Projeto dos Correios
Entrevistado por Priscila Branco
Depoimento de Leila Hiromi Nishi
São Paulo, 20/06/2013
Realização Museu da Pessoa
HVC_019_Leila Hiromi Nishi
Transcrito por Cristiane Costa
MW Transcrições
História de Vida:
P/1 – Leila, bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Primeiramente, obrigada por ter aceitado o convite de fazer a entrevista e por estar aqui hoje com a gente cedendo um pouquinho do seu tempo. Eu queria começar perguntando, então, qual o seu nome, o local e a data do seu nascimento?
R – Meu nome é Leila Hiromi Nishi, eu nasci em Tóquio, no Japão, em sete de abril de 1955.
P/1 – E qual é que é o nome dos seus pais?
R – Meu pai chamava-se Sukehiro Nishi e minha mãe se chama Fumiko Hara Nishi.
P/1 – Você sabe como é que eles se conheceram?
R – É o seguinte: os meus avós vieram para o Brasil como imigrantes e eles foram viver em Presidente Prudente. Lá eles tiveram o meu pai. Aí, nessa mesma cidade os meus avós fundaram uma escola e um internato para orientais, para japoneses. E nesse internato, a família da minha mãe, eles colocaram todos os filhos para estudarem lá e lá a minha mãe conheceu o meu pai desde quando eram crianças. Cresceram, depois se casaram e, aí, eles resolveram retornar ao Japão, a família toda. Quer dizer, os meus avós por parte de meu pai, meu pai e minha mãe, retornaram ao Japão, começaram a viver em Tóquio e viveram durante seis anos em Tóquio.
P/1 – Seu pai e sua mãe?
R – Meu pai, minha mãe e meus avós. Eu nasci, a minha irmã também e eles retornaram de novo para o Brasil porque o meu avó ele ficou muito doente lá, ele ficou com câncer. Ele quis voltar para o Brasil para morrer aqui. E, aí, assim, resumindo totalmente essa história, eu vim, nasci no Japão e vim com cinco anos para o Brasil.
P/1 – E qual que é o nome dos seus avós?
R – Por parte de meu pai, ele chamava Kendi Hiromi Nishi e a minha avó Sumako Nishi.
P/1 – De onde que eles eram no Japão?
R – Do Japão eles eram de uma província, do sul, de Wakayama, nasceram lá. Só que da segunda vez que eles voltaram para o Japão, eles viveram em Tóquio. Isso foi após guerra.
P/1 – E você lembra porque é que eles vieram da primeira vez?
R – O meu avô, os dois, eles eram professores, educadores lá no Japão. O meu avô era uma pessoa, assim, muito aventureira. Porque teve um movimento, uma propaganda muito grande a respeito do Brasil lá no Japão e muitos agricultores que estavam, assim, ruins de vida, todos eles resolveram vir para o Brasil, tentar uma vida melhor.
P/1 – Você lembra o ano mais ou menos?
R – Ah, o ano... 1940. Não, acho que menos. Nossa, eu não sei exatamente colocar o ano.
P/1 – Foi na época da guerra, mais ou menos?
R – Foi antes da guerra, bem antes da guerra. O meu avô ele veio de aventureiro na verdade, nessa leva toda, ele nunca foi agricultor, ele não sabia arar a terra então eles passaram muito mal aqui no Brasil quando eles chegaram. Eles foram trabalhar numa fazenda, claro, como todo mundo. E, aí, eles realmente não conseguiam trabalhar na lavoura. Eles começaram a dar aula de japonês, na comunidade japonesa lá no interior, em Presidente Prudente.
P/1 – Ele voltou para o Japão. Por que ele voltou?
R – Então, ele voltou para o Japão porque ele queria saber como estaria o Japão depois da guerra. Ele quis de qualquer forma voltar para o Japão para ver o que é que tinha acontecido depois da guerra. E, realmente, ele foi para lá com a minha avó primeiro; foram os dois, apenas lá. E lá ele ficou em Tóquio e ele montou uma loja de brinquedos lá numa rua comercial de Tóquio, ele abriu essa loja de brinquedos. Depois de dois anos, meu pai, casado já com a minha mãe, eles foram de lua de mel para lá e também resolveram ficar por lá por um tempo, também ajudando lá na loja de brinquedos. E contam que o meu avô ele chamava os mendigos que estavam na rua, que eram pessoas que sofreram perdas, assim, de uma perna, de um braço na guerra e eles ficavam mendigando na cidade de Tóquio, hoje não dá nem para imaginar isso. Ele convidava essas pessoas para entrarem dentro da casa dele, servia um chá, alguma coisa e ficava conversando com eles, querendo saber como foi a guerra lá. E era assim.
P/1 – Isso seu pai fazia com as pessoas que estavam na rua?
R – Era o meu avô. O meu pai era jovem, devia ter 20 e poucos anos na época lá, a minha mãe também, 20 e poucos.
P/1 – Quando ele voltou para o Japão?
R – Isso. Aí, logo depois a minha mãe ficou grávida e eu nasci. E eu vivi ali, no meio dos brinquedos, desde quando era criança. Os brinquedos japoneses eram o top, naquela época já tinha, isso há 55 anos atrás. Não é controle remoto era com fio ligado, mas tinha aviãozinho que você controlava com um controlezinho, ele saía andando, virava à direita, virava esquerda, umas bonecas que andavam, sabe? Você ajudando, segurando o ombro delas e empurrando, elas andavam. Os brinquedos, assim, piano. Tinha muitos brinquedos legais na época. Quando a gente veio para o Brasil, eu vim com seis anos, eles trouxeram muitos brinquedos para cá, os brinquedos japoneses e as crianças aqui ficavam malucas, assim, meus amiguinhos. E eu não ligava, para mim aquilo era... Nossa, eu jogava fora, não dava valor para aqueles brinquedos. Bom, isso foi um parêntese. Ainda estando no Japão, como eu disse, a gente ficou durante seis anos, aí, o meu avô ele descobriu que ele tinha um câncer lá e ele quis de qualquer forma voltar para cá e morrer aqui no Brasil. Isso porque ele tinha também mais duas filhas aqui e queria morrer perto delas também, eu acho. E, aí, todo mundo fez as malas lá e voltamos para o Brasil de novo.
P/1 – Você viveu seis anos lá?
R – Na verdade não. Na verdade eles ficaram seis anos, mas como eu nasci depois eu vim com quase cinco anos.
P/1 – Mas como é que são as suas lembranças desse período de infância no Japão?
R – Pois é, é muito estranho, mas eu me lembro muito da minha rua e me lembro muito das coisas que eu comi lá.
P/1 – Como é que era sua rua?
R – A minha rua é uma rua muito estreita, se você for ver no Google você vai achar muito estreita a rua, porém muito movimentada e cheia de comércio, assim, de lojinhas, uma do lado da outra. E, aí, a loja de brinquedos era uma delas. A da vizinha era uma loja de utilidades domésticas, eu tinha um amiguinho ali. Eu brincava muito com ele. E na rua tinha, assim, padarias, docerias, que eu lembro bem como eram. Eu adorava um tipo de pão que tinha, um pão verde que era feito de ervilhas, eu adorava esse pão. Tinha uns doces em forma de peixe que eu adorava. Então, muitas comidas eu me lembrava de lá porque, realmente, eu parei de ver aquelas coisas. Então, eu só me lembrava dessas comidas boas, assim. Aí, quando começou a importação, isso quando eu já tinha lá 30 e tantos anos, nessa onda de importação de comidas do Japão, eu, nossa! Identifiquei muitas coisas, eu lembrava do sabor delas, foram coisas de matar a saudade, assim.
P/1 – Me conta um pouquinho da sua casa lá no Japão.
R – A minha casa era assim, era a loja na frente, eu não sei quanto devia ter de frente, devia ter uns sete metros de frente, acho, mais ou menos. Era a loja lotada de brinquedos e, no fundo, a gente morava, assim. Era uma casa, eu não me lembro quantos quartos, eu lembro muito da sala, que era uma sala enorme de tatame e a casa japonesa é assim, você faz tudo ali na sala. Você se reúne, você come, você fica. Eu acho que provavelmente dormia também naquela sala. Todas as ruas comerciais eram assim, eram de família, tinha a loja na frente e as pessoas moravam atrás.
P/1 – Você brincava com os brinquedos da loja, como é que era?
R – Eu brincava com algumas coisas, assim, piano, por exemplo, eu podia brincar lá na frente, mas não pegar as coisas e brincar e depois colocar de volta. Isso eu não fazia, também nem me interessava em fazer isso. Acho que a única coisa que eu fazia era a demonstração de piano ali, na frente da loja, eu tocava e eu brincava muito na rua ou ali na vizinhança.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho uma irmã. Ela nasceu também, mas ela veio bebê de lá. Ela tem três anos de diferença comigo.
P/1 – Então, me conta um pouquinho com quem você brincava lá no Japão quando você era criança? Quais eram as brincadeiras que você mais gostava?
R – A gente brincava muito de roda lá. Lá no Japão tem muitas brincadeiras de roda, que eu estranhei muito quando eu vim para cá. Primeiro que eu não entendia as brincadeiras de roda daqui, eu não entendia aquelas músicas, a letra, eu não entendia nada. E as brincadeiras de roda lá eram diferentes, eu achava mais legais as brincadeiras de roda de lá, não sei o porquê.
P/1 – Qual a diferença?
R – Não lembro agora a diferença. Eu sei que foi um choque, assim, eu não gostava de brincadeira de roda do Brasil e gostava do Japão. Provavelmente é coisa da língua mesmo, eu não entendia nada e lá eu entendia tudo. Tem muitas brincadeiras, tinha muitas brincadeiras lá, mas com quatro, cinco anos você brinca, mas mais ou menos você briga também. Tipo, me falaram que eu era muito judiada por esse menino do vizinho, ele sempre me fazia chorar, não sei o porquê. E, aí, disse que um belo dia cheguei com um taco de beisebol e bati na cabeça dele com esse taco de beisebol, eu não me lembro de nada, mas devia ser assim, uma coisa de criança de quatro anos brincando, ou de roda, ou de pega-pega. Coisas assim, eu acho. Não lembro muito das brincadeiras, não.
P/1 – Você brincava com as crianças da rua?
R – É. Várias crianças. Ah, brincava de dançar. Eu lembro que uma menina dançava muito bem, ela era famosa por ser uma boa dançarina e a gente tentava imitar essa menina, essas coisas.
P/1 – Me conta um pouco, você falou da sua casa, que na sala tinha o tatame, que era a principal parte da casa. Me conta um pouquinho como era a rotina na sua casa? Você consegue se lembrar dessa época?
R – Olha, a rotina eu não me lembro bem. Eu me lembro que aos quatro anos eu fui mandada para o jardim da infância e, aí, acho que não tem muita rotina, porque eu não aguentei muito tempo no jardim da infância, eu abandonei. Porque acho que quando eu entrei eu até chorei, mas gostei de ir para a escola e fui. Aí, depois, eu tive sarampo e faltei, acho que durante uma semana no jardim de infância e depois eu não quis mais ir. Aí, me agarrava no tatame com as unhas e me fixava no tatame diz que e as pessoas não conseguiam me tirar do chão para mandar para a escola e, aí, parei de ir.
P/1 – Me conta um pouquinho como que eram as festas lá no Japão? Você lembra?
R – Eu lembro de uma festa, que era a festa do bairro, da rua, e era uma enorme feira e você tinha muitas brincadeiras. Eu me lembro bem. E tinha muitas comidas típicas dessa festa. É como mais ou menos uma festa junina aqui. E eu lembro que tinha uma barraca que tinha um tanquezinho e vários peixes coloridos e as pessoas compravam uma pecinha que era de arame e papel. Aí, você tinha que pegar essa pecinha, tentar pescar o peixe e colocar num saquinho de plástico. Só que o papel arrebenta. Você pode tentar algumas vezes, o papel arrebenta. Então, essa a ideia, você tem que comprar aquilo, você compra e você vai usando e o que você conseguir pegar de peixe com aquilo você leva.
