Projeto Memórias do Comércio de Ribeirão Preto 2020-2021
Entrevista de Jair Massaro
Entrevistado por Cláudia Leonor e Ana Eliza Barreiro
Ribeirão Preto, 22 de abril de 2021
Entrevista MC_HV059
Transcrita por Selma Paiva
Transcrita por Selma Paiva
Conferida por Ana Eliza Barreiro
P1: Então, ‘seu’ Jair, obrigada por o senhor está aqui com a gente hoje, aceito o convite da entrevista. E aí eu vou perguntar, primeiro, o nome completo do senhor, se eu não falei algum nome, o local e a data de nascimento.
R1: Jair Massaro. Jair Massaro, 30 de novembro de 1953.
P1: E que cidade, ‘seu’ Jair?
R1: Ribeirão Preto.
P1: Ribeirão?
R1: Ribeirão Preto.
P1: Maravilha. E, ‘seu’ Jair, o nome dos seus pais e o que eles trabalhavam?
R1: Meu pai era taxista.
P1: Ah! Tinha um carro de praça, que eles falavam?
R1: É, carro de praça.
P1: E ele trabalhava... ele tinha um ponto onde, ‘seu’ Jair?
R1: Rodoviária.
P1: Que é bem movimentado, né?
R1: É.
P1: Ô, ‘seu’ Jair, e assim, quando o senhor era criança, que... onde o senhor morava e o que o senhor gostava, assim, de brincar, lá com a turma?
R1: Olha, a minha infância, eu morava na Rua Dois de Julho, 571. Eu brincava muito de bola na rua, mas eu queria trabalhar, não queria estudar. Então, o meu pai, sabendo disso, foi caçando um jeito de arrumar um emprego para mim, um serviço. Mas eu tinha sete para oito anos, nisso. Estava na escola, mas ele queria... eu não queria estudar de jeito nenhum e ele queria que eu trabalhava, então. E eu comecei a...
P1: É? E por que o senhor não queria estudar?
R1: Ah, eu fugia da escola, dava para trabalho para ele, coitado. Dava trabalho para mãe e para o pai ((Risos)). Ó...
P1: Ãhn?
R1: Aí, o que que eu fiz da minha vida? Eu pensei comigo: "Como eu não quero estudar, eu vou aprender alguma coisa". Eu era moleque, criança ainda, né? Aí meu pai me arrumou um serviço na alfaiataria. Alfaiataria. A alfaiataria, eu comecei a trabalhar e eu fiquei um mês lá. Só que, cada vez que eu chegava em casa, os meus amigos mexiam comigo, falava: “Isso daí é serviço de mulher”. Alfaiataria, como chuleava... primeiro que tinha muito terno, né? E eles precisavam de uma pessoa e eu estava lá, trabalhando com isso. Aí eu fiquei desarrumado, porque começou todo mundo... as crianças brincavam comigo: "Ah, isso aí é serviço de mulher. É serviço de mulher". Aí, apareceu um rapaz lá e perguntou se eu queria trabalhar com ele. Como a gente não tomava atitude nenhuma, quem tomava era os pais, de primeiro, né, ele pegou... eu peguei e falei para ele: "Ó, você tem que falar com o meu pai. Ele trabalha lá no táxi, lá embaixo". E dei o nome dele. E ele foi lá e falou com o meu pai. E nesse que ele falou com meu pai, ele já me colocou na... numa relojoaria. Aí, eu comecei a trabalhar para esse... chamava Antônio Conaço, a relojoaria que eu comecei. E aí, começamos... eu comecei ali. Era numa portinha muito pequenininha. Depois, nós saímos dessa porta pequena, fomos trabalhar de baixo de uma escada. Isso tudo na São Sebastião. Tudo no Centro. Tudo no Centro da cidade.
P1: Ãhn.
R1: Aí eu comecei a trabalhar com ele. Ele abriu uma portinha e eu fui trabalhar para ele nessa portinha pequena aí. E fiquei com ele, assim, até meus 17 anos, com ele. Aí, quando eu fiz 17 anos, que eu fui para o Tiro de Guerra, eu falei assim: "Eu vou montar uma oficininha para mim". Aí eu fui e falei com ele. Falei: "Ó, eu estou querendo montar e tal". Aí ele pegou e falou assim: "Ai, tudo bem". Aí eu arrumei um lugar que era uma portinha, dessas portas comuns, a porta de abrir normal, como se fosse uma porta de quarto e tinha um metro por um e cinquenta.
P1: Ãhn.
R1: Aí, como eu era novo ainda, moleque, né, fui, comprei um banquinho para o freguês sentar e uma banca para eu trabalhar. Só uma banca. Isso eu tenho uma foto, disso aí. Tá? Depois a gente vai dar a foto para vocês ver.
P1: Ah, eu quero ver.
R1: Aí, esse lugar já era na Avenida Jerônimo Gonçalves. Era na avenida onde meu pai trabalhava com o táxi, que é na avenida da rodoviária, essa avenida, a Jerônimo Gonçalves. Então, eu comecei trabalhando ali. Ali, eu peguei, registrei a firma, né? Fiz uma coisa lá, que antigamente não tinha muito desse negócio de registro. Peguei, fiz um papel lá e comecei a pagar por fora, a pagar já o meu Inss. Dali, aconteceu que ela ficou muito pequena para mim, aí eu comecei a procurar algum outro lugar para eu aumentar um pouquinho, né, porque estava muito pequeno. Aí, eu ficava no 383 da Jerônimo Gonçalves e eu fui para o 327, que era um salão já maior, mais amplo. Três por três, já era um salão de comércio mesmo, já. Então, ali também eu... aí, eu comecei a trabalhar ali. Mas dali eu comecei a pegar as crianças, menino que nem eu, assim, que eu comecei novinho, eu pegando, peguei meu sobrinho, fui pegando os meninos para trabalhar comigo. E nessa de trabalhar comigo, eles ficaram... muitos deles se tornaram relojoeiros. Tem na cidade ainda. Eles têm... depois, eles foram migrando para outro lado, porque nós passamos uma fase muito ruim do relógio, mas ainda eles eram primos, sobrinhos, aí eu fui ensinando-os. Do mesmo jeito que eu recebi, eu estava devolvendo para eles, a profissão. E aí, veio... eu já estava lá já fazia um bom tempo, assim, já fazia uns... já estava com uns 22 anos que eu já estava ali na Jerônimo Gonçalves. Aí veio uma enchente. E eu já tinha montado, com meus filhos, duas lojas. Uma loja na José Bonifácio e outra na General. Aí veio essa enchente e aí perdi tudo que tinha lá. Aí, as coisas que tinha lá foi... estragou, porque enferrujou. Então, aí eu desanimei daquele lugar. Aí eu fui para General Osório. Fui para General Osório, de onde eu comecei a... montei a loja lá. Montei a loja com meu filho na José Bonifácio, pus um filho em cada loja. Então, eu trabalhava... minha esposa trabalhava com um e eu trabalhava com o outro. Então, nós trabalhávamos separados. Depois eu peguei... dali, aconteceu mais um... veio o roubo. Me roubaram.
P1: Ixi.
R1: Comecei de novo, aí arrumei tudo de novo, ajeitei, comprei um cofre grande, tal e foi assim. Foi tudo coisa que veio acontecendo na vida. Aí, o que aconteceu? Quando eu, assim, me... estava me acertando, já estava quase para me aposentar, eu quis comprar um prédio. Mas o que aconteceu? Eu não consegui. E eu levei outra rasteira, porque o dono do prédio veio a falecer. Era um senhor muito bom, veio a falecer. E a pessoa que ficou com o prédio, passou para outra pessoa que não tinha nada a ver comigo, aí ele quis me tirar de lá a todo jeito. Aí ele começou, porque eu pagava aluguel, né? E ficava e ficou, ficou me perturbando, perturbando, perturbando, eu peguei e falei assim: "Pô, não vou aguentar mais esse cara". Era um chinês.
P1: Ixi!
R1: Aí, ele me perturbou tanto, que eu peguei e falei: "O único jeito que eu tenho é sair daqui". Aí eu passei uns dias muito mal, porque eu não queria sair mesmo, eu queria ficar lá, né? Eu queria comprar o prédio, mas não tive chance. Eles não deixaram, eles fizeram uns... porque eu tinha direito, né? Como proprietário... desde do primeiro... do proprietário que me alugou, ele foi a falecer e eu perdi essa chance, que foi cair numa mão de uma outra pessoa e essa pessoa não teve muito respeito, assim, não. Foi... vendeu para outro e acabou me tirando de lá. Não, mas isso daí foi o... esse é o... assim, é o de menos, porque aí eu tive... o meu filho, o outro filho que estava comigo, eu mandei... ainda que tem outra loja lá no Mercadão novo, que abriu aqui em Ribeirão, ele tem uma loja lá e o filho ficou na loja que eu comecei com ele ali, só que ali já é na José Bonifácio. Eu tinha um amigo muito bom, que era relojoeiro também no mesmo lugar, ele veio a falecer e nós alugamos o salão dele. E a esposa dele... nós estamos lá até hoje, porque a esposa dele já até morreu, já está com outras pessoas e nós estamos lá ainda, no mesmo lugar. E essa é a minha história ((Risos)).
P1: Vamos detalhar um pouco, então?
R1: Vamos lá.
P1: Aí, eu fiquei... é, então vamos detalhar, né? Que o senhor falou então, assim, que o senhor não gostava de estudar, mas assim, o senhor tinha que estudar em algum lugar. Que escola que o senhor frequentou?
R1: Sinhá Junqueira.
P1: Que é ali no Centro, né?
R1: Não, é na Vila Tibério mesmo.
P1: Ah, tá.
