Entrevista de Andreia Alexandrino
Entrevistada por Luiza Gallo e Bruna Oliveira
São Paulo, 18/08/2021
Projeto Mulheres no Mercado Rodo-porto-ferroviário - Rumo Logística
Entrevista PCSH_HV1070
Realizado por: Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Giulianna Ramos
P/1 — Vamos lá! Andreia, para começar, queria que você começasse se apresentando, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R — Meu nome é Andreia Alexandrino, eu tenho quarenta e seis anos, nasci no Rio de Janeiro. Eu tenho dois filhos e um neto e sou operadora de empilhadeira de grande porte.
P/1 — E qual é a sua data de nascimento?
R — Doze de fevereiro de 1975.
P/1 — E quais os nomes dos seus pais?
R — Abigail Alexandrino e Adonai Alexandrino.
P/1 — E no que eles trabalharam, ao longo da vida?
R — Bom, o meu pai era operador de pá-carregadeira, operador de máquina também e minha mãe é cozinheira, foi cozinheira, trabalhou nesse ramo.
P/1 — E como os você descreveria?
R — Ah, meus pais são pessoas batalhadoras, dos quais eu tenho muito orgulho. Até me emociono de falar (choro). Minha mãe é muito batalhadora, sempre correndo atrás, trabalhando muito e meu pai também, operador de pá-carregadeira, sempre nessa área. E eu tenho muito orgulho dele, ele sempre se sobressaía no trabalho dele, muito bem reconhecido. Eu tenho muito orgulho, mesmo, da história deles. E eles, até hoje, apesar da idade já que eles estão, estão totalmente bem-dispostos, me ajudam muito. É uma força, que não dá pra entender. É uma garra que eu quero muito pra mim isso também (risos).
P/1 — E você sabe como eles se conheceram?
R — Eles se conheceram... o meu pai, como ele trabalhava com máquina, ele fazia terraplanagem, construindo túneis, estradas, então ele viajava muito. E minha mãe trabalhava em um restaurante, em Santa Catarina. Ela era cozinheira em uma churrascaria. E ele estava fazendo uma estrada lá e eles pegaram...
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Entrevistada por Luiza Gallo e Bruna Oliveira
São Paulo, 18/08/2021
Projeto Mulheres no Mercado Rodo-porto-ferroviário - Rumo Logística
Entrevista PCSH_HV1070
Realizado por: Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Giulianna Ramos
P/1 — Vamos lá! Andreia, para começar, queria que você começasse se apresentando, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R — Meu nome é Andreia Alexandrino, eu tenho quarenta e seis anos, nasci no Rio de Janeiro. Eu tenho dois filhos e um neto e sou operadora de empilhadeira de grande porte.
P/1 — E qual é a sua data de nascimento?
R — Doze de fevereiro de 1975.
P/1 — E quais os nomes dos seus pais?
R — Abigail Alexandrino e Adonai Alexandrino.
P/1 — E no que eles trabalharam, ao longo da vida?
R — Bom, o meu pai era operador de pá-carregadeira, operador de máquina também e minha mãe é cozinheira, foi cozinheira, trabalhou nesse ramo.
P/1 — E como os você descreveria?
R — Ah, meus pais são pessoas batalhadoras, dos quais eu tenho muito orgulho. Até me emociono de falar (choro). Minha mãe é muito batalhadora, sempre correndo atrás, trabalhando muito e meu pai também, operador de pá-carregadeira, sempre nessa área. E eu tenho muito orgulho dele, ele sempre se sobressaía no trabalho dele, muito bem reconhecido. Eu tenho muito orgulho, mesmo, da história deles. E eles, até hoje, apesar da idade já que eles estão, estão totalmente bem-dispostos, me ajudam muito. É uma força, que não dá pra entender. É uma garra que eu quero muito pra mim isso também (risos).
P/1 — E você sabe como eles se conheceram?
R — Eles se conheceram... o meu pai, como ele trabalhava com máquina, ele fazia terraplanagem, construindo túneis, estradas, então ele viajava muito. E minha mãe trabalhava em um restaurante, em Santa Catarina. Ela era cozinheira em uma churrascaria. E ele estava fazendo uma estrada lá e eles pegaram e se conheceram ali e ela saiu lá de Santa Catarina e foi embora com ele, para o Rio de Janeiro. Aí eles se casaram e aí, de lá, meu pai... e lá eu nasci, nasci lá no Rio. E aí, por volta que eu tinha um aninho, um pouco mais de um ano, eles foram embora para Minas Gerais, onde meu pai foi fazer um trabalho lá e ficou por muito tempo lá e onde nasceu minha irmã. Minha irmã nasceu lá em Minas Gerais. (risos) E aí, ficou assim... depois nós fomos sempre morando em vários lugares. Até que a gente veio morar em Curitiba e, de Curitiba, nós viemos morar em Paranaguá, que daí meu pai parou um pouco de viajar, de trabalhar com máquina e veio trabalhar aqui em Paranaguá, porque eles montaram um restaurante e daí minha mãe, como era cozinheira, daí nós viemos embora. E aí foi onde meu pai parou de trabalhar com máquina. Mas parou um certo tempo, porque chegou aqui no porto, (risos) tem aquele monte de máquinas e ele retornou à sua atividade. Aí ele começou a trabalhar aqui também e trabalhou por vários anos aqui.
P/1 — E qual é o nome da sua irmã?
R — É Mariléia Alexandrino.
P/1 — E como foi a chegada dela, pra você?
R — Ah, foi tenso (risos). Eu não ficava muito à vontade, eu tinha ciúmes. Mas eu tinha muito ciúmes, só que depois, com o tempo, hoje somos amigas, nossa, inseparáveis. E ela é uma pessoa maravilhosa na minha vida.
P/1 — E você conhece um pouquinho da história dos seus avós? Você chegou a conhecê-los?
R — Então, a única pessoa que eu conheci foi minha avó. A minha avó, enquanto viva eles tinham fazenda, terras em Santa Catarina, eles faziam plantio de milho. Então, sempre na área... eles eram trabalhadores rurais. Meus avós por parte da minha mãe. Da parte do meu pai eu não conheci meus avós, eles faleceram cedo. E eles moravam no Rio de Janeiro, então eu não tenho assim... e também eu não tenho conhecimento, era mais tudo assim, da área rural, plantavam, eles viviam assim, dessa forma.
P/1 — E você sabe a história do seu nascimento?
R — Em que sentido?
P/1 — A preparação, se foi te contado algo sobre a preparação, o dia do seu nascimento mesmo, como foi escolhido o seu nome…
R — Ah, tá. Foi bem tenso o dia do meu nascimento porque, como os meus pais moravam no Rio de Janeiro, eu nasci na Quarta-Feira de Cinzas, no Rio de Janeiro. Aí, meu pai trabalhando, minha mãe sozinha em casa e precisava de um táxi, não tinha e aquela correria e imagina: Carnaval, Rio de Janeiro, aquilo está uma loucura, não tem nada, aí ela saiu correndo no táxi, (risos) com dores e aí o taxista falou: “Ah, não, a senhora está tendo filho, não vou te levar, não, senão vai sujar meu carro, eu tô cheio de trabalho”. Aí minha mãe falou assim: “Não, não tô, não. Só vou numa consulta”. E minha mãe se segurando, foi (risos) e chegou lá e aí que eu nasci. Mas foi assim, bem... sempre o meu aniversário é no Carnaval. E essa lembrança é o que eles contam do dia do meu nascimento.
P/1 — Então, seu pai chegou a tempo?
R — Ele chegou depois, conseguiu chegar (risos).
P/1 — E você sabe a história do seu nome, como foi escolhido?
R — O meu nome a minha mãe falou que era uma atriz de novela que estava passando na época e que ela gostou muito desse nome. E daí ela colocou (risos). E porque também era com a letra do nome do meu pai (risos). Aí ela colocou esse nome.
P/1 — E, Andreia, você lembra da casa e da rua, talvez não da primeira casa, que você era bem pequena, mas da sua segunda casa, você lembra como era a rua onde você morava?
R — Então, a casa que a gente morava era assim... que, como o meu pai trabalhava fazendo estradas, eles construíam e eram obras que demoravam anos. Então, eles faziam tipo uma vila cheia de casas iguais, onde as pessoas que trabalhavam na construção da estrada moravam com suas famílias. Não tinha assim... imagina, há cinquenta anos não tinha a estrutura que tem hoje. Então, eram construídas as casinhas e nós morávamos assim: eles pegavam um terreno, construíam as casas e nós morávamos ali. Nossos vizinhos eram as pessoas, todo mundo amigo, que trabalhavam juntos. Então, era dessa forma que a gente viveu muito tempo. Até mais tarde, quando a gente veio embora para Curitiba e que daí tinha casa fixa, daí era outra situação.
P/1 — Então, você passou a sua infância em Minas Gerais?
R — É, uma parte em Minas Gerais, aí depois - a maior parte - viemos embora para Curitiba. Aí ficamos um tempo lá em Curitiba, anos também, aí viemos para Paranaguá.
P/1 — E, pequenininha, quais eram as suas brincadeiras favoritas? Você lembra?
R — Ah, eu gostava de brincar de casinha, de boneca. Eu pegava todas as coisas da minha mãe, eu inventava a cozinha, a sala, tinha aquelas bonequinhas, não era a Barbie, era a Susi, que era uma imitação da Barbie, que era uma cabeçuda, mais feia. (risos) Eu achava a Barbie linda, mas era a Susi, eu tinha aquelas bonequinhas e a gente brincava dessa forma. E eu gostava também de brincar de carrinho. Eu gostava mais de carrinho, só que eu não tinha carrinho. E, naquele tempo, menino não brincava com menina. Não é que nem hoje, é diferente. Então, a gente não brincava... a menina brincava só de boneca, mas eu gostava de carrinho. E eu lembro que a gente tinha um carretel de linha daqueles antigos, acho que você nem vai lembrar, (risos) porque você é nova, um branquinho que o meu pai colocava um pedacinho de vela, um pauzinho e fazia... você dava uma cordinha e ele saía andando, aquele carretel de linha. Para mim aquilo lá era o meu carrinho, eu achava a coisa mais linda. E eu fazia carrinho de latinha, eu queria brincar de carrinho. (risos) Daí, era assim. Mas eu brinquei bastante também, brinquei com a minha irmã, muito. Eu tinha cachorro, eu gostava muito de bichinho, então eu brincava muito com o meu cachorro, ficava lá dentro da casinha dele. Nossa, era bem legal. E tinha muita criança naquele tempo. A gente podia brincar na rua. Eu ficava olhando os meninos brincar e eu queria brincar a brincadeira dos meninos, eu não queria ficar ali com as meninas, sabe? Só que não podia, naquele tempo. Se a mãe pegasse brincando as meninas com os meninos, dava o maior problema. Que era há cinquenta anos, faz tempo. Então, era assim. Mas foi bem legal, bem divertido.
P/1 — E, nessa época, você pensava com o que você queria trabalhar, no futuro? Tinha essa ideia ou era algo que não passava pela cabeça?
R — Então, não passava pela minha cabeça. Eu, naquele tempo, como eu gostava muito de cachorro, eu pensava assim: “Ah, eu quero ser veterinária. Ah, eu quero cuidar de bichinho, eu quero ser veterinária”. Eu tinha esse pensamento assim, quando eu era criança. E eu achava muito bonito violino. Aí eu pensei: um dia eu vou tocar violino e vou ser veterinária (risos). Não tinha nada a ver uma coisa com a outra (risos). Era esse o pensamento que eu tinha quando eu era criança, era essa a ideia.
P/1 — E qual a sua primeira lembrança da escola?
R — Escola? Ai, não é legal. (risos) Ah, acho que eu não vou colocar isso, porque vai ficar muito feio. (risos) A minha lembrança quando falava na escola, eu lembro quando eu era criança, no jardim, que eu fazia cocô na roupa. (risos) Era tenso, mas eu falei: “Acho que eu vou cortar”. Eu acho que não, essa não, mas eu fui sincera. (risos). Não, mas é... a escola foi normal. Tirando essa parte, depois, mais tarde, foi tranquilo, bem tranquilo.