P/1 – Aqueles peixinhos coloridos?
R – Coloridinhos, os vermelhinhos. Aí, eles colocavam dentro daquele plástico e você levava o que você conseguisse pegar e não é fácil pegar aquele peixe com aquele, com essa peneirinha de papel.
P/1 – Você tinha uma ideia do que você queria ser quando crescesse, lá atrás, nessa época?
R – Ah, eu acho que eu até tinha, porque desde quando eu era pequena, não sei o porquê, eu gostava muito de desenhar. Na verdade eu não tive, assim, um incentivo, mas eu adorava desenhar. O meu avô conta que o primeiro desenho que eu fiz, eu estava vendo TV, vi uma bailarina, aí eu desenhei a bailarina e ele falou, assim, que eu desenhei tão bem a bailarina com aquela sapatilha e tal, “não, essa menina desenha bem”. Acho que teve esse incentivo: “essa menina desenha bem”, sabe? “É excepcional”, é coisa de avô coruja. Aí, eu não parei de desenhar. Eu desenhava de lá, isso aos três anos, eu acho. Dos três anos para cá eu não parei de desenhar. Eu desenhava todos os dias, algum período do dia, mas por necessidade mesmo, eu precisava desenhar. Isso você pode chamar de rotina, era minha rotina desenhar todos os dias.
P/1 – O que é que você mais gostava de desenhar? Tinha algum desenho preferido?
R – Eu fico pensando hoje, assim, eu acho que eu sempre colocava os meus desejos, os meus planos, os meus sonhos no desenho. Então, eu acho que eu devo ter desenhado essa menina dançando balé, porque eu encanei com a sapatilha dela. Eu não entendia como que funcionava aquela sapatilha e era o meu desejo aquela sapatilha, eu fiquei impressionada com aquilo. E eu desenhava muito bailarinas com aquela sapatilha, isso mesmo depois de eu ter crescido, tipo seis, sete anos, eu adorava desenhar essas coisas. Aí, eu acho, assim, nunca me ocorreu de eu pedir para dançar balé ou eu pedir uma sapatilha, nada. Eu queria só me apropriar daquela sapatilha desenhando, isso já me satisfazia, eu acho. Então, nunca me ocorreu realmente, eu nem sabia se existia escola de balé, não era isso que me interessava muito. Então, eu acho que a minha toda foi meio assim. Os meus pais falaram que eu e a minha irmã éramos crianças que não pediam coisas. A gente não pedia para fazer isso, não pedia uma boneca, nunca pedi uma boneca e eu acho que era porque a gente desenhava, eu e a minha irmã. A minha irmã também, todos os dias eram vários cadernos de desenho que a gente ganhava, a gente ganhava muitos cadernos de desenho. Virava a página, fazia um contorninho de nada, virava de novo, então, tem vários desenhos inacabados, mas todos, acho, com algum desejo, um sonho, alguma coisa assim. Eu lembro quando eu ganhei o meu primeiro relógio, a primeira coisa que você faz já vai para o caderno de desenho, já vai desenhar uma menina com relógio. Era assim que funcionava o desenho para gente e a família toda, todo mundo sabia que a gente gostava de desenhar. (risos) Então, o que a gente ganhava era lápis de cor, giz de cor, tudo quanto é material, tudo ligado, caderno de desenho de monte, assim. Então, eu acho que isso foi naturalmente... É, naturalmente no meu caso, no caso da minha irmã ela virou médica, assim (risos). Mas no meu caso foi uma coisa natural trabalhar com isso.
P/1 – Deixa eu perguntar uma coisa, na sua casa lá Japão que língua vocês falavam?
R – Então, na verdade, assim, era uma mistura. Eles falavam japonês e eu sabia muitas palavras em português. A vizinhança toda, parece, as crianças da vizinhança aprenderam muitas palavras em português também, tipo meia, sapato (risos), assim, eles falavam em português parece, a criançada. Mas quando eu vim de lá para cá eu não entendia nada, assim, do português. Eu fiz o primeiro ano com seis anos, eu ia fazer sete anos e entrei para uma escola de freiras no Paraná, lá em Campo Mourão, que a gente foi morar lá uma época. Era uma escola de freiras, um monte de crianças de seis, sete anos, eu não entendia nada de português. E, aí, teve a alfabetização, eu aprendi a ler, tal, mas eu não entendia do que se tratava aquele assunto lá. Mas eu acho que aos poucos a gente vai, a criança é rápida. Menos de três meses você já começa a aprender coisas, eu acho.
P/1 – Por que a sua família escolheu o Paraná? Como é que foi essa escolha?
R – Ah, porque tinha muito parente lá no Paraná, tinha uns tios morando lá, então, os meus pais resolveram morar lá no Paraná, junto com os meus tios.
P/1 – Seus avós foram juntos?
R – A gente viajou de navio, foram dois meses de navio do Japão para cá e o meu avô já veio de cama, ele estava bem doente. Ele ficava o tempo todo de cama no navio e, assim que ele chegou, ele já foi para o hospital, já foi operado, ele só abriram e fecharam, não tinha mais jeito. Eu lembro, assim, de algumas cenas. Eu me lembro do navio numa tempestade à noite, o meu avô me carregando, assim, e me mostrando por aquela janelinha redondinha um mar revolto, uma escuridão, uma tempestade, eu lembro bem dessa cena. E eu lembro também do meu avô na cama, assim, e eu lembro que espirrou uma água de lá, não sei como espirrou uma água da janela no rosto dele e eu avisei: “Nossa, espirrou uma água”, tal, isso eu lembro. Eu lembro também dos marinheiros que serviam almoço para gente, tal.
P/1 – Como é que era a cabine? Vocês ficavam todo mundo junto, como é que era?
R – A cabine eu não me lembro bem. Eu lembro de onde o meu avô ficava deitado, mas eu não me lembro onde eu dormia, eu não me lembro. Eu lembro de algumas partes do navio, o cheiro eu me lembro bem. Quando eu vou ao Porto de Santos, tem aquele cheiro de porto, aquilo, nossa, vem toda aquela lembrança também, é um cheiro que eu conheço da infância. E o cheiro de tinta a óleo também, que eles pintam o navio com aquela tinta a óleo, esmalte não sei, é um cheiro típico, eu me lembro bem. Mas, assim, o espaço, essas coisas, eu não me lembro bem.
P/1 – E aí vocês foram para o Paraná?
R – Isso, a gente foi para o Paraná. Bom, primeiro a gente chegou em São Paulo, na casa de uma tia, e o meu avô foi direto para o hospital e faleceu. Faleceu ali.
P/1 – Logo que ele chegou?
R – Logo que ele chegou. Ele mal pisou aqui no Brasil, já teve a cirurgia e já faleceu. Aí, foi a primeira morte, assim, que eu presenciei na minha vida e criança de cinco anos sente muito a morte. Eu me lembro do meu avô no caixão, a minha mãe colocou um perfume nele, não sei se era costume ou se é costume hoje colocar um perfume no morto, não sei se ele tava com algum cheiro de, sei lá, cirurgia, alguma coisa.
P/1 – Tem algum ritual diferente?
R – Eu acho que não, não teve. Quer dizer, tem o ritual budista lá, que vem um padre, que reza e tal, mas isso eu não lembro bem. Eu me lembro bem do cheiro do perfume até hoje e tem algum perfume que tem um cheiro próximo a esse cheiro e eu me lembro também. E, aí, ele foi enterrado no Cemitério da Lapa, eu acho, e eu lembro bem que eu estava chorando e eu não conseguia enxergar. Me falaram assim, que todo mundo jogava um pouquinho de terra e era um ritual, acho que hoje não tem mais, todo mundo jogava um pouquinho de terra no buraco onde a pessoa estava enterrada. Eu me lembro, assim, estava totalmente nublado; porque estava tão cheio de lágrimas que eu não conseguia enxergar a terra, eu não conseguia... Eu lembro que eu peguei um pedação de pedra, assim, joguei, mas eu lembro bem como foi triste, como eu chorei com cinco anos. É isso. Ah, do Paraná, você tinha me perguntado. Então, a gente foi para o Paraná depois disso, então, eu minha vó, meu pai, minha mãe, fomos para o Paraná morar.
P/1 – E a sua irmã.
R – E a minha irmã.
P/1 – Como é que foi a sua infância lá? Essa chegada?
R – Ah, era muito legal, porque era mato também a gente vivia muito, assim, integrado à natureza, a casa da minha tia era uma delícia, assim, também, porque para gente brincar era ótimo, aquela casa, porque ela tinha aquele encerado, vermelhão, e a gente colocava meia velha e escorregava por aquele (risos) piso ali, eu, minha irmã, minhas primas, tal.
P/1 – Onde era mesmo a casa?
R – Em Campo Mourão.
P/1 – Me conta um pouquinho, então, Leila, como é que foi a infância, da vida lá no Paraná, como era a escola.
R – Ah, era um trauma. Então, esse primeiro ano que eu fiz o primário lá, que eu me alfabetizei, foi um pouco traumático, porque eu não tinha sido batizada e fui obrigada a ser batizada com seis anos para poder entrar para essa escola de freiras. E as freiras eram aquelas freiras que usavam aqueles chapéus brancos, assim, enormes. Aí, toda segunda-feira a freira perguntava para classe, assim: “Todos aqui foram para missa? Quem não foi para missa levanta a mão.” E eu sempre levantava a mão, porque eu não ia à missa ninguém me levava, eu também não pedia. Aí, eu levantava a mão, “hoje vamos rezar pela alma da Leila que não foi para missa”. Aí, eu ficava mal e era toda segunda feira aquela agonia, ela falava de novo aquela história, se eu fui para missa, se eu não fui para missa.
P/1 – Você ficava mal?
R – Nossa, eu ficava muito mal. E porque a minha família não ligava, todo mundo na escola era... Sempre falava sobre religião e tal e a minha família, meu pai chegava tirando sarro, ele contava uma piada que iam para igreja, faziam assim, sabe, em vez de fazer o sinal da cruz faziam assim e beijavam e eles ficavam rindo. Então, eles não eram católicos e eu estava numa escola católica de freiras, assim, e só eu que não ia lá para missa. (risos) E, aí, um dia a minha prima me levou para missa no domingo e segunda feira cheguei toda bem, “hoje eu estou tranquila, fui para missa”.
P/1 – O que você achou da missa? Foi a primeira vez.
R – Não, eu já tinha ido na época do meu batizado, já tinha ido lá. Eu gosto na verdade da situação missa, eu gostava na época, hoje eu não gosto tanto, acho que mudou muito a cerimônia da missa. Depois disso eu fui algumas vezes à missa, eu não sei quantas vezes eu fui e o que me dava muita vontade era experimentar a hóstia, nunca tinha coragem e até hoje é um desejo contido, assim, que eu tenho vontade de experimentar a hóstia, mas eu acho que eu não tenho direito (risos) e as pessoas até falam quando tem essa coisa da hóstia, as pessoas: “vai lá” “não, eu não vou”, porque tinha essa coisa de ter que confessar, sabe, para você depois se purificar você coloca o corpo de Cristo, na boca e eu não sou tão cristã assim, eu achava que não tinha direito.
P/1 – O que te marcou mais na escola, você lembra? Fora esse negócio da missa, tal, tem alguma matéria que você gostava mais ou algum professor ou algum coleguinha?
R – Tinha sim. Nesse primeiro ano, também, aquela coisa do desenho “Não, a Leila desenha bem”, Então, na aula de desenho eu me saía muito bem, as madres ficavam impressionadas e, aí, me deixaram, com seis anos, me deixaram como monitora da aula de desenho, então “Você vai acompanhar e ajudar as amiguinhas.” para desenho, tal. E eu não sabia, isso foi outro trauma, eu não sei como ajudar as outras meninas a desenhar. Eu ficava circulando ali e eu lembro de uma menina chorando, chorando: “Me ajuda”, chorando, olhando para mim, eu olhando para ela, eu não sabia o que fazer para ajudar a menina a desenhar, eu lembro disso. Eu não sei o que é que eu fiz, se eu não fiz e eu detestava essa coisa de ter que ajudar as pessoas na aula de desenho, enfim.
