Projeto: Diversidade e Inclusão no Mercado Financeiro - Banco Pan
Entrevista de Sérgio All
Entrevistado por Bruna Oliveira
São Paulo, 26/08/2022
Entrevista n.º: PCSH_HV1234
Realizada por Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisada por Bruna Oliveira
P/1 – Sérgio, para começar, eu gostaria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, a data e o local de seu nascimento.
R – Meu nome é Sergio Almeida Leôncio, sou conhecido no mercado como o Sérgio All, eu nasci em São Paulo, no ano de 1974, no dia 25 de dezembro, nasci no Natal. E, no entanto, moro em São Paulo capital, desde então.
P/1 – Quais os nomes dos seus pais?
R – Eu sou filho de Cleusa Aparecida Almeida Leôncio e de Flodoaldo Leôncio.
P/1 – E como é a história deles? Como você os descreveria?
R – Ah, se tem uma mãe que era uma mulher guerreira, deu à luz a seis filhos, sendo cinco homens e uma mulher, adorava dançar, (risos) era uma ótima dançarina de Twist, mas era uma mulher muito trabalhadora e que se preocupava em primeiro lugar criar os filhos e alimentar os filhos, e depois educar os filhos, tanto na educação cristã. Ela sempre atuou durante a vida dela como empregada doméstica, depois foi pro ramo de diarista, que ela percebeu que lá ela ganhava mais. (risos) E é uma mulher que sempre fez parte da minha jornada e sempre foi minha maior incentivadora. O meu pai é capixaba, do Espírito Santo, veio para São Paulo por culpa da minha mãe, (risos) quando eles se casaram, ele foi um empresário da área de... ele tinha uma rede de... como que se fala, lavar roupa? Eu acho que eu não vou lembrar o nome do segmento, propriamente, mas quando ele veio para o São Paulo vendeu a participação dele e atuou no mercado de metalurgia durante muitos anos, até ele se aposentar. Então, ele é um homem que sempre se preocupou em trabalhar e manter a casa, para que nos criássemos e é também um grande exemplo de pai para mim.
P/1 – E como eles se...
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Entrevista de Sérgio All
Entrevistado por Bruna Oliveira
São Paulo, 26/08/2022
Entrevista n.º: PCSH_HV1234
Realizada por Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisada por Bruna Oliveira
P/1 – Sérgio, para começar, eu gostaria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, a data e o local de seu nascimento.
R – Meu nome é Sergio Almeida Leôncio, sou conhecido no mercado como o Sérgio All, eu nasci em São Paulo, no ano de 1974, no dia 25 de dezembro, nasci no Natal. E, no entanto, moro em São Paulo capital, desde então.
P/1 – Quais os nomes dos seus pais?
R – Eu sou filho de Cleusa Aparecida Almeida Leôncio e de Flodoaldo Leôncio.
P/1 – E como é a história deles? Como você os descreveria?
R – Ah, se tem uma mãe que era uma mulher guerreira, deu à luz a seis filhos, sendo cinco homens e uma mulher, adorava dançar, (risos) era uma ótima dançarina de Twist, mas era uma mulher muito trabalhadora e que se preocupava em primeiro lugar criar os filhos e alimentar os filhos, e depois educar os filhos, tanto na educação cristã. Ela sempre atuou durante a vida dela como empregada doméstica, depois foi pro ramo de diarista, que ela percebeu que lá ela ganhava mais. (risos) E é uma mulher que sempre fez parte da minha jornada e sempre foi minha maior incentivadora. O meu pai é capixaba, do Espírito Santo, veio para São Paulo por culpa da minha mãe, (risos) quando eles se casaram, ele foi um empresário da área de... ele tinha uma rede de... como que se fala, lavar roupa? Eu acho que eu não vou lembrar o nome do segmento, propriamente, mas quando ele veio para o São Paulo vendeu a participação dele e atuou no mercado de metalurgia durante muitos anos, até ele se aposentar. Então, ele é um homem que sempre se preocupou em trabalhar e manter a casa, para que nos criássemos e é também um grande exemplo de pai para mim.
P/1 – E como eles se conheceram, você sabe?
R – Ah, boa pergunta, né? Minha mãe frequentava muitas festas na época, na juventude dela e foi nesses lugares, locais que ela conheceu o meu pai, quando o meu pai veio para São Paulo, visitar alguns parentes. Então, eles se conheceram ali e ali surgiu um amor à primeira vista, né? (risos) E foi um dos motivos dos quais ele largou e vem para o Espírito Santo. (risos)
P/1 – E você conhece a história dos seus avós? Você chegou a conhecê-los?
R – Eu cheguei a conhecer só os meus avós maternos, os meus avós paternos já não estavam mais entre nós, mas eu sabia que o meu avô paterno foi um... o meu pai tinha doze irmãos. Então, aquela família, naquela época não tinha muita TV, (risos) mas o meu avô por parte do meu pai era um homem muito rígido no sentido da criação, porque a grande maioria eram homens. E a minha avó, Dona Cora, era uma mulher muito dona de casa, era a mulher que acolhia os seus filhos ali e eu conheço pouco da história, porque eu não cheguei a conhecer os outros primos por parte do meu pai, que moram no Espírito Santo, mas por parte da minha mãe também eu não tive muita oportunidade de conhecer os meus primos, porque os meus avós... o meu avô era um homem boêmio, era taxista, trabalhava muito na noite paulistana, ele era o ‘cara da noite’, sabe? E a minha avó era a mulher que sustentava a casa, era a mulher que trabalhava. Eu acho que tudo que nós temos hoje, o que nós construímos hoje, tem muito a ver com a história da minha avó porque, naquela época, ela não podia abrir conta bancária, ela tinha as dores da mulher preta, principalmente. De não poder votar, então ela, desde pequena trabalhou em casa de família, não teve oportunidade de finalizar os estudos, mas ela entendia muito de dinheiro. Então, como ela construiu o patrimônio? Comprando e guardando dinheiro literalmente embaixo do colchão e comprando as propriedades, que naquela época ter terreno era um grande investimento. Ela, ao longo da jornada dela, construiu patrimônio e eu acho que grande parte... a casa que eu fui criado é na zona sul, no extremo da zona sul de São Paulo, ali entre Valo Velho e Capão Redondo. E a minha casa foi quando a minha avó antecipou a herança da minha mãe, vendendo um dos imóveis, para que minha mãe pudesse comprar uma casa. Então, a minha avó sempre foi um exemplo de mulher trabalhadora, aquela mulher que sustenta a casa e ‘segura o rojão’ e essa é a história dos meus avós. Senhor Irineu e Dona Júlia, esqueci de falar o nome deles. (risos)
P/1 – E como é o nome dos seus irmãos? Como era essa relação com eles, na infância e hoje em dia?
R – Eu acho que, se for falar da relação dos meus irmãos, era muito boa, porque a gente nasceu no extremo da zona... da periferia de São Paulo, da zona sul de São Paulo e nós, como jovens pretos, éramos muito criativos, porque não podíamos ter os brinquedos. Então, a gente era muito unido e muito criativo nas nossas recreações. A primeira entre os irmãos foi minha irmã, a Cíntia, ela foi sempre o... como que eu vou dizer? A única mulher, a protegida. Porque eram cinco homens e uma mulher. Na sequência veio Flávio, que era o mais velho entre os homens. Então, ele era o líder da gangue (risos) ele era o cara que sempre a gente se balizava nele, porque ele que dava os caminhos para a gente. Depois veio o Renato. Só fazendo um disclaimer: o Flávio tinha sonhos, ele adorava desenhos, de assistir aqueles desenhos antigos do Incrível Hulk, aprendeu a desenhar, olhando. Então, virou um grande artista, assim, depois seguiu a carreira de projetista hidráulico e por fim ele tinha uma voz linda. Então, ele fez curso de locutor, e depois ele virou mestre de cerimônias em formaturas. Então, ele era um ‘cara’ que sempre me espelhava. Agora o Renato veio na sequência, ele é uns anos mais velho que eu, ele é, da família, eu chamo de Bon Vivant. Então, o Renato era uma pessoa muito dedicada aos esportes. Então, ele foi um ótimo jogador de basquete, participou de campeonatos, não se federou, mas viu no esporte a sua veia empreendedora. Na sequência e depois veio eu, o terceiro ali, o mais sonhador. Depois de mim vem o Leandro, por ser um ano mais novo que eu ele era um jovem muito centrado, ele sabia o que queria, era, às vezes, introspectivo, mas na outra parte do tempo ele era um cara muito brincalhão, além de ser introvertido também, em algumas partes. E por fim veio o Fabinho, que é o caçula, esse foi o xodó, esse foi o que tudo, (risos) porque foi a última tentativa da minha mãe, em tentar em ter mais uma filha mulher. (risos) Ela acabou ‘fechando a fábrica’ e aí veio o Fabinho. Fabinho, de todos, além de ser o caçula, ele era o xodó da família, ele era um dos jovens que gostava muito automobilismo, entre outras coisas, tinha também algumas ambições profissionais. Então, esses são os meus irmãos.
P/1 – E pensando na sua infância, tem alguma comida, algum cheiro, alguma data comemorativa que remeta a esse período?
R – A gente sabia muito o valor do dinheiro, meu pai e minha mãe sempre falavam que nem tudo o que a gente gostaria de ter, a gente ia ter por que, para dois adultos sustentarem seis bocas, manter uma casa, na época era de aluguel, antes da minha avó antecipar os processos. Eu tenho muitas memórias, ultimamente estou revendo muitas memórias gustativas. Quando você passa a fase dos 40, você começa a relembrar cheiro, gosto de comida e até mesmo costumes que você tinha na infância, mas um momento... épocas que a gente gostava muito eram as épocas do Natal, porque eu tenho uma tia que, da família por parte da minha mãe, ela era a única que tinha feito faculdade. Então, ela era, na verdade, depois da minha avó, foi o esteio da família, qualquer ‘dor de barriga’ era a minha tia que resolvia. E todo final de ano ela dava presentes maravilhosos para a gente e minha mãe colocava como meta: “Estuda e passa de ano porque, se vocês não fizerem isso, eu vou falar para minha irmã não comprar o presente de vocês”. (risos) Então, a gente tinha essa questão. E ultimamente, recentemente assim, quando fala recentemente fala de uns dois anos para cá, eu acho que o costume do brasileiro, todo o café da manhã é aquele pão com queijo e presunto, mortadela e um suco de laranja, alguma coisa desse tipo, eu comecei a trazer memórias da minha infância: eu vou para padaria, compro o meu leite, o meu café, um pão quentinho e fresco, feito na hora, pão com mangueira e um café com leite bem feito na hora e isso tem me trazido muito lembranças, e eu comecei a fazer isso e também tomar chá gelado, sabe? Na minha infância, minha mãe forçava a gente a tomar chá mate. Então, a gente tomava chá mate gelado. Então, eu estou voltando a fazer isso, porque remete muitas lembranças do meu passado e eu acho que essa é uma das coisas que eu tenho falado recentemente para minha família. Nossa, eu estou relembrando umas coisas, assim, meio doidas. (risos)
P/1 – Sérgio, e por que você se chama Sérgio?
R – Sabe por que eu me chamo Sérgio? Porque eu nasci no Natal, 25 de dezembro. A minha avó, por ser uma mulher muito católica, queria que o meu nome fosse Nazareno, ou Jesuíno, ou Natalino e a minha mãe, por uma intervenção, falou assim: “Não, não vou colocar esses nomes no meu filho não, o nome dele vai ser Sérgio”. (risos) Porque naquela época era bonito Sérgio, tinha muito Sérgio, como existe muitos Enzos hoje, (risos) existia... eu era o Sérgio que a minha mãe queria que eu fosse. Então, eu sempre falava para minha mãe, assim: “Olha, eu agradeço muito a senhora, porque tem pais que fazem os filhos sofrer e a senhora foi a que me ‘salvou’”. (risos) Já imaginou ser chamado de Nazareno? Hoje eu sou o Sérgio All, imagina, como as pessoas me chamariam hoje? (risos) Então, eu acho que é por causa disso, a minha mãe sempre falava isso.
P/1 – E me conta um pouco como era a casa que você passou a infância?
