Projeto: Ernst & Young - Mulheres na Tecnologia
Entrevista de Alessandra Koster
Entrevistada por Luiza Gallo
São Paulo, 06 de julho de 2023
Código da entrevista: MTS_HV007
Revisada por Grazielle Pellicel
(00:18) P1 - Alessandra, primeiro eu quero te agradecer demais por topar dividir um pouquinho da sua história com a gente, por estar aqui. E, para começar, eu queria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, a data, e o local de nascimento.
R - Legal. Em primeiro lugar, eu estou muito feliz de estar aqui, é uma realização mesmo estar perto do Museu da Pessoa. Tenho ouvido falar muito bem, várias histórias, estou conhecendo mais, então, realmente estou me sentindo lisonjeada pelo convite. Obrigada. Meu nome é Alessandra Koster, eu nasci em São Paulo [no] dia 12 de dezembro de 1975.
(00:54) P1 - E te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R - Me contaram, minha mãe, né? Na verdade, o que é muito interessante, que ela fala: “Alessandra, você tem sede de viver, você nasceu antes do tempo, veio em um súbito de vida, né, escorregou". Não deu nem tempo dela tomar [a] raqui, a vacina, porque era uma sede de vida. E eu vou te falar que isso me representa muito, né, a sede de vida: eu amo viver, eu curto cada segundo do que a vida me traz, tudo é aprendizado, tudo eu tento olhar. Quando a gente recebe um desafio, seja ele, sei lá, uma experiência de vida, ou de pessoa, ou de espírito, a gente fortalece. Então, para mim, viver está sendo um máximo. E a minha mãe fala: “ Você chegou desesperada para viver". Eu acho que foi isso, foi muito rápido.
(01:47) P1 - E por quê? Como foi a escolha do seu nome?
R - Olha, uma boa pergunta. Ela tinha duas opções: Alessandra, que vem, é um nome forte, italiano, apesar dela vir de uma origem alemã, ela gostava muito desse nome por ser forte, um nome grande, né, que ela gostava. E ela pensou em um nome composto, Ana Luiza, e aí ela falou: “Bom, vou com Alessandra, que eu...
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Entrevista de Alessandra Koster
Entrevistada por Luiza Gallo
São Paulo, 06 de julho de 2023
Código da entrevista: MTS_HV007
Revisada por Grazielle Pellicel
(00:18) P1 - Alessandra, primeiro eu quero te agradecer demais por topar dividir um pouquinho da sua história com a gente, por estar aqui. E, para começar, eu queria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, a data, e o local de nascimento.
R - Legal. Em primeiro lugar, eu estou muito feliz de estar aqui, é uma realização mesmo estar perto do Museu da Pessoa. Tenho ouvido falar muito bem, várias histórias, estou conhecendo mais, então, realmente estou me sentindo lisonjeada pelo convite. Obrigada. Meu nome é Alessandra Koster, eu nasci em São Paulo [no] dia 12 de dezembro de 1975.
(00:54) P1 - E te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R - Me contaram, minha mãe, né? Na verdade, o que é muito interessante, que ela fala: “Alessandra, você tem sede de viver, você nasceu antes do tempo, veio em um súbito de vida, né, escorregou". Não deu nem tempo dela tomar [a] raqui, a vacina, porque era uma sede de vida. E eu vou te falar que isso me representa muito, né, a sede de vida: eu amo viver, eu curto cada segundo do que a vida me traz, tudo é aprendizado, tudo eu tento olhar. Quando a gente recebe um desafio, seja ele, sei lá, uma experiência de vida, ou de pessoa, ou de espírito, a gente fortalece. Então, para mim, viver está sendo um máximo. E a minha mãe fala: “ Você chegou desesperada para viver". Eu acho que foi isso, foi muito rápido.
(01:47) P1 - E por quê? Como foi a escolha do seu nome?
R - Olha, uma boa pergunta. Ela tinha duas opções: Alessandra, que vem, é um nome forte, italiano, apesar dela vir de uma origem alemã, ela gostava muito desse nome por ser forte, um nome grande, né, que ela gostava. E ela pensou em um nome composto, Ana Luiza, e aí ela falou: “Bom, vou com Alessandra, que eu acho que hoje é o que representa a forma como ela veio". E eu gosto muito do meu nome, claro que tem os apelidos, do Alê, que eu gosto bastante, mas eu gosto bastante do meu nome, eu acho que ele é bem forte, representa.
(02:23) P1 - E você sabe a origem da sua família?
R - A minha mãe é alemã, ela chama Svea Barbara. Meus tios têm nomes alemães, então, tia Gred, o outro é Swen, o outro é Knut, então os quatro nasceram em Blumenau, colônias alemãs. Minha mãe falava só alemão até os dez anos de idade. Eu não falo. Guten morgen (bom dia) é a única coisa que eu sei falar, (risos) ou falo grobian (grosseirão, grosseira), que é quando eu era meio grossa com ela: “Grobian!”, que é o “Ai, não seja grossa”, né? São coisas… ou herzblatt (querida, preferida), que é bonitinho: o herzblatt é o coração da flor. Então tem coisas bonitinhas que eu aprendi também. (risos) E eles, bom, a família toda [é] alemã, né, então, origem alemã, em colônias alemãs em Blumenau, então ela tem o alemão, o dialeto vindo de Berlim, mas é brasileira. Então, a partir dos dez anos, ela começou a ir para a escola, foi daí que ela aprendeu o português. E do lado do meu pai, meu pai tem origem portuguesa, né, que veio o Sampaio, aí nasceu em São Paulo, [e] não tem muita história, a gente tentou até ir atrás para ver árvore genealógica, para ver passaporte, essas coisas, porque o alemão é mais duro nisso, né, e no português a gente não conseguiu achar muita coisa da família. Então, juntou o alemão com o português. Aí eu casei, meu marido também vem de origem portuguesa, ficou o Aguiar, (risos) então ficou Alessandra Koster Sampaio de Aguiar. Então eu uso bastante o Koster, que é onde eu acho que é onde tem uma representatividade, traz essa força que eu gosto do Alessandra, né, e acabei me identificando aí na minha vida de solteira. Mesmo casada, sou mais conhecida por Alessandra Koster.
(04:05) P1 - E você tem irmãos?
R - Eu tenho um irmão mais velho que se chama Marco Antônio. Minha mãe também ficou na dúvida de dar um outro nome: Marco Polo. Ainda bem que não, (risos) senão ia ficar aquela brincadeira: “Marco? Polo! Marco? Polo!”. (risos) Então ele falou: “Me dei bem”. Ele é mais velho, um ano e meio, então a diferença é pouca. A gente é muito amigo, muito amigo! Eu sinto muita falta dele, porque ele mudou para os Estados Unidos a trabalho, faz dezesseis anos. A gente, inclusive, fez uma viagem recente - essa história é legal contar. A minha mãe, então, por ter origem alemã, ela sempre quis voltar para Berlim, ela foi [visitar quando era] muito pequena, né, jovem, aí passaram-se os anos, e ela está com oitenta anos agora, meu irmão, a gente se juntou e falou: “Puxa, vai saber quando ela vai conseguir viajar de novo, é o sonho dela. Vamos levá-la?”. Acabamos de voltar, fomos para lá, levá-la, ela foi conhecer. A origem da família dela é de Colônia, né, de Köln, então a gente foi conhecer. Até a gente tentou buscar se tinha alguma pessoa lá da família, a gente não encontrou. A gente levou ela, uma senhorinha, [pra] ver as origens dela em Berlim, em Colônia. Foi super emocionante assim, foi super legal. Fizemos agora.
(05:19) P1 - Pensando nessa viagem, eu vou aproveitar..
R - Claro.
(05:23) P1 - Teve algum lugar que foi muito emocionante para você? Como foi para ela? Você observar ela reencontrando as origens, assim…
R - Foi emocionante assim, do começo ao fim, né, porque meu irmão saiu dos Estados Unidos e encontrou com a gente, e eu sai com ela daqui, né, então quando ela encontrou os dois filhos na origem da vida dela, na Alemanha, né, ela só falava alemão até os dez anos de idade, foi tudo muito emocionante. Cada dia ela só falava: “Ai, meu Deus, eu estou realizando um sonho!”. Mas eu acho que o mais marcante, que era o que ela falava, era: “Eu queria muito pegar…”, tem um barco que sai do Rio Reno, lá em Colônia, e você faz o passeio por todo o… são duas horas, três horas de passeio, e ela olhava e falava: “Meu Deus, eu estou aqui em Colônia, no Rio Reno com os meus filhos realizando um sonho e falando alemão com os alemães”, e a gente não entendendo nada e ela lá. E foi interessante, porque quando meu tio teve acesso a alguns alemães que vieram em um projeto, meu tio começou a falar alemão com eles, aí eles respondiam tal - isso faz uns dez anos -, aí meu tio perguntou?: “O que você acha do meu alemão?“. Aí o cara falou: “Olha, ele é muito bom, mas é arcaico, eu não sei de que século você é”. E ele ficou super sem graça, ele falou: “Nossa, eu achei que eu estava arrasando”. Ele falou “Não, você está arrasando, mas é muito antigo”. E nesse barco, lá no Rio Reno, minha mãe começou a conversar com um alemão, um senhor, e a minha mãe fez a mesma pergunta de curiosidade: “O que o senhor acha do meu alemão?”. E ele disse: “Olha, do século passado”. E não deixa de ser verdade, ela é de 1941, né? Ela falou: “Poxa, é verdade”. Ele falou: “Olha, está super bom, só está desatualizado”. A língua se atualiza. A gente vê pelo português, né? Tira trema, tira acento. O alemão também se reinventa. Então, e ela morava em colônias alemãs, que eram dialetos puros de Berlim, mas eram um dialeto antigo, mas para ela foi muito legal… “Mas o senhor me entendeu, tudo?”. Ele: “Não, perfeitamente, mas a senhora é do século passado, é só se atualizar no alemão”. E ela faz trabalhos muito legais de tradução, para não perder, deixar a mente sempre ativa: ela traduz livros do português pro alemão e vice e versa; então foi uma coisa que ela fala: “Alessandra, é minha língua mãe, é minha língua nativa”. Então foi muito fácil dela chegar em Berlim, em Colônia, e falar com as pessoas, fluia, porque é o natural dela. Então para gente, é o que eu falo: “Puta, a vida traz tanta coisa legal”, e curto a vida assim cada segundo, porque tudo é surpresa e a gente tem que sempre olhar pro copo meio cheio, né? Lógico que tem desafios difíceis, eu trabalho em diversidade e inclusão - a gente vai falar um pouquinho disso -, eu tenho a empatia de ver o que as pessoas passam, eu tento sempre me colocar na vida do outro, mas eu não posso viver a vida do outro, porque a gente também tem os nossos desafios de vida, mas a gente tem sempre que olhar que é um aprendizado constante, o que a gente pode extrair o melhor daquela situação difícil. É sempre uma evolução. Então, ver ela passando por isso, né, curtindo, ou como é que a gente pode ajudar outras pessoas em momentos difíceis, para mim, assim, olha, é curtição 100%.
(08:41) P1 - E você conheceu seus avós?
R - Conheci por parte da minha mãe e do meu pai. Da minha mãe, era interessante, porque ela, [minha avó], tinha um sotaque super forte alemão. Ela chamava Isa Elza e a gente chamava ela de mama Isa, e ela não conseguia falar, por exemplo, liquidificador: “liququququidificador.. “, porque o sotaque [é] super difícil. Infelizmente, eu a perdi com cinco anos, eu tinha cinco anos, então foi super cedo. Ela era muito querida, eu lembro muito dela: era uma viagem que a gente fez de trem, de São Paulo para Nova Friburgo, ela morava no Rio. Então elas saíram de Blumenau, meu avô foi tentar a vida no Rio de Janeiro, depois levou toda a família, tanto que a minha mãe é formada em veterinária pela Ufrj (Universidade Federal do Rio de Janeiro), né, então eles ficaram um tempo no Rio de Janeiro tentando a vida, e aí eles acabaram construindo uma casa em Nova Friburgo, na Serra. Então ela morava com a irmã dela, a Nina, então a gente foi visitar… ela me ajudou muito, eu morria de medo de cachorro, então ela me ajudou muito a perder medo de cachorro, a minha tia Gred [também] me ajudou. Eu morria de medo! E aí ela tinha um cachorrinho, que era um pequinês, a minha tia Gred, e ela foi mostrando: “Olha o Ila!”, chamava Ila. Imagina, eu tinha cinco, seis anos. Tem coisa que a gente lembra. “Olha o Ila, põe ele no seu colo, abraça ele” e ele era muito bonzinho, já era um senhorzinho, um velhinho, então eu fui perdendo o medo. Então eu lembro muito uma característica da minha avó, nesse sentido de cuidado, então, os cachorros vindos nessa casa em Nova Friburgo e ela me pegando no colo, porque eu tinha medo de cachorro. Foi uma coisa legal. E do lado do meu pai também, a minha vó tinha um nome super legal, ela chamava Felicidade, olha isso, então a gente chamava ela de Dona Felicidade - e o meu avô, José Maria - e ela também, ela era muito querida: eu lembro muito dela do chá da tarde, famoso chá da tarde das avós, e ela fazia com muito cuidado o chá da tarde, chazinho, o cheirinho do café, o cheiro do chá, o bolo, e o feijão dela. Eu falo: “Mãe, até hoje você perdeu de não ter aprendido a fazer o feijão que a vovó fazia". Então, eu também perdi ela eu eu já tinha, eu era um pouco mais velha, devia ter uns quinze, dezesseis anos, foi bastante contato. O meu avô também, era um cara que acordava quatro da manhã para andar, então era muito legal, ele era muito saudável, então andava, andava, andava, andava tudo, não pegava nem metrô, fazia tudo a pé, era bem magrinho, magrinho, andava, andava, tinha um astral, uma energia muito boa. Então foram experiências muito boas, muito boas.
(11:10) P1 - Teve algum outro parente que foi muito importante assim, tem alguma recordação muito querida?