P/1 – Quantos anos mais ou menos você tinha?
R – Seis anos. Os mesmos seis anos, porque eu fiz um ano só lá, depois viemos para São Paulo de novo. Aí, eu já estava mais descoladinha, não tinha tanto problema. Mas esse primeiro ano lá, na escola de freiras, foi bem marcante. Então, a professora de desenho, quer dizer, não era de desenho, a irmã ela me levava para as outras classes e apresentava meus desenhos para turma da outra classe e eu do lado lá, quietinha lá. E ela mostrava todos os desenhos e os desenhos normais ela mostrava, os desenhos obrigatórios da aula, ela não mostrava os outros desenhos que eu tinha feito por conta. Ela pulava essas e mostrava só os desenhos normais, que não tinha nada de mais. Eu achava estranho, mas também ficava quieta, não falava nada. Então, essa coisa do desenho acho que sempre me acompanhou, em todas as fases da minha vida escolar.
P/1 – E, aí, para São Paulo, vocês decidiram sair de lá por quê? Por que vocês vieram para cá?
R – Eu não sei exatamente porque, eu não entendia muito bem. Mas o meu pai, assim que ele chegou ao Brasil ele comprou um caminhão. Acho que tem aquela coisa do homem gostar de caminhão de repente, sabe? Acho que ele tinha essa coisa e quis trabalhar com transporte lá. Então, ele comprou um caminhão e vivia viajando de caminhão. Aí, eu não sei o porquê, acho que eles resolveram vir para São Paulo mudar de vida eu acho.
P/1 – E vocês vieram para qual bairro?
R – Para Guarulhos.
P/1 – Para Guarulhos. E quais são as lembranças que você ainda tem de Guarulhos?
R – O meu pai abriu um bar lá, outro dos sonhos do meu pai ali. Ele vendeu o caminhão e comprou um bar e ele teve bar por muitos anos, até eu entrar no colégio, eu acho, eu tinha uns 16 anos, eu acho. A gente viveu em Guarulhos até eu completar uns 16 anos. Depois disso, a gente veio para Água Rasa, perto do Tatuapé. Isso porque a minha avó falava para o meu pai que não pegava bem o pai de duas garotas ter um bar, ele precisava mudar o tipo de comércio, então ele comprou um relojoaria que era dos meus tios.
P/1 – Na Água Rasa?
R – Na Água Rasa. Aí, mudou totalmente de ramo, meu pai ficou super chateado, ele não se adaptava com esse outro negócio, mas, enfim, era para o bem, quer dizer, de tanto a minha avó falar para ele, que não pegava bem, ele resolveu mudar.
P/1 – Essa chegada em Guarulhos, até mesmo a mudança para o bairro da Água Rasa, foi muito impactante para você? Por que você morava no sítio, no interior. Como é que foi essa chegada?
R – Eu acho que o mais impactante o fato de eu estar no Japão e depois disso foi tudo, assim, fichinha, até hoje eu acho que qualquer mudança para mim não é tão impactante mais e eu não sou muito fixada nos lugares, eu acho, assim. Eu não me ligo muito nem no bairro, nem na casa onde eu estou, assim, eu não sou muito ligada a isso. Acho que eu não tenho raízes, sabe? E eu acho que é por esse fato, de eu ter vindo do Japão para cá.
P/1 – Me conta um pouquinho como é que sua família aqui no Brasil se comunicava com o Japão? Como é que era?
R – Ah, é interessante. Era só por carta, só por carta.
P/1 – Quem da sua família continua lá no Japão para vocês se comunicarem?
R – Não entendi a pergunta, desculpa.
P/1 – Vocês trocavam cartas com o Japão? A sua família aqui no Brasil?
R – Não, nós trocávamos cartas quando a gente estava no Japão com as pessoas que estavam no Brasil, porque as minhas tias ficaram no Brasil, toda a família da minha mãe estava no Brasil e só a gente no Japão e na verdade só parentes distantes estavam no Japão. Então, eram de outra província não tinha tanto contato assim. Tinha algumas pessoas que a minha avó mantinha contato, mas eu não conheço, minha mãe também, meus pais não conheciam mais, não tinham amizade, tal, enfim. Mas a correspondência maior era quando nós estávamos no Japão, com a família que estava aqui no Brasil. Aí, tinha muita correspondência.
P/1 – Como que era?
R – Era demorado. Muito demorado a coisa, mas uma hora chegava e era uma alegria quando chegava.
P/1 – Você lembra de alguma carta que vocês enviaram, receberam?
R – Eu como tinha seis anos não me lembro das cartas, assim. As cartas para mim foram muito mais importantes na minha juventude, eu acho.
P/1 – Você lembra do conteúdo das cartas, o que é que a sua família falava aqui do Brasil? A sua família chegava a comentar com você o que é que estava escrito?
R – Sim, sempre tinha uns... Sempre vinham as novidades, as novidades da família daqui, como a doença do meu tio, quando o meu tio ficou com câncer também aqui, eles se correspondiam e por isso, na verdade, era o único meio de saber o que é que estava acontecendo aqui no Brasil e por isso meu avô sentiu a necessidade de voltar para cá.
P/1 – Quanto tempo demorava para chegar uma carta no Japão? Ou para enviar para cá, mais ou menos?
R – Ai, quanto tempo será que demorava?
R – Não me lembro quanto tempo demorava, não, viu?
P/1 – Mas tinha uma expectativa para a carta chegar? Como que era?
R – Ah, tinha. Toda vez que chega uma carta, assim, nossa, você sente a ligação com o Brasil na hora assim.
P/1 – Quem que escrevia mais era seu pai ou sua mãe?
R – Acho que mais os meus avós, meus avós escreviam mais, assim, para o Brasil e eles também... E eu me lembro, assim, se você já vê a carta com aquele verde e amarelo no cantinho, você já sente alguma coisa. Isso também, aos seis anos para mim não tem uma lembrança muito forte de cartas, não. Mas para mim era só o símbolo de uma ligação que existia entre o Brasil e o Japão, porque quando eu era pequena, eu acreditava que o mundo era dividido em duas partes, assim, que um lado era o Japão e outro lado era o Brasil. Não existiam ali outros países para mim. Então, eram as duas coisas mais importantes que tinham, os dois locais mais importantes eram o Japão e o Brasil. Aí, essa coisa do vermelho e do branco do Japão e do amarelo e verde do Brasil eram umas coisas muito fortes, assim.
P/1 – Você lembra do envelope?
R – Ah, lembro bem do envelope.
P/1 – Como que eram os selos? Você lembra?
R – Nossa, os selos. Eu não reparava muito nos selos, não, dessa época.
P/1 – Você lembra do carteiro que te entregava a carta lá no Japão?
R – Não, lá no Japão não lembro das cartas, realmente. Do carteiro eu não lembro.
P/1 – Mas o carteiro entregava mais ou menos parecido com aqui?
R – Nossa, eu também não sei como é que era na verdade, não (risos). Não lembro, não lembro como é que era.
P/1 – Deixa eu pular um pouquinho para a parte da sua juventude. Você passou a maior parte em Guarulhos.
R – É, até os 15 anos mais ou menos.
P/1 – Então, como é que foi essa sua adolescência em Guarulhos, como é que era frequentar a escola, ser um pouquinho mais velha? Me conta um pouquinho como é que era a sua vida.
R – Eu estudei numa escola lá em Guarulhos muito bonita, assim. Era uma escola de um arquiteto chamado Vilanova Artigas, era uma escola estadual, era muita bonita, assim, de uma... Aquilo foi uma educação ambiental, assim, muito importante, eu acho, para mim, porque era um espaço completamente não convencional. Tinha um pátio enorme, tinha um espelho d’água; a escola tinha um espelho d’água, era uma coisa muito bonita. Tinha um painel era de uma... Eu não lembro de quem que ele era, um painel lindo, colorido, de umas crianças brincando, de uma artista famosa também, eu esqueci o nome da artista.
P/1 – Existe essa escola ainda?
R – Nossa, eu nunca mais voltei para ver. Morro de saudades na verdade, dessa escola, assim. Mas eu acho que mudou totalmente, porque já quando eu estava dentro dessa escola, já teve umas reformas de aumento de classes no fundo da escola, que era tipo uma escola de lata, que faziam umas construções bem de madeira, bem rústicas, assim. E era horrível ter aulas lá, o legal era ter aula no prédio principal, a lousa era uma lousa que pegava a parede inteira, era toda verde, assim, a parede e você podia escrever de ponta a ponta da parede. Era muito moderno, uma construção muito moderna. Lembra um pouco a FAU, porque o Vilanova Artigas ele fez a FAU aqui. E lembra um pouco o espaço da FAU. Você conhece a FAU.
P/1 – Conheço.
R – Então, é o mesmo arquiteto que fez essa escola estadual. Então, tinha pátios enormes assim, rampas, era muito legal. E isso me marcou muito e as amizades que eu fiz lá também. Eu, assim, sempre vivi nos lugares onde tinha poucos descendentes de japoneses na verdade e eu senti uma atração, assim, pelo meu igual, eu acho. E nessa escola até que tinha, assim, umas duas, três japonesas, assim, que eu queria me aproximar delas apesar de ser totalmente diferente da minha cultura, eu queria me aproximar. Nessa época eu lia muito quadrinhos do Japão. Eu nunca parei de ler quadrinhos, mangás do Japão. Tinha histórias muito legais e eu pegava essas meninas e eu contava a história que eu lia nos mangás e eu contava para elas, assim, principalmente, nas aulas de artes, tinha aula de artes lá que a pessoa ficava bordando ou ficava tricotando, fazendo qualquer coisa de trabalho manual e nessas aulas a gente sentava uma do lado da outra e eu começava a contar as histórias bordando, tricotando e eram histórias muito legais e elas achavam muito impressionantes essas histórias.
P/1 – Como é que você começou a ler mangá?
R – Desde quando eu estava no Japão mesmo, aos três anos. Lá, no Japão, os livros infantis eles são muito numerosos e existem livros tanto de mangá, quanto não só de mangá, existem desde para criança de dois anos, três anos, quatro anos, todos separados por idade, assim. Então, a cada ano você vai vendo livros diferentes, específicos para aquela idade. Então, essa coisa de ler, essa coisa de você ser viciada em ler, começa de lá, desde os dois, três anos. E, aí, aqui no Brasil, eles fizeram um esforço, um sacrifício de fazer uma assinatura mensal de mangá numa livraria aqui em São Paulo, mesmo quando a gente estava no Paraná. Então, tem uma Livraria Sol aqui que eles fazem importação de livros japoneses, desde há muito tempo atrás e fazem assinatura e a minha mãe ou vinha retirar ou eles mandavam pelos Correios até Paraná e de lá ela também pegava nos Correios ali a encomenda. E todo mês você ficava esperando para chegar aqueles livros lá. Então, eu não parei nenhuma vez, eles podiam estar ruins de dinheiro, mas não deixavam de assinar os mangás japoneses.
P/1 – Você que pediu para sua mãe assinar?
R – Eu nem pedia, era obrigação deles, a minha avó dizia que era obrigação dos pais comprar aquilo para os filhos. Então, eu não tinha necessidade de pedir; já vinha. Nunca faltou.
P/1 – Qual era o mangá que você mais gostava?
R – O mangá que a minha mãe assinava era um mangá específico para meninas e eram revistas semanais mais ou menos dessa grossura assim, então, eles mandavam uma vez por mês. Então, vinham normalmente quatro ou cinco volumes daqueles mangás. E eram mangás dessa grossura e tinham vários autores, então, eram várias histórias, digamos umas 15 histórias, cada um de um autor. Eram histórias continuadas, então, iam de um volume para o outro. A gente tinha que começar a ler, pelo primeiro volume para depois chegar no final.
