MCHV_058_KARINA LUCIA DOS SANTOS
Projeto Memórias do Comércio de Ribeirão Preto 2020 e 2021
Entrevista História de vida HV_058
Karina Lucia dos Santos - Casa do Artista
22 de abril de 2021
Entrevistado por Luís Paulo Domingues
Transcrito por Selma Paiva
P1- Karina, pra começar eu vou gostaria que você falasse o seu nome completo, a cidade onde você nasceu e a data do seu nascimento.
R- Meu nome é Karina Lucia dos Santos. Eu nasci aqui em Ribeirão Preto mesmo, no dia 24 de outubro de 1973.
P1- Legal. E qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R- Meu pai é Kleber dos Santos. E a minha mãe, Silvia Lucia Martins dos Santos.
P1- Você tem contato com os seus avós? Conheceu os seus avós? Eles estão vivos ainda?
R- Conheci os meus avós. Mas eu só tenho uma avó viva ainda.
P1- Sim. Você gostaria de falar o nome deles, pra ficar gravado aqui?
R- Dos quatro avós?
P1- Isso.
R- Da minha mãe: Antônio Garcia Martins e Iracema Dutra Martins. Do meu pai: Alfredo dos Santos e Tereza Lorenzi dos Santos.
P1- Legal. Karina, e os seus avós, você sabe se eles já moravam em Ribeirão Preto, ou eles vieram de fora? Se tem algum ascendente de imigrantes? Ou eles já estavam na região mesmo? Como é a história deles?
R- Eles já moravam em Ribeirão. Mas eles são descendentes de imigrantes, né? O meu avô paterno é descendente de espanhol. Tsc. O meu avô materno é descendente de espanhol. O meu avô paterno é descendente de português. E a minha avó paterna é de italiano.
P1- Sim. Legal. E na sua vida, na sua infância, conforme você foi crescendo, você teve alguma influência dessas descendências? Tinha alguma comida espanhola ou italiana, música, alguma festa que fosse típica? Ou já era muito dos ascendentes, assim, não chegou em você?
R- Não, tinha, assim, algumas comidas, né? Mais italiana, que a minha avó trazia da família dela, que até hoje ela faz. E algumas palavras mais, assim, que a gente aprende. Mas foi mais do italiano, mesmo. Porque o meu avô que tem a descendência espanhola, morreu muito cedo, então a gente acabou não tendo muito contato com ele
P1- Legal. E, Karina, você sabe o que eles faziam em Ribeirão, os seus avós?
R- Sim. O meu avô paterno trabalhava numa fábrica de geleia de mocotó, que era da família da minha avó. A minha avó materna era costureira, fazia vestidos de noiva, vestidos de festa, trabalhava em casa, né? O meu avô paterno trabalhou muito tempo em cassino. Ele foi trabalhar em Poços de Caldas, no cassino de lá, quando eles se mudaram pra lá. Foi lá que o meu pai nasceu. O meu pai e a minha tia nasceram em Poços de Caldas, com o meu avô trabalhando no cassino. E a minha avó era dona de casa, né?
P1- Certo.
R- E aí eles voltaram pra Ribeirão. E o meu avô foi trabalhar com o meu pai, na empresa do meu pai.
P1- Que interessante! E você sabe como o seu pai conheceu a sua mãe?
R- Olha, até lembro que eles me contaram essa história. Mas eu acredito que eles tinham uns amigos em comum. E aí eles me contam que, na praça, acho que na XV de Novembro, de final de semana, eles ficavam em volta da fonte, andando. Os homens andavam de um lado, as mulheres do outro. E ali eles acabavam se conhecendo, os amigos se conheciam. Eles paravam pra conversar. E, se eu não me engano, tinha um cinema logo em frente. E aí eles iam ao cinema, né? Então, eu acho que foi mais ou menos assim.
P1- É o famoso footing, né? Toda cidade tinha isso.
R- É. (riso)
P1- Na praça principal. O pessoal se conhecia ali, né?
R- É verdade.
P1- ______ (5:27) muitos casamentos, né? E aí o seu pai tinha uma empresa, então? O seu pai fazia o quê?
R- O meu pai, quando jovem, era vendedor, representante comercial. E depois que ele se casou com a minha mãe, ele tinha muitos contatos com as fábricas, tudo e queria montar um negócio próprio. Então ele começou, ele montou uma fábrica de ancorote, que são aqueles barris de madeira pra colocar pinga. Ele montou uma fábrica de ancorote. E não deu muito certo, acabou fechando a fábrica. Depois ele montou uma loja de acessórios pra caminhão, na Avenida Brasil, que chama O Ranchão, chamava, né? Então foi O Ranchão que ele seguiu a vida toda aí, trabalhando. E o meu avô trabalhava lá com ele. Aí o meu avô vendia pinga lá com ele, pros caminhoneiros.
P1- Que legal!
R- É.
P1- Karina, e você nasceu em que bairro? Você lembra da sua casa, de quando você nasceu? Como era o bairro, a rua? Porque Ribeirão era muito diferente nos anos setenta, quando você nasceu, né?
R- É.
P1- Onde era a casa?
R- Eu nasci, os meus pais moravam nuns predinhos ali na Avenida Meira Junior, quase chegando... como eu vou explicar? No Educandário. Quem está descendo a Meira Junior, sentido Educandário, tem uns predinhos dos dois lados. Foi ali que eu nasci, né? Mas a minha avó morava nos Campos Elíseos, numa travessinha. Lá é que eu tenho mais memórias, de bem pequenininha. Que era uma travessinha com várias casinhas, assim. Minha avó morava numa última casa. E aí, dessa casa que eu nasci, a minha mãe mudou pra essa mesma travessa, pertinho da minha avó. Também uma casinha ali, pequenininha. E era ali. Eu fiz amizade com as crianças da vila. Tenho contato até hoje com uma das amigas, que também a avó morava nessa mesma vilinha. Então, era ali, os Campos Elíseos. Era bem mais tranquilo. Não era muito asfalto, era paralelepípedo. E a minha família, os meus pais, desde pequenos moravam e nasceram no Campos Elíseos também. Aí tem as histórias, né, de como era, que não tinha asfalto, não tinha paralelepípedo. Era terra antes disso.
P1- E depois dos Campo Elíseos acabava a cidade? Assim, já começava o mato? Assim, já tinha riozinho? Você se lembra?
R- Não. Eu não me lembro assim da extensão, né? Porque dos Campos Elíseos, a gente se mudou pro Jardim Independência, numa casa um pouco maior, porque os meus avós foram morar com a gente também. Então, assim, ah, eu acho que eu não reparava muito como que era a cidade, em si. Mas eu lembro das histórias que eles contavam: “Ah, aqui cresceu muito pra esse lado. Não tinha isso. Era só fazenda. Era chácara”, né? Eu lembro que eu estudava no Auxiliadora. E o Colégio Auxiliadora tinha uma chácara na Avenida Portugal, que era longe pra gente ir nessa chácara, né? Uma vez por ano a escola levava a gente lá. Era como se fosse em outra cidade. Era muito longe. E hoje a Avenida Portugal é aqui dentro.
P1- Passa perto.
R- É. Eu lembro disso.
P1- Pois é. E vocês brincavam do que, na rua, assim? Não tinha celular, essas coisas.
R- Não.
P1- Então, era na rua.
R- Era. Tinham as crianças da rua ali, né, que a gente fazia amizade. E era brincadeira de mamãe-da-rua, pique e pega, amarelinha, casinha. Brincava de boneca. Brincava de futebol. Era o tempo todo na rua. Era uma rua calma, não tinha muito movimento. Então, a gente, a criançada ficava na rua. Ia na casa de um tomar lanche, ia na casa do outro, almoçava em um, almoçava em outro. E isso até uns dez anos, eu fiquei nessa casa.