R - Eu tenho essa minha tia Gred, que eu comentei, né, minha mãe, como ela é formada em veterinária, ela trabalhou a vida inteira dela no Instituto Biológico de São Paulo, na vila Mariana, então, como pesquisadora na época da virologia; ela era focada na parte de virologia animal, na época da vaca louca, né, que foi um estouro, ela era uma das pesquisadoras masters, super interessante. E a minha tia também se formou como ela, em veterinária, mas acabou não atuando. Então, coisa de colégio, não tinha as vezes onde ficar, então voltava do colégio, ficava na casa dessa minha tia, minha tia Gred, e ela que me ensinou a perder medo do cachorro, então para mim ela fez parte como uma segunda mãe, né, ela era muito, fisicamente, parecida com a minha mãe, né, clarinha, de olho claro, então eu tenho uma identificação muito boa. Hoje ela está numa casa de repouso, já não está mais, está entrando em um esquema de Alzheimer; a gente visita ela todo mês, né, ela já não me reconhece mais. O primeiro dia foi muito triste para mim, deu aquela sensação de choro, mas para mim, assim, o que vale é a história que ficou e o quanto eu vou continuar contribuindo para ela. Ela lembra da minha mãe desde coisas de infância, só da minha mãe ela lembra, então quando a gente vai visitar, ela não lembra que tem filhos, ela não lembra que teve marido, que já é falecido, os filhos são vivos, e a minha mãe chega, ela fala: “Zefa…” - que elas tinham um apelido entre elas - “Zefa. É você Zefa?”. Eu falo: “Gente, é impressionante, ela não lembra de ninguém, só da minha mãe". Então é muito legal, é emocionante de ir lá, mas as nossas histórias ficaram comigo agora.
(12:54) P1 - E você sabe como os seus pais se conheceram?
R - Sei. Eles tinham amigos em comum, na época minha mãe tinha, ela fez UFRJ, aí ela voltou, justamente, para uma oportunidade no instituto biológico, né, então ela começou lá e lá fez a carreira. Antigamente era isso, né, se a gente conta… eu lembro meu primeiro emprego, quando eu falei: “Pai, eu mudei de emprego”. Ele: “Como assim? Meu Deus! E agora?”, porque meu pai também ficou no emprego dele a vida inteira. Minha mãe, então, no Instituto Biológico, e ela começou a ter uns amigos lá, amigos mais jovens, tal; dentre esses amigos, uma amiga que ela fala muito bem, uma amiga judia que ela adora, até hoje eu acho que elas mantêm contato, apresentou meu pai para ela, então eles saiam. Minha mãe, na época, morava em um apartamento, acho que na Rua Augusta tal, ele gritava: “Venha Bárbara! Desce!”, então eles saíam e tal. E dali começou um namoro. E daí que veio o namoro, eles logo casaram. E é interessante, porque naquela época ela já tinha trinta anos, 28, 29, o pessoal já falava “já ficou para titia, né?”. Hoje em dia, graças a Deus não tem esse preconceito, né, mas na época ela já falava: “Ah, bom, vou ser solteira". Aí apareceu essa turma, e aí ela acabou se interessando, ele tem a mesma idade que ela, na época os dois 28, 29, acabaram casando aí com 30 anos, meu irmão veio com 32 e pouco, e eu vim com 34 anos, dela.
(14:22) P1 - E tem alguma história inesquecível de infância para você?
R - Minha? Olha, tem uma história interessante de infância minha, que a minha mãe tirou até uma foto de eu brigando com um menino, porque ele estava brigando com o meu irmão, né, então, e é interessante, porque eu sempre tive essa coisa da defesa, né, da justiça, não sei, tem gente que acredita, tem gente que não, mas a parte de signo e tal, o meu é, eu sou sagitariana, então para mim, cara, a injustiça dói muito, né, então eu acho que o fato deu estar hoje inserida em diversidade e inclusão mexeu muito comigo, de uma maneira muito positiva, por outro lado, eu fiquei muito emotiva de ver alguns sofrimentos e tantas injustiças. Então, eu acho que desde aquela época eu via as pessoas, uma injustiça com outras, brigando ou desfavorecendo, eu sempre intervi, né? Nesse dia, eu estava intervindo e brigando com o menino, gente, eu [era como o] Catatau (pequena), eu tinha um ano e meio, a minha mãe tirou foto de eu falando assim com o menino… e meu irmão era mais velho, e meu irmão assim, tipo: “Meu, quem é essa? What?”. Então, eu acho que tem isso, essa, foi marcante. Eu e meu irmão a gente é tipo melhores amigos, né, então acho que foi marcante porque mostra essa coisa muito alinhada entre mim e ele, sabe? É muito forte.
(15:52) P1 - O que vocês gostavam de fazer juntos?
R - Nossa, aí eu vou entrar, meu, na minha infância, que é maravilhoso. A gente morou em um prédio, que é o famoso Granja Julieta, que é o Granjão, que a gente chama até hoje, e eu tenho no meu WhatsApp o nosso grupo, crianças, assim, que eu tenho, [conheço] desde os dois, três anos de idade, ou seja, eu hoje tenho 47, tenho orgulho de falar a minha idade, 47 anos, amigas de infância até hoje, que a gente fala: a mais de quarenta anos a gente está juntas! E eu não estou falando de um, dois, três, eu estou falando de grupo de dez, de quinze. Então é uma delícia, foi a melhor infância da minha vida. Era um prédio, que chamava Esplanada Granja Julieta, fica lá na Granja Julieta, em Santo Amaro, quatro torres, com quatro apartamentos por andar, então são mais de 240 apartamentos, duas piscinas, então, assim, minha infância foi incrível: voltava da escola, já não via a hora de descer, aí a gente brincava de travessia, que era o tubarão, sabe, quando alguém fica como tubarão e todo mundo tenta atravessar a piscina. Policia e ladrão, o que tem mais de história: dez da noite fechava o pátio, a gente se escondia dos guardas (risos) e aí o cara vinha lá com a lanterninha, e aí todas as portas trancadas, a gente tinha que pular o muro. O que teve de amigo que, meu, quebrou perna, quebrou braço. Assim, foi uma infância muito boa assim, sabe? A gente sai um pouco, eu hoje trabalho com videogame, eu prezo pelo videogame, eu sei dos benefícios de videogame, mas não é só videogame que a gente tem na nossa vida, então, na minha época, foi interessante, na infância, a gente fez de tudo além do videogame. Meu primeiro videogame, eu tinha dezesseis anos: Phantasmagoria. Sierra Online, que é o estúdio. Quando eu falo isso, as pessoas só da minha idade que sabem (risos) e falam: “Gente!”. E era um videogame que não é a tecnologia que é hoje, era tipo uma atriz! É muito legal, porque eu descobri [o jogo] outro dia no gogi.com e eu to jogando! E você olha assim: “Meu, é muito déjà vu”, é muito cheirinho de infância, sabe? E estou jogando com a minha mãe, uma senhora de oitenta anos jogando Phantasmagoria comigo, porque eu aprendi com ela, né? Então videogame sempre teve inserido, é muito legal, eu tenho dois filhos, vou falar um pouquinho deles, super heavy gamers, adoram jogar jogos de videogame, jogam, eu deixo, eu estimulo, porque a gente tem o equilíbrio, eu sei dos benefícios, da socialização, principalmente momento de pandemia, que a gente viveu, socialização, mas na minha infância a gente podia equilibrar melhor. Hoje o que eles passam na coluna, eu já levei no ortopedista: tá com dor no não sei o que, é porque fica na cadeira. Eles jogam futebol, esporte… vou falar um pouco disso também: minha vida é esporte. Me chamam de quadri atleta, de tanto… eu faço tudo de esporte, sempre fiz. Então eu acho que da minha infância, esse grupo foi muito saudável, porque a gente brincava de tudo: brincava de amarelinha, brincava de volêi, brincava de queimada, brincava de travessia, polícia e ladrão, de tudo, viajávamos, tinha um deles que tinha um sítio a gente viajava. Tiveram as loucuras também, como, meu, toda infância, toda adolescência a gente faz, mas de uma forma muito saudável. Então foi muito legal, e que a gente carrega essa amizade até hoje, até hoje.
(19:15) P1 - Tem alguma história marcante assim, de algum dia, algum causo?
R - Caos?
(19:22) P1 - Causo. É, pode ser um caos também. (risos)
R - Porque caos tem, (risos) sempre tem, né? Aí eu acho que, putz, tem tantas histórias com eles, eu acho que tem muita. Tinha uma que eu comentei, da viagem, tinha um deles que tinha um sítio em Mairiporã, né, e era muito engraçado porque era uma casa, o lago na frente, as árvores, e aí quando anoitecia vinha a lua, você falava: “Gente, o Jason", né? Total. "Gente, o Jason". Então lá, eu já tinha lá dezesseis, então tinham turmas entre quinze e 21 anos, né, então já é uma idade próxima, todo mundo se ajuda, tinha gente que dirigia, então dava para ir de carro, então a gente teve... contava história de terror para dormir, não dormia. A gente viajava todo mundo junto para ir nesse sítio, enfim, explorava, andava pela região. Eu acho que tem histórias muito gostosas nesse sentido, tiveram várias. Aí a gente já foi todo mundo para o Guarujá, porque um tinha uma casa, e ficava todo mundo acampado na casa desse um que tinha uma casa. Acho que assim, foi uma aventura atrás de outra, sabe? Sempre junto, e olha que eram adolescentes que estudavam em escolas diferentes, né? Eu tinha a bolsa, meu pai é professor, minha mãe, veterinária, então meu pai é professor, ele lecionava no colégio São Luís, eu estudei no São Luís a minha vida inteira, um colégio que eu botei meus meninos por conta da formação, dos valores. Ele é católico, jesuíta, né, o colégio, então pela formação, pela humanização que eles trazem, muito legal, me ajudou muito [como] pessoa. E outras pessoas estudavam em Elvira Brandão, Pueri Domus, mas na hora de ir para a casa, era aquele grupo da infância, né, e depois cada um foi, seguiu uma carreira, uma educação diferente, mas estamos juntos até hoje, e até hoje a gente se encontra. Inclusive, dia 22 de julho vai ser na minha casa, churrasco lá. Então, eu acho que é isso que eu prezo para os meus filhos. A gente mora em um prédio hoje que ele é pequeno, não tem tantos adolescentes, mas ele tem essa turma do colégio, e que ele preza, um deles está inclusive em uma viagem com um dos amigos em Ubatuba, o outro namora, tal, mas é um grupo unido, um grupo grade entre eles, e agora que eles vão prestar faculdade, é o que eu falo para eles, preservem, porque por mais que cada um vá para rumo, a amizade fica, né, e é para uma vida. Então uma das coisas que eu queria deixar aqui como uma mensagem é: a gente precisa de amigos, é muito importante. A gente conta nos dedos, claro, mas é muito importante a gente ter essas pessoas para a gente se sentir acolhida.
(22:02) P1 - Ale, infância ainda: a sua família tinha algum hábito de comemorar, fazer algum tipo de comemoração?
R - Natal, que é muito legal, até hoje a gente se junta, e os aniversários, então aniversário é tipo na semana do aniversário. Eu, uma das coisas que eu amo, minha comida predileta é camarão, né, então eu falava “Mãe…”, “Está bom, já sei, no seu aniversário vou fazer camarão". Até hoje ela faz o catupiry e camarão, o camarão com catupiry que eu amo. Só que teve uma vez que eu falei: “Mãe, já que é a semana do aniversário, eu queria comer em um lugar, sei lá, que viesse muito camarão". Aí ela me levou, na época tinha o do Shopping Morumbi, meu, era fast food, que era o Vivenda do Camarão, e eles abriram um buffetzão, não era tipo aquele que você pedia na praça. Nossa, eu me esbaldei, eu me esbaldei. Camarão para mim é delicioso. Então, tinha esse negócio da semana do aniversário, de fazer algo diferente, sair numa quinta. O aniversário cai no sábado, começava já na segunda uma brincadeira, aí vinha uma surpresa, aí vinha, e não era ostentação, era o carinho, né, é a semana que vai ser, aquela semana que vai ser a semana do seu aniversário, então: “Ah, leva para fazer alguma coisa, leva para ir no parque, porque é uma semana diferente". Então, eu acho que teve muito isso. O meu irmão que nasceu em junho, né, eu em dezembro, ele em junho, então a gente também fazia a comemoração dele, da minha mãe, então, assim, por mais que a gente tenha viajado agora em junho, é uma pré comemoração do aniversário dela, né, que vai ser agora em agosto, então a gente tentou coincidir datas por conta de trabalho, então a gente vê, a gente preza o aniversário como uma coisa muito importante, muito importante.
(23:40) P1 - Desde sempre?
R - Desde sempre, desde sempre.
(23:44) P1 - Que gostoso! E vocês tinham o hábito de ouvir música, assistir TV? Isso fazia parte, assim, da sua vida?
R - De estar juntos?
(23:56) P1 - É.
R - TV, meu pai… engraçado, ele sempre foi muito restrito, né, eu acho que um pouco da geração dele, então era mais notícias, então a gente não tinha… que por um lado eu acho que era interessante, saudável, né, eu não acompanhava tanto noticias ou novela, eu fui acompanhar mais tarde, mas a gente ouvia muita música. Então, e é interessante, porque hoje eu vejo que um dos meus filhos gosta um pouco de música clássica, né, e eu falo: “Não é de mim". (risos) Mas o meu pai botava, então, [no] final de semana, professor, ele se concentrava em ficar corrigindo prova, botava uma música clássica ambiente, e aquilo ficava com a gente, então hoje eu conheço muitas músicas clássicas, e passei um pouco, lógico, para os meninos, para eles conhecerem, muito do que trouxe da infância. Então música para mim sempre foi muito, né, no ar, mas tinha que ser músicas mais tranquilas, aí quando eu me juntava com meu irmão era rock, e eu lembro até hoje, tipo, música para mim e para ele, a gente ouve as mesmas, então, Marillion, Rush, Pink Floyd, que era da turma daquela época, e eu e meu irmão, então a gente tem muitas músicas em comum, o que é muito legal, então tem músicas que marcam mesmo, principalmente essa época da infância, onde juntava todo mundo. E hoje em dia a gente ouve as músicas que são totalmente diferentes, né, meus filhos cada um tem um gosto completamente diferente, são músicas bem distintas, mas hoje para mim música é muito importante até para, ou para relaxar, né, ou para se inspirar, ou para dançar, né? Eu acho que eu sou bem baseada em música mesmo, eu gosto.
(25:30) P1 - E vocês tinham o hábito, não sei, imagino você e seu irmão, de ir em show?