R1: Vila Tibério. Eu comecei ali, mas eu fugia, eu corria. Eu não ficava na escola, eu fugia. Dava um trabalho! Não, eu dava trabalho mesmo, não é brincando, não, é sério.
P1: Quando o senhor saía assim da escola, para onde o senhor ia? O que o senhor ia fazer? Jogar futebol?
R1: Me escondia no mato de medo de apanhar ((Risos)) do meu pai. Então, eu saía...
P3: Era arteiro?
R1: Ah, eu gostava de chácara, gostava de bicho, então não adiantava, eu não queria aquilo ali. Aquilo ali não era para mim. E eu, cada vez que as minhas irmãs entravam... quando eu entrava na sala de aula, que as minhas irmãs tinham que ficar no meu rumo e eu as vendo, se elas afastassem, ou saía para qualquer coisa, eu saía pela porta, pulava o muro e ia embora. Sumia. E elas esperando. Daí, eu fiz umas porções de vezes. Então, é uma coisa, assim, que eu não queria. Depois, eu voltei a estudar e tudo mais, aí já não tinha mais coisa*[difícil entendimento].
P1: Já outra fase? Ô, ‘seu’ Jair, assim, descreve para gente, assim. A Vila Tibério é muito tradicional em Ribeirão Preto, né?
R1: Muito. A Vila Tibério... a gente morava na Vila Tibério e só existia uma passagem de... para gente sair da Vila Tibério para ir para o Centro da cidade, nós tínhamos uma rua só para passar. Era uma rua para chegar até lá, que chama Luiz da Cunha. Mas a gente nunca entrava na... direto no Centro. A gente, primeiro, precisava passar no meio duma praça e depois subir a General Osório, que era a rua que existia o maior comércio, sabe? O comércio maior era na General. E ela...
P1: Ô, ‘seu’ Jair, mas, por que que tinha só uma passagem?
R1: Porque ali era tudo... o trem passava ali, né, na coisa e não podia. Então, eles fizeram uma passagem, que ia passar por baixo da linha. Quando o trem estava passando lá, você passava por baixo da linha. Então, era o único jeito da gente ir lá. Quando o trem não estava lá, você passava na rua mesmo; senão, tinha que passar por baixo. Tinha um túnel para gente passar por baixo. E dali, você não ia direto para o Centro, você ainda tinha que cortar uma praça, que é a Praça Schimidt, para depois chegar na General Osório, que era a principal. Mas isso daí já foi... é coisa de cinquenta anos aí.
P1: É, mas é isso mesmo que a gente quer saber. E vocês faziam tudo a pé, na época? Mesmo com o pai sendo taxista?
R1: Sempre a pé. A pé. A gente gostava de andar a pé. E meu pai, às vezes, ele buscava a gente na escola e tal, mas isso daí era uma vez ou outra, muito difícil. Mas a gente gostava de andar era descalço, na rua, era isso aí. A gente vivia desse jeito, né?
P1: Ô, ‘seu’ Jair, e a Vila Tibério era um bairro de ferroviários? Como é que é isso?
R1: Olha, exatamente. Por... do lado da minha casa morava o ‘seu’ João, que era chamado de Barba Roxa, ele era ferroviário. E mais para baixo, o pai desse que me ensinou a consertar relógio, também era ferroviário, era carregador de mala, na ferrovia.
P1: Aham. E ali tinha praça, na Vila Tibério? Assim, praça com igreja, tinha quermesse?
R1: A igreja. É. A igreja, ali, Coração de Maria, que hoje é santuário Coração de Maria. Tinha uma praça em frente e a gente passava por aquela praça e ia várias vezes naquela praça, porque ali é um lugar que era mais... quando a gente foi ficando mais velho, tinha as meninas que iam lá, então a gente ficava lá na praça, passeando.
P1: Fazia o footing?
R1: É. Aí a gente começou, assim, porque, para ir na praça, a gente... eu era... também engraxava. Eu engraxava, vendia papagaio, fazia tudo quanto é coisa, mas menos trabalhar de... menos estudar. Estudar eu não queria. E ali na praça, eu tinha uma caixinha de sapato para engraxar e eu tinha um tio que trabalhava lá, então, eu ia lá engraxar o sapato do pessoal lá. Depois eu comecei a passear lá e eu não queria saber mais de graxa, aí já era outra coisa aí. Ia paquerar lá.
P1: Ô, ‘seu’ Jair, mas assim, esse dinheirinho que o senhor ganhava ali do engraxate e tudo, o senhor fazia o que com esse dinheirinho?
R1: Olha, eu sempre fui de guardar, né? Guardar, assim, sempre. Nunca gostei de gastar à toa. Eu sempre procurava ganhar. Acontece que eu tinha um irmão que era doente, né? Ele teve paralisia. E eu, então, dedicava mais, assim, para ficar com ele, para levar onde ele queria ir, que ele andava com dificuldade. Então, essa passagem foi, assim, me deixando cada vez mais querendo ser homem já, porque os outros xingavam. Antigamente, ninguém respeitava as pessoas. Não é que nem agora, você xinga uma pessoa de aleijado, você pode ser preso.
P1: É.
R1: Agora, naquele tempo, não. Então, ele era, assim, sufocava, abusavam dele, falavam, né? Então, eu não... e eu apanhava na rua por causa dele, porque eu brigava por causa disso, né? Então, ficava mais atrás dele, porque ele era um menino excepcional, no caso, né? E eu tinha um... assim, um carinho, né?
P1: Sim.
R1: Por ser... e eu tinha muito irmã, eu tinha sete irmãs. Era eu de homem e meu irmão e sete mulheres. Então, as minhas irmãs todas... é tudo mais velha que eu, só tem uma mais nova, mas as outras são tudo mais velhas.
P1: O senhor lembra o nome de todo mundo?
R1: Lembro. Oxi! Duas já morreram.
P1: Fala para gente.
R1: Duas já morreram, faleceram. Olha, é Jaci Massaro, Marisa Massaro, Célia Massaro e Darci Massaro. Essas daí... e Sandra Massaro... são as que estão vivas. As que morreram foram a Sílvia Massaro e a Sônia. A Sônia era a esposa do relojoeiro, que era casado (17:20)...
P1: Ah!
R1: ... com minha irmã, esse que me ensinou. Que era o Antônio Conaço.
P1: E o seu irmão, como que ele chama?
R1: Aluísio. Chama Aluísio.
P1: Luísio. Luís?
R1: Aluísio. Aluísio.
P1: Aluísio?
R1: Aluísio Massaro.
P1: E como é que era, assim, conviver com uma família tão grande, ‘seu’ Jair?
R1: Na rua ((Risos)). Eu vivia sempre na rua, assim, lá era tudo aberto, não tem esse negócio de portão fechado, essas coisas aí que tem hoje, que você tem que ficar se mantendo preso, porque... não, a gente brincava na rua que nem criança tudo normal, assim, sem preocupação nenhuma. Não existia preocupação. A gente morava, onde que eu fui para lá era terra, então não tinha movimento, nem nada dessas coisas assim. Não tinha perigo nem nada, então a gente vivia aquele... muito... vizinho que tinha muito filho, meu pai... ele era muito filho na minha casa também, minha mãe. E minha mãe lavava roupa para fora e a gente ficava ali, né? Ajudando e mais cuidando do Olair** [incompreensível] (18:29), do meu irmão, porque minha mãe também não dava conta, né? Porque era muita gente para tomar conta.
P1: Muita gente, né? ((Risos))
R1: Então a gente ajudava, se ajudava. A gente ajudava um pouquinho. Graças a Deus todas elas se casaram, todas elas estão bem-casadas, tiveram filho. Desse casamento que tem o relojoeiro que me ensinou, ele tem dois filhos, dois filhos também têm loja na cidade, relojoaria também, na cidade, aqui em Ribeirão.
P1: Maravilha. E me fala uma coisa: Massaro é o quê? É italiano?
R1: Italiano. Nós temos muito parente dentro do mercado aqui, mercado que tem no Centro aqui, na mesma rua que eu tenho, na José Bonifácio, tem um mercado...
P1: Sim.
R1: ... e os parentes tudo ali, meus parentes. A gente frequentava muito o mercado, porque o meu avô era chacareiro e a gente fornecia para o mercado lá, fruta, tudo quanto é coisa, tinha alface, essas coisas, tudo... a hortaliça ia tudo para o Mercadão. E a gente trabalhava, também, lá na chácara com meu avô, quando ele chamava para fazer alguma coisa, a gente ia. E também é na Avenida do Café. Até hoje a gente tem os parentes na Avenida do Café.
P1: Tem, né? Mas no mercado tem bastante, né?
R1: Tem. Mercado é sem... a maior parte lá é, tem uma boa parte que é Massaro ainda.
P1: Tem a Casa Massaro, né? Que vende...
R1: Tem. Isso.
P1: Né?
R1: Ele vende ração para humano, vende tudo quanto é coisa que pensa.
P1: É, é.
R1: Eles têm muito nome.
P1: São primos, então? É uma família grande.
R1: Família é muito grande. É pioneira.
P1: Pioneira?
R1: Para o lado da minha mãe é Gomes Fervença e para o lado do meu pai é Massaro. Mas as Gomes Fervença vieram - um é... o meu avô era português e a minha avó italiana - com o intuito de ser chacareiro também, mesma coisa do que os dois vôs. E a chácara fazia fundo uma com a outra, desses dois vôs, o vô... tinha um rio no meio, que separava a propriedade deles. Então, a gente... esse meu avô, que é o albino, é um albino, ele era um modelo, assim, de chácara que ele tinha, sabe, na época. Era uma coisa... ele mesmo implantou energia, ele mesmo implantou parte de fazer o fubá, aquelas coisas tudo, ele que fez. Ele veio, se instalou ali e ali ele formou família, né? Que são meus primos lá que estão lá... até hoje ainda tem lá, mas agora já está bem, assim, movimentado lá. Já não é mais que nem antes.