P1- Certo.
R- Então era bem livre, né? Era muito diferente de hoje em dia.
P1- Muito diferente.
R- É.
P1- E, Karina, nos finais de semana, assim, quando você ia passear com os seus pais, você lembra de algum passeio legal, assim? Eles levavam vocês? Você tem irmãos também? Esqueci de perguntar.
R- Tenho dois irmãos, mais novos.
P1- Mais novos. E os seus pais levavam você pra passear lá na frente do Teatro São Pedro, na praça, no cinema? Onde era o passeio de final de semana?
R- A gente passeou muito lá na praça pra conhecer, pra ver o teatro. A gente ia também nos clubes. Ia nos clubes mais no final de semana. Ia muito na casa dos avós, né, pra almoçar, pra jogar. O meu avô gostava de reunir todo mundo pra jogar cacheta. E aí a gente ia jogar cacheta. Ia ao cinema também. Não passeava muito, assim, porque os meus pais tinham uma condição um pouco difícil, na época. Então, não tinha muito passeio muito longe. Então, às vezes a gente viajava pra praia, no final do ano. Mas era tudo mais contido, né?
P1- E na escola, como foi a sua vida na escola? Você ia a pé pra escola? O seu pai te levava? E onde era?
R- Eu comecei... bom, eu estudava quando eu era pequena, jardim e maternal, perto de casa. E depois eu fui pra uma escolinha que era ali na Treze de Maio, bem na esquina do balão. Hoje eu acho que é um supermercado ali. Era ali a escolinha, né? Ali os meus pais me levavam e me buscavam. Depois, quando eu fui pro primeiro ano, que eu fui estudar no Auxiliadora, meus pais também me levavam e buscavam. Eu tinha vizinhas que também estudavam lá e a gente revezava carona com os pais, né? E depois, quando eu fiquei um pouco mais velha, acho que com uns doze anos, a minha mãe me ensinou ir de ônibus. Então, ela foi até o ponto comigo, foi de ônibus comigo, me ensinou a descer, que descia ali também, na Praça XV, me ensinou a ir até a escola. Aí depois ela me buscou de ônibus, me ensinou a voltar de ônibus. Então, eu comecei a ir de ônibus. E as amigas também que estudavam junto, começaram a ir junto. Então, a gente ia e voltava junto. Tinha uma turminha ali de perto de casa, que a gente fazia isso.
P1- E na escola você já teve alguma indicação de que, no futuro, você seria comerciante, assim? Através de alguma matéria que você gostava mais? Ou que você ia ser artista, se dedicar ao artesanato? O que você gostava mais das matérias, lá?
R- Eu não, não tinha muita idéia do que seria, do que eu ia ser quando crescesse. Na verdade, eu não sou artista. Artista era a minha mãe. Então, eu não tinha muita ideia, mas eu sempre gostei mais da parte de Exatas, né? Eu gostava mais. Tanto que, quando eu fui prestar vestibular, eu já trabalhava com os meus pais, né? Mas eu não tinha ideia de que tipo de curso fazer, né? Então, foram os meus pais, mesmo, que foram me orientando, pra encontrar um caminho melhor.
P1- Certo. E que curso você fez? Você foi fazer faculdade do quê?
R- Eu fiz Administração de Empresas, porque eu já trabalhava com eles. E aí eles já me falavam que eu ia ficar com as empresas. Eu não sabia com qual ainda, mas enfim, seria melhor eu fazer Administração. Então eu fiz. E gostei bastante, me identifiquei muito.
P1- Com o curso.
R- É.
P1- E você começou a trabalhar com eles, enquanto você estudava ainda, né? Antes da faculdade.
R- Sim. Sim.
P1- Com quantos anos? Você lembra, assim?
R- Eu comecei a trabalhar acho que com uns catorze, quinze anos. Eu já ia pra loja do meu pai. Eu aprendi a fazer toda a parte de escritório. Datilografava as correspondências, nota fiscal, pedido, né? Então, eu comecei essa parte interna, aprendendo tudo, como é que funcionava. Depois eu fui pro caixa, eu fui trabalhar no caixa da loja. E fui aprendendo todos os setores, aos poucos.
P1- Certo. E o que você gostou mais? O comércio tem várias áreas, né? Tem a contabilidade, tem a parte de escritório, tem que ir no caixa, tem que atender o cliente. O que você achou mais difícil? Ou o que você gostou mais?
R- Eu gostava mais dessa parte administrativa, mesmo. De organizar, de controlar, né? Fazer os controles e estudar os números, né? Pra ver como é que estava, se estava indo bem, se estava indo mal. Eu sempre gostei mais dessa parte. E a parte de cliente, também, eu sempre... quando eu fui pro caixa, eu tinha muito contato com os clientes. Eram caminhoneiros, né? Então eles viam uma menina lá, nova, né? Então, eles eram muito simpáticos comigo.
P1- ________ (16:16)
R- É. Não tinha como não gostar. Ninguém nunca brigou comigo, né? (riso) Então, assim, eu fui gostando desse tipo de trabalho. Todas as partes eu gostava de fazer, eu gostava de aprender. Eu só não pus a mão mesmo no caminhão, né, de colocar o acessório, de montar alguma coisa, só essa parte que eu não fiz. Mas dentro ali da loja, eu fazia de tudo um pouco.
P1- Legal. Você lembra do seu primeiro salário? Tem muita gente que tem essa lembrança: “Nossa, a primeira vez que eu ganhei um salário...”. O que você fez?
R- Eu lembro que, quando a minha mãe me falou assim: “Olha, agora você vai começar a trabalhar lá na loja com a gente, um pouquinho, pra você ir aprendendo”, aí a primeira pergunta que eu fiz pra ela foi: “Quanto eu vou ganhar?” Aí ela falou assim: “Você não vai ganhar nada. Você não sabe fazer nada. Quando você souber fazer alguma coisa, quando você merecer, então você vai ter que aprender, se empenhar, aí sim a gente vai conversar sobre isso”. Nossa, eu fiquei, assim, chocada, né? Aí eu fui, trabalhei, não me lembro quanto tempo que eu fiquei, né? Mas aí, quando eu ganhei, ela me deu o primeiro salário, ela falou assim: “Olha, agora você já aprendeu bastante coisa. Você já está, inclusive, ajudando, dando as suas sugestões, tentando melhorar. Então, você já merece um salário-mínimo”, né? Aí ela começou a me dar o salário-mínimo. E aí foi indo, né?
P1- Sim. E você ficou nesse emprego até quando?
R- Eu fiquei... aí eu entrei... foi o seguinte: eu comecei a participar tanto, né, aí eu já queria começar a dar muita opinião. E comecei a ter problema com eles, porque eles não... às vezes não aceitavam as minhas ideias. Podia estar certo ou estar errado, na época, eu não me lembro, né? Acredito que até em algumas coisas eu estava mais certa e outras erradas, mas começamos a ter conflito. E eu já tinha entrado na faculdade. Foi aí que eu até fiz o meu TCC sobre os problemas de sucessão em empresas familiares, porque começou a haver esse conflito de gerações, de ideias. E aí eu vi que eu não conseguia fazer as coisas do meu jeito e eu brigava muito com os meus pais. Então, eu peguei e surgiu um processo seletivo no Senac, eu participei do processo seletivo e fui selecionada pra trabalhar em São Paulo. E aí eu fui. E saí da empresa do meu pai e fui trabalhar no Senac, em São Paulo, né?
