Identificação Meu nome todo é Isabel Germano, feliz Isabel Germano.
Eu não sou daqui, não, sou de fora, sou lá do Paraná.
Nascida e criada lá.
Vim pra aqui (Viçosa) no ano de 1930 e eu sou nascida no ano de 1912, 16 de junho.
É triste, não é? Andei pro mundo muito e tô aqui graças à Deus Origem Meu pai morreu com 40 anos, Antônio Germano da Costa, e minha mãe, Maria Francisca da Conceição.
A terra do meu pai é Ervália, pra lá de Cajuri.
Infância/Adolescência Lá no Paraná, a turca, minha madrinha de batizado, me roubou e me levou ainda pequena pra Turquia.
Fiquei com eles 12 anos.
Trabalhei na casa dela, ela gostava muito de mim.
Fiquei com ela na Turquia muitos anos.
A filha dela que nasceu lá, que eu fiquei com ela lá, já casou, já morreu também.
Pra todo lado que ela (madrinha) ia, ela me levava.
Eu tomava conta dos meninos, ajudava a fazer charuto, quibe.
Não gostava de morar lá, não.
Não podia nem sair no portão, que tinha um guarda que ficava me tentando.
Ele era bonito.
Eles falam que, quando eu era mais nova, eu era muito engraçadinha.
Depois de 12 anos, aconteceu um caso lá e eu pedi pra vir embora pra Minas.
Voltei e tô aqui até hoje.
Eu vim pra cá com a turca com a idade de 16 anos.
Voltei pra casa do meu pai.
Aconteceu uma coisa, sabe, uma coisa que acontece, né? Eu era muito criança e meu pai não me quis em casa mais.
Fiquei andando pro mundo e andando pro mundo eu tô.
Educação Eu não sei assinar meu nome, não sei nada, não conheço número de nada.
Já trabalhei pra todo lado, não sei nada, graças à Deus Viçosa Vim aqui pra cidade na revolução do doutor Arthur Bernardes.
Na revolução, vim embora com a turma, que foi lá pro Araponga fazer a revolta lá.
Tô aqui desde a revolução.
Ajudei a criar... Continuar leitura
Identificação
Meu nome todo é Isabel Germano, feliz Isabel Germano.
Eu não sou daqui, não, sou de fora, sou lá do Paraná.
Nascida e criada lá.
Vim pra aqui (Viçosa) no ano de 1930 e eu sou nascida no ano de 1912, 16 de junho.
É triste, não é? Andei pro mundo muito e tô aqui graças à Deus
Origem
Meu pai morreu com 40 anos, Antônio Germano da Costa, e minha mãe, Maria Francisca da Conceição.
A terra do meu pai é Ervália, pra lá de Cajuri.
Infância/Adolescência
Lá no Paraná, a turca, minha madrinha de batizado, me roubou e me levou ainda pequena pra Turquia.
Fiquei com eles 12 anos.
Trabalhei na casa dela, ela gostava muito de mim.
Fiquei com ela na Turquia muitos anos.
A filha dela que nasceu lá, que eu fiquei com ela lá, já casou, já morreu também.
Pra todo lado que ela (madrinha) ia, ela me levava.
Eu tomava conta dos meninos, ajudava a fazer charuto, quibe.
Não gostava de morar lá, não.
Não podia nem sair no portão, que tinha um guarda que ficava me tentando.
Ele era bonito.
Eles falam que, quando eu era mais nova, eu era muito engraçadinha.
Depois de 12 anos, aconteceu um caso lá e eu pedi pra vir embora pra Minas.
Voltei e tô aqui até hoje.
Eu vim pra cá com a turca com a idade de 16 anos.
Voltei pra casa do meu pai.
Aconteceu uma coisa, sabe, uma coisa que acontece, né? Eu era muito criança e meu pai não me quis em casa mais.
Fiquei andando pro mundo e andando pro mundo eu tô.
Educação
Eu não sei assinar meu nome, não sei nada, não conheço número de nada.
Já trabalhei pra todo lado, não sei nada, graças à Deus
Viçosa
Vim aqui pra cidade na revolução do doutor Arthur Bernardes.
Na revolução, vim embora com a turma, que foi lá pro Araponga fazer a revolta lá.
Tô aqui desde a revolução.
Ajudei a criar família aqui.
As famílias, todo mundo já morreu.
Tô aí.
Trabalhei, minha filha.
Quando eu vim pra aqui, pra esse bairro, não morei aqui nesse lugar, não.
