Entrevista de Raimundo Fernandes
Entrevistado por Laura Lanna e Magali Lanna
Barra Longa, 02 de março de 2023.
Projeto Memórias do Rio Doce
Entrevista número MRD 002
Realização Museu da Pessoa
Transcrita por Mônica Alves
(00:28) P1 - Bom dia, seu Raimundo.
R1 - Bom dia!
(00:31) P1 - Então vamos começar pelo seu nome. Então fala aí o seu nome completo, onde que você nasceu, né? A data do seu nascimento
R1 - Raimundo Fernandes, 23/03/1941.
(00:45) P1 - E onde?
R1 - Uma propriedade que se chama Zé Pereira. Fica uns 3 ou 4 quilômetros do Cunha. Então foi lá que eu nasci. Com seis anos eu vim para Barra Longa junto com meu avô e moro até hoje. Novo Miro, rua Xavier, 243.
(01:12) P1 - E os seus avós?
R1 - Meus avós eram, Alexandre Pereira e Maria Cristina da Conceição, o casal.
(01:27) P1 - E eles moravam?
R1 - Eles moravam no Zé Pereira também. Até a gente mudar, nós moramos juntos na mesma casa
(01:41) P2 - Foi criado por eles seu Raimundo?
R1 - É, praticamente sim. Porque minha mãe era o pai, né. Ela que plantava arroz, feijão e trazia para casa, porque o meu pai era separado, eles eram separados. Então eu ficava… eu fui criado pela minha avó, minha avó que cuidou de mim e mais dois irmãos que já faleceram.
(02:13) P1 - Então, e como é que o pessoal vivia lá nesse lugar? Como é que vocês viviam?
R1 - Plantando. A gente tinha uma lavoura de café que é do meu avô e plantávamos arroz e feijão. Em outro terreno, porque o terreno era pequeno, né. Minha mãe é que plantava. Plantava, colhia, fazia todo o serviço que um homem fazia, ela que fazia.
(02:41) P2 - (02:42) no outro terreno?
R1 - Não. Aí se era colheita, colhia lá, se era arroz, batia lá e vinha e trazia o resto, dividia lá e trazia para casa, para nossa casa. Igual eu continuo fazendo aqui, a...
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Entrevistado por Laura Lanna e Magali Lanna
Barra Longa, 02 de março de 2023.
Projeto Memórias do Rio Doce
Entrevista número MRD 002
Realização Museu da Pessoa
Transcrita por Mônica Alves
(00:28) P1 - Bom dia, seu Raimundo.
R1 - Bom dia!
(00:31) P1 - Então vamos começar pelo seu nome. Então fala aí o seu nome completo, onde que você nasceu, né? A data do seu nascimento
R1 - Raimundo Fernandes, 23/03/1941.
(00:45) P1 - E onde?
R1 - Uma propriedade que se chama Zé Pereira. Fica uns 3 ou 4 quilômetros do Cunha. Então foi lá que eu nasci. Com seis anos eu vim para Barra Longa junto com meu avô e moro até hoje. Novo Miro, rua Xavier, 243.
(01:12) P1 - E os seus avós?
R1 - Meus avós eram, Alexandre Pereira e Maria Cristina da Conceição, o casal.
(01:27) P1 - E eles moravam?
R1 - Eles moravam no Zé Pereira também. Até a gente mudar, nós moramos juntos na mesma casa
(01:41) P2 - Foi criado por eles seu Raimundo?
R1 - É, praticamente sim. Porque minha mãe era o pai, né. Ela que plantava arroz, feijão e trazia para casa, porque o meu pai era separado, eles eram separados. Então eu ficava… eu fui criado pela minha avó, minha avó que cuidou de mim e mais dois irmãos que já faleceram.
(02:13) P1 - Então, e como é que o pessoal vivia lá nesse lugar? Como é que vocês viviam?
R1 - Plantando. A gente tinha uma lavoura de café que é do meu avô e plantávamos arroz e feijão. Em outro terreno, porque o terreno era pequeno, né. Minha mãe é que plantava. Plantava, colhia, fazia todo o serviço que um homem fazia, ela que fazia.
(02:41) P2 - (02:42) no outro terreno?
R1 - Não. Aí se era colheita, colhia lá, se era arroz, batia lá e vinha e trazia o resto, dividia lá e trazia para casa, para nossa casa. Igual eu continuo fazendo aqui, a mesma coisa.
(03:37) P1 - O que você aprendeu com a sua mãe e com os seus avós?
R1 -. Aprendi muita coisa, né. Por exemplo: plantar, colher. A educação que eles me davam também, que era outra, não era essa educação de hoje, era diferente, né.
(03:30) P1 - E como é que era?
R1 - Olha, primeiro respeitar os outros. Os meus avós eram analfabetos, mas cuidaram de mim, me colocaram na escola logo que eu mudei para cá, aos seis anos. A primeira escola que eu frequentei foi Dona Elza Gide Caetano e ali eu estudei um ano. Fui para um grupo, já no segundo ano, lá eu estudei até o quarto. E ficou por aí.
(04:08) P1 - Então o senhor estudou até o quarto ano na escola Claudionor Lopes?
R1 - Quando o colégio aqui foi inaugurado, eu estudei uns tempos aí. Mas depois já estava meio… eu achava que eu estava velho, né. Trabalhando e já pensando em casamento, não quis continuar.
(04:30) P1 - Com quantos anos mais ou menos você saiu da escola?
R1 - 11 anos.
(04:35) P1 - Aí foi trabalhar? Como foi? Conta aí como é que foi?