P1- Certo.
R- Eu devia já ter aí uns vinte, vinte e um anos, por aí.
P1- Sim. E lá em São Paulo, você gostou? Como era a sua rotina?
R- Foi uma lição de vida. Porque eu saí de uma empresa familiar, pra trabalhar numa empresa enorme e que eu não era dona, os meus pais não eram donos. Eu tinha uma hierarquia. E foi aí que eu aprendi muita coisa, né? Aprendi a ver a coisa de um outro foco, de uma outra forma. Então, eu acho que foi a melhor coisa que eu fiz, porque eu estando dentro da empresa, eu só tinha aquele mundo, eu não enxergava mais nada lá fora. Então, eu estando numa outra empresa, ainda mais no Senac, que é uma empresa de educação, eu tive que buscar mais conhecimento, me aprimorar melhor. E ver, realmente, uma dinâmica de uma empresa, dos funcionários, dos cargos, dos problemas, de tudo isso. Então, isso foi uma escola pra mim, assim, muito grande, né?
P1- Certo.
R- Então... tanto que o meu pai não queria mais que eu saísse de lá, porque ele achou que eu estava me desenvolvendo bem, que estava indo bom. Estava sendo muito bom pra mim, realmente. Foi muito bom. E eu fiquei lá até 2003, no Senac.
P1- E o Senac tem carreira, né? Você poderia...
R- Tem carreira.
P1-... ter ficado lá até hoje. Você teve dificuldade de se acostumar com São Paulo? Porque você não conhecia ninguém lá. Ou conhecia?
R- Não.
P1- Não, né?
R- Não. Não conhecia. Eu fiquei, a princípio, na casa da avó do meu namorado, na época. Ela morava lá. Eu fiquei alguns meses lá com ela. E aí depois, o Senac, pro projeto que eu fazia parte, ele custeava aí as despesas com moradia, né? Então, eu fui pra um apartamento com uma amiga também, que estava no Senac. Mas era muito difícil, porque eu queria voltar pra Ribeirão todos os finais de semana. Então, eu não ficava em São Paulo. Eu morava, a princípio, pertinho da unidade que eu trabalhava, então eu não pegava trânsito, né? Mas eu tinha muito medo da violência de São Paulo. E aí eu voltava aos finais de semana. Todos os finais de semana eu vinha. E vinha na sexta, voltava no domingo. Depois eu mudei. Depois que eu saí desse cargo, desse projeto, o Senac não custeava mais a minha moradia. Então, eu passei a custear. Eu fui atrás de um apartamento junto com uma amiga e a gente começou a morar junto. Já era mais longe, eu tinha que pegar ônibus. Aí eu ia de ônibus, voltava de ônibus. E aprendi, fui aprendendo a andar em São Paulo, né, a me virar ali. E, mesmo assim, voltando aos finais de semana. Todos os finais de semana voltando, era muito cansativo, né? Aí, depois, eu fui tendo algumas promoções, né? Cheguei ao cargo de gerente de unidade. Aí eu ganhei um carro do Senac. Ganhei... tinha um carro à disposição, né, pra eu... e fui trabalhar na unidade de Guarulhos. Então, eu ia. Aí eu pegava o trânsito mesmo de São Paulo, pra ir a Guarulhos. Como eu já estava num cargo de maior responsabilidade, eu não tinha muito horário pra ir, pra voltar. Então, eu voltava, às vezes, tarde da noite. Então, foi ficando muito cansativo também, né? E eu queria voltar todos os finais de semana pra Ribeirão. E eu vinha. Às vezes, eu vinha de carro. Mas a maioria das vezes eu vinha de ônibus, porque eu conseguia descansar mais, porque dirigir na estrada é cansativo, né? Então, foi assim. Fiquei, aprendi a viver em São Paulo. Conheci um pouco mais. Me perdi muito, lá. Mas foi bom, porque a gente se perde, a gente conhece outras coisas e acaba conhecendo melhor. Mas, realmente, São Paulo, a qualidade de vida, a dinâmica de tudo, né, é bem diferente de Ribeirão. E a minha intenção era sempre voltar. Eu sempre quis voltar. Eu sempre esperava uma vaga do Senac mais próxima: ou Ribeirão, ou alguma unidade próxima. Até que o Senac estava montando uma unidade em Jaboticabal.
P1- Pertinho, né?
R- Pertinho. Aí eu falei: “É a minha chance, né? Jaboticabal é pertinho”. E aí eu conversei com o diretor, se já tinha definido o gerente de Jaboticabal, se eu teria condição de vir pra cá. E aí ele falou assim: “Tudo bem. Pode ir. Jaboticabal é seu”. E aí eu vim, montei a unidade de Jaboticabal, montei a equipe. Começamos do zero em Jaboticabal. Começamos com os cursos todos. E começou a funcionar. E foi justamente nesse ano que o meu pai ficou doente. O meu pai estava com câncer e a minha mãe estava cuidando dele. Nesse meio tempo todo, a minha mãe montou a Casa do Artista.
P1- Ah, foi a sua mãe que montou! Que legal!
R- É. Porque antes só tinha o Ranchão, né?
P1- Sim.
R- E, nesse meio tempo, a minha mãe montou a Casa do Artista. E começou a trabalhar aqui com a Casa do Artista. E ela cuidando do meu pai, da empresa do meu pai, da Casa do Artista, não estava conseguindo. Aí ela me falou: “Olha, eu vou ter que fechar a Casa do Artista, porque o seu pai está doente, eu preciso cuidar dele. E eu não tenho mais como fazer, a não ser que você queira vir e assumir a loja, pra eu poder continuar cuidando do seu pai”. Aí eu pensei, né? Eu já estava muito cansada. Mesmo em Jaboticabal, estando pertinho, eu vinha e voltava de Ribeirão todos os dias. Pegava estrada. Saía tarde de Jaboticabal, também. Eu já estava cansada. Aí eu falei: “Ah, eu acho que eu vou. Eu vou voltar pra Ribeirão. E vou ficar com a Casa do Artista”. Mesmo tendo consciência que eu já tinha, assim, um nível salarial bem maior do que eu teria aqui. Mas a minha qualidade de vida iria também, proporcionalmente, mudar muito.
P1- Melhorar.
R- Melhorar muito. Então, eu vim. Aí eu vim, a minha mãe me passou do jeito que dava, né? Porque o meu pai estava doente, ela ficava muito tempo por conta dele, né? E aí eu fui ficando. Fiquei. Ela saiu e eu fiquei. Em 2003.
P1- E, Karina, você estava fora de Ribeirão e trabalhando em Jaboticabal e em São Paulo, mas quando a sua mãe montou a Casa do Artista, o negócio já fez sucesso logo no início, assim? Já atraiu bastante cliente? Como foi?
