Projeto Memórias do Comércio de Bauru 2020-2021
Entrevista de Moisés Bastos
Entrevistado por Cláudia Leonor Oliveira e Luís Paulo Domingues
Bauru, 18 de fevereiro de 2021
Entrevista MC_HV013
Transcrito por Selma Paiva
P1 - ‘Seu’ Moisés, pra começar, eu gostaria que o senhor dissesse seu nome completo, a data de nascimento e o local que o senhor nasceu.
R1 – Bom dia! Moisés Bastos, 4 de agosto de 1964. Eu sou de agosto, o aniversário de Bauru é dia primeiro e eu nasci dia 4 de agosto de 1964, 56 anos e bauruense da gema.
P1 – Sei. E qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R1 – Meu pai é Moisés Terra Bastos e minha mãe Eunice Siqueira Bueno Bastos.
P1 – Legal. E os seus avós, o senhor os conheceu eles? Lembra deles, assim, o nome?
R1 – Conheci. Os avós por parte do meu pai é o João Fernandes Terra Bastos e minha vó é Maria Alice Terra Bastos. E por parte da minha mãe eu conheci a minha ‘vodrasta’, como diz, né? Gabriela, que a minha vó legítima faleceu muito jovem, acho que com vinte e poucos anos. E meu avô, Lázaro Pereira Bueno.
P1 – Legal. O senhor tem irmãos?
R1 – Tenho. Eu tenho três irmãs. Eu sou a ‘raspa do tacho’, como dizia antigamente, eu sou o caçula. Graças a Deus todas vivas, tá? Cada uma atua numa área: uma é professora, a outra é do lar e a outra também é do lar. Então, a gente tem muito vínculo, sabe? Conversa bastante. Eu tenho minha mamãe viva, a Dona Eunice - meu papai já se foi - com noventa anos de idade, está firme e forte.
P1 – Ai, que bom! E, só pra deixar registrado, o nome das suas três irmãs.
P1 – É Maria do Carmo, Maria José e Fátima.
P1 – Legal. E o senhor estava falando lá da sua origem portuguesa, né?
R1 – Perfeito.
P1 – O que o senhor sabe da origem da sua família? Como eles vieram de Portugal pra cá? Pra onde que eles vieram, antes de vir pra Bauru? O senhor tem essas informações?
R1 – Tenho, porque eu tenho um parente, que é o ‘seu’ Irineu Bastos Filho que, inclusive, é filho de um prefeito, é parente nosso, sabe, o ‘seu’ Irineu Bastos. E o ‘seu’ Irineu, o Irineuzinho, como é carinhosamente chamado, atuou vários anos na Câmara Municipal de Bauru, é historiador. E ele levantou a árvore genealógica da família Bastos, que é a minha família e a gente sempre conversa e ele diz que nós viemos de Penacova, Portugal. Aí, meu bisavô, de lá, veio pra Alfenas, Minas Gerais e, de Minas, veio pra Bauru. Então, eu sou quarta geração de fundadores da cidade, onde nós temos a Catedral do Divino Espírito Santo aqui, tem um marco na frente dela, foi meu bisavô que fincou a cruz do cristianismo ali. Até no Bauru Ilustrado, que tem no nosso querido Jornal da Cidade, o Luciano Dias Pires, que é outro historiador, uma vez contou essa história, que veio casar com aquilo que o ‘seu’ Irineu já havia dito da nossa família. Então, eu tenho orgulho de ser bauruense, sabe? Eu tenho orgulho de fazer parte dessa história. E tento preservar nosso sobrenome como um marco pra cidade de Bauru.
P1 – Excelente! Essa história da cruz é a tal da cruz de aroeira.
R1 – Isso.
P1 – Aquela cruz que, no final, acabou vivendo, começou a sair ramos da cruz, né?
R1 – Sim. Isso.
P1 – E o senhor sabe por que vieram pra Bauru? Esse primeiro ascendente do senhor veio pra Bauru fazer o quê? O senhor sabe?
R1 – Então, essa história nós já conversamos, mas não concluímos, entendeu? Então, eu, na realidade, essa resposta vai ficar meio que... eu realmente não lembro o que nós... porque, na época, o meu pai estava em depressão, que ele fez a entrevista, pra fechar a árvore e ele não estava bem e aí fugiu esse assunto. Foi até comentado, mas não ficou gravado, entendeu?
P1 – Entendi.
R1 – Então, essa eu peço desculpas, mas é uma boa pergunta, porque eu vou me informar pra, numa próxima, a gente estar esclarecendo.
P1 – Tá legal. E o senhor lembra de alguma tradição portuguesa na sua família? Tipo assim: comida portuguesa, alguma música portuguesa, festa, dança, alguma coisa tinha quando o senhor era criança?
R1 – Então, olha, como meu avô já veio de Minas, eu tenho muito de Minas, sabe? De mineiro. Fogão a lenha aceso o dia todo, com o bule de café; bolo; bolinho. Se bem que é uma herança portuguesa também, né? Todos os quitutes. Minha vó era muito... o apelido dela era Vó Cotinha. A nossa casa nunca ficou vazia. Ela tinha amizade com todo mundo. Inclusive, morava uma ex-escrava da família que, sabe, amava a minha vó, porque minha vó nunca teve escravo, sabe? Ela sempre amou muito a liberdade, mas olha, pra você ter ideia, sabe, eu conheci, não lembro o nome, mas ela ficou morando com a minha vó até uma certa idade, sabe? Pelo carinho. Amava minha vó, ajudava em tudo. Olha cada história incrível, né?
P1 – Verdade. E você sabe como é que seus pais se conheceram? Já foi em Bauru, né?
R1 – Então, foi nas batistadas da vida, sabe? Nos bailinhos. Depois eles frequentaram o famoso Circo Anahí. Ele contou pra mim que ele viu o Cascatinha e Nhana cantando Índia, Seus Cabelos. Então, o amor perpetuou aí com Cascatinha e Nhana e as músicas da época.
P1 – Que legal! E qual era a profissão do seu pai e da sua mãe?
R1 – Então, a minha mãe sempre foi do lar, sempre em casa aqui, e meu pai trabalhou na rede ferroviária federal por 32 anos. Meu avô também era da rede ferroviária, o João e era tradição, né, passar de pai pra filho trabalhar na rede ferroviária.
P1 – Sim. Ele era o que, lá? Maquinista, funcionário...
R1 – Não. Ele trabalhava... no holerite dele vinha artífice de obras, que é a pessoa que mexe com toda a linha de estofamento dos trens, que tinha aqueles trens mais nobres, que era aquele requinte no estofamento. Então, ele era especialista nisso. Hoje tem pra carro, ele era pra trem.
P1 – Sei. E o senhor andou muito de trem, na sua infância?
R1 – Ê, fiz bastante viagens. Tenho uma saudade tremenda. Minha primeira eu não esqueço, foi de Bauru a Pederneiras, sabe? Uma delícia! Aquele cheiro do freio do trem lá, que até hoje eu sinto, sabe? É maravilhoso! Aquelas árvores correndo. É muito marcante. Eu acho que tem que voltar atrás isso, além da economia que é pro país, né? Então, mas eu acho que precisava voltar urgente. Eu tenho muita saudade.
P1 – Concordo plenamente com o senhor. O trem não pode faltar. Nenhum país moderno não tem trem, né? Perfeito. E a sua infância, o senhor nasceu em qual bairro de Bauru? Ou já era o que o senhor está?
R1 – Não. Hoje eu estou na Bela Vista, tá? Eu vim depois pra cá. Eu nasci ali pra cima da Nações Unidas, onde aconteceu a explosão lá, quando o presidente Geisel veio pra Bauru. Da onde eu morava, que é a Caiapós com a Ezequiel Ramos, que ali é carinhosamente chamado de Vila Antártica, por causa da cervejaria e refrigerante da Antártica ali, então eu morei ali que, antes era, se eu não me engano, Chácara das Flores, tá e depois virou Vila Antártica. Então, são duas quadras do Teatro Municipal; duas quadras, hoje, do Boulevard Shopping e a gente viu a tragédia da esquina de casa, aquele asfalto revirado e aí minha mãe tinha ido no INSS, na época, pegar um documento, bem naquele horário ela estaria retornando pra casa, mas graças a Deus, ela demorou um pouco mais e veio ilesa de qualquer problema. Então, a gente não esquece isso também.
P1 – Nossa! E era muito diferente, né? Essa região que o senhor contou, onde o senhor nasceu, como era? O senhor lembra, assim? Porque não tinha nem _________ (20:09). Era o rio passando, né?
R1 – É, o rio Bauru era céu aberto ali, do começo do portão do estádio da Antártica, ali. Tinha umas muretas altas, mas o senhor o via a céu aberto. Depois, ele voltava a ser rio normal, no trilho do trem, lá. E eu estudei ali na Escola Paroquial Padre João, depois Colégio La Salle, que eu me formei em Química e eu passava ali a pé, beirando o rio, pra atacar pedra, pra colocar moeda no vão da linha do trem que, com o calor, o trilho expande e entortava a moeda e a gente só ia pegar no outro dia. Então, já viu, né? Então, isso, ali, ao lado esquerdo, tinha como se fosse um CEAGESP, só que com chão batido, aqueles portozões de madeira, aqueles caminhões Fenemê, Mercedes, descendo fruta, verdura, isso fez parte da minha infância. Eu vi muito isso. E aos domingos a gente ia na missa da Nossa Senhora Aparecida e voltava e passava na feira, ó que interessante!
P1 – Onde é que era a feira que o senhor ia?