R1 - Fui trabalhar. Fui aprender o ofício de sapateiro (04:43). Aí depois eu montei uma sapataria de conserto para mim, ali na casa de Melcita, debaixo da casa de Melcita. E ali comecei. Fui para debaixo da casa de Alberto, hoje é Mater. Aí quando eu estava com, me parece, 29 anos, já tinha casado, já tinha três filhos, nós fomos para São Paulo, a gente foi para comprar onde eu moro. Lá eu trabalhei uns dois anos e tanto, paguei o terreno e voltei. Continuei na sapataria. Aí surgiu um concurso aí no Estado, eu fui fazer o concurso que era em Ponte Nova. Passei no concurso e trabalhei uns 20 e tantos anos no Estado onde me aposentei. Eu tenho 24 anos de aposentado.
(05:53) P1 - E qual era essa função?
R1 - IMA, Instituto Mineiro de Agropecuária
(05:58) P1 - Qual era a sua atividade?
R1 - Eu era funcionário… era um ajudante né, de veterinário. E eu ficava… aqui era o lugar onde eu trabalhava, mas eu ia para Ponte Nova sempre quando precisava
(06:20) P2 - Voltando um pouco, você lembra com quem você aprendeu o ofício da sapataria?
R1 - José de Adelino, chamava a pessoa. Morava aqui do lado, aqui. Lá de baixo aqui, Zé de Adelino. Aí fiquei uns tempos, quando eu estava habilitado mesmo eu resolvi abrir uma oficina. E a oficina foi comprada por pai de Caetano, Osvaldo, que o avô dele trabalhava em Belo Horizonte. As peças, eu ainda tenho algumas peças até hoje, forma… várias peças. E aí eu comecei com essas peças que foi de seu avô em Belo Horizonte.
(07:13) P3 - Seus irmãos trabalhavam muito com você?
R1 - Eu tinha um irmão que ele trabalhou comigo uns tempos, mas só para ajudar. Depois ele foi para São Paulo e lá trabalhou até se aposentar e voltou. Ficou uns tempos aqui e morreu.
(07:33) P3 - Só ele? Só um irmão?
R1 - Tinha o Sebastião também, que esse morreu lá.
(07:39) P3 - Ah, tá. Dois irmãos.
R1 - Dois irmãos só, que eu tive.
(07:41) P3 - Ah, um era Sebastião e outro?
R1 - José Fernandes. Você lembra dele aqui?
(07:46) P3 - Lembro.
(07:50) P1 - Quando você foi para São Paulo, lá em São Paulo qual era sua atividade?
R1 - Eu trabalhei em um laboratório farmacêutico, que eu não sei se existe hoje, chamava Eli Lilly do Brasil, ele era americano. Eu fazia serviços gerais lá dentro. E lá eu trabalhei até sair, até pedir demissão.
(08:18) P1 - E com esse serviço o senhor sustentava a sua família, já tinha os seus três filhos?
R1 - Eu ganhava relativamente bem, mesmo como servente, mas bem. Aí eu fazia várias coisas. Trabalhava fazendo limpeza das seções onde fabricavam os remédios. Trabalhei muito com formol, que hoje é até proibido, né. Para esterilizar as seções a gente fabricava a insulina, trabalhei nisso. E lá eu chegava seis horas da manhã, tomava café e saía. Por exemplo, às seis horas da tarde, que eu fazia hora extra, muita hora extra, e lá eu tinha tudo. Chegava tirava a roupa, vestia minha roupa lá de trabalhar, de uniforme, branco e trabalhava até a noite. Tinha dia que ia até às nove horas, fazia muita hora extra e era o que eu estava querendo para eu voltar o mais rápido possível. E muito bom o ambiente, muito bom! Eu saí com água nos olhos, viu. Porque a minha mãe, quando eu falava em ir para São Paulo, ela ficava doida para ir, mas ela morar em quatro cômodos, eu tinha certeza que ela ia morrer bem antes. Aí eu não quis, vim embora, pedi demissão por causa dela. Porque a minha esposa, com os três filhos que eu tinha na época era tranquilo, estava lá até hoje. Mas minha mãe, era problema, né. E eu não queria, era muito sofrido durante a vida e eu não queria magoá-la, né. Então…
(10:23) P1 - Você saiu de lá para morar com ela aqui?
R1 - Ela que morava comigo.
(10:28) P1 - Ah, sim.
R1 - Eu já tinha uma casa e ela morava comigo. Tinha um cômodo dela lá. E ela sempre trabalhando na roça, igual homem; então ela pegava um trecho grande para plantar milho, feijão e ela ganhava dia, como diz; ela trabalhava para os outros, eram dois dias dela para o homem vir pagar. era assim. E ela foi indo até não poder mais.
(11:03) P3 - Quer dizer que antes eram dois dias da mulher, que valia um do homem?
R1 - Um do homem. Ela fazia isso. Ela trabalhava, por exemplo, ia apanhar arroz, apanhava arroz dois dias, ganhava um dia dele para vir capinar pra ela. Porque a capinagem era mais difícil, né. Aí atrasou a pessoa para capinar para ela, ajudar. Ela fazia tudo, mas ajudar ela a plantar na época certa, adiantar o serviço.
(11:38) P1 - E logo que você veio para cá, você adquiriu essa casa com dinheiro que você…
R1 - Não. Aí eu vim para cá e continuei morando com os meus avós até os, mais ou menos, 18 anos. A minha avó doou para mim o pedaço do lote que eu fiz a casa. Aí eu estava próximo de casar e fiz a casa, deixei inacabada. Mas casei e morei de aluguel perto.
(12:15) P1 - Como é que foi o seu casamento?
R1 - Hein?
(12:17) P1 - Você lembra do seu casamento?
R1 - Lembro.
(12:19) P1 - Então fala, conta aí como é que foi?