R - A gente ia em show. A gente foi até recentemente - recentemente, [entre aspas], faz uns anos, né - no do Pink Floyd, quando veio. Inclusive ele está vindo de novo, né, para cá em novembro, o Roger Walters. Então a gente foi, eu fui então. Eu tenho duas que eu amo de paixão, e que eu fazia até Karaokê, dançava também, uma é uma ídola que assim, putz, eu aprendi a dançar muito por conta dela, que é a Madonna. Cara, eu adorava Material Girl, sabe? Ai Like a Prayer… gente, todas as músicas eu dançava! Uma prima minha, era muito engraçado, ela é um pouco mais velha do que eu, muito querida, hoje ela mora em Florianópolis, né, da família, e ela, putz, a gente dançava Madonna juntas, né, então Madonna para mim foi, eu tenho livro dela, da autobiografia, eu gosto muito dela. Eu sei que ela é polêmica, mas eu acho que é uma mulher de força, uma mulher de história, uma mulher de poder nesse sentido, né, então eu acho que, para mim, admiro muito ela como mulher. E a outra foi a Roxette. Então, eu amava! Eu fui em um show dela, eu chorava no show, tanto o da Madonna, que eu também fui quando foi no Morumbi, quando tocou aquela música Rain, coincidentemente chovia, e eu chorava, porque era muita emoção para mim. Então foram duas mulheres [que], uma graças a Deus ainda está viva, outra infelizmente a gente perdeu. Acho que a Roxette foi fantástica, ela fazia coisas muito legais como pessoa, responsabilidade social também, e a voz dela também, a perda dela, eu acho que foi muito, me marcou, eu fiquei muito emocionada. Eu gostava muito de cantar as músicas dela, eu aprendi inclusive inglês, muito do inglês por conta das músicas delas. E hoje eu vejo que é interessante, [no] videogame… claro que a gente, eu trabalho nessa linha, quer trazer mais videogames dublados em português, para facilitar, somos todos brasileiros, tem que estar em português, mas aqueles que a gente não consegue, ou os outros publishers não conseguem, eu vejo muita molecada aprendendo inglês por conta disso, pelos meus próprios filhos. Então tem o lado de aprimoramento, que a gente tem que atender a cultura brasileira do português, mas, por outro lado, tem uma influência interessante de você aprender através de música, através de videogame, você aprender uma língua nova através disso. Também estudo espanhol, para gente é importante, porque vira e mexe a gente fala com time da regional, não tem uma exigência de falar espanhol, mas acho que, hoje, no Brasil, é um segundo requisito, né, além do inglês, e eu vejo hoje muitas séries em espanhol. Então quando você pega na Netflix, ou Amazon Prime, todas essas, né, que hoje tem um monte de variedade, você vê lá: séries em espanhol. Então o que é legal é que é uma prática que você pode dar continuidade, você tem professores particulares, você faz em uma escola, mas como que você pode dar continuidade? Hoje eu vejo muito mais alternativas nesse sentido, né, e é interessante também comentar, nessa linha de diversidade e inclusão, que eu comecei a fazer sinais, eu comecei a aprender linguagem de sinais, que a gente fala aqui mesmo (faz sinal) ou aqui (faz sinal), línguas de sinais. E hoje eu comecei a aprender libras, né? Então eu tenho uma professora particular. É super difícil, mas eu queria… é aquele negócio da empatia: como eu posso me colocar do lado do outro? Então eu até hoje, eu até esqueci, e aí foi uma falha minha, porque a gente fala muito lá dentro da empresa, Microsoft: como é que a gente começa quando a gente está em uma entrevista? “Oi, meu nome é Alessandra, eu sou branca, né, estou usando… eu sou branca, meu cabelo é loiro, comprido, tenho olhos castanhos, eu estou usando uma camisa cinza com um colete preto, meu ambiente aqui atrás é totalmente cinza, eu estou sentada em uma cadeira vermelha”, porque é tão interessante… outro dia a gente contratou a Teresa Guilhermina, que é uma corredora, ela é cega congênita, nasceu assim, e a gente chamou a Teresa para ela conversar um pouco com a gente, contar um pouquinho da história dela de determinação, de vida, porque ela foi representar a gente em Tóquio, [nas olimpíadas], em 2020, e ela contou isso, ela falou assim: “Alessandra, o que é muito interessante, se você não fizer sua auto descrição, eu vou te imaginar e pode ser totalmente diferente do que você é". E ela me contou uma história, ela falou: “Olha, outro dia eu tinha que pegar, ou pegar uma encomenda ou entregar uma encomenda, e eu falei para mulher: ‘Ah, então você vai estar…’” e a mulher desligou. E aí ela foi, falou: “Olha,” - para a mulher - “eu acho que ela é japonesa, pela voz dela. (risos) Ela não me descreveu como ela é, eu não enxergo". Então, por isso que eu falo, a vida traz muita coisa legal, muitos aprendizados, então eu falei: “Puxa”. O meu filho até falou: “O próximo vai ser braile?”. Eu falei: “Por que não?”. Então, entender outras dificuldades, quando você está falando e a pessoa não entende, como é que é ter que falar com a língua dos sinais? Porque é uma língua, né, e foi, isso, eu acho que foi em 2005, foi estabelecido como uma língua oficial, né, a libras é, o sinal, a linguagem do Brasil, que é totalmente diferente nos Estados Unidos, que é diferente da Europa, cada um tem sua língua de sinais, e do Brasil é libras. Como se colocar do lado do outro? Por que não aprender? Não sei se eu vou usar, posso usar. Minha professora contou uma história super interessante. Ela dá aula, ela frequenta igreja e uma senhora veio procurar, falou: “Olha, a senhora dá aula de libras?”, “Dou, tal”, “Porque eu estou perdendo minha audição, eu acho que vou ficar surta, provavelmente não vou conseguir mais me comunicar, e eu queria começar, né, o sinal de libras". Ela falou: “Nossa, quantos anos a senhora tem?”, setenta e poucos. Já não escuta mais, né? Então, por que não começar? Eu falei: “Poxa, por que [é] que eu estou aprendendo agora? Eu quis, e a agenda coincidiu, e eu estou nesse momento de diversidade e inclusão, pode ter um propósito, e pode ser um propósito bom”, como essa moça, a Roseli, que é minha professora que está ensinando para uma senhora que está perdendo a audição, né? Então eu acho que tudo tem um propósito de ser. A gente vai passando nosso caminho, na nossa vida, e a gente vai, vamos aproveitando as oportunidades, porque é aquilo, passou, podem aparecer novas, né? Então, se mergulhar, cair dentro, de cabeça, porque deve ter um propósito muito legal por trás.
(32:10) P1 - Quanta coisa…
R - …coisa! (risos) E eu vou aproveitando o gancho um no outro…
(32:07) P1 - É isso aí! Vai lembrando, né?
R - Vai lembrando. É maravilhoso!
(32:18) P1 - Ale, você pensava o que você queria ser quando você era pequena?
R - Ai, a gente sempre tem o sonho de ser professora ou aeromoça. (risos) Você fala: “Ai, meu Deus, é muito lindo, né, aquele avião enorme, maravilhoso, ai eu quero ser aeromoça”, ou professora. E eu acho que nem tinha influência do meu pai, era mais: “Que bonito a educação, a gente poder ensinar, professora deve saber muito, né? Ela ensina!, né? Aí você vai amadurecendo… e eu tive uma história muito legal, porque, aquele jeito meu bravo de ser, então, eu cheguei para uma tia, lembro o nome dela até hoje, tia Nadiege, eu tinha cinco, seis anos, comecei no São Luís nesta idade, e aí ela fazia as provinhas, era desenho, tal, era o carimbinho do solzinho, então tinha o solzinho rindo, o solzinho sério e triste, e numa provinha, tal, eu peguei um solzinho sério. Cara, eu tinha cinco anos, eu peguei a prova: “Tia, quero entender porque eu ganhei o solzinho aqui". Cinco anos… não, a tia Nadiege, eu lembro até hoje, ela gargalhava, achou um máximo, falou: “Nossa, você tem que ser assim mesmo na vida, questionadora!”. Não, e contou para minha mãe, e elas rachavam o bico, e aí ela explicou o porquê. Eu entendi, mas não aceitei, e ela mudou, botou um sozinho feliz, porque ela falou “ok”. Eu contra argumentei porque ela tinha feito daquela forma e ela mudou o solzinho. Então, para mim, aquele papel de professora era muito legal, né, que ela conhecia muito. Mas, a gente vai amadurecendo, eu queria uma área que fosse mais ampla, de comunicação. Eu gosto muito de comunicação, né, se deixar aqui eu vou falar que nem… então, eu falo demais, tal. Mas aí, a parte comunicativa, né, e saber ouvir, poder falar, poder contribuir. Então eu acho que, meu, nessa linha de administração, foi o melhor caminho que eu encontrei, que aí eu fui descobrir que o marketing é muito amplo. E foi interessante porque eu fui convidada pela escola dos meus filhos para palestrar, porque eles estão no último ano de colégio, para tentar uma faculdade, então eles chamaram alguns profissionais do campo, para a gente poder falar quinze minutinhos o que você faz. E aí eu fui falar: “Olha, gente, o marketing, ele é muito interessante”, porque a administração te dá essa amplitude, te dá essa bagagem financeira de você ser uma empreendedora. Hoje em dia, nossa, o empreendedorismo está super em alta. Ao mesmo tempo, se você vai para uma linha de marketing, ele é muito amplo, porque ele tem comunicação, ele tem a parte de produto… o famoso 4 Ps, gente, ele não morre nunca, do Philip Kotler: é o P de Produto, é o P de Preço, é o P de Place, que é a distribuição, é o P de Promotion, que é comunicação. E aí lógico que incluíram outros Ps, que tem o P de Persona, o P de Package, e outros Ps que vão, mas os 4 não mudam. Então você, o marketing, você tem tudo, você tem o P de Persona, que você tem: como é que eu vou me comunicar com aquela pessoa, né, a melhor mensagem? Entra a parte até de sociologia e também de psicologia do consumidor. Você entra na parte de P de Produto, que é muito legal, para você desenvolver... tem um caso bem legal, na época da Natura, eu ganhei um prêmio de inovação, a gente desenvolveu o Natura Única, foi a marca que a gente trouxe, personificou o batom e a gente trouxe o vanilla! Antigamente, você passava o batom ela tinha gosto de cera, a partir do momento que você traz uma baunilha, uma vanilla, ele se transforma, né, o gostinho, tal. Então você começa a trabalhar o P de Produto, o melhor valor agregado para ele: a que preço eu vou fazer? Que seja acessível, que tenha um posicionamento versus o concorrente. Aí você fala de Place: aonde ele vai estar? Em quais lojas? Agora, no online, tem que estar no marketplace, né? Aí você fala na parte de Promotion: como eu vou comunicar? Que mensagem eu vou passar? Por que que eu vou falar dessa forma? Quais as campanhas que eu vou fazer? Então, quando você fala tudo isso, sabe, o pessoal, os alunos: “Nossa, então isso é o marketing, isso é administração”. Então, para mim, foi, porque eu acho que é o cargo mais completo, né, e ele é o mais amplo. Então hoje eu estou em P de Produto, eu desenvolvo muito a parte de produto. Existe uma área que faz a parte de comunicação, mas eu que passo o que é esse produto para você poder comunicar, então ele acaba sendo uma área mais completa, nessa parte, né, de produto, de posicionamento.
(36:54) P1 - Foi assim que você se encontrou?
R - Nossa, super me encontrei! Nossa, muito! Adoro.
(37:00) P1 - Mas antes, ainda na escola, eu queria saber assim, você sempre estudou no São Luís?
R - Minha vida inteira.
(37:10) P1 - Até o colegial?
R - Foi, até o colegial. E foi muito legal, porque fiz grandes amizades também, além do Granjão, né, que é da minha infância, do Granja Julieta, fiz também amizades de colégio. Inclusive eu tenho duas [amigas], são muito queridas, a Mariana e a Helena, que a gente se fala até hoje. E eu acho que teve uma história, como eu comentei do São Luís, da parte da humanização, e lá é onde eu posso fazer um link muito legal, que é a parte de esporte, que eu tinha comentado. Então, o colégio sempre promoveu muitos campeonatos, meus meninos estão até hoje, então, interamizade, oliarqui, outros campeonatos que eles fazem dentro do próprio colégio, e eu sempre participei, eu gosto muito, né? Então eu jogava tudo, e me chamavam de superdotada da queimada, porque eu queimava todo mundo, (risos) para você ter uma ideia. Então eu jogava queimada, jogava handebol, basquete. Aí eu acabei me especializando mais em basquete, então eu treinava à noite no basquete, inclusive, a técnica do basquete, a professora está até hoje lá no São Luís, chama Rita, então ela lembra dos meninos. Eu vejo ela hoje e falo: “Gente”... e ela está igualzinha! Está [igualzinha] demais. Então ela me vê, eu abraço com carinho, a gente passou muitas alegrias, Economíadas, você viaja para Economíadas, você vai lá para Mococa, vai para não sei aonde, Araraquara, para defender o colégio, jogando. E eu acho que isso para mim, o São Luís trouxe, além da parte da humanização, muito essa parte de disciplina do esporte e a parte da colaboração do esporte. Hoje eu faço alguns esportes que são um pouco mais individuais, como, eu nado, eu corro e faço bike spinning.
(38:48) P1 - Triatleta.
R - Tri. Adoro, mas eu não compito mais, não faço mais competição, porque estou toda ferrada, (risos) mas eu gosto de competir, às vezes eu faço umas competições. Mas, antigamente, eu competia toda hora, tanto que quando eu conheci meu marido, ele me levava, eu ia dormindo e ele me levando: “Vou lá pra Araraquara!”, bate volta pra Araraquara, imagina, três, quatro horas de viagem. Então eu ia lá às vezes para nadar ou para correr ou spinning. Então isso, para mim… e lá no São Luís era basquete, era hand; era o coletivo do esporte, né? Então eu acho que hoje, até acompanho a Dafna - não vou dar o sobrenome dela, é difícil, Blaschkauer, depois eu posso passar o nome dela - [e] ela inclusive trabalhou na Microsoft, e ela foi, ela teve o esporte como a grande disciplina na vida dela, ela representou o Brasil já como tenista, campeã brasileira como tenista, ela acabou indo para Adidas, pra Adidas ou pra Nike, acho que foi para a Nike, porque ela tinha muito forte a parte de esporte, mas hoje ela dá palestras e ela fala muito da disciplina do esporte, como é que ela trouxe isso para o trabalho e como, hoje, como palestrante, ela mostra a importância do tal dos hard skills e soft skills, né, e o esporte traz muito isso. Então, hard skills é: como é que eu vou me especializar naquele esporte que eu gosto, que eu me dou bem? Tem técnica! Natação não é jogar o braço, tem técnica do S, né? Então tem os hard skills e os soft skills. Então, natação, a gente fazia muito [em] competição: bate um, volta o outro. Meu, cada um tem sua habilidade, vamos com o menos rápido - porque não existe o mais devagar, o menos rápido - e o mais rápido é o que vai finalizar. É estratégico! E todo mundo no time! E se alguém passar mal, bola para frente, não é culpado. Então, você traz os valores que o colégio humanizado e o esporte trazem, e isso é muito forte para mim. E o esporte eu acho que traz, por isso que eu não largo. E hoje, que é muito interessante o gancho que eu vou dar, que eu fiquei muito feliz, um lead da Microsoft, Adriano Galvão, que eu tenho uma admiração incrível, ele criou um programa [chamado] Viva Melhor, lá na área mesmo, para as pessoas começarem a se motivar a mais pelo esporte. Por isso, por tudo que traz de benefícios, o esporte. Tudo de uma forma equilibrada, né, tudo em exagero faz mal, [então] de uma forma equilibrada, trazer um pouco mais de disciplina, boa alimentação, atenção, você oxigena, você está lá ativo. Eu, disciplina, todo dia eu faço alguma coisa de manhã, porque eu fico com gás o dia inteiro. É a adrenalina que está lá, é uma adrenalina boa, que você ativa do seu cérebro, do seu corpo, né? Então, ele criou o grupo e aí gente começou a participar de corridas, track & field juntos, um incentivando o outro. Tem uma menina que ela começou, ela não corria nem cinco quilômetros, correu super cansada, dois, três quilômetros e hoje ela faz 7,5 quilômetros: “Gente, eu to indo na track & field. Alguém vai na de 7,5?”. Cara, então assim, é um benefício tão legal que o esporte… então, entra um pouco nessa parte do colégio, de incentivar muito o esporte, como isso pode positivamente impactar na sua vida, no seu dia a dia, no seu trabalho, na sua vida e na sua família, né?