R – Eu lembro que a casa... quando eu era pequeno, quando eu nasci, uma parte da minha fase bebê eu fiquei na minha avó, porque minha avó ajudava a minha mãe, enquanto o meu pai trabalhava, na noite, na metalurgia. E depois a minha mãe e meu pai resolveram alugar uma casa no Valo Velho, que era bem longe na época, era uma baita de uma ‘quebrada’, (risos) naquela época e eu lembro como se fosse hoje como era o terreno, à frente tinha várias plantações de bananeira e pé de cana, uma escada e lá em cima, uma casa de dois cômodos e um banheiro externo. Eu lembro como se fosse ontem. De telhado de barro, daquelas telhas de barro, um quintalzinho lá em cima, com banheiro externo, uma área de serviço que é um telhado. Então, grande parte da minha infância e até a minha pré-adolescência... não, eu acho que foi minha infância, até uns sete, oito anos eu fiquei ali. Então, vira e mexe eu, quando estou passando lá, quando eu vou na casa do meu pai, eu passo no bairro, para ver como que mudou lá: “Essa que era a casa que eu fiquei tão livre”, muitas lembranças de como era essa minha primeira casa. E depois, eu acho que oito anos, nove anos depois, quando a minha avó antecipou a herança da minha mãe, a gente comprou no Santo Eduardo, que é um bairro após o Valo Velho, que já é município de Embu das Artes, já entra na divisa ali, de São Paulo. Nós compramos um big de um terreno, onde a gente construiu uma casa com um grande quintal, com três – sala, cozinha - grandes quartos. Então, a gente passou ali a ter um... fizemos ali um upgrade e ali foi parte da minha infância e da minha pré-adolescência, até a minha idade adulta, que eu fiquei.
P/1 – E como era o bairro naquela época? E quais lembranças você tem da cidade também, naquela época?
R – Sim. Bom, na minha infância em Valo Velho, eu lembro, era uma rua de terra, sabe? Sem esgoto, (risos) mas muita molecada na rua brincando. Minha mãe, quando saía para trabalhar, ela falava assim: “Se eu chegar do trabalho e ver vocês na rua, vocês apanham!” e a gente apanhava sempre, (risos) porque a gente sabia o horário que ela ia chegar e, às vezes, imagina, seis ‘neguinhos’ para tomar banho, era uma fila! (risos) Então... e a minha irmã como era puxa-saco da minha mãe, ela: “Ah, foi tudo para a rua”. Então, a gente já sabia que o ‘couro ia comer’ ali. Mas quando eu fui para o outro bairro também foi muito bom, porque nós somos de uma infância em que as crianças brincavam na rua, brincavam de esconde-esconde, pega-pega, jogava bola. Também não era um bairro com uma ótima infraestrutura, as ruas não eram asfaltadas, mas para a gente, que é moleque, que é criança, né, isso não é problema. Era um bairro gostoso, porque as famílias no final de semana ficavam na calçada. Então, ‘rolava’ muita conversa, muita confraternização. Depois, com o tempo vem a modernidade, a prefeitura foi colocando esgoto, foi colocando calçada, ficamos muito tempo com calçada sem asfalto, depois eles asfaltaram, foi se urbanizando. E a gente foi crescendo e a gente ali, com os vizinhos, eu e os meus irmãos éramos muito queridos, e até hoje somos, pelos nossos vizinhos, porque pelo fato de ter sido criado numa família cristã e a gente era muito ‘palhaço’, sabe? As pessoas gostavam de ficar com a gente. Então, muitas pessoas ali, que sempre quando eu vou lá visitar, eles: “Poxa, que saudades de vocês, eu lembro que essa rua era divertida, era vocês que ‘aprontavam’, mas era infância”. Então, eu tive uma infância... as ruas onde fiquei, onde eu morei, remete muito dessa alegria, sabe? Então, era isso.
P/1 – E quais eram as brincadeiras favoritas naquela época?
R – Olha, eu nasci muito empreendedor, para falar a verdade, eu sempre sonhei em ser empresário, porque via dificuldades dos meus pais, meus irmãos. Leandro era fissurado por pipa. Então, corria atrás de pipa, tinha os carretéis dele lá e Renato gostava... Renato jogava muita bola, eu brincava um pouquinho com eles, mas eu tinha o meu lado lúdico, que era brincar de empresa, brincar de certas coisas. Chega um momento da fase da nossa vida, pré-adolescência, que eu também comecei a praticar, ir para o lado dos esportes, jogava muita bola na rua, muito vôlei na rua, a gente adorava aquela época da seleção de Bernardinho, aquela coisa toda, depois aquela seleção de Tande. Então, a gente - na minha adolescência - tinha um grupo na rua que jogava vôlei dias e dias, semanas e semanas. Então, a gente jogava muito isso, brincava muito de melê, que é tipo um chute a gol, com os meus amigos. Aí depois eu fui enveredando pelo caminho do meu irmão Renato, que jogava muito basquete, então final de semana ele sempre ia para as escolas, para as quadras, jogar. Então, o Renato me contagiou com o basquete e comecei a jogar basquete com ele e aí a gente começou a formar dupla, daqui a pouco veio o Leandro, que é mais novo que eu e a gente começou a participar dos campeonatos de... os contras, eu... a gente começava a participar dos contras, dos campeonatos nos bairros. Ou seja, eu fiz muita coisa, até jogar futebol de salão, chegou uma época que fiquei ávido por Taffarel (risos) e comecei a virar goleiro, (risos) acho que era muito legal. Aí depois o meu professor viu uma aptidão, que eu tinha um ótimo reflexo e queria que eu fosse um profissional, me treinou para isso e, enfim, não cheguei a carreira de futebol, de jogador de futebol e nem de goleiro, mas eu fiz muita coisa, brincava muito. Eu acho que o esporte sempre fez parte da nossa jornada.
P/1 – Você torcia para qual time de futebol?
R – Ah, São Paulo, né? Então, eu e os meus irmãos éramos são paulinos, minha irmã gostava um pouquinho de Corinthians, mas não era aquela corintiana roxa e meu pai era santista. Então, meu pai gostava muito do Pelé, então a gente, quando a gente tinha jogo do São Paulo e Santos, era a rivalidade. Quando tinha jogo do São Paulo, ele estava torcendo com a gente, a gente passou madrugadas assistindo o mundial, interclubes. Então, São Paulo sempre fez parte das nossas preferências, entre eu, Flávio, Leandro e Renato.... Renato não, Renato depois ‘virou a casaca’ e ‘virou’ corintiano.
P/1 – E você estava me contando sobre você ter sido empreendedor desde criança, eu queria saber se tinha alguma profissão que você tinha sonho de ser, quando era pequeno?
R – Não, não tinha uma profissão na minha cabeça, não. Não, não tinha profissão, não. Eu falava que eu ia ser empresário, (risos) só falava isso: “Mãe, vou ser empresário, vou ganhar dinheiro, vou ajudar comprar a sua casa, reformar a casa do jeito que a senhora quer” e a minha mãe sempre falava assim: “Não, você vai ser, filho, você vai ser, precisa estudar”. Eu acho que a construção do que eu iria ser veio na minha adolescência mesmo, quando eu tive o meu primeiro emprego, trabalhando para uma empresa e eu percebi ali que ali não seria, as minhas ambições não estavam ali, sabe? Mas não tinha nenhuma definição do que eu ia ser, só pensava assim: como eu faria dinheiro para colocar dentro de casa.
P/1 – Sérgio, e qual é a primeira lembrança que você tem da escola?
R – A primeira lembrança que eu tenho é da pré-escola e foi o meu primeiro beijo na boca, (risos) eu já fiquei... eu já era meio safadinho. (risos) E eu lembro da menina, ela se chamava Juliana. Eu tinha seis, sete anos, seis anos, sete anos não, eu tinha seis anos. E eu lembro as carteirinhas, eu com aquele shortinho vermelho e camisetinha branca, no pré, eu já era um jovem apaixonado, né? Uma criança apaixonada. Eu gostei da menina, (risos) dei um beijo nela. Essa foi a minha primeira lembrança. (risos) Eu nem me preocupei com estudo, eu já me preocupei em arranjar uma namoradinha, essa foi a minha primeira. Da escola foi... quando eu fui pra escola mesmo, a primeira... o meu primeiro colégio foi Paulo Eiró, em Santo Amaro. Então, saía do Vale Velho, lá do Valo Velho. Era um trânsito, naquela época o trânsito de São Paulo, as pessoas penduradas na porta. (risos) Então, eu lembro que eu estudava no Paulo Eiró, estava lá na escola com muitos, porque eram aquelas escolas com dois andares, então eu lembro como se fosse aqueles sinos americanos, nos corredores no recreio, eu lembro muito do recreio. Tem uma marca que eu tenho aqui, uma pintinha na mão, foi um menino que... foi a primeira briga na escola, o moleque fez assim com um lápis e a ponta do lápis entrou aqui, assim e ficou essa pinta até hoje, aqui. Essa foi uma das minhas primeiras lembranças da época, também já era um pouquinho encrenqueiro. Mas foram as primeiras lembranças, foram dos atritos. (risos)
P/1 – E como que você ia para a escola?
R – Ah, olha, minha mãe me ensinou, eu acho que quando eu fui pro prézinho, era duas ruas acima. Então, por incrível que pareça, ela me levou eu acho que umas três vezes, depois eu fui sozinho, seis anos. Então, eu era muito independente. Mesmo que levasse e buscasse, eu estava indo e voltando para casa. No Paulo Eiró, quando eu tinha sete anos, quando eu fui estudar em Santo Amaro, ela me levou eu acho que para a escola umas duas, três vezes também e ela: “Você sabe onde está o ponto final, sabe como chegar em casa”. Minha mãe era daquelas, (risos) preparando... a minha mãe era daquelas que preparava o filho para a vida já. Então, eu ia pra Santo Amaro sozinho, mochilão, aqueles cheios de livros e pegava um ônibus e ia para o ponto final, para ir sentado e pegava lá em Santo Amaro, no ponto final também, para voltar sentado, fiz isso durante quatro anos.
P/1 – E nessa época da infância tem algum professor ou alguma matéria que despertava o seu interesse, que você lembre com carinho? Como que é?
R – Não, professor não, minha infância não. Eu lembro das dificuldades que eu tinha para aprender, principalmente de Matemática, eu era péssimo em Matemática, péssimo com números e eu sofria muito, porque não entrava na cabeça. E minha mãe tentava, tentava, tentava, ela participava das aulas, das lições de casa, levava altos cascudos, (risos) porque ela ensinava, eu fazia e depois eu esquecia tudo. (risos) Mas, assim, eu não tenho uma lembrança de um professor, propriamente, mas eu lembrava das dificuldades que eu tinha de aprender. Eu acho que eu tinha um déficit de atenção, porque era... eu ‘viajava na maionese’, eu era muito sonhador, era muito observador, eu inventava coisas, sabe? Então, eu acho que na época não existia nem esse déficit de atenção como diagnosticado. Eu nasci em 1974, então era bem difícil. Eu acho que os problemas do brasileiro eram outros na época, mas eu acho que era isso que me veio à mente. Mas na minha adolescência mesmo eu tinha um problema muito grande com bagunça. Lembro de duas professoras, uma de Matemática, que eu gostava... eram duas, uma era a professora Anita, que era uma professora que era japonesa. Então, na nossa opinião, na nossa época, lá a gente falava: “Japonês que dá aula é inteligente”. Então, tinha ela. Depois tive a diretora, que ela foi professora de Matemática e depois ela virou diretora, professora Ayako, eu gostava muito dela, mas era aquela japonesa sisuda assim, mas eu conseguia tirar um sorriso dela, de vez em quando, porque a gente era muito ‘palhaço’. Então, eu tinha essa lembrança, dessa professora e da minha professora de Ciências, Dona Nívea, ela também puxava muito a minha orelha, porque era bagunceiro. Então, mas eu era daqueles bagunceiros da ‘turma do fundão’, que bagunçava, mas na hora de fazer a prova, fazia a prova e passava de ano. (risos)
P/1 – Sérgio, tem alguma memória, assim, marcante, para além das primeiras, assim, que são as primeiras, enfim? Tem alguma memória de bagunça e de algum momento que foi marcante?