R- A minha mãe começou, montou a Casa do Artista, assim, por acaso, porque ela sempre foi uma artista. Ela só não conseguia trabalhar com arte, porque ela ajudava o meu pai na empresa. Mas a minha mãe sempre, em casa, ela gostava muito de argila e ela estava toda hora montando uma escultura. Mesmo sem técnica, ela punha a mão e gostava de fazer. E aí, com o tempo, ela começou a fazer alguns cursos: curso de escultura, curso de pintura. Aí ela começou a pintar, começou a ter uma produção maior. Aí ela precisava de moldura. Aí ela começou a ver que aqui em Ribeirão as molduras ficavam um pouco mais caras, porque ela pintava muito e, pra pôr moldura em todos esses quadros, ficava muito caro. Ela começou a ir pra São Paulo, comprar moldura em São Paulo. Tinha fábricas, lá, né? Ela ia, tem a Rua Marquês do... nossa, agora esqueci o nome da rua, que é uma rua em São Paulo, que aos domingos, ficam vários artistas na rua, fornecedores, fabricantes de molduras, de materiais artísticos, né, tudo na rua. Então, ela ia nessa rua e comprava as coisas pra ela. E aí, as amigas dela começavam a pedir pra ela trazer: “Ah, você vai em São Paulo? Traz pra mim, isso?”, ela trazia. Aí ela trazia. Até um dia que ela começou a trazer e começou a vender pros conhecidos, pros artistas ali, conhecidos. E começou a vender. E aí ela montou a loja, uma lojinha também pequena, que o foco maior era na moldura mesmo. Na Praça Sete de Setembro, na época, tinha exposição dos artistas, todos os domingos. Vários artistas iam na praça, expunham as suas telas, seus trabalhos ali, pra vender. Então, ela alugou uma casinha virada pra Praça Sete de Setembro, a garagem da casinha, ela trouxe as molduras já prontas, né? Então ela fazia ali, punha as molduras e os artistas iam ali, escolher as molduras com ela. E ela já colocava as molduras ali pra eles, tudo. Aí a demanda começou a aumentar. Ela precisava de um espaço um pouquinho maior. Aí ela alugou uma lojinha, um espaço na Avenida Independência, um pouco antes da Rua Prudente de Morais. Era um espaço que tinha acabado de construir ali uns boxes, assim, umas lojinhas. E aí, então, ela tinha moldura e ela começou a trazer um pouco de material também: de tinta, de pincel, de auxiliares de pintura, um pouquinho de gravura. Porque a lojinha era pequena, não cabia muita coisa também, né? Então, ela começou. Aí, ali o pessoal, os artistas que já a conheciam da praça, tudo, começaram a ir lá comprar com ela também as molduras, os materiais. Ela ia trazendo de São Paulo e colocando na loja. Aí ela começou, ela queria fazer as molduras, que até então ela comprava as molduras prontas, de São Paulo. Então, ela começou a comprar as barras de moldura, comprou umas máquinas, treinou um funcionário, que até hoje está com a gente, pra fazer as molduras, cortar, montar, enfim, fazer todo o processo de montagem de molduras. Aí ela alugou a lojinha do lado, pra fazer isso. E aí foi crescendo, né? Ela precisou alugar um espaço um pouco maior. Aí ela foi pra Prudente de Morais, numa casa. E ali também, fazendo essas mesmas coisas, molduras. Ela continuava a trazer molduras prontas, mas aí ela já não precisava ir mais, ela já conseguia pedir por telefone, entregavam lá, né? Os materiais também, ela começou já a comprar direto das fábricas. Não comparava mais de lojistas de São Paulo, ela já comprava direto, né?
P1- Sim.
R- E foi crescendo. Aí dali, dessa casinha, ela alugou o galpão do lado da casinha, na Prudente de Morais. Que foi um galpão - era um galpão bem grande - que foi onde a Casa do Artista esteve mais tempo. E era muito grande lá. Então, ela tinha muito espaço, sobrava espaço. Mas era um lugar bom, tinha um preço bom de aluguel. Ela alugava uns espaços pra alguns artistas também montarem ateliê. Ela fazia até sala, tipo uma sala de estar, que ela recebia as amigas que eram aristas e tomava café. E, com o tempo, foi agregando cada vez mais material, cada vez mais produtos. Então, foi tomando o espaço ali, né?
P1- Sim.
R- A oficina de molduras também cresceu, precisou de mais funcionários. Então, quando em 2003, eu vim, a loja era lá na Prudente de Morais, nesse espaço. Aí começou a dar cursos. Na época da minha mãe já davam cursos de pintura em tela. Começou com esses cursos de pintura em tela, com algumas artistas que eram clientes dela. O pessoal pedia muito essa questão de cursos, em Ribeirão era muito carente disso. Então, essas professoras começaram a dar cursos lá. E os cursos foram crescendo, bastante procura. E aí, quando eu vim, também já estava funcionando, já estava rodando super bem. Já tinha um movimento, uma estrutura, tudo certo. Foi só eu continuar.
P1- Aí você mudou pra onde, agora? Aí é Ipiranga? Onde que é aí, agora?
R- Não. Aqui é na Antonio Diederichsen. Aqui é Jardim América. Perto do Jardim Irajá.
P1- Certo. Você escolheu mudar de novo, porque precisava de mais espaço também?
R- Não. Na verdade, não foi esse o motivo. A gente estava lá na Prudente. O prédio era alugado. E o proprietário do prédio me chamou e me disse que tinha uma construtora interessada no terreno, pra fazer um prédio. E que eu teria prioridade pra comprar o prédio, porque eu era a locatária, né? Se eu tinha interesse. E a proposta da construtora eu acho que eram três milhões, no terreno. Aí eu falei: “Olha, eu não tenho como. Eu não vou, eu não posso comprar esse prédio, nesse valor. Pra mim é inviável”. Aí ele falou assim: “Bom. Então, você tem seis meses pra sair”. E aí eu fiquei meio desesperada, porque eu nunca tinha imaginado sair de lá. Porque lá era grande, tinha espaço pra tudo. Apesar de ser um prédio velho, que me dava muito trabalho na manutenção. Todos os anos, tinha muita coisa pra fazer no prédio. Eu, nós, né, fizemos muitos benefícios lá. Porque a gente precisava de espaço, precisa de piso, de banheiro, de salas de aula. Então, a gente foi construindo, montando, fazendo, melhorando. Então, eu não imaginava sair de lá. Porque o trabalho que daria pra fazer uma mudança dessa, seria uma coisa gigantesca, né?
P1- Sim.
R- E quando ele me falou isso, que eu precisaria sair em seis meses, eu fiquei muito preocupada. O que eu ia fazer? Eu pensei até em fechar. Porque eu falei: “Eu não vou conseguir. Pra eu conseguir alugar um espaço desse tamanho, o aluguel vai ser muito caro. Pra eu mudar tudo isso, toda essa estrutura, pra um lugar que eu tenha essa estrutura que eu tenho aqui hoje, de sala de aula, espaço pra oficina, espaço pra loja. E aí, conversando com a minha mãe, com o meu marido, na época, falou: “Quantos anos você já pagou de aluguel nesse prédio? Já foram muitos anos de aluguel. Não valeria você a pena você comprar o prédio e esse valor você pagar em parcelas de financiamento? Porque, pelo menos, o prédio é seu”. Travou?
P1- Deu uma travadinha, mas eu estou ouvindo você. Agora travou de vez. Tiago, eu acho que ela caiu lá. Parou de gravar. Agora já está gravando. Karina, então aí você conseguiu esse outro local, né? Com financiamento seu, agora?
R- Isso. Aí a gente, eu fiquei procurando vários locais, né? Achei esse aqui. Era uma casa. O espaço, o terreno era um tamanho bom. E aí nós decidimos, então, financiar aqui, pra comprar. Compramos aqui. O valor da parcela era, praticamente, o que eu pagava de aluguel, né? Então, ficou mais ou menos a mesma coisa. E aí a gente reformou, a gente demoliu a casa e fez o prédio já do jeito que a gente precisava: com loja, com sala de aula. Bem legal, assim, né? Porque a gente conseguiu fazer uma planta muito prática pro nosso funcionamento, né? O ruim é que são dois andares. Então, a gente precisou adaptar, porque as salas de aulas ficaram no andar de cima. E tem essa questão da mobilidade, então a gente precisou colocar elevador, teve um custo mais alto pra isso. Mas era uma forma de a gente manter as nossas alunas, porque a gente tem alunas também que já têm um pouco mais de idade, um pouco de dificuldade de subir escadas, né? Então, é uma forma da gente poder servir melhor os alunos e os clientes. E aí estamos aqui desde 2014.