R1 - Meu casamento foi… a data do casamento foi 05 de julho de 1963. Aí eu casei e fui morar com a minha esposa (12:38) Fernandes, hoje, né. E era filha do Alonso Mendes. Aí moramos nessa casa, ao lado do vizinho né, que ainda existe hoje, até terminar a minha. Quando terminou a minha, nós passamos para a minha casa.
(12:59_ P1 - Você ficou noivo, namorou, como é que foi?
R1 - Não, normalmente. Noivo, noivo, como diz o outro, “Um longe do outro”. E a cadeira era longe (risos). Minha sogra era enjoadinha, direita, gostava de tudo conforme a época, né. E aí, com um ano e meio mais ou menos, nós tivemos o primeiro filho, que se chama Zé Geraldo, Dé, que trabalhou na cooperativa (13:38). Depois veio… não, era a Maria Auxiliadora a primeira filha, mais velha, depois o Zé Geraldo, depois veio o Anísio, depois Alexandre, depois Alessandra, desse ano do colégio você conhece. Aí começamos a vida com cinco filhos. Quando eu fui para São Paulo, só tinha três, eram Maria Auxiliadora, Zé Geraldo e Anísio. Aí depois que eu trabalhei em São Paulo, determinado tempo eu vim, aí que tivemos o Alexandre e Alessandra.
(14:30) P2 - E você lembra como você conheceu a sua esposa?
R1 - Ah, na rua aí, nas festas. Festa junina, festa de igreja, festa religiosa, né. Aí conheci ela e eu gostei dela primeiramente por ser de uma família boa e ela trabalhava na roça também. Fazia rapadura. Aí eu pensei assim: “Eu vou casar com essa moça, porque se a coisa ficar muito ruim, ela me ajuda, nós vamos para a roça capinar, plantar e ela me ajuda, porque ela tem prática. E assim que de fato foi preciso, no início da vida foi preciso ela me ajudar. E me ajudou muito! Hoje não ajuda mais porque não precisa. Já está com os seus 76 anos, né. Eu sou mais velho que ela 8 anos.
(15:37) P1 - Então sobre a escola seu Raimundo, o senhor falou um pouco sobre ela, vamos lá voltar?
R1 - Na escola eu comecei em escola particular, né. Com a dona Elza, né. Acho que já falei isso. Aí fiz o primeiro ano com ela e fui para o grupo, fiz uma prova e a dona Edite, mãe dele era diretora, ela me passou para o segundo ano lá no Claudionor Lopes. E aí eu comecei. Minhas professoras eram boas! Tinha dona Grita, dona… a esposa de Zé Getúlio..
(16:20) P1 - Dona Celita.
R1 - Dona Celita. Dona Malsina foi minha professora. Ah, acho…
(16:30) P1 - E como é que vocês iam? Tinha uniforme? Como é que era a alimentação?
R1 - Não, não tinha nada. Nós íamos com a nossa roupa mesmo. Você estava falando da merenda, não tinha merenda, a gente levava uma banana. Mas lá tinha que levar muita banana para sobrar pra gente, porque todo mundo queria, porque muitos não levavam, né. E na época eu era o mais novo da classe, então usava muito… 14, 15 anos, fazendo o segundo ano do primário. Tinha um pessoal do seu Zequinha ali, aqueles homens grandões e eu ficava no meio deles. E aí fiz o segundo, terceiro e quarto ano. Eu me formei e a minha última professora foi dona Celita. É isso aí.
(17:35) P3 - Última professora que o senhor gostou muito? A mais assim, uma professora que…
R1 - A dona Celita era muito boa, muito boa! A dona Edite era brava, então não era fácil, não (risos). A dona Edite, não, a dona Negrita. Era brava. Aí passei… o último ano foi com dona Celita mesmo. Aí terminou, meu primário, terminou…
(18:09) P1 - Na sua juventude, você frequentava as festas, como é que era, conta aí?
R1 - Eu, festa religiosa, eu frequentei muitas porque lá no tempo do padre José Pifano, eu fui coroinha dele muito tempo. O cinema que tinha aqui, ali, lá em cima, onde hoje é a casa de Sinico, me parece, tinha um cinema lá, mas aí os meninos não entravam. Aí eu ficava doido pra ser adulto, ter meus dezoito anos pra ir no cinema, quando aqui em frente, gurilândia dele, é tinha uns divertimento que hoje não tem, viu. O cinema, fim de semana. Outras coisas não frequentavam, não. E mais era a igreja, direto.
(19:09) P1 - As festas eram boas?
R1 - Boas. A semana santa aqui é um… porque aqui tinha muita gente, né? A população era grande, na roça principalmente. E não tinha, vinha a cavalo ou a pé. Porque não tinha muito carro. Pobre não tinha carro aqui, não. Hoje tá cheio de carro aí mas, na época, não. Vinha a cavalo, o cara trazia o cavalo, trazia a filha na garupa, vinha, terminou, cá fazia uma horinha e vinha embora de novo.
(19:47) P1 - Então aqui tinha um cinema?
R1 - Tinha.
(19:50) P1 - E nesse cinema tinha essa gurilândia, essa gurilândia você frequentava, podia frequentar?
R1 - Às vezes frequentava. Porque era durante o dia. Era muito animada. E na época era o Linkin Freitas que dirigia ela, né. Muito animada, depois, foi acabando aos poucos, que ele ficou velho, o negócio todo foi desanimando e, mas era animado.
(20:25) P1 - Sem ser a escola, você frequentava alguma outra coisa, tinha alguma atividade na cidade que você fazia sem ser a escola?
R1 - Não.