(42:16) P1 - Total. Dessa época ainda do colégio, teve algum professor muito marcante? Professora…
R - Teve essa tia Nadiege, que eu adoro de paixão. Depois, claro, tem a Rita, e a Rita, eu, todo ano, por série, eu tinha as medalhas, então tinhas as medalhas “melhor aluno da série em geografia”, “melhor aluno da série em português”, em história… eu só ganhava de educação física, meu pai falava: “Quando vem de português?”, “Pai, nunca, vai vir só de educação física". Então, ela me incentivou muito, né? E, hoje, quando a gente se vê, é emocionante, sabe, de [ter] lágrima no olho. Ela foi muito marcante, mas tiveram, claro, alguns professores, acho que teve o Tagushi, de física, foi um cara que, assim, era um japonês muito tranquilo, para ele era muito óbvio a física, para mim não é nada óbvio física, nada óbvio. (risos) Então foi um cara marcante, porque, meu, no colegial, eu falava: “Gente, ainda bem que eu não vou para exatas mesmo". Mas, ele tinha, assim, um senso de colaboração, de tentar ajudar, para as pessoas entenderem o óbvio que era para ele, fisica, então acho que para mim foi muito marcante, que para ele, ele tentava ajudar que todo mundo conseguisse ver física como uma coisa positiva, né? E hoje a gente vê que tem muita gente que tem dificuldade em matemática, física, tal. Mas ele via, sabe, ele tentava sempre ajudar. Então o Tagushi -eu lembro o nome dele até hoje - me marcou bastante. Foi muito legal.
(43:47) P1 - Você teve aula com seu pai?
R - Não. Então, olha a sacada… (risos) Meu pai, ele deu aula de francês. Je parle français un peu. Então, no São Luís, tinha, sétima e oitava séries eram francês obrigatórios e aí, na época, primeiro, segundo e terceiro colegiais, eles dividiram por biológicas, humanas e exatas. Como eu já sabia que, putz, meu, ou eu vou para humanas, ou para… para exatas eu já não ia. Eu estava entre biológicas e humanas, poderia cair com ele, porque aí [na área de] humanas era obrigatório o francês, e na sétima e oitava série obrigatório para todo mundo. Eram dois professores, então era ele e a Ana Luiza. O que eles faziam na época? Meu pai dava aula do A ao M, meu irmão chama Marco, eu chamo Alessandra, pegava exatamente a turma dele. (risos) [Mas] quando a gente chegava na série, ele fazia do M ao Z. E aí, meu pai sempre foi muito ético, né, muito preocupado, tal, então ele falava: “Gente, eu não quero que, de forma alguma, alguém pense que tem privilégios, porque não tem mesmo” e meu pai é muito correto, não ajudava em nada dentro de casa. (risos) Então… mas eu lembro até hoje algumas poesias, assim, sabe, que a Ana Luiza… que é uma querida, né? Então ela era professora de francês, ele pegava do M ao Z, mas depois que eu passei do colégio e entrei na faculdade, tal, eu comecei a ajudá-lo, então ajudava a corrigir provas, mas na época ele não deixava eu chegar nem perto das provas, mas eu ia bem. (risos) Mas eu ia bem. Então eu não cheguei a ter aula, mas ele fez essa separação. Mas o pessoal era muito legal, porque ele era patrono todo ano, né, ele fazia brincadeiras nas aulas, ele tinha um apito que era diferente, né, quando faltava, tipo, trinta segundos para bater a aula, que acabava a aula, ele fazia o apito, aí todo mundo já sabia. Então ele era bastante extrovertido, o pessoal gostava muito dele. Então todo ano ele era reconhecido como patrono tal. Bem bacana.
(45:46) P1 - E colegial? Essa época que: jovens, sai, gosta de aprontar…
R - ‘Aborrescência’. (risos)
(45:56) P1 - Que recordações você tem dessa época?
R - Olha, foi uma recordação que hoje eu vejo dos meninos, né? Ai, essa dificuldade, eu acho que a gente é tão jovem para escolher uma profissão. Eu vejo que, os dois meninos, um vai muito para humanas [e] um é bem exatas. Então, acho que o perfil, a gente começa a identificar. Tem gente que gosta já: “Ai, amo biologia, tal”, já vai pra área de biológicas e tal. Mas eu acho que a gente é muito jovem nessa época, eu acho que, como todo adolescente, a gente está no momento de transformação, né, de dúvidas da vida, pensamentos, orientações. Então, hoje eu vejo, talvez o que eu tive muito forte ou o que eu não tive na minha adolescência, eu tento preservar e fazer com eles, né, então são aprendizados que a gente leva. Mas foram momentos muito bons, eu acho que de um lado… hoje a gente leva a carga do que é certo e o que é errado, o julgamento. Lógico que você tem que fazer o certo e o errado na adolescência, mas você está aprendendo, e não tem julgamento. Então, eu acho que nessa época a gente é mais leve: eu vejo hoje pelos meninos, outra geração, lógico, mas eu vejo eles muito mais leves, né, sem julgamentos. A gente que tá adulto, a gente julga demais, a gente fica em cima demais. Eu acho que eu aproveitei muito, né, tanto no colégio, como com esses amigos da infância, de viagem, né, viajar, vai para casa de amigo no Guarujá, não sei o quê. Ao mesmo tempo, a responsabilidade de ter que passar em uma faculdade, a pressão do último ano, mas acho que foi, graças a Deus, de uma forma saudável. Então, o que eu converso muito com eles, hoje a gente tem uma conversa super aberta, então, é droga, hoje em dia já tem cigarro eletrônico, né, então as coisas vão se inovando. Quando a gente fala tecnologia, está em tudo quanto é lugar, tudo quanto é lugar, você vê pelo cigarro. Então, na época, você era assediado diariamente, né, se você tem uma boa cabeça… minha mãe sempre falou: “Eu prezei [em] sempre botar vocês nessa linha de educação, mas a gente não tem controle sobre a vida dos outros". Então, é o risco que você corre. Então conseguiram, né, eu acho que eles fizeram um bom papel: “Olha, você está nessa linha, agora a escolha é sua”. E, graças a Deus, assim, foram escolhas saudáveis. Também o esporte, você não consegue confundir, né? O esporte te leva numa linha muito boa. Eu já era viciada nos esportes, já competia que nem uma louca. No São Luís, eu tinha, tenho uma caixa de medalhas, eu fiz quadro de medalhas. Então são coisas que você fala: “Não combina”, ou você vai para o cigarro, ou você vai para o esporte, ou você vai para a droga, ou você vai para uma vida saudável. Então eu acho que esse momento da adolescência é um momento de muitas escolhas difíceis: é a profissão, é a vida que você vai levar, os amigos que você vai carregar. Então eu acho que, graças a Deus, de uma forma ou de outra, sem muitos julgamentos, eu acho que eu consegui escolher uma linha correta para mim, [uma] que eu acreditei.
(48:53) P1 - E como você gostava de se divertir? Tinha algum lugar específico que você frequentava muito?
R - Aí, eu não sei se é da época de vocês, (risos) mas a gente adorava ir na Pedal. Gente, o Pedal era muito legal, porque era matinê, então eu tinha lá meus dezesseis, dezessete anos, geralmente era de domingo, então a gente ia, sei lá, quatro da tarde, ia pra Pedal, um dos pais levava a gente, outro buscava, das quatro às dez da noite, geralmente era de domingo, que era mais pesado, né, porque segunda-feira escola, mas era muito gostoso, porque matinê, né, então chegava das quatro às dez, as músicas. Depois veio a Krypton, que também acho que não é da época de vocês, que é lá na Rua do Rossi, eu não sei nem se existe ainda, tá ali, né, ali tem um espaço e tem uma discoteca. Então a Krypton foi uma, acho que tinha, tinha o Lymelite, que é ali na Cidade Jardim. Olha o deja vú gente, (risos) lembrando de tudo! Então eu acho que, meu, essas discotecas, matinês foram muito legais. Depois, lógico, a gente ia à noite. Eu acho que era uma forma da gente se divertir, né, então… e outra forma de se divertir era dentro do prédio, né, só que dez horas fechava, então a gente não pulava mais muro, mas a gente ia lá para baixo, então tinha um espacinho perto da portaria, meu, a gente varava a noite, aquela turma inteira, sabe, conversando, conversando, conversando, então essa era uma das formas também, que a gente passava horas e horas juntos.
(50:22) P1 - E seu irmão participava?
R - Participava. Então, é aquilo que eu te falei, é uma idade que era de quinze, dezesseis até 21, né, então, sei lá, se eu tinha dezesseis, dezessete, nessa época, meu irmão, dezoito, dezenove, e aí tinham amigos até 21, então era uma grande turma que cabia. Você pega às vezes, sei lá, um garoto de sete, e agora outro de onze, não dá, né? Agora, dezesseis, dezessete para vinte, 21, dava certo. Então era uma grande turma que a gente sentava e ficava horas, né, conversando, às vezes ia para a casa de um que não morava mais no prédio, o pai mudou, não sei o que, então ia para casa deles. Então era uma forma que a gente se distraía. Hoje em dia eu vejo que eles se distraem muito pelo Discord, né, então, que é legal, né, é uma forma de você se socializar, mas eu incentivo muito o encontro, então vai para casa de um amigo. Eles fazem isso, vão para casa de um amigo, ficam todos juntos conversando, passam a noite conversando. Eu acho que é muito legal, é saudável.
(51:20) P1 - E depois da escola, você foi logo para a faculdade? Como que se desenrolou?
R - Não, eu acabei… nessa época, eu até tentei outra: “Aí será que eu vou para medicina? Será que eu…” - que a gente é muito novo - “Não, eu vou para administração, que é o que eu gosto, tal”. Eu pulei um ano, né, meu pai falou: “Tá, então tenta… eu não vou pagar universidades muito caras para você, então pensa um pouco, vê o que você quer fazer". Eu tentei medicina, não consegui, né? Hoje em dia eu até fiz curso de socorrista, eu gosto muito, fui visitar, olha, vai gravar isso, mas eu fui visitar um IML para ver se era isso que eu queria mesmo, e era, o cara abriu gaveta e tudo para mim, eu falei: “Cara, é isso que eu quero". Então eu tinha… e aí foi muito interessante, quem acredita, no biológico, às vezes eu não tinha onde ficar, ficava ou com minha tia Gred, ou no biológico com a minha mãe, e aí tinha uma amiga dela, que ela era muito espiritualizada, e eu estava no último ano de colégio, ela falou assim: “O que que você vai prestar?”. Aí, eu morrendo de vergonha: “Vou tentar medicina, mas eu não sei. Eu quero ir para administração que é mais amplo, mas eu gosto tanto da medicina". Ela pegou as minhas mãos, e falou assim: “Suas mãos são verdes”. Aí eu: “Ai, meu Deus!”, “Você tem a cura nas mãos”, eu achei lindo aquilo, mas não consegui entrar, e acabei indo para um ramo mais amplo. Eu não tinha ninguém da área médica para me indicar, é uma área muito difícil. Eu tinha uma amiga minha que o namorado dela já estava, o namorado é mais velho, estava trabalhando já na medicina, ele tinha três empregos, né, trabalhava inclusive no Hospital das Clínicas. Meu, trabalhava de manhã, de tarde e de noite, e eu falei: “Puxa”... e ele não tinha ninguém também para indicar, né? Então eu falava: “Putz, eu acho que eu… não sei se é essa área que eu quero, eu quero ir mais para linha de comunicação, do marketing, da psicologia do consumidor, tal”. Eu me encantei, então eu fiquei assim um ano… não fiquei sem fazer nada, não! Fiquei trabalhando. Fui fazer promotora de Johnnie Walker, fui fazer… você já deve ter visto, quando você vê aquelas meninas segurando lá a manteiguinha com pão [no mercado]: “A senhora quer experimentar?”. Eu fui isso. Minha mãe até hoje vai no supermercado: “Claro, querida!”, porque ela morre de dó de lembrar de mim, que eu ficava lá. [Por exemplo], eu ficava no sorvete, ficava naquele negócio gelado: “A senhora quer um pedacinho de sorvete?”, morrendo de frio. Então, assim, fui pegar meu dinheirinho, né, fui trabalhar, e aí fui me encantando: “Nossa, é vendas. Eu gosto de marketing e vendas, não é para área médica”. Eu gosto dessa parte de cuidar das pessoas. Puxa, que legal que eu tenho a cura nas mãos, pode até ser isso mesmo, mas eu fui para uma coisa mais ampla, que era mais comigo mesmo, comunicação. E aí eu fiz cursinho e acabei entrando na faculdade, eu pude escolher, acabei fazendo PUC. E aí foi muito legal, porque teve uma outra turma muito legal de PUC também.
(54:18) P1 - Como foi esse período?
R - Foi maravilhoso.
(54:20) P1 - Professores, encontros, muitas novidades, né?