R1 – Nas Nações Unidas. Ela começava ali, depois, onde era ali o campo da Antártica, virava até onde hoje é a Igreja Quadrangular, ali, que agora é em frente ao shopping, ali era os ‘bichos vivos’, como tem hoje no Brasil inteiro, né? Leitãozinho, peru, galinha, ganso, angola, pato, marreco, de vez em quando vinha faisão, pavão, codorna, então tinha de tudo ali, sabe? E eu já falava pro meu pai: “Voltando da missa, nós vamos ver os bichos, lá”. Aí eu ia, dava um puxãozinho no rabo do porquinho, pra ele gritar, entendeu? (risos) Aí fazia a minha molecagem e meu pai ia fazer as compras na feira. Eu sou da época ainda, não que eu sou... eu sou jovem, dá pra ver, né? Eu vi comprar óleo no litro, bombeado num tambor de duzentos litros, com a manivelinha e depois punha a famosa rolha. Olha que maravilha! Então, eu lembro de muita coisa da feira: os ovos comprados num saquinho de papel, com palha de arroz; legumes a granel; doce a granel. Tinha um rapaz que vendia doce caseiro, aqueles baldões de tudo quanto é doce, pesava na hora, pra pessoa. Então, eu lembro muita coisa. Do feirante cerealista que tirava aquele bolão de dinheiro do bolso, contava pra dar o troco, dava uma lambida no dedo (risos) e voltava o troco. Aí, meu finado pai, uma vez, falou: “Você viu?” Eu falei pra ele: “Pai, um dia eu vou ter um bolão desses também, igual ele” e hoje eu sou feirante. Não tenho o mesmo bolão, né, com a economia instável, com a pandemia, mas um bolinho, de vez em quando, eu junto, sim, viu?
P1 – Sei. ‘Seu’ Moisés, e como era seu dia a dia? O senhor estava contando mais do domingo, mas como era lá o entorno da sua casa, na sua infância? O senhor tinha muitos amigos, brincava? Era muito diferente de hoje, né? Do que o senhor brincava, quando era criança? O que vocês faziam na rua?
R1 - Olha, o quintal da minha vó, finada vó, a Dona Cotinha, era bem grande, com pé de laranja-cavalo, que é aquela laranja de fazer doce, que era a paixão dela. Tinha uma goiabeira branca. Tinha um pé de jabuticaba paulista, que é aquela grandona, que era uma enormidade o pé. Então, a vida nossa era subir em árvore, comer goiaba no pé, até – desculpa, mas é a realidade – arrotar choco, que a molecada tinha muito, aí a vó fazia aquele bicarbonato com limão, pra cortar, sabe? De tanto que comia, difícil digestão, que a goiaba tem um lado indigesto e a molecada comia de dez, doze. A brincadeira era: fazer estradinha pra caminhãozinho, fazer fazenda com aquelas miniaturas de boizinho, cavalinho e fazer o forte apache. Como a gente não tinha condição de comprar o forte apache, a gente fazia de terra aquele cercadinho do gado, o ‘indinho’ e o mocinho, pra brigar. Então, minha infância foi muito isso. E a influência, depois, de dez a treze, catorze anos, foi a SWAT, que aí a gente brincava, fazia arma de brinquedo mesmo, com madeira e a gente brincava de polícia e ladrão e a SWAT. Então, subia em árvore. Essa foi a infância. Ah, pião! Meu pai era marceneiro, carpinteiro e torneiro de madeira. Então, ele fez muito pião pra molecada. Era tradicional. Meu avô começou e ele completou. Inclusive meu pai participou de um projeto no Sesc, deve ter vídeo. Ele foi, um dia de infância, assim e eles levaram um torno de madeira lá e meu pai ia fazendo peão e a molecada punha a mão, ele cortava, daí lixava e ensinou toda a molecada rodar peão. Isso eu tenho orgulho do ‘seu’ Moisés, eu tenho a medalha que ele ganhou do Sesc, não está aqui comigo agora. Saiu na TV Tem que, na época, Bauru tinha um time de jogo de peão abata. Você já ouviu dizer isso?
P1 - Não. O que é?
R1 – É um campo, igual de futebol, com uma travezinha. Tem uma bolinha que meu pai criou uma ferramenta pra fazer uma esfera perfeita de madeira, de uma madeira certa e ele fazia uns peões um pouco maiores. Aí são acho que seis pessoas de cada time, roda o peão e vai batendo na abata. Uns defendem e uns têm que fazer gol. E é uma família famosa de Bauru, de dentistas, que é Giraldes de Carvalho, que tem o Eury, o Euvaldo, um pessoal que é parente do Zimbo Trio. Sabe o Zimbo Trio, lá? Um deles é sobrenome, se eu não me engano, Carvalho e jogava junto, entendeu? E aí o meu pai fazia o peão pra ele, porque é assim: cada um quer um estilo. Um quer o peão charuto, que é aquele mais comprido; o outro quer o batatinha, que é o mais arredondado; um quer de ipê; o outro quer de cabreúva, entendeu? Então, meu pai era muito paciente, por ser mineiro, né, uai! Então, o cara o fazia de gato e sapato. Às vezes minha mãe falava assim: “Moisés, você é besta, você faz o que o cara quer!” Ele falava: “Eunice, cada um tem um gosto”. Sabe, com aquela calma dele, uma voz grossa, sabe? Parecia locutor de FM, aqueles antigos. Então, é isso: a minha infância eu joguei muito pião no frio. Eu joguei peteca. Sabe, pra esquentar, meu pai falava: “Espera lá”. Tinha umas penas de galo que o coitado não tinha culpa, mas ele morria pra fazer uma canja pra nós, lá no frio e aí a pena ele fazia aquela peteca de couro, costurada a mão. Eu devo ter uma ainda, sabe? Que eu tenho todos os peões dele guardados. Ele fez um peão que assoviava. Você acredita? Ele tem um corte do lado, você roda, o ar o faz assoviar. Ele, ó, pintava e bordava. Precisa ver que infância maravilhosa, que traz muita saudade.
P1 – Olha que legal! E como era seu dia a dia? O senhor acordava de manhã cedinho, né? Todo mundo acordava muito cedo. O senhor ia pra escola e trabalhava? Ou só ia pra escola? Ou fazia os dois? Como que era?
R1 – Então, nessa época a gente ajudava muito o pai e a mãe, que hoje é trabalho escravo infantil, certo? Que é ridículo pra mim isso. Então, tomara que alguma autoridade ouça porque, assim, é na mínima voz do povo que, às vezes, amadurecem os grandes projetos e as grandes ideias. E eu sou muito a favor disso: cada gotinha de água ajuda a apagar um incêndio grande. Então, eu ajudava, porque meu pai tinha muito trabalho extra - falava Noroeste - de fazer cabo de carimbo, cabo de ferramenta, peãozinho pra vender, pé de móveis, de estante. Então, eu ajudava a arredondar madeira, porque a madeira é um caibro, pra quem não sabe, que é quadrado, a gente tem que por ele, centralizar com uma esfera, prensá-lo no torno e fazer rodar em alta velocidade e, com a goiva, vai tirando o canto, até arredondar. Então, eu fiz isso, muito, na infância. Aí ajudava, assim, no geral, a limpar quintal, entendeu? Mas trabalho, mesmo, não, nunca, sabe? Graças a Deus meu pai fazia o cerão - antigamente não falava hora extra – pra poder pôr o dinheiro em casa, entendeu? Minhas irmãs também ajudavam muito em casa. Então, assim, trabalho, na infância, eu tenho que agradecer, de uns pontos, de não precisar, mas às vezes eu gostaria, pra sentir na pele o que é a necessidade do trabalho desde cedo.
P1 – Certo. E na escola, o senhor foi estudar lá onde hoje é o La Salle, né, o senhor falou?
R1 – Isso. Agora já mudou, também. Acho que agora é Colégio Dinâmico, se eu não me engano. Minha esposa não gosta muito que eu fale disso, porque eu era inteligente demais, sabe, sabia bastante e facilidade de aprender, então eu tinha mais tempo pra bagunçar. (risos) E eu fui da época, também, que todo mundo tinha apelido, ninguém chorava, ninguém entrava em depressão. Desculpa as psicólogas, mas não precisava de psicólogo. A espada de São Jorge, a varinha, uns tapas na bunda que eram a psicologia e, graças a Deus, que eu saiba, amigo meu nenhum se perdeu em droga, está todo mundo vivo, está todo mundo brigando pela saúde hoje, e pela sobrevivência. A gente não tem nenhum relato, sabe, que: “Nossa! Matou aquele, o pai. Drogado”. Então, é aquilo: eu acho que a gente só tem que agradecer a Deus por isso, de ter uma infância maravilhosa; os pais maravilhosos, que serviram de esteio realmente, pra hoje a gente ser grandes homens.
P1 – Está certo. Muito legal. E o senhor, na escola, gostava mais de qual matéria, assim?
R1 – Na realidade, nenhuma, mas... não, estou brincando. Educação Física (risos) foi minha paixão e depois eu aprendi a amar Química, né? Eu trabalhei na área por quatro anos. Mas uma coisa que eu nunca imaginei, sabe, a alquimia me conquistou, e aí, por necessidade, eu precisei trabalhar no laboratório químico e me identifiquei, entendeu? Mas tipo assim: eu gostei muito de Inglês, sabe, também, porém eu fiz quase... o La Salle era uma escola particular e, durante os anos que eu fiz lá, lecionei lá, como dizem, eu aprendi, mas nunca... se eu me especializasse, ia me dar bem, fizesse uma school, como falam, uma escola de inglês, mas não tive essa oportunidade, por falta de recursos. Mas dou minha arranhada, não speak english.
P1 – Muito bom. E o senhor estudou até que ano? O senhor se formou no terceiro colegial e foi fazer a faculdade de Química? Ou curso. Como que foi?