R – Olha, a gente era líder da bagunça, essa que era a verdade. Era o Sérgio numa sala, era o meu irmão Leandro em uma outra sala, que só ouvia a professora gritando com ele, mas olha, meu irmão, a gente era conhecido como os Leôncios. Então, quando vinha eu e o meu irmão: “Leôncio”, a professora gritava: “Leôncio”. (risos) Então, era que nem aqueles filmes mesmo, os bagunceiros. (risos) Eu acho que as lembranças que a gente tinha realmente era disso, dessa bagunça constante. A minha mãe ia lá na escola, ouvir a professora nas reuniões de pais e mestres: “Ah, eles têm notas medianas, mas porque eles poderiam tirar notas melhores, o problema é que eles bagunçam”. Então, a gente tinha muito disso, são as melhores memórias que eu tinha. Eu sofria muito com bullying, também. Então, meu pai e minha mãe aprenderam, não existia esse nome bullying, mas a gente aprendia a se defender, porque minha mãe falava assim, que a vida tinha pancadas maiores, quando você atinge a sua vida adulta, que é trabalhar, sobreviver. Então, ela falou assim: “O que você vai passar pela escola é apenas a primeira fase do game da vida, do jogo da vida”. Então, eu sofri muito bullying e, da mesma forma, a gente que sofre o bullying, ‘bullyna’ os outros também. (risos). Então, isso é uma ciência, mas eu acho que as fases boas mesmo era das bagunças, que a gente bagunçava, passava de ano. Eu lembro que eu repeti dois anos ali, mas é porque teve uma fase na minha vida que eu estava meio confuso, essa fase da adolescência, de ver os amiguinhos namorando e eu o ‘patinho feio da lagoa’ lá, vendo todo mundo se dando bem. Então, teve uma época que eu fiquei meio desfocado. (risos) Falava: “Pô, eu sou feio”, sei lá, coisa que faz parte da juventude. Então, essas são as lembranças que eu tenho, são muito vagas, muito vagas, mas eu lembro que eu estudava muito. Uma coisa que ainda bem que você me perguntou, eu não decorava, eu via a matéria e eu lembro que eu falava para o professor: “Professor...”. O professor falava assim: “Estudem a matéria, essas são as perguntas que vão ‘cair’, papapa, decorem!” Eu falava pro professor: “Professor, em vez de decorar, eu posso colocar nas minhas palavras?” (risos) “Pode!” Então, eu não lia, só lia, chegava na hora de fazer a prova, eu colocava minhas palavras e o que eu achava sobre aquela pergunta e acertava. (risos) Então, eu já tinha uma outra forma de entender as coisas e de explicar as coisas. Então, essa foi uma das memórias que eu também sempre tive.
P/1 – E o que você gostava de fazer para se divertir, na adolescência?
R – Ah, olha, minha adolescência, além de jogar bola na rua, minha mãe falava... a minha mãe, quando criou a gente, falou assim, ela tinha um ditado: “Primeiro a obrigação, depois a devoção. Primeiro vai para a escola...”, não, primeiro ela falava assim, de manhã: “Cada um tem as suas obrigações dentro de casa”. Realmente, cada um em casa tinha uma obrigação: alguém ficava com a sala, outro ficava com a cozinha, outro ficava com banheiro, outro ficava com o quintal. A gente tinha, entre a cozinha e o os últimos quartos, era um carpetão, carpetão mesmo, daquele tipo Tabacow, que é pregado no chão. Então, a gente tinha a obrigação de limpar e limpar com escovinha. Então, a gente fazia faxina, depois ia para a escola, da escola a gente tinha o resto da tarde livre, para brincar na rua. Então, minha mãe falava sempre sobre isso, então eu lembro muito da gente brincando muito na rua. Então, ela falava: “Primeiro a obrigação, depois a devoção”. E ela criava a gente como se fosse meninas. Então, a minha mãe colocava a gente no cabresto mesmo, porque ela falava, assim: “Filho meu tem que aprender a sobreviver!” Ou seja, tem que aprender a cozinhar, desde os seis anos, ela pedia para ajudar... Naquela época não tinha esse tipo um, né? A gente separava o arroz ‘sujo’, feijão ‘sujo’, ela falava assim: “Agora coloca na panela, tantos minutos você tira, vem cá”. Então, ela ensinou muito os afazeres domésticos, então essa foi uma fase que eu achava muito chata, mas é o que, se não fosse por isso, nos momentos que eu morei sozinho, eu falei: “É, mãe, você me ensinou tudo isso”. Mas eu acho que, respondendo a sua pergunta, eu fazia muito dessas questões de... qual era a pergunta mesmo, que você me fez? Está vendo? Eu tenho um pouquinho de déficit de atenção.
P/1 – Era como você se divertia, também.
R – Ah é, exatamente, exatamente! Então, tinha isso, mas tinha uma coisa que a gente fazia muito, que tinha o Chaves, na parte da tarde. A gente, quando brincava na rua, tinha horário do lanche da tarde, essa foi a coisa que eu mais me lembro... A gente jogava bola, fazia tudo, ia para casa, ia na padaria, comprava o pão, fazia o chá, a gente tomava chá, assistia Muppet Babies, que era o Muppet Shows do SBT, na época e depois do Muppets tinha o Duck Tales, assistia Duck Tales comendo o nosso lanche e depois vinha o Chaves, porque fechava às seis horas, seis, sete horas da noite fechava o Chaves, a gente assistia o Chaves, todo mundo tomando lanche da tarde e essa era uma das coisas que eu fazia. Então, a gente tinha um cronograma no dia (risos) e era muito legal, porque funcionava. Quando a minha mãe chegava do trabalho, a gente já estava lá tudo dentro de casa, depois de ver o Chaves, esperando ela chegar, ela trocava a roupa, ia dar uma relaxada e depois, a minha irmã a ajudava a fazer a janta. A gente tinha um schedule, uma agenda bem legal. (risos)
P/1 – E alguma coisa mudou, quando chegou à adolescência? Da infância para adolescência, quais foram as principais mudanças que aconteceram?
R – Ah, eu acho que a gente vai ficando mais velho, só que a gente levou muito a sério esse negócio de infância, até o meu primeiro emprego, até os meus quinze anos. A gente até brincava, a gente ainda jogava bola na rua, a gente brincava, a gente era expert de esconde-esconde na rua, os moleques chamavam a gente para a gente brincar e brincava de esconde-esconde, à noite. Então, a gente brincava muito e aí veio a questão de querer ser ‘dono do próprio nariz’, ver o pessoal jovem na escola com tênis novo, com roupa nova e aquilo ali já me alimentava o desejo de querer trabalhar. E naquela época, com quatorze anos, você já podia trabalhar, você já trabalhava, não tinha essa questão do trabalho infantil. Mas com quatorze anos eu fazia de tudo para querer trabalhar e, naquela época, a moda era ser office boy. (risos) Então, tinha uns amigos que estudavam comigo, que eles eram office boy, que estudavam à noite, eu também comecei a estudar à noite nessa época, com quinze anos. E aí eu fui procurar emprego, para querer ter as minhas coisas. Então, eu me dividia entre essas atividades e buscando um emprego, para começar a construir as coisas, eu comecei a trabalhar com quinze, dezesseis anos. Então, isso que foi que começou a mudar, a gente já saindo dessa fase pré-adolescente, infantil para pré-adolescência, depois da pré-adolescência procurar emprego. A minha mãe achava que a gente tinha que estudar, mas cinco homens em casa, você imagina? “Cinco homens trabalhando em casa, mãe, ajudando e a senhora não precisa... o dinheiro da senhora é pra senhora, a gente...”... e meu pai sempre ensinou isso pra gente: “Homem tem que manter a casa”. Então, eu acho que essas são as lembranças da minha pré-adolescência, assim, da minha pré-adolescência para adolescência quase vida adulta, já. Mas o que mudou também foi que muito novo eu perdi a minha mãe. Então, assim, muito novo assim, com dezoito, dezenove anos.
P/1 – E onde que você começou a trabalhar?
R – Ah, o meu primeiro emprego foi no Mappin. Mappin era uma loja de departamentos que era o programa de toda a família, de final de semana, porque o Mappin não vendia só móveis, vendia roupas, ele tinha praça de alimentação, era como se fosse um shopping e era programa das famílias brasileiras, de ir ao final de semana: “Vamos para o Mappin!” Todo mundo ia lá, tinha o andar só dos móveis planejados, tinha só de sofá. Então, eram 12 andares. A gente ia para o Mappin, era como se fosse o Facebook e Google, dava vontade de trabalhar nessa empresa. Então, a minha irmã conseguiu emprego lá e, nessa de procurar emprego, ela conseguiu um emprego de office boy, em uma das filiais do grupo, que era em Pinheiros e foi lá que eu comecei. Era muito engraçado, o meu papel de office boy, na época, era pegar todos os contratos de financiamento, porque o Mappin não era só a loja; era administradora de móveis; era financiadora, que você fazia empréstimo pessoal, também financiamento de veículo. Então, os contratos que as pessoas não pagavam, eu pegava tudo aquilo e levava para a matriz, no Centro de São Paulo, onde uma parte ficava a loja e outra parte ficava o banco, o Mappin tinha um banco. Então, eu ia lá levar os contratos para o departamento jurídico e eu gostava dessa jornada de sair de Pinheiros, com uma mala 007, (risos) daquelas grandonas, pegava e saía de Pinheiros, pegava todo aquele caminho e ia lá pro Mappin, recebia o meu ticket... oh, eu lembro aquele ticket, eu ‘fazia miséria’ com aquele ticket, eu adorava horário do almoço. Então, era assim, eu lembro da minha cartela de passe, (risos) são lembranças muito engraçadas e muito legais. Então, foi o primeiro emprego, eu fiquei oito anos, né, fiquei oito anos nessa empresa, até passar pelas minhas promoções, ali.
P/1 – E o que você fez com o seu primeiro salário, você lembra?
R – Eu tentei fazer algumas coisas, mas não consegui, né? Porque o salário de office boy não era muito alto, minha mãe falava que o brasileiro não tem educação financeira. Naquela época, em 1974, na década de 1970 e 1980, muitas das pessoas que nasceram naquela época, tinham o costume, das famílias, de abrirem conta poupança, e aquela conta poupança que só sacava na maioridade. Então, os meus pais colocavam, minha tia colocava dinheiro lá, eu saquei realmente dinheiro quando eu fiz dezoito anos. Mas no meu primeiro salário a minha mãe me ensinou: “Olha, vamos fazer o seguinte: desse seu salário, você vai guardar y, você vai guardar y do seu salário, para você comprar roupas, você precisa comprar roupa” - porque na época eu me vestia e frequentava igreja. Então, a gente comprava roupa social, camisa, sapato, tênis - “Essa sua outra parte aqui, você me dá, que eu resolvo aqui dentro de casa”, que é pra alimentação, para conta de luz e de água, essas coisas, dividia entre os irmãos. O fato de ter vários irmãos, essa é a vantagem, que não precisa dar muito dinheiro. (risos) E ela me ensinava a comprar as minhas coisas e ia comigo. No meu primeiro salário ela foi comigo na loja comprar o meu primeiro tênis. Que eu me lembro na época que o meu primeiro tênis foi um Asics Tiger GEL. (risos) Lindo, assim, o meu primeiro tênis. O meu segundo tênis eu lembro que foi um Nike, um Air, um Nike Air, que agora está voltando, as marcas do passado, assim, nos modelos. Então, o meu primeiro Nike. E, assim, dinheirinho ali, eu aprendi a investir no próprio Mappin. Quando tinha um banco eu fui lá, na época eu comprei ações da Telesp (risos). Eu comprava, comprava ali poucas ações. Eu era muito centrado no que eu queria, sabe? E eu não era um cara, um jovem que gastava muito dinheiro, não. Até o dia que eu aprendi que, no Mappin, funcionário Mappin, se eu visse um... na área de terno, eu adorava uns ternos, porque a diretoria todo mundo andava de terno e eu era o único office boy que andava de terno e gravata, único office boy. Então, era o cartão de visitas do Mappin de Pinheiros, porque todo mundo de lá gostava de mim, até a minha chefe se orgulhava de mim: “Nossa, você ‘veste a camisa’ da empresa!” Então, eu gostava de estar bem trajado e então eu acho que essa foi a jornada do meu primeiro salário. E, ao longo da minha jornada, eu fui construindo patrimônio.