R - Muito, tudo muito diferente. As pessoas, também, vêm de visões diferentes, né, então um que estudou não sei aonde, um que estudou não sei onde, que veio do Rio de Janeiro, outro que veio não sei da onde de São Paulo. E aí a gente fez um grupo muito legal, um deles tinha uma casa em Rio das Ostras, que é do lado de Macaé, no Rio de Janeiro, a gente pegava ônibus e ia para lá. Então, o primeiro ano, eu trabalhava ainda como promotora, né, então eu conseguia uns cursos, que era através de agência, né, você vai trabalhando uns jobzinhos aqui, eu vendia Johnnie Walker na loja, né, whisky, dava brinde, então eu fui juntando meu dinheirinho, meu pai falou: “Beleza, administração. Vai ver se você não quer fazer administração hospitalar” [e] eu vi que não era isso mesmo. “Vou para comunicação mesmo, que eu acho que é comunicação, marketing, tal”. Só que aí, esse grupo era muito legal, porque no primeiro ano está todo mundo se achando, entendendo, fizemos esse grupo, a gente viajava, né, a gente estudava juntos, a gente fazia trabalhos juntos, fomos descobrindo juntos o que era administração de empresas, então foi riquíssimo. A gente tem amizade até hoje com essa turma, então fiquei com algumas amigas que eu tenho contato, a Dani, a Marina, a Carol, enfim, uma delas até trabalhou comigo na Microsoft, e algum contato de alguns meninos também que a gente manteve. Então foi muito legal, foi… eu falo pros meninos, que agora eles vão prestar: “Cara, faculdade é outra cabeça, você faz aquilo que você quer fazer, né? Lógico que você tem que entregar os trabalhos, as notas, mas você faz de uma outra forma”. E como é que você se aprimora, né? Então, eu entrei em empresa júnior, que é super legal, lá eu fiz basquete também, que o esporte sempre andou comigo, então eu fiz, entrei lá na atlética da PUC para continuar o basquete, viajei para competir, eu ficava: “Ai, gente”, todo mundo indo lá para brincar, pra, tipo, beber, zuar, e eu lá indo para, meu, jogar, né? Mas era muito gostoso assim, para mim essa parte da faculdade me abriu bastante a cabeça. Aí, no final, como são cinco anos, no final você tinha que escolher uma especialização, aí eu fui para o marketing mesmo e dali aí começam os estágios, né, você vai abrindo a cabeça, para onde você quer ir, e ali eu acho que abriu a carreira.
(56:41) P1 - E os estágios?
R - E os estágios?! São muito interessantes, porque tem os estágio obrigatórios que você tem que fazer, né? Eu inclusive comecei em um, e esse foi estágio obrigatório, foi na Casa Bela Carpetes, que foi no Tatuapé, que eu acabei fazendo, tipo, seis meses e foi muito legal, que eu aprendi a medir a janela para você fazer uma cortina, [e] eu não tinha a menor noção de como era isso. Então eu trabalhava na área administrativa, foi realmente o estágio obrigatório, e aí eu fiz a cortina de todos… fiz a cortina da minha mãe, (risos) fiz a cortina do meu irmão, falei: “Gente, vamos trocar as cortinas de casa, porque agora eu já sei medir!”. E aí eu troquei as cortinas. Foi muito legal, porque aí a gente mudou de cortina para persiana e tal, então foi super interessante, mas foi o estágio obrigatório. De lá, eu tive a oportunidade de ir para a Xerox, e aí foi muito interessante, porque eu comecei a ter uma visão da regional, o que era vendas e porte de resultado. Então, assim, putz, tem lá, Xerox, as impressoras tal, as copiadoras, né, e aí, o que [é] que isso traz de resultado de vendas? Como é que isso numa regional - que eles faziam regional Nordeste, Sudeste, Sul -, como é que isso repercute se você vender ou não vender ou não vender? “Vamos em uma convenção de vendas”. Era incrível, né? Então a gente, eu atendi um diretor que era gente finíssima, né, o Marco Aurélio, eu lembro o nome dele até hoje, ele era super ativo, super energético, tal, e ele trazia isso, porque vendas é isso. Eu falei: “Cara, estou no caminho certo! Maravilhoso!”. Aí eu comecei a buscar outros tipos de estágios, porque o que é legal do estágio é isso: “Cara, será que é indústria? Será que é banco?” e aí me convidaram para participar de um processo do banco, aí eu entrei no banco Chase Manhattan e lá eu fiquei no estágio e fui efetivada. Então lá… inclusive foi onde eu conheci o meu marido, no banco. (risos) E o banco, que foi bacana o processo que eu participei, eu achei, nossa, incrível, né? Imagina, eu tinha vinte anos, eu acho que vinte, 21 anos, entrava no estágio super novinha. Nossa, um processo super certinho, né, de fazer uma prova, nananã. Então eu achei isso um máximo, falei: “Nossa, gente, é muito importante trabalhar em um banco". E eu entrei no banco na área de backoffice, então eram carteiras administradas, era super fundos, rentabilidade. E eu vou te falar: o curso de administração que te dá essa base de empreendedorismo e mais trabalhar no banco, te dá um background assim, uma experiência de financeira, [que], cara, você vai para qualquer área. Qualquer área! É muito interessante, você vai, você não precisa conhecer muito de finanças, porque, meu, ainda bem que tem alguém focado em finanças, e não é a minha praia, mas você vai facilitar a vida do seu financeiro, as discussões vão ser melhores, né, você vai ter uma visão melhor do tipo: “Vou desenvolver o produto a que custo? Que margem? Rentabilidade, preço?”, quanto isso impacta, né? Então, você começa a ter um pouco mais de base no que você está falando, né, para você construir um negócio. Então eu acho que para mim foram dois alicerces muito fortes, né, a base administrativa da faculdade com a base financeira de um banco. E aí eu fui efetivada, eu acho que para mim um marco muito legal a efetivação, dentro de um estágio. Você está acabando lá o estágio e você fala: “Ai, meu Deus, será que eu vou ser efetivada? Será que tem vaga, será que não tem vaga?”. Cara, e infelizmente são raríssimos os casos, né, infelizmente. E aí eu consegui ser efetivada, e aí eu fiquei pensando, né, eu fiquei mais um ano efetivada, um ano e pouco efetivada, eu fiquei lá e falei: “Mas cadê aquele negócio da psicologia do consumidor? Eu não vou ver isso aqui". Banco é rotina, dependendo da área que você está, [e] a área que eu estava era rotina. Cara, eu não sou rotina, não sou. E, nessa época, quando dava seis horas da manhã, eu ia andar, eu nadava 3000 metros por dia, e ia para o banco, trabalhava o dia inteiro - na época que eu estava no estágio - e ia para a PUC à noite. Cara, era perrengue. Então eu chegava da PUC onze horas da noite, comia, dormia, seis horas da manhã tocava o despertador, vai nadar, e era um máximo, porque eu chegava bombando no banco, bombando. Aí, né, me formei, não tinha mais a PUC à noite, mas continuei com os treinos, e aí eu comecei a ver: “Putz, eu queria uma coisa mais ativa do que ficar no backoffice de um banco, analisando”. É muito legal a parte analitica, o checklist, então eu via essa parte financeira, checava, depois amostragem, porque número, muito grande o número, você está falando de uma carteira administrada de um fundo de alguém que investe bem ali, aí eu falei: “Cara, eu acho que não é isso". Fiz um curso de marketing na Espm, falei: “Nossa!”, e me apaixonei. Falei: “É isso! Eu não quero administrativo, eu vou para marketing! Mas é isso que eu quero!”. Lembra que desde de lá de trás já era essa sementinha. Aí eu prestei alguns programas de trainee… e programa de trainee é super concorrido. Cara, eu vejo até hoje em dia, né, e tem aqueles mais consolidados, e tem aqueles menos consolidados, aqueles mais aventureiros e aqueles mais sérios. Então eu prestei Unilever, prestei Natura, prestei (Rioplu?) e Ambev. Ambev, ainda bem que eu sai já no meio, (risos) porque é bem agressiva a cultura, eu falei: “Ai que bom, me eliminaram, (risos) graças a Deus. Não era isso que eu queria". E aí fiquei nos três né, no (Rioplu?), Unilever e Natura. Fantásticos! Assim, os três [são] fantásticos. Unilever, eu acabei não passando a última fase, né, que foi a fase final, que eles chamam de business day, [que é] muito legal, eles levam você para o Hotel São Rafael e você faz um business case, você dorme lá, você faz projetos para sentir a colaboração de você com os outros, para sentir o seu empenho sozinha em um projeto individual. Foi incrível, assim, foi super legal. Eu tinha 23, 24 anos, [foi] super bacana, e eles preparam realmente para uma linha mais gerencial. A Natura tinha também um programa super consolidado horizontal, então você sabia sua área de destino, que era marketing, inovação, só que você ia passar por logística, você ia passar por vendas, você ia passar por P&D, que é Pesquisa e Desenvolvimento, você passava por todas as áreas, horizontalmente, criava o seu networking e saía no final, né? E a (Rioplu?), que eu conheci pouco, menos. Eu passei, né? Na Unilever, eu não passei, passei na Natura e passei na (Rioplu?). Na (Rioplu?) era um pouco menos, eles tinham menos tempo, e você passava com menos áreas, né, e eu acho que você não sabia sua área final. Bom, acabei optando, fiquei na Natura. Foi do prêmio que eu falei do batom. E foi super legal! Assim, foi… se eu disser números, eu posso dizer números, porque eu passei por isso, quando eu sentei no auditório da GV, foi meu primeiro dia, era uma segunda-feira, eu sentei oito da manhã, sei lá, primeiro eles iam falar sobre conhecimentos gerais, o que era o programa, eu olhei para trás, falei: “Caramba, é enorme esse auditório, né?”. Lotado! Eu falei: “Putz, quantas pessoas devem estar entrando? Umas trezentas pessoas, né? Bom, se for só isso…”. Aí entra o pessoal da Natura, pra falar: - “Gente, então, o programa da Natura, de trainee, vou apresentar para vocês, vai ser prova de conhecimentos gerais, com inglês, depois a gente vai passar por tal, e tal fase”, era umas cinco, seis fases, sete fases, sei lá… “E hoje é o primeiro dia, a gente vai ter várias turmas, são 8000 pessoas". Eu falei “What?”. Quase peguei minha bolsa, fiz assim: “Oi?”. Eu olhei e falei: “Meu, vão ser várias sessões lotadas, de duzentas, trezentas pessoas por dia”, 8000 pessoas cadastradas. Eu falei: “Cara, o que eu estou fazendo aqui?”. Aí eu olhei: “O que eu estou fazendo aqui? Vou ficar, é isso que eu quero. Pera aí, estou tentando um monte de programa de trainee, eu vou desistir? Não vou, vou ficar. Tá bom, então vamos lá, vamos ver o que a vida traz para a gente". Cara, e veio a prova, conhecimentos gerais e inglês, cara, ele ali já tira uma galera, tira uma galera, Lu, eu fui ficando, fui ficando, a vaga de inovação no final, eram dezessete vagas, e inovação eram três, eu entrei. Então, cara, outra mensagem, né, nunca desista, acredita, perseverança, por que não? Certo, por que não? Eu falei: “Eu estou aqui, por que que eu vou embora? Por que não? Se for eu? E foi. E os meninos, eu falo até hoje: “Nossa, 8000 pessoas…”. Cara, é difícil de acreditar, mas, meu, aquelas dezessete pessoas, são dezessete pessoas que vão sair, por que não pode ser eu uma dessas dezessete pessoas? E foi! E foi incrível, assim, foi um programa que, putz, veio de uma linha horizontal, aí você começa a entrar no que é o mundo corporativo, então, para mim, ali começa a mudança, tá, então ali você sai de um ambiente de estágio, que tinha uma proteção, você é mascote, aí você vai para um programa de trainee, competitivo, as pessoas que prestaram são competitivas, eu sou competitiva, afinal eu faço esporte com competição, mas com o senso colaborativo, as pessoas não são todas assim, então para mim foi um choque, ali foi quando eu falei: “Welcome aboard, this is the reality, estamos entrando num mundo corporativo que eu não conhecia". Não estou falando de Natura, estou falando do mundo corporativo em geral, né, e poderia ter isso na Unilever ou na (Rioplu?). Inclusive na Unilever, no business weekend que eu tive lá, o business day foi super pesado, né, eu falei: “Nossa, não sabia que era assim”, então é pesado no sentido intenso, competitivo, né, mostrar o que você tem ali na hora, ser agiu, rápido, porque o mundo é assim, né? Então para mim foi bom, foi uma mudança de chave na cabeça, de falar: “Ok, que são as pessoas, né, que você sabe que é mais colaborativo, confiável, aquela pessoa que você vai ter que aprender a conviver pela beleza da diversidade". E tudo isso, então eu acho que ali foi uma mudança de chave para mim.