(20:38) P1 - Porque aqui tinha a banda de música, tinha teatro…
R1 - Pois é, a banda de música já fui entrar nela foi mais velho. No meu tempo de criança, no lugar do colégio, que ali chamava Chiquinho Grande, ali que tinha as partidas de futebol, à tarde, domingo, aí eu frequentava, que era pertinho, mas era muito rápido porque minha avó ficava vigiando, né? Ali eu frequentava futebol, as peladas que falavam, né? E ali o meu lugar era garantido porque eu era um dos melhores da turma, da minha idade. Quando era à tarde, tomava banho e ia pras rezas, tinha rezas com o padre José Pifano. Aí eu estudei música com Joaquim Taciano. E peguei, estudei a música primeiro pra depois pegar o instrumento. Ele não deixava a gente pegar o instrumento antes da hora. Aí quando eu me formei na música pra pegar o instrumento, eu queria pegar o pistão. Mas Joaquim Taciano já tinha vários pistonistas, e ele não deixou. Aí eu vi, debaixo da cama dele, lá tinha um instrumento, amarelo, cumprido, chamava oficleide. Falei: “Então eu quero pegar esse daí”. Mas era meio complicado porque tinha que saber, por exemplo, duas ou três claves, instrumento francês, existe ele na banda, ainda. Mas é complicado porque a escala é diferente. Eu estudei ele aos pouquinhos em casa, soprando ele, e consegui tocar. E fui o titular lá na banda. Fazia os solos nas procissões, né. Era eu, Afonso ngelo, tinha outro que fazia. Mas, a minha parte era separada. O oficleide. Aí toquei até na véspera de vir pra São Paulo. Em São Paulo eu entreguei o instrumento e fui embora pra São Paulo. Aí eu não voltei na banda mais. Até hoje. Eles me convidam mais, o ambiente, né? Já tinha meus companheiros (23:41?), Quintaciano, Alberto, na clarineta, Tom Gê, no bombardino, e aí terminei com eles, a banda. Era uma turma grande. Quando chegamos no Rio de Janeiro também, em 60, num programa lá, que eu não recordo o nome agora, todo sábado ia uma banda. E neste mês, fomos nós, nessa semana, né? Tocamos e voltamos. Toda banda ia lá, foi bom.
(24:35) P1 - Diz que era a Rádio Nacional, né?
R1 - Rádio Nacional. Lira de Xopotó. Programa a Lira de Xopotó. É, todo mundo ficava assistindo ela. Cada fim de semana era uma banda do estado de Minas.
(24:52) P3 - Conheceram o Rio?
R1 - Hein?
(24:53) P3 - Conheceram o Rio de Janeiro?
R1 - Primeira vez que eu fui ao Rio de Janeiro.
(24:56) P3 - Passearam lá com a banda?
R1 - Ah, não deu para passear não. Ficava todo mundo junto.
(25:01) P3 - Ah, ficaram lá.
R1 - Do interior, nunca tínhamos ido, ficávamos lá. Conhecemos a praia e tudo, mas… é, acho que não ficamos lá muito e nada. E no outro dia todo mundo voltou.
(25:18) P2 - E como você se sentiu tocando nesse programa?
R1 - Ah, me senti muito satisfeito. Era uma, sabe como é? Como se fosse uma promoção, né. Ir no Rio de Janeiro e tocar lá, no programa Lira de Xopotó, para o Brasil todo ouvir, né. E nossa banda era famosa aqui na região e ficou mais famosa ainda. Aí começamos a… o pessoal chamava para tocar nas festas dessas cidades grandes e tudo. Aí na redondeza chamavam, e nós fomos.
(25:57) P1 - Como é que é o nome da banda? Você falou? Você falou o nome da banda que você tocava?
R1- A banda São José. Banda São José.
(26:09) P3 - Tocava na banda e trabalhava?
R1 - Trabalhava. Aí era normal, ia para a sapataria, né. Que depois foi construída ali a sede da banda. Eu trabalhava de um lado e a sede da banda era de outro. Hoje ali é a Mater, né. E do outro lado ali, aquela casa. Na frente ali era a sede da banda.
(26:42) P3 - Trabalhava e estudava à noite na banda?
R1 - É, tinha os dias de exercitar, né. Tinha. Todo dia a gente podia ir, mas tinha um dia na semana ou dois que era de prova mesmo, que eles falam.
(27:02) P1 - De treinar. Eles faziam treino?
R1 - Treinava. Aí vinham as partituras pra gente. Mas eu normalmente levava as partituras para casa, para não dar trabalho lá na banda, né. Aí eu era um dos primeiros, porque eu estudava em casa e não tinha problema, porque a minha partitura era mais difícil, que era clave de fá. E aí depois eu passei a transpor, eu lia uma coisa e tocava outra, fiquei prático nisso. Igual… hã?
(27:43) P1 - Quem fazia as partituras? Quem escrevia as partituras? Elas vinham escritas? Elas já vinham escritas para você?
R1 - Não, a partitura eu, eu… já vinham escritas. Nós já tínhamos elas escritas.
(27:51) P1 - Ah, tá.
R1 - Eu levava a minha, porque a minha era diferente, eu tinha que transpor. Porque o meu instrumento era de dó, e lá elas eram na clave de… o meu na clave de dó e lá era sí. Aí eu levava a clave transpor, para ficar fácil para eu ler a partitura.
(28:21) P2 - E como escolhiam essas partituras das músicas que a banda ia tocar? Quem escolhia?
R1 - Normalmente era o mestre, ele é que escolhia. Porque normalmente eram as partituras que a gente ia tocar na semana seguinte, em um lugar assim, no Cunha, no Pimenta, no Gistério e tal. Aí tinha uma festa programada lá e a gente ia. Aí escolhia. E ele gostava de escolher as partituras que a gente tocava melhor, porque as outras a gente tinha que bater elas até ninguém errar, né.