P1- Desde 2014.
R- 2014. Aqui.
P1- Karina, quem é a sua clientela, assim? Quem frequenta a Casa do Artista? O perfil.
R- A gente tem vários perfis de cliente, hoje. Começou com o artista plástico, os artistas e as artistas de Ribeirão, tanto profissionais, quanto amadores, que pintam como hobby ou que pintam como terapia, ou até profissionalmente. Então, nós temos esse público ainda, né? São nossos clientes. E é um público que vem crescendo, porque a arte está se tornando acessível, cada vez mais acessível. As pessoas achavam que, pra pintar, você precisa nascer com dom. Morre de vontade de fazer, mas não faz, porque acha que não tem o dom. Então, isso está sendo desmistificado, porque você pode fazer arte, você não precisa ter dom, você aprende a técnica. E você não precisa fazer nada perfeito, é só pra você, muitas vezes. Você colocar o seu sentimento, as suas emoções e você se realizar na sua pintura. Não é pra ninguém. Quando você se conscientiza que é pra você, você não precisa do julgamento de ninguém na sua arte, se está bom, se está bonito, se está feio, então você se permite trabalhar com isso, né? Então, as pessoas estão descobrindo isso. A gente tem trabalhado nesse sentido também, de mostrar pras pessoas que ela não precisa ser artista, não precisa ter o dom, ela precisa querer e se permitir pôr a mão na massa, fazer pra ela mesma. Não é pra provar nada pra ninguém, nem pra mostrar nada pra ninguém. É pra se realizar, uma auto-realização. Então, nós temos esse público. E aí, a área do artesanato é uma área que cresceu muito, né? Desde que eu entrei, assumi a Casa do Artista, é uma área que foi crescendo e começou a surgir essa demanda. Então, a gente começou a trazer mais coisas de artesanato, pra poder atender essa demanda também, que tinha, né? Principalmente essa parte de madeira, pintura em madeira, que foi uma área muito crescente. Então, ao longo desses anos, nós crescemos muito nesse sentido também, de trazer muito material, materiais novos. O próprio mercado se desenvolveu mais nessa área, com tintas, com produtos que facilitassem o desenvolvimento de algumas técnicas. Então, hoje a gente tem um público também, que sãos os artesãos e artesãs, que trabalham não só com madeira. A gente vende mais madeira, aqui, o MDF, peças de MDF pra artesanato. Mas os produtos que a gente trabalha servem pra cerâmica, pra biscuit, vidro, metal, pra reciclagem, quem faz reciclagem. Então, da mesma forma que na pintura, a gente tem os artistas profissionais, amadores e os arteiros, vamos dizer assim, que fazem por vontade própria, sem perspectiva financeira nem comercial, temos os artesãos também. Profissionais que trabalham com isso, que vivem disso, fazem o seu artesanato pra contribuir com a renda da família, pra conseguir uma melhora de vida. Então, vende pra festa, né? Hoje, na pandemia, essa parte foi um pouco prejudicada, mas lembrancinhas pra festa, decoração de festa, lembrancinhas de nascimento, batizado, casamento. Presentes, né? Presentes pra todas as ocasiões. Você pode transformar aí uma peça de madeira num presente bonito. Peças utilitárias pra casa: bandejas, porta-talher, porta-tempero. Decoração, né? Peças de decoração também: prateleiras, placas, quadrinhos. Enfim, tem muita variedade nessa área. Então, a gente conseguiu atrair um público bem diversificado. Vêm esses artesãos que trabalham com isso. Tem o pessoal também que faz por hobby. Tem o pessoal que faz pra si mesmo, pra aprender, que gosta de fazer e faz pra si mesmo. Aí temos escolas também, a parte de arte das escolas, precisam desses materiais também, pra trabalhar. E prefeituras que têm os projetos artísticos também compram materiais.
P1- Tem o consumidor final?
R- Sim.
P1- Que seria a pessoa que está montando uma casa: “Eu preciso comprar uns objetos”. Aí ele vai aí e já tem pronto, pra ele levar em casa.
R- Sim.
P1- Também, né?
R- Pronto, a gente tem alguma coisa pronta, mas é bem pouco, que são as peças prontas que as professoras fazem e deixam de mostruário, pras pessoas verem o resultado, o acabamento, as possibilidades, né? E essas peças, algumas ficam à venda, outras são só mostruário mesmo. Porque, se a gente começa a vender peças prontas, nós vamos sair do nosso propósito. O nosso propósito não é vender pronto. Pronto, você tem em lojas de decoração. O nosso propósito é desenvolver arte, pra que as pessoas façam. Então, a gente vende todo o material pra que elas façam, a pessoa, o consumidor final inclusive, como você falou. Você pode vir aqui, você fala: “Eu quero fazer uma bandeja pra minha casa”. Então, nós vamos te mostrar as possibilidades de materiais, de peças, como você vai fazer. A maioria das pessoas começa assim, exatamente assim: faz uma coisa, aí a gente fala que o bichinho do artesanato a picou, aí ela quer fazer outra, aí ela quer fazer outra. E aí ela quer aprender mais, porque aí ela já quer uma elaboração um pouco melhor. Então, ela começa a fazer um curso, pra aprender algumas técnicas, pra aprender processos mais elaborados, resultados diferenciados. E aí ela começa a fazer um curso. E aí ela começa uma produção mais ativa. Aí ela começa: vende pra irmã, vende pro sobrinho, vendo pro tio, vende pra tia, aí ela começa a vender pro vizinho. E aí ela começa a vender pra todo mundo. Então, isso acontece muito, né? Mas temos aquelas pessoas que gostam de fazer mesmo pra si, pra ter em casa as suas coisas, né? Então, assim, você imagina as profissões que nós temos clientes que são médicos, clientes que são advogados, clientes que são psicólogos, que gostam de fazer, além da sua profissão, usam a arte, o artesanato, como um momento de relaxamento, que ela consegue se desligar do mundo e limpar a mente com esse momento de artesanato, ou arte, né? E pessoas comuns também que, de repente, não têm nenhuma profissão, assim, uma profissão constante, mas que usam o artesanato dessa forma, também.
P1- Sim. E você? Você gosta mais do quê? Você também produz?
R- Eu gosto, a gente acaba se apaixonando por tudo, porque é tanta coisa linda! A gente tem acesso a tanta coisa, que não tem como não se apaixonar. Eu, na prática, já fiz algumas coisas, mas com o tempo que tenho aqui, que me dedicar pra loja, eu não consigo me dedicar mais tempo pra fazer, mesmo. Mas, como eu estou muito envolvida com tudo, eu converso, eu ouço, eu faço com as professoras, eu que contato com elas, eu decido com elas as técnicas, eu decido com elas o que vai ser, como vai ser, então eu aprendo tudo. Teoricamente, eu aprendo tudo, né? E já precisei fazer também algumas coisas pra mim, então eu pego e faço. Eu tenho essa habilidade que veio da minha mãe. Eu só não tenho tempo e nem a disposição pra fazer. Se eu for me envolver com isso, eu vou acabar deixando a loja, né? Então, eu não posso, eu tenho que dar foco na administração da loja. Senão eu vou me envolver com a arte e acabo perdendo o foco.
P1- É verdade.