R1 – Não, por não ter condições financeiras na época. E aí já tive a necessidade de começar a trabalhar, entendeu? Com 16 pra 17 anos eu fui contratado por uma empresa aqui, no ramo de calçados e também aí eu descobri que a Química, pra mim, foi passado, que eu tenho sangue de vendedor, sabe? Que é o maior artista do mundo. O senhor pode estar com o maior problema da sua vida, você tem que sorrir, porque o cliente, você não pode demonstrar aquilo que você está passando no seu dia a dia. Então, eu me formei técnico em Química, serviu, porque durante quatro anos e pouco da minha vida eu exerci essa profissão e depois não tive oportunidade de fazer faculdade. Aí começo a trabalhar. Aí, com... eu sou meio ruim pra datas, sabe? Aí eu tive que, trabalhando, tinha necessidade de construir uma casa e eu trabalhei num sistema de mutirão durante acho que dois anos, pra conseguir minha casa própria. Aí eu trabalhava e trabalhava à noite, no mutirão, construindo a casa. Minha equipe fez 31 casas de primeira.
P1 – Olha! Que legal!
R1 – Tem história.
P1 – Qual foi seu primeiro salário? Foi como químico, né?
R1 – Não. Foi como vendedor de calçados.
P1 – Ah, foi antes da Química?
R1 – Foi antes da Química, que eu estudei anteriormente, porém não consegui exercer a minha profissão. Aí eu falei: “Trabalhando, a gente consegue uma faculdade, alguma coisa”, mas não deu na época, então eu precisei já ir trabalhar e foi como vendedor. E aí que eu me descobri como vendedor.
P1 – Sim. Em que loja que foi? Foi ali no Centro?
R1 – Foi Louca Calçados e Confecções, que era da rede Nardi Lopes, sabe, que me deu a oportunidade do primeiro emprego. Aprendi muito, porque eles investiam muito na venda. Eles falavam que eles tinham que manter acesa a chama da venda, nunca ela pode ser demais, nem de menos. Tem que manter, sempre, um padrão. Então, lá eu fiz muito curso: desenvolvimento gerencial, capacitação e motivação em vendas, fiz vários, com pessoas renomadas nessa área de vendas, um deles é o Othon de Carvalho, que é do Rio de Janeiro, sabe? Eu fiz muito curso de fabricantes, sabe? De vários fabricantes, pra ser conhecedor daquilo que eu vendia, que eu prezo muito isso até hoje. E outra: eu sempre fui de tentar me destacar. Não é ser puxa-saco, nem nada, mas eu só perdi pra uma vendedora que fazia 25 anos que trabalhava na Louca. Eu sempre fui segundo lugar de vendas, eu ganhei sempre todos os prêmios da Topper, famosa, eu ganhei tênis, eu ganhei prêmio em dinheiro. A gente tem que se dedicar. Que o que faz tem que deixar algum marco nessa vida, positivo. E nessa área, até hoje eu encontro com amigos, falam: “Nossa, esse era vendedor!” E eu brinco que, se necessário for, eu vendo até santinho, pra padre.
P2 – (risos) ‘Seu’ Moisés, deixa eu perguntar: nessa época, os clientes tinham vendedor que era fiel, né? Você entrava na loja: “Não, vou falar com fulano”. Era isso mesmo? A clientela era fiel ao vendedor?
R1 – É. Hoje tem uma fila e um vai de cada vez. E outra: não tem como fidelizar. Tem muita oferta, muita loja e o atendimento é péssimo. Então, se você vai em um lugar e é bem atendido, você volta e quer ser atendido pela mesma pessoa, você concorda? Só que hoje é impossível, porque tem uma fila que tem que respeitar e eles acham ruim. Na minha época, não. Eu tinha meus clientes que, se eu não estivesse lá, iam embora e voltavam outra hora. Eu gosto de citar um marco: no Natal eu fui ao jantar que as lojas fechavam às 22 horas e eu ia sair pra jantar, chegou a minha marmitex, chegou uma família, duas, três, cinco famílias pra eu atender. Sorte que um dos gerentes me ajudou! Eu atendi uma média, vamos pôr, de três pessoas por família, de quinze a vinte pessoas, calçado pra todo mundo. Eu quase fiquei louco. Mas olha que legal! Então, eles não queriam ser atendidos por outro, eu tive que atender as cinco famílias. Mas por quê? Nunca tive preguiça, trazia aqueles montes de sapatos, mostrava e a pessoa saía feliz da vida, entendeu? Então, é isso que você falou: tinha cliente fiel. Não é como hoje, que mudou. Hoje eles são... tem um nome que as redes grandes dão, tipo colaboradores, entendeu? Eu, não. Eu era vendedor, realmente.
P1 – Sim.
P2 – Deixa eu perguntar uma outra coisa: a família Nardi tinha outras lojas ali, não?
R1 – É. Era Yara, Dinar, Econômica, Yara Shopping, Craft e depois eles compraram a Giannelli, que era uma fábrica de calçados. Porém, infelizmente, os pais criam, os filhos mantêm e os netos destroem. Aconteceu com várias famílias bauruenses. Acho que é bom nem citar, mas tem muita história que, hoje em dia, qualquer coisa, você é autuado, por essa mídia que, infelizmente, não faz o que vocês fazem.
P2 – Mas deixa eu perguntar uma coisa: assim, que eu me recordo, a Yara, a Louca e a Dinar eram, todas, na Batista, né?
R1 – Isso.
P2 – Tinha um perfil diferente, cada loja?
R1 – Tinha. A Yara era bem fina, desde uma Czarina, que é um calçado fino, até um cromo alemão, que os homens... aquele salto XV, Luís XV, com pelica, um material nobre, revestido com barriga de porco, que é um dos couros mais macios que tem, pras madames não machucarem o pezinho e a linha de cromo alemão, que é feito com couro de bezerro, que não há marcas, nem nada. Eu conheço da arte. Aí a Dinar era uma loja pro povão, que tinha desde aquele sapato Vulcabrás, pro trabalhador, aquelas botinas. E a Louca era o entremeio, a gente falava ‘esporte fino’, né? Então, tinha pra agradar todos. E tinha a Econômica, que começou com o ‘seu’ Zé, que começou com uma carroça na feira, é o senhor José Nardi, oh que orgulho! E montou um império, oh que legal! Então, a Econômica era na Azarias Leite. E começou tudo ali, depois montou-se, pelo que eu sei, a Dinar, a Louca e eles viram a necessidade de ter uma loja mais fina, que depois a Yara passou pro shopping e eu fui ser vendedor lá também e me dei, graças a Deus, muito bem.
P2 - No começo do shopping?
R1 – No começo do shopping. Eu inaugurei a Yara Shopping, porque eu fui pra lá, era pra eu ser gerente, tá? Só que me traíram, no bom sentido, porque eles queriam que eu puxasse a minha clientela pro shopping, entendeu? Eu me decepcionei na época, mas foi bom, porque quando puxa a vaquinha que São Francisco empurrou no precipício.... vocês sabem a historinha, né? Que o compadre não desenvolvia. Aí, depois que a vaquinha dele morreu, chacoalhou a poeira, aí foi melhorar o sítio, criou galinhada, fez um rebanho de vaca e saiu. Foi o que aconteceu comigo: empurraram a minha vaquinha pro precipício. Eu ganhava, na época, mais que os dois gerentes lá, comissionados, então quer dizer: não precisava ser gerente, era pra eu... Deus sabe o que faz e a gente não sabe o que fala.
P2 – Agora fala um pouquinho, assim, o começo do shopping, ali.
R1 – Olha, tipo assim: foram lojas que tinham tradição em Bauru, entendeu? Começou meio que, assim, devagar, só que, de repente, a região levantou o shopping: Jaú, Pederneiras, Lins, Agudos. Então, isso deu aquele pique, entendeu? E a Yara, por sua tradição, manteve os clientes, com atendimento um pouco mais requintado, com outro estilo de vitrine, com outro estilo de exposição. Lá não tinha coisa tão simples, se bem que tem gente que é simples, mas gosta de coisa boa. Então, eu acho que foi um marco, assim, da história da Nardi Lopes, ter uma loja no shopping. Depois eles compraram a Craft, que era uma loja esportiva lá. Quer dizer, é sinal que deu um ótimo resultado.
P1 – Sim.
P2 – Maravilha!
P1 – E o senhor gostou do ambiente do shopping? Porque o senhor é um vendedor nato, como o senhor mesmo falou e o comércio... o que o senhor acha dessa diferença? O comércio da Batista era muito frequentado, tinha muita gente na Batista. E mudar pra um shopping, como foi essa diferença, na cabeça do senhor?
R1 – Então, olha, é aquilo, eu falo: o ser humano é o animal mais adaptável, né? Eu me dei super bem, porque o clima lá é climatizado. Lá não tem calor, não tem frio, não tem chuva. Lá nós sentimos isso. O ambiente bem saudável, né? Não tinha aquela molecada que cheirava cola e que acaba roubando aquele calçado que fica naquelas gôndolas de promoção, na porta, que nós corremos muito atrás disso. Segurança pra todo lado. Comida boa, entendeu? Na época eu era solteiro, mulherada bonita que frequentava. Então, é complicado, né, meu filho? A gente tem que se adaptar. E minha clientela veio atrás, entendeu? Então, a gente só agradece essa... como se diz? E outra: eu tive a chance de ganhar bem mais. Porque lá a comissão, se eu não me engano, era um pouquinho maior e o preço dos calçados maior, então a gente fechava a meta bem acima do comércio da Batista, entendeu?
P1 – Sim. É isso que eu ia perguntar: o povo que vai comprar no shopping não é diferente da população que vai comprar na Batista? Não são outras pessoas?