P/1 — E você teve algum professor que tenha te marcado, ou professora, de alguma forma?
R — Ai, eu tenho. Eu tenho a professora Satie, ela era professora de Matemática. Ela era uma japonesa, nossa, ela era muito enorme. Ela tinha uma régua gigante e quem não fazia as coisas do jeito que ela queria ou estava com indisciplina, ela virava a régua e dava na mãozinha. Aquele tempo era o tempo da palmatória. Imagina, hoje, nos dias de hoje, isso seria... mas eu adorava a aula dela. Porque a gente prestava atenção, era um silêncio, era gostoso porque, apesar desse jeito que ela tinha, enérgico, ela era uma pessoa assim... o outro lado dela era muito legal, ela era muito atenciosa, muito carinhosa e a vontade de ensinar, de fazer com que a gente aprendesse, sobressaía muito. Por isso que eu fiquei apaixonada por Matemática, eu acho que por causa dela. Ela é uma pessoa assim que, quando fala em professora, é a que vem na minha memória. Eu nunca levei uma palmada daquela de régua (risos). Mas ela era uma pessoa excepcional. Uma professora que eu tenho muito orgulho. Hoje ela já não está mais entre nós, mas ela é uma pessoa que eu teria muito orgulho e uma vontade de abraçá-la hoje dia.
P/1 — E você lembra como ia para a escola? Qual era o caminho?
R — Eu ia a pé. Era um caminho longo, acho que dava um quilômetro e pouco, mas a gente ia a pé. E daí, quando, para voltar, meu pai buscava. Aí, na época, ele buscava de bicicleta. Ele tinha uma bicicleta assim, tinha um porta bagagem na frente, ele colocava a gente sentada ali e levava pra casa. Às vezes ele ia com o carro, quando o carro funcionava, (risos) aí ele ia com o carro, daí a gente (risos) morria de vergonha, porque o carro estava muito velhinho. (risos). Daí a gente... nada a ver. Ele ia buscar a gente na escola. Para ir a gente ia sozinha, mas voltar ele buscava, porque ele achava que a gente ficava muito cansada para voltar para casa. E quando ele tinha disponibilidade, que ele não estava trabalhando, ele ia buscar a gente.
P/1 — E quantos anos você tinha, quando vocês mudaram de cidade?
R — Olha, eu acho que, quando a gente veio para Curitiba, eu tinha uns sete anos. É, uns sete anos, mais ou menos, para Curitiba, daí a gente morou acho que uns três anos lá, daí viemos para Paranaguá.
P/1 — E você lembra dessa primeira mudança para Curitiba? Como foi esse processo? Como foi chegar num lugar novo?
R — Então, foi assim: minha mãe pegou, a gente veio, eu vim com a minha mãe primeiro e com a minha irmã. Na realidade, minha mãe foi embora de casa. (risos). Ela veio embora. E chegou em Curitiba, ela chegou na casa dos meus tios e falou assim, ela pensou: “Eu vou ficar aqui”. Só que daí meus tios, a minha tia falava assim: “Ai, essa mulher, quanto tempo ela vai ficar aqui? Não vai embora? Não vai embora?”. E minha mãe sentiu isso e ela achou que precisava sair. E, nesse meio tempo, ela foi na igreja com a minha avó e lá a minha avó contou: “Ah, a minha filha veio pra cá, visitar a gente”. Aí as pessoas da igreja falaram: “Ah, porque você não fica morando aqui?”. E tudo, ninguém sabia de nada. “A gente tem uma casa aqui na igreja e ela está vazia. A gente precisa de alguém que cuide da casa e cuide da igreja. Abre a igreja, faz a limpeza e mora nessa casa”. Aí a minha mãe falou assim: “Ah, eu vou ficar”. Aí a minha avó se surpreendeu: “Nossa, você vai ficar? Como assim?” “Não, eu vou ficar”. E minha mãe ficou. E ali a minha mãe ficou, já começou a trabalhar, já arrumou emprego também, fora dali. Daí meu pai ficou doido lá, pegou as coisas tudo lá, fez mudança e, quando a gente viu, ele chegou com tudo e veio embora. A gente nem sabia. Hoje que nós sabemos dessas coisas, mas eu não me recordo muito bem. Só lembro do meu pai chegando, a minha alegria do cachorro vindo, porque a minha coisa era o cachorro. O cachorro descendo do caminhão. (risos). Aí a gente veio, foi assim meio... tudo assim. Hoje em dia eu sei como foi, mas na época, não. Então, foi legal, meu pai chegou e trouxe tudo as nossas coisas e aí ele já foi trabalhar de máquina também, nessas empresas de cal. Foi trabalhar com pá-carregadeira, ali perto da gente. E voltou tudo ao normal. Foi assim, foi uma transição assim. Depois, quando a gente veio para cá, foi mais tranquilo.
P/1 — Mas em Curitiba você chegou a ir para a escola?
R — Fui. Mas acho que eu estudei dois anos lá. Estudei. Não tenho muita lembrança desse tempo. Sei que a escola era perto da minha casa, bem pertinho. E minha mãe até trabalhou na escola, chegou a trabalhar nessa escola.
P/1 — E a mudança para o Paranaguá, como que foi?
R — Então, foi algo novo, porque foi tudo diferente. Nós viemos para cá, a minha mãe e o meu pai vieram para trabalhar num restaurante que era do meu tio. E a gente chegou aqui e não entendia nada do que estava acontecendo, daí a gente estudava e os ajudava e trabalhava. Então, eu passei dessa parte da vida, eu passei mais trabalhando do que... brincar, dava pra brincar, mas muito pouco. Passei mais trabalhando, ajudando-os no restaurante. E até eu me casar, ali eu trabalhei junto com eles, no restaurante deles.
P/1 — E como era, novinha, trabalhar com os pais? E o que você fazia no restaurante?
R — Então, a gente ficava ali atendendo no balcão. De balconista, caixa, mais caixa, porque tinha funcionários. E também na cozinha. Eu gostava muito de ficar na cozinha, de ajudar minha mãe na cozinha. Era muito legal essa parte, eu aprendi muita coisa, foi muito legal. Eu fazia isso, ajudava meus pais com as compras. Quando eu tinha acho que uns quatorze anos a minha mãe precisou fazer uma cirurgia de emergência em Curitiba e eu fiquei no restaurante e eu assumi toda a cozinha sozinha. Eu tomei as rédeas, sabe? Eu fiquei assim três dias, eu tomei conta de tudo. E eu fiquei muito orgulhosa de mim, porque aí, quando a minha mãe chegou, eu falei assim: “Mãe, olha só o tanto que eu trabalhei! Olha o tanto de dinheiro que eu ganhei, eu consegui!” (risos). Ela ficou toda orgulhosa, tadinha, com pena de mim. A gente tinha as pessoas que ajudavam na cozinha e tudo, mas eu fiquei à frente, sabe? Isso é uma lembrança que eu tenho dessa época, muito legal. E isso deu muita força pra gente. Hoje em dia não tem tempo ruim. Você vai, corre atrás, batalha, você faz todas as suas coisas e foi muito bom, apesar... eu não brinquei tanto na minha infância, mas eu acho que foi tão gratificante, foi uma coisa que me edificou muito. Então, hoje em dia eu tenho muito orgulho dos meus pais, por ter me dado essa oportunidade de me transformar no que eu sou hoje, por causa dessa fase da minha vida. Uma coisa que eu tenho muito orgulho é isso.
P/1 — E como foi crescer nessa cidade? Como foi a transição de infância para juventude, para você?
R — A transição foi assim... não teve. Porque eu praticamente só trabalhava. Então, não teve assim: ah, hoje eu tô na infância e aí daqui a pouco eu vou para a adolescência, eu vou fazer as mesmas coisas que as meninas faziam. Era assim, praticamente: estudar e trabalhar. Então, era bem desse jeito. E até que eu peguei, depois de um tempo, eu acho que tinha uns dezoito anos, foi quando eu casei, que daí eu fui embora. Daí ficou só a minha irmã com os meus pais, daí a história mudou totalmente. Mudou totalmente a minha vida.
P/1 — Como que mudou? Como foi essa época? Como você o conheceu?
R — Então, eu o conheci porque ele frequentava o restaurante dos meus pais e daí a gente se conheceu. Ele morava no Rio Grande do Sul e aí a gente pegou e acabou casando, a gente fez um casamento bem lindo, casei de noiva, foi bem legal. E aí nós casamos e eu fui embora para o Rio Grande do Sul. (risos). A gente foi para o Rio Grande do Sul e lá nasceu o meu primeiro filho, o Aron e a gente morou lá por uns dois anos. Aí, depois desse tempo, nós viemos embora para Paranaguá, porque lá é muito frio, lá no Rio Grande do Sul. E é longe de tudo, da minha mãe, da minha família. E a gente veio embora, veio morar em Paranaguá novamente. Foi onde nasceu o meu outro filho, o André.
P/1 — E como foi se tornar mãe? O que a maternidade representou, para você?
R — Nossa, foi uma coisa maravilhosa na minha vida, uma sensação indescritível. E é o que dá força pra gente, nos momentos difíceis que eu passei nessa época, era a minha alegria. Os meus filhos são pessoas abençoadas, desde a hora que nasceram. Muito queridos, crianças excepcionais, maravilhosas. Então, pra mim foi uma dádiva, uma coisa muito maravilhosa na minha vida. Eu tenho muito orgulho dos meus filhos. Eles são... nossa, a maternidade me fez muito bem. Se fosse em outros tempos, acho que eu teria uns dez filhos. (risos). Foi muito bom.
P/1 — E como foi o desenrolar? Você trabalhava, nessa época? Você cuidava dos seus filhos? Cuidava da casa? Como era?
R — Então, eu viajava muito com ele, de caminhão, porque ele tinha caminhão e a gente viajava bastante. Então, a gente praticamente não ficava em casa. Era viajando, pelo nordeste todo, pelo Brasil todo, de caminhão. Foi onde eu comecei a pegar e dirigir o caminhão também. E eu comecei a achar legal isso de dirigir e eu tinha planos, assim: “Bom, acho que eu quero isso pra mim”. Eu achei legal aquele caminhão, dirigir. Eu achava muito legal. As crianças também gostavam muito. Então, eu praticamente passava a maior parte do tempo viajando. Eu ficava muito pouco em casa. E depois, com o tempo, foi passando e eu não trabalhava fora, porque ele não me deixava trabalhar fora mesmo. É que antigamente tinha aquela... era assim: mulher não trabalha fora. Tinha isso antigamente, mulher não trabalhava fora e até o mercado de trabalho era bem restrito. Isso que tem hoje em dia, nossa, foi uma mudança, que eu falo que, nossa, precisava muito. Nós éramos assim: casou, você vai cuidar da tua casa, dos seus filhos e só. Não tem que trabalhar fora. Mulher não trabalha fora. Você vê, hoje em dia se você falar isso é até... hoje em dia todo mundo trabalha. Então, eu não trabalhava fora, eu só ficava com os meninos e cuidava assim da casa, dos meninos e a gente passava a maior parte do tempo viajando.
P/1 — Como eram essas viagens? Você lembra da sensação das primeiras vezes que você dirigiu o caminhão?
R — Ah, era legal. Eu via que, quando eu pegava pra dirigir, porque a gente viajava muito sertão, muito nordeste, aquela estrada que não tem fim, não tem nada, só tem cacto, não tem nem mato. Tem só espinho no meio do mato, um jegue lá, uma vez ou outra. Passava um carro por você, meu, eu pegava e gritava. Quando passava alguém de caminhão, todo mundo buzinava, sabe, que via que era uma mulher e aí outros carros que ultrapassavam. Eu achava legal aquilo, aquela sensação de eu estar... quem vê parecia que era eu que estava dirigindo até nos lugares mais movimentados, mas era só ali mesmo. (risos) Mas eu ficava muito feliz, com uma sensação boa, eu tenho ótimas lembranças.
P/1 — E tem alguma história marcante dessa época, de alguma viagem?