Morei lá pra praça, lá pra aquelas rua de lá, Rua da Conceição, na praça.
Conheço tudo aquelas rua, conheço na Rua Dona Gertrudes, na Rua Santana, na Rua Santa Clara, no bairro de Fátima.
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Nossa Senhora Ih.
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Viçosa mudou muito, não tinha nada aqui em Viçosa.
Depois que eu vim pra aqui, que melhorou esta cidade.
Não tinha a Rua dos Passos, não tinha o bairro de Fátima, tinha só a Rua Seca, a Rua da Conceição, o bairro de Lourdes.
Isso aqui tudo era pasto, da Rua dos Passos pra cá tudo era pasto.
De uns 30 anos pra cá que melhorou.
Essas coisas de Arthur Bernardes eu não tô muito a par, não.
Eu não conheci ele, não, só aquela estátua dele lá.
Casamento/Filhos
Casei com 48 anos de idade.
Casei com um viúvo, o viúvo morreu.
Já tinha batido cabeça pra todo lado, todo lado, todo lado Vim parar aqui, achei um viúvo aí, empregado de Tavinho Bernardes, filho do doutor Arthur.
Casei com ele, Zé Vitalino Martins, por causa disso que eles falam Maria Vitalino.
Ele já morreu também, coitado.
Ele era muito bonzinho pra mim.
Morreu, fiquei viúva.
Já tem mais de 30 anos que eu sou viúva, minha filha.
Tive três filhos, casada com o primeiro marido.
O primeiro marido não foi marido não, foi juntado.
Sabe como é que é? Eu posso falar com vocês.
Casei assim.
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pra lá, na polícia.
“Vou casar vocês dois, depois vocês casam outra vez.
” Depois ele morreu e eu fiquei aqui em Viçosa, casei aqui em Viçosa com o empregado do doutor Arthur.
Os meninos morreram.
Todos os três menininhos morreram.
Morreu assim, menina, eu trabalhando, carregando comida pra esse marido meu que morreu agora, que morreu já tem 30 anos, 31 anos, carregando comida pra ele de lá da cidade aqui na roça, no campo de aviação.
Ele só deu aquele suspiro e morreu.
Quando passou um mês, o outro morreu.
A menina morreu queimada.
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queimada na casa dos outros.
Trabalhando pros outros, deixei a menina com outra família, a outra família queimou ela.
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Bati cabeça, bati cabeça e tô acabando com Deus e Nossa Senhora aqui na minha casa.
A primeira filha minha, eu posso falar, é verdade, foi do delegado.
Do tal do Silvério Vitareli, pai daquele fazedor de urna, você conhece? Lá perto do cemitério Dom Viçoso? O lugar é naquela casa grande, na esquina de (Cabo Thomás?), que tinha um salão de beleza, você lembra? Não tem a Rua Gomes Barbosa? É naquela rua ali.
Do lado de cá, assim, é que ele morava.
Ele que me jogou na rua aí.
Jogou, mas foi bom ter jogado.
Foi bom que ele tomou conta de mim desde que eu falei que tava.
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Ele era polícia e perguntava como é que tava as coisa.
Eu falava assim: as coisa tá parada.
“Pode ficar parada que eu tomo conta.
” (risos) Você compreende, né? O negócio tá parado, o negócio parou, hein? Todo mês eu ia no médico e ele não falava nada, falava que eu tava segurando.
O patrão falando assim: “Não dá remédio pra soltar fora, não, dá remédio pra poder ficar, pra nós ver a cara dele.
” Ih, boba, depois todo mundo ficou falando, perguntando de quem que era e eu falava que era dele.
Deram baixa nele e ele foi embora trabalhar em BH Queria me levar, mas eu não quis ir.
Não vou acompanhar ninguém, não.
Ele era casado, né? Não vou acompanhar você, não.
Você arranje outra.
Ele levou a cozinheira dele, ela era bonita, ele levou.
Quando nasceu, eu passei um telegrama pra ele vim cá.
“É minha mesmo, é nosso sangue mesmo.
” Ele arrumou tudo direitinho, registrou ela como filha legítima de Silvério e Maria.
A menina chamava Maria Luzia Vitareli.
Registrou com o nome dele.
“É minha mesmo, eu vou tomar conta de você.
” Pagou 12 meses de aluguel de casa pra mim, deu de tudo o que eu precisava Tinha uma venda ali perto da igreja, uma loja, mandou pegar as coisas que precisava.