R1 – Da região, sim. Da região vem muita pessoa de fora, que tem um nível maior, que faz compras, assim, fora da cidade. E vem aquele pessoal de classe alta que, às vezes, não frequenta a Batista, acaba vindo pro shopping por segurança. São as grandes famílias, entendeu, tradicionais de Bauru.
P1 – O senhor casou duas vezes, então?
R1 – Isso, mas não sou o Fábio Júnior, não. (risos) Que casou várias. É, a primeira não deu certo, foram alguns anos, eu tenho uma filha do primeiro casamento, a Mel que, por sinal, está grávida, eu vou ser avô, olha que maravilha! Aí eu conheci a Lu na Louca Calçados e Confecções, que é a Lucelina, que é minha esposa hoje já vai fazer 31 anos. Eu tenho dois filhos dela e um de coração, que é o neto de uma feirante que, com 13 anos, começou a morar com a gente, já está com 23 anos, que hoje assumiu as feiras livres. Então, é muita história pra contar. E aí a gente constituiu uma nova família e somos felizes, graças a Deus! Meu filho, esse que eu lhe falei, que é o Ronaldo, que é o Juninho, conhecido, assumiu as feiras livres que, com a pandemia, perdeu o emprego e aí nós conversamos, que começou a melhorar as entregas e nós tivemos necessidade de fazer entrega e sobrecarregou pra minha esposa e aí nós sentamos e, como ele já era neto de feirante e a feira fez parte da vida dele na infância, deu super certo e um cliente me falar que eu não estou fazendo falta na feira, pra mim foi um orgulho, porque é duro quando a pessoa te fala: “Você precisa voltar, que não está dando certo”. Então, ele brincou, no bom sentido, falou: “Moisés, você não faz mais falta na feira, não. Estão segurando a peteca à altura”. Então, eu fiquei feliz com isso.
P1 – Legal. E o senhor me disse, quando a gente conversou pelo telefone, que o senhor conhece feira desde que o senhor era criança, que o senhor vai na feira, o senhor já contou aí da sua infância, mas como entrou isso na sua profissão? Como o senhor resolveu fazer feira?
R1 – Aí, ó, quando eu trabalhei no laboratório químico da Ajax, tinha um rapaz, José Conrado de Lima Neto, que era o químico mais velho da Ajax e eu o mais novo, tá? Aí tiveram um problema lá, a proprietária da época resolveu acabar com a Ajax e foi mandando embora pessoas. Aí começou por ele, mandou o Conrado embora, mandou um pessoal, até que chegou em mim, que era o mais novo. Fui mandado...
PROBLEMA NO ÁUDIO
P1 – O senhor estava contando como que o senhor começou a atividade de feirante, depois da Ajax.
R1 – Aí nós fomos mandados embora, na época, eu o Conrado e o Conrado tinha uma chácara, certo? Eu fui fazer uma visita lá e ele criava codornas, ele tinha coelhos, ele tinha franguinho caipira e aí nós fomos mandados embora da Ajax, eu e o Conrado, que era o químico mais velho e eu o mais jovem. Aí ele tinha uma chácara e eu fui fazer uma visita, aí tive que fazer uma cirurgia às pressas, ele veio me visitar e comentou que a chácara estava parada. Aí, eu, como, graças a Deus, um grande empreendedor, falei pra ele: “Se eu tivesse uma chácara como a sua, eu não trabalhava de empregado pra ninguém”. Aí ele falou: “Mas será, Moisés?” Eu falei: “Você tem lá codorna. Vamos ampliar aquilo”. Aí, entrei como sócio dele, passei a morar na chácara, chegamos a seis mil codornas, entregava nos grandes mercados. Aí, a esposa dele, naquele prêmio que o Banco do Brasil deu pra aposentadoria, vocês lembram disso, ela saiu e quis entrar na sociedade. Aí pesou um pouco o trabalho pra gente, eu preferi sair, arrendei uma chácara pra mim e comecei a trabalhar com o que era meu. Fiz um Pronaf no Banco do Brasil... não, desculpa, no Banespa, na época, consegui fazer minha granja, ajudado pelo meu sogro e minha sogra e minha esposa e fui aumentando, fui aumentando, comecei a fazer entrega, aí eu levava em Piratininga ovinhos de codorna pra uma quitanda de um amigo nosso que chama Betoni. E um dia ele foi na chácara, pra conhecer. E tinha muitas árvores de fruta e ele tinha parado há pouco tempo com feira. Ele falou: “Não, Moisés, você não vai perder. Você vai fazer feira”. No outro dia ele já trouxe uma bancada pra mim, uns cavaletes, foi comigo na prefeitura, pedir autorização, só que ele queria nos lugares dele, mas não pode transferir o lugar, tem que começar do zero, fazer a coisa certa. Aí foi quando eu comecei a fazer feira. Eu comecei com uma mesinha - que ainda não tinha, na época, muito produto pra pôr, que era entressafra de frutas – na Gustavo Maciel, vendendo ovinho de codorna, levava uma caixa de isopor quando tinha um franguinho caipira. Português gosta muito de coelho, levava um coelhinho vivo pra vender, pra criançada. Ovos de pata, ovos de galinha caipira. Aí, com o tempo, peguei muita amizade, que eu já tive, do comércio. Aí, tinha um cidadão na minha frente, de uma banca de ovos de seis a oito metros, que a esposa dele tinha ido pro Japão e ele tinha ficado lá, porque ele teve um probleminha de alcoolismo e aí todo mundo metia o pau nele, xingava e fim de feira eu esperava lá sentado e ele vinha conversar comigo e eu dava conselhos bons, falava que ele ia vencer, que ele ia colocar uma banca maior, que ele ia resgatar os clientes, sabe? E ele sempre me ouvia, porém nunca fez nada. Um belo de um dia ele veio todo feliz, no final de um domingo, falou: “Meu cunhado de Curitiba me ligou, que ele vai me pagar um tratamento, eu vou pra uma empresa de ônibus em Curitiba, eu já estou com o emprego garantido, eu vou mudar de vida. E você que foi meu escolhido, você vai ficar com a minha banca. Eu só quero que você me pague a bancada, os cavaletes e a lona”. Na época eu não lembro, ele morava no Redentor. Fui primeiro na prefeitura, porque não pode vender ponto, feira não tem comércio, é ilegal. Aí ele pegou e me passou, sabe? Aí, sim, como ele tinha o cadastro em dia, essa feira do domingo eu não ia ser concorrente desleal, porque naquela quadra, se eu não me engano, não tinha ovos, então permaneci ali, aí me deram outro lugar na Bela Vista e assim fui ampliando. Hoje meu filho faz oito feiras na semana. A gente roda vários bairros de Bauru e mais o empório que, dia 16 último, fez um ano e dez meses, com muito orgulho.
P1 – Muito bom, ‘seu’ Moisés! E quando foi essa época que o senhor foi pra essa chácara _______ (53:45) e começou a produzir pra feira? Isso aí é anos oitenta, já?
R1 – Olha, faz 26 anos que eu faço feira. Eu acredito que deve ter sido mais ou menos 1993, 1994 por aí. Porque eu tive, primeiro, uma época que eu fiquei só sobrevivendo da chácara, que eu faço defumados artesanais; eu descasco ovinho de codorna e ponho na conserva, pra entregar em restaurantes; a gente sempre fez pão caseiro, doce caseiro. Eu tenho uma cozinha caipira, a gente faz abóbora, figo, mamão, aqueles doces do tempo da vovó, entendeu? Mas foi mais ou menos 1990, 1994, mais ou menos. Eu sou meio ruim pra datas. Você me desculpa.
P1 – Nada, tudo bem. E o senhor, tudo que o senhor produz, vem dessa chácara?
R1 – Não, não. Eu esqueci o detalhe: eu sou Sem Terra verdadeiro, (risos) porque essa chácara, depois que eu saí lá do Conrado, que era na Águas Virtuosas famosa, aí eu fui para o Portal de Piratininga, que é na Estrada Velha de Piratininga. Ia montar Each Park (55:11), eu acho que vocês lembram, um parque aquático, que tanto pode vir pela José Henrique Ferraz, entrar ali no condomínio, pegar a estrada velha, como pode vir pela antiga Estrada Henry que eles falam, descendo ali. Tem as duas. Ou vir por Piratininga também, entendeu? Então, nós tínhamos essas três opções. Quando chovia, meu filho, tudo de chuteira, não entrava na chácara.
P1 – Sei. (risos) Mas e aí, o senhor ficou sem essa chácara?
R1 – É, porque era arrendada e nós viemos pra cidade, aí eu achei fornecedores de ovos de codorna. Hoje, no CEAGESP aqui de Bauru, no Ceasa, como eles falam, eu compro abóbora pra fazer doce; ovos, que é o meu forte, vem de Bastos. Tem um amigo nosso que tem sítio, que cria o frango caipira pra mim, já entrega limpo. Ô, eu matava, eu e esposa, oitenta frangos caipira em casa. Nós fizemos uma sala de abate. O pessoal da Saúde veio com tela, tudo dentro das normas. Freezer, geladeira pra início de refrigeração. Então, eu já trabalhei bastante. Hoje eu falo que eu estou mais tranquilo que (risos) aposentado de boa grana.
P1 – ‘Seu’ Moisés, o senhor falou que, em feira, não pode vender ponto, né?
R1 – Isso.
P1 – Como é que é que __________ (56:46), então? Como que um feirante se torna feirante? Pra ele entrar na feira, conseguir um ponto. Como que se marcam essas coisas?
