eu sempre me dediquei muito, fui muito responsável, mas nunca pensei que eu chegaria aonde cheguei. É engraçado, né? A minha esposa é de Furnas e eu comento com ela: quando eu era estagiário, eu achava o máximo ser chefe de departamento. Nossa, eu olhei meu chefe de departamento, quando eu era estagiário: “Eu quero ser chefe de departamento”. E aí me tornei chefe de departamento, né? (risos) Aí eu falei assim: “Poxa, ser superintendente, bacana, é coisa ‘pra burro’, então eu quero ser superintendente” e aí me tornei superintendente, fui superintendente de finanças e superintendente de controle, aqui dentro da diretoria de finanças. E aí veio o convite pra ser diretor interino em 2016. Eu tomei um susto. E acho que fiz um bom trabalho. Por quê? Porque sempre que eu faço, tudo aquilo que eu faço na minha vida, e aí eu resgato o início da nossa conversa, meu pai e minha mãe sempre me ensinando, bastantes exigentes, dizendo: “Olha, faça tudo da melhor forma possível” e acho que fiz um bom trabalho em 2016, a ponto de ser reconhecido agora, em 2019. Então, eu acho que é o caminho natural daquele profissional que sempre se dedica, que faz as coisas da melhor maneira possível, e com inteligência emocional. Inteligência emocional é muito importante, em todo e qualquer setor que você trabalhe.
P1 – Quais seriam agora, quer dizer, esse período, os grandes desafios de inovação, em termos de energia? O que, na sua visão, Furnas vai ‘caminhar’ pra desenvolver?
R1 – Os desafios hoje, no setor elétrico, são imensos. Hoje você tem, no Brasil e no mundo inteiro, o empoderamento do consumidor. A nossa tendência é cada um de nós, consumidores finais, chegarmos em nossas residências, acendermos a luz e escolhermos de quem, de onde vem essa energia. Então, você tem um foco completamente diferente. Antigamente, você agia muito no atacado. Eu me lembro que quando eu era chefe de divisão, de faturamento, eu faturava treze, catorze empresas. Hoje em dia, você emite mais de mil notas fiscais dentro da companhia, você tem mais de mil clientes. E a tendência é cada vez mais a gente interagir e atuar junto ao consumidor final, consumidores industriais e vai chegar na hora do consumidor, hoje cativo, que não tem ainda essa possibilidade de escolher. Então, você imagina o que é pegar uma empresa do tamanho de Furnas, que tem modelos de negócios voltados hoje para o atacado e transformar essa empresa numa empresa de varejo. É um desafio enorme. Isso certamente vai impor alguns sacrifícios, novas tecnologias e, certamente, pra você corresponder a essa demanda, necessariamente tem que ser uma empresa privada, porque você vai ter que ter muita agilidade. Uma empresa estatal hoje não consegue, de forma alguma, acompanhar essas mudanças no setor elétrico.
P1 – Eu me lembro quando eu estive lá, eles me mostraram um pouco do crescimento da representatividade pro lado do setor da energia eólica, solar. Qual que é o caminho? Que Furnas tem uma grande expertise na área hidráulica. Isso representa o quê? Combinar novos modelos de criação de energia? Migrar? O que é?
R1 – Sim. Hoje você tem essas fontes, que a gente chama de intermitentes, que dão maior robustez ao setor elétrico, mas opinião minha: o Brasil tem uma vocação, é a energia hidráulica. Então, no meu ponto de vista a energia hidráulica estará sempre presente como a maior fonte de energia desse país. Acredito piamente que, quando tivermos um crescimento econômico sustentável, a fonte de energia hidráulica será fundamental para dar sustentabilidade a esse modelo de crescimento. E acho que isso faz parte de um amadurecimento regulatório no Brasil. Isso é outro grande desafio: termos um modelo regulatório mais desenvolvido, onde você tenha... trate todas as fontes energéticas, de tal forma que você tenha um ambiente propício para o desenvolvimento de cada uma delas. Isso, hoje, é um desafio no Brasil.
P1 – Por quê?
R1 – Porque quando você entra com uma fonte eólica, solar, você deixa de produzir uma fonte hidráulica. E quando você deixa de produzir uma fonte hidráulica, você tem, pelo modelo atual, uma penalização da energia hidráulica. Tanto que você pega, por exemplo, o plano decenal de expansão, você vê pouquíssimas hidrelétricas entrando no sistema. Isso, de alguma forma, precisa ser revisto, porque a nossa tradição ainda é - a fonte principal - a hidrelétrica. Então, eu não quero dizer, com isso, que eólicas e solares não são importantes. Eólicas, solares são importantes, gás, térmicas são importantes, mas eu acredito nessa vocação brasileira da energia hidráulica. Isso precisa ser aperfeiçoado, esse modelo regulatório e nós hoje, dirigentes da Eletrobras, vamos trabalhar nesse sentido de você ter, também, estímulos para o desenvolvimento de fontes hidráulicas.
P1 – ‘Caminhando’ pro final, antes da gente chegar à sua visão de futuro, sonhos, queria fazer uma pergunta mais... então entendi que você tem dois filhos, casou com uma pessoa de Furnas. Como foi a sua (risos) vida pessoal, ao longo dessa carreira toda?