P/1 – E como é que era essa rotina, na época? Você trabalhava e estudava, né?
R – Sim.
P/1 – Como você conciliava?
R – Bom, a empresa tinha esse incentivo lá, então eu trabalhava na empresa... como era uma empresa do segmento financeiro, que era financiadora, eu trabalhava na financiadora e não na loja, era meio que algo bancário. Por causa do Banco Mappin também, que fazia esse ‘braço’, era tudo do Banco Mappin. Então, tinha seis horas de trabalho, então eu chegava lá às nove, batia o cartão às nove, não, trabalhava das dez às quatro. Então, das dez às quatro, depois de Pinheiros eu ia para a casa, no Santo Eduardo, pegava ali mesmo em Pinheiros um ônibus e, das sete às nove, eu estudava. Então, tive essa jornada praticamente constante, até eu me formar ali, nos meus dezoito anos, no terceiro ano. Então, essa sempre foi a minha jornada de conciliar e a empresa dava, para os office boys, esses horários, porque office boy não tinha que ficar até tarde na empresa. E, às vezes, eu fazia isso mesmo.
P/1 – Sérgio, e como foi esse período que você perdeu a sua mãe? Você quer contar um pouco?
R – Sim. Bom, eu acho que foi uma das maiores dores da vida. A gente, ao mesmo tempo que falava que queria realizar o sonho dela, também a gente acompanhava as dores dela, na questão no relacionamento com meu pai, que já era um relacionamento... não que eles brigavam sempre, mas era um relacionamento já bem desgastado, por causa do tempo, por causa dos problemas da vida, que eram manter casa, pagar contas. Então, tinha essa questão. E eu, na época, quando eu trabalhei no Mappin, dava uma parte do dinheiro para ela: “Não, mãe, esse dinheiro é para a senhora comprar uma roupa, para a senhora fazer as suas coisas, o pai já dá dinheiro aqui dentro de casa”. Então, eu sempre fui esse jovem, eu e os meus irmãos, sempre fomos esses jovens, de também dar um pouquinho de sossego para ela. Mas eu, como entrei com dezesseis anos, de quinze para dezesseis anos, eu perdi minha mãe com dezenove anos, ela contraiu um câncer e ceifou a vida dela em três meses. Então, eu estava numa fase no Mappin que eu já sabia onde eu queria estar, eu sonhava ser um jovem diretor na empresa, mas também sabia que essa jornada era muito dolorosa, porque não se falava em diversidade, o meu chefe era racista também, tem essa questão, ele tinha o problema do racismo e tinha problema do preconceito religioso. Então, uma família de testemunha de Jeová, um cara de uma outra etnia, de uma outra congregação, de uma outra igreja, não sei qual era a igreja, qual era, e já não gostava muito da minha cor, já sabia que eu era testemunha de Jeová. (risos) Então, existia ali e ali eu sofria muito, então, já eu sabia que ali não seria a empresa que eu construiria o meu futuro. Mas aí eu tive o problema da dor, quando a minha mãe foi internada, foi diagnosticada, eu tive também dentro da empresa do Mappin pessoas que me apoiaram muito, porque quando minha mãe ficou internada eu saía no meio também, às vezes, para ir visitá-la no hospital, eles me deixavam sair mais cedo, para visitar minha mãe. Nesse lado, pelo menos, como se tratava de uma doença como essa, que no caso da minha mãe era uma doença terminal, porque o tratamento era muito agressivo e poucas pessoas sobrevivem, eu não lembro também a especificidade desse câncer, porque foi há muito tempo. E assim que eu a perdi, eles me apoiaram muito, me apoiaram muito. Então, eu tive que tentar me reconstruir, porque os meus sonhos foram junto com ela. Então, eu fiquei um bom tempo no limbo, sofrendo um pouquinho de uma depressão que, na verdade, era um luto, foi um luto de praticamente quase dois anos que eu tive, em que estava tentando repensar qual era o sentido da vida. A gente achava que ela era a mulher que ia ver os netos e bisnetos, eu achava que meu pai fosse primeiro, porque o meu pai era meio roots, sabe? Ele jogava bola, bebia, na época ele fumava, antes dele virar cristão também, uma pessoa cristã, eu achava que seria o meu pai, como toda família, o pai que vai, mas não foi, foi minha mãe e acho que foi o bastante para redesenhar o destino da minha família num todo, dos meus irmãos, o que que seria da vida? Então, foi uma época muito dolorosa.
P/1 – E quando você se formou no Ensino Médio, como foi? Teve alguma grande mudança? Você começou a fazer faculdade de imediato ou a sua cabeça ainda estava no trabalho? Como foi esse período?
R – É, foi uma fase meio confusa, porque ao mesmo tempo que eu sonhava ser diretor nessa empresa e depois eu descobri que ali não era o meu lugar, depois teve a dor da minha mãe, eu me formei lá com os dezoito anos, dezenove anos eu me formei, era um momento que eu disse: “Poxa, está chegando a maioridade”. Eu acho que o sonho de todo o adolescente é ser ‘dono do seu próprio nariz’, mas depois que você passa dos dezoito, passa os vinte, chega aos trinta, você fala assim: “Poxa, ai, minha adolescência, eu daria tudo pra voltar!” (risos). Mas foi o momento em que eu falei: “Não, está na hora de fazer alguma coisa” e aí eu comecei a ‘correr atrás’ de oportunidades, para ganhar mais dinheiro. Foi aí que eu resolvi, entre formatura, entre Mappin, fazer algum negócio extra e fui fazer marketing multinível, eu fui fazer o marketing multinível, eu fui trabalhar na Amway, fui virar um associado na Amway, que foi a primeira de empresas de marketing multinível que entrou na América Latina naquela época, na década de 1990. Década de 1990? Não... é, foi na década de 1990, foram alguns anos depois. Então, foi a primeira empresa, eu me apaixonei pelo modelo de negócio, então eu conciliava entre estudo, trabalho e nos tempos livres tentar construir, realizar um sonho, né? Depois que minha mãe morreu, claro, eu larguei tudo isso, fiquei esses dois anos de luto, esses dois anos de luto eu pratiquei muito a questão da leitura, porque eu não dormia, tinha insônia, aquela coisa toda e aí pratiquei leitura e nisso eu virei autodidata. Então, eu aprendi a programar, aprendi a fazer muitas coisas, e descobri também que eu era um cara muito criativo. Naquela época não se falava em cotas, não existia Prouni, faculdade era um veículo de educação muito caro. Então, eu não pude ingressar no ensino superior. Mas o Mappin, na época, entendendo que eu era um jovem aspirante a diretor no futuro e eu sabia que aquela jornada no Mappin, para eu virar um gerente, um diretor, teria que ficar mais de dez anos. O Mappin fez uma proposta de bancar uma faculdade de Direito e colocar um dos carros da empresa à minha disposição, se eu quisesse utilizar. Eu falei que eu não queria, porque eu entendia de processos jurídicos, porque eu trabalhava numa área jurídica, eu fazia coisa melhor ali, montava processo melhor que advogado, mas não era advogado que eu queria ser. Por mais que eu também andasse de terno e gravata lá, eu era o ‘vestia a camisa da empresa’ e os caras estavam querendo investir nessa projeção de carreira, eu falei que não era aquilo que eu queria fazer e aí, depois que a minha mãe faleceu, eu resolvi sair do Mappin, resolvi também parar o marketing multinível. E desde então eu descobri que a única forma de eu construir algo para mim era através da leitura e foi aí que me tornei autodidata, aprendi a programar e aí eu comecei construir a minha decisão de empreender a partir daí, depois dessa dor.
P/1 – Sérgio, e para a gente conseguir abarcar toda a sua trajetória profissional, eu queria que você tentasse pensar em três momentos, até o seu empreendimento atual, que foram importantes para a sua trajetória profissional.
R – Ah, uma na infância. Na infância, quando eu falava para a minha mãe que eu ia ser empresário, ela foi sempre a minha incentivadora, diferente de muitas famílias, quando o filho fala que tem sonho em fazer isso e aquilo, os pais... algumas famílias desestruturadas limitam esse sonho. “Ah, não, para de sonhar, vai estudar, que você ganha mais”. Aí você fala que quer ser alguma coisa e aí o seu pai fala: “Não, você vai ser médico. Não, você tem que ser engenheiro”. Então, quer dizer, esses ‘nãos’ eu não tive, minha mãe falava: “Não, você vai ser um empresário de sucesso, pra isso você precisa estudar, sabe, filho?” Ela falava isso. Olha, naquela época não tinha smartphone, não tinha internet, aquelas coisas todas, ela falava assim: “Você tem que ser um jovem culto, é sempre bom você saber o que acontece ao seu redor e no mundo, para que você seja um jovem interessante”. Então, eu gostava muito de ler, gostava muito de Economia, gostava muito de entender o mundo, como que ele funcionava, outro terceiro mandamento que ela me falava era: ‘vestimenta’: “Você pode ser um corpo preto facilmente confundido nas ruas”. Então... não que isso... a gente vive num país que é racista, dentro das suas várias facetas, principalmente estruturalmente. E ela falava, os dois últimos ela falava que eu seria muito criticado... não muito criticado, mas as pessoas duvidariam na minha capacidade, por causa da minha cor... então, eu teria que estar na minha vida muito preparado, quando passasse por esses momentos e, por fim, ela falava muito do passado, no passado, falava muito de você construir posse, que era por causa da minha tia, minha avó ter terrenos, essas coisas, falava muito sobre instabilidade: “Quanto mais tempo você trabalha numa empresa, mais estabilidade você tem. Ou seja, você não vai ser mandado embora” e isso hoje já não existe. E elas falava sobre: “Preserve o seu nome, porque um dia você vai precisar”. Então, sempre segui essa questão, no momento que eu precisei de crédito o meu gerente falou ‘não’, lembrei dela (risos), lembrei da minha mãe (risos), eu falo para ela: “Tenho o meu nome limpo e no momento que eu precisei, eu recebi um ‘não’”. Então, eu lembro muito desse momento da minha vida, que é um momento da minha vida. Segundo momento foi quando ela, mesmo debilitada, não conseguia mais falar, ela escrevia, ela falava assim: que eu tinha muito que focar em realizar os meus sonhos, tinha que focar, tinha que me capacitar: “Procure pessoas que vão te ajudar, tenha paciência com o seu pai”, porque o meu pai, às vezes, era meio ‘cabeça dura’. Então, falava pra eu ter muita paciência com o meu pai e ela falava, nas cartas, assim: “Que eu nunca deixe que ninguém limite a minha capacidade de querer ser e conquistar algo na vida, que isso dependeria única e exclusivamente de mim, então eu teria que ter esse foco. Nunca olhe para trás”, que ela sempre usava como exemplo a história de Ló, eles tinham que sair da cidade e a cidade de Sodoma e Gomorra, que Deus falou que ia jogar, ia destruir a cidade e aquele que olhasse para trás... e era uma alusão da pessoa que conquistou bens ou que é materialista, principalmente. Então, ela quis dizer assim: “Tudo o que você for fazer, que você conquistar e que você for desafiado, nunca olhe para trás, porque quando você olhar para trás, é motivo de você se questionar e aí até pensar em desistir. Sempre olhe para a frente!”. Então, esse foi o segundo item que ela sempre guardou pra mim, porque no momento de dor, que o médico queria dar um remédio controlado, ela: “No primeiro dia que eu tomasse a pílula...” e eu falei assim: “Não vou tomar esse remédio”, lembrando da carta, ela falou assim: “Você é forte, você sabe, você é capaz de tudo, basta você querer”. Então, aquele dia eu não tomei remédio, então foi aí quando eu decidi ficar essas madrugadas acordado, lendo, me tornei autodidata, programador. Então, são palavras que refletiram muito à minha pessoa e ela falava, numa das cartas, que ela escreveu, ela colocou assim: “Seu futuro é uma consequência das decisões que você toma no presente!” Então, onde eu estou hoje foram consequências da minha infância, das coisas que ela me falava, ela falava assim: “As dores na vida são como um açúcar que vai se refinando com o tempo”. Então, eu entendi que tudo o que eu passei foi uma forma de me construir um cara que pudesse lidar com todas possíveis adversidades e diz Roberto Justus: “O empreendedor empreende em cima das suas maiores adversidades de vida”. Então, eu acho que eu me tornei empreendedor vendo a dor dela e o meu pai em alimentar seis bocas, já passamos muita fome e isso fez nascer um empreendedor, a dor do racismo que eu sofri na empresa, das pessoas ‘apontarem dedo’, falando que eu não era capaz de ser e do esquecer, que eram os ‘nãos’ subliminares e, também, os ‘nãos’ diretos que eu recebi na minha vida. Então, essa carta é o segundo ponto mais importante. E hoje eu estou aqui, né? Eu digo que eu sou um ‘ponto fora da curva’, eu sou uma das pessoas da estatística que, mesmo com todas essas dificuldades de vida, sempre ‘correu atrás’ dos sonhos de empreender. Então, eu tive o meu primeiro negócio na década, no final da década de 1990, que foi uma startup de games. Comecei o negócio do nada, com amigos, fizemos um negócio em um barraco, foi quando eu ‘acordei pra vida’ e falei que eu precisava pensar em mim. Então, foi o que me manteve focado em ‘correr atrás’ de alguma coisa, mesmo sem dinheiro. Entendi que dinheiro, para mim, era eu mostrar para o mercado que eu tinha algo, que era uma necessidade de consumo de mercado. Então, eu comecei com o mercado de games, depois eu migrei para o mercado de comunicação. Mercado de games aprendi estatística na rua, vendendo público, naquela época o Brasil era o líder de pirataria. Então, eu falei assim: “Não, eu vou fazer esse negócio acontecer, mesmo contrariando”. As pessoas falavam que eu ia ‘perder o meu tempo’. Quando eu fui pro mercado publicitário, eu fui criticado, pessoas falavam que eu não sou formado, mas eu descobri que eu era criativo. Então, eu acho que o papel do publicitário é realizar o sonho do seu cliente, em primeiro lugar e com foco em que esse cliente atenda o seu cliente final, né? Então, eu aprendi muito no mercado, montei a minha primeira agência, contratei estagiários. Então, eu provei que é possível você ser quem você quiser, desde que você conheça de fato, saiba o terreno que você pisa e manter o meu banco, mas manter o banco também acima de uma outra dor, que é a dor do ‘não’ e era justamente com pauta em tudo aquilo que a minha mãe sempre falava, né, quando eu era pequeno e, também, na carta. Então, todos esses ‘nãos’, todos esses desafios, todos esses obstáculos sempre fizeram parte da minha jornada e esses foram os três pontos que eu sempre falo para todo mundo: “Olha, é isso que transformou a minha vida. Você pode ser banqueiro, você pode ser apresentador de programas de televisão, você pode fazer um simples intercâmbio, você pode fazer o que você quiser e não existe uma regra para isso. Eu acho que a regra é a sociedade que cria. Tudo é comercializável, sabe? Hoje os especialistas falam que, às vezes, não é um diploma que vai te levar à carreira que você tanto almeja. Tem pessoas que são formadas em Direito e fazem Administração; tem pessoas que são publicitárias e não exerce a profissão de marketing e tem pessoas que, assim: eu tenho um banco digital, mas eu sempre brinco que, como banqueiro, eu sou um ótimo publicitário, porque eu entendo de gente. Então, criar um produto pensado para as pessoas. Esses foram os três... eu acho que foram os três momentos, assim, que eu não esqueço, eu falo nas minhas palestras, para dar a entender para as pessoas que ela pode almejar o que ela quer na vida, basta ela querer.