R — Foram tantas viagens que olha... ah, o que marcou assim são os lugares bonitos que a gente passa, que a gente conhece. É aquele negócio de você pegar e você estar num lugar, você estar lá no Recife, você estar em Maceió, você pegar e encostar e dormir assim, de frente para o mar. Assim, num lugar que você queria. E quando a gente parava para fazer comida assim, principalmente no Mato Grosso, que tem aqueles rios maravilhosos ali perto do Pantanal, você passa perto daqueles rios lindos, nossa, água cristalina, você parar, eu abria a minha cozinha do caminhão e a gente fazia comida ali, as crianças brincando ali, na beirinha da água. Era legal, essa parte era legal. Tinha as outras coisas, as dificuldades, mas as partes legais eram, foram bem marcantes.
P/1 — E os seus filhos, então, cresceram, um pouco, tendo essa convivência com viagens, com novas paisagens?
R — Então, quando os meus filhos tinham... o Aron, que é o mais velho, tinha acho que três aninhos e o André tinha um ano e meio, eu me separei. Não deu mais certo, a gente se separou, aí eu fiquei sozinha, com os dois filhos. E nessa época eu me via como? Sozinha, com dois filhos e a minha carteira de trabalho em branco. Ela estava em branco. E eu procurando emprego, eu pensando assim... e aí eu procurava onde? Atendente de loja, porque como eu trabalhei com os meus pais no restaurante, eu sabia atender as pessoas. Eu tinha facilidade de... eu sabia atender, eu sabia trabalhar, eu não tinha nada comprovado em carteira, mas eu sabia trabalhar. E eu sabia cozinhar. Então, o que eu fui? Primeiro eu fui para a área de atendente, assim: eu vou trabalhar em loja. A primeira coisa, porque eu tinha dois filhos. Daí, depois, não conseguia, porque tudo tem que ter experiência. Hoje em dia não, hoje em dia o recrutamento pede experiência, mas as empresas contratam e te dão treinamento. Algumas. Então, mudou um pouco isso daí, essa dinâmica de emprego. Antigamente, não. Experiência comprovada de três anos. Eu não conseguia emprego nem temporário, nada, nada, nada, nada. Uma coisa de caixa de mercado, eu não conseguia nada. Aí eu peguei e comecei a trabalhar como diarista, porque foi a única coisa que me restou. E eu comecei a trabalhar de diarista, aí eu trabalhava a semana toda de diarista e depois, com o tempo, eu fiquei, nos finais de semana, eu trabalhava no salão perto da minha casa, de manicure. Comecei a trabalhar em salão, porque eu fui cortar o cabelo dos meus filhos e a mulher do salão falou assim para a outra, que estava cortando o cabelo, que precisava de uma manicure para o final de semana, porque ela estava sem. E eu, ouvindo a conversa, eu sabia fazer unha, mas eu não era manicure, falei pra ela assim: “Eu sou manicure, só que eu só tenho disponível sexta-feira e sábado”. Ela falou: “Ah, você é manicure? Você vai me salvar. Pode vir amanhã?” Eu falei: “Posso”. E aí eu peguei e fiquei toda feliz, porque aí eu já tinha minhas diárias da semana e sexta-feira e sábado eu ia entrar no salão. O que aconteceu? Eu peguei e fui trabalhar. Na hora que eu cheguei lá no salão ela falou assim pra mim: “Ai, que bom que você veio! Você trouxe o teu material?” Eu falei: “Ahn? Não, eu não trouxe, porque você tem aqui no salão e aí eu não preciso trazer o meu, é muita coisa pra trazer”. Eu morava perto, mas era muita coisa, entende? (risos). Só que eu falei isso. E ela falou assim: “Ah, não, você pode usar o do meu salão, não tem problema, eu tenho tudo aqui”. Já me aliviou. Aí ela falou assim: “Ah, então para começar, vem aqui, que eu quero que você faça a minha unha, que eu quero ver como é que você faz”. Mulher, eu tremia assim. Eu comecei a fazer a unha dela, eu tremia, tremia. Aí ela falou assim: “Você não é manicure”. E eu falei assim: “Não, eu sei fazer unha, só que eu preciso muito”. Ela falou: “Ah, mas você não podia ter feito isso, porque agora eu tô com cliente marcada”. E eu falei: “Me perdoe, então eu vou embora”. E ela falou: “Não, você não vai embora, agora você vai fazer, porque elas estão vindo”. E daí eu fiquei e fiz a unha delas. Daí eu terminei tudo, fiz, nossa, demorei demais assim, aí fiz e fui embora. Chegou na hora de ir embora, ela me pagou e daí ela falou assim: “Oh, não precisa vir mais, porque eu preciso de uma pessoa experiente”. E eu fui embora. Só que, no outro dia de manhã, ela ligou pra mim e ela falou assim: “Ah, tem como você vir só hoje, porque eu tô muito apurada aqui, eu preciso”. Aí eu falei: “Claro que eu posso”. E eu fui. E aí ela me dispensou novamente. Aí eu comecei a semana, fiz minhas diárias e tudo, só que chegou no final de semana ela falou assim: “Ah, a moça gostou de você, mandou a prima, a irmã, mandou uma parente, que você tem muito carinho, faz com delicadeza”. Eu acho que por medo, por não ser experiente, eu fazia muito, bem devagar e elas gostaram. E ela pediu que eu voltasse. E aí eu fui tendo a minha clientela, fui aprendendo e eu fui ficando, trabalhando no salão e fazendo diárias. E aí a funcionária dela saiu, que fazia diária na casa dela e ela estava procurando uma diarista. E aí, o que eu fiz? Eu larguei os outros empregos, que eram longe da minha casa e fiquei ali. Aí eu trabalhava de manhã na casa dela e à tarde no salão. Fiquei num lugar só. E daí, lá no salão, eu comecei a fazer outras coisas também e a gente ficou muito amigas. E foi uma coisa muito legal. E daí, nesse tempo... estou muito longa? Foi nessa época que uma conhecida nossa falou assim: “Olha, tem um empresário na cidade que vai oferecer curso de operadora de empilhadeira de pequeno porte para mulheres. E as que se saírem melhor, vamos dizer, bem em tudo, vão ser efetivadas. É para trabalhar no porto”. Aí eu falei assim: “Nossa, que legal!” Eu peguei e fui atrás desse curso. Eu fui atrás do curso, falei com a minha patroa, ela me liberou para fazer esse curso num tempo à tarde que eu tinha e eu comecei a fazer esse curso de empilhadeira. E eu fui uma das selecionadas para o primeiro emprego lá. Eu e mais outras meninas. E daí foi onde eu comecei a trabalhar, com empilhadeira pequena. Eu e as outras meninas. E aí foi passando e eu saí desse emprego que eu tinha, do salão, eu saí de lá e fiquei só na empilhadeira. E, nesse tempo, ele gostou tanto, deu super certo e ele acabou contratando mais meninas, todo mundo. Ele começou a contratar e a gente foi ficando famosa. (risos) E a gente foi trabalhando e foi abrindo portas, abrindo portas e outra empresa grande também, na época, pegou e falou assim: “Nossa, eu quero as outras meninas que sobrarem lá, eu quero também”. E acabou que todo mundo que tinha interesse foi trabalhar nessa área e o curso bombou. Foi muita menina, fez muita coisa e abriu muita porta, nessa época. Tenho uma imensa gratidão pelo senhor Wilson Gourne, inclusive. Gratidão eterna por ele. Hoje, se eu sou a pessoa que sou hoje, foi graças a oportunidade que ele deu a mim e à muitas meninas também, naquela época. Umas hoje trabalham ainda com empilhadeira de grande porte, outras com outros equipamentos. Ele foi um precursor, uma pessoa maravilhosa, que tenho a maior gratidão, sabe? E eu comecei a trabalhar ali e eu trabalhei uns cinco anos ali, mais ou menos e eu recebi uma oferta de trabalho do Terminal de Containers de Paranaguá. Então, eles falaram: “A gente quer ter essa experiência também”. Porque estava dando muito certo, estava sendo assim... estavam falando muito. E eles: “Assim, a gente não tem nenhuma operadora aqui no terminal, então a gente quer fazer uma experiência. Você quer vir trabalhar conosco?”. Aí eu falei assim: “Claro que eu quero! Eu vou, sim”. Aí eu conversei com o senhor Wilson, ele é uma pessoa maravilhosa, super entendeu, não queria que eu saísse de forma alguma, mas aí eu gostei, quando ele falou assim: “Vai, minha filha, vai, aprende e depois você volta pra gente. Aprende mais e volta”. Uma pessoa maravilhosa. E eu me desliguei dessa empresa e fui trabalhar no terminal e fui a primeira mulher a trabalhar lá no terminal. Aí, chegando lá, foi tudo assim, muito novo, eu vi aquele monte de container, nossa, é um terminal, é o maior terminal. Então, comecei a trabalhar com empilhadeira. Passou uns anos, acho que uns quatro anos ali, aí eles falaram assim pra mim... na realidade, foi assim: tinha promoções lá dentro, aí tinha promoção para você trabalhar no caminhão, puxando container dentro do terminal. E eu fiz minha inscrição para trabalhar no caminhão, porque eu já tinha aquela memória do caminhão e eu achava legal, então empilhadeira eu já estava ali realizada, empilhadeira pequenininha. Tinha trabalhado lá anos e depois ali, então eu queria uma coisa nova. E eu me inscrevi para essa vaga. Só que eu cheguei lá para me inscrever e falaram assim: “Tem que ter carteira ‘E’”. Eu falei assim: “Poxa, eu não tenho”. Daí eu estava saindo na porta e um menino falou assim: “Não, volta. O não você já tem. Tenta!” E eu tentei. Só que daí eu fui chamada. E aí, na hora do recrutamento lá, a moça me chamou: “Vem aqui, nossa primeira operadora de empilhadeira do terminal, agora você foi promovida. Parabéns! Vamos tirar uma foto. Nossa primeira operadora de reach stacker”. Eu falei: “Como assim? Eu fiz para o caminhão”. Ela disse assim: “Não, não é para o caminhão. É para ERS. É reach stacker, é empilhadeira grande porte”. Eu falei assim: “Não, eu não sei nem ligar aquela máquina. Eu tenho medo daquele container, eu não vou trabalhar com isso” “Não, mas a gente já fez a tua promoção, você tem que aceitar”. (risos) Eu falei: “Mas eu não sei trabalhar com aquilo” “Não, nós vamos te dar todo o treinamento. Vem um pessoal de São Paulo, você vai ser treinada”. Aí eu falei assim: “Ué, tá bom. E se eu não der conta?” “Ah não, você vai dar conta, sim”. Eu falei: “Ai, meu Deus”. Aí foi onde eu passei para máquina grande porte. Onde eu fiz todo o treinamento. Nossa, eu fiz inúmeros treinamentos, que a gente faz, conforme o passar dos anos, a gente vai fazendo. E eu comecei a trabalhar assim. Aí eu comecei a trabalhar, a gente fez os treinamentos e tudo, eu consegui operar, eu gostei muito. Daí eu comecei a operar máquina de vazios também e assim eu fui. Só que, antes de eu sair para máquina grande porte, eles já contrataram outras meninas, mais duas meninas, para ficar no meu lugar, na pequena. Aí, nesse meio tempo, quando eu entrei também para trabalhar na de pequeno porte, eles gostaram: “Pô, a gente gostou de mulher trabalhando aqui”. Aí eles abriram vagas pro caminhão, para mulheres. Então, tinha muitas amigas minhas que eram professores de autoescola, que tinham carteira “E” e elas começaram a trabalhar junto lá com a gente, no terminal. E foi uma explosão de gente, de mulheres trabalhando, foi bonito de ver todo mundo trabalhando. Aí tinha amigas minhas que fizeram o curso de pequeno porte também, que já estavam pegando máquina também grande porte no terminal que elas trabalhavam, já estavam com uma certa experiência e vieram também para o terminal, trabalhar. Abriu muito, muitas portas e tal. É um trabalho que eu tenho muito orgulho. Vai fazer, esse ano, acho que quinze anos que eu estou trabalhando já nesse terminal, desde a época que eu vim, eu tenho muita gratidão por eles. Inclusive meus filhos trabalham lá também. Então, eu tenho muito orgulho e gosto muito do que eu faço.