P1: Não é mais chácara?
P2: E, ‘seu’ Jair, eles vieram de navio da Itália, de Portugal para cá, os seus bisavós? O senhor sabe?
R1: Vieram de navio.
P2: Olha!
R1: Esse, o meu avô Roque, que é o nome do meu avô, né, que é da parte do meu pai, que é o Massaro, eles eram em 11 pessoas, eles vieram para cá em sete ou oito para cá, para Ribeirão. Eles vieram para Ribeirão, porque não tinha intenção de montar chácara, essas coisas, eles gostavam me mexer com hortifrúti, né? Então, tinha que vir nesse lugar. Era o lugar que estava mais perto para vender.
P2: Entendi.
R1: E meu pai carregava essas verduras, essas coisas, tudo para São Paulo, ele punha no caminhão, ia para São Paulo, entregava lá e voltava com carga de tijolo. Isso aí era que ele trabalhava com caminhão, depois passou a trabalhar com ...* [incompreensível] (22:38). Mas é morador daqui, é, bem dizer, pioneiro da cidade, assim, meus parentes. Está bom?
P1: Está ótimo!
P2: Você sabe de que região da Itália, de Portugal que eles eram?
R1: Agora eu não vou lembrar.
P3: Sabe se tem parente lá ainda?
R1: Eu tenho os nomes, mas eu não lembro agora, não. Eu tenho que pegar o papel. Não, mas eles têm... eu tenho várias coisas deles lá. Eu tenho até, assim, pessoas que vão para lá, assim, a fim de pesquisar o passado deles lá, né? Porque tem os filhos, os netos, querem saber, né? Vai lá para pegar a cidadania. Então, eles vão lá pesquisar o que o vô fazia lá, o que tataravô fazia lá, né? Mas eu nunca fui nesse lugar. Nunca fui. Não conheço.
P1: Ô, ‘seu’ Massaro, e como é que era, ‘seu’ Jair, como é que era, assim, o Mercado Municipal antigamente?
R1: O mercado era muito, assim, fruta, né? Muita coisa de hortaliça. Hoje o mercado se tornou um comércio diferente, né? Bem diferente do que era. O mercado era só para, mesmo, fruta, alface, hortaliça, essas coisas. Hoje mudou tudo. Tinha lá uma pastelaria lá e uma... pouca coisa que existia. Hoje tem tudo no mercado, hoje não tem... não tem o que você não acha lá.
P1: E é, né?
R1: Aliás, antes não era como** [incompreensível. Delay] (24:15) o mercado comum que nem esses outros aí. Só que ainda cultiva essa parte de ser... de mostrar outras coisas, no Mercadão, né? Quer dizer, eles são em... ó, eu acho que tem oito dentro desse Mercadão, dos meus parentes lá, que procura fazer aquilo que o meu avô fazia, né? Só que eles já entram com produto diferente, é um... são coisas de... para perder peso, o açúcar que não tem perigo de... para diabético, com aquelas coisas tudo que tem no mercado. Tem tudo.
P1: É? ((Risos)).
R1: É. Mas lá ficou interessante, porque a gente precisa de qualquer coisa, você vai buscar lá e tem. Tem ração humana, tem isso, tem um monte de coisa. Tudo que você precisa, tem lá. Aí, isso é parente que vende lá. Aí é isso daí. Que mais quer saber?
P1: E, ‘seu’ Jair, e assim, falando assim, desse relojoeiro que te ensinou a profissão, como que ele chama, como que ele conversou com o senhor, assim, exatamente? O que o senhor pensou, com a oportunidade?
R1: Não, eu, na hora, eu não dei resposta para ele, porque não era eu que ia falar, e eu só falei para ele onde que estava meu pai, para ele conversar com ele, que ele que autorizava. Aí, ele foi até no local, falou com ele e ele falou assim: "Olha, ele autorizou. A partir de amanhã você vem trabalhar para mim". E eu comecei a trabalhar para ele. Aí, eu fiquei lá de... eu tinha sete para oito anos, eu fiquei até 17 anos lá. Aí...
P1: Nossa, começou novo!
R1: É. Aí eu fiquei lá. De lá, eu montei essa portinha que eu estou te falando, que era um metro e ele me ajudou também, pôs mercadoria, pôs as coisas que eu precisava lá dentro. Mas era muito pequenininho, era uma coisa simples. E eu comecei a trabalhar diferente das outras pessoas que trabalhavam. Quando eu abri a minha primeira... essa oficininha, que era uma oficininha simples e tudo, eu pus um banquinho, aí eu fiz uma placa lá, porque o relojoeiro, naquela época, no passado, era assim: eles não... eles eram taxados como embrulhões, porque eles nunca entregavam no dia certo o conserto. Nunca. E demorava e demorava e demorava. E tudo isso daí. E isso daí foi me... mexendo com a minha cabeça. Então, logo de cara, eu peguei e falei assim: "Eu vou fazer um negócio diferente". Eu peguei lá, eu pus assim: "Conserta-se relógio na hora". Aí eu pus uma placa. Uma plaquinha fininha, mas mandei escrever e pôs lá. E nesses dias que eu estava começando, apareceu um senhor lá, alto, né? Hoje, ele já até faleceu, sei o nome dele também, chama Nelson Moreira. Eu não esqueço o nome dele nunca, porque ele entrou na portinha, assim, me deu uma olhada, assim, ficou olhando na minha cara e falou assim: "Você conserta relógio mesmo?". Falou desse jeito para mim. Eu: "Ah, eu conserto". Né? E aí, ele falou assim para mim: "Ah, porque eu tenho um relógio aqui, eu tenho muita estimação por ele. Será que você dá conta de consertá-lo?". Aí eu falei assim: "Ah, se o senhor quiser que eu arrumo, eu arrumo para o senhor". Aí ele pegou e falou assim: "Mas, menino, será que ele vai dar conta de fazer isso?". Então, o que ele fez? Eu tinha um banquinho. Ele sentou ali e falou assim: "Eu quero ver teu serviço". Eu falei: "Pode sentar". Né? Aí eu fiquei trabalhando ali com ele olhando e fui fazendo o serviço. Aí... porque eu queria... o serviço seria feito na hora. Meu serviço, eu queria que a pessoa olhava o que eu estava fazendo. Então eu sentei, comecei a trabalhar e ele ficou olhando, prestando atenção em tudo que eu fazia. Aí, a hora que eu entreguei o relógio para ele, ele falou assim: "E vai funcionar?". Eu falei assim: “Está funcionando". Então, essa pessoa foi uma pessoa, assim, o início de um serviço, que eu posso falar assim, que ele foi bem... assim, me ajudou muito, porque ele acreditou em mim e ele me fez, de tudo isso daí, uma propaganda, porque ele era de Bonfim Paulista. Ele faleceu faz pouco tempo. Ele morava em Bonfim Paulista. E ele lá, todo mundo que queria relógio, ele falava: “Ó, você vai lá nessa portinha assim e assim. Tem um menino lá, que ele te arruma na hora”. Ele falava desse jeito para o pessoal lá em Bonfim. Aí eu comecei a melhorar, porque aí eu fui pegando freguês, aí o espaço já não dava mais, aí eu mudei para um lugar maior. Depois já abri outra loja, depois abri a outra, porque já não estava dando mais, né? Mas aí veio a enchente e tomou conta e é isso aí que eu te contei, as enchentes me atrapalharam e eu larguei para lá, ali na avenida. Mas elas eram próximas, a pequena era próxima da outra que eu mudei assim, coisa de setenta metros, no mesmo quarteirão. Era pequenininha a porta, encostada no Hotel Aurora. Hotel Aurora ainda existe até hoje, a portinha ainda está lá até hoje, a portinha que eu usei está lá até hoje ((risos)) no lugar, eu passo lá, eu olho toda vez, porque ali foi o meu começo.
P1: Imagino.
R1: Que mais você quer saber?
P1: Eu quero saber da enchente, assim. Qual é o rio que passa aí e por que encheu tanto, assim? Choveu muito? O que foi?
R1: O que acontecia? Na época, não tinha assim, um bom escoamento lá para baixo, na Via Norte. Então, depois abriram tudo e foi melhorando. Mas lá deu uma enchente que ela alcançou quase a medida de um relógio de luz assim, vamos dizer, na minha loja. O relógio de luz tem um padrão, um metro e quarenta que você põe. Ela chegou até ali. Aí, o que eu tinha lá dentro, eu não podia entrar porque a polícia não deixava, os bombeiros não deixavam, não podia abrir, não podia fazer nada. E aquilo... eu tinha uma comporta lá, eu pus uma comporta, por causa da água. O que aconteceu? Eles não deixavam e demorou muito para abaixar e a comporta segurou a água lá dentro, ela passou por cima da comporta, porque não deu, a altura foi demais, ela era mais baixa, entrou a água lá dentro e as coisa ficaram estragando lá, porque não podia entrar, eles não deixavam entrar, ninguém podia passar por ali, não passava ninguém. Nem atravessar a rua não tinha jeito, nem atravessar a avenida não tinha jeito. Ficou tudo interditado. Então, aí eu tinha a barreira lá, essa contenção de água, para não entrar água naquela medida, só que ela passou por cima da medida e aí encheu de água e estragou tudo que tinha lá dentro e eu não quis mais voltar para lá. Então, meus filhos foram pegar, eu fui com eles lá, mas não pus a mão em nada, eles que mexeram. Porque eu fiquei tão triste com aquilo lá que não... eu fiquei muito ruim, muito mal com essa história, porque era minha vida que estava ali, né?
P2: Uhum.