(01:07:01) P1 - Mas nessa época você tinha consciência disso, que tinha que mudar? Agora, né, que vendo…
R - Falou tudo, Lu. Assim, naquela época, foi um choque para mim: “O que está acontecendo? Nossa, mas eu achava que as pessoas eram tão legais”. Lu, eu falei, eu conheci meu marido no Chase, a gente casou, fui para Natura, ‘casei’ na Natura, a gente começou a namorar [quando] eu [estava] saindo do Chase. Eu tenho padrinhos de casamento do Chase, porque eu era mascote, porque eu fui efetivada, não era porque eu era legal, eu fazia um bom trabalho, e ganhei grandes amigos, padrinhos de casamento, então você fala: “Ai, é todo mundo assim, né?”. Aí você chega em uma empresa, e não é a Natura, [é] o mundo corporativo, você chega em uma empresa, não é assim, né? Mas, na época, eu só me questionava: “O que está acontecendo? Nossa, mas porque a fulana fez isso? Gente, eu não acredito que isso aconteceu. Nossa, não sei o que”, era porque eu não fui educada assim, né, eu não tinha essa mentalidade, não tenho essa mentalidade, né, então para mim foi um choque, mas eu comecei a entender que esse era o mundo corporativo, né? E aí foi interessante, porque a minha mãe, na época dela, a geração dela, o meu pai, ainda mais meu pai, que era professor no mesmo lugar onde eu estava, eles eram muito fechados com relação à profissão, que acontece no ambiente de trabalho, é deles, né, a gente não tinha esse bate papo como hoje eu tenho com os meninos, os meninos acompanham, estou lá eu chorando, rindo, eles estão lá acompanhando: “Nossa, aconteceu alguma coisa com a minha mãe, o que foi agora mãe?”. Então assim: “Ai, vou em uma gravação, nossa, estou nervosa, estou ansiosa, eu estou bem e tal?”. Eles acompanham, né? Naquela época, não. Só que quando eu entrei nesse programa e comecei a perceber que era, opa, mundo corporativo e agora vem que agora você vai sentir o que é efetivamente você trabalhar, você ter relações, você ter objetivos, você ter metas, você conseguir ou não, você ter o networking. Porque existe a parte boa, que é tudo isso que eu falei. A parte ruim é: “Não vou me meter em fofoca. Não vou rotular. Não acredito nisso. Putz, não tem coisa por trás”, que você tem que se desvencilhar, né? Se você… e hoje a gente preza muito isso em diversidade e inclusão como valores da Microsoft. Cara, faça a sua parte, faça da melhor forma, porque isso, de uma forma ou de outra, você está influenciando outras pessoas de uma forma positiva, né? As pessoas estão vendo: “Poxa, que legal ser colaborativo. Poxa, que legal que ela fez aquilo. Poxa, que legal…”. Hoje em dia a gente premia. As pessoas, por exemplo, que ajudaram, eu tenho até um caso agora recente de uma pessoa que ajudou super a gente a fechar uma PO, que é aquele Purchase Order, não sei o que, e não fazia parte do trabalho dela, mas ela ajudou, ela quis. Cara, por que não premiar… compramos uma cestinha de doces para ela, ela falou: “Gente, mas era meu trabalho”, “Não, mas você fez com tanta ação colaborativa”. Por que não reconhecer, né? Então, ali, para mim foi ok. “E como é que eu vou me comportar daqui para frente? Quais serão os meus valores?”. E eu tive, graças a Deus, grandes líderes, né? Um deles falava, o Luiz Camargo, que eu lembro até hoje, que ele falava: “Ale…”. Ele fazia assim “Eixo, qual é o seu eixo? Quais são os seus valores?”. Então, assim, e ele falou, um dos feedbacks que eu tenho até hoje, que é muito interessante, é assim: "Nossa, tem coisas que acontecem… eu sou muito emotiva, às vezes eu levo, não é para o lado pessoal, mas eu fico muito mexida". Ele fala: “Do mesmo jeito que você cai, cara, você levanta, que é um absurdo. É muito rápido". E até hoje, né, então, aceitar o feedback construtivo e reagir muito rápido, isso para mim é excepcional, e é importante para mim, né, e eu reajo mesmo, e isso é muito legal. Então ele falava: “Mas, acima de tudo, feedback construtivo, isso faz parte do seu eixo. Qual é o seu eixo? Quais são os seus valores? Compete isso com você? Se compete, você vai estar feliz, você tem perspectiva em cima disso, senão, Ale, não vale a pena mesmo, não adianta sofrer". Então, assim, [é um] mundo difícil, mas construtivo, de muitos aprendizados. Eu posso dizer que nas empresas que eu passei, foram grandes empresas, onde eu tive saltos na minha carreira, que foram muito legais, que a gente pode falar um pouco mais no detalhe, e que no final me ajudaram realmente a construir o que eu acredito, como eu vou trabalhar, como eu vou respeitar as pessoas, como eu quero ser respeitada, como eu vou me posicionar. E não é fácil, até hoje é um grande aprendizado, até hoje me toca algumas coisas que eu vejo, que eu falo: “Ahhh”. Ainda mais sabendo que dentro de diversidade e inclusão, que eu sei o que toca nas pessoas, eu sei o que mexe, o que é injusto. Lembra da minha injustiça, que eu sou super contra injustiça? Então, são coisas que me mexem, mas não podem me mexer tanto. Então, como ____ firme? Então ali, Lu, acho que foi a mudança, ali eu comecei a falar: “Hum, bem vinda ao mundo".
(01:12:07) P1 - Não é só um conto de fadas…
R - Não é, não é o mundo de Alice…
(01:12:13) P1 - Quanto tempo você ficou na Natura?
R - Eu fiquei uns quatro anos na Natura, [que] foram muito legais. E aí eu fiquei em maquiagem, né? Aliás, adoro maquiagem por causa disso. E é muito engraçado, porque às vezes eu vejo mulheres que falam: “Não, desculpa, eu não gosto de maquiagem", “Não, maquiagem é muito legal, cara, é você, como você gosta de se representar". Eu sou super a favor de maquiagem, tem gente, né, que não curte, e eu adoro, eu acho que você brinca, né, você aprende… são as cores, a forma como você faz, a forma como você quer se ver, então não é uma maquiagem de se maquiar quem você quer ser, não, [é] como você pode se mostrar mais bonita, mais diferente, colorida, né? Então, assim, eu vi o lado maquiagem uma coisa muito gostosa, muito boa, e tinham pessoas incríveis na parte de P&D, que eu comentei, né, Pesquisa e Desenvolvimento, pessoas muito boas, que entendiam muito do que faziam lá. Então quando a gente fala hoje do FPS, né, o fator de proteção solar, a gente tem mesmo, é verdade, tá? É muito legal. Eu tive o contato com o time de Chronos, que é, meu, super legal, a parte de hidratante. Funciona! É muito legal. Então, aí a gente começava a fazer misturas, daí que veio a parte do FPS na maquiagem, né, como você botar o protetor solar na maquiagem, porque ele já tem no creme, por que eu não posso por na maquiagem? Então, assim: tecnologia. Dali começou. Isso é pura tecnologia. Ali eu comecei a me interessar, porque eu era de produto e inovação, só que eu tinha que trabalhar com o time de P&D, Pesquisa e Desenvolvimento: “O que vem pela frente, de maquiagem?”. E era legal, porque a gente lançava coleção a cada seis meses, era dinâmico. Eu olhava tendência de roupa, então, assim, que tecidos que vem para a próxima coleção, outono e inverno, primavera-verão? Quais cores vem? Aí eu tinha que olhar o portfólio de batom, aí falar: “Nossa, eu tenho oitenta cores de batom, tem uns que não vendem mais". Lembra? Portfólio, a performance, tem que ser análise crítica. Não vende, gente? Tchau. Vamos lançar cores parecidas, que tenham a ver com o conceito de primavera-verão, coleção outono-inverno, mas que vão ser melhores, vão ser nossas estrelas de vendas. E aí era legal, porque a gente recebia um monte de reclamação das consultoras de Natura: “Tiraram a cor tal, que absurdo!”. E aí você vai explicar: “Mas era que não vendia!”, (risos) e não vendia. “Eu vou lançar uma cor parecida. Calma, calma, calma!”. E a gente viajava o Brasil, e a gente falava com as consultoras Natura, que é um exército de mulheres, tem alguns homens também, a maioria mulheres, e a gente entrava lá, a gente fazia às vezes em hotéis, e elas iam todas chiques e tal, porque, meu, são empreendedoras, é o negócio delas. Então a gente mostrava a coleção, mostrava vídeo, passarela de moda. E, na época, eu acho que ele está vivo ainda, o Marcos Costa era o maquiador oficial da natura. Maravilhoso! Ele maquiava as mulheres, ele vinha com a coleção, ele vinha com o conceito. Então a gente fazia um trabalho conjunto: Marcos Costa, conhecia tudo de maquiagem, as meninas de P&D, junto com a gente de inovação e produto. Então, assim, foi incrível! Viajava o Brasil inteiro: Nordeste, Sul, Sudoeste, Centro-oeste, para a gente mostrar a coleção e tudo mais. Então foi muito gostoso. Aí de lá, eu saí e tive a oportunidade de ir para a Dupont. A Natura passou por algumas reestruturações, até hoje, né, todo ano muda, eu falei: “Hum, tá na hora de eu ‘picar a mula’”. Aí eu fui para Dupont. Foi 2003, isso. E aí foi interessante, porque por mais que eu já estava galgando na minha carreira, a Dupont foi interessante porque eu fui ver o outro lado da moeda, então eu estava muito no B2C, Business to Consumer, e a Dupont quando veio e bateu na minha porta, falou: “Olha, eu tenho uma oportunidade aqui”, eu já estava em um momento de transição, e eu fui para o mercado B2B, Business to Business. E aí não é fancy, nada, não tem nada de glamour aqui. (risos) Saí do mercado de glamour e fui para o mercado duro. Duro! Só que eu aprendi tanto! Esse mercado era de EPI, equipamento de proteção individual, né, então, como é que você educa o seu usuário, usuários de maquiagem, usuários de EPI, odeiam, porque é obrigatório. Você vai entrar no chão de fábrica, você sabe que aquela poeira, aquela parte química, vai te fazer mal na pele, você tem que usar o EPI. Eram roupas. O cara não quer usar, porque é um saco usar, né, então você tem que convencer aquele cara da importância dele usar para não ter doença, doença de pele. Às vezes a gente fazia parceria com a 3M, eles entravam com máscara, então, assim, respirador, você vai entrar em um chão de fábrica que tem uma substância química que você vai aspirar, vai entrar no seu pulmão. Então a gente fazia analogia: - era até duro, né? - o quanto você investia em EPI, o quanto você deixava de ter custo médico por conta de acidente de trabalho dos seus colaboradores. Isso era duro. Eu tinha que falar com o gerente de segurança: esquece a parte glamourosa e vamos para números. “Cara, eu estou falando o seguinte”, “Ah, mas a Dupont é muito cara”, “Isso é investimento, isso não é custo. Você tem mil funcionários”... acho que vocês já devem ter visto, quando vocês passam em obras e está assim: “Tantos dias sem acidente de trabalho”, isso é muito valoroso para aquela empresa. Então, o quanto que a gente tinha que mostrar, falar assim: “Olha…”. Tinha uma roupa que chamava Nomex, meu; Petrobras, ali o que tem de acidente de forre, essa roupa protege contra queimadura de pele. Se você não usar, você vai sair com queimadura de segundo, terceiro grau. Então, assim, é um investimento para você não ter custo médico depois, e de perda de funcionário, né? Então, foram anos assim. Eu fiquei também uns quatro anos, mas eu trabalhei em outros projetos também lá na Dupont, além de EPI, foram projetos mais B2B, então era um projeto muito legal esse também de ração de cachorro, né, fui conhecer um monte de frigorífico, onde você vê o que fazem com a farrinha de osso das galinhas, vira ração, e é super legal, porque não gera perda, e é super nutritivo, então é uma coisa que você fala: “Nossa…”. Era um projeto, tipo, de greenbelt, então eu fiz parte desse projeto, foi legal, e nesse tipo de projeto a gente também aprendeu o famoso cloro de piscina, a gente vendia um outro produto que chamava (Ozone?), que ele é menos corrosivo, vamos dizer assim, para cabelo, para pele, do que o cloro, não dá aquele cheiro e mata muito mais bactérias, essas coisas que podem ficar na piscina. Então também era um projeto legal, tipo, concorrente do cloro, famoso cloro de piscina, também foi um projeto muito interessante. Então eu fiquei… mas também é tecnologia! Eu fui ver as… tem um laboratório que você tem que pegar, as roupas tem que ser certificadas por laboratórios lá dos Estados Unidos, né, e aí eu fui uma vez para pegar uma certificação de uma roupa para gente entrar em uma licitação da Petrobras, lá em Washington. Viajei só para pegar a certificação, cheguei lá, o cara falou: “Bom, você vai acompanhar a certificação”. Meu, eles pegam boneco, manequim, colocam dentro de uma sala, assim, com fogo, e vê quanto que a roupa resiste. Superinteressante! Mas você fala: “Ai, meu Deus do céu…”, mas é isso que acontece com o cara. E, meu, o cara ficou bem protegido, o boneco, e a roupa quase não acontece nada, perde a cor, mas está lá protegido. Aí eles passam, dão a certificação, e você entra em uma licitação da Petrobras. É superimportante nessas, como é que chama, que fica em Macaé, nessas plataformas da Petrobras, esses caras tem todos que usarem roupas especiais. Então foi um momento que eu falei: “Tá, sem glamour, mas não quero continuar, porque não é isso que eu quero”. Aí eu entrei, aí foi realmente interessante, que eu entrei na Philips.