P/1 — Andreia, eu vou voltar só um pouquinho, mas aí a gente continua. Eu queria saber só como foi esse momento em que você trabalhava como diarista e no salão, como foi para você começar a ganhar dinheiro e conseguir se bancar e sustentar seus filhos. Como foi esse momento, pra você?
R — Então, foi uma época bem desafiadora. Porque eu saí de uma situação totalmente estável e você se vê sozinha, com dois filhos. Nossa, meu pais, minha irmã, foram cruciais. Eles foram as pessoas que me deram muito suporte, me ajudaram muito, muito mesmo, principalmente para ficar com eles para eu trabalhar, porque a gente era muito grudado, porque eu passava o meu tempo todo com meus filhos, me dedicando a eles e chegou uma hora que eu tinha que trabalhar. Eu tinha que trabalhar e tinha que prover o alimento. Então, o que eu fazia? Como eu trabalhava na casa e no salão, eu conseguia ter um salário, assim... não era pouco, mas ele dava, porque eu não pagava aluguel, a gente sempre teve casa própria, então para mim não ficava tão difícil, não tendo aluguel para pagar e tendo meus pais para cuidar dos meus filhos. E, olha, eu consegui. Eu consegui, graças a Deus. E daí, quando eu passei para empilhadeira, nossa, foi onde meu salário, daí, triplicou. Daí eu falei assim: “Nossa! Que bom”. Aí o meu salário ficou muito alto. E aí inventaram a tal da hora-extra para a pessoa. (risos) Aí a pessoa já não gosta quase de vender um pedacinho, aí existia a hora-extra, nossa, aí eu deslanchei. Foi onde eu consegui muitas coisas. Foi bem legal, porque eu vou falar pra você, não que não teve desafios, não teve momentos difíceis, teve sim, mas sempre assim, com muita fé que eu ia superar tudo. Eu sempre fui muito otimista, então isso foi uma coisa que me levou muito pra frente. Teve dificuldades, mas, graças a Deus, foram todas superadas, tudo passou, foi tudo bem.
P/1 — E quando você ficou sabendo desse curso, você já tinha pensado, em algum momento, em entrar de alguma forma no porto? Ou surgiu essa ideia? Como foi esse momento? Você logo foi atrás pra saber um pouco mais? Queria saber como foi esse primeiro momento e como foram as aulas, como era essa especialização?
R — Então, eu... como é eu vou te falar? O que eu tinha, naquela época, a oportunidade que eu tinha, era ali no salão. Então eu estava focada em ganhar dinheiro ali. O meu foco não era profissional. O foco era fazer dinheiro para sustentar meus filhos. Eu não tinha nada assim, profissional, em mente, eu não tinha. Eu ficava pegando as oportunidades que apareciam ali. Aí, quando apareceu a oportunidade do curso, eu já pensei: “É outra oportunidade que apareceu. Puxa, que legal trabalhar lá no porto. Trabalhar num armazém, que legal. Já pensou uma mulher dirigindo empilhadeira? Que coisa mais legal!” A minha mãe ficou louca: “Você está doida? Você vai trabalhar com aquilo? Aquilo é perigoso, naquele porto, vai cair uma coisa na tua cabeça”. Assim, sabe? (risos) E eu falei assim: “Ah, mãe, eu quero muito isso porque, para eu trabalhar com caminhão, eu preciso ir, eu tenho que pegar um caminhão e viajar com ele. Eu não posso”. Então, eu já tinha descartado essa possibilidade do caminhão. Eu sabia dirigir ali, mas como que eu ia fazer isso? Não tinha como. Para eu trabalhar na estrada, eu tinha que ir para a estrada, não tinha condições. Aí a máquina não, eu ia trabalhar aqui na cidade e eu, nossa, fui mesmo com aquele brilho no olhar e aquela vontade enorme. Eu fui e aí chegou lá, as aulas eram num armazém e era assim: você fez a aula teórica, aí você ia para a aula prática. A aula prática era assim, tipo trinta minutos cada menina, por dia. Só trinta minutos. Aí tinha muitas meninas que trabalhavam no comércio, elas não tinham tempo de ir à tarde, elas não tinham tempo de ir no treinamento. Aí, o primeiro dia que eu fui, eu vi que eu fiz e o instrutor falou assim pra mim: “Quer ficar mais meia hora? Porque as meninas não...”... iam poucas meninas, de dez que estavam fazendo o curso, umas cinco iam, umas três, porque não tinham tempo. Eu falei: “Eu quero”, no primeiro dia, daí já me acendeu uma luzinha. Aí chegou no outro dia, eu falei para a dona do salão assim... como eu ficava, às vezes tinha unha pra fazer, às vezes não tinha, eu ficava um pouco ociosa durante o dia, porque salão é mais final de semana, eu pedi pra ela assim: “Posso ir à tarde e ficar lá treinando? O dia que tiver cliente, eu fico”. Aí, ao invés da máquina ficar lá parada e eu parada lá no salão, eu ia para o armazém e ficava pegando a máquina. (risos) E ficava e pegava e fui pegando. Aí, quando foi o dia da prova, a minha nota foi nove e meio, porque eu esqueci de apagar a luz da máquina. Aí eu fiquei com uma raiva, porque foi uma das notas maiores, que eu tive e daí foi por isso que eu consegui o emprego. E aí eu me dedicava totalmente. Foi uma coisa maravilhosa, foi tudo novidade e você trabalhava no armazém, era tudo muito novo. Nossa, é legal pra caramba, assim, é outra visão que se tem. Aí, a gente saía dos armazéns e, às vezes, ia no porto. Nossa, quando eu ia trabalhar no porto, que eu via aqueles navios, assim... e onde a gente passa de máquina, mulher assim, todo mundo fica olhando, batendo foto. Eu gostava, assim. Aí a gente até fez na época muita entrevista, saiu em jornal, foi bem legal dessa época. Então, foi uma época legal.
P/1 — Me conta isso, como foi para você chegar nesse lugar, ver essas máquinas, subir nelas? Como foi a sensação?
R — Então, você chega tremendo de medo, você sempre acompanhada com alguém, com outro operador, aí você sobe na máquina e fala: “Meu Deus”. E aí aquelas pilhas de - a gente trabalhava muito com pinus – pinus, da altura de um prédio de três andares aquelas pilhas enormes e você tinha que tirar o fardo lá de cima, para fazer a unitização, que é unir para ir para o navio, então era desafiador. Eles tiravam o fardo, trabalhava, movimentava, descarregava caminhões. Nossa, foi bem desafiador mesmo, mas era legal, era tudo novidade. E depois, com o tempo, já, com os anos que eu estava ali, eu fiquei recrutando meninas que iam entrar pra trabalhar, daí elas passavam por mim. Umas já tinham experiência em outros terminais, outras não. Aí eu é que via se as meninas chegavam e como é que elas... tinha gente que queria ir para o processo de seleção, tinha meninas que eu via que elas queriam ir só porque: “Ah, eu quero trabalhar com máquina, porque eu quero aparecer, porque está em alta”. E tinha aquelas que chegavam assim: “Eu quero trabalhar, eu quero aprender isso”. Assim, era outra motivação. Então, tudo isso a gente tinha que conversar muito com a pessoa, levar em conta. Aí tinha meninas que chegavam, que não queriam sujar a mão, queriam pegar: “Ai, se tinha uma luva” “Sim, então não dá pra você, filha, esse trabalho, porque aqui a gente vai ficar com a mão igual de borracheiro, mesmo. (risos) em óleo de máquina, é serviço assim: esquece que você tem cabelo, esquece que você tem pele, que aqui você vai trabalhar pesado. Não é um escritório, é um lugar de poeira. Aqui você vai trabalhar na chuva, vai trabalhar no sol, vai trabalhar de madrugada, vai passar a noite sem dormir, então, você vai trabalhar direto, então não dá pra ser assim. Claro, a gente vai trabalhar, a gente é mulher, a gente passa um batom, a gente arruma, mas é cabelo preso, porque... Então, você vai trabalhar e é assim que funciona”. Então, tinha uma menina que queria, tinha outras que já ali falavam assim: “Ai, não era assim que eu pensava”, já desistia. Mas foi legal essa fase assim, que as meninas que ficaram... deram conta e eu tenho orgulho dessas meninas. Queria até um dia, assim... algumas eu encontro, até. Outro dia encontrei uma amiga minha dessa época, que ela está inclusive trabalhando lá no terminal. Ela entrou agora, esse ano, a encontrei assim, numa casa e, meu, foi muito legal encontrar, depois de quatorze anos, encontrá-la foi bem legal.
P/1 — Andreia, como foi para você esse momento de entrar, de começar a trabalhar com empilhadeira? Você conseguia perceber... como você era recebida? Você percebia alguma diferença com os homens encontrando mulheres? Você percebia alguma coisa? Como era isso, essa novidade? Pra todos, acredito.
R — Era assim, no começo, quando a gente chegou, era assim: “Essas mulheres não vão dar conta. O que essas mulheres estão fazendo aqui?” Tipo tirando sarro, assim. Alguns vinham tentar ajudar. Outros já ficavam mais de lado, assim, não queriam saber. E teve assim, como quem diz assim: “Isso aí é temporário. Isso vai passar, isso não vai durar muito. Essas mulheres não vão dar conta. Pensa que é assim, ficar aqui em armazém?” Porque é assim: a gente chegou, num primeiro momento, com um uniforme novo, roupa nova, toda bonita pra trabalhar, cabelo solto, unha pintada. Parecia que estava indo... aquela botina horrível, mas a gente tinha que usar a botina. E a gente foi, chegou lá, os operadores, a maioria, todos sujinhos de pó, parecia assim... sabe? Todos sujos, encardidos, roupa suja, todo mundo assim. Eu falei assim: “Meu Deus, esses homens são todos sujos, vêm trabalhar e a mulher deles não lava a roupa deles”. Olha só o pensamento! Essa é a primeira impressão. Aí, você começa a trabalhar de empilhadeira e o cabelo começa a voar: “Meu Deus, como é que eu vou prender?” Já não tinha como prender, eu peguei uma caneta e enfiei assim no cabelo, quando eu tinha cabelo comprido. Aí, no outro dia, você já prende o cabelo. Aí você vê que a tua roupa já não volta pra casa do jeito que você veio, volta suja. Aí você pensa assim: “Pô, mas essa roupa que a gente trabalha é grossa. Se eu lavar, não vai secar”. Porque todo mundo dá dois uniformes para a pessoa. Acho que é para você usar três dias um e três dias o outro. É assim, né? Só pode, porque não tem lógica (risos). E é assim em todo lugar. Então, a gente chegou e falei: “Pô, vou ter que ir com esse aqui, mas está sujinho aqui”. E eu limpando, aquele cuidado todo e foi indo, foi indo e aí você vai trabalhar. E no outro dia você sai correndo, aí tua mão já começa a ficar igual mão de borracheiro, aí já descasca o esmalte, fica com aquela graxa na mão, aí você vai pegar a vareta do óleo e bate assim aquele óleo e não sai da mão. (risos) Aí, quando você vê, você fala assim: “Poxa, oh julgamento abençoado!” Você sai julgando a pessoa, aí você olha, assim... claro, a gente é mulher, é mais caprichosinha, mas você vê assim que, opa, não é fácil você querer ficar impecável num lugar assim, de tanta poeira. Às vezes a gente estava assim, passava um caminhão e vinha aquela poeira, que a gente não se enxergava mais um ao outro, aí a gente ficava com o olho preto, parecia que tinha passado lápis, mas era da poeira, de trabalhar na poeira, mesmo. Pô, isso aqui não é... olhei para os caras pensando assim: “Pô, isso aqui não é para... tem gente que não vai aguentar. Mas eu aguento sim, não tô nem aí”. E foi totalmente o contrário. As mulheres dominaram. E tanto é que elas foram ficando, tomando conta e eles que foram saindo fora. E a gente foi dando conta, sim e a gente chegava a fazer hora-extra também, aguentava, segurava as pontas. Até, inclusive, aconteceu uma situação, uma vez, a gente tinha embarque e era muito... o embarque, dependendo do navio que está, chegam muitos caminhões, rápido. Você tem que carregar rápido, não dá aquelas pausas. E geralmente usavam quatro empilhadeiras, para fazer esse serviço. E naquele dia ia ter embarque e estava só eu e a minha outra companheira de trabalho. Só nós duas. E eu até conversei com o meu encarregado, eu falei assim pra ele: “Vai ter esse navio específico...”, a gente já sabia que ele era assim. “Nossa, vai ter embarque desse navio e só está eu e ela aqui, não tem outro operador?” E aí ele fez assim: “Pra que mais dois, se vocês duas dão conta?” Aí eu falei: “Pô, tá louco, quer que a gente se mate?” “Que, vocês dão conta. Por que está reclamando? Não reclama”. Aí eu fiquei com uma raiva, sabe? Falei: “Meu Deus, a gente vai se matar aqui de trabalhar”. Aí depois eu fiquei pensando assim, eu cheguei à seguinte conclusão, estava conversando, eu e ela: “Nossa, meu Deus do céu, vamos se preparar que hoje...” E aí ela vem assim: “Pois é, né? Ninguém tem consideração com a gente”. E aí eu falei pra ela assim: “Ei, olha só, claro que não... Cara, só nós duas. Vamos arrepiar aqui. Olha só, só nós duas vamos dar conta. Você vê, tinha quatro marmanjos aqui, estamos só nós duas, vamos arrepiar, não vai faltar carga nesse navio”. Nós deixamos o coro lá, mas a gente deu conta. Eu tenho orgulho dessa passagem, desse dia. Eu lembro como se fosse hoje, eu tenho orgulho. Então, quando eu penso assim: “Eu tô sozinha”. Puxa, aqui era pra duas pessoas fazerem e eu tô fazendo sozinha, eu não penso mais dessa forma: “Estão me explorando, ou devia ter outras pessoas”. Não, é porque eu dou conta sozinha e eu me sinto orgulhosa disso. Não, eu dou conta. (risos) Então, isso aí é uma coisa que passou, que eu fiquei... que eu acho que, na vida, a gente tem que guardar as coisas, tentar ver sempre o lado positivo. Tem que guardar o que é bom. O que não é bom, a gente tem que dar área pra essas coisas (risos).