P/1 – E como surgiu a ideia do Conta Black? E me conta um pouco sobre qual foi esse ‘não’ que você recebeu, que motivou a Conta Black surgir?
R – Bom, eu sempre levei muito a sério os conselhos da minha mãe, principalmente quando falava sobre nome: “Tenha nome limpo”. Então, eu fazia de tudo para ter o meu nome limpo e, no auge da comunicação, quando eu montei a minha agência, em 1999, eu fiquei mais de vinte anos no mercado de comunicação, comecei com uma agência que hoje eu chamo de Digital, na grande bolha da internet, eu ganhei dinheiro fazendo muito site, atendi grandes, pequenas, médias empresas e, ao longo desses vinte anos, eu fui adicionando verticais, os setores dentro da agência: tive uma divisão de gráfica, que eu atendia o cliente na criação e entregava o produto pronto na parte gráfica. Tive uma divisão de eventos, criava, entregava o gráfico e realizava o sonho do cliente de fazer um coquetel, um lançamento. Então, eu atuei em vários eventos, feiras e inúmeros projetos. Fui para área de show business, então fiz muito projeto para emissoras, projetos de reality show. E aí eu ramifiquei essa parte de show business para a área de concerts, parte de shows, minha especialidade era shows internacionais. Então, eu tive experiência com o mercado de shows internacionais, fiz U2, Black Eyed Peas, Linkin Park, 50 Cent e eu ganhei muita experiência atuando nesse segmento e eu tinha uma dor: eu não encontrava meus irmãos, irmãos pretos, nesse segmento, como donos, para eu fazer o meu clã ali, sabe? Minha comunidade. E eu encontrei, naquela época, poucos eram diretores de criação, sabe? Poucos atuavam na área de comunicação. Então, eu tinha essa dor e eu era, imagina, dono de uma agência com mais de trinta funcionários, totalmente estruturado, trabalhando com grandes marcas. Eu estava numa fase da minha vida, eu podia ter o que eu quiser, eu tinha um ótimo score, porque lembrando da minha mãe, eu tinha um bom nome. E aí, um dia, eu fui falar com meu gerente que eu precisava... tudo deprecia, né, tecnologicamente, a tecnologia tem sua a depreciação, e eu queria pedir um crédito, que eu queria pelo menos montar metade da área de criação, eu queria colocar MAC: “Não, tem que colocar MAC aqui!” Eu adorava, né? E aí eu fui pedir pro meu gerente um crédito, que praticamente estava pré-aprovado e ele me falou: “Não!” Geralmente o gerente dá o motivo, você tem um score baixo; às vezes, você não tem uma pontuação interna, por não consumir alguns produtos do banco; às vezes, é uma restrição cartorária, às vezes, você está com nome restrito. Então, tem vários motivos para uma negativa de crédito e eu tinha tudo isso ‘okay’, e ele me falou ‘não’. Geralmente há essa explicação, só que o meu gerente não deu nenhuma explicação, ele falou assim que não podia me emprestar o dinheiro, não podia e eu o questionando o porquê, que nem criança, criança sempre pergunta por quê, por quê. E aí eu não... até o momento em que eu lembrei da minha mãe, né? Sempre lembro dela, né? Que as pessoas duvidariam da minha capacidade. Ou seja, o gerente ele queria o meu dinheiro, queria que eu contratasse os produtos, mas ele não quer ser meu parceiro e aí a minha cor foi o ponto focal dessa negativa e aí eu entendi o meu lugar e aí, como publicitário, eu comecei a fazer uma pesquisa para entender quantos Sérgios existem. Poxa, se o cara me negou pela minha cor, porque eu estou apto a crédito, mas se o cara nega pela minha cor, quantas são essas pessoas? E depois eu me questionei mais ainda: “Agora, quantos os outros Sérgios, aqueles que têm restrição e não conseguem nem sequer abrir uma conta, nem ter acesso à crédito e que empreende por necessidade neste país, quantos são?” E aí bateu o ranço do pesquisador e aí, quando eu saí da mesa, eu falei para o gerente: “Lembra quando você pedia para atingir as metas? Quando eu precisava de você, pelas costas, o que você me falava?” “Não, Sérgio entenda” “Não, o que você me falava? Estamos juntos? Legal! Meu, eu vou abrir um banco!” Eu falei pra ele, isso, brincando, falei de uma forma muito sarcástica: “Eu vou abrir um banco!” e saí, meu sócio estava comigo e deu risada: “Sérgio, você sabe como abre um banco?” “Não sei, mas uma coisa que a minha mãe falava: ‘O que você quiser, joga para o universo, o universo se encarrega!” Então, eu virei um forte estudioso, para entender o que é desbancarização, para entender mais o que é Black Money, sobre a dor desse empreendedor, afro empreendedor. Entendi que ter uma ferramenta financeira poderia ajudar a construir uma... para reconstruir, né? E fortalecer uma comunidade, um nicho, que era o nosso. E eu continuei empreendendo, quinze anos depois, a minha agência passou a atender empresas de mercado financeiro e numa conversa, assim, com o superintendente de um banco, eu falei dessa minha dor, mostrei para ele de forma, assim, muito sem compromisso: “Olha, a pesquisa que eu fiz, olha quantos desbancarizados, olha quanto que eles movimentam fora dos bancos. Gente, isso é um potencial, queria muito criar um produto para ajudar, para incluir essas pessoas no mercado financeiro” e ele falou assim: “Pô, Sérgio, ideia legal, posso te ajudar?” “Pô, é claro!” “Vai no banco, lá no escritório, na Paulista, procure fulano de tal, veja dos produtos do banco quais desses que você acha que faria sentido a gente ajudar a construir algo, pensando nesse público”. Isso foi em 2005, né? E aí foi quando eu resolvi, em 2008, fazer uma imersão no mercado financeiro, trabalhando, continuando trabalhando na área de comunicação e eu fiquei de 2008 até 2015, 2016, eu já sabia tudo, entrei em mesa de operação, já sabia quais são os produtos, entendi o que era a carteira de investimento, tudo o que você possa imaginar. Criei, nesse meio espaço de tempo, uma entidade chamada Afro Business, que tinha um objetivo: eu queria identificar onde estavam - mesmo de uma forma clusterizada - esse público afro empreendedor, para me ajudar também ter mais dados sobre que ponto de vista é a dor desse afro empreendedor, criar a Afro Business. E, nessa de criar a Afro Business, ele me deu insumos, mais insumos, então imagina, é isso que é ser empreendedor: estava à frente da minha agência; estava fazendo uma imersão no mercado financeiro, para conhecer produtos financeiros; tive tempo de criar dois CNPJs, um CNPJ da minha instituição, que é a Afro Business, que eu chamo de Fundação Black; conquistei, ao longo desse período, nove mil associados, eu consegui construir números, dados; depois eu criei um terceiro CNPJ, que é uma empresa de assessoria financeira. Duvidaram da minha capacidade, falaram assim: “Não, você não vai conseguir, você não é um cara de mercado financeiro, você não tem nenhuma certificação”, eu falei assim: “Cara, se eu abri uma agência de publicidade, eu posso abrir uma empresa de assessoria financeira”. Abri uma assessoria financeira, que é o que me deu sustentabilidade para fazer essa imersão no mercado financeiro. Aí, num dado momento, passei o bastão da entidade para a Fernanda, que é minha esposa e resolvi focar no banco digital, na ideia de banco digital porque, em 2005, 2008 não existia fintech, não existia essa redemocratização, isso começou a aparecer em 2008 para a frente e aí foi quando eu falei assim: “Um dia essa tal redemocratização vai chegar nos serviços financeiros, para ‘quebrar’ a hegemonia desses bancões que têm no Brasil, que são só cinco”. E aí veio a primeira fintech de crédito e as coisas foram acontecendo, foram acontecendo, até o momento que saiu o primeiro banco digital e aí quem fez essa revolução no banco digital foi o Original, foi quando eu falei assim: “Está na hora de lançar um produto financeiro”. Aí, só em 2017 que eu entendi como o mercado amadureceu, o Banco Central, resolvi lançar a Conta Black de uma forma muito simples. Sem muito preparo, mais para fazer uma MVP e entender a dor dos nossos membros, que nem chamamos de correntistas, chamamos de ‘membros’. E foi daí em diante que surgiu a ideia da Conta Black ser o primeiro banco protagonizado por pessoas pretas no nosso país e do qual eu estou na cadeira hoje!
P/1 – E como funciona hoje a Conta Black? E eu queria que você contasse um pouco sobre essa pesquisa que você fez, sobre desbancarização.