P/1 – Era uma vez por mês?
R – Uma vez por mês vinha para gente só que vinham das quatro semanas do Japão.
P/1 – Ah, vinha tudo junto?
R – Vinha tudo junto. Então vinha o volume de quatro livros maravilhosos, uma vez por mês.
P/1 – Você lia tudo de uma vez?
R – Praticamente. A gente lia tão rápido aquilo e a gente brigava para ler o primeiro logo porque tinha que ir passando assim.
P/1 – E como é que era esperar a chegada?
R – Nossa, era... Nossa! Era uma alegria, assim. O melhor de tudo.
P/1 – Você lembra de ter feito algum pedido você além dessa assinatura, de ter pedido algum mangá do Japão ou de alguma outra editora?
R – Não, não. Não, só isso já bastava, porque só depois que eu comecei a frequentar essa Livraria Sol sozinha, aí que eu comecei a ver que existem outras opções, opções para adultos, trocentos tipos de títulos, que a gente criança a gente não sabe. Quer dizer, até sabe, porque de vez em quando você vai para lá, mas a sua mãe escolheu aquele tipo então você lê aquele tipo e pronto, acabou. Depois você começa a de repente ver lá na livraria outros tipos, e tal, de repente, eventualmente, você pode mudar. Mas a minha irmã... Eu já não coleciono mais, mas a minha irmã ainda aproveita essa assinatura da minha mãe e todo mês ela vai retirar os livros lá.
P/1 – Ela ainda retira?
R – Ainda! Com 50 anos.
P/1 – Vamos voltar, quando você era adolescente você já ia na banca e já comprava mangá. Não era mais ou menos assim? Você procurava, tinha algum lugar específico que você procurava mangá?
R – Só na Livraria Sol, só lá que tinha, só lá que tinha mangá. Na minha adolescência era. Nossa, não encontrava mangá tão fácil como se encontra hoje em dia, só na Liberdade, só na Livraria Sol.
P/1 – Você importava do Japão também?
R – Eu não, naquela época não. Só a livraria importava, você tinha que ver a opção que ela dava, a Livraria Sol.
P/1 – Qual que era o que você mais gostava nessa época?
R – Então, tinha uns três títulos e eu não sei dizer, era o tipo feminino, assim, para meninas, que eu gostava.
P/1 – Como é esse mangá feminino?
R – Esse mangá feminino sempre tem aquelas meninas com olhos grandes cheios de estrelinha, tal, é típico. E histórias para meninas, que é totalmente diferente de história para meninos, que eu também gostava. Você comprava às vezes avulso, você ia na casa de alguns primos, assim, que tinha essas histórias de meninos, que era muito interessante também, sabe? Tinha aquelas histórias do... Como é que chama? Dínamo. Lembra que tinha aquela coisa, Dínamo, que tinha aquelas orelhinhas assim, as aventuras dele ou as aventuras daquele robô gigante, sabe? Esqueci o nome dele, mas também é do mesmo autor. Histórias de meninos eram, assim, violentas, tinham histórias sobre corridas e tal, eram bem interessantes. De meninas sempre tem alguma romance, quando eu era criança tinha 12 anos, tinha muita história de guerra, de pessoas que sofriam ou sofreram na guerra, assim. Então, tinha a história, principalmente crianças, as crianças que perderam os pais ou crianças que passavam fome.
P/1 – E para crianças?
R – Para crianças, claro. E eram histórias muito sofisticadas, até hoje. Eu chorava muito vendo aquelas histórias, você derrama muitas lágrimas, eu ficava encharcada de tanto chorar de ler aquelas histórias.
P/1 – Você se lembra de alguma edição que te marcou? De uma revista, um número?
R – Não. Eu diria mais o autor que tem certos autores que as histórias deles são muito bem feitas, te cativam muito, têm muito bom gosto. Na época, você sabe qual que é uma história de bom gosto e qual que é uma história meio breguinha assim ou história boba. Tem autores que fazem muito sucesso, quanto melhores os autores, eles entram na frente dessas revistas, que são revistas grossas, assim, com vários autores. Então, tem uns autores que são estrelas, são os mais, como é que fala? Os mais lidos, os mais elogiados, provavelmente os que recebem mais cartas de admiradores, então, vira uma espécie de celebridade, os que são talentosos mesmo, os bons contadores de história, porque não é só um desenho bonito, tem uns que tem um desenho muito bonito, mas a história não é grande coisa, não são muito coerentes e tem histórias sensacionais, assim. Ficção, tem muita história de ficção que eles faziam, tem muita história de terror, tinha uma fase de terror que tinha coisas muito interessantes de terror. Tinha uma história, assim, de terror, eu lembro bem, porque fazia muito sucesso, assim, meio ligada à história tradicional do Japão, que é a história da cobra que vira uma mulher-cobra, sabe? É horrorosa, assim.
P/1 – O terror japonês é conhecido por ser bem impactante.
R – Meio assim...
P/1 – Bem impactante.
R – Bem impactante. Eu morria de medo. Às vezes eu nem lia, passava ali perto, não olhava alguns desenhos, assim, morria de medo, morria de medo. Então, é como se você assistisse um filme, vários filmes, assim, sabe? E além do que você não esquecia o japonês, você lia o tempo todo ali. Só que como eu não passei dessa fase de livros infantis, a gente não evoluiu muito, não estudou a fundo o japonês, então, também, não desenvolvemos muito assim, como é que se diz, a leitura. Porque a leitura japonesa é muito diferente da ocidental, então, você tem que saber ler os ideogramas, quanto mais ideogramas você consegue ler, mais graduado você é. Então, lá no Japão se mede a partir de quantos ideogramas você consegue ler, assim, o grau de instrução da pessoa ali. Porque é muito difícil, você tem japonês que estudaram até a universidade e não sabem ler todos os ideogramas lá.
P/1 – São muitos?
R – Muitos, muitos. E cada um se lê de um jeito, em cada situação é de um jeito e tal. É muito complicado. Então, o meu japonês nesse aspecto, eu não consigo ler um jornal, por exemplo. Têm muitos ideogramas, agora um livro infantil, um livro de adolescente eu já consigo ler, tranquilo.
P/1 – E você chegou a colecionar selo?
R – Não, eu tinha uma atração por selos, assim, mas eu não cheguei a colecionar.
P/1 – De onde veio essa atração?
R – Eu acho que tinha uma época em que as pessoas falavam muito em selos, eu não sei o porquê, é meio de moda, eu acho. Então, eu não fui colecionadora de selos, mas eu lembro muito bem de uma época que todo mundo falava em selos, aparecia muita imagem de selos.
P/1 – Você lembra quando era mais ou menos?
R – Ai, quando era? Acho que eu era adolescente, assim. E falavam de valores de selos, foi uma época, assim, eu não me lembro bem. Na época que tinha aquelas revistas, Manchete, Revista Realidade, que a gente lia muito também. O meu pai assinava Revista Realidade, Manchete e justamente foi nessa época da chegada do homem à Lua, a morte do presidente Kennedy, bem essa região do tempo, assim, que teve essa coisa do selo também, acho que foi bem nessa época, não sei o porquê, o que tem a ver isso com essa época especificamente, mas eu acho que era essa época.
P/1 – Seu pai também gostava?
R – Do?
P/1 – De selos, de colecionar.
R – Não, então, eu via pessoas, eu não lembro quem eram, mas eu lembro dessa coisa do selo, não sei se estava na revista, não sei se estava com os amigos, eu me lembro, assim, vagamente, dessa coisa do selo.
P/1 – Deixa eu entender um pouquinho como foi a sua juventude, você tinha muitos amigos?
R – Juventude de mais ou menos 17 anos, já aqui em Água Rasa. Eu tinha alguns amigos, principalmente, quando teve aquela opção porque na época existiam...
P/1 – Então, a gente tava falando um pouco da sua juventude, nessa época de 16, 17 anos. Como que era a sua vida? Com quem que você se relacionava?
R – Então, nessa época eu também havia mudado de novo de colégio, era um colégio de São Paulo que era um colégio também estadual, Plinio Barreto, e nessa escola, assim, no início, no primeiro ano, foi difícil a adaptação. Eu achei que eles estavam mais adiantados do que eu, que fiz uma escola que eu até que achava que era boa em Guarulhos, mas chegando aqui eu achei que Matemática era muito puxado, era muito diferente, eles não tinham critério de mais ou menos, ou era certo ou era errado. Então, eu não tava acostumada com isso, lá eles consideravam alguma coisa que você tinha feito e em São Paulo não. Então, eu fui muito mal nos primeiros meses em Matemática. Depois, tive que fazer uma recuperação e tal. Aí, justamente, eu fui tão mal em Matemática, eu acho que a primeira nota que eu tirei foi um três, eu nunca tinha tirado uma nota assim. E eu levei o maior susto. Até chegou uma amiga minha, ela era negra, eu me lembro, ela falou para mim assim: “Quanto você tirou na prova?” eu falei: “Eu tirei três” “Nossa, japoneses costumam ser inteligentes!” (risos).
P/1 – Ela falou isso para você?
R – Ela falou isso pra mim, eu lembro (risos).
P/1 – Qual foi a sua reação?
R – Acho que nenhuma. Eu quis matar, assim, na verdade, que eu lembro até hoje. Mas eu não falei nada, eu acho. Mas depois eu recuperei. Não era tão burrinha assim. E, aí, mas eu era boa em português. Eu acho que eu tinha uma coisa meio estranha, assim, por ser japonesa, normalmente vai bem, realmente, em Matemática e vai mal em Português. Eu sempre fui muito bem Português, assim, adorava gramática, análise sintática, tudo, sempre as professoras de Português gostavam de mim. Eu lembro que tinha um professor muito engraçado, ele fazia... Eu acho que ele não queria trabalhar dando aula, então fazia com que os alunos lessem poesias, na frente, assim. Aí, eles todos liam um trecho da poesia, mandava sentar; aí, os que declamavam melhor a poesia ele selecionava. E selecionava umas dez pessoas que declamavam bem a poesia e fazia uma espécie de um concurso, assim, sabe? “Não, você vai decorar o Juca Pirama”, você vai decorar não sei que. Nossa, eu fui escolhida para decorar esse Juca Pirama e não consegui (risos) decorar de jeito nenhum. Esse Juca Pirama é muito complicado. Mas, enfim, só para dizer que eu gostava muito de Português.
P/1 – Você gostava de recitar? Você lembra de uma poesia que você gostou mais?
R – Ah, infelizmente não. Depois disso, eu não quis mais saber de poesia, (risos) eu prefiro muito mais prosa. Na verdade eu não sei o porquê que ele me escolheu, eu não era muito chegada em poesia, nada. Se bem que tinha uma epocazinha que eu até tentei escrever algumas coisas, mas isso foi só um... Nada importante.
P/1 – Vocês iam para onde, sair? Vocês iam para o cinema, como é que era?
R – Cinema eu adorava.
P/1 – Essa parte de lazer.
R – Essa parte de lazer eu não saia muito com as minhas amigas assim. Naquela época você tinha que sair com adultos, assim, para ir para o cinema. Então, me levavam para assistir filmes, tipo Noviça Rebelde, tipo Jerry Lewis, nossa! Eu era fã do Jerry Lewis, passava um monte de filme dele, eu assistia, tal, e também, isso um pouco antes da minha adolescência, a gente ia muito para cinemas onde passavam filmes japoneses também.
P/1 – Ah, onde é que era?