(01:20:29) P1 - Como são essas mudanças? Tipo, agora é a hora? Como que…
R - Olha, a gente sabe a hora, sabia? É interessante tua pergunta, porque hoje em dia a gente vê muito, que é interessante, a gente vê a nova geração assim: “Ai, enjoei”, não é isso. Então eu fico até preocupada, gente, vocês tem que ter um pouco mais de resiliência, né, por quê? Porque essa é uma mensagem que eu queria deixar, que eu acho muito legal teu gancho; eu aprendi isso uma vez com uma lead de uma empresa: para você mudar de empresa, você tem que deixar uma história naquela empresa; a partir do momento que você sente que você deixou a sua história, você está pronto para um novo ciclo. Às vezes essa história pode ser antes do que você tome essa decisão, uma reestruturação, né, agora está acontecendo um monte de layoffs, que a gente está vendo no mundo aí, em várias empresas, então, infelizmente, uma reestruturação adia sua tomada de decisão. Às vezes você sente, você fala: “Estou no momento de girar”. Então, na minha época, quando eu sai do banco, eu fui para Natura, era o momento que eu falava: “ Não quero banco, eu quero uma coisa mais…”. Na Natura, eles estavam passando por um processo muito difícil, de reestruturação, estava um clima pesado, eu falei: “Já deu”. E aí, [dentro dela], surgiu o B2B: “Puxa, ainda estou aprendendo, por que não ver o outro lado?”. E aí eu tinha já o que era B2C. Banco: B2C, B2B. Vou voltar pro B2C. E estou até então, né? Então, para mim, ali foi o momento do estado, de falar: “Qual é o caminho que eu quero seguir na minha carreira? É Business to Consumer (B2C). Eu não quero B2B”. Apesar de hoje a Microsoft ser uma empresa B2B, eu estou na área de consumer, que é Xbox, né, que é videogame para consumidor. Então ali eu defini a minha carreira, eu falei: “Dupont, eu amei, foi ótimo”, uma mãezona, foi onde eu tive os meus filhos, eles nasceram enquanto eu estava na Dupont, então foi maravilhoso. Mas eu falei: “Não é B2B”, porque eu quero olhar para o consumidor, eu quero, justamente, trabalhar os 4 Ps. Não precisa ser fancy, né, glamuroso que nem a Natura, né, que nem batom, mas que eu consiga falar com o consumidor no momento do consumo do consumidor, e não ter que falar com uma empresa, que não deixa de ser um ser humano, mas é diferente o tratamento, a mensagem, o tipo de material que você vai trabalhar. Tipo, tudo muda bastante. O produto também que você vai trabalhar. E aí veio a oportunidade da Philips. E aí a Philips foi muito legal, fiquei sete anos lá, eu passei por praticamente todas as categorias da Philips, foi um máximo, porque eles tinham essa cultura, né, de gerar oxigenação, foi ótimo. Eu comecei com aparatos domésticos, sabe, de cozinha, então, liquidificador, ferro de passar, aspirador. Foi de tudo! Água! Lançamos até… e foi interessante, porque eu peguei um exemplo, por trabalhar em uma multinacional, você tem muito acesso a outras culturas, eu fui pegar um exemplo da Índia, que a água lá é muito difícil, eles lançaram, eles chamam de tap water, que é água da torneira, né? Você coloca, era um produto, né, um device que você acopla na torneira, e quando você liga a torneira, ela filtra. Você tem a parte de não querer filtrar e você tem a parte de querer filtrar, e lá, aí tinha o manual e o digital: entra a tecnologia. O digital mostrava: “Olha, tantos litros, faltam tantos litros”, então você sabia que depois, sei lá, se durasse mil litros, você ia ter que trocar o aparelho, então ele zerava. Então foi muito legal, porque a gente trouxe isso para cá, e não pegou no Brasil, porque no Brasil a água é boa, né, a gente não tem tanto problema. A gente não toma água da torneira, mas a água não tem tanto problema como na Índia, então aqui não pegou tanto. Mas foram produtos muito interessantes, então, desde aparelhos domésticos até ferro, aspirador. Fui parar em TV. Aí TV é tecnologia pura, né, muito legal. Então, como você traz isso para dentro da sala, qual é o fluxo do consumidor? Então, meu, copa do mundo, cara, quanto maior a TV, melhor, né? Então foram crescendo as TVs, cada vez maiores. Hoje em dia você vê 85 polegadas, né, você tem até cem polegadas, que é tipo um projetor. Qual é o comportamento do consumidor? Aí o cara pega aquela televisãozona da sala, leva pro quarto; o do quarto, leva pro quarto do filho; do quarto do filho, vai para empregada; da empregada, vai para a praia. E aí ele nunca se desfaz da televisão. Hoje a gente tem TV de tubo a rodo ainda. Você vai no interior de São Paulo, interior de Minas, vende TV de tubo ainda, porque as pessoas não se desfazem. É muito louco, o Brasil. Mas você tem as melhores televisões hoje, de tecnologia. Então, trabalhei na Philips, e aí eu fui para a Samsung, né? Também eu falo, que em termos de tecnologia, não conheço a LG, não posso falar, mas Samsung e Philips, em termos de tecnologia de TV, são incríveis. E a Samsung foi interessante… porque aí na Philips, eu fiquei sete anos lá, fui convidada pela Samsung para ir ser regional de TV, né, então eu viajava [pro] México, Coreia. Foi muito legal. E os meninos deveriam ter uns sete anos, então já era um pouco… aí vem, que a gente fala muito em diversidade e inclusão, que é interessante, que inclusive saiu a PL agora, o projeto de lei sancionado pelo nosso governo, da equidade salarial entre homens e mulheres. Hoje a Microsoft tem, desde 2016 a gente já trabalha com a equidade entre funções e áreas, isso é muito legal, então já tinha um trabalho [e] agora a gente está super dentro da lei, o que é muito bom, mas, na época, você fala da dupla jornada, né, então assim, além da equidade: “Eu faço igual, tal, né, tenho desafios iguais. E legal, vamos ter desafios iguais. Mas e a dupla jornada, onde é que fica?”. Então, graças a Deus, eu e meu marido, a gente tem isso muito claro, e ele quer crescer na carreira, como sempre quis crescer na carreira, como eu, temos direitos iguais, a gente ajudava um ao outro igualmente, com gêmeos também, gente, eu tenho gêmeos, não dá para não ajudar, Lu, não dá, tem que ajudar. Então, o homem é fundamental para ajudar, principalmente com gêmeos. Então isso ajudou muito, eu consegui ficar um ano na Samsung viajando que nem uma louca com a regional, mas para mim chegou uma hora que isso pesou. Então quando veio o seu ponto: “Em que momento mudar?”, você sente o momento, né? Quando seus filhos de oito anos falam assim: “Você vai viajar de novo?”, aí eu ficava três semanas no Brasil, uma no México; três semanas no Brasil, uma na Colômbia; três semanas no Brasil, uma no Panamá; três semanas no Brasil, uma na Coreia; três semanas no Brasil, uma no México. É muito puxado, né? Então chega uma hora que eu falei: “Será [que] continuo? Amo?”. Adoro o que eu faço, né, mas foi o momento que eu escolhi, da dupla jornada, mesmo com toda a ajuda, estava muito puxado para mim, né? Eu acho que a gente tem que saber o equilíbrio da vida pessoal e da vida profissional. Eu acho que a pandemia trouxe muita mistura disso. Na Microsoft, a gente já tinha uma cultura híbrida muito forte, que foi muito legal para a gente, eu acho que a gente soube lidar muito bem com isso, na cultura híbrida, porque a gente já trabalhava muitas vezes home office, mas, mesmo assim, essa cultura se fortaleceu e você tem que ter o bom senso do equilíbrio da sua vida pessoal e profissional, então, naquele momento, por mais que eu estava no auge, a dupla jornada que eu tinha ajuda, para a minha família pesava muito, né? Os meninos tinham sete, oito anos, eu falava: “É muita viagem”. E aí bateram na minha porta! Então, assim, tem vezes que você fala: “Eu não vou procurar, estou bem, deixa eu tentar me adaptar”. E aí veio a Warner, né? A Warner Bros, uma linha totalmente de entretenimento, super legal, que eu adoro: adoro ler, adoro ver filme, séries. Já acompanhava. Isso é pura tecnologia também, né? Você está… e nem tinha tantos streamings, a gente ainda vendia jogos de caixinha. A gente começou naquela época, foi 2013, 2014, foi bem na copa, a gente começou a era digital, a você começar a ‘streamar’, né, que hoje, meu, já virou tudo verbo, (risos) né, ‘printar’, ‘deletar’, ‘streamar’. Então a gente começou a ‘streamar’ jogos digitais, a gente contabilizava: “Nossa, o pessoal está comprando menos caixinha, já está indo para o digital”. O consumidor brasileiro, gente, é um dos que foi mais rápido para a digitalização. Incrível. Hoje em dia a gente fala, né, de outros países, Estados Unidos, México, Europa, eles têm produtos ainda em caixinha, que a gente já está totalmente digitalizado. É muito interessante.
(01:29:29) P1 - Você entrou bem na mudança cultural, né? Junto…
R - Cultural, junto com o produto que, né, você começava a favorecer a parte digitalizada. Exato. Que você entra [em] séries, o videogame começou a entrar também no digital, você falava: “Nossa, será que vai pegar?”, e pegou super, né? E aí foi interessante, porque, nossa, videogame, aí eu falei: “Nossa…”, né, lembrando as minhas épocas de Phantasmagoria, eu gostava bastante, já estava com os meninos, para eles, nossa, foi uma alegria, e aí os amigos: “Tua mãe trabalha onde? Não acredito! Você tem jogos da Warner? Caramba!”. E aí quando você vai visitar a Warner, que tem lá em Burbank, na Califórnia, aí você vê aquela caixa d’água com emblema da Warner, é uma coisa linda de ver, sabe, toca o coração, você fala: “É muito lindo!”. E você passeia ali pelos estúdios, você fala: “Nossa, aqui que fica Riverdale? Aqui que fica Harry Potter?”, você fica doido, né? Então é encantador, encantador. Então, como eu estava no momento família, difícil, não queria abandonar nunca minha carreira, né, adoro o que eu faço! É aquilo que eu falei: a cada mudança foi um crescimento. E foram mudanças… hoje quando eu falo pro meu pai [sobre] todas as empresas que eu trabalhei, ele fica arrepiado, né: “Eu só trabalhei no [Colégio] São Luís”, “Pai, eu não, já foram umas cinco empresas”. Minha mãe, Instituto Biológico a vida inteira. Mas hoje em dia é diferente, hoje em dia a minha preocupação, que eu deixei na mensagem na escola dos meninos é: “Guys, assim, macaco que pula muito de galho em galho, pode tomar chumbo”, você pode fazer a suas mudanças, elas tem que ter uma história, elas tem que ter um contexto. Não é “[Ai], enjoei”, né? “Ah, não quero mais, não quero mais brincar”, não. Resiliência conta muito, né? “E que história você deixou naquela empresa?”. Então, são momentos em que você percebe, momento de mudança séria, tem que ser assertivo, e para mim foi encantador, né, putz, na Warner, pessoas incríveis, os produtos maravilhosos. Eu comecei com videogames, depois eu assumi toda a parte também de séries de TV, então era entretenimento como um todo mesmo, e muito gostoso. Então, assim, era muito mais trabalho, a gente lançava produto, né, imagina, título de série, de videogame, cada mês tinha, sei lá, oito, dez. Você imagina o ano, né? Então eu tinha uma equipe pequena, mas uma equipe super ágil, tal, que fazia acontecer, mas foi um momento muito legal de realização, né, então, dos produtos, consumo, entender a comunidade, o que [é] que os consumidores estão te falando. E é muito legal quando você lança, você vê o brilho nas pessoas. Cara, eu conheci… aí eu fui fazer uma pós graduação nessa época, de marketing digital, na FAAP, muito legal, e conheci um professor incrível, que chama Tiago Costa, e aí na hora que a gente se apresentou no curso, todo mundo se apresentando: “Oi, meu nome é Fulana, eu faço isso”, “Oi, meu nome é Alessandra Koster, eu trabalho na Warner”, o cara quase caiu da cadeira. Aí já fez assim para mim. Cara, depois ele veio falar comigo, Batman, Superman, é tudo Warner, é DC, ele ficou [achando] incrível, ele falou: “Eu não vou te mostrar por uma questão de ética, mas eu tenho o Superman tatuado na minha… o emblema do superman tatuado nas costas”. Então você começa a mexer com a emoção das pessoas, isso é uma delícia! E é, ao mesmo tempo, uma responsabilidade muito grande, mas é uma delícia, as pessoas tatuam, né, tatuam, porque são apaixonadas por aquela marca, elas se identificam com aquilo. E, cara, você fala… meu. Então, assim, com o Tiago Costa, a gente trocou muita figurinha, porque ele era simplesmente apaixonado pela Warner, por tudo que a Warner entregava, né, de todos os projetos, produtos, filmes, séries, videogames, tudo, era um cara totalmente apaixonado, né? Uma fantasia. Então foi muito legal, porque ali a gente pode aliar… e foi ali que eu peguei também uma virada de rede sociais, que não era tão forte, né, então eu estava entrando em uma era que falava: “Meu, a galera ‘streamando’, a galera falando, como é que eu vou acompanhar, monitorar a temperatura dessas redes sociais?”. Era tudo muito novo naquela época: “Como eu vou me portar? Qual vai ser meu tom, minha linguagem?”. Hoje a gente está um pouco mais descolado: “Quem são os influenciadores que são confiáveis? Vou botar alguém que vai representar minha marca ou ele pode falar da minha marca, mas ele não representa?”. O famoso unbox: “Vou fazer um unboxing aqui na…”. Então, são coisas que você vai começando a trabalhar, você vai aprendendo junto com o mercado e vai se adaptando. Então, meu, uma outra coisa que eu acho muito importante deixar aqui: nunca pare de estudar. Eu hoje estou fazendo um curso, pelo MIT, de mulheres na liderança e inovação, e a gente fala muito de diversidade e inclusão, e como se portar como lideranças, sabendo que tem homens no mercado STEM, de ciência, tecnologia, matemática, engenharia, muito mais masculinizado, e que a gente, como mulher, tem que se portar, tem que se posicionar… e tudo bem! A gente só quer a equidade, a gente não quer passar por cima de ninguém. A gente só quer a equidade, a gente só quer ser tratada… E é interessante, que eu vejo muitas expressões agora no curso, está mais latente, mansplaining, man interrupt, que são, mansplaining é você começar em uma reunião com uma pessoa, tal, ou você vai pegar sua atividade com uma pessoa: “Você sabe não sei o quê? Você não sabe, né? Mas eu vou te explicar”. Cara, você é expert naquilo, você fala: “Oh my God, sério mesmo que você vai me explicar o que eu já sei? Eu estou pegando essas atividades porque eu sou especialista nisso". Man interrupt [é quando] você está em uma reunião, a mulher está tentando falar, o cara vai lá e interrompe, aí a mulher fala, ele vai lá e interrompe, a mulher fala… cara, para, deixa ela terminar o raciocínio.
(01:35:40) P1 - Você já viveu isso?