R – Sim. A Conta Black eu entendi assim que, para não ser diferente daquilo que muitos empreendedores procuram, ou buscam, quando se trata de inclusão financeira, eu primei para que ela tenha uma visão de uma conta bancária, né? Então, eu queria uma conta que tem toda, oferece toda a experiência de uma conta bancária de um ‘bancão’, faz todos os processos de transferência, pagamentos, recebimentos, um cartão físico, um cartão virtual. Então, a gente criou uma conta que permitisse mostrar para os nossos membros que agora a gente tem um banco. Não que a gente vai oferecer crédito, que é o que 99% da população precisa, mas para mostrar assim que a gente tem algo que é nosso, que se preocupa com as nossas jornadas. Então, a Conta Black traz essa experiência de banco, até para que a gente possa estar aí pelo menos em escala de igualdade com os nossos potenciais vizinhos. Para não falar ‘concorrentes’, que já estão com suas gramas altas, a minha ainda está bem... sabe? Então, a Conta Black vem justamente com esse contexto e os dados são muito contundentes quando se fala em Conta Black. Por exemplo: um exemplo muito prático, o que me levou a construir uma Conta Black pensada na dor ou no afro empreendedor em primeiro lugar, como que eu construiria uma Conta Black que pensasse em primeiro lugar em trazer a inclusão. A minha pesquisa foi muito baseada em: “Onde... como eu clusterizo o perfil dos nossos membros, para falar a língua que eles precisam?” Aí eu fui lá, que mais de 40% pedem empréstimo para amigos e familiares, quando eles têm um crédito negado. Caraca! Descobri também que, dessas famílias grandes, em que uma pessoa possui cartão de crédito, essa pessoa empresta, usa o cartão de crédito como a ferramenta de uso, usabilidade, ali, de acesso para comprar consumo. Então, às vezes, uma pessoa tem um cartão, ela divide esse cartão com todos da família, como a sua principal ferramenta de acesso à crédito. Eu descobri que o percentual de mais de 30%, mais de 30% dos empreendedores participados periféricos tiveram seus pedidos de créditos negados e que, iguais a mim, sem que fossem esclarecidas as razões, uma grande parte. Descobri também que os empreendedores pretos, pardos e, também, periféricos não têm reserva de capital de giro, então todos empreendem por necessidade mesmo, não é nem do zero, é do menos zero, é do negativo. Descobri também, nessas pesquisas, que na época, em 2017, que é um espaço de tempo muito curto, 55 milhões dos brasileiros eram desbancarizados e que 41% dos jovens não tinham acesso à conta bancária. Aí a gente já entra em outros ‘braços’ da exclusão digital: nem todos tinham telefone, nem todos conseguiam baixar o app, nem todos conseguiam abrir a conta. Então, nem todos conseguiam ir, não iam para uma agência, porque as agências não ficavam nos bairros, ficava nas áreas mais metropolitanas. Então, eles foram os principais fatores que motivaram essa exclusão. Descobri que - e aí é um dado mais atual - hoje a grande maioria é MEI e que, antes, lá no passado, mais de 58% têm até o ensino médio, não têm um estudo de faculdade, é o meu caso, e foi ali, não fiz faculdade e ‘meti a cara’, porque eu tinha a necessidade de fazer dinheiro e fazer alguma coisa. E descobri que mais de 30% não tinha CNPJ. Ou seja, trabalhavam na informalidade, para sobreviver. Esses dados eles começaram a dar pra gente muita ‘munição’, para saber falar com o nosso público, que nós somos essa grande maioria, somos de 57% da população preta e periférica, o nosso país. Então, nós somos também a maioria no empresariado brasileiro, apesar de termos os menores faturamentos e os menores salários, mas aí eu fui e falei: “Não, eu quero saber mais sobre essa dor. Esse cara que não consegue abrir, que empreende por necessidade, às vezes não tem o CNPJ, o que ele precisa, para empreender?” Ele precisa entender de comunicação, ele precisa entender de planejamento e todos fazem de forma sem nenhum preparo e, no final, todos precisam de dinheiro para fazer isso, para empreender. Eu quis descobrir onde eles estão mais distribuídos, em áreas. Eu descobri que mais de 20% estão na moda, que mais de 12%, quase 13% atuam na área de gastronomia e nisso nós somos muito bons, na área de gastronomia e que mais de 11% atuam na área de comunicação. A dor que eu tinha, lá no passado, hoje você encontra muitos afro empreendedores, homens e mulheres que, na sua grande maioria, atuam na área de comunicação, são profissionais de comunicação. Que a grande maioria, mais de 80%, são pretos e essa grande maioria desses pretos são mulheres, quase 70% são mulheres. E por que muitos empreendem? Por que, quais são as razões desses empreenderem? Eu acho que mais de 30% são por vocação, que se prepararam ou que não se prepararam, mas que tem a ‘veia’ para essa função. 34% por necessidade, porque nem todos conseguem fazer uma faculdade e os que fazem, fazem faculdades que não são top e as empresas, os bancos, as financeiras, as multinacionais só contratam pessoas de universidades top. Então, o que ele vai fazer, quando ele estiver com diploma na mão? Vai empreender, vai por necessidade e que mais de 22% são por engajamento: “Ah, eu sou um ótimo cara de criação, vou fazer faculdade, porque eu quero atuar ou trabalhar com uma grande empresa ou vou empreender na área de comunicação”, por exemplo. Então, esses foram os dados que fui levantando e aí eu fui procurar esses atores da desbancarização, que são os grandes bancos, quais são os motivos que levam as pessoas a perder a confiança no sistema financeiro, além das questões restritivas? É um modelo bancário que ele é excludente, já a porta giratória já fala por si só e essa tem sido a grande pauta do processo de exclusão, sabe? A falta de acesso ao serviço financeiro básico, existe uma lei que obriga os bancos oferecerem serviços financeiros básicos, ou seja, aquele que a pessoa não precisa pagar, mas os bancos cobram e quando a pessoa quer abrir uma conta, ela tem problemas desses tipos, eles nem jogam essa possibilidade da pessoa ter acesso. E depois tudo isso leva a população, essas pessoas que não têm acesso a crédito, que não tem CNPJ, que empreende por necessidade, a ter acesso à crédito caro. Então, essas pessoas... grande parte dessa população é uma população endividada. E, claro, a falta de transparência, eu acho que 100% da população, independente da classe social ou faixa etária, todos sabem que não existe transparência no relacionamento com os bancos e principalmente nas taxas que são cobradas. Então, a gente começou a construir essa notoriedade com base nesses dados, né? Então, eu acho que o que fortalece a Conta Black hoje é: falar sobre essas dores, falar dos nossos desafios como conta digital, como um banco digital, o que nós queremos erradicar, como que a gente vai trazer essa inclusão digital, que inclusão financeira é uma coisa, hoje os bancos, as fintech trouxeram inclusão digital, trouxeram a possibilidade da pessoa ter um cartão virtual ali, comprar Uber, sabe? Comprar iFood. Permitir às pessoas de serem mais mobiles, sabe? Levar o relacionamento com o banco de uma forma mais mobile. E, por fim, eu acho que um ponto importante, eu falei que 55 milhões da nossa população é desbancarizada, mas graças às fintechs, esse número caiu para 34 milhões. Então, eu acho que também essas são ‘munições’ que a gente tem que, de sobra, para fortalecer o nosso modelo de negócio, mas eu acho que acima de tudo é trazer e colocar à frente não o serviço do banco, mas sim o propósito. Eu acho que isso tem nos ajudado e à nossa meta. Eu costumo falar que a nossa saga continua... (risos)
P/1 – Sérgio, você contou sobre vários momentos, assim, que você sofreu racismo ou formas de discriminação, né, nesse acesso à crédito e até nas oportunidades de trabalho. Aí eu queria saber se, durante a formulação da Conta Black, esse cenário mudou ou se você continuou sofrendo esses episódios? Não só episódios.
R – Sim, sim, não mudou não, mudou não, sabe? Eu acho que, se eu falar num todo, estamos num sistema que é racista. Então, ele dá dinheiro para quem tem dinheiro, para quem precisa de mais dinheiro e menos dinheiro para quem precisa, ou seja, o pobre está mais pobre, o rico mais rico. E quando ele é preto, ele está no extremo... quanto mais pobre ele fica, ele não consegue ascender. Não mudou, não mudou. Eu tive isso no meu primeiro emprego, mas só que eu reverti isso mostrando para o Banco que eu sou um cara muito bom e o banco reconheceu isso e me promoveu quatro vezes. No mercado de comunicação não foi diferente, no mercado de comunicação as pessoas falavam assim: “Você é dono da agência? Como assim?” Eu ouvia muito cliente, fui pra muitas concorrências e o cara decidiu fechar negócio com um cara branco e não fechar comigo, por causa da minha cor e até porque eu tinha material e provas materiais de que meu trabalho é muito bom, minha entrega muito boa. O cara não queria saber se eu tinha score, muitos me julgavam pelo que eu tinha ou pelo que eu não tinha. Então, tive reuniões em que caras faziam questão de ir na garagem do prédio para ver o carro que eu estava usando: “Esse cara é dono da agência mesmo? Eu quero saber o carro que ele tem!” (risos) Se eu saísse com um Ford Ka, aí não teria cabimento mesmo. (risos) Apesar que hoje não se leva isso muito em consideração, mas o mercado é muito excludente. E hoje, no mercado financeiro, entrar nesse ‘clube do Bolinha’, eu tive que hackear muito sistema para ter acesso, para construir, para fazer isso de uma forma muito silenciosa, quando as pessoas percebessem, elas olhassem: “Pô, o cara fez todo o negócio”. Então, também tive que ter inteligência emocional, para saber lidar com o racismo e eu utilizo isso até hoje. Ainda encontro essa resistência no mercado de Venture Capital, sabe? Ainda mais no momento que a gente fala muito em ESG, nossos negócios sempre foram ESG, porque sempre foram negócios de impacto, que sempre visaram lucros, né? Mas o mercado de investimentos ainda investe no negócio do cara branco e ele coloca muitas aspas no modelo de gestão de uma pessoa preta. Então, sempre tentam nos colocar à margem de algo, à sombra de algo, sempre vejo, o racismo existe! Mas eu estou aqui, né, porque entre uma sociedade que é preconceituosa, existem pessoas que também não são preconceituosas. E foram justamente, exatamente essas pessoas que não são pessoas pretas, que falaram assim: “Cara, você precisa fazer esse banco acontecer e eu vou te ajudar! Tá, se acontecer qualquer coisa, coloca nas minhas costas, me liga, que eu ligo e resolvo!” Então, tenho ainda muitos padrinhos, que são pessoas de mercado financeiro, não só no Brasil e fora do Brasil, que atuaram no mercado e que falaram assim: “Não, assim como nos Estados Unidos existem bancos de proprietários pretos e que têm como foco ser ali uma bandeira de resistência, a gente precisa fazer isso, a gente precisa fazer isso para o primeiro banco brasileiro”. Então, a gente está aqui existindo, né? E estamos crescendo, aos poucos, e também provocando o mercado de investimentos, que olhe pra esse negócio aqui, que esse negócio aqui tem um público potencial de mais de 57% da população, então nós podemos ser um big banco aqui no Brasil e que pode ajudar muitos empreendedores no acesso a crédito, na inclusão financeira, na inclusão digital, na formação de jovens lideranças que venham nos representar no futuro, no acelerar de negócios protagonizados por pessoas pretas. Então, a gente precisa também construir as nossas ferramentas financeiras acima disso e racismo está aí e ele ainda é nossa ‘pedra no sapato’.
P/1 – E desde que você começou na sua trajetória profissional, coincidentemente você fazia trabalhos para o banco do Mappin e depois você começou a estudar sobre o mercado financeiro, até chegar na Conta Black.
R – Sim.
P/1 – Aí eu queria entender se você vê mudanças no perfil de diversidade e inclusão dentro do mercado financeiro, desde a época que você começou, até hoje? E o que você acha que é necessário para pessoas negras se tornarem investidores e, também, CEO de bancos, enfim?