(29:06) P3 - Naquela época tinha encontro de bandas? Já tinha?
R1 - Não. Era difícil encontro de bandas viu. O encontro de bandas era quando a gente ia em uma cidade, por exemplo, Viçosa, chegava lá tinha outra banda. Então a gente tocava de frente com ela. E não podia errar não, porque era vexame, né. Então a gente… Quintaciano era enjoado demais, não gostava de nenhum piado. Por exemplo, é muito fácil pegar uma clarineta e dar um piado, que a pessoa… o clariciano não tem domínio sobre aquele instrumento e ele tem uma paleta, aquela paleta é um horror, né. Se a pessoa não souber direitinho dominar, ela pia toda hora, dá um piado e aquilo é um vexame. Aí ele olhava assim, a gente tinha que dar um jeito, corrigir (risos).
(30:17) P1 - Pois é. Aí você trabalhava como sapateiro, né? E na banda. Como sapateiro na época, você tratava da sua família…
R1 - Tratei da minha família como podia, né. Tinha, não faltou o pão não. Eu dava dinheiro a eles, às vezes chegou, por exemplo, lá na sua casa mesmo, seu pai era o meu freguês. Chegava o serviço lá e era muito comum exigir para aquele mesmo dia, porque tinha o colégio, mandavam um sapato que o estudante tinha que ir no colégio com ele às vezes era um só, um par só e eu tinha que dar conta, consertar ele e dar pintura para ficar bonitinho para apresentar bem lá.
(31:16) P1 - Nessa época sua mulher te ajudava também?
R1 - Não. Ela ajudava lá na cozinha, né. Era muita coisa para ela, criar cinco filhos, né. No final eram cinco filhos, era apertado sim. Aí começou a Maria Auxiliadora entrar no colégio, entrou no colégio, já tinha que se apresentar melhor e aquele negócio né, não tinha… tinha que ter roupa boa para ir ao colégio.
(31:50) P1 - Uniforme, né?
R1 - Uniforme. A vida era boa, viu. Não era ruim não. Era meio complicado porque a gente não ganhava tanto né, não tinha… depois que eu larguei… que eu fui para São Paulo e voltei, que eu fiz esse concurso, passei, aí eu fui trabalhar no Estado, aí já tinha um salário fixo. Não era um grande, o salário Estadual não é bom, mas era fixo, né.
(32:23) P1 - E depois que você começou aqui, trabalhar nessa área, você tinha algum plano além disso? Tinha algum plano, alguma coisa?
R1 - Na área de sapateiro, você quer dizer?
(32:39) P1 - Não. De cultura, lá no IMA.
R1 - Ah, sim. Olha a minha era aposentar, eu já não era muito novo e nada, né. Como me aposentei. E hoje eu faço muita coisa que eu fazia no Ima como empregado, eu continuo fazendo, que é a vacinação contra brucelose que é uma vacina que é proibida, a fiscalização proíbe o dono aplicar, porque ela tem um vírus e pode contaminar a pessoa e a pessoa contaminar… por exemplo, o dono do terreno ficar contaminado, ele contamina a mulher e pode contaminar também os filhos, né. Então por esse motivo a pessoa tem que ser credenciada, no caso aí, o veterinário ou a pessoa credenciada pelo IMA.
(33:41) P1 - Como você já era credenciado…
R1 - Continuei.
(33:43) P1 - Aposentou e continuou.
R1 - Continuei e continuo fazendo até hoje. Hoje, por exemplo, se não fosse essa entrevista eu estava na roça.
(33:54) P1 - Vacinando.
(33:57) P2 - Vai de moto?
R1 - Vou de moto. Não tô muito bom para andar de moto não, eu torci o pé e tá ruim pra danar, mas ainda tem um jeito. Tem hora que eu ponho ela em uma roda só e saio andando.
(34:10) P1 - (risos) Que coisa boa. E depois que você se aposentou e tudo, você teve algum, tem algum trabalho na área social aqui também, em Barra Longa? Como é que é isso?
R1 - Olha, eu tinha um projeto, ainda tenho, eu acho que acabou de fazer uma casa de repouso. Porque com essa ideia de fazer a casa de repouso, nós conseguimos, lá em Belo Horizonte, uma arquiteta, levei os dados para ela, do lote que é da prefeitura até hoje. Levei os dados pra ela e ela fez um projeto pra gente construir uma casa de repouso, para 20 idosos. E ela fez o projeto, levamos lá na cidade administrativa onde tem o órgão que aprova, deixamos lá uns dias e foi aprovado. Através dela, que parece que já trabalhou lá, eles aprovaram rapidinho. Eu achei que a construção ia começar na semana seguinte, e eu apressando também, para sair depressa. Aí voltamos com o projeto, foi aprovado, deixamos uma cópia em Ponte Nova, com a dona Margareth, parece, lá em Ponte Nova, que ia acompanhar a construção aqui, né. Consegui o engenheiro gratuito. O engenheiro veio, conheceu o terreno e a gente já ia começar. Fizemos lá os buracos, lá para colher a terra, para ver como é que podia funcionar, até que ponto ia afundar. Acontece que depois de tudo animado e tal, com bastante gente querendo ajudar, pessoal ia começar com mil reais cada um. Aí foi interrompido por causa da administração da época que ia vender o lote que a gente ia construir, aí atrapalhou.
(36:39) P1 - Você teve esse sonho aí por que? O que você viu que você achou que devia construir isso aí?