Todo mês ele mandava dinheiro e compra, dinheiro e compra.
Ele me deixou confortada, mas as má companhia foi acabando com os meus trem, acabando com as minhas coisa.
O pessoal daqui fala: “É, Maria, você podia tá bem, né?” Eu podia tá bem, mas as má companhia fizeram eu dar a menina pros outro, eu dei a menina pros outros e a menina morreu na casa dos outro.
Religião
Eu rezo.
Faço minhas orações dentro de casa pros santo, pro meu anjo de guarda.
Acendo vela pro meu anjo de guarda tomar conta, firmar meu anjo de guarda.
Ah.
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graças à Deus não faço nada demais, não brigo, não gosto de discussão.
Eu vou pras festa aí Lá pro Arucana, Montes Claros.
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Lá pra Aparecida do Norte, todos os anos eu vou Três dias, minha filha.
A gente vai assim como hoje, amanhã fica lá e à noite vem embora.
Trajetória Profissional
Trabalhei na roça com fazendeiro, fui empregada de fazendeiro.
Carregava comida na cabeça, um tabuleiro, um caixote na cabeça com quatro vasilha de comida, numa altura imensa.
Já tive trabalhando em São Paulo, já tive empregada no Rio de Janeiro com família.
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Trabalhava, assim, na cozinha, arrumar casa, fazer faxina.
Já trabalhei em hotel.
Ih Já trabalhei muito Por causa disso que eu fico sossegada agora.
Ajudei a criar família.
Esse padre aí, eu fui babá dele, o Cônego José Geraldo.
Já trabalhei pra padre (Iago?), padre Carlos.
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Viçosa – Primeiro eu fui empregada na casa do delegado.
Ele tava pagando muito pouco e eu saí da casa dele.
Aí eu peguei pra trabalhar nas casa.
Trabalhar nas casa pra ganhar nem 5 mil réis por mês.
Comecei a ganhar 4 mil réis aqui em Viçosa por mês, depois passou a 5, de 5 passou a 10, de 10 passou a 15 e de 15 foi passando.
Cada casa que eu passava, eu saía ganhando pouco.
Fui empregada lá perto da igreja muitos anos.
Trabalhava pra cozinhar, lavar, passar, arrumar casa.
As patroas minha já morreu tudo.
Lavei roupa no bairro de Fátima, no bairro de Lourdes, nesses bairros tudo, na praça, aqui perto da prefeitura.
Eu lavei roupa pra um estudante três anos.
Eu gostava dele e ele gostava de mim.
Um estudante novinho, bonitinho, assanhadinho.
E não sou sossegada, sou assanhada também A gente ficava batendo um papo legal.
Não quero trabalhar mais, não, minha pensãozinha dá pra mim.
Um salarinho dá pra comer, beber e vestir, tá bom.
Não tenho paixão por nada mais nesse mundo.
Agora minha idade tá avançada, 94 ano, eu não faço mais nada.
Nossa Senhora, minha filha, não quero mais nada, não.
Eu tô só por conta de Deus agora.
A hora que Deus quiser me chamar.
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Diversão
Eu vou nesses baile aí e as outras ficam só assim: “Creio em Deus Pai Como é que Maria dança mais do que nós?” Eu danço muito mais do que as outras Sento lá na mesa, tomo uma cerveja, cerveja não, não gosto de cerveja, não.
Não gosto de cerveja, não gosto de fumar, não gosto de beber pinga.
Ah.
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uma garrafinha de coca-cola, um guaraná, uma batida de coco, aquilo é pra esquentar a gente, pra gente voar mesmo.
A gente pega um cigarrinho, dá duas fumaças pra cima, joga o cigarro pra lá e cai no baile
Tipo de música? Só não gosto é de lambada.
Você conhece lambada? Não gosto daquilo, não.
Não gosto de lambada.
Não gosto de.
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como é que chama aquele outro? Não gosto de samba, não gosto de mazurca, eu gosto é só de forró Ih, minha filha, um forró.
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Não gosto de valsa, não gosto de muitas coisas, não.
É só isso, tendo um forró bem gostoso, aquilo é que é comigo, um forró agarrado, agarradão
De vez em quando arranjo uns namorado aí, mas eu não quero mais não (risos) Só pra fazer hora, né? Pra fazer hora a gente senta uma hora aí, com um cara aí, conversa um pouco, bate um papinho legal e vai embora.
(risos)
Casa
Meu marido faleceu, eu morava lá na roça, lá perto do campo de aviação.