R- E nós temos, aqui, profissionais altamente capacitados. Artistas, artesões que trazem proposta o tempo todo, que estão se atualizando o tempo todo. E trazendo pra gente essas novidades e me ajudando nesse sentido: “Precisamos, agora, surgiu um material novo, um produto novo. Ele serve pra isso. Traz pra loja. Vamos fazer um workshop disso”. Então, tem uma equipe bem legal aí, que está com a mão na massa.
P1- Legal. E, Karina, você administra tudo sozinha? Porque pelo que eu entendi, você trabalha meio que em parceria com esses professores, com os artistas que vão aí. Ou você tem funcionários também? Como é a organização?
R- Tenho. Eu sou a proprietária, sozinha, né?
P1- Sim.
R- Aí eu tenho os meus funcionários. Hoje a gente está com uma equipe de vinte pessoas, vinte funcionários.
P1- Vinte funcionários?
R- É. Vinte funcionários entre a parte administrativa, vendas, na produção de molduras, que são os funcionários fixos aqui, nosso. E os professores não são funcionários, eles são parceiros. Eles dão as aulas, ocupam o nosso espaço. Eu cedo o espaço pra eles darem as aulas. Os alunos, consequentemente, compram os materiais com a gente. E é um interesse dos dois lados. Pra mim é bom tê-los aqui, porque eles me trazem os alunos e eles me contribuem com o know how da área. E pra eles é bom ter esse espaço, onde eles têm os alunos, né? Porque muitas pessoas não têm condições de dar aula em casa, ou de montar um ateliê e pra eles fica bem prático ter esse espaço aqui com a gente, né?
P1- Legal. E no dia-a-dia aí da loja, da Casa do Artista, vocês costumam fazer eventos, também, assim? Pra atrair mais gente, assim. Tudo o que envolve arte, envolve algum tipo de evento pra encontrar o pessoal, pra falar de alguma coisa nova que surgiu.
R- É. A gente faz. Antes da pandemia, né? Agora, com a pandemia, a gente não teve condições de fazer essas ações. Mas a gente traz os professores, coloca na loja como um dia de demonstração, em que as pessoas têm o acesso ao professor, pra tirar dúvidas, pra perguntar sobre produtos. Ele ali, na hora, já faz e já mostra, já conversa, já orienta. A gente já fez, também, exposições. Principalmente dos alunos de pintura em tela, uma vez por ano, a gente costumava a fazer as exposições. Conseguia algum espaço maior, que a gente pudesse expor as telas, eles convidavam os parentes, os amigos. Uma vez teve também um evento lá na Praça XV de Novembro, pintura ao ar livre. Foi um movimento aí que alguns artistas de Ribeirão se mobilizaram pra fazer e convidou a gente pra participar também. Então, a gente sempre está procurando algumas coisas, pra poder divulgar mais a arte e dar acesso, né? Porque é na rua que as pessoas têm o acesso e conseguem conversar com você e perceber que aquilo é uma coisa que pode ser pra ela também.
P1- É. E quando acontecem essas coisas, às vezes, também, tem uma ampla divulgação, né? Às vezes o jornal vai lá e lança uma notícia, que está tendo isso na praça e vai divulgando.
R- Isso. Isso. É. Com certeza.
P1- Vocês costumam fazer propaganda, assim? Além das redes sociais. Porque hoje em dia muita gente usa só as redes sociais, né?
R- É.
P1- Mas de mandar pra imprensa, que está tendo uma nova técnica, um novo professor que chegou aí? Porque eles publicam, né? Talvez rádio. Você nunca fez propaganda assim?
R- Não. A gente fazia propaganda mesmo, paga, né? Da loja em si. Fazia outdoor. Fazia rádio. Panfletagem, né? Fazia um programa de vendas, como é que chamava? De televisão, o apresentador vinha até a loja e falava sobre os produtos, tal. Agora, assim, uma divulgação cultural, de alguma coisa, quando tem a gente manda um release, alguma coisa. E algumas imprensas, alguns dão valor e divulgam ou vêm fazer uma entrevista, pra entender melhor o que é. Mas a maioria não se interessa. Hoje tem tanta notícia ruim pra dar, que dá mais ibope, né, dá mais audiência.
P1- Pois é. E as redes sócias, você usa bastante? Facebook, Instagram, onde é que você faz propaganda?
R- Hoje a gente trabalha bastante com o Facebook e Instagram, né?
P1- Sim.
R- O pessoal, todo mundo está com o celular na mão. E, realmente, são as mídias mais de maior alcance, eu acredito. Porque televisão, rádio, eu acho que está muito pouco, o pessoal não tem muito o costume, né, mais. Então, a gente está trabalhando mais com isso mesmo, com o Instagram e Facebook.
P1- Legal. E Ribeirão é... eu sou de Bauru, mas eu estive muito tempo aí em Ribeirão, pra fazer o início desse projeto. Eu já conhecia a cidade. Eu gosto muito de Ribeirão. Mas nunca alguém me falou que Ribeirão era uma cidade voltada pra arte. Ribeirão é voltada pro comércio, pra aquela coisa elétrica do dia-a-dia, né? É uma cidade muito pulsante em cima do comércio. Mas, então, você diria que existe um público legal, que consome arte, consome artesanato em Ribeirão Preto? Esse público está aumentando nos últimos tempos, assim?
R- Eu acredito que sim. Eu também não tinha essa visão, quando a minha mãe montou a loja. Eu achava que era um público, um nicho muito restrito, pequeno.
P1- Em Ribeirão.
R- É. Que, de repente, não teria muito desenvolvimento. Mas eu estava enganada, graças a Deus. Eu vejo que tem muito. É o que eu te falei: as pessoas, às vezes, não trabalham diretamente com a arte ou com artesanato. Mas usam a arte, o artesanato pra...
P1- Indiretamente.
R- É. Indiretamente. Pra si. Pro seu momento. Então, muita gente usa isso. E eu percebo que, hoje em dia, as crianças estão mais voltadas, têm uma visão e um olhar muito mais pra artes. Eu vejo, os pais trazem as crianças: “O meu filho pede pra vir aqui, pra comprar tinta, pra comprar pincel. O tempo todo ele quer fazer alguma coisa”. Os cursos pra crianças são, assim, bem procurados. Porque as crianças querem, eles querem, eles pedem aos pais. Claro que tem alguns pais que querem iniciar o filho na marra, quer que o filho faça, mas são poucos casos. A maioria das crianças acho que já estão nascendo com esse lado artístico mais aguçado. Então, vem muita criança aqui. E eu ouço muito de alguns pais, falando assim: “Nossa, a sua loja é o paraíso pro meu filho. Ele gosta, adora ir lá. Prefere ir lá do que no shopping”. Então, é bem legal.
P1- Sim. Não é legal?
R- É.
P1- Muitas crianças - eu também tenho uma filha - estão muito atrás das coisas eletrônicas e você saber que a criança vai atrás de algo que ela vai fazer com as mãos, que ela precisa aprender, ela precisa pensar, né?
R- Exato. É.
P1- E você? Quais são as suas fontes? Onde você vai beber, assim, pra se atualizar nesse mundo? Você estuda em livros, na internet? Onde é que você pesquisa, pra trazer mais coisas?
R- Livros, antigamente eram mais os livros, né? Eu fiz alguns cursos na parte de artes, também, pra poder me inteirar um pouco mais aqui nessa área. E é mais internet mesmo, né? Hoje você põe no Google qualquer coisa, você já tem um volume de informação atualizada, muito grande. Então, é mais internet mesmo. Viagens, né? Quando a gente viaja, vai visitar museus. Se tiver oportunidade de ver obras mais conhecidas. Às vezes, obras até que não são conhecidas, mas que no mundo da arte são reconhecidas, pela sua história. Então, é por aí. A internet é muito rica, né? Você pode fazer cursos e se atualizar com notícias e tudo o que está acontecendo. É internet, mesmo.