R – Esse é um grande desafio, não existe diversidade nesse mercado, não existe. Eu acho que o fato de eu ter criado um banco vem com essa ideia de tentar realizar um sonho da gente construir o nosso banco, construir o nosso próprio ecossistema. E isso é um processo de educação para as empresas, para elas entenderem que a diversidade torna as empresas mais lucrativas e mais rentáveis. E esse é um conceito que não nasceu no Brasil, nasceu fora do Brasil. Você vai nos Estados Unidos, você vê ali várias empresas que têm programas de diversidade, mas o mínimo que elas precisam fazer é trazer qualidade, equalizar essa questão dos cargos. No mercado financeiro lá você encontra muitas pessoas pretas. Aqui não, aqui é bem pouco. Então, eu acho que para mudar essa ótica, a gente precisa cobrar isso da sociedade corporativa empresarial. Eu acho que também não deixa também de ser uma política pública, a gente também cobrar que as entidades tenham programas de incentivo da responsabilidade social. E eu acho que ESG não pode ser só visto, somente, como ambiental, também tem a parte de governança, que também tem um papel muito forte em fortalecer essa visão da diversidade. Existem pessoas de mercado que são top voices, que ainda acham que a diversidade não funciona e que é um ‘mimimi’ midiático e corporativo, mas não, essa pessoa precisa fazer um intercâmbio nas comunidades no Brasil, sabe? (risos) Vai morar um mês, vai pegar ônibus, vai sentir o que é a dor do brasileiro periférico, principalmente preto, que conquistar espaços depende de investimento pessoal, tem que estudar, tem que se capacitar. Então, eu acho que, no mercado financeiro, a gente precisa trazer e a gente já está trazendo luz a essas questões. A gente começou como um banco digital, agora a gente vai lançar uma vertical de investimentos, dentro do banco: “Ah, mas você quer concorrer?” Eu disse: “Não, concorrer eu vou concorrer com o mercado ou com qualquer corretora, além de ser banco digital e ter os meus concorrentes, eu vou concorrer com o mercado das corretoras lançando minha vertical de investimentos”, mas o mais importante, eu acho que a ‘cereja do bolo’, não é ser mais uma, ser a primeira plataforma de investimentos protagonizadas por pessoas pretas, é ser a primeira plataforma que visa investir na formação de profissionais pretos no mercado financeiro, minha meta é formar os cinquenta primeiros agentes autônomos até o final ou começo do próximo ano. Mal ventilei essa possibilidade e já tenho mais de 150 pessoas que são potenciais candidatos a essa formação, para mostrar para o mercado que existem pessoas pretas muito qualificadas, muito boas. Então, eu entendo que, ao mesmo tempo que nós temos que reivindicar isso do mercado, essa postura do lado corporativo, do lado das grandes corporações e também dessas políticas públicas, eu acho que nós também temos que ser a teoria da mudança. Então, “Ah, recebeu um crédito?” “Não, vou abrir um banco!” Fui lá e abri um banco. Ah, não importa quanto tempo que eu levei, me capacitei, fiz uma imersão de quase nove anos, o universo conspirou, lancei a fintech no momento que é o momento de fintech, é um banco digital no momento do banco digital. Falei assim: “Ah, meu sonho, um dia é ter uma plataforma de investimento”, passou-se três anos, cinco anos e eu estou lançando uma vertical de investimento, um negócio, universo conspirou a favor. [trecho retirado a pedido do autor] A gente pretende lançar uma plataforma de investimento até o mês que vem, mas a ideia é equalizar, mostrar que nós estamos nos movimentando para sermos donos do nosso dinheiro, de onde ele vai ficar, de como que a gente vai performar esse dinheiro, para que o mercado passe a nos ver por um outro prisma e falar assim: “Poxa, a gente está perdendo grande parte dessa população, que está aqui com a gente, para esse banco, o que a gente precisa fazer?” Contrata mais pessoas para esse mercado financeiro, coloca mais pretos na chefia, coloca mais pretos nas suas campanhas de comunicação, mostra que você é uma empresa diversa, para ele se ver, que se eles se verem, eles compram, consomem. Então, isso muda a partir também do nosso comprometimento em querer fazer as coisas acontecer, né? O movimento preto no nosso país tem evoluído em muitas áreas e eu acho que a ideia é essa mesmo, a gente também ser a teoria da mudança e a gente ir lá e fazer.
P/1 – Sérgio, tem alguma história de algum membro do Conta Black que você lembra, assim, que foi marcante para você? Você conhece os membros? Como que é?
R – Eu conheço, eu conheço, conheço alguns membros, eu tenho um e-mail lá: falecomigo@contablack.com, onde eu recebo e-mails e respondo todas as segundas-feiras, que é uma forma de você conhecer o seu membro e você estar perto dele, né? Ao contrário dos caras dos bancões, que criam várias formas de não serem acessíveis. Eu acho que uma coisa que aprendi no mercado de comunicação, no mercado de games, que era um mercado de consumo, que eu atuei muito para empresas que atuam no mercado de consumo: como você conhece o seu cliente? A melhor forma de você conhecer o seu cliente é ouvindo-o. Então, uma coisa que eu sempre fiz é ouvir a história desses membros, né? E, na época, quando a gente criou a Afro Business e depois a gente resolveu lançar Conta Black, na sequência, nós tínhamos uma membra que tinha um problema muito sério, ela é uma ótima empreendedora na área de alimentos, faz uma bela de uma torta de frango, que me deixa até com água na boca, ela tinha um sonho de empreender e ela tinha um problema que essa tal exclusão que eu falei, naqueles dados, ela teve acesso a crédito caro e quando se fala ‘ crédito caro’, ela teve acesso a agiota. Então, ela nunca conseguia zerar esse débito e ela queria passar por uma mentoria, demos uma mentoria para ela, a ajudamos, assumimos... não assumimos a dívida, mas assumimos o relacionamento com esse credor, para que a gente pudesse ajudá-la e levamos a educação financeira como base de aprendizado na jornada dela como pessoa física, em primeiro lugar e depois como pessoa jurídica, do seu negócio e ela é um dos maiores orgulhos, porque no ano de 2019, 2018 para 2019, ela fechou o ano com quase um milhão de faturamento e gerando mais de quinze empregos, hoje ela é dona de um café. Então, é uma pessoa que a gente fala assim que a inclusão, a educação financeira, ouvir, transforma a vida da pessoa e, às vezes, o cliente só quer ser ouvido, porque ele não importa se ele vai pagar... se a sua tarifa do seu banco é maior que a minha. O que faz ele ficar com você é o relacionamento, você responder às perguntas, você dar encaminhamento, você ser transparente, eu acho que é isso que é um sensos que a gente sempre trouxe na Conta Black. Às vezes, aparecem alguns membros que falam assim: “Ah, eu quero um limite de quatro mil”, eu falo assim: “Amigo, aqui você não vai conseguir limite de quatro mil, porque eu não estou ‘reinventando a roda’, mas eu posso criar um caminho para você ter um limite de quatro mil, me fala qual é o seu status hoje, quem é você como pessoa física, quem é você como pessoa jurídica, quanto que você fatura, quanto você pretende faturar?”. Quando eu faço isso, eu estou fazendo algo que seria uma obrigação de um gerente de um banco, não é atingir metas, é construir relação, porque esse cliente bem atendido vai trazer mais clientes. E quando a gente lançou a Conta Black, em 2017, somente como um serviço simples financeiro, nós fizemos o lançamento num jantar para 250 empreendedores e eu estava feliz que, se eu saísse dali com vinte contas, eu conseguiria fazer um MVP para testar o modelo de negócio e saí com 200 contas, só aqui, o ‘boca a boca’ e aí eu acho que eu sempre falo com o marqueteiro, que o boca-a boca nunca morreu. Esses 200 viraram 1000 clientes em 24 horas, sabe? Então, eu acho que esse é um dos segredos do mercado, é um dos segredos da Conta Black: é continuar construindo relações, porque o resto, o resultado só o tempo vai dizer e hoje nós temos trinta mil membros, que é onde 20%, 20% a 25% desses membros são pessoas brancas, das classes A e B, que usam a Conta Black, porque acreditam que fazer parte do movimento, serem correntistas é também um posicionamento antirracista da parte deles, de mostrar assim: “Eu uso, sou Conta Black, eu sou Black Member e eu apoio!” Então, eu acho que isso zera o game para mim.
P/1 – E como é o seu dia a dia, hoje?
R – (risos) Meu dia... primeiro eu amo o que eu faço, tem um monte de problema para resolver, mas eu amo o que eu faço, porque eu entendi que eu posso fazer o que eu quiser. Então, o meu dia a dia é muito simples. Antes eu era totalmente workaholic, de levantar, já dormia com o notebook na cabeceira da cama. Hoje não, hoje eu entendi que dá tempo pra tudo, tem que existir equilíbrio. Eu tenho uma rotina de... ainda acordo cedo, seis e meia, sete horas, tomo o meu café da manhã - não abro mão do meu café da manhã, que antes eu tinha uma vida totalmente desregrada - vejo as notícias do dia, hoje não vejo mais jornal e vejo pelo tablet, vou para o meu escritório, me relaciono com todos os meus colaboradores: “Bom dia”, a gente os chama para tomar um segundo café da manhã e a gente começa a trabalhar. Eu faço isso, eu gosto muito disso. Me relaciono muito com os meus fornecedores de serviços financeiros. Então, eu sou o cara que, por mais que eu seja o CEO do banco, eu ainda tenho um pouquinho de marketing, tem um pouquinho de comunicação na minha veia, tem um pouquinho de produto. Então, eu não ultrapasso essa linha que é dos meus heads, mas eu gosto muito de ajudá-los na tomada de decisão e até mesmo discutir ideias sobre como criar produtos, então eu faço esse processo. Tenho um horário de trabalho que varia muito entre sete e oito e meia da noite, que eu preciso fechar as minhas agendas. Tem reuniões, certos tipos de relacionamentos que você faz fora do trabalho, então eu geralmente faço alguns happy hours, faço algumas conversas. E vou pra minha casa, não levo o computador, levo muito em consideração uma boa noite de sono, mesmo sabendo que eu tenho um monte de problemas para resolver. Adotei recentemente um cachorro, chamado Blackinho, que é um pug e eu acabei fazendo-o trabalhar, então ele é o garoto propaganda do nosso seguro pet (risos) e é o meu xodozinho ali. É uma energia que eu recebo toda noite, quando eu chego, quando ele me vê feliz. E agora a minha rotina é essa e essa minha rotina é juntamente com a Fernanda, porque ela é minha sócia. Então, ela assume responsabilidades dentro da Conta Black, às vezes, muito mais responsabilidades do que eu, porque ela é da área de Comunicação. Mas a gente consegue construir um equilíbrio para continuar empreendendo e, na minha visão, empreender não é empreender a todo o custo, porque você ‘abre mão’ da família, você ‘abre mão’ da sua saúde. Eu já ‘abri muito mão’ da minha saúde e essas perdas e todas essas cicatrizes que o tempo me deixou, me fazem ver a vida de outra forma. Faço as minhas atividades esportivas, jogo minha bolinha no sábado. A Fernanda consegue sair às onze horas, para fazer a academia dela, voltar na hora do almoço e continuar trabalhando, com mais energia. Então, é um lifestyle, qualidade de vida e a gente sempre faz isso, mas isso não quer dizer que a gente tenha dinheiro, ainda não fiquei rico, um dia eu fico, quem sabe, se Deus permitir, mas estamos no caminho e o mais importante é fazer o que a gente gosta.
P/1 – Você quer contar como você conheceu a Fernanda?