R1 – É assim, todo janeiro, inclusive eu estava ouvindo a FM Bauruense aqui, a Secretaria da Agricultura, que é a Sagra, lança na mídia que está aberta as inscrições pra novos feirantes. Que a feira é competitiva, tem concorrência, mas a gente tem que, numa pandemia dessas, abrir espaços, né? Aí a pessoa é entrevistada na Secretaria da Agricultura, vai no Poupatempo, faz um cadastro, paga duas parcelas anuais, tá? E aí, é feirante. Aí tem que ir com um produto já específico, aí a secretaria vai avaliar todas as feiras de Bauru e ver o local que vai ser encaixado, pra não ter concorrência desleal. Sabe, eu tive à frente, como eu já te falei, nove anos, da Associação dos Feirantes de Bauru e a gente preza por isso, porque senão a feira já nasce morta. Muita concorrência, ninguém vende nada, dilui, atrapalha, porque daí alguns colocam o preço abaixo do custo, são novos, acabam não conseguindo sobreviver e atrapalha aqueles mais velhos, que são de tradição. Então, a gente preza muito pela lógica e ética. É isso que é minha luta. Hoje eu estou fora, mas eu ainda sou Relações Públicas da associação, eu que falo com a mídia bauruense, sabe? Eu falei muito com o finado Walter Neto. Você lembra, da Auri Verde. Você conhece Bauru, eu acho que você deve saber a respeito. Eu falava todo domingo, via telefone ou ia ao vivo lá e, pra homenageá-lo, ele sorteava um boi na praça, a Associação dos Feirantes de Bauru sorteou uma moto e vários prêmios, que o comércio de Bauru me ajudou, mais associados e clientes. Então, eu consegui fazer, apoiado pela Jovem Auri Verde, o diretor da época era o Luiz Carlos Silvestre, cedeu dois locutores pra apresentar, praça cheia, foi um espetáculo que eu me orgulho também, de ter feito isso um dia e ficou marcado em Bauru.
P1 – Sim. E todo feirante pode ir em todos os dias, em todas as feiras ou tem uma feira marcada?
R1 – Pode. Se ele tiver mercadoria suficiente. É assim: de início ele vai lá e são dadas as feiras que ele precisa. Aí, vamos supor, ele não se adapta em determinada feira, ele pede por escrito pra estar mudando. Se essa feira estiver disponível, é feita a mudança. Tipo assim, ele não pode escolher a feira, vamos supor, senão todo mundo quer a da Gustavo Maciel; todo mundo quer a lá perto do POC, que é na Praça Nabi Abi Chedid lá, que é a da Fuas de Mattos Sabino. Então, a pessoa, primeiro, tem que roer o osso, né, que é normal e depois... a não ser que seja uma banca que não existe na feira e tem uma novidade. Se bem que tem uma espera por pedido oficial, pra poder contemplar a pessoa com a feira. Mas número de feiras não tem problema. Só tem um limite de metragem hoje, que antigamente tinha feirante que tinha 15 metros e punha duas, três ‘baciinhas’, precisando de espaço pra novos feirantes. Então, hoje tem o máximo de metros, sabe? Hoje tem que pôr aquela saia colorida, pra ficar coberta; lixeira na banca. Então, é isso que a gente preza, pro melhor andamento e cada dia a feira enraizar mais e aprimorar mais.
P2 – Deixa eu perguntar uma coisa, ‘seu’ Moisés: essas feiras que o senhor citou são mais concorridas, mais badaladas? Por que todo mundo quer estar nessas feiras?
R1 – Então, a da Fuas pega a alta sociedade, né? É num lugar nobre, perto da Getúlio Vargas. Nós temos uma moça, a Eneida, que foi minha tesoureira, da associação, que ela tem aquele selo internacional de orgânico. Então, começou como feira orgânica, lá. Só que é muito difícil produzir tudo orgânico. Aí, entrou a plantação artesanal, que é livre de agrotóxico, com produtos de qualidade, mas, porém, produzido corretamente. Não tem o selo, porque senão não tem como. A demanda é muito alta e você tem que importar de cidade de fora, encarece demais e fica fora do... então, ela é concorrida por causa disso, porque nós conseguimos fidelizar uma clientela de alto nível, que não pergunta preço, que compra em grande quantidade. E a do Centro, por ser uma feira visitada pelo interior inteiro. Vem pessoa de Curitiba, pra vir comprar discos de vinil, raros, entendeu? Olha, eu tenho vários relatos de colecionadores que vêm de cidade de fora, do Mato Grosso, que a Feira do Rolo de Bauru é bem marcante, com produtos de qualidade, sabe? Nós peneiramos, nós fizemos reunião com a polícia e, na época, foi pedido antecedentes criminais; foi demarcada a feira; todo mundo, na época, com crachá e foi dito que não se compra produtos roubados. Então, nossa feira tem uma credibilidade, porém sempre tem pessoas de má fé e má índole, mas hoje melhorou demais, sabe? Nós estamos, até, bravos, porque eles estão parados, por causa da fase vermelha de Bauru, sendo que ela é ao ar livre, ônibus e supermercado em Bauru, lotados e eles precisam mais do que esses empresários, estão lá sofrendo, não podendo trabalhar, entendeu? Então, é meu pequeno protesto, também. Mas é aquilo, é só concorrida, por causa do destaque e a venda, mas que foi também por causa dos feirantes, que persistiram em fidelizar essas feiras.
P1 - Legal. E o senhor sabe, assim, explicar: pra quem não conhece feira, o feirante é conhecido como aquela pessoa que tem um sítio, planta ou cria e vai vender na feira, mas ele pode ser também uma pessoa que compra no CEASA e vai vender na feira, como o senhor falou que o senhor é agora?
R1 – É. Porque tem duas inscrições: tem de produtor e de revendedor. Em que pesa isso? Produtores são protegidos por leis federais, tá e a gente nunca pode proibi-lo de escoar a sua produção, ele tem alguns benefícios que, no caso, ele recolhe o INSS através do rural e benefícios, assim, não. Eu costumo dizer, eu não entendia assim, mas são dois pulmões que regem a feira: produtor e revendedor. Se não tiver o revendedor, numa entressafra, numa chuva de pedra, vamos falar o português correto, que acaba com as verduras, numa doença, então, o que pode acontecer? Pode não ter o produto - você concorda? - e aí você é obrigado a comprar de fora. Então, nós conseguimos administrar isso: ponderar, dando facilidade, nunca negar lugar pro produtor, entendeu, porém tem que ter os que revendem, pra poder não faltar, pra abastecer a população.
P1 – Certo. E o senhor falou que foi presidente da Associação de Feirantes. Como o senhor foi convidado pra ser? Como foi sua atuação, lá?
R1 – Ah, muito interessante a história: o Doutor Curvello, um advogado renomado bauruense, frequentava a minha banca, pegou amizade particular e nós tivemos uma associação que parou, estava inativa, que não teve muita ação na época, porque tinha um pouco de interesse político, pelo que comentaram e eu nunca fui filiado a nenhum partido, porém tenho sangue de político, como eu te falei, meu tio foi prefeito, porém eu gosto de política e não gosto de politicagem. Aí, o Doutor Curvello, um belo de um dia, viu que a feira estava decaindo; os sacolões, em Bauru, estavam em alta, matando o produtor a pau, pagando uma caixa de mandioca a dois reais, pra fazer as promoções malucas de nove centavos a mandioca, entendeu? E por aí foi e um dia ele falou assim: “Moisés, você sabia que existe associação até de prostituta?” Olha que choque que ele me deu! Falei: “Doutor Curvello, sabe que o senhor despertou uma luz aí, que eu nunca tinha pensado nisso”. Aí comentei com alguns feirantes da feira da Floriano. Uns me falaram: “Você está ficando louco, você não une nunca esse povo”. Só que é aquilo: eu gosto de desafios, eu sou daquele brasileiro que não desiste nunca e tudo que é ameaçado, se não se unir, acaba. Você deve saber bem disso, né? Aí eles falaram: “Você está louco. Você não vai conseguir nunca. Vão te chamar de ladrão. Vão falar que você só quer pra você, que você está puxando a brasa pra sua sardinha”. E assim foi, conversei com a Eneida. De início ela falou: “Você está ficando louco”, sabe? Falei com outro pessoal, da diretoria, que foi comigo. Moral da história: fizemos a primeira reunião. Um contador amigo, Nelson Celso Simoni, que é de associativismo, cooperativa, uma joia rara em nossa vida, nos orientou, ajudou na reunião de posse lá. O Nivaldo VittI Guion, in memorian, também, que foi meu braço direito. E o ‘seu’ Élcio, que foi presidente da Associação dos Apicultores também ajudou muito a gente, fazia a parte burocrática de Banco, de correr atrás, sabe? E aí começamos criar um respeito, eu consegui entrar na mídia bauruense, conheci o Osmar Chor, da TV Tem; conheci pessoal da Record, da Band, de todas as rádios FM e AM, sabe? E aí fui, faziam uma matéria pra deturpar a feira. Eu ligava na TV e falava: “Pô, mas vocês só falam quando o produto está caro, na entressafra? E quando está barato, jogando fora três maços de verdura por um real, vocês nunca exaltam isso?” E aí eles foram criando um respeito, pegaram uma nutricionista, quando os legumes estavam caros, ela dava opção de outro legume pra ser usado, com o mesmo valor nutricional. Você viu como só não tem jeito pra morte? E aí eu fui pegando amizade, quando eles tinham alguma matéria, qualquer uma das emissoras: “Moisés, me salva, eu preciso fazer uma matéria assim”, eu sempre ajudei e me deram um presente, o Osmar Chor. Pode citar nomes, né?
P1 – Pode, claro.
R1 - Que eu agradeço muito e o Denilson, que é redator-chefe, um belo de um dia me liga e fala: “Nós estamos fazendo tudo sobre frango, desde o sítio, até na granja e o preparo do caipira vai ser seu”. Minha esposa é culinarista. Ela é chef, porém sem diploma. Ela fazia um frango caipira com polenta e cambuquira, maravilhoso. Você sabe o que é cambuquira, Luís?