R1 - Ah, de tanto andar na zona rural, eu conheci muito velhos precisando de… porque às vezes tem um idoso, mas os novos não podem ajudar, porque estão estudando e acaba de estudar vai fazer… porque na época não tinha… não, já tinha o colégio aqui, eles saem né, vão procurar serviço fora, fazer suas vidas fora e aí o velho fica sozinho. E uma casa de repouso, bem organizada, o idoso entra e não quer sair não, tem todo o conforto, né? E esse projeto, por exemplo, tem os lugares para tudo, tem a sala de encontro dos idosos, tem a sala de televisão, tem tudo lá dentro. Tem a sala onde recebe o médico, onde recebe a enfermeira e tudo. E essa casa de repouso, ela tem três pavimentos e não tem um degrau, tudo com rampa, é uma maravilha!
(38:06) P1 - Mas aí está parada até hoje?
R1 - É, depois na segunda fase, que foi em 2022, o ano passado, veio uma outra fase, inclusive o prefeito chamou lá, para ver o lote e autorizar. Levou um ou dois secretários para limpar o lote para nós começarmos. Mas passou só isso, até hoje não liberou o lote pra gente. Já estaria construído se há seis ou sete anos atrás, na primeira fase, já estaria construído. Porque a fundação (38:49), não ia deixar de dar uma ajuda também. E nós tínhamos várias pessoas com boa vontade, inclusive nessa segunda fase agora, eu tinha um dos colaboradores aí, que seria o… eu não me recordo o nome dele agora, pediu até para eu abrir uma conta da associação, Morro Vermelho no scooby, eu abri, ficou seis dias parado, eu tive que pagar taxa lá de 300 e tantos reais, porque a conta ficou parada, não entrou dinheiro, parado tudo.
(29:29) P1 - E essa associação, como é que foi essa associação?
R1 - A associação no projeto, ela ajudou muito. Ela…
(39:29) P1 - Você fazia parte dela? Como é que era?
R1 - Gastou dinheiro, por exemplo, o dinheiro que eu ia para Belo Horizonte, em Belo Horizonte, na cidade administrativa, foi custeada pela associação. Taxa de, por exemplo, que eu paguei no… porque o projeto foi registrado lá no… não me recordo agora.
(40:06) P1 - Cartório.
R1 - Cartório… no cartório também… ah, fugiu. E a gente registrou os… as taxas foram pagas pela associação. E a associação quando estava do lado da construção, ia ajudar, mas foi só um sonho.
(40:41) P3 - E como foi criada essa associação aí, lá do Santo Antônio, lá do Morro vermelho?
R1 - Foi criada com uma reunião que nós fizemos. O pessoal do Morro Vermelho, as donas mais antigas, eram doidas para ter um lugar para rezar, um encontro para reunir, para rezar. E aí em 98, em fevereiro de 98 nós começamos, inauguramos a associação, o início da… depois, quando foi em 2.000 começamos a obra, que é o salão que está lá até hoje. Fizemos a parte de cima, inauguramos e fizemos a parte de baixo que até hoje ainda tem construção, tá e construção ainda. Mas está perto de terminar. E lá é alugado, nós alugamos para poder arranjar recursos para pagar a luz, pagar a água e outras coisas, né. A associação nossa é legalizada, faz imposto de renda todo ano e está até hoje assim. E estão esperando chegar lá um telhado que tá lá, e colocar uma laje para abrir o espaço. A gente está pretendendo fazer uma capelinha lá, um cômodo para a capelinha. Porque o pessoal lá não está achando bom funcionar embaixo, só por causa de descer, a descida lá é forte, porque reza idoso. E aí nós vamos ter que fazer em cima. E se eu não sair, se eu sair o outro constrói.
(42;37) P1 - E toda a vida você fez parte dessa associação?
R1 - Toda a vida.
(42:43) P1 - Na direção dessa associação.
R1 - Eu por exemplo nunca fui presidente. Eu saí de presidente para secretário, para tesoureiro, pra isso, para aquilo, mas como presidente, nunca fui. Começou com Carmem do Zé da Baixada. Aí depois ela alegou que a mãe dela estava doente, que ela tinha que olhar a mãe dela e tudo, ela saiu e não quis entrar mais. Pelejei com ela, foi uma boa presidente. Lá é que nós inauguramos, registramos o estatuto, tudo, tudo com ela. E depois continuou comigo e hoje o presidente é Zé Francisco Machado, irmão da Graça Machado, ele que é o presidente. E ano que vem nós temos que fazer outra assembleia para mudar a diretoria, que de três em três anos muda. Aí o presidente passa para secretário faz uma mistura, né. E continua.
(43:55) P1 - Em algum momento o que impactou a vida dessa… sua vida, ou dessa associação ou dos lugares… então seu Raimundo, conta aí alguma coisa que impactou né, a sua vida, a vida da sua família ou da associação? Existe alguma coisa assim que vocês tiveram dificuldade?