R – Sim, Fernanda. A Fernanda, assim... ah, foi uma forma muito simples: o meu irmão foi casado com a irmã dela. (risos) Aquelas festas de família, né, festa de família, uo, uo, uo, uo, uo, uo e sempre a vi, sempre via a família dela, pa, pá, pá, pá e um dia eu olhei diferente para ela, assim e eu falei pro meu irmão: “Bonita essa sua cunhadinha” Ele falou assim: “Você quer conhecê-la?” Eu falei assim: “Quero!” (risos) Que a gente só falava ‘oi’. Aí foi quando ele me apresentou, a gente começou a construir uma narrativa, uma conversa entre nós, sobre contexto de família, aí eu comecei a ser chamado para os eventos de réveillon, que eu passava em outros lugares: “Não, a gente alugou uma casa na praia tal, vamos com a gente”. Foi aí que eu a conheci e foi aí também que ela entendeu quem é o Sérgio, o que o Sérgio faz. Eu deixei de ser aquele cara workaholic, de trabalhar toda hora, por causa dela. Na época que eu a conheci, ela estava fazendo, cursando faculdade na área de Turismo, ela é Turismóloga, com extensão em Marketing e Comunicação. O pai dela sempre trabalhou no segmento de aviação, o pai dela foi da Infraero. E ela tem grande parte da juventude dela entre os aeroportos, então o motivo dela fazer turismo e trabalhar em uma empresa da área de aviação foi isso, ela trabalhou nas principais empresas que atuam no Brasil. E aí as coisas foram se construindo e ela, de uma certa forma, acabou acompanhando um pouquinho também a minha jornada, das minhas idas e vindas dentro do mercado de empreender, né? E aí surgiu nela, ela teve uma fase de burnout, que o trabalho dela consumia muito dela. Então, ela foi fazer um sabático e eu estraguei o sabático dela, quando eu lancei a Afro Business, depois ela virou o que ela é hoje pela Afro Business e agora como minha CEO, dentro da Conta Black. Então, a gente... ela presenciou parte das minhas dores também, é óbvio, a dor da perda do meu irmão, perda da minha avó, que ela viu que também tinha - nesse cara que era workaholic, que sempre se escondia no trabalho - um cara que também tinha dores, né? Então, ela surgiu justamente no momento para ser a pessoa que apaziguaria essas minhas dores. E aí é a pergunta que todo mundo sempre faz, né? Como é possível um casal trabalhar junto e dar certo? Simples, ela tem a função dela, eu tenho a minha, só que nós temos lá na frente um sonho, um sonho que nós dois vamos desfrutar. Então, se ela fizer bem o trabalho dela e eu fizer bem o meu trabalho, essas duas engrenagens vão trabalhar, claro que existe - ninguém é perfeito - os momentos pessoais e profissionais, que às vezes se misturam, mas a gente sempre foi focado no resultado. Então, eu acho que é o que faz a gente sempre dar certo e ela é minha sócia. Então, não posso falar muito contrário, porque a empresa é ela... a empresa é também... eu estou onde eu estou, a Conta Black é o que a Conta Black é porque também tem ‘mão’ dela. Então, além disso ela é uma ótima esposa, uma ótima dona de casa, uma ótima companheira, companheira de viagem. A gente vive, às vezes, perigosamente, que tudo a gente faz atrasado: viagem, compra tudo atrasado, a gente viaja atrasado, a gente chega atrasado em reuniões. Mas a gente vive perigosamente, porque a vida precisa ter um pouquinho de aventura e a gente consegue mesclar isso também e eu acho que ela foi um presente que o universo conspirou e trouxe.
P/1 – E quais são as coisas mais importantes para você, hoje?
R – Ah, para mim é família, acima de tudo. A gente já fala em formar uma família, eu acho que adotar um cachorrinho foi uma fase da gente já começar a pensar nos nossos filhos no futuro, não tão distante, porque a idade passa, o tempo passa, né? Outra coisa também: eu acho que o trabalho é uma consequência de todas essas conquistas. Então, eu acho que, acima de tudo, é família. Aí eu me preocupo com os meus irmãos, estou ajudando um irmão meu agora a empreender, porque ele nunca empreendeu. Então, eu estou ajudando-o a empreender, dando muita mentoria e ele está se dando muito bem, porque ele é uma pessoa muito - que é o Leandro - metódica. Então, é o que faz com que ele trabalhe, empreenda. Tenho me preocupado com a minha família. Eu sou muito família. Eu tenho uma tia de 70 anos, que é irmã da minha mãe, que eu vou visitá-la todo sábado, depois do meu futebol. Então, eu ainda tenho tempo de ir, depois do futebol, para a feira comer um caldo de cana... olha, uma coisa que eu não ‘abro mão’ e, também, faz parte muito dessas memórias ilustrativas: além de jogar o meu futebol, fazer minha atividade esportiva no sábado de manhã, oito horas da manhã, enquanto muitos querem dormir sábado até tarde, para descansar o corpo, eu quero alimentar ali a minha alma e minha mente, fazendo esporte. Volto e vou direto para a feira comer um pastel e um caldo de cana, depois eu vou na casa da minha tia de 70 anos, para saber o que ela precisa, se ela quer que leve em algum lugar, se ela quer que compre alguma coisa. Por mais que ela seja uma mulher muito independente, mas já está sem a minha mãe, já está sem a minha avó, sem o meu avô. Então, ela precisa ter os sobrinhos ali perto, para ser um apoio. Então, família para mim é importante, muito nesse sentido. Essa semana agora foi aniversário da minha sogra, fez 80 anos, você olha pra ela, 80 anos! Está inteirona, felizona, poxa, chegou aos 80 anos! Então, meu sogro recentemente teve uma enfermidade, mas a gente, com muito amor a gente cuidou dele e ajudou a cuidar dele. Então, família em primeiro lugar, está vendo? Tudo família, né? Eu acho que o dinheiro é alto.... ele é o sazonal da jornada da vida de qualquer pessoa. Um dia você tem mais, outro dia você tem menos, outro dia você não tem nada, um dia você perde tudo, outro dia você recomeça tudo. Então, ele é o ‘último da fila’, desse processo todo. E qualidade de vida. É aquilo que eu falo, que é importante para mim: além da família é construir a minha paz de espírito. Às vezes, assisto um culto, um outro ali, quando sou convidado, para ter equilíbrio mental e espiritual, e é isso. Eu acho que é o que todo brasileiro quer, né, ter qualidade de vida, é isso.
P/1 – E quais são os seus maiores sonhos, hoje?
R – Ah, primeiro é fazer da Conta Black um grande negócio, que seja um negócio que transforme a vida da maioria dos brasileiros, que nós somos essa maioria. Dentro desses sonhos existem algumas metas. A segunda meta é que a plataforma de investimento que estou lançando, então ela vai ‘abrir uma outra porta’, que é a ‘porta’ da gente construir o nosso próprio fundo e meu sonho de ter esse fundo é que posso ser o primeiro Venture Capital protagonizado por pessoas pretas no Brasil, para investir em negócios pretos e periféricos nesse Brasil, que é a única forma da gente construir a nossa emancipação é a gente hackear sistema e fazer isso. Então, eu acho que profissionalmente é isso. Mas eu acho que ser pai é um deles, apesar de eu ter uma idade um pouco avançada, estou com os meus 48 anos, ainda há tempo de ser pai. Então, a gente fala muito de formar essa família, construir legados. A gente precisa ter alguém que tenha essa mesma mentalidade, que dê sequência a esse negócio que, na minha opinião, é um negócio que vai mudar a vida de muitos brasileiros. Então, eu acho que esse é um dos meus sonhos. E tem um sonho, algo que é muito pessoal, assim: quero fazer o meu sabático. Meu sabático é pegar uma moto ou um carro e andar nesse Brasilzão e conhecer comunidades, entender como elas vivem sem o dinheiro e qual é a moeda dessas pessoas. Isso é um trabalho? Pode ser um trabalho, mas é um sabático gostoso, você tem a liberdade de: “Hoje eu vou descer para o sul, depois eu vou lá para o Amazonas, vou parar nas comunidades ribeirinhas, vou passar um tempo naquela cidade”. Quero entender como as pessoas, como esse país, que é intercontinental, existem vários Brasis dentro desse país e entender como é a jornada das pessoas. Então, um dia pegar um carro ou uma moto e ficar cem dias na estrada. Esse é um dos objetivos, são vários, né? Mas eu acho que um é consequência dos resultados dos outros. Então, eu estou tranquilo para isso.
P/1 – A pergunta seguinte era exatamente qual o legado que você deixa para o futuro.
R – É construir um modelo de negócio que, no 360, seja a ‘chave mestra’ de todo empreendedor e que ele e que outras gerações possam dar sequência a isso, a essa construção. Eu falo que, não vamos falar em outros países, mas no Brasil existe um grande ‘gigante adormecido’, que hoje representa uma grande maioria de brasileiros, que está representado numa grande maioria, 57% da nossa população e que eles precisam ver empoderamento e eu acho que é isso que eu quero construir de legado, para que as futuras gerações possam dar sequência a isso e continuar transformando outras vidas, né? Então, eu acho que é isso que eu quero. Falei assim, que muitas coisas não verei em vida, mas eu estarei muito feliz de outras pessoas fazerem isso. Então, e mostrar ao longo da história, que muitas pessoas conseguiram fazer com pouco, impacto na vida de outras pessoas.
P/1 – A gente já está chegando ao fim, tem só mais duas perguntas, a primeira delas é bem livre, eu queria te perguntar se você quer deixar alguma mensagem ou contar alguma coisa que eu não acabei perguntando.
R – Eu acho que as perguntas atenderam, eu acho que deram um overview sobre quem é o Sérgio na ‘fila do pão’. Eu acho, assim, que uma das coisas que sempre me moveu aí, a me movimentar para as realizações dos meus sonhos, foi a preocupação de ter ao meu lado pessoas que sempre me apoiassem, que sempre me incentivassem, minha mãe foi um exemplo, os meus mentores foram outros grandes exemplos e são exemplos para mim, até hoje. Eu acho que se alimentar dessas energias é muito bom, para a gente moldar o nosso mindset para a construção daquilo que vai mudar nossas vidas. Isso eu falo pra todos os nossos membros e as pessoas que eu mentoro, porque quando a gente é criança, a gente tem sonhos, uns falam que querem ser astronautas, outros que falam que querem ser médicos e a jornada da vida, as pressões do dia a dia mitigam esses sonhos, oprimem esses sonhos e a gente vai deixando de ser aquilo que a gente sempre almejou, o que faz com que existem no nosso país, no mundo, muitas pessoas frustradas, que fazem e exercem funções que não gostam. Então, eu acho assim, que nunca é pra deixar morrer o espírito dessa criança, sabe? Resgatar, na maioria das vezes aquela questão de ter o sonho, porque quando você sonha, você ‘corre atrás’, não importa os obstáculos que vão existir. Se você quer fazer um intercâmbio, você vai guardar dinheiro; se você quer conhecer uma outra cultura, você vai guardar dinheiro, você vai fazer isso; se você quer montar um negócio, você vai arranjar um jeito e você vai conseguir fazer o seu negócio, porque ao longo da história das grandes corporações, das bigs empresas que existem, elas começaram nas garagens, porque o cara tinha um sonho. Então, eu acho que, quando você está rodeado de pessoas que querem o seu bem, que querem te incentivar, a jornada para a realização desse sonho é muito mais simples, muito mais fácil. E outra: foco, eu sempre fui um cara focado nos meus sonhos, entendi que nem tudo que a gente joga para o universo, que a gente pede para o universo, acontece na hora que a gente quer, você viu? Quinze anos depois eu abri um banco, cinco anos depois a possibilidade de lançar uma plataforma de investimentos, mas porque eu alimentei esse sonho e sempre me rodeei de pessoas: “Oh, Sérgio, pra você fazer isso, tem que seguir esse caminho, esse caminho”, levar uma ‘puxada de orelha’, voltar, repensar a minha jornada, recomeçar. Então, eu sempre fiz isso e não é diferente, porque uma coisa que eu sempre falo: “Sonhar grande, sonhar pequeno, o esforço é o mesmo!” Só que as pessoas, o ser humano é imediatista, a gente tem que tirar esse automático do imediatismo e começar a construir jornada, a partir dos sonhos. Então, continuem sonhando, eu acho que é a mola propulsora para realização de tudo na nossa vida e sempre querer coisas, sempre pedir coisas para universo, porque de resto, a gente já sabe.
P/1 – Sérgio, como foi contar sua história hoje, revisitar um pouco da sua trajetória?
R – Foi muito diferente de todas as conversas que eu já tive, com todos os tipos de entrevista que eu já tive. Ela foi transformadora, porque te faz resgatar momentos da sua vida, da sua história e momentos que te fazem imaginar, ver de uma forma muito lúdica como ela se conecta. Você é o que você é pelas decisões que você tomou no passado, igual a minha mãe falava. (risos) Então, foi totalmente diferente. Eu adorei, adorei!
[Fim da Entrevista]
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