P1 – Não. Eu já ouvi falar.
R1 – Olha, te peguei ao vivo! Não, estou brincando. É o broto da abobreira. Porque, no sítio, a gente usa tudo: a flor de abóbora você faz aquele bolinho, igual faz de espinafre. O broto da abóbora, refogado, além de ser muito nutritivo, rico em ferro, vitaminas, é muito saboroso e o antigo fazia. A nossa região aqui faz a polenta, com o frango no molho de colorau e frita na manteiga a antiga cambuquira e serve junto. E nós fizemos, fomos convidados a fazer essa receita, que hoje tem no You Tube, quem quiser ver é só pôr esse nome: frango caipira com polenta e cambuquira, no YouTube, que vai ver quando eu e a Lu éramos mais jovens, fazendo. A repórter da época disse que não gostava de frango, nem polenta. Eu devia ter tirado foto, que ela se lambuzou comendo e falou que nunca comeu um frango tão saboroso. No domingo, quem me liga logo pela manhã? Esse é um fato, também, muito marcante, Osmar Chor. Eu falei: “Osmar, o que houve? Algum problema?” Ele falou: “Não. Moisés, vocês estão de parabéns. Foi uma receita que eu assistindo, me deu água na boca, deu vontade de pegar um prato, ir lá na TV e pôr pra mim”. Aí eu falei: “Ah, é?” Como eu sou muito empreendedor, lembrei: “Então, você me autoriza eu fazer uma receita com o timbre do nosso campo, minha receita do frango caipira e colocar: programa gravado na casa de Moisés e Lu, tal, tal, tal” e ele autorizou e foi um sucesso. Foi visto na região, parente meu me ligou, amigo de fora que viu e aí também ele me deu um outro presente: você sabe que é rodado nos discos, né, enormes, cada programa e fica lá.
P1 – Sim.
R1 – Ele autorizou o redator voltar tudo isso e gravou um CD e eu tenho esse CD desse programa, com o timbre da TV Tem também, que ele me presenteou. Então, foi um orgulho pra nós, poder marcar isso aí. Eu achei que foi, sabe, tipo assim: divulgou mais ainda o nosso trabalho e deu água na boca e melhorou a venda do frango também, né, Luís?
P1 – Muito bom! No Nosso Campo, aquele programa de domingo de manhã, né, que ele sempre tem receita do campo, né?
R1 – Isso. Aí, eles queriam mostrar as diferenças da criação do frango normal, até o feitio da receita e o caipira, até o feitio da receita. E terminou com a gente, que foi muito proveitoso e eu fico muito grato à oportunidade de ser escolhido.
P1 – Muito bom! E como é que o senhor abriu o seu empório, aí na Bela Vista?
R1 – Então, olha, muitos clientes que perdiam a feira, me ligavam: “Moisés, você atende aí na sua casa? Eu não fico sem os ovos de galinha feliz”, que são os caipiras, que eu também apelidei de ovos de galinha feliz. E aí eles vinham aqui. Eu não consegui atender direito. Uns vinham à noite, fora de expediente, a gente tinha que atender. Quando é a gente, atende, mas quando, às vezes, são os filhos, não têm a mesma disposição. Aí reclamavam. Aí minha esposa, também muito empreendedora, veio uma luz e foi fazer dois cursos de coaching em São Paulo, que vocês devem conhecer. Pode falar o nome do instituto?
P1 – Pode.
R1 – É o IBC, de Campinas, de São Paulo, que ela veio com uma mente aberta a respeito de comércio, de vendas e a gente tinha ideia de colocar venda de ovos - aqui, à frente do empório, tem uma árvore frondosa – igual todo mundo faz: na calçada, entendeu? E nessa... que a minha casa tem uma edícula invertida. Vamos supor: é uma casinha na frente, que a gente sempre alugou e ajudou no sustento, em tudo. Aí ela comentou: “E se a gente abrisse uma quitandinha, alguma coisa pra vender aí dentro?” Aí, amadureceu a ideia, a inquilina nossa também é a cabeleireira dela, comentamos com a moça e ela falou: “Não, Lu, eu estava vendo uma casinha maior. Assim que você falar que vai montar...”. Aí, amadureceu mais ainda a ideia, Deus abençoou de abrir as portas, aí chamei um pedreiro amigo nosso, ele não estava disponível, mas, porém choveu a semana inteira, São Pedro também ajudou (risos) no empório, porque era tudo mexer interno, entendeu? Aí ele falou: “Moisés, eu estou indo aí, nós vamos fazer”, trabalhou sábado e domingo, quebrando parede, nós adaptamos o local, falamos com a Grazi, em uma semana ela arrumou uma casa perto, do jeito que ela queria, mudou-se pra lá e começou a amadurecer a ideia, e aí, como a gente gosta muito do meio ambiente, encontramos uma moça aqui de Bauru que fabrica móveis de pallet. Inteirinho o empório é pallet, aproveitamento de madeira. Por sinal, ficou bem lembrando sítio. Aí a decoração nós temos galinha em cerâmica, nós temos... sabe? Quadro de sítio, que eu ganhei de uma cliente minha, que eu falei que minha paixão era ter um quadro de um sítio. Pois ela pintou em tela, hoje é destaque. A Lu gosta muito, é devota de Nossa Senhora, tem Nossa Senhora lá, pra abençoar. Respeito todo mundo, mas tenho a minha. E aí nós começamos, como bom mineiro: queijos. Eu faço uma carne seca maravilhosa. Tem vinho, tem suco, tem de tudo. O empório, sabe, foi assim, uma realização de vida minha e da Lu, certo? Agradeço aos clientes, que nos prestigiaram muito de início, que fizemos uma inauguração maravilhosa, a Lu fez muito, tudo caseiro: bolo; torradas com os patés que ela manja; sucos naturais; doce, geleia de frutas também, que é especialidade dela. Tivemos prestígio de todo mundo da imprensa, sabe? A Auri Verde estava vendo um reparo de asfalto aqui e eu fui buscar alguma coisa que precisava e o Léo, o repórter deles, estava ali e perguntou: “Moisés, o que você está fazendo?” Eu falei: “Hoje é a inauguração do empório” “É mesmo, eu tinha esquecido”. Ligou pro diretor lá, pro Alexandre Pittoli, ele falou: “Léo, dá uma esticada lá e faz a cobertura ao vivo pro Moisés”. Falei a respeito ao vivo, na antiga Auri... agora é Jovem Pan News de Bauru, falou tudo do empório, um monte de gente ouviu, já me ligou parabenizando, amigos trouxeram flores, orquídea. Então, olha, falta muito realizar na vida, mas nessa parte eu me realizei e bastante, eu agradeço a Deus e o esteio do lar, que é minha esposa, que trabalha doente, com febre, cansada, com dor. Mas quando a gente termina o turno, ela diz uma frase que é o combustível da minha vida: “É uma canseira gostosa que eu tenho”. Então, isso é gratificante. Concorda, Luís?
P1 – Concordo. Claro! Ainda mais fazendo as coisas que a gente gosta, né?
R1 – Perfeito.
P1 – Com cuidado. É mesmo. Que rua que é?
R1 – Aqui fica na... um marco legal é a rua do UPA do Bela Vista, Marçal de Arruda Campos, 996.
P1 – Sim. Eu sei onde é. E o senhor conseguiu conciliar? Aí, agora, o senhor tem o empório da feira e os seus filhos vão fazer a feira? Como que é?
R1 – Então, o meu filho mais velho é mecânico, tá? Ele é apaixonado... outra historinha legal: ele ia pra feira com a gente, o Moisés, que é meu xará, Souza Bastos, que herdou o sobrenome da mãe, ele ia pra feira... sabe igual filho de japonês? Dormia no caixotinho, debaixo da banca, sabe? Se alimentava lá, era amamentado lá; vinha comigo de Kombi, sem cinto de segurança, no banco da frente, estrada de terra, rodovia, quando não tinha, sabe, esse povo mais louco, nunca aconteceu nada e um belo de um dia ele estava na banca de um amigo meu, do Carlinhos, que moía café na feira, que o Carlinhos dava atenção pra ele, ele falava: “Mãe, eu vou lá com o Carlinhos”. Dois aninhos. E ele levava os carrinhos dele. E um dia ele estava com carrinho, com um pauzinho, mexendo, virado de ponta cabeça. O Carlinhos fez uma pergunta pra ele, aí vem ele e o Carlinhos na minha banca e falou: “Sabe que o Moiseziquinho falou pra mim? Que ele vai ser mecânico”. Você acredita? Com dois anos de idade. Pois ele, com 15 anos de idade, montou um motor aqui na garagem de casa. Com 16 fez o motor de uma Kombi, aqui na garagem de casa. Fez Senai e hoje é mecânico preparador de carro turbo. Mecânica convencional e de carro turbo.
P1 – Muito bom! E o outro filho? Continua na feira, né?