Esse patrão, Antônio Lopes, foi obrigado a fazer esta casa e me dar.
Na rua eu não podia ficar.
Ele fez a casa sem piso, sem nada.
Eu pus esse piso grosso, feio, esse cimento grosso até arrumar.
Nem embolsado, só entijolado.
Nem passou cal por fora.
Isso tudo eu que mandei arrumar depois.
Mandei fazer uma fossa ali.
Não tinha banheiro aqui, não.
Mandei fazer tudo.
Só não tem é chuveiro ainda, mas o vaso já tá funcionando.
Eu não tenho medo de morar sozinha, não.
Porta-retrato
Você não vai achar que é eu.
Ele caiu e quebrou (porta-retrato com a fotografia dela entre o irmão e o ex-namorado).
Quando eu tava com 40 anos.
Esse daqui é meu ex e esse outro aqui é meu irmão, que trabalhou junto com ele no Rio de Janeiro.
Esse daqui é meu irmão de verdade, de pai e mãe.
Minha mãe era mais clara e o meu pai, escuro.
E eu saí escura assim.
Eu só tenho um irmão, que é esse daqui.
Nem esse daqui.
Mataram esse meu irmão em São Paulo por causa de um acordeom que ele comprou.
Foi tocar numa festa e os outro atocaiou ele no caminho e matou ele.
Tem um cara aí que falou que se ele fosse solteiro, ele não casava com moça nenhuma, ele ia casar era comigo.
Esse daqui (ex-namorado) morreu apaixonado por causa de mim.
Ele morreu afogado lá na universidade.
Bebeu tanto que morreu afogado.
Todos os dois parece, não parece? O de cá (ex-namorado) era gostosinho, bigodinho.
(risos) Eu gostava muito dele e ele também gostava muito de mim, boba.
Dia-a-dia
Eu não gosto de levantar cedo, não.
Eu gosto de levantar, assim, às sete, oito.
Quando eu tava trabalhando, eu levantada cedo, mas agora não.
Eu tô levantando mais cedo um pouco, porque ela tá fazendo um curativo pra mim no dedo.
Eu cismei de fazer o curativo e queimei, o remédio queima muito.
Eu não sei o que que é.
É cravo, é um trem que dá na raiz do pé.
Durante o dia, eu não faço nada, não.
Eu lavo roupa, varro o terreiro, arrumo casa, jogo água aqui na casa.
- Aqui na vizinhança parece que todo mundo gosta muito da senhora.
Todo mundo gosta, minha filha, mas metade é fingimento.
Falsidade aqui anda a cavalo Falsidade anda a cavalo, no burrinho marchador.
Não sei o que é que eu vim fazer nesse morro enganador, nesse morro enganador, meu filho Aqui o pessoal conversa assim: “Mata ela, mata ela, mata ela” Vocês não sabem de nada, minha filha.
“Mata ela, mata ela mesmo Morreu, acabou.
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morreu, acabou.
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”
Não gosto de assistir televisão, não.
Minha cabeça não dá pra assistir muitas coisa, não.
Vejo muito desastre, muito acidente e fico impressionada.
Não gosto de vê, não.
Rádio eu tenho, tenho um radinho aí.
Ele é muito feio e muito ruim.
Pega a pilha, pega a luz.
Eu sofro um bocado da vista.
Não guardei resguardo de criança, trabalhava na chuva, fazendo as coisas tudo, assim, na fumaça, quando torrava café.
Mas graças à Deus.
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Eu enfio agulha ainda.
Fica fazendo catarata.
A pessoa falou que se eu quiser fazer exame de vista, eu podia, mas a gente já tá de idade, né? Se precisar consertar alguma roupa, pregar botão.
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eu faço.
Só não enfio a linha preta e linha vermelha também não.
A linha branca eu ainda enfio na agulha.
Umas agulhona grossa assim.
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Igual essa aqui, eu enfio.
Eu tenho de tudo aqui, tenho cordão, batom.
Esmalte eu não ligo, não, eu gosto é de usar pulseira, pulseira fina, assim.
Eu ganho muito as coisa.
Eu gosto de tudo.
Eu gosto de vaidade.
Eu gosto de conversar direito, falar certo.
Antes falar certo do que nada.
Eu não quebro cabeça mais, não.
Se eu contar toda minha vida pra vocês, vocês choram.
Não pode contar, não.
Minha cabeça já bateu tanto que agora sossegou.
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