Na década de 1980, a infância era vivida com liberdade e poucos recursos. Por isso Eliane e seus quatro irmãos se divertiam com brinquedos, na maioria das vezes, confeccionados pelos pais. Tempos difíceis, mas de muita criatividade.
Eliane foi a primeira menina a nascer e seu nome foi escolhido pela mãe, mas muitos a conheciam como a filha do Zé Preto. Mesmo sendo menina, acompanhava o pai nas aventuras do campo. Caçar pacas era o passatempo preferido de ambos. Uma noite ficou gravada na memória dos dois, aquela em que o poleiro caiu e o bicho foi embora. Zé Preto ensinou que, para obter sucesso na captura do animal, era necessário concentração e calma. Porém, naquela noite, Eliane estava muito tensa e ofegante. Pra piorar, escolheram um galho fino demais para se pendurarem. Ambos caíram e gargalharam no escuro. Nesse e em muitos outros momentos, o pai retirava do bolso um pente cor-de-rosa e penteava o cabelo. Era um ritual, um tique que o deixava ainda mais engraçado.
O pai de Eliane também penteava os cabelos antes de tocar sanfona e enquanto contava seus causos. Penteava os cabelos com o pente cor-de-rosa para pensar e para falar. Era sua marca registrada!
O tempo passou e a menina que gostava de correr no mato cresceu. Casou-se aos 21 anos com o primeiro namorado, na igreja perto de casa. A família festejou na escola onde futuramente os recém-casados matriculariam os seus filhos. Zé Preto se emocionou, tocou sanfona e viola, enquanto a mãe Maria serviu quitutes bem mineiros na festa.
A última lembrança que tem do pai foi durante uma visita inesperada. Zé Preto chegou tocando viola e fazendo festa como sempre. Penteou os cabelos e entregou um envelope contendo um dinheiro destinado à compra de uma motocicleta para a filha. Ela soube que o pai vendeu uma vaca para ajudar a filha na compra do veículo.
Numa noite de inverno, Zé Preto dormiu e não acordou. A sanfona e a viola se calaram. O pente cor-de-rosa foi carinhosamente...
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Na década de 1980, a infância era vivida com liberdade e poucos recursos. Por isso Eliane e seus quatro irmãos se divertiam com brinquedos, na maioria das vezes, confeccionados pelos pais. Tempos difíceis, mas de muita criatividade.
Eliane foi a primeira menina a nascer e seu nome foi escolhido pela mãe, mas muitos a conheciam como a filha do Zé Preto. Mesmo sendo menina, acompanhava o pai nas aventuras do campo. Caçar pacas era o passatempo preferido de ambos. Uma noite ficou gravada na memória dos dois, aquela em que o poleiro caiu e o bicho foi embora. Zé Preto ensinou que, para obter sucesso na captura do animal, era necessário concentração e calma. Porém, naquela noite, Eliane estava muito tensa e ofegante. Pra piorar, escolheram um galho fino demais para se pendurarem. Ambos caíram e gargalharam no escuro. Nesse e em muitos outros momentos, o pai retirava do bolso um pente cor-de-rosa e penteava o cabelo. Era um ritual, um tique que o deixava ainda mais engraçado.
O pai de Eliane também penteava os cabelos antes de tocar sanfona e enquanto contava seus causos. Penteava os cabelos com o pente cor-de-rosa para pensar e para falar. Era sua marca registrada!
O tempo passou e a menina que gostava de correr no mato cresceu. Casou-se aos 21 anos com o primeiro namorado, na igreja perto de casa. A família festejou na escola onde futuramente os recém-casados matriculariam os seus filhos. Zé Preto se emocionou, tocou sanfona e viola, enquanto a mãe Maria serviu quitutes bem mineiros na festa.
A última lembrança que tem do pai foi durante uma visita inesperada. Zé Preto chegou tocando viola e fazendo festa como sempre. Penteou os cabelos e entregou um envelope contendo um dinheiro destinado à compra de uma motocicleta para a filha. Ela soube que o pai vendeu uma vaca para ajudar a filha na compra do veículo.
Numa noite de inverno, Zé Preto dormiu e não acordou. A sanfona e a viola se calaram. O pente cor-de-rosa foi carinhosamente guardado, mas ela ainda se apresenta com muito orgulho: “Sou a filha do Zé Preto”.
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