P/1 — E como funcionava mesmo, o seu trabalho?
R — O meu trabalho era, como eu te falei, a gente descarregava os pallets de pinus dos caminhões, alocava no armazém, aí uma determinada hora, tinha que fazer a unitização, que era unir os fardos com fitas e cintas e a gente empilhava todas as cargas que iam chegando no armazém, aí quando vinha esse trabalho de unitização para nossa equipe, nós tirávamos esses fardos, eram empilhados dez de altura, dez fardos, a gente tirava quatro por vez, ia unitizando e deixando num canto, tudo preparadinho, para quando tivesse esses embarques, daí a gente pegava essas cargas prontas, colocava no caminhão, para o caminhão levar para o porto, para o navio. Então, tinha várias equipes, tinha as meninas que descarregavam os caminhões que chegavam e tinha as equipes de unitização, que eram as que preparavam as cargas. A gente colocava as cargas ali, os auxiliares utilizavam essas cargas, aí, depois de prontas, nós pegávamos o fardo e colocávamos na pilha novamente, prontinha para o embarque do navio. Porque tem que ser colocado umas cintas nos fardos de madeira, para poder, lá no navio, na hora que o caminhão encosta embaixo do navio, eles engatam, os arrumadores, um gancho nessas fitas, erguem toda a carga do caminhão e colocam dentro do navio. Então, a gente fazia esse trabalho de descarga de caminhões e unitização, a preparação da carga para embarque no navio.
P/1 — E aí você fez o outro curso, para empilhadeiras de porte grande, ou você foi para o terminal de container? Perdi um pouco a ordem. Como foi o desenrolar?
R — Eu fui convidada para trabalhar no terminal de containers, na empilhadeira pequena. Lá o serviço era diferente. Lá a gente trabalhava com desova de containers. Mudou totalmente a área. Eu saí da madeira e fui trabalhar com containers. Lá a gente colocava a rampa no container e entrava dentro do container, para tirar a mercadoria. Então, são infinitas coisas: são caixas, são mercadorias palletizadas, são tambores de suco, que a gente engatava uns bicos na máquina, para tirar. Então, são infinitas mercadorias. Então, a gente tirava a carga de dentro do container, colocava no armazém e aí tinha dias que a gente ovava essa carga. Essa carga ia, feita a ova da carga. Às vezes descarregava caminhões de fora também, que traziam esses containers, a gente descarregava, para pôr em outro container, para embarcar no navio. Então, a gente fazia esse trabalho ali, com empilhadeira pequena, que tinha que ovar e desovar container. Mudou totalmente o meu trabalho. E a gente, claro, quando começa a trabalhar, a gente recebe treinamento, vê tudo certinho. Então, ali mudou um pouco o serviço. Daí era com containers.
P/1 — E como foi ter sido convidada para mudar aí para o terminal?
R — Então, foi uma surpresa, porque nós fazíamos, às vezes, uns trabalhos para o terminal. E, nessas vezes que a gente ia, não era sempre que ia mulher, depende o dia que estava o operador, o trabalho. E o encarregado que tinha no armazém, lá no terminal, começou a ver mulher e a gente começou a aparecer muito em jornais, na mídia, muito. Foi uma surpresa as pessoas gostavam de ver e foi dando muito certo. Então, por isso que ele começou a ver e eu ia mais lá no terminal. Então, ele acabou um dia que eu estava lá, ele foi até a mim e falou assim: “Você não tem vontade de trabalhar aqui, com a gente?” Aí eu falei assim: “Não. Eu gosto muito daqui onde eu tô, nossa”. E ele: “Mas você não tem vontade? Porque a gente tem vontade de tentar, uma mulher trabalhando no nosso terminal”. Aí eu peguei e fiquei com o telefone, com o número de telefone e eu amadureci a ideia e eu achei que ia ser bom para o meu crescimento e fazer coisas novas também e dentro da minha área. Aí você se sente reconhecida, sabe? Você se sente reconhecida. Pô, te dá um “up”. E foi onde a gente foi conversando e eu aceitei a proposta. Daí eu fiz a transição.
P/1 — E como foi, pra você, o que representa ter sido a pioneira nesse terminal? A primeira mulher a trabalhar.
R — Ah, eu sinto muito orgulho, sabe? E o que eu fiquei mais feliz foi da oportunidade que surgiu para outras mulheres também. Porque eu entrei na empilhadeira, só que as outras meninas estavam todas muito bem empregadas e não tinha vaga, muito, de emprego. E eu fui pra lá, só que o terminal, quando viu que deu certo a empilhadeira, a gestão do terminal naquela época falou assim: “Pô, que legal. Vamos tentar mulher no caminhão também?” Que tem tanta mulher que puxa container aqui, o que é legal. Quando eu vou descarregar uma mulher num caminhão, eu olho assim pra ela e ela fica me olhando. É uma troca assim: “Pô, que legal que ela está lá” e ela: “Pô, que legal”. É uma troca legal. Você gosta de ver. E o terminal se interessou em colocar mulheres também nos caminhões. Só que daí, para o caminhão, eles conseguiram muito mais mulheres. Então entrou muita, e eu fiquei muito orgulhosa, até me emociono aqui: o legal não é só você, é todo mundo, todo mundo ter a chance. Se você quer, você consegue. Não tem o que a gente não aprenda, nesse mundo. O que você quer, você aprende, você é capaz de tudo. Todo mundo tem a mesma capacidade, vai do teu querer. Então, eu achava muito bonito. Aí, quando eu saí, que eu fui promovida pra outra máquina, que daí veio uma moça pra treinar comigo, pra ficar no meu lugar, nossa, eu falei: “Que legal, vai ficar mais uma aqui”. E foi abrindo também pra outras meninas. E, nossa, eu tenho muito orgulho. Eu fico muito feliz, muito, muito, muito feliz por todas. Aí na máquina grande eu fiquei um tempo só eu. Hoje nós somos... chegamos a ficar em quatro operadoras. Quatro. Aí as outras também já foram promovidas, a outros equipamentos. Então, nós ficamos ali e então você se sente feliz, porque não entrou só você e ficou. Porque imagina, se eu tivesse entrado lá atrás pra trabalhar e eu tivesse saído e não entrou mais nenhuma mulher pra trabalhar? Assim: “Poxa, deu tudo errado. Não deu certo”. Mas deu certo e foi legal. O terminal abre oportunidades não só lá, como em todas as cidades, tem muita oportunidade para mulher. Quem quiser, nessa área, se especializar, procurar conhecer, tem oportunidade pra todo mundo. Tem vaga pra todo mundo que quiser.
P/1 — É legal, né? Porque você conseguiu ver de pertinho essa transição, desde o começo, a inserção de mulheres e hoje como que está. Tem tantas, essa mudança coletiva. E como foi pra você começar a trabalhar com máquina grande? Quais foram as diferenças e as dificuldades, os aprendizados? Como você se sentiu?
R — Tá. Eles falaram, no dia da minha promoção, que eu achei que era para o caminhão e era pra máquina, eu falei assim: “Não, mas eu queria para o caminhão”. Aí eu lembro que ela falou assim: “Não, mas você é da empilhadeira, então você tem que ir pra outra empilhadeira, maior”. Daí eu pensei e falei: “É verdade, tem lógica”. Só que, chegando lá, não tem nada a ver uma com a outra. (risos) Uma tem uma unha que você pega pallet e a outra você pega container. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Nada a ver. (risos) Eu saí da menina que coloca a carga dentro de um container, para aquela que vai tirar o container pronto da doca do armazém, para colocar numa pilha, que tem cinco containers empilhados, um em cima do outro. É altura pra caramba. Então, a minha perna tremia. Tinha vez que eu ia trabalhar com máquina de vazio, que eu estava assim, olhando pra cima, que estava sol, a nuvem passando e eu não sabia se a pilha de container estava vindo em cima de mim ou se era nuvem se mexendo. Então a perna tremia. Teve uma vez que eu pegava, (risos) chorava e falei: “Meu Deus, sua pilha está caindo”. Aí ia todo mundo lá correndo, de carro, ver o que estava acontecendo. “Não está, Andreia, pode puxar. A gente está olhando”. No começo, assim, sabe, porque... mas todo mundo ajudando, todo mundo sempre compreendendo todas as dificuldades. No começo eu peguei a máquina, no primeiro dia que eu peguei a máquina, eu nunca me esqueço, que eu saí andando com ela, ela parecia uma cobra, eu não conseguia fazê-la andar reto, porque ela é uma máquina totalmente hidráulica, a máquina grande. Ela é gigante. Ela tem acho que uns três metros de altura, eu lembro que é enorme. Então, o pneu é do meu tamanho. Então, para você girar aquele pneu, o volante dá mil voltas, então ele é muito molinho, você não está acostumado com aquele volante. Então, eu andava igual cobra: “Meu Deus, eu nunca vou conseguir andar com essa máquina reto”. E a máquina andava igual uma cobra. Hoje em dia você anda, vai embora, não tem isso, você pega o jeito. Mas foi bem assim... você passa um trabalho, você passa uns medinhos. Você pega uns containers altos, não tem como não tremer. Tem dia que chove, no dia que está chovendo, que você não enxerga nada, que embaça tudo. Cai óleo no vidro, você limpa e fica pior, você não enxerga. Para você pegar um container lá em cima, às vezes você pega um container e está com quase trinta e três toneladas, pesado pra caramba, aquilo chega, a máquina, mexer tudo. Então, todo dia você tem um desafio diferente. Todo dia você passa por situações assim. E a emoção de trabalhar num equipamento desse, nossa, eu vou falar uma coisa pra você: faz quinze anos que eu estou no terminal, faz acho que onze ou dez, dez anos que eu estou nessa máquina grande. E eu, até hoje, dá um frio na barriga, certas coisas que a gente vai fazer. Não pensa que a gente não... é que nem atriz de teatro, que diz que cada peça é uma sensação. E a gente também. Todo dia a gente está tendo... sente uma emoção, faz uma coisa. Todo dia é um desafio.