R – Olha, aqui em São Paulo tinha o Cine Joia, tudo na Liberdade. O Cine Joia existia na época; existia o Cine Nippon, Cine Nikkei, alguma coisa assim, na Liberdade também. E antes disso, lá em Guarulhos, também tinha um cinema normal que só às quartas feiras passavam os filmes japoneses, normalmente dois filmes, um seguido do outro. Então, a gente ficava lá umas quatro horas. Meu pai, a minha mãe, eu, a minha vó, todo mundo, ia até esse cinema, muitas vezes era um cinema totalmente violento, de samurai, cortava a cabeça, pulava fora e eu com 12 anos, a minha irmã com nove anos, assim, a gente tinha que assistir aqueles filmes. Nossa! Quantas vezes a gente não fechava os olhos em cima do colo do primeiro adulto que estava do lado, assim e não assistia o resto do filme de medo daquela coisa. E, depois, muitas vezes a gente assistiu o primeiro filme e o segundo a gente já dormia. Então, meu pai vinha carregando a minha irmã dormindo no colo e tal, mas era toda quarta feira; era o programa de toda quarta feira ir ao cinema, assistir filme japonês.
P/1 – Com a família?
R – Com a família, toda.
P/1 – E como é que foi o seu primeiro namoro?
R – Foi um trauma também. (risos) O primeiro namoro foi justamente aqui, em São Paulo, lá nesse colégio estadual e eu lembro que nessa época eu fazia um diário. E até outro dia eu dei esse diário para minha sobrinha para ela ver como foi a experiência de você começar a gostar dos meninos. Eu lembro que dei uma olhada ali, eu gostava de quatro meninos na escola (risos) e eu achava interessante. Esses quatro, qualquer um servia; sendo um deles, se rolasse com um deles para mim estava ótimo. E, aí, até que rolou com um deles, assim, mas durante um mês que a gente meio que namorou, namorou, assim, de sair para ir ao cinema à tarde, domingo, segurando a mão e na hora de ir embora dar um beijinho. Esse era o namoro, o meu primeiro namoro.
P/1 – E a sua família em relação a isso, como é que era?
R – Ah, eles eram preocupados na verdade. O meu pai, quando aconteceu isso: “Ah, eu tenho um rapaz que estou namorando”, meu pai chegou e quis conversar comigo. Eu acho que ele deve ter achado ou alguém falou para ele que ele tinha que conversar quando acontecesse isso. Então, ele me chamou do lado para conversar e ele começou falando, ele era uma pessoa tímida, assim, não era uma pessoa de fazer altos discursos, nem nada, eu lembro que ele chegou para mim e falou assim: “Olha, eu sei que você tem que saber que os rapazes dessa idade, sabe?” (risos) Aí, eu nem dei, nem deixei ele terminar: “Eu sei, eu sei” (risos). Nem quis que ele falasse sobre isso, sabe? “Não, tudo bem, não tem nada disso”, tal. E eu não lembro mais como é que foi o resto da história, eu sei que eu não queria ouvir o que ele tinha para falar. E também é uma coisa que durou um mês só. Depois, eu não sei como é que eu agi, eu não me senti confortável, não era muito natural para mim, então, eu acho que meio que, sabe, terminou, não sei nem como que terminou, mas eu sei que a gente estudava na mesma escola e eu fiquei encanada com ele o ano inteiro, e sem namorar com ele, só observando, assim. Não sei se eu gostava dele ou se foi uma coisa mal resolvida, eu não sei. Sei que isso foi o namoro, assim, sair alguns fins de semana num mês, a gente sair, assistir o filme, voltar, dar um beijinho, pronto.
P/1 – Foi seu primeiro namorado?
R – É, foi o primeiro namorado. Foi uma coisa, assim, meio não foi uma coisa que houvesse uma amizade, a gente nem se conhecia direito, assim, era uma pessoa de outra classe, sabe? A gente namorou, porque todo mundo estava namorando ali, todo mundo formando duplinhas e a gente não. Então, foi o que aconteceu.
P/1 – Me conta um pouquinho como é que foi a escolha da sua profissão.
R – É, então, foi justamente nessa época a gente se dividia em três áreas, Exatas, Humanas e Biológicas e, aí, eu escolhi humanas, sem dúvida, que a minha área era humanas, gostava de Português, gostava de desenho, então, eu acho que eu já era definida há muito tempo, não gostava de Matemática, de Biologia não gostava, nenhuma das matérias nem de Exatas, nem Biológicas eu gostava, então, naturalmente, eu fui para Humanas. Aí, já se decidiu. Eu não conhecia, não existia tanta profissão na minha cabeça naquela época, como poderia existir. A única profissão que existia: engenheiro, médico, arquiteto. Ou Artes Plásticas, de repente eu podia fazer, mas Artes Plásticas já era rotulado de que você ia passar fome, que não tinha condições. Aí, eu queria fazer Artes Plásticas, mas os adultos falavam: “Vai fazer Arquitetura que você se garante melhor”. Aí, fui fazer Arquitetura.
P/1 – Você gostava de desenhar e continuou a desenhar?
R – É, continuei o tempo todo desenhando, na escola era a pessoa que desenhava, em todas as escolas, em todos os cursos, todos sabiam que eu desenhava, assim. E, aí, eu fui tentar Arquitetura só que fiz no Mackenzie, isso porque no exame da FAU, você conhece a FAU, na USP? Eu queria entrar na USP, claro. Mas, aí, eu lembro que eu tirei dez em linguagem arquitetônica, que tem aquela coisa, tal, mas eu devo ter zerado em Biologia, alguma coisa assim, porque lá a cada três erradas descontava uma certa. Então, você podia muito bem zerar e ficar negativo e tal, e se você zerasse já era. E, aí, eu entrei no Mackenzie. Na verdade eu queria tentar mais um ano a FAU, mas o meu pai falou: “Não, não vai tentar mais um ano, vai trabalhar e vai sustentar a faculdade”. Aí, foi o que eu fiz. Eu fui trabalhar numa editora infantil e fui fazer faculdade, paguei minha faculdade inteira.
P/1 – Como é que foram esses quatro anos de faculdade?
R – Foram cinco anos na verdade.
P/1 – Foram cinco anos?
R – Foram cinco anos. Até o terceiro ano eu só pensava em desistir. Aí, depois...
P/1 – Por quê?
R – Porque não sei, eu não encaixava ali também, sabe? Eu gostava de Arquitetura, eu gostava de muitas coisas, gostava de projetos, tal, mas muita coisa eu não gostava de lá. Fundações, não gostava de Elétrica, Hidráulica, Saneamento, não gostava dessas matérias todas.
P/1 – Você se dava bem com o pessoal, com professores, com amigos, essa parte como que era?
R – Mais ou menos também. Mais ou menos.
P/1 – Por quê?
R – Tinha uma ou outra amiga que eu me dava bem, assim, tal. Mas depois elas mudaram, as melhores amigas minhas mudaram para um curso da manhã, eu fiquei à noite. Aí, tinha alguns amigos, assim, mas eu não sei, eu não consegui ter muita afinidade com as pessoas lá do Mackenzie, com os amigos do Mackenzie.
P/1 – Você foi trabalhar em qual ano da faculdade?
R – No primeiro ano eu já fui trabalhar.
P/1 – Já foi trabalhar no primeiro ano?
R – Já fui trabalhar no primeiro ano. Fui trabalhar no...
P/1 – Foi o seu primeiro emprego?
R – Não, eu já tinha trabalhado em banco, já tinha trabalhado, porque era meio período e os meus pais achavam que eu precisava trabalhar para conhecer, para ter mais desenvoltura e tal, a gente era muito tímida, eu e a minha irmã. Mas trabalhar meio período, depois eu não gostei.
P/1 – O que você fazia?
R – Ah! Eu fui trabalhar no departamento pessoal do Banco América do Sul ali por três meses. Mais para aprender datilografia e tal. Aí, mas eu gostei do pessoal, gostei das pessoas que trabalhavam no banco. Meu tio trabalhou no banco a vida inteira lá, no Banco América do Sul e ele me colocou lá. Mas, lógico, não tinha nada a ver, assim. Aí, fui trabalhar, procurei para chuchu uma coisa que eu gostasse de fazer para me sustentar para eu poder pagar a faculdade, aí, procurei tudo que tivesse ligação com desenho e eu não entendia nada, eu via anúncio no jornal: desenhista projetista. Eu não sabia nem o que era isso, mas eu ia lá para ver o que precisava fazer, preencher ficha e tal, que eu tinha interesse, mas eu não conhecia nada. Desenhista de topografia; eu não sabia o que era topografia. Aí, de repente, eu vi um anúncio lá, não precisa ter experiência, era uma editora. Fui lá e por sorte eu consegui lá um trabalho de meio período, sem experiência e ganhando assim... Quantas vezes mais? Ganhando cinco vezes mais do que eu ganhava em banco, assim, sabe? Então, era muita grana para mim. Eu não conhecia aquele mercado, acho que o mercado editorial devia estar melhor do que o de banco nessa época. (risos) Então, eu paguei a faculdade tranquilamente, guardei dinheiro para comprar carro, assim, logo no primeiro ano.
P/1 – Como é que era o seu trabalho?
R – Era arte final e past up.
P/1 – Como é que era?
R – Era uma coisa que não existe mais hoje em dia, assim, que foi muito bom eu ter aprendido aquilo. Você vai fazer um livro, aí, você tem que fazer a arte final da página do livro, então, você tem aqueles ilustradores que ilustram, você coloca as ilustrações na página do livro, cola. Você coloca os textos que você recebe impresso numa máquina de tipografia, são aqueles textos, você recorta e cola, uma palavra errada, que sai errado, eles rebatem, você cola em cima alinhando e tudo, algum gráfico que você precise fazer, você faz o gráfico com tinta nanquim. Então, você deixa a página prontinha para ser fotografada e impressa numa máquina offset, assim, naquela época já tinha máquina offset, era assim que funcionava. Então, você faz um livro do primeiro grau inteirinho, você faz a arte final e o past up daquele livro, inteirinho. Você acaba de fazer, manda e você segue a diagramação de uma pessoa de diagramação, ele cria a página, assim, grosso modo assim. Você pega esse layout dele e faz uma arte final, bem idêntica, próxima daquilo que ele tá pretendendo ali. Coloca ilustração ali, pinta ali e tem muita coisa para ser fazer, além desse past up. Past up que é essa coisa de colar coisas. Pequenas artes finais, você começa a fazer, eu comecei a pintar com aquarela algumas ilustrações em p&b, depois você começa a fazer algumas ilustrações e tal. Aí, trabalhei durante a faculdade inteira nessa editora, fixa. Trabalhava meio período, ganhava bem para mim, acho que ganhava muito bem e, aí, depois, assim que eu terminei a faculdade, eu larguei ela. Eu saí de lá.
P/1 – Do trabalho?
R – Larguei o trabalho e montei uma empresa própria com mais três sócios.
P/1 – Que legal! Como era essa empresa? Empresa do que?
R – Chamava Teto. Que eram quatro pilares e um teto. Então, na verdade eram duas pessoas que tinham feito a FAU de São Paulo e eu e uma amiga minha do Mackenzie. E eu namorava com esse menino da FAU e ela namorava com ou outro. (risos) Então, eram dois casais, assim. Alugamos um espaço dentro de uma galeria lá na Domingos de Moraes e abrimos o primeiro escritório de Arquitetura e Comunicação Visual e Design Gráfico e Design Urbano e tudo. A gente queria fazer tudo lá naquele espacinho de três por seis, eu acho que tinha lá, talvez um pouco maior. Era tipo uma sobreloja, assim. A gente construiu todos os móveis com a madeira de pinus na marcenaria da FAU. Fez uns caixotes, fez sofá, costuramos o sofá e tudo. Fizemos o primeiro escritório. Fizemos até mapoteca eu acho que a gente fez, não lembro bem. Colocamos quatro pranchetas e abrimos o escritório lá para começar a prestar serviços.
P/1 – Como é que surgiu essa ideia?