R1 - No dia, acho que é 05, né? Me parece, de 2015, que passou a lama e pegou a gente de surpresa. Na época, na verdade, eu pelo menos não sabia. Então quando foi de madrugada, 03h30, que eu estou ouvindo aquele barulho normal, eu levantei, estava lá no meu quintal aquele barulho danado, porque a lama é muito pesada e ela passa na mão de bambu e faz um barulho danado. Aí eu comecei… aí eu lembrei que alguém tinha me falado nessa lama e eu comecei a catar aquelas coisas que eu ia embora, aqueles tambores e pus cá em cima e fiquei curioso pra ir lá embaixo na porta para eu ver o resultado. Eu esqueci das galinhas, então a mulher quando acordou com aquela barulhada, foi salvar as galinhas, mas ainda perdeu algumas. Pusemos as galinhas cá em cima e pronto, ficou aquele resto de… aquele barulho continuou e depois um mal cheiro danado durante a semana, que a gente não aguentava. E lá embaixo, também, o pessoal tirando suas coisas, colocando no caminhão, mudando e tal. E a ponte lá, até tremia de… por causa daquele peso que passava. Depois veio as consequências que as coisas da gente morreram. Algumas coisas, como dizem, já não nasceram mais, e outras coisas, como bananeira, por exemplo, com uma semana estava morta, perdemos as bananeiras todas. Aquelas bananeiras que a gente tinha de gosto bom, depois plantou, mas não foi igual, nós não temos banana lá igual. Aí tudo que tinha morreu, a única coisa que não morreu foi a mão de bambu, aguentou. Eu tinha três árvores altas, com 30 metros de altura mais ou menos, que eu deixei crescer lá, que eu gostava de ver os passarinhos pousar nela, porque tem passarinho que só pousa em lugar alto. E chama lei nova, nós conhecemos como lei nova, tem (47:07), ela não morreu naquela época não, mas dois anos depois ela começou cair as folhas, parecendo que ia trocar de folha, ela estava era morrendo, aí virou lenha. Eu fiz lá na associação, na época de festa, coloquei ela e serviu de lenha, lá na associação de Santo Antônio, na festa de Santo Antônio, porque é uma madeira muito boa, custa queimar, eu fiz fogueira com ela. E pronto, não nasceu nem nada mais.
(47:50) P1 - E a sua vida nessa época? Como é que era?
R1 - Graças a Deus nós não tivemos problema de saúde não, mas poderia ter tido, porque o mal cheiro que dá aquela… e a poeira que vem para o pulmão da gente, é terrível aquilo. Eu acho que tivemos muita saúde e para não pegar uma pneumonia ou outra coisa, né? A gente não sabe como está hoje a saúde da gente, estamos passando bem, mas se for procurar um médico e fazer exame (risos), a gente fica com medo, né.
(48:40) P1 - O senhor continuou trabalhando naquela época?
R1 - Não. Naquela época nós tínhamos parado, né. Porque não passava para o outro lado também, as estradas, o rio, não passava e as estradas também com aquele barro imenso. Ficamos sem trabalhar um tempo.
(49:06) P3 - E a associação teve que parar de funcionar também?
R1 - A Associação parou um tempo também. Porque lá ficou com um metro e meio de lama debaixo do salão. E perdemos muita coisa lá também, vasilhas… depois que a gente perde, a gente até esquece, né. Mas muitas vasilhas perdemos. O piso foi até trocado depois, porque lá é um piso grande, é muito grande lá, o espaço lá. E tivemos que trocar e refazer, ainda tem que… ainda tem que fazer alguma coisa lá ainda, tem resto lá para fazer, né.
(49:48) P1 - Você ainda tem um sonho? O senhor ainda tem um sonho seu Raimundo?
R1 - O sonho da casa de repouso?
(50:06) P1 - Não sei. Qual é o seu sonho?
R1 - A esperança sempre está viva, né? Vou esperar a administração acordar pra gente por mãos à obra. E a gente vai ficando velho também e não quer nada com a dureza não. Tem que pegar e entregar para os novos pra começar, né?
(50:34) P3 - Mas o que você gosta de fazer hoje?
R1 - Olha, eu gosto muito de fazer o que eu sei fazer, fazer minhas vacinações na roça, aquele encontro com o produtor. Porque trabalho a quantos anos? Mais de 50 anos com esse pessoal aí. Os velhos já morreram, veio os filhos, já tem os netos e eu continuo. Gosto de fazer isso, aquele bate papo gostoso que a gente… né? Então eu gosto de fazer demais isso. Quando eu não puder fazer, eu não sei o que vai ser de mim. Aí eu vou ficar olhando pra cara da "veia" né?
(51:16) P1 - (risos) (51:20) vai ter que aguentar.
R1 - Vai ter que aguentar, " Seu enjoado, fica querendo café toda hora!" (risos).
(51:28) P1 - Você gosta de café?
R1 - Não. Ultimamente estou proibido, a glicose. Lá quem pega no meu pé é a Alice e a Alessandra. "Não, hoje é só… arroz é só isso! Agora, macarrão só logo". Eu fico bem calado, né.
(51:51) P3 - Seu Raimundo, tem uma coisa que eu gostaria de saber. Por que te chamam de Raimundo Beija-flor?
R1 - Esse apelido eu tinha 10 anos. Um senhor, já falecido, chamava Salim Marom, lá embaixo, na venda, lá embaixo na ponte, lá tinha sempre três vendas (52:20) duas. E eu fui trabalhar numa das vendas e Salim morava lá, Salim me pôs esse apelido. A origem eu não sei por causa de quê, eu não sei, ele que me pôs. Ele ria! Me perguntavam se eu estava satisfeito com o apelido, "Eu não tô não!". Mas ele dava gargalhada! Até depois de velho esse apelido nunca ninguém… eu nunca achei ruim também não. Mas eu estava com 10 anos, eu vou fazer 82, pensa bem? 72 anos, agora não tem jeito mais, tem que… (risos), tem que ficar alegre, né. Aí colou, mas colou mesmo. E eu tive apelidos diferentes, eu tinha um apelido de Raimundo Patchouli, quando eu estava no primário, Patchouli. E eu não sabia o que era Patchouli, depois me disseram que é uma folha, uma folha que se chama Patchouli. Aí continuou e depois o Beija-flor colou e não teve jeito mais. Esse eu vou levar.
(53:44) P1 - É um nome tão bonito (risos), tão bonito (risos).
R1 - Alessandra tem uma tatuagem com um beija-flor aqui, no pescoço.
(53:56) P1 - É isso. Tem mais alguma coisa da sua vida, que você lembra aí, que você gostaria de contar, falar, de dividir com a gente?