R1: Então, eu fiquei... mas depois disso daí eu consegui, graças a Deus, pôr meus filhos no lugar, arrumar a loja deles, arrumar a loja para o outro. Aí, no fim, eu estou assim, eu estou trabalhando para eles, mas não é a respeito de ganho, mais é para ficar lá. Às vezes eu vou ajudar com alguma coisa, porque agora já não mexo mais com nada, eu só fico na chácara, não fico mais atrás de relógio não, eu fico... tenho uma chacrinha aí, eu fico para lá, criando porco, galinha, papagaio, periquito. Tem de tudo lá.
P2: Quer coisa melhor que isso?
R1: Vixi! Não tem.
P2: Mas assim, essa enchente que aconteceu com o senhor, era mais ou menos que época?
R1: 2004.
P2: 2004, entendi.
R1: 2004.
P2: E hoje canalizaram o rio? Ou ainda tem muita enchente aí no Centro?
R1: Não. Aí veio um... eles fizeram uma abertura no rio, assim, subterrânea e alargou o rio. Então, parou de ter enchente. Assim, ali onde eu estava, não teve mais. Eles se prepararam, viu que a enchente estava atrapalhando todo o comércio, Mercadão. Porque não foi só eu, todo mundo que estava ali na José Bonifácio, onde eu tenho, até lá em cima foi a água. Então, aquilo ali era só um mar de água, era só água. Então, eles procuraram fazer um tipo de uma contenção, abrir o rio por baixo assim, fizeram um cimentado em cima, que a gente pode passar, né? Então, o rio fica uma parte aberta e a outra entra assim e fechado.
P2: Uhum.
R1: E ajudou a escoar a água de lá, agora não tem mais.
P2: Ainda bem, né? Ainda bem, para não ficar dando prejuízo, né? Mas lá, quando o senhor começou a fazer o comércio do senhor, chegou a ter rio mesmo lá? Como é que era essa região central antigamente?
R1: Ó, essa região sempre foi problema. Sempre. Sempre foi problema. Mas quando eles fizeram os paredões do rio e tal achou que, por um tempo, realmente, ela aguentou, mas aumentou muito a cidade, cresceu pros bairros, cresceu pelas vilas, cresceu para todo lugar. Então, foi fazendo aquelas coisas que é só asfalto, asfalto, asfalto e não tem para onde a água sair. O que aconteceu? Canaliza, canaliza dentro do rio, o rio não aguenta, porque é tanta água que não dá. Aí começa a encher, sair para fora. Então, isso aí foi uma coisa assim... aí veio o prefeito e inventou essa... e foi bem até feito na época, né, porque até hoje não deu mais, né? Não teve mais problema nenhum. Então, eu acho que, assim... mas ainda a cidade está crescendo muito, eu acho que ainda vai ter, porque cresce muito, mas não é, assim, vamos dizer, aqui perto, ali na cidade, vai crescendo para lá, vai pavimentando, cimentando e o negócio... a água não tem para onde sair, ela vai ter que arrumar um lugar para sair e vai sair no rio, o rio não aguenta, não aguenta aquilo ali de jeito nenhum. Esse rio ali, na época, era assim, não tinha poluição, não tinha nada. Se pescava nesse rio, essa parte que o pessoal fala assim... tinha o Hotel Brasil, que é o hotel da esquina, onde eu trabalhava. O Hotel Brasil era um hotel famoso, né? Quando vinha Pelé, esses caras vieram, lá no Hotel Brasil eles tinham varinha de pescar para esse pessoal pescar ali no rio. Então, eles pegavam a varinha ali e ia lá no rio, pescava lá o que tinha que pescar, soltava ou se quisesse levar, levava. Era assim que funcionava nesse Hotel Brasil. Hotel Brasil tem até hoje, mas está tudo caindo aos pedaços já, porque ninguém tomou conta.
P2: Esse rio é o Ribeirão Preto, mesmo?
R1: É o Ribeirão.
P2: Ah, tá.
R1: É o Rio Ribeirão. Esse daí corta a cidade, né? Agora, para onde ele vai lá para baixo, ele faz mais estrago ainda, porque o pessoal fez muito essas casas de Cohab, foi fazendo e agora está enchendo para baixo. Aqui melhorou e para o pessoal que foi lá, para os bairros mais distantes, está acumulando água para eles, né, eles estão pensando em abrir por lá também. É isso daí. Mais alguma coisa? Alguma coisa ficou para trás? Ficou? Perguntar mais alguma coisa?
P1: O senhor falou do Bonfim, né? Quem que morava no Bonfim, ‘seu’ Jair?
R1: Bonfim Paulista?
P1: Isso.
R1: É o meu primeiro freguês. ((Risos)) O meu primeiro freguês morava no Bonfim Paulista. É o Nelson Moreira.
P1: Quem era?
R1: Nelson Moreira, ele chama. Ele já faleceu.
P1: Maravilha. Agora, assim, o senhor conhece bem a cidade, né? Então, como é uma entrevista histórica, descreve para gente o que é o Bonfim. É um bairro? É um distrito? O que tem lá de bom?
R1: É um bairro. É... agora já é considerado uma cidade, porque já tem muita coisa lá. Bonfim é um bairro de Ribeirão, bem dizer, um bairro mais longe, mais longe. Vamos dizer assim, tem uns 16 quilômetros, 15 quilômetros daqui até Bonfim. De Ribeirão a Bonfim. Mas Bonfim agora é bonito, é bem arrumadinho, é coisa... é uma cidade pequena, mas bonitinha. Esse é o Bonfim. E agora, aqui, a gente tem assim, várias cidades pequenas, né? Porque na época que a gente... que eu abri a minha oficina, ela era... assim, era uma passagem de rodoviária, em cima era a rodoviária e no Mercadão. Esse era o caminho do pessoal que transitava ali, eles só vinham até na rodoviária e ia até no Mercadão. O pessoal das fazendas vinha tudo ali. Então, eles... para quê? Para comprar no Mercadão. Então, eles vinham e passavam pela minha loja ali, era uma passagem. E ali eu tive que trabalhar de domingo, de sábado, porque eles vinham no fim de semana. A mais... a passagem ali era assim, de fim de semana, porque eles trabalhavam, no fim de semana eles queriam fazer as coisas deles. Então, eles vinham no Centro. Como a rodoviária não era ali onde ela está agora, era mais... chama Triângulo, era na beira do rio, mas bem mais longe do que está ali, agora está centralizado, mas ali no Triângulo que era a rodoviária, eles tinham que passar pela Jerônimo Gonçalves, para ir no Mercadão. Então, eu trabalhava de domingo, porque eles vinham e eu fazia serviço para eles, esse pessoal de fora.
P1: E era permitido abrir o comércio de domingo ou era só o senhor que...
R1: __ (45:13) nenhuma, sem restrição nenhuma, não existia nada desse negócio, podia trabalhar o dia que eu queria. Podia abrir de domingo, podia abrir de sábado, podia abrir de noite, podia fazer o que eu queria. Não existia essa restrição, nada disso não existia. Eu tinha uma licença, assim, um papel escrito, porque não tinha nem alvará, falar que tinha alvará. Depois eu fui ter alvará. Agora tem até alvará, da hora que eu montei a outra loja e veio o alvará e veio tudo essas coisas. Então, eu aposentei, ó, com 36 anos de serviço na... aposentei, mas eu tenho 59 anos para sessenta, de profissão, só de relógio, só com relógio. Aí o que eu fiz? A minha esposa começou a trabalhar com o meu filho também, ela aposentou também trabalhando com ele. Então, nós somos os dois aposentados com o mesmo serviço.
P1: Merecido, né?
R1: É, quando era mais nova, ela ia comigo lá, eu ensinava, ela estava aprendendo, mais um pouco, ela vira relojoeira.
P1: ((Risos)) Ô ‘seu’ Jair, e como é que é o ofício de consertar relógio assim? Ele é preciso? Como é que é isso, assim?
R1: Agora tem máquina, né? Máquinas que fazem a precisão. Antigamente, a gente usava ouvido e se entender para regular, porque não existia essas coisas, né? Hoje não. Hoje tem máquina para regular, máquina para parafusar, máquina para trocar vidro. Antigamente, era feito tudo na mão mesmo, nas mãos da gente mesmo. Existia, vamos pôr assim, cinquenta mil eixos de relógio. Hoje não. Hoje quase que é tudo padronizado.
P1: Ah, é?
R1: O que usa em um, no outro, no outro. Antes, não. Antes, existia um eixo que era, vamos falar assim, vou falar em número para você entender, por exemplo, EB2021, vamos dizer assim, é uma referência do relógio. Aí, ali daqueles EB2021, vinha EB2081 e tudo diferente um do outro. Aí você... a gente fazia a relação de eixo, numerava, mandava para São Paulo e de São Paulo ia para o Rio, para vir esses eixos, para nós trabalharmos.
P1: Nossa!
R1: Aí acumulava muito eixo, porque era muito número. Eu tenho até hoje, tenho um monte de caixinha assim, cheia, tem... nem usa mais, nem usa mais isso daí. Eu só uso porque eu faço serviço antigo e o pessoal procura e eu tenho essas coisas antigas aí, para servir para o freguês. Por isso que eu fico aí trabalhando de vez em quando, para fazer esse servicinho ainda.
P1: Ô, ‘seu’ Jair, me tira uma dúvida: tinha uma época que eu lembro, assim, que a gente ganhava relógio da madrinha, sabe assim? Relógio com 14 anos e vinha escrito assim no visor: 24 rubis. O que é isso? A gente achava chique, né?
R1: Rubi é muito importante no caso do relógio, né? Porque o rubi é uma peça sintética, né? Ela não deixa o eixo... ela não deixa o óleo sair dali e não deixa o eixo gastar com o tempo de funcionamento* [Delay] (42:58). Então, a função do rubi é essa daí: é não deixar o óleo sair do lugar - ele tem um coxim que segura o óleo - e estragar o eixo. Porque senão ele desgasta e começa a jogar... portanto, que despertador não tem rubi. Então, ele gasta e você tem que embuchá-lo de novo.