P1- Legal. E, Karina, quanto a pandemia? A pandemia começou no ano passado, em março, né? Eu lembro que eu até estava aí em Ribeirão Preto, quando começou a fechar tudo e tal. Como é que foi esse desafio pra você? O que você pensou que ia acontecer? E como você passou por esse desafio? Que está passando ainda, né?
R- Sim.
P1- Esses dias estava tudo em lockdown, aí, né?
R- Estava. Foi, assim, um baque pra gente. Porque a loja fechada, os clientes... é claro que dá pra comprar pela internet. Mas os clientes ainda gostam de vir, de olhar o produto, de comparar com outro, de conversar, de trocar uma ideia do que é melhor, como fazer em determinadas situações. Então, quando a gente teve a notícia que ia ter que fechar a loja, eu, na época, estava com vinte e três funcionários. Eu fiquei bem preocupada, né? Porque eu falei: “Como nós vamos vender? Os cursos não podem, não podemos mais ter cursos. Os alunos não podem vir. E eu preciso manter esse pessoal”. Então, a única saída seria, realmente, atender o whatsapp. Porque hoje nós não temos um site, um e-commerce. Eu tive a experiência de um e-commerce, há alguns anos, mas como eu ficava com o foco muito na loja, eu não conseguia pôr a minha energia no e-commerce, acabou que não virou. Eu desisti dele e fechei. E foquei na loja. E aí eu percebi o quanto eu precisaria de um e-commerce nesse momento, né, de loja fechada. Se eu tivesse um e-commerce, teria sido diferente, com certeza. Muita gente perguntando: “Não tem site? Não tem site? Não tem site?”. Eu não tenho site. Então, fomos pro o whatsapp, só. No whatsapp, você tem que passar foto, preço, medida. “Ah, tem o maior?” “Tem o maior”. Foto, preço e medida. “Tem o menor?” “Tem o menor”. Foto, preço e medida. “Tem um que abre?” “Tem um que abre”. “Tem um que fecha? Tem um que vira?”. Então, são tantas informações, que aí eu coloquei a equipe toda no whatsapp, né? Até a minha funcionária, que trabalhava no administrativo, foi pro whatsapp. Eu falei: “A loja, em si, o funcionamento acabou” A gente viu o que é a loja: vendas.
P1- É vender.
R- Todo mundo foi pra vendas. Nada mais funciona. Não tinha quem comprasse. Não tinha quem administrava o estoque. Não tinha nada. Foi todo mundo pra venda. Um monte de celular, um monte de número de whatsapp. Todo mundo sofrendo, porque ninguém tinha treinamento, nem preparo pra receber esse volume. Aí o pessoal começou a mandar muitas mensagens, um volume de mensagens de whatsapp, inacreditável. Coisa de duzentas mensagens por dia. Mensagens difíceis de atender. Longas, que a pessoa quer muitos detalhes, muitas fotos. Cada atendimento, você perde, no mínimo, meia hora, se for rápido. Então, foi assim, um chacoalhão que a gente teve na equipe. Todo mundo correndo. Um estresse. Todo mundo estressado, porque o cliente começa a reclamar que está demorando pra atender, que está demorando isso. E eu comecei a estruturar catálogos. Eu comecei a tirar foto e pôr preço e pôr medida e pôr valor. E fazer folhas pra elas poderem jogar no whatsapp, já ter rápido. E a gente foi se virando. Aí descobri um catálogo virtual. Comecei a cadastrar produtos nesse catálogo virtual, que era uma forma do cliente entrar e ver e ter algumas informações. Tudo isso pra auxiliar o whatsapp. E, assim, a gente conseguiu. A equipe foi super ponta firme. Todo mundo se comprometeu, apesar do estresse, que eles até choravam. Tinha dia que...
P1- Eu imagino.
R- É muita coisa em cima, né, diferente, uma coisa que você não está preparado. Mas aí passou. As vendas, é claro, não atingiam o mesmo nível de venda com loja aberta, muito pelo contrário. Por mais que você se esforce, não é a mesma coisa. A gente não tinha estrutura. Se eu tivesse me preparado, me estruturado, treinado uma equipe com ferramentas adequadas, eu acredito que a gente conseguiria manter um nível de vendas. Mas a gente não estava preparado. Mas, enfim, passamos por aquela primeira fase, né?
P1- Aí de novo, né? Teve uma hora que abriu de novo pro público.
R- Aí abriu. É. Infelizmente, eu tive que demitir alguns funcionários, porque eu não tinha... o volume da despesa fixa da loja, com esse volume de receita, não tem como manter dessa forma. A gente apelou pra todos os recursos que o governo pôde oferecer, de suspensão de trabalho, de redução de carga horária, todos, férias antecipadas. Infelizmente, eu tive que dar férias antecipadas pra quase todos. E todos compreenderam. E todos fomos prejudicados, né? Quer dizer: essas pessoas não vão ter férias daqui um ano, vão ter que trabalhar, né? De uma forma ou de outra, a gente faz alguns acordos internos. Mas todo mundo se sentiu, todo mundo teve que abrir mão de alguma coisa. Aí a loja voltou, abriu. As vendas começaram a retornar. Mas todo mundo com muito medo, ainda. A gente percebe que os clientes ainda têm medo de sair de casa, de se expor. Então, assim, não voltou como era. Não voltou como era. Voltou abaixo, ainda, né? Uma coisa interessante que a gente percebeu na pandemia: as crianças em casa, tendo aulas on line, não podendo sair, fazer nada, essa parte de artes foi muito estimulada. Então, _______ (1:08:14), nós recebemos muitos clientes novos, nesse sentido, procurando atividades pras crianças. Pra adultos também, mas muito mais pras crianças. Então, nós começamos a vender itens de infantil, muito mais, de telas de pintura, de peças de madeira. Começamos a criar kits pra crianças. Aí começamos sentir essa necessidade e fomos correr atrás, pra ver o que poderia oferecer pra essas crianças, né? Casinhas de boneca. Então, foi uma coisa que também aproximou mais as crianças das artes, nesse momento, né? E os adultos também, em casa, que não poderiam sair, trabalho em home office, tempo ocioso, muitas vezes, encontraram na arte, no artesanato, uma forma de passar esse tempo, de relaxar e desestressar desse momento, né? E aí, agora, fechou de novo. A gente já estava mais preparado. A equipe já está mais acostumada com esse atendimento virtual. Foi mais tranquilo. Está sendo mais tranquilo. As vendas caem naturalmente, também. A gente tem que se reestruturar internamente, com pagamento a fornecedores, nossos compromissos a gente tem que negociar com eles, pra adiar, pra prorrogar, pra parcelar, porque a gente não tem o mesmo volume, o mesmo fluxo, né? Mas, graças a Deus, a gente tem uns fornecedores parceiros, que a maioria colabora muito, nos ajuda, prorroga, parcela, adia. E aí a gente vai tocando. Então, a gente consegue ir levando dessa forma.
P1- Sim. E os seus fornecedores, principalmente, ficam em São Paulo, ainda? Ou já tem gente que vende essa matéria-prima aí em Ribeirão, mesmo?
R- São fornecedores muito variados. Os materiais, assim, por exemplo, molduras é mais no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
P1- Ah, vem de _____ (1:10:32).
