O meu nome é Monjá Katukina, eu sou do povo Nuke Kui que a Funai deu o nome de Katukina. Nós somos um povo do Acre e são muitas histórias de como viemos parar aqui na terra, quando eu era criança, todo dia os meus avós me acordavam bem cedinho para me contar as histórias, a noite também contavam em volta da fogueira. Eu sou da aldeia Samaúma, lá existem muitas Samaúmas, quando o povo Nuke Kui surgiu já existia a Samaúma, e o povo ficou todo em volta dela pra cantar. Ela é uma árvore muito grande, muito forte mesmo, todas as outras árvores da floresta são filhas dela.
Nosso povo é bem forte, um tempo atrás quando vieram os espanhóis eu acho. Quiseram obrigar a gente a parar de falar a nossa língua, falando assim, se vocês continuar falando a língua de vocês, a gente vai matar vocês. Nessa história muitos povos do Acre decidiram parar de falar a própria língua para continuar vivo. Mas a gente não queria parar de falar a própria língua, porque a nossa língua tem muito a ver com nossa espiritualidade e com a nossa cultura, então mataram muitos de nós, antes o nosso povo era muito maior... Mas muito conseguiram fugir pelo mato e hoje estamos no nosso território, meu pai lutou junto com a Funai e nossa terra é demarcada, e falamos a nossa própria língua, temos a nossa cultura e nossas medicinas.
O meu pai é o Cherê, ele é o cacique lá da aldeia, ele me ensinavam muito. Meu tio me ensinava muito também, meu tio era pajé. Eu com 3 meses de idade já tomei Kambô. O Kambô é uma medicina bem forte do nosso povo, é um veneno do sapo que colocamos no nosso corpo, pro corpo ficar forte e a alma ficar protegida, eu criancinha já estava tomando.
Quando eu tinha 5 anos de idade, meu tio falou pra minha mãe que ia me levar para tomar Ayahuasca. Ele falou que já estava na hora, que meu espírito estava pedindo. Ele me deu um pouquinho e depois eu pedi um copo grande para entrar bem na força. Eu vi o meu espírito saindo do...
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O meu nome é Monjá Katukina, eu sou do povo Nuke Kui que a Funai deu o nome de Katukina. Nós somos um povo do Acre e são muitas histórias de como viemos parar aqui na terra, quando eu era criança, todo dia os meus avós me acordavam bem cedinho para me contar as histórias, a noite também contavam em volta da fogueira. Eu sou da aldeia Samaúma, lá existem muitas Samaúmas, quando o povo Nuke Kui surgiu já existia a Samaúma, e o povo ficou todo em volta dela pra cantar. Ela é uma árvore muito grande, muito forte mesmo, todas as outras árvores da floresta são filhas dela.
Nosso povo é bem forte, um tempo atrás quando vieram os espanhóis eu acho. Quiseram obrigar a gente a parar de falar a nossa língua, falando assim, se vocês continuar falando a língua de vocês, a gente vai matar vocês. Nessa história muitos povos do Acre decidiram parar de falar a própria língua para continuar vivo. Mas a gente não queria parar de falar a própria língua, porque a nossa língua tem muito a ver com nossa espiritualidade e com a nossa cultura, então mataram muitos de nós, antes o nosso povo era muito maior... Mas muito conseguiram fugir pelo mato e hoje estamos no nosso território, meu pai lutou junto com a Funai e nossa terra é demarcada, e falamos a nossa própria língua, temos a nossa cultura e nossas medicinas.
O meu pai é o Cherê, ele é o cacique lá da aldeia, ele me ensinavam muito. Meu tio me ensinava muito também, meu tio era pajé. Eu com 3 meses de idade já tomei Kambô. O Kambô é uma medicina bem forte do nosso povo, é um veneno do sapo que colocamos no nosso corpo, pro corpo ficar forte e a alma ficar protegida, eu criancinha já estava tomando.
Quando eu tinha 5 anos de idade, meu tio falou pra minha mãe que ia me levar para tomar Ayahuasca. Ele falou que já estava na hora, que meu espírito estava pedindo. Ele me deu um pouquinho e depois eu pedi um copo grande para entrar bem na força. Eu vi o meu espírito saindo do meu corpo e indo para casa do Pajé, lá tinha uma cobra grande que começou a me ensinar um monte de coisas. Depois eu vi o espírito da arara, essa arara me deu um pote, eu abri o pote e do pote saiu uma voz que veio e assim eu aprendi a cantar. Nessa noite eu encontrei muitos espíritos.
Quem me ensinou violão foi o espírito do macaco, lá na aldeia ninguém tocava violão. Aí eu falei para o meu pai que eu queria aprender, ele conseguiu um violão pra mim, mas eu não sabia tocar e não saía de jeito nenhum. Então eu tomava Ayahuasca e daí vinha o espírito do macaco, ele vinha com um violão com casco de Jabuti e sentava na minha frente e mostrava como tocava. Eu ia imitando o macaco e fui aprendendo. Mas na hora que passava a força da Ayahuasca eu não sabia mais tocar, então eu tinha que beber a bebida sagrada de novo e o espírito vinha de novo, até que uma hora que consegui pegar. Hoje em dia nos rituais os jovens tocam violão, primeiro o pajé faz as curas dele e depois os jovens cantam na língua com o violão.
Quando eu tinha 15 anos de idade eu comecei a minha formação de pajé. O meu tio disse que meu espírito era diferente e que eu precisava estudar. Então eu fiquei um ano tomando Ayahuasca todos os finais de semana e fazendo dieta. Depois eu fui pra mata e fiquei uma semana sozinho lá na mata só comendo o que tinha na floresta mesmo, eu fiquei e depois voltei para a aldeia. Meu tio falou então que sentia que eu era uma pessoa diferente. Pediu pra eu ficar um pouco sem tomar Ayahuasca para ver direito como estavam os outros jovens. Então ele me chamou num último ritual. E começou a soprar rapé em todo jovem, o rapé é uma medicina bem forte e bem sagrada do nosso povo. E todo jovem que o pajé soprava vomitava todo mundo vomitou. Ele então chegou e soprou o rapé em mim por último, eu não vomitei. Ele pediu pra eu soprar rapé nele, eu bem na força assoprei e ele vomitou. Ele então viu que meu espírito tava forte mesmo e me deu o cocar do Gavião Real.
O meu pai também ele viajou o mundo inteiro, passando a cultura do nosso povo, fazendo ritual com as medicinas da floresta. Quando eu fiquei mais velho, ele me passou o bastão e falou: “Monjá, agora é você quem vai viajar, vai continuar o que eu estava fazendo” E eu continuei. Já estou há quase 5 anos viajando o Brasil inteiro com a medicina.
Eu também me formei como cineasta no Ponto de Cultura, junto com outros jovens de outros povos indígenas. Eu já rodei tudo que é povo indígena também. Eu comecei a pesquisar a minha própria cultura, gravar as coisas. Então quando eu viajo eu sou um divulgador da minha cultura, a importância de se ouvir os anciões. Porque a biblioteca viva da floresta são os anciões.
Hoje eu estou aqui em São Paulo com o grupo Nawa Tetê fazendo trabalho com as medicinas. Pois as medicinas me falaram que elas querem ajudar a curar o mundo inteiro, pois corpo e língua da gente é diferente , mas no sangue somos todos iguais. Por isso meu sonho é que essa medicina possa curar muita gente e nossa cultura chegue no mundo inteiro.
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