P1: Ah, é? Mas não rubi verdadeiro não, né?
R1: Sintético, sintético. Aquilo ali é uma coisa assim... foi pensada para não estragar a platina, não fazer buraco ali. Porque trabalha muito, roda muito, vai indo, ele gasta. Então, foi preparado para isso. E hoje, não. Hoje os relógios usam pilha, né? Às vezes nem todos têm rubi, nem todos. Só relógio de muita... muito bom, para ter rubi hoje, porque o relógio de pilha é muito... é lento, ele não é uma coisa para gastar assim, não gasta. Então, essa daí, os relógios de pilha foram uma inovação, né? E hoje só tem isso. Só isso, não tem mais outra coisa. Relógio de pilha, ninguém vê falar de relógio mecânico, mais.
P1: É, né? Mas tem umas pessoas que gostam daqueles de bolso ainda, não tem?
R1: Tem, eu reformo muito isso daí. Eu reformo e vendo lá. Eu tenho muito.
P1: É?
R1: Tenho muito. Tem, tem. Uma hora vou tirar foto...
P1: Ãhn.
R1: Vou te mostrar foto dos relógios. É um monte de relógio que eu tenho na loja.
P1: Ô, ‘seu’ Jair, e aqueles carrilhões, aqueles relógios assim, com pé, tudo, tem que consertar, volta e meia? Como é que é isso?
R1: O que começa do chão é pedestal.
P1: Ah!
R1: Agora, carrilhão de parede é o que fica pendurado, esse é o carrilhão. Mas carrilhão, às vezes a pessoa não sabe, existe uma música dentro do carrilhão, um som que você vai escutar agora e você vai prestar atenção, quando você ver a pessoa falar: “Eu tenho um carrilhão”. Você fala: “Deixa eu ouvir a música dele?”. Aí você vai entender o que é que o dizer da nota. Porque a pessoa fala assim: “Ah, mas ele toca música”. Mas você pergunta: “O que que é?”. Não sabe o que que é, a maior parte não sabe, ninguém sabe. Então, o relógio carrilhão foi inventado, a cada 15 minutos ele toca, cada 15 minutos. Então, quando dá o primeiro toque, que são os 15 minutos, no som da música, ele vai falar que horas são, nas notas da música. Depois, quando for meia hora, ele vai falar que horas são, quero saber. Tá? Isso tudo em som do relógio. Tem gente que fala carrilhão, não sabe nem o que é carrilhão. Carrilhão é isso aí. Aí ele vai para o 15 minutos... para o 45 minutos. Aí ele fala assim: “Que horas são? Quero saber. Vou lhe dizer”. Não: “Que horas são? Quero saber” “Vou lhe dizer”. Aí ele para aí. Quando ele chegar no horário dele bater, que é o horário de bater a hora, ele vai fazer um som diferente, ele vai tocar todo o refrão: “Que horas são? Quero saber, vou lhe dizer”. Aí ele vai bater as horas. Esse é o carrilhão.
P1: Ah, que lindo!
R1: Aí esse é Westminster que ele foi inventado... [incompreensível]* (46:47), aí italiano, essas coisas, entendeu? Todos eles, todo carrilhão faz o mesmo som, as mesmas notas musicais. A não ser o carrilhão que vem com uma alavanca, que você muda a alavanca, ele toca Westminster e Ave Maria.
P1: Ah!
R1: Tem esse também. Esse daí é um... chama regulador, relógio. Então, tudo isso daí, é coisa assim, coisa antiga que ninguém sabe. Pois eu também, o relógio lá na parede: “Ah, ele toca música”. Não, não é nada disso, a pessoa tem que prestar atenção. Então, você está dormindo e você escuta a música, você fala: “Agora é dez e quinze, dez e meia, dez e quarenta e cinco”. Você vai saber pelo som da música. Por isso que a pessoa sabe que hora que é sem... quando ele acostuma com o som da música, ele já sabe, as notas são diferentes. São três notas, são quatro notas, quatro notas. Depois são oito, depois são doze e depois são 16 vezes que ele bate. Se ele falhar uma dessas aí é porque ele não está bem regulado. ((Risos)) Se falhar, é porque não presta, está errado. É, é isso aí.
P1: E por que o relógio começa a atrasar, ‘seu’ Jair?
R1: Ah, é porque ele tem que ser regulado, né? Tem que regular. Às vezes ele atrasa... relógio que atrasa não adianta, pô.
P1: Não. ((Risos))
R1: Não adianta. Aí é regulá-lo. Ultimamente não tem mais isso, porque relógio de pilha, quando acaba, você troca a pilha. De primeiro era ruim demais, regular até ficar certinho. Hoje não tem mais, hoje o relógio de pilha, qualquer lugar que tiver relógio, ele funciona certo. Chinês acabou com os relógios suíços, a China. É.
P2: O senhor faz... o senhor ainda hoje tem coleção de relógio?
R1: Ah, tenho muito relógio ainda, né? Muito.
P2: Aham.
R1: Porque a gente mexe...
P2: E...
R1: Mexe e guarda, né? Sempre alguma coisa que eu guardo. Eu ponho lá para vender de vez em quando na loja, quando aparece alguém interessado, eu vendo. Então, eu vou fazendo assim...
P2: E, para o senhor, qual que é o melhor modelo de relógio, assim? Artesanal, que o senhor gostou, gosta até hoje.
R1: Hoje, se for falar de maquinário, né, seria assim, Universal ou Omega, esses relógios assim. Agora, se for falar de relógio atual, tem muito relógio... Tissot, esses relógios está tudo aí na praça aí, mas é tudo a pilha, automático assim, é difícil você encontrar. Então, hoje, eles começaram a fabricar na China o relógio automático, mas o relógio automático que não tem nada a ver com o relógio japonês, sempre*, com Oriente, nada a ver com isso daí. É uma máquina montada de qualquer jeito. Porque, primeiro, o japonês fez o relógio automático, mas era bem-feito, não era para dar defeito nenhum e ele dura muito tempo. Agora, esses daí, se encostar qualquer coisa, entra água, cai, quebra. Então... e dá muito serviço isso daí para nós, agora.
P1: Dá? ((Risos))
R1: Dá muito serviço agora, porque eles estão vendendo tanto esses relógios, que quebra, eles procura a gente para arrumar e a gente está pegando esses serviços, né, porque não tem outro.
P1: É. E junto com os relógios, tinha mais coisa na loja, ‘seu’ Jair?
R1: Olha, depois, eu... ficou muito... foi fracassando, aí eu trabalhava com... eu já mexia com chave, né? Eu cheguei a ter na loja parte de encadernamento, essas coisas aí. Depois, eu tirei tudo porque... eu fui, porque não estava dando conta mais. Quando ele começou a cair, agora voltou de novo, por causa desses montes de relógio que tem na China aí. Então... mas eu parti para outro lado. Meu filho mexe com joia, faz joia. Faz tudo esse serviço. Agora esse... com essa parte de encadernação, essas coisas, eu não faço. Aí eu pus só para poder render, né, no... para ganhar um pouquinho mais, porque teve uma época que ficou muito ruim. E eu, para me manter, não queria sair. Então, eu fui fazendo essas coisas, fui procurando outras coisas, para poder manter a loja em pé. Mas aí eu não conseguia...
P2: Se reinventar, né?
R1: É, você tem que reinventar muito às vezes. Às vezes você sofre uma... porque eu sofri um baque de enchente, já tive que reinventar. Aí eu sofri um baque com ladrão, também me roubou bastante. E também, onde eu tinha loja lá, teve um - depois que eu mudei a loja - dia que eu também fiquei desesperado, porque também entrou água lá também e ela é na outra rua e entrou água. Falei: “Pô, será que eu vou perder tudo de novo?”. Aí eu estava com uma mais para cima, agora vou ter que mudar lá para o Centro, vou ter que ir lá para cima desse jeito, subir o morro, né, porque aí não tem perigo, mas entrou água. Então, eu fui ficando preocupado com tudo isso. Agora, pelo que eu vi lá, vai ser muito difícil acontecer isso, pelo que foi feito, né, na época. O prefeito pegou um cara aí, ele pegou e fez o serviço de obra; tudo demorado. Eu sofri, ó... quando eu fui para General Osório, era normal, não era calçadão, uma rua normal. Aí fecharam, fizeram calçadão, fizeram meio pedaço do calçadão. Também já foi outro transtorno, porque demorou, mas demorou e eu passei um aperto danado. Depois disso daí, veio o outro prefeito e quebrou tudo aquele calçadão que fez, para fazer o outro.
P2: Oxi!
R1: Aí isso daí foi meses e meses, meses e meses fazendo calçadão, mais uma vez. Falei: “Pô, mas não estava mais isso aqui? Desse jeito eu vou quebrar”. E foi assim, foi tudo perto um do outro. O calçadão estava bonito. Na época foi o Maggioni que fez. Ficou bonito. De repente, me aparece outro prefeito para derrubar tudo e fazer tudo de novo, só para ganhar dinheiro mesmo, não é possível. Aí foi uma... aí foi um transtorno para todo mundo. Transtorno. Mas briguei tanto nessa prefeitura, que você nem imagina. Porque, do meu quarteirão, eu que ia lá na prefeitura, né? E o pessoal falava assim: “Pô, já veio o Massaro encher saco aqui”. Eu ia mesmo, eu brigava com ele.
P2: É isso mesmo. ((Risos)) Mas vem cá, era calçada? Antigamente era calçada de pedra, por isso que teve que quebrar tudo?