R1 - Não. Às vezes tem, mas a memória não guarda muita coisa não, né. Agora, tirando a casa de repouso que nós já falamos, né? Vamos ver se, o projeto tá lá, ocupando a gaveta lá. Não cabe nesse espaço aí. Aí depois eu levei lá em Ponte Nova para diminuir, diminuir ele assim, pra quem quiser ver, vê a mesma coisa, mas para abrir aquela folha tem que ter uma mesa enorme. Tá lá o projeto, pronto, só isso!
(54:55) P1 - Então, o que você achou de contar a sua história para nós? (risos).
R1 - Não achei ruim não. Eu nunca contei para ninguém.
(55:06) P1 - Que bom, né? Dividiu um pouquinho, né?
R1 - É, dividiu.
(55:14) P1 - Que essa história é muito bonita! História de vida bonita!
R1 - É, muita coisa fica para trás, né. Às vezes a gente não lembra, passam os anos, os anos acabam com tudo. Mas alguma coisa a gente lembra, né.
(55:34) P1 - Então muito obrigada por dividir com a gente essa história!
R1 - Eu que agradeço por ter lembrado de mim. Eu contei, posso contar algumas vezes por causa da confiança que eu tenho em vocês, né. Então a gente…
(55:54) P1 - Coisa bonita! Uma vida de trabalho, né?
R1 - Sempre de trabalho.
(56:00) P1 - Dedicação à família! Coisa boa, coisa boa!
R1 - Sempre!
(56:05) P3 - A família e ao povo de Barra Longa, né? Sempre está fazendo o bem por aqui, sempre procurando melhorar a cidade. A gente tem um sonho aí.
R1 - Ajuda, né. Mesmo ganhando um dinheirinho, mas está ajudando alguém, né?
(56:20) P1 - Com certeza! E quem sabe esse sonho aí, ele ainda vai se realizar.
R1 - Virar realidade, né?
(56:30) P1 - O senhor ainda vai ver ele virando realidade, né? Eu espero que sim!
R1 - A casa é do lado da minha casa. Eu ainda falei assim: “Se algum dia eu precisar, eu posso ir engatinhando que eu entro lá”.
(56:47) (risos) Isso.
R1 - É só sair de um lote e entrar no outro.
(56:50) P1 - Vai ter um leito lá pra você, né? (risos).
R1 - Eu falei que eu ia inaugurar lá para chamar atenção para outros quererem ir, né. “Ah, o Beija-Flor está lá, eu vou lá também”. (risos).
(57:06) P1 - E para outras pessoas começarem a pensar mais, né? Nos idosos, de repente nas crianças…
R1 - E a tendência é que no futuro tem que ter, porque a tendência é aumentar o número de idosos, não é?
(57:22) P1 - É, com certeza!
R1 - A gente vê isso na televisão aí. Graças a Deus que… agora tem que ter um jeito de cuidar deles, porque o idoso dá muito trabalho, custa muito remédio, né. Eu por exemplo, tomo, aliás, são só dois comprimidos de insulina… insulina não, metformina, que é substituto de insulina, né. E eu tô torcendo para eu não tomar insulina não. Aquilo não é ruim, é enjoado, né. Porque eu tenho um amigo, que ele trabalha normal e tudo, mas a insulina tá no osso, chegou na hora, ele toma três vezes por dia, aquela agulhinha pequenininha assim, (58:13), (risos).
(58:15) P1 - Mas eu acredito que você não chega nesse ponto não, você tá muito bem!
R1 - Eu tô fazendo força. E a Alessandra mais a Alice estão lutando.
(58;26) P1 - Alessandra é a filha e a Alice?
R1 - Alice é neta.
(58:27) P1 - Neta. ah, isso mesmo, que bom! Então tá certo, muito obrigada!
R1 - De nada.
(58:35) P1 - E espero que você veja ainda esse projeto realizado, tá bom?
R1 - Vamos ver, né.
(58:42) P1 - E que continue ainda por muitos anos.
R1 - Engraçado que tem hora que eu fico pensando, “São nove vereadores, era para eles tomarem esse projeto da minha mão né. Falar: “Não, o que vamos fazer? Nós somos obrigados a trabalhar a favor disso”. Não, são contra! Tinha só três na época, Antônio Landim, Vaguinho e Vandinho, então no dia que foi o projeto para a câmara aprovar, que chegou ir na câmara, né. padre Élcio foi lá a pedido meu, foi lá e discutiu e não deixou eles voltarem nesse dia, eles mudaram para outro dia. Na outra semana foi esse advogado, filho de Flavão?
(59:40) P3 - Gleiter.
R1 - Gleiter. Gleiter que tomou a frente e foi para lá, juntou uma quantidade de gente e foi para lá e bagunçou lá, fez barulho e tal, arquivaram, mas iam votar e se pusessem em votação passava, porque todo mundo é do lado do prefeito. Tá aí, quer dizer, eles ganham dinheiro que está em torno de uns 3 ou 4 mil, não sei, que deve ser tanto que eles não falam quanto que é. Engraçado que na véspera de eleição, esse Gleicinho, né? Demorava um tanto, conversava em política, conversava em projeto, depois que ganhou… ele passa na porta de casa de moto e vai buzinar lá na frente pra eu não ir chamar ele. É porque se eu chamar ele, ele não ouve, né? Eu chamo ele de porcaria!
(1:00:40) P3 - Presidente da câmara.
R1 - E é presidente hoje, foi promovido. Bom de papo, não é um cara bobo não. Mas para o bem mesmo, ele não… Deus me livre!
(1:01:01) P1 - Precisa ação, né? Precisa ação!
R1 - E ele tá assim com o prefeito.
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