P/1 — E como é o final do dia, em um dia tão desafiador? Como você se sente?
R — Ah, eu tenho a sensação de dever cumprido. Eu trabalho naquela metodologia que eu tenho que fazer o meu melhor e deixar o melhor para quem está pegando o meu turno. Eu tenho que sempre pensar nessa dinâmica e sempre procurar fazer o meu melhor. De sair com o dever cumprido, pensando assim: “Pô, vai ficar tudo redondinho o serviço”. Cara, eu tenho muito orgulho do que eu faço. Eu tenho orgulho, dentro da máquina... sempre tem alguém olhando você, alguém de fora, trabalhando. Eu tenho orgulho demais. Por mim eu ficava só andando na rua, com aquela máquina (risos). É muito legal, eu gosto demais, demais mesmo. Eu me encontrei. Eu nunca pensei na minha vida que eu fosse trabalhar com aquela máquina. Então eu tenho muito orgulho do que eu faço e a hora que eu termino o meu trabalho, que eu olho para elas, todas encostadas, aquele monte de máquinas, eu fico bem orgulhosa, eu fico feliz, eu tenho muita gratidão.
P/1 — E, Andreia, você trabalha por turnos?
R — Trabalho. Eu tenho uma escala de trabalho, que é seis dias e folgo dois. Então, nesses seis dias, eu trabalho uma semana à tarde, que nem essa semana que eu estou trabalhando à tarde, depois eu vou para o turno da manhã, aí eu folgo dois dias, vou pro turno da manhã, folgo mais dois dias, aí trabalha de madrugada. Tem esse trabalho nesses três turnos, durante o mês todo.
P/1 — E como foi essa adaptação, pra você, em relação à sua casa, sua família, seus filhos e você, pessoalmente? Ter que pensar em que horas vai descansar, como foi se adaptar a isso?
R — Então, Luiza, como faz... vai fazer mais de vinte anos que eu estou nessa área. Então, não é só ali, no terminal, no outro lugar que eu trabalhava também, lá era seis por doze. Caía a hora que dava. Então, no começo você estranha, porque num dia você está dormindo de dia, para trabalhar de madrugada; no outro você está dormindo até tarde; e no outro dia você está trabalhando de manhã. Então dá uma bagunça, no começo, nossa, você fica... mas é assim. O trabalho portuário, o trabalho nessa área é assim. Não tem como ser diferente, ele não para, ele é vinte e quatro horas. Então, você tem que se adaptar, tem que se adaptar. Você tem que pôr na sua cabeça, tem que se adaptar. Então você não tem mais final de semana, você não tem feriado, não tem nada. Geralmente o final de semana que você está de folga, está chovendo. É assim, sabe? Não casam, as coisas, sabe? você vai acostumando e vai programando a sua vida. Tipo: eu quero um dia jantar fora, eu vou programar para um dia que eu estou trabalhando de manhã, entendeu? Eu quero fazer um almoço, vou almoçar com os amigos ou alguma coisa, eu programo para quando eu estou de madrugada. Então, você programa, acaba assim, não as programações vindo e você falando: “Ai, poxa, eu vou estar trabalhando”. Não. Você adapta a tua vida. “Ah, vamos fazer tal coisa, tal dia? Tal dia eu tô de folga. Ah, tal dia dá, porque eu tô na escala”. Então, você se programa. Então, a sua vida fica muito mais fácil, mais leve, quando você programa a tua rotina de trabalho. O trabalho não pode se adaptar à minha vida, eu que tenho que me adaptar ao meu trabalho. E eu fazendo isso fica mais leve, entendeu? Tudo casa, porque você se programa direitinho. Então, acaba assim, no meu caso, eu me acostumei bem, porque eu já trabalho com essa metodologia, de eu me adaptar ao meu trabalho. Então: “Ah, hoje eu vou lavar roupa, porque eu vou poder colocar no sol. A limpeza da casa eu vou fazer hoje, porque amanhã eu tô de folga e amanhã não quero fazer”. Porque eu faço outras coisinhas também, fora lá, (risos) então eu tenho sempre que casar os horários, arrumar tudo a minha rotina, mas eu, pra mim, é tranquilo essa parte. Não vejo como algo que me atrapalhe, eu consigo alternar certinho, arrumar certinho a questão de horário.
P/1 — E o que mais você faz?
R — (risos). Então, eu faço máscaras para vender (risos). Eu costuro, faço máscaras. Eu faço congelados. Eu faço... como eu trabalhei em salão e eu comecei a ver umas pedrinhas na mão das meninas, eu comecei a desenvolver “joias para unhas”, com cristais Swarovski, com adesivos. Eu faço joias próprias para unhas com as pedrarias certas. Aí, no meu tempo vago, que é a hora que eu estou em casa, eu me divido nessas atividades, no trabalho de casa e no serviço. É que nem eu falei pra você: eu gosto de vender (risos). Eu gosto de sempre estar fazendo alguma coisa, (risos) eu não me contento só em trabalhar lá e chegar em casa e ler um livro, fazer uma meditação, apesar de eu fazer essas coisas, ter tempo. Mas eu faço outras coisas também, porque eu gosto de ocupar bastante a minha cabeça (risos). Então, eu acabo fazendo esse tipo de coisa. Tem encomenda de máscaras, eu paro aquele dia, costuro, faço as máscaras. Aí paro um dia, faço os congelados. Aí parou o congelado, parou máscaras. Eu vou para as joias, termino as joias. Aí, o dia que junta todo mundo pra encomendar, a “véia” se desdobra em mil e dá conta (risos). Dá conta e a gente vai seguindo.
P/1 — Então me conta como o Covid, essa pandemia, afetou o seu trabalho, a sua rotina? Claro, aumentou o seu trabalho, por você fazer máscaras, mas como foi em todos os âmbitos da sua vida? Como afetou isso?
R — Olha, vou falar tudo. Então, o que aconteceu? O Covid começou aqui, pra nós, em março de 2020, final de fevereiro, começo de março, pra nós. A gente já ouvia falar em outros lugares, mas aqui ainda estava... assim, a gente começou já ir trabalhar de máscara, usar álcool nas mãos, a partir do final de fevereiro só, do ano passado, foi quando começou aqui a aparecer casos e tal. Quando chegou no final do mês de março, exatamente no dia vinte e quatro de março, eu sofri um acidente de trabalho. Eu estava trabalhando e estava trabalhando inclusive de madrugada e eu sofri uma queda da escada da máquina, eu escorreguei. E, nessa queda, como todas essas máquinas têm corrimão de um lado só, eu não tive outro apoio, eu escorreguei o pé, um apoiou o outro e o meu braço quebrou. Ele praticamente quase arrancou fora. Eu tive fraturas aqui, por fora, por dentro, rompeu o ligamento, tendão, cartilagem, sabe? Aí o osso rodou, nossa, foi horrível. E daí eu fui para o hospital e o médico falou assim: “Oh, a gente não vai pôr placa no teu braço, pino, nada agora, por causa da pandemia, não está fazendo cirurgia nenhuma”. Porque começou no final de fevereiro e, quando chegou no final de março, estava estourando a pandemia aqui. Estourou de uma vez assim. “Então, você vai pôr a tipoia, vai se cuidar em casa e a gente vai ver o que faz”. Só que aí o médico fez uma ressonância e falou pra mim que eu teria sim que fazer cirurgia, porque cartilagem rompida não cola mais. Aí eu tive de colocar quatro parafusos e duas âncoras. E, nesse tempo, eu perdi os movimentos do meu braço, do cotovelo para cima, eu perdi todos os movimentos. Ele não mexia, ele não mexia e eu me vi numa situação assim, que eu falei: “E agora? O que vai acontecer comigo?” E aí, eu com a tipoia e máscara, estourou máscara, encomenda, encomenda assim que, menina do céu, não tinha máscara pra vender. Não sei, você deve se recordar, não tinha máscara em lugar nenhum, estourou de máscara. Só que o meu braço, do cotovelo pra cima não mexia, só que do cotovelo pra baixo a minha mão mexia. Eu, de tipoia, aí como é a mão direita que faz tudo, a outra só apoia, eu me peguei em casa, veja na minha cabeça, comecei a fazer máscara, muita máscara. Eu ficava praticamente o dia inteiro costurando. Aí às vezes eu parava, porque o meu braço doía demais, com fratura e tudo e eu fazendo máscara e vendendo. Porque o Inss parou tudo e não fez perícia. No dia da minha perícia eu descobri isso, que o Inss tinha parado com perícia. Falei assim: “Como assim?” “Não tem. Você vai receber não o que você tem direito pelo Inss, você vai receber só um auxílio emergencial, de um salário-mínimo”. Eu falei: “Como assim? Como que vai... o que eu vou fazer sem salário?” Aí foi uma loucura. E daí, nesse meio tempo, eu fiz minha cirurgia. Aí eu tive de ficar parada, ficar um tempo sem costurar, dar todo aquele tempo. A hora que deu uma melhoradinha, eu já fui pra máquina. Aí comecei. Então, como sempre a minha mão direita fazia as coisas, eu conseguia fazer o designer das joias, fazer máscaras. Menina, foi o que me salvou, nessa pandemia. E daí eu ficava só em casa mesmo, só que daí eu tive que fazer fisioterapia, todos os dias. Aí eu tive que cortar o meu cabelo, oh, curtinho, porque o meu cabelo era lá nas costas. Eu não conseguia prender o meu cabelo, porque eu só tinha uma mão, eu perdi o movimento do braço, então eu tive que cortar o cabelo. Tudo isso aconteceu. Só que eu fui fazendo fisioterapia e eu chegava da fisioterapia e sentia dor. Só que eu olhava as pessoas que tinham assim, tipo, só uma lesão que eu tinha, eu tinha quatro e elas estavam com o braço parece engessado, elas não conseguiam mais ter movimentos. Eu falei: “Ai, Jesus, eu vou ficar com esse braço assim, que não pode erguer uma roupa, pentear um cabelo?” Ah, não, eu vou... a fisioterapia pedia pra fazer um e eu fazia três. Mandava eu puxar devagar e eu puxava... ia fazendo. Fui fazendo, fui forçando, forçando, forçando, forçando. Menina, fiquei um ano e dois meses afastada. Então, tipo, o tempo da pandemia eu fiquei todo em casa, fazendo máscaras pra vender e coisas, porque eu só praticamente fui receber depois que eu voltei a trabalhar quase, porque o Inss voltou, eu consegui fazer perícia, daí que voltou. E, para minha surpresa, quando eu fui agora em maio, fui na perícia e tudo, o médico achou que eu poderia voltar a trabalhar, mesmo com restrições, porque o meu médico não concordou, eu voltei. E a gente estava apreensivo. Inclusive a empresa me deu todo o suporte, para eu trabalhar no meu tempo, se eu sentisse qualquer coisa pra avisar, eles foram muito legais, nessa parte, me deram toda... eu achei assim que eu ia ter que ficar uns quinze dias assistida, com alguém e no segundo dia eu já peguei uma máquina sozinha. Eu falei assim: “Ah, eu quero ficar sozinha, para ver como que eu vou me desenvolver. Eu quero ficar sozinha”. E eu fui e, menina do céu, eu estou operando a duzentos por cento agora, já. Eu voltei ao normal, está tudo bem, nossa, eu me recuperei de uma forma que parece que eu nunca me acidentei, assim, sabe? Algumas coisinhas a gente sente. O que é normal, devido a lesão grave e irreversível que teve, mas eu estou a duzentos por cento, voltei a mil por hora, mais ainda disposta. Então, na pandemia, o que aconteceu foi isso: eu fiquei em casa. Aí fiquei ali, aí tem o meu netinho também, aí fiquei ali, meu neto por aqui, rodeando e fiquei em casa me cuidando, me recuperando, pra voltar legalzinha. Até peguei Covid também, tive Covid. Mesmo só em casa e indo na fisioterapia, eu acho que, não sei, a gente não tem como. Mas me recuperei super bem também. Então, a pandemia, eu perdi muitos amigos de trabalho, pessoas diretamente ligadas a mim, familiares. Então, o Covid foi bem... uma coisa que veio assim e que deixou umas marcas que a gente não vai esquecer nunca. Deixou muitas marcas. Teve positivas também na minha vida, principalmente na minha vida espiritual, no meu desenvolvimento humano e também nas partes... teve as partes difíceis também, mas também ela trouxe uma nova consciência. Foi muito legal, o que ela me trouxe de benefício no pós, para o meu interior, para a minha família, pra gente assim, como pessoa, teve uma grande lição, teve o seu lado bom também (risos).