R1: Não, eles... era uma rua normal, passava carro. Aí veio... eles resolveram que ia fazer o calçadão ali. Aí veio e fez o calçadão. Depois fez, estava tudo bonitinho, ficou bonito, ficou bem legal. Falei: “Pô, está ficando bom, né? Ficou bom”. A loja foi pegando movimento. Aí me vem o outro prefeito e começou a reformar o calçadão desde lá de cima até lá embaixo, aí quebrou tudo de novo. Não, era... aquilo lá era uma... e foi nessa época que eu fiquei mais ruim, porque quando eles estavam quebrando, não tinha jeito da gente ir, o movimento era pouco. O que aconteceu? O cara entrou dentro da loja, ele tentou, ele tentou abrir o cofre e não conseguiu, né? Porque se ele abrisse, eu não ia nem ser mais relojoeiro, nem sei o que ia acontecer. Aí ele entrou durante à noite e cortou o cofre, fez uma porção de coisa lá e... porque ninguém passava por ali, porque não tinha jeito de passar, não passava ninguém, estava reformando, nem a gente podia ir lá. Aí ele tentou, tentou, tentou para abrir o cofre e não conseguiu. Eu cheguei cedo, falei assim: “Ah, entraram aí”. Eles tinham cortado o cofre assim, com um maçarico, mas esse cofre aí eu acabei comprando de uma pessoa, que dificilmente a pessoa consegue abrir, muito difícil, muito difícil, demais da conta, porque ele não é um cofre comum, é um cofre muito caro e não é... nem a gente para abrir, se acontecer alguma coisa com a chave, é difícil, porque ele tem muita trava. Aí eu falei assim: “Não, eu vou continuar. Não vou passá-lo para frente”. Mandei o cara ir lá e reformá-lo de novo, estou com ele até hoje.
P2: Uhum.
R1: Muito bom. Eu não podia vendê-lo. Então, meus filhos que usam, né, eu não uso mais. Eles que usam, eu não tenho mais nada para pôr lá dentro. ((Risos)) Não tenho dinheiro, não tenho mais nada. Aposentado, você já viu aposentado ficar bem? Aposentado ficar bem, não fica de jeito nenhum, né?
P1: ((Risos)) Ô, ‘seu’ Jair, e esses... tem colecionador de relógio, pessoal que, assim, tem vários relógios na parede?
R1: Tem. Aqui em Ribeirão tem um homem que chama Lolato, ele é um colecionador. Ele tem mais ou menos uns quarenta relógios de parede.
P1: É?
R1: Dele. O nome dele é Lolato, ele é colecionador de muito tempo. Portanto, quando for acertar... quando mudava o horário, em Ribeirão, eles iam filmar na casa dele os relógios. É, quando ia mudar o... ia na casa dele que ia filmar, chama Lolato.
P1: Mas quando é assim, eles deixam funcionando direto assim, por causa do barulho? Assim, quarenta relógios funcionando ao mesmo tempo?
R1: Tem gente que deixa. Tem. Quando não, eles vão seguindo, para um, vai no outro, vai no outro. Mas esses caras que moram no prédio, não pode. Esse mora num prédio, só que o andar dele é dele. Então, não tem problema nenhum. Mas ele é maníaco, vai, que ele gosta dessas coisas demais, é muito relógio. E se ele vir uma coisa que ele não tem, ele entra em parafuso, ele quer comprar. Eu vendi muito relógio para ele, para essa pessoa, vendi muito. Vendi relógio bom para ele, tem até hoje. De vez em quando ele vai, dá uma olhadinha, vê se tem alguma coisa, né? Mas eu agora não... eu mudei, né? Eu fechei uma loja, eu fechei essa loja da General, meu filho foi para o Mercadão lá, lá não tem muito espaço. Aqui tinha muito espaço, né? E da José Bonifácio também não é grande, é uma loja... é ampla, mas não é boa assim, igual à da General, que eu tinha. A da General era grande, era uma casa. Aí agora não tem mais nada lá. Agora só tem chinês ali. Chinês tomou conta de tudo, comprou tudo.
P1: Tem muito imigrante chinês?
R1: Ixi Maria! Nossa! Você não anda duas portas que não tem um chinês. Duas portas tem um chinês, duas portas tem um chinês. Tem o chinês, o chinesinho, o chinesão, o pai, o filho, vô, tio, tudo quanto é chinês. Parece que agora virou terra do chinês aqui. É sério. Se você chegar aqui, vai subindo a General, assim, você vai encontrar, no primeiro quarteirão tem cinco, no segundo tem oito e vai indo. Tomando conta da cidade. A gente...
P1: Eles estão vindo muito para Ribeirão, né?
R1: Nossa Senhora! Demais. E eles compram, hein? Compra prédio, compra prédio, compra.
P1: Mas eles já vêm com dinheiro? Eles trazem dinheiro da China? Já vem com dinheiro?
R1: Ah, eles vêm... eles trabalham aí tipo de uma família, dez, doze investem naquele amigo ou parente. Então, eles já vêm para comprar o negócio. E eles não têm esse negócio de pagar pouco não, eles pagam bem. Para você desocupar, eles pagam.
P1: É?
R1: Compra o prédio. É. Porque eles têm... forte, são fortes mesmo. Eles têm uma reunião... a união deles... um exemplo: um pai toma conta, né? Ou um filho mais velho, assim. Eles vêm assim, desse jeito. São dez, doze, quinze e cada vez que precisa de um, eles trazem de lá, para tomar conta ou para abrir outra loja e vai indo, vão trazendo tudo para cá. Acho que nem... bom, São Paulo também, vocês estão vendo aí como é que está São Paulo, só tem chinês também ali.
P2: Também está tendo muito...
R1: você vai lá só tem Chinês, chinesada toma conta de tudo. E eles têm...
P2: A imigração está forte, né?
R1: O chinês tomou conta. É, hoje não dá mais para a gente ficar... vende coisa muito barato, né? E as coisas baratas todo mundo quer comprar. Não presta, mas a pessoa compra. Não presta. Você vai comprar qualquer coisa deles, não presta. Tem coisa que você compra e não dura nada.
P2: E o senhor também está observando...
R1: Ãhn?
P2: O senhor também está observando...
R1: Não entendi, cortou.
P1: ...que está tendo muita imigração taitiana, africano, outros povos? Ou é mais chinês mesmo?
R1: Não, mais é chinês mesmo.
P2: Ah, sim.
R1: Chinês, ixi. E outras que tinha aqui que eu conheci aqui, que era esses turcos, esses caras que existiam aqui, eles foram tudo para terra deles. Foram tudo embora, não tem quase. Tinha esses... ali, naquele pedaço ali, tinha muito pessoal, esses turcos, para tomar conta de alguma coisa*, os que não morreram foram embora para as terras deles. E alguns ficou o filho para o filho tomar conta, mas é outra coisa, né? Aqui tinha muito italiano. Turco, italiano, tinha muito. Agora não tem, é tudo chinês mesmo. Chinês está tomando conta e vai tomar conta do mundo, dá até bichinho para nós, viu, se bobear. Até os bichinhos já que está pegando vem lá da China. Toma cuidado.
P1: ((Risos)) Ô, ‘seu’ Jair, agora o senhor falou uma coisa importante: a questão dos clubes, né? O senhor estava falando que o senhor gosta de futebol, do Botafogo de Ribeirão Preto. Conta para gente qual é a importância do time local.
R1: Ãhn? Não entendi.
P1: A importância do Botafogo aí em Ribeirão Preto.
R1: Bom, a importância do Botafogo, por que a gente é botafoguense? Porque o Botafogo era na Vila Tibério, que tinha o clube na Vila Tibério e o campo de futebol ali. Então, era muito perto, era... a gente participava muito. Mas eu acho que, assim, não tem time assim, bom. Botafogo é um time simples. Simples demais. Ele já foi, já teve time bom, mas não tem mais, não... acho que vai ser difícil alcançar alguma coisa com esses times que ele tem agora. Não tem mais time bom. Compra jogador, mas não é jogador bom, compra assim só para encher buraco, só para tapar buraco, um ou outro. Aí traz um que presta e cem que não presta...
P1: Mas foi do Botafogo que saiu, né?
R1: ... não adianta nada. Você não forma time. É. O Botafogo é o seguinte: na época do Sócrates, nessa época de jogador bom, ele teve o nome dele. Não foi campeão de nada, mas tinha um bom time. O Botafogo já teve bom time várias vezes, né? Mas agora está difícil, viu? Esses três anos aqui, não estou vendo Botafogo sair daí, viu? Mas torço para ele assim mesmo, não tem importância, eu gosto. Eu gosto do Botafogo. Eu não gosto do Comercial, eu gosto do Botafogo. Que aqui tem o Comercial e o Botafogo, né? Não sou do Comercial não.
P1: O Sócrates jogou muito tempo fora e voltou para Ribeirão, né? Voltou a morar em Ribeirão?
R1: Voltou, voltou a morar em Ribeirão. Agora já morreu, né?
P1: Morreu. Mas ele era uma pessoa muito querida, né? Parece.
R1: Ah, mas ele bebia muito, né? Ele bebia demais. Sócrates bebia, bebia, bebia direto. É, a gente o conhecia muito, né? Na época ele treinava lá no Botafogo. Então, treinava assim, educação física, né? Mas ele bebia muito, morreu novo. Eu acho que, para mim, ele morreu de cirrose, porque de tanto beber.
P1: Morreu muito cedo, né?
R1: É. Aí você vê que diferença que é o irmão dele, né? O Raí já é outra coisa, né? É um cara que se cuida e tudo. Mas cada um tem uma cabeça, né? E ele ficou... assim, veio para Ribeirão mesmo, era a terra dele, para ele, era a terra dele. Ele gostava da terra dele, o Sócrates. Portanto que ele que depois ele voltou, ficou aí [incompreensível]* (01:05:00) levantar o Botafogo, mas não conseguiu, não. É difícil, né?