R1 – Eu acho que sou tão apaixonado por essa empresa, que até a minha esposa é de Furnas. Então, eu conheci minha esposa no projeto de implantação do SAP e me casei depois de três anos de namoro e eu digo pra você: é muito bom eu ter a minha esposa, minha companheira, uma mulher que eu acho que não tem igual. Minha esposa é uma mulher extraordinária. É uma companheira, assim, de... e é muito bom tê-la ao meu lado. É uma mulher que sempre esteve ao meu lado. Uma mulher que tem... eu brinco até com ela que, se eu tivesse 50% da produtividade que ela tem, eu já estaria satisfeito, porque ela é mãe, dona de casa, uma profissional brilhante, extremamente respeitada no setor elétrico, esposa, filha. É algo impressionante! Ela levanta da cama e em quinze minutos ela está pronta pra sair de casa, pra correr. Quando ela volta da corrida, (risos) eu ainda estou tomando café da manhã, lendo o jornal, entendeu? E corrige o trabalho dos meninos, começa a trabalhar, volta, dá a orientação pra moça que trabalha lá em casa, cuida dos pais. É, assim, uma mulher extraordinária e eu tenho certeza que eu não chegaria aonde eu cheguei se eu não tivesse a minha esposa ao meu lado.
P1 – Como ela chama?
R1 – Fernanda.
P1 – E os seus filhos?
R1 – Meus filhos: Gabriel, catorze anos e a Júlia, com oito. São completamente diferentes um do outro. Um é muito mais introspectivo e a outra fala o dia inteiro. É muito extrovertida. Ela mesma fala: “Papai, eu não sei quem eu puxei”, porque eu sou mais tímido, muito mais introspectivo, a minha esposa também e ela fala o dia inteiro. E ela, assim: outro dia eu estava assistindo televisão com ela, tinha um anúncio na GloboNews dizendo assim, que a gente, em média, fala dezesseis mil palavras por dia. Ela olhou assim, pra mim, e falou: “Papai, eu acho que eu falo muito mais”. Eu falei: “Bem mais!”. (risos) Ai, ai. Mas, assim, é uma família muito unida. Eu tenho o privilégio de ter ainda pai e mãe vivos, então eu acho que é, realmente, muito bom a gente ter esse suporte dentro de casa. E eu tenho certeza que, quando a gente tem todo esse suporte, quando a gente tem esse tipo de integração da família, o resto tudo fica mais fácil, né?
P1 – Sim. Então, agora que nós estamos aqui, em 2022, com essa nova perspectiva, quais são as suas expectativas de futuro?
R1 – Eu sou sempre entusiasmado com aquilo que a gente tem pela frente. A gente tem grandes desafios, como eu disse aqui: acompanhar todo esse desenvolvimento tecnológico, toda essa transformação que a empresa necessita e a gente tem uma visão...
P1 – Tem uma visão construída?
R1 – Temos essa visão construída, de sermos uma das maiores empresas de energia elétrica sustentável, um lugar excelente pra se trabalhar, com respeito às pessoas, a toda e qualquer forma diferente de pensamento, as pessoas não são obrigadas a pensar da mesma forma. E isso me motiva muito [a] trabalhar numa empresa que tem esse tipo de visão. Eu costumo dizer que eu não preciso [de] programas de Recursos Humanos, de estímulo, pra de alguma forma ter um programa dentro da empresa pra ter um bom clima organizacional. Eu costumo dizer que o bom profissional... é claro que a empresa tem que ter isso, mas aquele profissional... eu sou um profissional que sempre me caracterizei por auto me estimular. E pra mim essa perspectiva é muito positiva, no sentido agora de poder estar fazendo parte dessa transformação dessa empresa, porque Furnas nunca deixará de ser Furnas. Eu costumo dizer que a ‘estrela’ de Furnas vai estar sempre presente, cravado no peito de cada furniano e isso nunca deixará de estar presente em nós.
P1 – O que é essa ‘estrela’? Qual o ‘tesouro’ de Furnas?
R1 – É esse valor, esse amor, esse pertencimento. Isso não vai mudar. E nas minhas andanças, a Ana vai comigo sempre, a gente recebeu o seguinte questionamento: “Mas antigamente o nosso símbolo era uma estrela. Hoje não mais, é esse...”. Eu falei assim: “E isso importa? Isso não importa. Esse sentimento de pertencimento, esse amor, está aqui dentro. Isso nunca vai mudar. Nós sempre seremos Furnas. Esse valor a gente nunca vai perder”. E esse valor que a gente tem que, cada vez mais, desenvolver, pra que a gente possa enfrentar todos esses desafios, que são enormes, e vencer mais um. Só vai ser mais um. Por quê? Porque nós somos a empresa que lá, em 1957, construiu uma usina de mil e duzentos megawatts. E esses desafios sempre estiveram presentes. E todos, sem exceção, foram vencidos. Isso é maravilhoso! Trabalhar num lugar desse é tudo que um profissional necessita pra ser realizado profissionalmente.
P1 – Pessoalmente, qual é o seu sonho? A gente falou de Furnas, pra onde vai. E o seu sonho?
R1 – Eu sonho, um dia, cumprir a minha etapa dentro da companhia e passar os valores que eu recebi, essa capacidade de me motivar pros meus filhos. É isso. É simples. Quando você é uma pessoa simples, é muito mais fácil você se realizar, ser feliz. Então, falam: “O que você quer na sua vida?” Quero isso: poder continuar produzindo, um dia esgotar e passar pros outros funcionários mais jovens toda essa motivação, esse sentimento que eu tenho, em relação a essa empresa. Só isso. Não preciso de mais nada, não.
P1 – Está ótimo! Muito obrigada!
R1 – Nada. Que isso, foi um prazer.
P2 – Obrigada!
P1 – Muito bom!
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