R1 – Assim, esse é meu legítimo, eu tenho a Mel, que é a mais velha; o Moisés, que tem 26 anos e o Mateus, que tem 22. O Mateus é massoterapeuta, porém hoje ele trabalha numa farmácia de manipulação. E aí tem a história do Juninho, que a avó é feirante, o pai é produtor de verduras, ele teve uns problemas de família, como todo mundo tem, com 13 anos de idade ele ajuda a avó do lado da minha banca da Falcão. E eu estava pondo a lona, como eu sou grandão, tenho um metro e sessenta e cinco no máximo, não alcançava e ele era um menininho esguio e já vinha pra ajudar, destemido. Estava chovendo, ele vinha me ajudar. E aí nós fomos pegando carinho, afeto. Aí, num domingo, não tinha uma pessoa pra ajudar a gente, que ia. Aí, convidamos ele pra ir, falamos: “Esse moleque não vai, né?” Chegamos três e meia da manhã lá, ele tinha tomado o último ônibus de Piratininga pra Bauru e estava ali, cochilando, debaixo de um toldo, esperando a gente. Aí, foi indo, foi indo, como ele começou a ajudar a gente domingo, ficamos com dó, ele pousava aqui em casa. E foi indo e foi indo, aí um dia ele falou que estava com dificuldade com a família, se ele podia ficar um tempo aqui, foi ficando, aí foi pegando aquele amor, porém com problema que todo filho tem, um ciumezinho, eu e a Lu conversava bem com eles e foi amadurecendo a ideia, até que ele mudou pra cá, conseguimos escola pra ele, ele estudava e ajudava a gente na feira, depois ele se formou também no Senai, que nós o forçamos ter, em outra área, de suspensão, freio, também tem um diploma do Senai e aí ficou conciliando, até que arrumamos pra ele com um amigo, numa troca de amortecedor e freio, aí ele foi indo, foi indo, conseguiu um amigo no posto, ficou um tempo num posto de combustível, aí veio a pandemia, aí veio esse convite pra ele perpetuar a feira livre, que é duro você começar uma história de vida e acabar em nada, né? Aí os outros não gostam muito de feira, porém sempre nos ajudaram nas necessidades, o Mateus e o Moiseziquinho, que é o nome carinhoso, ele também sempre ajudou a gente, é um vendedor nato, sabe? Tem o mesmo estilo, meu, de venda, porém, não gosta, então tem que fazer o que ama, igual você falou, né? Que é o lance do empório. Então, é isso. Aí o Juninho aumentou uma feira, hoje a gente faz... eu fazia sete feiras e apareceu essa nova, da Praça do Avião, ali perto da Getúlio, que você deve conhecer e aí ele também resolveu fazer, que a nossa segunda-feira, entre aspas, é mais ‘livre’. E ele também está fazendo essa de segunda-feira, que é noturna.
P1 – Sim. Mas, de qualquer forma, é a família perpetuando a arte da feira, né?
R1 – Outra coisa que eu não posso deixar de enfatizar a respeito da feira é que eu, à frente da associação... lembra quando proibiram as sacolas plásticas no Brasil? Você lembra desse episódio? Eu tive orgulho de Bauru ser a primeira feira livre de ter a sacola ecológica. Eu tenho uma feirante, a Kátia Mayumi, que era desenhista... tem o nome lá, de projetos, aí eu conversei com ela, ela falou: “Não, Moisés”, fez um desenho da sacola, eu consegui um material que usa menos produto do petróleo. Pro feitio dele vai, se não me engano, sal marinho. A extrusão dele é mais rápida e, com isso - eu pensei em tudo - gasta menos energia elétrica, é lavável, inodoro, não pega cheiro e ele também é 100% reciclável. Não existe que nem plástico, que joga fora, às vezes; caixa de ovo, que já foi reciclado uma vez. Chama PVC, que é usado em todas as bolsas de soro, aquelas cânulas de soro e outros materiais, que têm necessidade de ser um plástico estéril. Eu consegui um rapaz aqui em Bauru, também japonês, da Independência, que nós pegamos uma amizade, eu vendia super barato a sacola e deu um resultado fantástico. Pena que depois, né, tudo aqui no Brasil o dinheiro fala mais alto, e a indústria da sacola voltou com tudo e ficou quieto e jogou debaixo do tapete.
P1 – Está certo. ‘Seu’ Moisés, a gente está chegando já mais pro final da entrevista, queria que o senhor dissesse, na sua opinião, qual que é o segredo de um bom feirante e de um bom dono de empório, que o senhor hoje é dono do Empório da Feira, né?
R1 – É da minha esposa, né? Eu sou empregado, né? Vamos frisar bem, depois as consequências, eu estou aqui sozinho com ela, vocês estão aí tranquilos, então... mas eu só quero... a frase que eu criei, que foi criação minha e da Lu, que é: “Pratique feiraterapia”. Foi antes de sapatoterapia, foi antes de qualquer uma. Que eu criei o seguinte slogan: “Na feira você caminha, bate papo com os amigos e compra produtos de altíssima qualidade”. Isso foi citado em todas as entrevistas de jornal, rádio. A IG, na época, me entrevistou a respeito dessa sacola ecológica, ela que nomeou como a primeira do Brasil, então isso é um fato, mas é por aí. Então, você pratica feiraterapia. Na feira você encontra amigos, o feirante é consultor, advogado, psicólogo, dá um abraço, chora junto, ri junto, compartilha tudo com o vizinho de feira e com os clientes. Eu tenho cliente que vem almoçar e jantar em casa. Eu tenho vizinho de feira que faz bolo, café, pra esperar a gente. Tinha a Dona Omélia, no Redentor, que chamava a gente pra almoçar, eu tinha que ir pra chácara, ela punha molhinho de pimenta e fazia a Lu usar o banheiro dela. Vira uma nova família, entendeu? Então, o segredo pra ser um ótimo - eu não falo bom, ou é ótimo ou não é – feirante é ser carismático, é vender com verdade, produtos de qualidade, conciliados com um bom preço. O preço ótimo, com essa pandemia fica difícil, porque os custos aumentaram, de embalagem, de produto, de tudo, de transporte, mas é isso: sempre vender com verdade, o vendedor é o maior artista do mundo, ele tem que prezar o atendimento, tem que sorrir mesmo quando o coração está chorando, ele tem que fazer cursos, ele tem que assistir vídeos. Eu cito muito assistir Águia e a Galinha, você já assistiu?
P1 – Não. Águia a e a Galinha?
R1 – Pode assistir, que é um vídeo maravilhoso, que muita gente só bica o chão, não alça voo, entendeu? Então, a pessoa não pode ser uma galinha que só cisca e bica o chão. Ela tem que erguer a visão pro horizonte, tem que ter um olhar mais amplo e ir à caça e voar altos voos, pra poder conseguir sobreviver. Eu gosto de dizer muito: tem dois livros que marcaram minha vida, de Og Mandino, que é O Maior Vendedor do Mundo e Vaso Azul. Se você não conhece, indica pra quem quer ser um ótimo vendedor, porque muda, dá vontade de vender santinho pra padre, dá vontade de fazer rifa da mãe, mas não entregar, entendeu? (risos) Então, é por aí. E o empório não precisa ser grande, é ser aconchegante, é ter um atendimento também diferenciado, produtos diferenciados, produtos artesanais de qualidade, variedade e aliados, também, a um bom preço, tá? Um espaço que tem que vir do coração, tem que fazer aquilo. Não adianta a pessoa pôr de pallet, se a visão dele é um treco mais fino, em determinado local, diferenciado, entendeu? Então, tem que ser aquilo que manda o coração que aí, dificilmente, vai ter erro, viu, Luís?
P2 – ‘Seu’ Moisés, deixa eu perguntar uma coisa: antes de começar a entrevista, a gente estava falando na cor da camiseta, do nome do negócio. Eu queria que o senhor recuperasse um pouco essa questão, agora que a gente está gravando, assim.
R1 – É assim: nossa origem portuguesa, que eu prezo muito, sabe? A origem, no caso, da família que veio de lá. Então, veio, inclusive, no empório, no vidro de entrada, Empório da Feira, eu mandei fazer dois adesivos, da bandeira de Portugal e do Brasil, porque eu gosto muito de tradição, de escarafunchar, sabe? De ver. Minha irmã também lê muito a respeito da origem da família, sempre a gente liga e conversa. Então, as cores da minha camiseta, que é Banca de Ovos da Feira Moisés e Lu, aqui tem a bandeirinha do Brasil e aqui de Portugal. Não deu pra fazer colorida que, na época, ficou meio puxadinho, mas tem marcado. Então, como faz parte da nossa história, vamos mostrar um pouco. Muita gente pergunta: “Ué, bandeira...”, aí a gente conta. O empório também, as duas cores ficaram muito bonitas, que é uma parede verde e a outra é grená, com símbolo do empório pintado a giz, que a gente não usou tinta, assim, química, que dá cheiro, viu todos os detalhes. Então, é um orgulho fazer parte da fundação de Bauru, da história de Bauru. E hoje, poder estar perpetuando isso, a família Souza Bastos, que os e-mails nossos, tudo, a gente entra como isso, porque a Lu é uma batalhadora, então a gente tem que perpetuar não a minha família, mas a dela também, os pais dela, a Olinda e o Ademir, que sempre nos apoiaram, no começo da chácara, ajudando capinar, montar, sabe, tudo, a granja. Então, é aquilo: eu acho que a gente tem que, só, agradecer as origens, que trouxe, né, o sangue, um pouco, europeu, de empreendedor, de não desistir nunca, sabe? Eu fico possesso, esses brasileiros que tentam, tentam e em duas tentativas já param. Eu não, eu não desisto nunca, eu brigo, eu posso, sabe... a gente chega, sempre, num determinado ideal, que é vencer na vida. Mas sempre não esquecendo que a matéria não é nada. Que a gente precisa passear, desfrutar, porque caixão não tem gaveta. Um dia, do jeito que tu veio, tu vais.
P2 – ‘Seu’ Moisés, e no começo da entrevista, o senhor estava falando, né, de Penacova. O senhor conheceu a cidade? O senhor chegou a ir lá?