P1: É.
R1: Todo mundo passando apertado.
P1: Ô, ‘seu’ Jair, o senhor falou dos clubes, mas assim, tinha clube, assim, de italiano? De jogar bocha, de fazer essas coisas bem italianas?
R1: A chácara da Antártica. A chácara da Antártica era... era um... chamava Arca. Eu jogava muita bola na Arca. Arca é a chácara da Antártica. A Antártica que tomava conta. Então, ela tinha assim... é um clube, lá tinha bocha, tinha futebol, tinha várias coisas para você jogar, malha. Essas coisas, assim, tinha tudo lá. Snooker, ping-pong. Era um clube. Só que a gente participava. Quem trabalhava na Antártica tinha direito de ficar lá direto. A gente ia porque era... eu trabalhava muito perto da Antártica e eu tinha... o outro motivo também foi a Antártica que fechou, que acabou atrapalhando tudo na cidade. A Antártica empregava três mil funcionários e indiretamente dez mil. Então, ela fechou, acabou. Os que aposentaram, tudo bem, os que não aposentaram foram para rua. Fechou e ficou lá aquele... até hoje está largado lá, jogado. Não fez nada. Está tudo caindo aos pedaços lá. E atrapalhou meu comércio também, porque eu trabalhava muito para eles também. Mas isso aí é coisa do passado. Agora eu não ligo mais não, agora eu deixo para os meus filhos.
P1: Ô, ‘seu’ Jair, e assim, e como que seus filhos começaram a trabalhar com o senhor? Eles eram pequenos?
R1: E aí, qual é a outra aí?
P1: Como que seus filhos começaram a trabalhar com o senhor? Pequenos, adolescentes? Como que eles foram aprendendo o ofício?
R1: Pequeno, eu os levava comigo. Pequeno. Com oito anos, ele já estava indo comigo, eu levava para ficar lá. Mesmo que fosse para ficar só um pouco, mas levava. Eu queria que eles aprendiam a profissão. Aprenderam, né? Eles aprenderam, mas assim, por um... eu os deixei ser empregado de outras pessoas, né? Que nem, do que eu ensinei, eu o pus para trabalhar com outro, o que eu ensinei vai trabalhar com ele. “Então, você não quer trabalhar comigo? Vai trabalha com ele”. Aí trabalhava com o outro. Um sobrinho meu que era relojoeiro também, ia trabalhar com ele. Aí, quando eles aprenderam, eles resolveram tomar conta e está lá, os dois estão mexendo com relógio. Então, a família está no relógio. Eu tenho três... eu tenho mais ou menos, contando assim nos dedos, uns sete ou oito sobrinhos que começou no relógio. Trabalhou comigo. Todos esses aí começaram no relógio, depois partiram para outra coisa, né? Um é amolador, o outro é chaveiro e relojoeiro, o outro... cada um tem uma coisa a mais para poder ganhar mais, né? Mas eu gostaria de ensinar os meninos. Sempre ensinei. E é tudo meio parente (01:08:24).
P2: Quantos filhos o senhor tem?
R1: Eu tenho três: dois meninos e uma menina. Minha menina também trabalha na loja.
P2: Ó...
R1: A menina também gosta de relógio.
P2: Como é que eles chamam?
R1: Eles? Danilo e Rafael.
P2: Uhum. E a sua filha?
R1: Danilo e ... os filhos: Mariana, Danilo e Rafael. Três. E eles trabalham comigo.
P2: Até hoje.
R1: Briga muito.
P2: ((Risos)) Mas, assim, do lado pessoal do senhor, quantos anos de casado o senhor já tem?
R1: Quarenta.
P2: Quarenta? Como que a sua esposa chama, por favor?
R1: Aparecida Roseana Zunfrili Massaro.
P2: Ah, sim. Como é que vocês se conheceram? Como é que começou a história de vocês?
R1: É... nós conhecemos assim, que ela morava perto de casa, né? E ela ia fazer trabalho em frente à minha casa e eu comecei a paquerar e acabamos casando. ((Risos)) Ela ia estudar em frente à minha casa, que tinha uma moça que estudava com ela lá e aí foi pegando amizade e foi e virou o namoro, aí virou casado. Agora saiu os filhos aí, agora já tem até neto, duas netas. Tenho duas netas.
P2: Aê, que beleza. E ela está aprendendo a mexer com relógio também?
R1: Não, não. Muito novinha, né, as netas. As netas tem... uma tem três e a outra tem oito, oito anos. Muito novinha.
P2: Pequenininha ainda.
R1: É.
P2: A sua esposa também é de família italiana?
R1: Toda. É, meu pai é... meu pai... quer dizer, eu venho de italiano e português, né? Que o lado da minha mãe era português e italiano. Do meu vô era tudo italiano, do lado do meu pai.
P2: Da senhora sua esposa também é de família italiana?
R1: É, também é. Zunfrili é italiano. É sobrenome italiano. A maior parte é italiana em Ribeirão, né? Porque imigrante veio de monte da Itália, para poder fazer a vida aqui, se formar, né? Está bom para vocês aí? Tem mais coisa? Quer perguntar mais alguma coisa?
P1: Eu vou perguntar a última então, pode ser, Ana?
P2: Pode.
P1: Para encerrar? É assim, a gente faz essa pergunta sempre, principalmente eu gosto de fazer essa pergunta para encerrar. Então, assim, o senhor passou aqui uma hora e pouco com a gente, falando da experiência do senhor, da história do comércio, da história de Ribeirão. O senhor falou com muita propriedade da Vila Tibério, né? E desse momento assim do Centro, desses problemas todos. Mas, assim, o que o senhor achou de ter feito a entrevista e ter deixado registrado a sua história para um museu, ‘seu’ Jair?
R1: Olha, eu sempre... eu... aliás, eu conto muito minha história. Eu conto não é só aqui. Eu conto... meus filhos falam assim, que eu conto muito minha história, porque eu não sei como é que eu venci na vida. Eu até hoje, eu me... fico me olhando assim, como é que eu consegui fazer tudo. Porque eu não tinha bagagem, assim, de estudo, eu não tinha essa bagagem, que hoje, hoje é necessário demais. Você só pode vencer se você for estudioso, se você for alguma coisa assim, senão, você não faz nada mais, precisa saber muito. Então, saber muito da escola. Agora, eu sei da vida, né? Essa parte aí é a minha parte, é a minha vida. Então, eu faço questão, eu falo para os meus filhos, eu falo para as minhas netas, eu conto a minha história para eles, eu faço questão de contar. Porque, de vez em quando, até eu duvido do que eu já fiz, porque eu dei tanto trabalho, que eu achei que eu não ia ser ninguém, né? Mas tudo muda nessa vida.
P1: Quem diria, né? ((Risos))
R1: É uma... você tem que fazer alguma coisa... e eu sempre fui assim, uma pessoa que nunca gostei de fazer nada errado. Sempre procurei fazer o bem, o bem antes de julgar, antes de fazer, fazia o bem para pessoa. Não sou essa pessoa que vai tratando os outros de qualquer jeito, eu não tenho esse costume, não. Eu sempre gostei de fazer o bem para as pessoas. Se eu fizer bem, eu já ajudei muita gente, eu gosto de ajudar, faço questão. Se a pessoa pede uma coisa para mim, eu sou capaz de largar até o que eu estou fazendo para ir ajudar, mas é aquela coisa... então, eu me sinto bem, eu me sinto bem, eu acho que eu fui bem na minha vida, nessa parte. Eu só... a única coisa que eu não fui bem foi pra estudar, mas o resto eu tenho certeza que foi tudo bem. Nunca maltratei ninguém, nunca fiz mal para ninguém, eu sempre procurei ajudar. Ajudar, ajudar, ajudar meus parentes, ajudar meu pai, ajudar meu... minha... eu não tenho uma história muito boa de pai, mas assim, é coisa que eu fiz de tudo para poder ajudar. Mas a vida é essa, né? Você tem que ter... você tem que ter pelo menos, assim, uma cabeça, para não magoar os outros, não ferir, não ser aquela pessoa arrogante, entendeu? Eu não faço... eu não faço nada por bem ... , eu faço porque eu gosto, a pessoa me pede um favor, eu sou a pessoa que eu gosto de fazer. Sou diferente assim, nessa parte. Sempre gostei. Pedir alguma coisa para mim, para mim é um motivo da pessoa está precisando e eu quero ajudar. É assim que eu faço, minha vida é essa. Está bom?
P1: Ótimo, superobrigada.
R1: Bom, nós vamos voltar...
P2: Obrigada, viu?
R1: Se Deus quiser.
P1: Ó, se Deus quiser, depois da pandemia a gente vai comemorar muito aí em Ribeirão ainda, tá?
P2: Vamos revezar.
R1: É, e das coisas antigas tem foto, essas coisas, tem alguma fotinha, uma quatro, cinco fotos.
P1: Então, se o senhor puder separar algumas fotos antigas, recentes, com a família, aí uma fotógrafa vai estar conversando com vocês. Tá?
R1: Beleza.
P1: Ela vai fazer uma foto de vocês, ela vai combinar, fazer... se for em alguma loja, melhor.
R1: Está bom.
P1: Tá? E depois ela vai pegar as fotos antigas, vai emprestar, vai digitalizar e vai devolver, está bom?
R1: Está legal. Falou.
P1: ‘Seu’ Jair, superobrigada. Foi um prazer conhecê-lo, viu?
P2: Obrigada, ‘seu’ Jair. Já tomou vacina?
R1: Opa, já tomei, já tomei.
P2: Tomou? Que glória!
R1: Tomei. A mulher que vai tomar, que ela é mais nova, né? Agora é a vez dela.
P2: É isso aí.
P1: Que coisa boa. Então, boa noite, tá?