P/1 — Atualmente você está recuperada, desse braço?
R — Estou recuperada. Estou recuperada e agora estou em transição. Eu fui ontem ao médico, depois que voltei a trabalhar, daí eu tenho, acho que daqui há um mês, eu volto novamente, pra gente ver. Mas a princípio está tudo bem, estou recuperada, estou trabalhando, está tudo duzentos por cento. Está tudo ótimo.
P/1 — E, Andreia, você falou que o seu pai trabalhou no porto, como empilhador também, é isso?
R — Não, o meu pai trabalhava com pá-carregadeira, com granéis.
P/1 — Pá-carregadeira.
R — Pá-carregadeira, na área de granéis. Ele fazia os embarques nos navios, lá dentro. Ele entrava com a máquina dentro do navio, para arrumar a carga de granéis dentro do navio. Trabalhava nos armazéns também. Ele fazia com pá-carregadeira, na área de granéis.
P/1 — Mas vocês chegaram a trocar experiências? Quando você era pequena você via, você acompanhava? Vocês tinham essa conversa ou não?
R — Então, quando eu era pequena, como... antigamente não tinha Segurança do Trabalho, não tinha normas, entende? A pessoa saía com aquela máquina daquele tamanho no meio da rua, não tinha essas coisas, (risos) não é que nem hoje em dia, porque hoje em dia é tudo diferente. Então, meu pai chegava e encostava a máquina na frente da casa. Eu entrava dentro daquela concha cheia de terra, eu subia naquela máquina e ficava mentindo que eu estava dirigindo. Aí, antes dele sair pra trabalhar, ele tinha que me colocar no colo e dar uma volta comigo, bater aquela concha, erguer, fazia isso aí tudo, pra eu não ficar chorando. Mas eu era safadinha, eu chorava porque... só para ele poder andar comigo. Eu fazia isso daí para ele poder me colocar na máquina, porque eu achava muito legal. E ficava mexendo naquelas alavancas, umas alavancas do meu tamanho era, sabe? E pisava naqueles pedais tudo lá. Olha, só não soltava o freio, porque era uma coisa emperrada, ruim, porque senão eu tinha soltado tudo (risos). Então, era assim, essa experiência que eu tinha. A gente via as máquinas trabalhando. Só que eu achava legal, eu, na minha consciência de criança, eu via como um brinquedo. Eu nunca pensei assim: “Um dia eu vou trabalhar com isso”. É estranho assim porque, eu não sei por que... é que antigamente a gente não tinha essa visão, a mulher não era feita pra o trabalho, então a gente era pra... não tinha essa visão de hoje em dia. Diferente do meu neto, que o meu neto não pode ver um caminhão passar na rua, não pode ver nada. Então, eles já crescem com aquela mentalidade, a gente não. Que nem o meu filho mais novo, ele falou, desde pequenininho: “Eu quero trabalhar com caminhão. Eu quero dirigir caminhão”. E eu: “Não, você vai estudar. Não vai trabalhar com caminhão, você vai estudar”, “Eu vou estudar, mas eu vou trabalhar com caminhão”, “Porque você não vai trabalhar com caminhão, sem ter faculdade”, “Eu faço faculdade, mas depois eu vou comprar um caminhão, vou trabalhar de caminhão”. Eu falei: “Ai, meu Deus”. E ele trabalha de caminhão, (risos) não teve jeito. Então, é diferente. No meu tempo eu não tinha esse pensamento, mas ele teve. Ele teve esse pensamento, ele queria muito, então é assim. Acho que de um tempo pra cá está diferente, hoje em dia as crianças se veem mais em profissões, não é que nem antes, que a gente só tinha cabeça pra brincar, a gente queria brincar, a gente não pensava em nada não, em trabalho, no que eu vou trabalhar. Hoje em dia não, as pessoas pensam assim: “Vai trabalhar no quê?” As pessoas já têm essa mentalidade. Não era assim, só pensava em brincar.
P/1 — E como foi contar pra sua família que você ia começar a trabalhar com empilhadeiras, com máquinas? Como foi para o seu pai, que ele, acho, já tinha alguma experiência? Mas como foi para a sua família, de uma maneira geral, essa notícia?
R — Então, o meu pai só chora. Ele chorava, ele só chorava, porque o meu pai é muito emotivo, sabe? Ele chora, chora: “Puxou o pai, mesmo. E vai ser boa, que nem o pai”. Ele falava. E a minha mãe não, a minha mãe é parte assim... aquela parte assim, que ela fala, a parte do cuidado que a gente tem como mãe assim, que ela fala assim: “Minha filha, isso é perigoso. Eu vi uma empilhadeira furar alguém, porque não sei o que, porque você vai passar por cima de alguém. Isso é perigoso. Ai, meu Deus, usa esse capacete, vai cair um negócio na tua cabeça”, a minha mãe. Aí, quando eu fui para a empilhadeira grande, de quatro containers, ela falou assim: “Meu Deus, aqueles containers vão cair em cima de você. Eu vi um acidente muito... vai cair, porque não sei o quê”. A minha mãe é a parte do medo, ela tem medo de acidente, de coisa. Mãe é aquela do casaquinho, quando o filho vai sair. Então, não adianta. O pai não, o pai já é a parte mais orgulhosa, aquele que fala assim... ele chora, você fala com ele, ele chora e me abraça, chora e abraça, sabe? Com o olhar ele transmite o que ele está pensando. Isso daí é bem legal dele. Então, a família... a minha irmã um dia foi me ver trabalhar dentro do pinus assim, ela foi me ver trabalhar e ela saiu correndo de lá. Ela falou: “Nunca mais eu venho nesse lugar. Nunca mais, pelo amor de Deus. Ai, eu não quero ver, não quero ver, não quero ver”. E daí, lá no terminal tem, todo ano, a visita da família no terminal, que eles colocam as pessoas num ônibus, as pessoas saem e veem o terminal, como que é o trabalho, os equipamentos também. Nossa, eles falam assim: “Meu Deus, não sei como é que você trabalha aqui dentro”. (risos) Mas é assim, mas eles gostam, sabe? A minha mãe é a medrosa. Todo dia eu vou sair e ela: “Ai, se cuida, se cuida”. Meu pai é o maior orgulho, meu pai, por mim, ele quer que eu trabalhe com uma coisa maior ainda. Então, é assim que eles encaram. Mas eles têm muito orgulho de mim.
P/1 — E seus filhos, entraram no porto? Eles trabalham no porto?
R — Então, meus filhos trabalham lá no terminal também. Eles começaram lá também, como auxiliar reefer, trabalhando na parte de reefer, os dois começaram. Aí, lá na empresa, conforme você vai se saindo melhor, tem feedback, você pode concorrer a outras vagas, em outros setores. Então, o meu filho mais velho, que foi o que entrou primeiro, teve assim um excelente feedback, se candidatou à outra vaga e daí ele foi pra vistoria, setor de vistorias, conseguiu essa vaga. E, mais pra frente também, ele se saiu bem no setor e ele novamente se inscreveu em outra vaga e hoje ele trabalha na área financeira do terminal. E o outro, o mais novo, também é auxiliar reefer, só que ele queria caminhão. (risos). Aí ele foi trabalhar lá e ele, que fez 21 anos, num dia, no outro ele já foi tirar a carteira e daí ele também já foi promovido. Está trabalhando no caminhão, lá também. Os dois trabalham lá.
P/1 — E você sabe, ou imagina, como surgiu essa vontade deles de trabalhar no terminal?
R — Então, como a TCP faz essa... a gente tem essa visita da família no terminal, eu sempre os levava. Era um dia que a gente gostava de ir, porque eles subiam na máquina que eu trabalhava, subiam nos caminhões, andavam pelo terminal de ônibus, viam navios. Lá é lindo, sabe? Você vê um navio, você vê imensidão daquele canal, naquele terminal, é a coisa mais linda. Então, eles começaram a ter aquela vontade de trabalhar lá. Os filhos querem meio que ir para onde os pais estão. Então, foi isso que aconteceu, devido a essas visitas no terminal, eles sentiram essa vontade de trabalhar lá.
P/1 — E hoje em dia vocês trocam experiências de trabalho, apesar de cada um estar em uma área? Vocês já chegaram a se encontrar lá dentro ou não?
R — Ah, já. Inclusive aqui, quando tem hora de almoço ou de janta, a gente só fala de serviço. (risos). Meu marido fala: “Meu Deus, vou ter que trabalhar lá, porque vocês só falam do serviço”. (risos) Porque o meu filho que trabalha no caminhão, nossa, no dia que eu voltei a trabalhar, depois do acidente, o dia que eu cheguei, que eu o carreguei, assim, eu peguei o container e carreguei no caminhão dele, nossa Senhora, sabe? Foi uma emoção, principalmente por eu ter voltado a trabalhar e para carregá-lo, descarregar. Quando ele está trabalhando, ele vem e daí dá uma risadinha pra mim. Ah, é muito legal. E o outro filho também, o outro é mais chique, trabalha na área financeira, (risos) o outro trabalha assim, administrativo e aí eu o encontro nas horas de almoço, no refeitório, sempre o encontro nesses momentos lá, porque como ele trabalha administrativo e eu operacional, são áreas totalmente diferentes. Então, ele é mais difícil de eu encontrar. Mas o outro eu encontro com mais frequência, porque trabalha no pátio, junto comigo. É bem legal a experiência, a gente conversa todo dia (risos).
P/1 — E, Andreia, como foi se tornar avó?
R — Olha, foi um susto. No começo eu falei assim: “Meu Deus, o que eu vou fazer?” (risos) Agora a minha vida é maravilhosa. Eu falei pra eles assim: “Ah, enche essa casa aí”. (risos) Ah, é maravilhoso, eu adorei, é uma experiência única. Nossa, eu... uma das coisas que me motivaram mais ainda, foi o meu neto. Ele é maravilhoso, eu adoro. Simplesmente é a minha vida, também.
P/1 — E hoje em dia, você é casada?
R — Eu sou casada.
P/1 — E como você conheceu o seu marido?
R — Meu marido eu conheci, a gente tinha um baile aqui na cidade, tipo anos setenta, uma vez por mês e, no dia que eu fui, tinha até falecido uma amiga minha. E daí, naquele tempo a gente não tinha assim, que nem hoje, o whatsapp e tudo, para avisar as pessoas e a gente tinha combinado de ir com ela nesse baile e com as outras amigas. Só que ela faleceu. Ela acabou falecendo, tipo umas sete horas da noite e não deu tempo de avisar ninguém. Não tinha como avisar, era só ligação. Não tinha essas coisas. Mensagem você não mandava mensagem para as pessoas, era só ligação. E daí, o que aconteceu? Eu, nesse dia, menina, eu estava tão triste, eu nem me arrumei, eu saí do jeito que eu estava e fui nesse baile, para avisar o pessoal que ela tinha falecido. Eu fui horrível. Eu cheguei lá, (risos) para você ter uma ideia, avisando todo mundo na maior tristeza, passa esse abençoado desse meu marido e fica me olhando. E eu peguei, eu ali conversando com as minhas amigas, daqui a pouco ele volta e me chamou pra dançar. Eu não queria dançar, mas eu fui. Só que ele é uma pessoa que foi me encantando, a gente foi dançando, foi ficando ali, aí a gente se conheceu nesse dia. Eu estava horrível, menina, eu não estava arrumada. Eu só fui lá, estava toda inchada o olho, sem maquiagem, pra contar que a minha amiga tinha falecido. Então, foi um dia bem triste. Aí eu o conheci dessa forma. Daí a gente foi se conhecendo, se conhecendo, foi indo, foi indo, foi em 2008. É, faz treze anos que a gente está junto, bem. Aí a gente se conheceu dessa forma. (risos).