R – Na verdade, assim, é sonho de todo arquiteto ter o seu escritório próprio (risos). Então, foi uma coisa meio de brincadeira, meio de sonho, assim, sabe? Porque naquela época nem Sebrae a gente não fazia para abrir escritório, era meio porra louca mesmo. Como quatro crianças, vamos abrir um estudiozinho, vamos abrir um escritório e pronto. A gente faz alguns trabalhos antes desse escritório para juntar o dinheiro pelo menos para pagar os aluguéis de um ano. Então, os clientes na verdade tinham a ver com editora, que era onde eu tinha experiência, então, pegava assim algumas editoras e fazia freelancers. Conseguia o trabalho de fazer os livros inteiros, na época era a Editora Scipione, Scipione Di Pierro Netto. Não sei se você conhece. Você conhece? Era um professor de Matemática, ele fez muitos livros de Matemática infantis, ele tinha uma editora própria, pequena e eles nos contratou para fazer um livro didático, do primeiro, segundo, terceiro e quarto anos, todos à mão. Todos à mão. Então, número, texto, era tudo feito à mão. Por quê? Uma porque era uma coisa diferente e interessante e a outra porque economiza muito (risos) e você não tem que comprar os tipos prontos que tinha na época, com a máquina e tal. Fotocomposição é uma coisa muito cara, porque eram aquelas letras reveladas em papel fotográfico que você colocava os textos e colava e isso por centímetro quadrado é uma coisa muito cara. E a gente era recém-formado, acho que por página a gente cobrou pouco. Devia ser uma coisa atraente para ele, então, além de a gente ilustrar todo o livro, fazer todos os números, aquelas continhas, números, textos, todos à mão. Ficou uma coisa bonita e deve ter ficado uma coisa barata, assim, a gente fez quatro volumes dessa forma.
P/1 – E como é que surgiu a ideia do paper art?
R – Essa coisa do paper art surgiu assim... Isso já bem depois, bem depois, eu mantive.
P/1 – Essa empresa durou por quantos anos?
R – Ah, essa empresa ela continuou por alguns anos até começar a haver, como é que fala? Desavença entre os quatro, um vai saindo, o outro sai, o outro termina, aí a coisa ela vai reduzindo e, aí, acabou essa empresa. Depois, eu e um deles, que não era o meu namorado, era uma terceira pessoa, a gente começou a montar um outro escritório, mas sempre nesse esquema, assim, de ir pegando trabalhos de comunicação visual, trabalhos de logotipos, livros, essas coisas, prestando serviços, e sustentando escritórios. E eu sempre fui assim, trabalhando dentro desse esquema, mudando de sócios e quando eu comecei a fazer paper art foi quando eu tinha um escritório, quando eu tinha um cliente chamado Propasa, hoje não existe mais ele. A Propasa era uma fabricante de cadernos. Então, eu fazia as capas dos cadernos deles e a Propasa, na época, ela resolveu abrir, investir num negócio de varejo, que eram papelarias, papelarias modernas, tipo aquelas que existem em Nova Iorque, papelarias que tinham todos os equipamentos mais modernos de pintura, tal e coisas, lógico, de objetos escolares. Dentro de um shopping, no Shopping Paulista. Então, na época que inaugurou o Shopping Paulista, eles abriram uma loja chamada Mister Paper, lá. E eu fui chamada para quebrar um galho, fazer uma vitrine da Mister Paper, porque uma vitrine que eles tinham recebido não tinham gostado, não deu certo, tal, mas eles queriam alguma coisa de papel lá na frente. Aí, falei: “Ah, Mister Paper. Vamos fazer um senhor de papel”, um senhor de papel. Aí, eu lembro que o briefing do diretor de marketing falou assim: “Ah, mas um personagem, assim, para Mister Paper, você precisa ficar desenvolvendo durante um ano para você criar um personagem, no mínimo”. Falei: “Não, vamos fazer um senhor inglês, vamos fazer um senhor inglês, o rosto de um senhor inglês em papel”. E ele gostava muito dessa coisa inglesa tal, uma pessoa fina. Aí, falou: “Ah, tá bom, então”. Aí, nossa, como é que vamos fazer, eu nunca tinha feito nada parecido. E a gente resolveu fazer um senhor de papel de mais ou menos uns 70 centímetros, o rosto dele, o olho feito em papel, a boca, os dentes todos feitos em papel.
P/1 – Explica como é essa arte? Você faz escultura em papel?
R – É.
P/1 – Que tipo de papel você usa?
R – Eu uso papel importado só, na verdade. Papel chama canson mitan, são papéis coloridos. Eu uso papéis coloridos ou muito brancos. Os brancos eles são muito bem aceitos, assim, o branco no branco, que você faz a escultura e são recortes de papel, você recorta o papel, você dá uma abaulada e cola e faz camadas. Então, ele não é uma escultura totalmente tridimensional, mas são camadas que dão a sensação de volume, assim, eles têm um volume. E a sobreposição ela dá uma sombra e essa sombra cria o desenho da figura, do personagem e tal. Mas esse Mister Paper foi feito colorido, cor de pele, com cabelo preto e tal. Na verdade, eu me inspirei um pouco no Peter O’Toole para fazer esse Mister Paper (risos). E, aí, era Natal, então a gente colocou um chapéu de Papai Noel no Mister Paper e colocamos na vitrine, um Papai Noel enorme. E foi um sucesso, a gente ganhou o segundo lugar no concurso de vitrines de inauguração do Shopping Paulista. Isso porque o primeiro lugar era da Sears na época e eles tinham colocado um Papai Noel...
P/1 – Loja de departamento enorme.
R – Enorme. E eles colocaram um carro na vitrine, colocaram um Papai Noel num tamanho natural em movimento, lindo, não sei de onde eles trouxeram aquilo.E eles ganharam o primeiro lugar e nós ganhamos o segundo com aquela coisa de papel ali. Mas fez tanto sucesso o Mister Paper que até as faxineiras do shopping elas ficavam segurando a vassoura e olhando o Mister Paper, assim. E era bonito ele.
P/1 – Inspirado no Peter O’Toole.
R – Inspirado no Peter O’Toole. Aí, assim, tinha muita gente apaixonada por ele e a gente começou, aí, eu fui contratada para fazer todas as vitrines lá. Então, o papai Noel no Natal, tinha o papai Noel no dia dos namorados, tinha papai Noel em várias situações, volta às aulas, parari. Então, o personagem Mister Paper sempre aparecia, ou grande, ou pequeno. E virou uma vitrine enorme, minha assim, uma vitrine de escultura em papel.
P/1 – Uma marca registrada?
R – É. Então, passava muita gente lá, gerentes de marketing de empresas assim, e pediam meu telefone, ligavam para mim para encomendar outros trabalhos. E eu achei que essa técnica fosse durar um ano, dois anos, até se esgotar e também tinha a ver só com loja de papel. Quem que ia querer uma escultura de papel?
P/1 – Você teve contato com essa técnica quando?
R – A gente foi desenvolvendo na verdade. Eu tinha muitos livros de Design, livros de Desenho Gráfico de Arquitetura e tudo mais e eu devo ter visto alguma coisa de fora também, mas não exatamente, lógico, aquilo. Outra coisa que me inspirou muito: eu tinha um priminho, um primo bem mais novo, que ele começou a frequentar o meu estúdio quando tinha uns 14 anos, ele ia brincar lá. Aí, ele adorava também coisas de desenho, coisas de montar, aquelas miniaturas. Ele fez uma vez, ele se apaixonou tanto pelo George Lucas, aquele filme... Esqueci o nome do filme.
P/1 – Star Wars?
R – Star Wars! Tinha aquele robô enorme que andava no deserto, ele fez esse robô com papel, uma época. Eu achei interessante ali e ficou lá. E eu vi que esse papel durou, sabe, muito tempo ali, sem acontecer nada com ele, assim; não soltou e tal. Falei: “Nossa, interessante, dá para fazer uma coisa com papel que dura”, e isso também ajudou quando eu fiz o Papai Noel de papel lá. Mas a técnica a gente desenvolvia, assim, fazia, errava, testava ali. Eu sei que a base dela precisava ser uma base redonda enorme e a gente usou uma coisa completamente inviável para fazer esse fundo que era papel madeira, caríssimo, só que era leve, a gente grudou madeira balsa. A gente grudou madeira balsa uma na outra, cortou redondo, revestiu com papel alumínio, nossa, um trabalho imenso, que não tem nada a ver hoje. Mas, não conhecia muitos materiais, era o material que eu conhecia, tal e foi experimentando, experimentando e ia dando certo ou não. E eu achei que essa coisa do papel ia durar só para esse tipo de negócio que era o dele, de papelaria e que... Aliás, quando eu coloquei, eu não sabia se as pessoas iam achar ridículo ou se iam gostar. Você não faz a menor ideia se está fazendo uma coisa bonita ou uma coisa ridícula, porque não existe isso.
P/1 – Quando é novo ninguém sabe.
R – Ninguém sabe. E eu fiquei morrendo de medo porque, imagina, minha reputação, e eu fiz faculdade de Arquitetura, vou fazer esse negócio, boto lá, que coisa ridícula, sabe? Mas não, as pessoas começaram a gostar. Aí muitos gerentes, muitos diretores de marketing começaram a me chamar para trabalhar com outras coisas nessa técnica assim e fiz muitas coisas, atendi muitas empresas grandes, empresas ligadas à comida, veículos e umas coisas malucas, assim, a gente fazia. Comecei a fazer coisas tridimensionais e, assim, era mais por experimentar coisas, eu tava curtindo muito essa coisa do papel e tinha muita coisa ainda para experimentar, que poderia ficar legal. Fazer um carro em papel em tamanho natural. Imagina, isso?
P/1 – Você fez?
R – Cheguei a fazer meio carro para Feira do Automóvel.
P/1 – Que legal.
R – E sabe, fazer um robô, por exemplo. Também fiz um robô assim, não totalmente tridimensional, mas era quase tridimensional, robô em tamanho natural e essas fotos desses robôs... Era assim, eu acho que era uma empresa de papel ligada à tecnologia que fazia formulários e tal. Aí, eu lembro que o tema era robô, tecnologia. Então, fiz um humanoide robô; um robô cachorro e um robô só a mão do robô, sabe? Alguma coisa assim. E a gente mandou essas fotos para uma editora nos Estados Unidos que chama Tridimensional Ilustrators. E, aí, a gente ganhou medalha de prata lá, com esse trabalho e aí que eu vi que quando a coisa é aceita lá fora e premiada lá fora, aqui no Brasil, nossa! Se valoriza muito mais. Nessa época que eu ganhei o prêmio lá, apareceu um monte de revista, um monte de até televisão interessada, sabe? Eu lembro que eu fiz um Pequenas Empresas, Grandes Negócios e filmaram.
P/1 – Você deu entrevista?
R – Dei entrevista, eles foram no meu escritório, me entrevistaram, entrevistaram minha sócia, fotografaram, filmaram como é o processo do trabalho. Então, uma coisa que você sente que você é reconhecida quando você é reconhecida fora. Aí, depois também acalma. Se você não fica sempre lá participando de coisas, acontecendo, mas eu sou meio preguiçosa, assim, para ficar fazendo marketing, esse tipo de coisa. Aquilo foi uma coincidência, assim.
P/1 – Fora esse projeto do Mister Paper, tem algum que tenha marcado, que você fale: “Nossa, esse aqui foi minha obra prima”?
R – Nossa! Foram tantos, viu? Foram tantos, nossa! Não sei dizer qual, assim, que foi a mais marcante que foram todas, assim, bem marcantes.
P/1 – Deixa eu perguntar um pouquinho, como é que começou essa história de comprar coisas pela internet?