P2: Boa noite, muito obrigada.
HISTÓRIA
Jair Massaro, 30 de novembro de 1953. Ribeirão Preto. Pai era taxista. Carro de praça. Rodoviária. Casa na Rua Dois de Julho nº 571. Infância. Brincadeira de bola na rua. Primeiro emprego aos sete anos. Fugas da escola. Molecagem. "Como eu não quero estudar, eu vou aprender alguma coisa". Serviço na alfaiataria. Alfaiataria. Costura de Ternos. Zombarias dos amigos. Trabalho com relojoaria. Trabalho com Antônio Conaço. Relojoaria pequenininha. Trabalho na São Sebastião. Centro da cidade. Trabalho com Antônio até 17 anos. Tiro de Guerra. Primeiro negócio. Porta de um metro por um e cinquenta. Banquinho para o freguês e uma banca para trabalhar. Avenida Jerônimo Gonçalves. Avenida da rodoviária. Ponto de trabalho do pai. Registro da firma. Pagamento de Inss. Procura de comércio maior. Comércio nº 383 da Jerônimo Gonçalves. Mudança para salão nº 327. Salão Três por três. Trabalho familiar. Aprendizagem de sobrinhos mais novos. Sobrinhos tornaram-se relojoeiros. Ensino do ofício. 22 anos de comércio na Jerônimo Gonçalves. Enchente. Duas lojas na época. Lojas na José Bonifácio e General. Perda de mercadorias com enchente. Materiais enferrujados. Desanimo. Mudança para General Osório. Loja com filho na José Bonifácio. Roubo. Recomeço. Aquisição de cofre grande. Aposentadoria. Vontade de aquisição de prédio. Falecimento do proprietário do prédio. Pagamento de aluguel. Perda do prédio. Perda de chance. Foi mandado embora. Abertura de loja no Mercadão novo. Escola Sinhá Junqueira na infância. Vila Tibério. Não gostava de estudar. Fugas da escola. Escondia no mato. Medo de apanhar. Gostava de chácara. Gostava de bicho. Pulava o muro da escola. Moradia na Vila Tibério, bairro tradicional. Passagem para o Centro da cidade na rua Luiz da Cunha. Passagem de trem. Passarela por baixo da linha de trem. Túnel. Trajeto pela Praça Schimidt. Andar a pé. Andar descalço na rua. Vila Tibério era bairro de ferroviários. Vizinho João, Barba Roxa, ferroviário. Igreja Coração de Maria. Atual santuário Coração de Maria. Footing na praça da igreja. Trabalho de engraxate. Venda de papagaio. Paqueras na praça. Guardar economias. Irmão Aluísio com paralisia. Dedicação ao irmão deficiente. Irmão sofria Preconceitos. Xingamento de aleijado. Abusos na rua pela deficiência. Brigas para defender irmão. Menino excepcional. Carinho de irmão. Sete irmãs. Irmãs vivas Jaci Massaro, Marisa Massaro, Célia Massaro e Darci Massaro e Sandra Massaro. Irmãs falecidas Sílvia Massaro e Sônia Massaro. Sônia era a esposa do relojoeiro Antônio Conaço. Família grande. Brincadeiras na rua. Não existia preocupação. Rua de terra. Não tinha perigo. Mãe lavava roupa para fora. Ajuda com o irmão. Irmãs se casaram e tiveram filhos. Sobrenome Italiano. Parentes no mercado no Centro. Avô era chacareiro. Fornecimento de hortaliças e frutas para o mercado. Chácara do avô na Avenida do Café. Parentes da Casa Massaro. Família pioneira na região. Família materna Gomes Fervença. Família paterna Massaro. Avô materno português e avó italiana. Rios separavam propriedades rurais. Avô Albino. Pioneiro de implantação de energia. Bisavós migraram de navio para o Brasil. Avô Roque Massaro. Vinda de 11 pessoas no navio. Criação de chácaras. Plantação de verduras. Vendas para São Paulo. Vendas por caminhão. Carga de tijolo. Filhos e netos têm cidadania italiana. Mercadão Municipal. Venda de hortaliça antigamente. Mercado tinha comércios de fruta, alface, hortaliça. Mudanças com o tempo. Antiga pastelaria. Tradição familiar no Mercadão. Modernidades. Venda atual de ração humana. Primeira oficina era simplória. Placa na porta. Ao início do negócio inovou. "Conserta-se relógio na hora". Cliente Nelson Moreira. Serviço feito na hora. Propaganda pela confiança e qualidade do serviço. Cliente era de Bonfim Paulista. Falecido a pouco tempo. Vinda de fregueses. Mudança para lugar maior. Abertura de mais duas lojas. Distancia de setenta metros no mesmo quarteirão. Comércio próximo ao Hotel Aurora. Falta de escoamento na Via Norte. Alagamento alcançou Relógio de luz de um metro e quarenta. Comporta na porta para impedir passagem de água. Comporta segurou a água dentro da loja. Produtos estragados. Rua interditada. Contenção de água. Frustração. Desistência do ponto. Tristeza. Conseguiu ajudar filhos a arrumarem as lojas deles. Trabalho com filhos. Ajuda. Velhice na chácara. Aposentadoria. Criação de porco, galinha, papagaio, periquito. Enchente em 2004. Prefeitura fez obras para alargar o canal do rio. Fim de enchente. Prejuízos do comércio central com alagamento. Bolsões de contenção de água. Problema na região. Canalização do do rio. Falta de planejamento urbano. Crescimento na cidade. O rio não aguentou. Antigamente o rio era límpido. Pescas no rio. Hotel Brasil na esquina. Hóspedes famosos como Pelé. Vara de pescar no hotel Brasil. Rio Ribeirão. Ribeirão corta a cidade. Problemas de enchente em bairros de Cohab. Bonfim Paulista é um distrito de Ribeirão. Distância de 15 quilômetros. Cidade pequena e bonitinha. Antiga oficina entre rodoviária e Mercadão. Clientela das fazendas que faziam compras no Mercadão. Relojoaria era passagem. Trabalho de domingo e sábado. Não haviam restrições de abertura comercial aos domingos. Licença e alvará. Aposentadoria com 36 anos de serviço. 59 anos de experiência profissional com relógio. Esposa tornou-se relojoeira. Atualmente existem máquinas de precisão. Antigamente era precisão de ouvido. Regulação de ouvido. Antigamente trabalho manual. Existiam cinquenta mil eixos de relógio. Hoje não. Hoje eixos são padronizados. Eixo EB2021 referência do relógio. Se fazia relação de eixo e numerava. Acúmulo de eixo. Relógio de Rubi. Peça sintética. Função do rubi é segurar o óleo e preservar o eixo. Hoje os relógios usam pilha. Relógio de pilha é lento. Inovação dos relógios de pilha. Reforma e venda de relógio de bolso. Coleção de relógios na loja. Relógio pedestal começa no chão. Carrilhão é o relógio pendurado. Música no carrilhão. Relógio carrilhão foi inventado para tocar a cada 15 minutos. Horas nas notas da música. Som do relógio. Relógio Westminster inventado por italiano. Carrilhão toca as mesmas notas musicais. Carrilhão com alavanca toca Westminster e Ave Maria. A pessoa tem que prestar atenção. Horas pelo som da música. Relógio atrasado necessita regular. Coleção de relógio. Recordações de trabalho. Preferência por maquinários da Universal e Omega. Preferência pelo relógio atual Tissot. Fabricações no Japão de relógio automático. Relógio de pilha fabricado na China. Trabalho com chaves. Trabalho com encadernamento. Filho trabalha com joalheria. Reinvenção na loja. Momentos de desespero com enchente e roubo. Transtornos durante obras de calçadão. Prefeito Maggioni. Ficou bonito. Outro prefeito derrubou. Conflitos políticos. Reformas de calçadão. Ladrão aproveitou pouco movimento. Ladrão cortou o cofre. Corte com maçarico. Cofre muito caro. Trava especial. Colecionador de relógio Lolato. Acervo de quarenta relógios de parede. Sons de relógios regulados em sequência. Venda de muito relógio para Lolato. Imigração chinesa no centro da cidade. Compra de prédios comerciais por chineses. Investimento de negócios por famílias chinesas. União de comerciantes chineses. Produtos chineses baratos. Quebra de comércios locais. Concorrência. Negócios turcos e italianos. Importância do time Botafogo. Botafogo surgiu na Vila Tibério, no clube da Vila Tibério e campo de futebol. Botafogo é um time simples. Época do jogador Sócrates. Torcida mesmo com derrotas. Time Comercial. Vida de Sócrates. Treinamento no Botafogo. Consumo excessivo de bebidas. Irmão Raí. Chácara da Antártica. Arca. Jogos de bola na Arca. Arca é a chácara da Antártica. Jogo de bocha e futebol. Snooker. Ping-pong. Clube. Antártica empregava três mil funcionários e indiretamente dez mil. Fechamento. Local caindo aos pedaços. Filhos foram ensinados desde pequenos na função de relojeiros. Ensino da profissão à filhos e sobrinhos. A família está no relógio. Oito sobrinhos que começaram negócios com relógio. Três filhos: dois meninos e uma menina. Filhos Danilo, Rafael e Mariana. Quarenta anos de casamento. Esposa Aparecida Roseana Zunfrili Massaro. Se conheceram na vizinhança. Hoje tem duas netas. Netas de três e oito anos. Família Zunfrili é italiana. Presença italiana forte na cidade. Alegria em compartilhar sua história. Conselho de estudar. Só se pode vencer se for estudioso. Sempre procurou fazer o bem antes de julgar. Ajuda às pessoas. Nunca maltratou ninguém. Ajuda aos parentes e pai. Não se pode ser aquela pessoa arrogante. Agradecimentos. Encerramento.
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