P/1 — E, Andreia, quais foram os maiores aprendizados que você tira dessa sua trajetória profissional?
R — Eu acho que o aprendizado que a gente tira é que na dificuldade que você encontra inúmeras possibilidades e você encontra caminhos pra você vencer. Porque, se está tudo bem, você entra na sua zona de conforto e você não progride, você dá uma estacionada ali, porque é gostoso estar ali. Então, o que me fez hoje estar onde eu estou, conquistar o que eu conquistei, você sair de uma carteira em branco de trabalho, que não conseguia uma vaga de emprego, para chegar onde eu estou hoje, o que eu sou hoje, eu tive que... sem a dificuldade, eu não ia ter feito nada. Eu ia estar estacionada, eu ia estar naquela vidinha que eu tinha. Então... e também, você tem que ter muito, dentro de você, uma vontade de crescer, evoluir e procurar mais. Você está todos os dias aprendendo. Todos os dias. O conhecimento não ocupa espaço. Então, você tem que sempre estar evoluindo, procurando conhecer coisas novas, você tem que saber de tudo, um pouco. Às vezes você não precisa ser especialista em alguma coisa, mas você tem que saber de tudo, um pouco, na tua vida. Então, o que eu deixo assim para as pessoas é que sempre procure o teu melhor. Sempre dá o lado positivo para o teu negativo, porque você sai mais rápido dele. Se, às vezes, te dão uma tarefa, uma coisa pra você fazer, desafiadora, que você tem uma certa dificuldade, que você não gosta, pô, vai com fé, abençoa e você fala: “Eu vou terminar isso o mais rápido possível, da melhor forma, pra eu sair daqui, pra vir uma coisa legal. Pra daqui a pouco ter alguma coisa mais legal pra fazer”. Na dificuldade você encontra inúmeras oportunidades e você tem que agarrá-las com as duas mãos e fazer isso se transformar em algo bom pra você e para as pessoas ao seu redor, porque você não é nada, você não é ninguém sozinho. Você depende das pessoas ao seu redor. É essa energia que te move, que te ajuda. Inclusive, quando a gente está com um amigo que não está legal, uma pessoa assim, procura ajudar, porque a energia das pessoas ao redor é muito importante. Então, é importante sempre a gente estar bem e levar o bem para as pessoas, passar o bem. E é na dificuldade que você encontra o caminho. Não pode olhar, você não pode focar na dificuldade, você tem que focar em resolver: “Como que eu vou resolver isso?” E não: “Ah, eu tô com esse problema”. Não. Focar em resolver e transformar isso, da melhor forma possível. E é isso que... eu não era assim, não, sabe? A vida que vai te encaminhando. Te encaminhando, mas aí tudo o que você quer, você consegue. Se você quer e luta, você consegue. Sem ação, não tem reação. Não adianta você querer algo e você não trabalhar pra isso. Você não vai ali meditar e a coisa vai cair na tua frente. É tudo ligado, uma coisa liga a outra. Então, a gente, às vezes, fica na zona de conforto, que é quentinho, é gostoso, mas a gente tem sempre que estar subindo um degrau acima. Sempre tem que estar evoluindo e, se você ficar ali acomodado, você não progride, você não vai pra frente. Sem os desafios você não... sem uma coisa pra desafiar você, você não vai (risos).
P/1 — E o que o Terminal do Paranaguá representa na sua história?
R — Representa muita coisa, principalmente na oportunidade que me foi dada, a confiança que me foi depositada. Em vários momentos da minha vida, várias épocas, várias situações que eu passei, tanto de problemas de saúde, problemas financeiros, todas as coisas que eu tive, eu sempre tive um apoio do terminal, em tudo, tudo, tudo o que se possa imaginar. Eu não tenho nada pra falar. Meus filhos trabalham lá também, eu tenho o maior orgulho. Eu tenho muita gratidão, nossa, eu, se eles ficarem comigo mais um pouquinho, eu fico alegre. (risos). Eu tenho, acho... eu entrei no terminal em 2006, eu entrei. A gente entrava por uma empresa terceirizada, eu fiquei um ano nessa terceirizada e já fui efetivada. Eu estou na casa vai fazer quinze ou dezesseis anos, eu não sei agora, faz as contas aí. Então, eu tenho muito orgulho, nossa. Eu vi que o terminal cresceu de uma forma, ele foi ampliado duas vezes, eu participei dessa ampliação, eu participei de tanta coisa ali, que hoje em dia eu olho e, nossa, é tudo diferente. É muito legal olhar pra trás e ver como era e como está hoje diferente. Pessoas que passaram por lá, que já não estão entre nós, amigos muito queridos. Fiz muitas amizades e faço todos os dias, porque todo dia entra gente nova. Então, na minha vida tem, faz parte da minha vida em todos os sentidos, em tudo. Eu tenho muita gratidão pelo terminal.
P/1 — E quais são os seus principais sonhos, hoje em dia?
R — Então, os principais sonhos... (risos) Como que eu vou dizer pra você? É .... como eu estou assim... ai, meu Deus, como que eu vou te explicar? Sonhos? Eu estou tão bem hoje em dia comigo mesma, com tudo. Quem sabe no terminal tem outras oportunidades, outros equipamentos mais pesados, maiores. Que eu já tive, com um pé lá para ser promovida, só que daí aconteceu essas coisas todas, eu fiquei afastada, acabei de retornar, não sei como vai ficar. Mas eu tenho vontade de operar equipamentos maiores e tenho também sonhos, que agora chega uma época da vida que você já não tem mais muito... não é que você não tenha sonhos, você pensa mais na tua aposentadoria. Pensa assim: “O que eu vou fazer daqui a uns anos?” Você já vai pensando, já vai... neto, aí você já quer comprar uma casinha numa ilha pra você ficar, fazer uma pousadinha, porque eu tenho que vender (risos). Tenho que fazer alguma coisa. Fazer uma pousadinha, ou você ter uma casa na praia. Você já pensa... os sonhos já vão ficando mais leves, você já vai pensando mais num descanso da sua vida. Já não fica aquela coisa, aquela pilha profissional, que tem os mais novos, aquela coisa. Você vai dando uma baixada na frequência. Não, o que vier, eu vou abraçar a minha oportunidade. Eu vou perto, fazer uma coisa nova. Mas em si, os sonhos vão ficando mais leves, você vai pensando mais numa forma de descanso futuro.
P/1 — A gente está encaminhando para o fim, mas eu ainda tenho umas últimas perguntas. Eu queria saber se você gostaria de acrescentar algo mais ou alguma história que não tenha instigado, ou deixar alguma mensagem.
R — Ai, agora... ai, agora me pegou (risos). Ah, eu queria deixar uma mensagem, e os meus parabéns, para todas as mulheres que conseguiram chegar onde chegaram até hoje. Eu tenho admiração por cada uma, independente da sua profissão. Eu tenho orgulho de você aqui estar me entrevistando. Porque é muito lindo ver a mulher em todas as áreas, em todas as áreas. Não só assim, onde eu trabalho, mas em tudo. É num jornal que você vai assistir, é numa entrevista, em vários setores. É muito legal a presença feminina, a mulher tem capacidade, ela tem o jeito, ela tem o carinho, ela tem uma forma diferenciada. Na nossa empresa tem muitas mulheres na gerência, na coordenação, nas operações, líderes, tem mulheres líderes. Nossa, é muito bonito de ver a mulher nesse caminho. Ver de onde eu saí, há quase vinte, há mais de vinte e cinco anos atrás, que eu tinha a minha carteira em branco, que era um tempo que marido não deixava a mulher trabalhar, aquela mentalidade e que hoje em dia todas as mulheres trabalham. Eu vejo a minha enteada, ela estudando, ela estuda de manhã, a tarde e à noite. Ela faz cursinho, ela se desdobra, meu, ela estuda, estuda, estuda. Daí eu fico pensando: as meninas hoje em dia já estudam, já trabalham pensando no seu futuro. Não é que nem antes, que a gente brincava e era criada para ser dona de casa. Então, o que aconteceu no meio do caminho, com as mulheres da minha idade: a gente saiu dessa transição, a gente fez essa transição de mulheres para cuidarem de casa, para profissionais. Nós fizemos essa transição aqui. Então, a gente tem as memórias de antes e de agora. Então, a gente é dona de casa e trabalha fora. Hoje em dia não, as meninas estudam e pensam na sua vida profissional. A maioria de hoje em dia, não que elas não saibam cozinhar, essas coisas, a mulher não está focada nisso, mais. Hoje em dia o mundo está diferente. Hoje em dia você não precisa estar cozinhando, você tem tudo, você tem toda uma estrutura, você pode pedir uma comida fora, você pode: “Hoje eu quero comer uma marmita”, você vai lá e compra. Você não precisa fazer almoço. Você estuda ou tem que estudar, ou eu tenho TCC para entregar. Você tem todo um trabalho profissional. A mulher, hoje em dia, pensa no lado profissional dela, ela não pensa mais na casa. A casa, hoje em dia, a gente tem muitas formas de administrar. Então, isso que a mulher conseguiu é muito legal. É um orgulho ver as mulheres estarem onde elas estão. E eu digo assim pra quem ainda não achou o seu caminho ou que está desmotivada: tenta, tenta do fundo do seu coração. Faz, vai atrás do que você quer. Porque, quando você quer uma coisa, olha, ninguém tira da tua cabeça e você consegue. Não adianta dizer que você não tem dinheiro para fazer curso, não tem dinheiro pra se especializar e não sei o quê. Você dá um jeito, você dá um jeito, você corre atrás e você consegue. Você consegue tudo o que você quiser.
P/1 — Andreia, o que você acha da proposta de mulheres que trabalham no mercado rodo-porto-ferroviário serem convidadas para contarem suas histórias de vida, em um projeto de memória como esse?
R — Ah, de extrema importância. Na área ferroviária eu nunca vi mulher. Eu tenho até curiosidade de ver. Na rodoviária você vê. Eu vejo, assim, aqui, porque é uma cidade que tem bastante caminhão, tem ônibus, a gente vê. Mas na área da ferroviária eu não vi ainda ninguém. Eu tenho vontade de conhecer, porque é um projeto muito legal. Porque vai expandir, vai expandir e vai levar as pessoas a um conhecimento que a gente está nessa área e vai abrir oportunidades para quem quer entrar nessa área, que elas têm vontade. Porque hoje em dia as mulheres estão, que nem eu falei pra você, na vida profissional, pensando mais na vida profissional e às vezes falta aquele gatilho. Eu tenho certeza que esse projeto vai trazer muitas novas profissionais, mas vai, com certeza. A rede ferroviária, pô, é uma área legal, diferente. Então, se você já está meio querendo ir pra essa área, você quer a área ferroviária, você tem oportunidade. Porque, se teve esse projeto, teve esse carinho de ter esse projeto, você pode ter certeza: oportunidade de emprego vai ter. Então, não é uma coisa que você investe e que você não tem um retorno. Você tem. Primeiro porque você é mulher, você tem o teu diferencial. E segundo, as empresas te dão oportunidade, te dão treinamento, porque ninguém nasce sabendo. Se alguém tem experiência, foi porque alguém pegou pela tua mão e te ensinou. Então, eu acho de extrema importância, porque vai abrir muitas portas para várias mulheres e eu achei um projeto incrível. Eu acho... fico até emocionada pelo reconhecimento e agradecer pelo reconhecimento de vocês nessas áreas.
P/1 — E, por fim, queria saber o que você achou de ter participado dessa entrevista, de ter dividido um pouco da sua história com a gente e de participar desse projeto? Como foi, pra você, essa experiência?
R — Eu achei incrível, eu fiquei muito feliz de ter sido lembrada e eu só tenho a agradecer a vocês. E eu estou bem curiosa para conhecer as outras meninas do projeto também, vou ver todas, porque eu estou muito curiosa. Você imagina, se a gente já fica curioso, a proporção de tudo isso. E a gente tem os amigos que trabalham conosco, outras meninas também e eu fico muito honrada de participar desse projeto, de fazer parte. Fiquei muito feliz mesmo, extremamente honrada e agradecida de participar desse projeto.
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