R – Então, é uma coisa meio recente, é uma coisa recente de comprar tanta coisa e de valor, assim. Porque se vem certo uma vez, se não tem problema nenhum da primeira vez, você fica mais aliviada, mas fica na expectativa. Da segunda vez você já sabe, já prevê mais ou menos. Pode acontecer que eles não encontrem aqui, porque é um lugar muito de difícil acesso onde eu moro. Muita gente se perdeu para chegar na minha casa, você precisa fazer um mapinha muito detalhado para poder chegar lá em casa e não é fácil. A gente já chegou a pedir pizza, expliquei direitinho como era e a pizza se perdeu; perdemos a pizza, não teve mais jeito. Então, eu nunca mais eu pedi motoboy lá, eles se perdem mesmo. Os meus amigos não se perdem, porque o meu mapinha é super detalhado. Agora, para os Correios você não pode mandar um mapa. Você só manda o CEP, assim. E eu sei que a primeira vez que eu comprei coisa pela internet, acho que voltou, acho que veio do Jaguaré, aí, acompanhando o roteiro pelos Correios, ele retornou, porque não tinha ninguém parece, não sei. Aí, voltou de novo para o Jaguaré, voltou de novo, acho que ele deve ter voltado umas três vezes. Essa primeira vez ele demorou um pouco, eu não sei o porquê, não sei se foi por ausência ou por que não tinha na época nem campainha, talvez seja isso. Da segunda vez já veio direito, acho que os próprios devem até saber, não sei se lá dentro eles comentam “Sabe aquele lugar que aquela mulher pede coisas?”. Já deve ter ali um grupinho que deve saber, não é possível. Aí, vem certinho e cada vez mais eu fui confiando, assim, e nem esquento mais a cabeça. Eu sei que se eu não tiver também eles levam de volta, depois eles vão trazer de novo, tentam de novo sem cobrar acréscimo. Coitados.
P/1 – Que tipo de produtos você recebe pelos Correios?
R – É, eu comecei com produtos que, de repente, se perdesse não teria tantos problemas, comecei com produtos pequenos, eu não me lembro o que é que era, talvez livro, alguma coisa assim. Mas, depois, eu comprei uma cadeira que estava super em oferta, comprei uma cadeira e, aí, ela veio numa caixa pequena, toda desmontada, achei ótimo.
P/1 – A primeira compra que você fez o que é que era? Você lembra?
R – Não, a primeira compra eu não lembro, acho que era um livro. Será que era um livro, alguma coisa assim, uma revista? Não, não era revista. Olha! A primeira coisa realmente eu não lembro. Nem sei se a cadeira era a segunda coisa ou era a terceira coisa, sei lá, eu não lembro bem. Eu me lembro bem dessa cadeira, porque achei: “Nossa, que ótimo, trazem uma coisa grande assim”.
P/1 – Era grande a cadeira?
R – Era, ah! Achei que fosse grande, mas não era tão grande, era bem reduzida, porque vem toda desmontada e eu tenho que montar e tive que montar. Aí, veio tudo bem e me animei na verdade para comprar essas coisas de material de escritório para mim, assim. E foi o que aconteceu, de eu precisar de trocar o meu notebook, que é da Apple, aí, fiquei um tempo procurando na internet, escolhendo, que modelo que era bom, ia nas lojas, achava muito caro, assim, custava sete mil reais um computador que eu tava precisando, tal. E eu não precisava desse top de linha, lançamento, mas eu não queria uma coisa usada, queria uma coisa nova. Aí, encontrei na internet numa loja, encontrei exatamente o que eu precisava, que era uma máquina boa, custava R$ 3.800,00. Resolvi comprar pela internet, paguei no cartão ali e eles calculam o valor do frete e, aí, acho que eu escolhi o mais rápido, Sedex, alguma coisa assim. Achei que era mais seguro. E chegou, sem nenhum problema, assim, numa caixinha pequena e tal. Chegou e “Nossa, até isso dá para comprar”. Depois eu comprei um outro equipamento, que era um equipamento de corte de papel, que também descobri que existia não sei como, ainda bem, acho que eu fui visitar uma pessoa que trabalhava com kirigami, origami e quando eu fui para o estúdio dela eu conheci esse material. Comprei essa máquina, também veio pelos Correios.
P/1 – Quando não é Sedex demora quanto tempo para chegar, mais ou menos?
R – Ah, eu não sei, porque eu acho que só comprei pelo Sedex, viu? Porque agora tem um E-Sedex.
P/1 – Qual que é a diferença?
R – Eu não sei qual que é a diferença, sabe? Mas sei que o preço é bem mais barato. Por exemplo, Sedex normal custa, sei lá 15 e o E-Sedex custa sete e aquele outro normal custa um pouco mais caro, dez, uma coisa assim. Então, eu escolhi o E-Sedex, deve ser uma coisa nova para quem compra pela internet, não? Nem procurei saber, vi que já era sugerido o E-Sedex para você receber.
P/1 – E já virou um hábito, então, comprar pela internet?
R – Ah, virou, um hábito mesmo. Meu marido também tem comprado muita coisa, canivete suíço ele compra... Ele fica escolhendo vários modelos pela internet, é o tipo da coisa que você não precisa experimentar. Não sei se tem gente que compra roupa ultimamente, assim, pela internet, mas acho que tem gente que compra roupa pela internet, porque eles dão toda uma facilidade, você pode trocar e não sei que. Então, essa coisa de compra pela internet, nossa, eu acho que os Correios têm correr muito atrás dessa tendência. Dizem, eu ouvi dizer que no Japão, essa tendência de não sair de casa para comprar coisas é tão grande que as lojas estão fechando e você compra tudo pela internet lá. Eu perguntei para essa menina: “Mas, então, as lojas todas estão virando restaurantes?” “Não, nem restaurantes não precisa, você pede tudo delivery”. Nossa, então, tá virando uma tristeza ali, não vai ter mais lojinha, o charme do Japão são as lojinhas.
P/1 – E você escolheu, você começou a comprar pela internet por que é mais barato? Por que você mora numa lugar que um pouco longe? Por que é que você optou comprar pela internet?
R – Eu acho que pela internet você consegue realmente umas opções melhores do que você ficar batendo perna em loja, assim. Porque as lojas hoje viraram um grande show room. Você vai numa loja para ver como funciona, como é que é, como é que você mexe, tal. Aliás, nem precisa, só se você quiser realmente mexer, tocar, mas como funciona, o que é que tem dentro dessa máquina, você vê tudo pela internet, assim.
P/1 – Tem algum tipo de produto que você compra mais pela internet?
R – Eu acho que mais equipamentos mesmo. É, mais equipamento. Coisas pessoais, assim, não tenho comprado muito pela internet, não.
P/1 – E você conhece o carteiro que entrega os seus produtos?
R – Pois é, infelizmente eu não conheço o carteiro, viu? Eu, assim, ele passa numas horas (risos) que eu não estou lá, dificilmente eu vou lá na frente assinar, porque tem o caseiro, ele que vai lá e assina para receber e tal. Está sendo difícil eu ir até o portão, que tem mais ou menos quantos metros ali? Acho que deve ter uns 40 metros até o portão. Porque é um sítio.
P/1 – Ele que pega?
R – É o caseiro, ele que está ali, ele recebe.
P/1 – Entendi. Então, a entrega dos produtos não afeta muito a sua rotina, assim. Como que é?
R – A entrega dos produtos? Não, uma vez eu fui receber, quando que foi? Não sei o quê que eu fui receber lá na frente, não sei se foi a cadeira, até conversei um pouco, eu não conhecia, mas eu conheci naquela hora, não me lembro dele e eu vi que ele veio com uma vanzinha, assim, pequena e eu vi que estava cheio de produto ali para ele entregar. Aí, eu estava curiosa, comecei a conversar com ele, falei assim: “Nossa, você deve estar trabalhando muito, agora, porque todo mundo deve estar comprando coisa pela internet”. Ele falou: “ôh!”, sabe, assim? “Nossa, essas lojas vão acabar”, sabe? (risos) “Nossa, daqui para frente vai ser assim, tudo pelos Correios”, ele falou.
P/1 – Os Correios chegam na sua casa mais ou menos quantas vezes por semana?
R – Ele deve passar todo dia, viu? Porque se não é objeto que eu compro, são as correspondências, têm muitas correspondências, assim, revistas que eu assino, tudo pelo... Revistas que eu assino nem sei se é pelos Correios. Deve ser. Não sei. Nem sei quem é que traz. E, aí, a gente tem uma caixinha de cartas e lá eles colocam tudo lá, revistas e tal. A revista agora, na verdade, eu estou evitando assinar revistas físicas. Estou querendo mais revistas, porque junta muito papel e tal. Mas correspondência de banco também, acho que está tendendo a sumir. Agora a gente está substituindo por outras coisas, acho que os Correios estão sendo substituídos na função deles também. Acho que carta deve ser muito pouco o que eles carregam agora.
P/1 – Me conta um pouquinho da sua vida. Como é que você conheceu o seu marido? Você é casada?
R – Então, é como eu te falei, não oficialmente casada, mas eu vivo com ele mais de dez anos.
P/1 – Como vocês se conheceram?
R – Então, a gente se conheceu no trabalho também. Eu fiquei impressionada com o trabalho dele e acho que ele deve ter ficado impressionado com o tipo de trabalho...
P/1 – O que ele faz?
R – Ele fez Artes Plásticas na verdade, na FAAP, a formação dele. E quando eu o conheci, ele tinha um portfólio de efeitos especiais, assim. Então, ele fazia mock ups, fazia maquetes. Na verdade, ele mexe com tudo, com serralheria, com marcenaria, mexe com resina, mexe com todo quanto é material menos papel, assim. Eu só mexo com papel.
P/1 – Complemento...
R – É. Acho que é (risos). E, aí, eu vi o portfólio dele, nossa, eu me impressionei. Eu pedi para ele para fazer um trabalho que eu tinha como encomenda, era fazer um trabalho da Pullman, era para reproduzir um pão em resina, tal, e ele fez esse trabalho para mim, eu, na verdade, terceirizei para ele. Aí, foi assim, conhecendo através do trabalho, a gente foi andar no Ibirapuera juntos, tal, aí aconteceu da gente ter essa afinidade. A minha cunhada falou assim: “Se foi o trabalho que atraiu, então, você não queria um namorado, você queria um sócio” (risos). A minha vida eu sempre fui, acho que eu busquei sempre uma pessoa com quem eu pudesse ter uma afinidade de trabalho mesmo, porque o trabalho sempre foi o meu foco, a coisa central da minha vida. Então, eu escolhi ele pelo fato dele trabalhar com aquelas coisas mesmo.
P/1 – Pela admiração do trabalho.
R – É, se você não tem uma admiração pelo o que ele faz acho que para mim não rola muito.
P/1 – Vocês trabalham juntos ainda?
R – Ainda. Quer dizer, não juntos, assim, porque ele faz uma coisa e eu faço outra. Mas é essa coisa de complementar mesmo.
P/1 – Vocês têm estúdio lá no sítio?
R – Temos, é. Ele tem um estúdio tipo que tem umas máquinas pesadas, serras, vários tipos de equipamentos, embaixo. E eu estou na parte de cima, subindo o morrinho tem uma casa ali que eu abri tipo um ateliê, faço as coisas lá. Mas eu fico mais sentada no computador mesmo, desenhando e tal. Aí, ele fica lá na parte mais pesada, assim.
P/1 – Vocês tiveram filhos?
R – Não. Ele já tinha. Já tinha dois filhos e eu conheci eles pequenos ainda e hoje eles já estão, nossa, os dois estão já, um está saindo da faculdade, o outro acabou de entrar, e tal.
P/1 – Moram com você?
R – Não, eles moram cada um com a sua mãe. Os dois são de mães diferentes.
P/1 – E como que é a sua rotina, como é que é o seu sítio?
R – O sítio, nossa, é bem legal. Ele é um morro, assim, ele tem uma vista maravilhosa. Só de verde, assim. E onde eu estou agora, na parte de cima, estou no meio das árvores, tanto é que o lugar é meio úmido, assim, para papel não é o ideal. Quando chove muito fica bem úmido, mas é ótimo ficar lá, porque você fica cercada de árvores, assim. Eu sinto um pouco de falta de sol batendo, mas o visual é bem legal.