R- É. A parte de madeira também tem de outros estados. E tem do estado de São Paulo, algumas cidades aqui do estado de São Paulo. Em Ribeirão tem alguns também, que foram se desenvolvendo junto com a gente, começou a trabalhar com a gente pequenininho, fazendo uma pecinha ou outra e hoje já tem uma fábrica bem legal, que consegue nos fornecer bastante coisa. E materiais, assim, tintas, auxiliares, pincéis, aí é São Paulo. São fábricas mais antigas, né, de qualidade, que essa parte não tem em Ribeirão, é de São Paulo mesmo. Tecido também, que a gente trabalha com tecido, aí é bem variado de onde vem.
P1- Legal. E vocês vendem pra fora também? Fora de Ribeirão, vocês têm clientes?
R- Nós temos. Mas por não ter um e-commerce, é mais difícil. A gente atende. Os clientes muito solicitam, de outra cidade, porque vê pelo Instagram, vê pelo Facebook. Na cidade deles não têm, muitas vezes, esses produtos. Então, eles pedem e a gente manda, por correio, por transportadora. E vai indo. Nós já estamos montando um e-commerce. Porque agora, depois dessa, a gente aprendeu a lição, né? É um pouco complexo, esse processo de e-commerce. Tem muita coisa por trás disso, pra você conseguir efetivar uma venda, que ele tem que calcular tudo sozinho, fazer todos os cálculos de custo de frete, tal. A nossa diversidade de produto é muito grande, eu acredito que a gente tenha mais de dez mil itens, hoje. Então, eu não tenho como colocar tudo isso no e-commerce, de uma vez. Tem que ser ao poucos. Mesmo porque o estoque, pra eu não ter estoque para entregar, no e-commerce eu tenho que ter um controle muito maior. Mas nós vamos fazer. Espero que daqui um mês e pouco, a gente já esteja como e-commerce funcionando.
P1- Legal. Karina, estamos chegando já ao final ou um pouco mais pro final da entrevista, então a gente sempre pergunta sobre o futuro, os projetos futuros. Você tem projeto de ampliar, de abrir numa outra cidade, uma outra unidade? Ou qualquer outro projeto futuro, que você tenha?
R- Olha, Luís, a gente sempre quer melhorar, crescer, ampliar. Essa pandemia quebrou um pouco os nossos sonhos, né, as nossas vontades, porque trouxe uma situação que a gente nunca imaginou que ia passar. Esses desafios todos que aconteceram, eu imagino se eu tivesse mais unidades, se eu tivesse uma estrutura maior, como é que seria. Então, eu acho que serviu pra gente repensar muitas coisas, o que a gente, realmente, vale a pena fazer. Então, assim, é claro que a gente... o meu objetivo é ser sempre uma loja que a gente possa trazer uma variedade, uma qualidade de materiais de conteúdo artístico pra cidade, cada vez melhor. É o que a gente busca o tempo todo. Então, passando tudo isso, a gente nem sabe quando vai passar, se vai passar, né, de que forma a gente vai viver daqui pra frente, quando todos estiverem vacinados, como vai ser essa continuação. Então, assim, eu acho que a gente tem que dar um passo, um dia após o outro. Por enquanto a gente não tem como prever e planejar. A hora que as coisas... e outra: a gente acho que tudo está bem e de repente vem um negócio desse, né?
P1- Está certo.
R- Mas eu acho que o futuro, eu acredito que a medicina vá conseguir trazer soluções pra essa pandemia, como vacina, como medicamentos. E estamos sujeitos a ter outras também, né? Mas a gente já aprendeu com essa. Então, eu pretendo manter nesse caminho, de estar sempre atualizando, trazendo tudo o que for de melhor, pra poder oferecer pros artistas e pros artesãos. E, conforme for possibilitando, a gente vai ampliando isso.
P1- Legal. E você tem filhos?
R- Tenho dois.
P1- Dois?
R- Dois. É.
P1- E você acha que eles vão seguir o seu caminho? Qual é o nome deles, inclusive?
R- Eu tenho o Frederico, que tem catorze anos. E a Rafaela, que tem onze. Eles, assim: o Frederico tem o sonho de ser jogador de futebol. Ele joga bem, tudo. Ele tem esse sonho. Então, eles são muito novos ainda, também, pra imaginar.
P1- Pra decidir, né?
R- É. Eu me lembro, com essa idade, eu não imaginava também. Eu acho que tem crianças que já nascem muito definidas, com o seu caminho bem claro. No meu caso não foi claro. E eu acredito que, no deles também não está sendo. Mas ele, no caso, a gente também conversa com ele no sentido de que, se não der certo de ele ser um jogador de futebol, porque é uma possibilidade, ele precisa pensar no plano B, ele precisa ter um outro plano de vida. Então, ele fica: “Será que eu vou ficar com a empresa do papai? Ou será que eu vou trabalhar na empresa da mamãe?”. A Rafaela já se imagina mais aqui. Ela se imagina: “Será que, quando eu crescer, a Casa do Artista vai ser minha?”. Eu falei assim: “Pode ser, filha. Depende do que você vai querer. Se você vai querer ter a Casa do Artista. Ou se você vai querer seguir outra profissão”. Então, pra eles ainda não está muito claro. E eu quero que eles façam o que for melhor e deixá-los felizes, né?
P1- Sim. Sim.
R- Então, vamos esperar.
P1- Legal. Eu só esqueci de perguntar: o seu marido faz o quê?
R- O meu marido também é empresário. Ele tem uma lotérica. E ele tem um restaurante.
P1- Legal.
R- É. E ele teve umas outras empresas também, mas já vendeu e montou outras coisas. E é ele que me dá o apoio aqui, também, porque sou eu que cuido da Casa do Artista. Mas quando eu começo a ter problemas, quem me ajuda é ele.
P1- Acho que apagou a sua tela.
R- Apagou. Espera aí.
P1- Tem uma ‘camerinha’ aí.
R- Entrou uma ligação aqui. Eu esqueci de tirar o... entrou uma ligação.
P1- Tudo bem. Karina, eu queria te agradecer muito pela entrevista. Tem alguma coisa que você gostaria de falar, que eu não perguntei, sobre a história da loja? Às vezes, tem algo que você esperava que eu perguntasse e eu não falei.
R- Não, Luis, eu acho que não. Falei, nossa, praticamente tudo, mesmo. Eu acho que é essa a nossa história, mesmo. Foi assim que tudo aconteceu e hoje a gente está aqui pra isso.
P1- Tá legal.
R- Eu que te agradeço pela oportunidade, por ter me convidado pra essa entrevista, participar desse projeto bem bacana. Eu fico honrada por isso.
P1- Legal. Nós que agradecemos, primeiro. E a gente tem um fotógrafo aí, do Sesc de Ribeirão, que vai entrar em contato com você, pro dia que você puder, estiver mais sossegada, fazer uma sessão de fotos aí na loja, na Casa do Artista. E, se você tiver fotos antigas, de quando você começou ou de quando a sua mãe começou, aquela fotos mais antigas, algum recorte de jornal, alguma coisa, que você puder separar, que aí ele tira cópia.
R- Certo.
P1- Pra ficar no nosso acervo. Quando acabar essa pandemia e a gente puder fazer exposição, se a gente conseguir fazer o livro e tudo o mais, pra poder ilustrar, né, a sua parte.
R- Tá. Eu tenho algumas coisas, sim. Estão guardadas. Eu tenho.
P1- Legal. Então, eu te agradeço muito. Foi muito legal. Uma história muito interessante. Em Ribeirão, a gente sempre vai atrás de outras áreas, a área da arte está presente e é muito legal que esteja. Tá bom? Muito obrigado.
R- Ah, que bom, obrigada.
P1- “Brigadão”. Um abraço e até mais.
R- Outro. Até. Tchau, tchau.
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