R1 – Não, mas por vídeo eu viajo muito. Um detalhe muito interessante: eu tenho um cliente que é meu patrício, né, como eu chamo, que ele já me chamou várias vezes, os filhos dele jogam vôlei, um na seleção de Portugal e um, se eu não me engano, é no time do Porto e ele tem um apartamento montado, ele falou: “A estadia é por minha conta”, mas daí entrou a pandemia. Mas eu sou assim: mesmo sendo brasileiro, com descendência portuguesa, eu acho que primeiro eu quero conhecer Brasil, eu quero conhecer as belezas daqui e, por último, conhecer Penacova, porque hoje eu consigo ver vídeos de lá. Você sabia que lá tem moinhos, igual da Holanda? Sabia dessa?
P2 – Ahn han.
R1 – Você sabia que o rio, lá, tem Festival da Lampreia? Eu esqueci o nome do rio.
P2 – É o Mondego, rio Mondego.
R1 – Isso, Mondego. Ele tem uma grande incidência de enguia. Seria a nossa piramboia aqui, só que ela suga sangue de outro peixe e ela tem uma qualidade de carne... aí tem um dia lá que é o Festival da Lampreia, que é essa enguia, que eles fazem ensopada, frita, assada. Então, eles a preservam o ano inteiro, pra ter abundância nos rios.
P2 – Ai, que maravilha! (risos)
R1 – Aí minha família veio de Portugal, se eu não me engano meu bisavô, Fernando Martiniano Bastos, pra Alfenas e, de Alfenas, pra Bauru. Porque, pelo que eu fiquei sabendo, foi a época, se eu não me engano, dos trens que partiam, acho que é isso, de Minas pra Bauru. Então, eles vieram pra cá e gostaram das terras, tudo e se fixaram aqui. Aí, esse bisavô meu fincou a cruz que o Luís falou, de aroeira, onde hoje é a Catedral do Divino Espírito Santo, que tem um marco, que tem um relógio. O Irineu Bastos, que é um historiador, como eu disse, escreveu no Bauru Ilustrado, essa história da nossa família, que me orgulha ainda mais, de eu ser um dos fundadores desse querido Bauruzão, meu amor.
P2 – (risos) Ótimo! Maravilhoso!
P1 – Inclusive, bom, a gente está chegando no final da entrevista, por isso que eu posso comentar alguma coisa, que a gente pode misturar.
R1 – Perfeito.
P1 – O Irineu Bastos tem um livro que mostra os três primeiros comerciantes registrados em Bauru, no ano de 1888. Era o José Lopes de Souza, Antônio Prudente e Manoel Jacinto Bastos. Deve ser parente do senhor.
R1 – Eu acho que era irmão do Irineu, se eu não me engano, que teve o primeiro açougue de Bauru. Se não me falha a memória. Porque eles têm tradição na Falcão de açougue, de fazenda que criava gado, que tinha os abates. Se não me engano, é isso. Que esse livro é um dos livros que nós participamos dessa história, que é a família Bastos na Falcão. Só que meu vô, arredio, montou ali, depois das Nações Unidas, que é ali, como eu lhe falei, na Vila Antártica. Por quê? Facilidade. Tinha a Mina do Abelha, que meu avô ia buscar água, que depois se formou a Padaria do Abelha, entendeu? E, sem querer, ele pegou um ponto nobre, que hoje nós estamos a duas quadras do Boulevard Shopping. Olha que maravilha! Que visionário que ele foi! (risos)
P1 – Legal. ‘Seu’ Moisés, então eu gostaria de agradecer muito o senhor, pela entrevista...
P2 – Lu, deixa eu só fazer a última pergunta.
P1 – Pode. Claro!
P2 – ‘Seu’ Moisés...
R1 - E depois, se eu puder fazer uns agradecimentos, que eu quero que conste, que nessa trajetória de feira, eu tive muitos apoiadores. Se eu puder falar, eu agradeço. Se você puder postar, é o maior prazer.
P2 – Fala agora. Pode falar agora.
R1 – Então, olha, é o seguinte: nesses anos de feira, nós tivemos muitas demandas, entendeu? Eu fico até com medo de esquecer alguém, mas uma pessoa que marcou muito é Antônio Zito Garcia, que foi vereador, foi nosso secretário, que ele segurou a peteca. Um dos prefeitos quis acabar com a Secretaria da Agricultura, nós, eu liguei pra todo mundo, pra vereadores, pra pessoal, na época, dos Sem Terra, que queriam entrar na feira e nós conseguimos, através de um plebiscito na Câmara Municipal de Bauru, levar mais de trezentas pessoas e o prefeito da época recuou e não acabou com a Agricultura. Que eu gosto de dizer que a agricultura é a cabeça de um país. Sem agricultura, não se tem nada. Não adianta. Se não tiver o agricultor, acho que mais de 78% da produção nacional são de pequenos e médios. Nós carregamos o país, matamos a fome, e é uma maneira, né, as feiras livres, que eu sempre digo, de escoar o produto do pequeno e abastecer a cidade com produto natural, de qualidade. Então, é isso. O Zito, como é carinhosamente chamado, foi vereador, foi nosso secretário, lutou junto, sempre, com a gente. O pessoal da imprensa também, o Luiz Carlos Silvestre, que foi diretor da antiga Auri Verde, sempre ajudou a gente. O Chico Cardoso, que foi um repórter também que sempre estava nas feiras, divulgando. Nós tivemos também a Eneida Muniz, que foi batalhadora, que lutou sempre junto comigo, que é feirante, foi tesoureira. Nós tivemos outro presidente, o Jamil Fidélis da Motta, que tem nome de judeu, mas é português, entendeu? Que sempre teve à frente. O Ricardo, que é o Alê da Massa, que sempre está lutando pelos ideais das feiras livres. E muita gente envolvida. Mas todos os secretários, que sempre nos apoiaram. O Senise Pereira Leite. Foram vários. Hoje é o Jorge Abrantes que está lá à frente. Todos os fiscais, que também sempre estiveram junto com a gente. O Ednaldo, o Rafael Santana, que hoje, infelizmente, não está mais na Sagra, mas que sempre vestiu a camisa do feirante e, às vezes, até discutindo com o próprio prefeito da época em favor a nós, entendeu? E aí eu só tenho que agradecer a todos esses envolvidos, perdão se esqueci de alguém, mas eu sou muito grato a todos que apoiaram e conseguimos chegar hoje à feira no pedestal que está. Com o respeito da imprensa, de toda a mídia em geral; de toda a população; da Saúde, que hoje vê a feira com outros olhos, que nós nos adequamos a todas as normas, pra melhor servir. Nunca nós fomos foco de qualquer contaminação, em 26 anos de feira. Então, isso é graças ao belo trabalho que todos vêm fazendo, de levar o próprio produto que seus filhos e suas famílias comem, pra nossos clientes.
P1 – Excelente!
P2 – ‘Seu’ Moisés, então, assim, o que eu queria perguntar também é assim. O senhor falou que o senhor já deu entrevistas, que é muito recorrente isso na vida do senhor, mas essa é uma entrevista de história, pra ficar pro Museu da Pessoa. O que o senhor achou de ter passado com a gente esse tempo, assim, da importância do projeto ter deixado registrada a experiência do senhor?
R1 – Pra todo mundo eu já comentei do orgulho que eu senti de ser escolhido, que eu acho que, numa cidade de quatrocentos mil habitantes, você ser escolhido pra representar o comércio, uma área distinta que é a feira livre, eu acho que é mais um combustível, um turbo na minha vida, né? (risos) Que meu filho fala, ele é preparador, eu acho que esse foi o turbo da minha vida, pra continuar esse trabalho. Inclusive eu queria, sabe, com a minha simples modéstia, o que eu sei, de fazer palestras pra feirantes novos. Eu tive a oportunidade, no Assentamento de Aimorés, estar passando um pouco da minha experiência de vida como feirante, passando uns ensinamentos, que eles fizeram um grupo pra fazer feira livre, que não deu muito certo, porque eles são meio que nômades, eles preferem vender na rua, assim, diferenciados. Mas ainda tem dois, três que fazem feira e lembram do dia que eu fui lá e passei a minha experiência de vida. E aí eu tive, já, na TV Tem, algumas falas. Eu já tenho uns dois ou três DVDs que eu fui entrevistado pra falar não de um todo, mas particularmente do Moisés e a Lu feirantes. O meu agradecimento principal é da minha esposa que, mesmo assim, sabe... é assim, aquilo que falou: dá resultado dá, mas ela não gostava diretamente de feira, então o empório veio selar aquilo que ela se realizou, que é comércio, mas não assim, fora, porque atender cliente não é fácil, entendeu? Tem os percalços, que é chuva, vento, que eu falo que o feirante é um herói, de sobreviver a tudo isso e não desistir nunca. Alguns desistem, mas porque não têm... não é feirante com F maiúsculo. É feirante, um simples feirante, com f minúsculo. Então, me enobrece muito o convite de vocês, foi uma experiência ímpar de poder falar de um todo, tanto da vida particular, como da vida profissional. Então, vocês estão de parabéns, não deixa apagar essa chama da entrevista. Foi feito com simplicidade e com linguajar do povo, que isso é muito importante, que não tem essas de falar os erres certos, de falar palavras corretas. Tem que chegar, realmente, àquele que precisa ouvir, àquele que vai filtrar e tirar o melhor dessa entrevista. Então, muito obrigado de coração, que Deus abençoe o trabalho e continue perpetuado também, se bem que nem com a pandemia morreu, não vai morrer nunca, com certeza.
P1 – Está certo. Muito obrigado, viu, ‘seu’ Moisés, pelo seu tempo, foi muito interessante a história do senhor e logo mais o nosso fotógrafo Fabrício vai ligar pro senhor esses dias e marcar um horário que o senhor puder, pra ele fazer uma sessão de fotos com tudo isso que o senhor falou aí, que dá pra tirar as fotos. Tá bom?
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