P/1 – De tanta árvore?
R – De tanta árvore que tem. Você pelo Google nem enxerga a casa que tem lá embaixo, porque tá cheio de árvores lá.
P/1 – Como é que é a sua rotina?
R – Aí, a minha rotina é acordar de manhã, tomar um café, subir o morro com duas malinhas lá que eu subo e desço com as malinhas, porque eu preciso levar uma lanterna, que à noite eu volto e tenho que usar uma lanterna para descer, que é um breu.
P/1 – Para ir para o ateliê?
R – Para ir para o meu ateliê e voltar do meu ateliê.
P/1 – Você volta todo dia com a lanterna?
R – Volto, todo dia com lanterna, se não você não enxerga nada. Eu apago todas as luzes, eu deixo totalmente escuro para não ter perigo de alguém, sei lá, subir, e desço com a lanterna. Tem que levar na bolsinha o guarda-chuva, que se chover eu tenho que descer de guarda-chuva (risos). Levo um lanchinho para eu tomar à tarde lá, de repente. A bolsa, o celular, levo um monte de coisa lá para cima, depois eu desço, como se eu saísse para trabalhar depois eu volto na hora do almoço.
P/1 – Pela floresta?
R – É, pela floresta, mais ou menos (risos).
P/1 – E quais são as coisas mais importantes para você hoje?
R – As coisas? Nossa, que boa pergunta, nossa, é uma pergunta muito (risos) difícil de responder. A coisa mais importante para mim... Nossa. Fala você primeiro, o que é que é mais importante para você (risos)! Nossa, o que é mais importante para mim?
P/1 – Eu vou perguntar outra coisa aí você vai pensando, tá? O que você faz nas suas horas de lazer? O que você gosta? Que seu trabalho eu imagino que seja bem lúdico já, assim. Mexer com arte, desenho. Para você esquecer do trabalho, o que você gosta de fazer?
R – Eu acho que eu gosto de pensar em novos negócios (risos). Eu gosto de pensar em alguma coisa que não tem nada a ver com a criação em si, assim. Eu tenho que estar sempre, o tempo todo, pensando em criação. Criar, criar e tal. E, às vezes, eu fico pensando em algum outro negócio. Então, outro dia mesmo a gente foi para feira de franquia. A gente sempre pensa, na verdade, em mudar a situação atual que a gente tá. Então, como seria, de repente, mudar para uma outra cidade, de repente mais para o interior, para Botucatu, por exemplo, que os pais do meu marido moram lá.
P/1 – Qual que é o nome do seu marido?
R – Nelson. Ah, então, uma coisa assim curiosa. O meu nome é Leila Nishi. Nishi em japonês significa Oeste e o nome do Nelson é Nelson Igashi. Igashi significa Leste. Tudo mundo que ouve essa história, assim, acha nossa que coincidência e tal. Porque eu morava na Zona Leste, Tatuapé e tal e ele sempre morou na Zona Oeste (risos). Eu tive uma empresa que se chamava Espaço Oeste e ele Espaço... Espaço, esqueci, espaço alguma nome lá. Tinha mais algumas coisas de coincidência de leste e oeste, assim.
P/1 – Vocês foram descobrindo essas coincidências? Como é que foi?
R – Hum, é, não, foi bem no começo mesmo, assim.
P/1 – No começo?
R – É. Então, eu até brinquei, eu lembro que brinquei: “Nossa, se eu me casasse com você eu ia ser leste/oeste” (risos). Ele teve um filho só, que era o meu pai. Meu pai só teve meninas, então, ninguém seguiria esse nome, Nishi. Eu não tenho filhos, eu não tenho para quem deixar o nome. A minha irmã se casou com um marido e ela colocou o Nishi no nome do meio do filho, mas vai perder.
P/1 – Mas não vai ter mais Nishi, é isso?
R – Eu acho que não. Acho que não tem mais Nishi, não, porque meu avô era filho único.
P/1 – Entendi. Então, me fala um pouquinho como que receber essas cartas, essas encomendas, como que isso marcou a sua vida, a sua trajetória. Você consegue me explicar?
R – Eu acho que teve uma época que a carta era muito importante para mim, assim, que eu tenho na verdade uma pasta lotada de cartas que eu não jogo fora. Quando eu tinha quantos anos, mais ou menos? Eu acho que uns 30 anos, eu namorei uma pessoa e ela foi para o Japão, aquela coisa dekassegui, tal. A gente se correspondia muito, assim, durante dois anos a gente se correspondeu. Então, eu tenho cartas de dois anos, assim, guardadas. Aquela época foi uma coisa assim, de você esperar realmente o carteiro. E de você mandar muitas cartas também, porque ele também deve ter lá um monte de cartas minhas e tal.
P/1 – Como é que era esperar essa carta?
R – Eu acho que a gente se acostuma com o ritmo, dessa carta que vai e a gente imagina que ele tá recebendo agora, imagina que ele vai escrever, vai demorar tanto tempo e depois ele vai postar, vai demorar tanto tempo. Então, a gente imagina todo esse percurso, o tempo vai passando e você vai vivendo no ritmo das cartas, das idas e vindas.
P/1 – Por que é que você guardou as cartas?
R – Ah, eu acho que uma coisa que a pessoa escreve assim, sabe, que você manifesta uma coisa daquele momento, dizendo coisas que ele está passando e tal, não é uma coisa de jogar fora, eu acho. Hoje em dia, não, hoje você joga fora na boa, qualquer coisa de e-mail, joga caixa de e-mail inteirinho fora, deleta tudo. Eu tenho um pouco de dó de jogar essas coisas, mesmo dos e-mails, fora. Eu guardo muito e-mail, que nem utilizo. Mas essa coisa de jogar o que a pessoa escreveu fora eu não acho muito legal, assim. Tudo o que a pessoa escreve eu normalmente guardo. Não é por nada, eu não sei, acho que é meio por pena mesmo, eu tenho pena de jogar o que uma pessoa escreveu. O que uma pessoa desenhou, não, desenhou eu não tenho tanta pena (risos), eu jogo fora, mas o que a pessoa escreveu dá a impressão que vale mais, assim.
P/1 – Tem alguma coisa com a palavra...
R – Com a palavra, com essa coisa da escrita mesmo, das letras ali que a pessoa escreveu com uma caneta e com a cabeça dela e tal, que ficou ali, gravado. Então eu não sei, dá a impressão que tem mais valor, não sei.
P/1 – E você tem sonhos?
R – Então, eu acabei na verdade de realizar um sonho que eu tinha há muito tempo que é conhecer Paris. Eu tinha o maior sonho de conhecer Paris e a gente acabou indo numa excursão com todos os parentes do Nelson, e, aí, a gente conheceu Paris muito correndo, assim, no meio de tantas outras cidades que a gente conheceu, então, eu não senti que conheci Paris, não era aquele...
P/1 – Você ficou quanto tempo?
R – Ah, muito pouco tempo, acho que três dias. Três dias em Paris, só. E foi uma correria tão grande, assim, que é uma coisa de pacote, uma coisa de um monte de gente, um ônibus, 30 pessoas andando juntas ali por Amsterdã, Paris, Londres e tal. Foi uma excursão mesmo. Então, eu não senti Paris como eu gostaria de ter sentido, assim. Foi um sonho, uma imaginação ali que não bateu, meio que... É, não bateu, não foi a mesma coisa que eu pensei. É bonito, eu vi Torre Eiffel, eu vi várias coisas de Paris, mas não era o que eu imaginava.
P/1 – Quais são as coisas mais importantes para a sua vida, hoje?
R – As coisas mais importantes para minha vida. Olha, eu acho que a coisa mais importante para minha vida é poder continuar, eu sei que a partir de uma certa idade, principalmente, da menopausa, assim, eu senti uma grande diferença, que eu sempre achei que eu podia tudo, que eu nunca ia ficar doente e o que eu sempre quis aprender, na verdade seguia toda a receita de uma pessoa que está sempre dinâmica, trabalhando, eu nunca quis deixar de trabalhar, sempre gostei, sempre busco e tal. Agora, a parte física, você nota uma grande diferença mesmo depois de uma certa idade, na menopausa, principalmente, você sente o seu organismo mudar completamente. Até onde será que o meu corpo vai poder me segurar? E até onde será que eu vou conseguir ir? Eu acho que também porque alguns anos atrás, uns quatro anos atrás, eu tive um infarto de repente. Eu sempre achei que o meu coração fosse perfeito, eu falava: “Nossa, meu coração é perfeito. Se é um órgão que eu tenho perfeito é o coração”. Mas eu fumava muito, aí, eu tive um infarto, um pequeno infarto, mas era um infarto de verdade, assim, que eu tive e larguei o cigarro. E, aí, foi um susto, assim, foi um marco na minha vida que eu achei que não era toda essa saúde que eu achava que eu tinha, e que a qualquer momento você pode bater as botas mesmo. Isso até foi um alívio, assim, para mim, porque o que mais me preocupa é de repente começar a ficar debilitada, assim, de cabeça e tal e não poder, e ficar dependente de alguém, por exemplo. Essa questão do infarto, eu acho que, ao mesmo tempo que eu levei um susto, foi até uma surpresa até que boa, que morrer desse jeito deve ser a coisa mais tranquila que existe, porque a dor que eu senti no infarto é uma dor tranquila, assim, é uma dor que dá para suportar, tranquilamente. E se eu aguentasse mais, que é uma dor totalmente suportável, se eu ficasse suportando, suportando, eu podia morrer de repente, e é uma morte, eu acho, uma morte legal, assim, do coração. Então, eu acho que até foi uma surpresa boa, que eu posso morrer assim a qualquer momento. Não preciso me preocupar tanto, de repente, com o futuro muito lá longe, 90 anos, 80 anos, sei lá, que não é o que eu gostaria.
P/1 – E o que é que você acha desse projeto de resgatar a história de cartas, encomendas, telegramas, os serviços dos Correios? Como é que você vê esse projeto?
R – Ah, eu acho uma coisa que tem que ser lembrada mesmo, o tempo todo, porque isso pode ser que suma um dia. O mundo está mudando tanto, e essa coisa do ritmo que eu falei, das cartas. Eu não sei se era uma coisa legal, eu não sei se é mais legal hoje, eu não sei. Só sei que foi uma coisa boa essa sensação de esperar a carta, de você imaginar como está sendo lido, imaginar como está sendo escrita, isso demorar uma semana, depois para chegar; é um outro ritmo, assim. E você fica muito mais... Na hora que você vai escrever uma carta, assim, que você vai ter uma semana ainda para pessoa ler e é uma coisa que você pode refletir mais, você escreve coisas não tão automáticas, não tão corriqueiras, como twittar, alguma coisa, assim, muito rápida. Você tem que refletir muito mais, você tem que pensar muito mais sobre a vida, assim como essa pergunta que você fez: “o que você espera da vida”, “O que você quer da vida?”, você tem a chance de refletir muito mais numa carta longa que demora uma semana do que você escrever um e-mail, é um outro espírito, assim, tem muito mais chance de refletir. Agora, é, faz tempo que eu não faço isso, porque faz tempo que eu não escrevo uma carta. No e-mail você não tem esse, não consigo escrever um e-mail longo a respeito da minha vida para alguém. Então, eu acho que essa oportunidade de refletir sobre esses Correios, sobre contar a minha vida, eu acho legal.
P/1 – O que é que você achou de ter contado a sua história?
R – Eu achei bem legal, achei bem legal. Estou quase emocionada, assim, (risos) mas espero não passar disso.
P/1 – Pode ficar! Tem uma coisa que você queira acrescentar, que seja importante e eu não tenha perguntado?
R – Ah, eu acho que você perguntou mais do que eu posso imaginar, assim, mais do que eu possa falar.
P/1 – Então, Leila em nome do Museu da Pessoa, a gente agradece a sua entrevista.
R – Eu que agradeço, muito obrigada.
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