R - Olha, a gente lá na Microsoft, o que eu acho muito legal, a gente faz muitos trabalhos pela cultura, pelos valores serem muito fortes, a gente ainda faz um trabalho muito de divulgação do conhecimento, então as pessoas fazem treinamentos, as pessoas são engajadas, fazem parte agora da… como que é? Do report de performance, né? Não é “What?”, é “How?”. Então, “What?”, legal, está na sua meta, aqui, ó, é quântico: você conseguiu atingir? Como? Você fez, você interrompeu? Você incluiu mulheres, terceiros, PCDs? Você fez isso? Então, hoje, eu acho que existe uma pressão, que acho que é positiva, por um lado, para gente ser uma sociedade melhor, e que a gente está aqui para educar, existe também a pressão das pessoas quererem saber mais, e tudo bem a gente não saber, a humildade é importante. “Poxa, eu não sabia”, mas agora você sabe. “Poxa, eu não conhecia”, mas agora eu conheço. Então a gente promove muitos cursos… inclusive tem um crachá, um badge, que chama Accessibility in Action, que são cursos e você, no final, sai com um crachá dizendo: “Eu sou 100% treinada, ou cursada de conhecer, como tratar, como ser uma pessoa que reconhece uma empatia com uma pessoa com acessibilidade”. Então eu acho que isso vai promovendo uma cultura melhor. Claro, a gente ainda está construindo. Hoje eu posso dizer também, da Microsoft, a gente tem um time de liderança, né, a nossa presidente é mulher, ela é maravilhosa, Tania Cosentino, tenho uma admiração incrível por ela. Ela, inclusive, publicamente fala isso: ela entrou na Microsoft - na entrevista dela -, ela tem mais de cinquenta anos, ela é mulher em um mercado masculinizado de tecnologia, e ela, no meio da entrevista, mostrando tudo… meu, ela veio da Schneider, meu, dezenove anos, já tinha um cargo de liderança, o entrevistador falou para ela: “Tania, eu sei tudo que você é, sua bagagem é incrível. Eu quero só saber o quanto você está disposta a ser aberta, a aprender”. Cara, porque é isso, Lu! “Você está disposta?”. É difícil hoje você querer estar disposta a aprender, e foi aí que ela falou: “Claro. Essa é a cultura da Microsoft, que é muito legal”. Cara, eu não tenho dúvidas da sua senioridade, da sua experiência, [mas] o quanto você está disposto a aprender mais? E com o seu aprendizado, poder aplicar, porque aí as pessoas crescem também, né? Então isso, para mim, marcou, e ela fala isso publicamente. Por isso que eu estou falando, porque eu acho demais. E hoje, na liderança dela, tem 50% homem, 50% mulher. Então, hoje, uma das tratativas - e eu posso falar isso publicamente também -, a gente traz currículos mais de mulheres, a gente busca mais currículos de mulheres, então a gente faz nosso time de recursos humanos trazer mais mulheres. Claro, para que a gente tenha sempre, pelo menos uma mulher, no processo todo de recrutamento. Ao final, meritocracia, ok? Mas, antigamente, não estou falando de Microsoft, todas as empresas, principalmente na área de tecnologia, você nem via currículo de mulheres. E hoje em dia, a gente tem vários programas de mulheres que tem DevOps for Women, para as desenvolvedoras, a gente tem Women in Tech, a gente tem Digital Girls. A gente tem vários programas que a gente promove capacitação. E a Tânia fala uma coisa que eu acho muito legal: é capacitação para a sociedade; capacitação para gente fazer um pool talent (identificação de talentos) para a gente trazer para a Microsoft, mas vamos pensar na sociedade primeiro; vamos melhorar a sociedade. Então, o que a gente certifica, de gente, é muito legal, que a gente tem certificação (EJA900?), agora a gente está certificando Inteligência Artificial 900. São certificados que custam mil reais o certificado, e a gente promove isso gratuitamente, então a gente faz todo um curso de certificação [e], ao final, se a pessoa estiver apta, interesse, a gente consegue lá uns cursos para a pessoa se certificar, porque, meu, não é fácil. Eu sou certificada de (EJA900?), [e] foi difícil, foi um perrengue, um dos maiores desafios da minha vida, de história. Foi muito difícil. Faz dois anos. Então, essa certificação é muito legal, porque ela é técnica, né, então, assim, como eu contei, eu venho de um histórico de administração, né, depois eu fiz pós graduação, depois eu fiz MBA em marketing na ESPM, depois eu fiz pós-graduação nesse marketing digital, que eu comentei com vocês, do Tiago Costa, e fui fazendo cursinhos. Hoje eu estou fazendo esse do MIT, de inovação, mulheres e liderança, mas nada técnico, né? E aí veio o top-down, o famoso top-down, do tipo: olha, a Microsoft é uma empresa de tecnologia, né, para que a gente tenha melhores colaboradores dentro dessa área, independente da área que você estiver, principalmente nessa área mais da nuvem, famoso cloud, ou ‘a Cláudia’, é importante você… e eu achei bárbaro, porque é verdade, faz todo sentido. Mas não é o meu background técnico, então, e mesmo as pessoas técnicas… aí começa o ‘zumzum’, os rumores nas empresas: “Nossa, quem já certificou? Nossa, mesmo [para] os técnicos foi difícil". Eu: “Ai, minha Nossa Senhora! Como assim?”, (risos) né? Mas era ______ então, eu acho que esse foi um dos maiores desafios da minha vida, Lu, porque foi assim: “Você não tem escolha. Você quer continuar? Você não tem escolha”. Não tem, tipo: “Ai, vamos dar um jeitinho? eu não faço esse, eu faço o outro”, não, não tinha escolha. Então chegou um determinado momento na minha vida, que eu olhei e falei assim: “Eu vou ter que passar por isso. Ou eu passo chorando, ou eu passo sorrindo. Vai ser um sorrindo sofredor, mas pelo menos eu vou tentar ver o lado bom”. E aí você começa a ver as pessoas passando, outras pessoas com mais dificuldades, mas algumas pessoas passando, e você tinha acho que três chances para fazer, né, e depois, lógico, não é que você bombou, ferrou, né, depois eu acho que você tem que pagar um curso depois, tal. Três que a Microsoft banca para você, três chances. Claro que eu usei as minhas três chances, (risos) mas aí eu passei. Na primeira, não passei. E aí foi super difícil, porque é muito técnico e o estudo era assim, era uma brochura. E muito técnico! Então assim, não é meu dia a dia falar de (Ager?), eu trabalhava com Windows na época, com Office, eu nem estava em Xbox ainda, e eram coisas mais do tipo “Como é que o (Ager?) funciona em máquinas virtuais?”. Hoje, quando alguém fala de (Ager?), para mim, eu já tenho um pouco mais de noção. A mesma coisa na língua de sinais: por que que eu não vou fazer hoje? Lá na frente, se eu precisar, eu vou ter mais noção, então (Ager?), para mim, hoje, quando as pessoas falam, não é tão cabeludo que você fala: “Nossa, não sei nem o que você está falando. Bastonete? What?”. Hoje eu sei o que é bastonete, né? Hoje eu falo: “Já estou entendendo. Hum, máquinas virtuais, como funciona? Você não precisa do seu… ah, você tem servidores, então não sei o quê”. Então, você entende um pouco mais. Bom, encarei, né, porque assim, ou é isso… e eu não queria sair da Microsoft, eu adoro, falei: “Vamos embora”, e aí foi dedicação. O que é legal… outra mensagem que eu queria deixar aqui, que é legal: como é que você negocia? Então - eu tenho vários cursos de negociação -, como é que você negocia com o seu gestor? Bom, se é top-down da empresa, é importante, e eu sei que vai ser importante para mim, que eu vou colaborar com a empresa, mas eu tenho meus dias a dias de atribuição e é difícil para mim, pode ser menos para outros, mais para outros, para mim era difícil, eu reconhecia aquilo. Reconhecer é importante. Então, para isso, eu precisaria ter mais dedicação, nada pode cair, mas pode negociar prazos, né? Então, como fazer isso? “Olha, eu tenho um mês para fazer três chances e para passar nisso daqui”, porque tinha prazo para entregar, todo mundo, e tem coisas que eu não vou deixar cair do caminhão, mas tem coisas que eu preciso postergar. Então essa negociação com o gestor é muito importante, e é maturidade, então negociamos prazos e prioridades. Me dediquei. Primeiro, não passei. E era interessante, porque assim, a forma de fazer a prova é muito difícil, porque, não é tipo ai, você entra lá e faz a prova, não, você tem que falar com alguém lá da Índia, que são tipo bedel, que aplica prova, só que é tudo online, então o cara fala assim para você: “Deixa eu olhar o ambiente que você está”. Aí você tinha que tirar tudo, tudo, não podia ter nada, nada. Você tinha que mostrar seu computador, tudo assim, exatamente assim, pelado, então, e eu fiz em casa, então eu tirei tudo do escritório, eu tenho um escritoriozinho pequenininho, eu tirei tudo, celular, não podia nada. Então, assim, é uma pressão em cima para fazer uma prova, para evitar qualquer tipo de cola, e tudo bem, é o procedimento: o quanto isso te traz de tensão, né? Estar fazendo uma prova que, meu, o cara vai ficar te olhando, ele vai ficar te olhando, porque ele está lá, até você… e você tem tempo também para completar, né, a prova, e você sabe que tem alguém que vai ficar te olhando. Então, na primeira, é óbvio que eu não sabia o que era ____, pffff, falhou. Então eu acho que o mínimo era setecentos e eu fiz, sei lá, seiscentos e alguma coisa, eu falei: “Nossa”... E era muito difícil. Para eu conseguir os setecentos, eram muitas questões difíceis para eu conseguir, né? Bom, foi muito difícil, eu chorei, lógico, como todo ser humano: “Meu Deus, será que eu vou conseguir? Eu preciso conseguir, porque eu não tenho outra alternativa, não existe outra alternativa. Eu vou ter que superar isso, eu vou ter que passar por isso". Estudei que nem uma camela - não sei nem se camela estuda -, aí, na semana seguinte, testei. Você marcava as provas, então marquei, sei lá, numa quarta, e marquei a última, que era a última no final do mês, que eu falei: “Se eu não passar nessa, eu já vou para a última”, não passei, também tirei seiscentos e pouco. E aí eu comecei a tentar entender onde estava meu erro, né, então eu vi videos, e aí começaram… e aí é legal que você pega as pessoas colaborativas, né, então, assim, começaram a me mandar vídeo: “Meu, estuda esse vídeo aqui, que me ajudou na prova”, “Olha, estuda isso aqui que tem… meu, é praticamente as questões". Então, aí eu peguei essa dicas, estudei as dicas, cara, eu tirei 890. Passei com louvor. Assim, foi muito legal. Mas para mim foi um aprendizado, foi bem na época acho que da pandemia, foi no primeiro ano da pandemia, acho que foi 2020 isso, faz uns dois, três anos, então para mim foi um aprendizado, do tipo, gente, tem coisas que não dá para desistir, você tem que encarar, né? Mais uma coisa! Lembra os 8000 que eu participei lá do programa de trainee? Cara, que eu falei: “Cara, eu estou aqui. Vamos embora!”. E de novo, mais um desafio de você falar: “Meu, tenho que fazer um teste, que eu não sou técnica, talvez eu nem use hoje, talvez um dia eu vá para (Ager?) e talvez eu use - lá é sine qua non, é pré requisito você ter esse certificado para você poder trabalhar com (Ager?), por que não fazer? E eu tinha que fazer, então vamos encarar. Então, para mim, esse foi um momento bem difícil, mas eu vi pessoas muito bacanas, que a gente se depara, de tentar te ajudar, de tentar te tranquilizar, te contar como é a prova, te dar dica para você não ter tanta pressão. Graças a Deus, a gente encontra pessoas muito legais na nossa frente, né? Então, isso para mim eu acho que foi um marco importante de aprendizado, assim, de carreira.
(01:47:36) P1 - Você tem o hábito de comemorar as vitórias?
R - Olha, excelente pergunta. Eu acho que a gente esquece às vezes, né? Mas esse eu comemorei, viu? (risos) Nossa, quando saiu o certificado, a primeira coisa que eu fiz foi ligar para o meu gestor, que ele foi muito bacana, Everton, o nome dele, ele realmente… e o chefe dele, o Werner, foram duas pessoas… e o Wener foi muito legal, ele olhou para mim e falou assim: “Eu confio em você, eu sei que você vai conseguir". Então, foram duas pessoas que eu celebrei muito com eles, aí eu postei meu certificado em tudo quanto era lugar. Eu e meu marido a gente tem mania de celebrar sim, que eu acho legal, falar: “Hum, hoje a gente merece um vinhozinho”. E os meus filhos! E o que foi interessante, Lu, é que é isso, né, na época dos meus pais, era uma geração muito fechada, aqui não, os meus filhos acompanharam: “Mãe, você vai conseguir! Eu tenho certeza que você vai conseguir! Mãe, é só você se concentrar, não fica nervosa”. Eles acompanharam meu choro, e depois a nossa celebração da alegria, né? Então, eu acho que isso traz um aprendizado para essa geração, que eles estão lá acompanhando de perto, nossa, na alegria e na tristeza, somos seres humanos, nós temos as nossas recaídas, nós temos as nossas falhas, mas a gente consegue superar, a gente consegue. Então, eu acho que isso é [algo] muito legal que a gente traz para essa geração, né? A geração anterior era uma geração muito fechada, você não sabia, nossa, minha mãe nunca chorou na minha frente, meu pai também. Por que não, né? Somos todos humanos, e tudo bem chorar, e tudo bem pedir ajuda, e tudo bem a gente estar junto nessa, amanhã a gente vai estar juntos numa melhor, então isso com meus filhos, eu acho que traz um pouco mais do a vida como ela é de verdade, sabe? E está legal, a gente consegue fazer isso juntos, a gente vai ter momentos de tristeza, mas também muitos momentos de alegria, de superação, né? Então acho que isso foi bacana.
(01:49:31) P1 - Queria te perguntar sobre o mercado de entretenimento. E aí pensando na Warner, foi em 2013/2014, que você comentou, como era o mercado em relação às mulheres? Tinham muitas mulheres ou não, você foi meio pioneira?
R - No trabalho?
(01:49:51) P1 - No trabalho, nessa área assim…
R - Nessa área. Olha, entretenimento tem, tem, tanto que eu tinha que eu tinha contato com o pessoal da Universal, da Universal, da Paramount, e sempre assim, geralmente marketing tem bastante mulher, né, então tinha, na própria Warner no time de cinema hoje tem uma querida que eu amo que é a Denise, ela é até hoje diretora de cinema lá da Warner, a Warner inclusive, ela teve uma junção com quem que foi mesmo? Não sei se a Disney comprou uma parte, teve um monte de junção aí, e ela se manteve firme ali, porque ela é uma excelente profissional, uma mulher que se posiciona, no time dela tinha a maioria de mulher, assim, entretenimento sim. Agora o que eu acho legal deixar como uma mensagem, independente disso a gente tem que estar preparado, né, então assim, onde eu estava em videogame, que eu comecei em videogame, tinham mais homens, né, então o meu gestor era homem, o gestor da outra área era homem, o cara de vendas era homem, o cara de finanças era homem, então os diretores eram todos homens, se reportava para um VP, homem, então em videogame era mais masculinizado. Eu entrei, para tocar uma área onde os meus diretos tinham homens e mulheres, então isso foi legal desse meu gestor, o Clayton, que eu adoro também, botou e falou: “Vou encarar. Eu quero uma mulher". Ele trouxe como: “Putz, eu quero”, e aí eu estava trazendo uma bagagem, vim de uma Samsung, de uma Philips, né, então foi muito bacana, porque essa área toda de videogame na parte de, e era tudo, era produto, comunicação, social mídia, toda essa… Tudo comigo, e tinha uma equipe embaixo comigo, então ali foi pioneiro a gente começar a trazer um ponto menos masculinizado para o videogame, que é muito importante, ali foi legal porque eu participei, nossa, isso foi incrível. O rapaz que chama Alessandro, estava no google na época, o Sassaroli, e ele fez um encontro entre as mulheres que trabalham no mercado de videogames, e que vem falar para as desenvolvedoras que são mulheres. E foi incrível, porque a gente fez uma mesa redonda, estava eu, tinha uma menina chamada Luciana que hoje trabalha na Msoft, que também é gerente, e outras mulheres que eu não lembro que eram gerentes de videogame, falar para as desenvolvedoras, que seriam as futuras influencers aí, usando o YouTube como influência, o canal, e a gente falando da importância da mulher no mercado de videogame, como se posicionar. Sim, a gente tem todos os direitos como todos tem. O que acontece? Porque eu sei que os meninos, os meus filhos, quando eles estão em um jogo aberto, eles já passaram por situações que acharam, ouviram, que tinham meninas jogando, e uma hostilidade, uma toxicidade, que a gente chama, dentro do ambiente de videogames, e eles ficaram super reativos: “Nossa, mãe, foi horrível". Eles saíram do videogame na hora, teve um outro que falou: “Para aí, cara”, por quê? Provavelmente o nome da pessoa era um nome feminino, e não necessariamente é, né? Então, como se posicionar, como a gente mostra, somos todos iguais, a gente sabe jogar tanto quanto, inclusive era legal que o YouTube ele promovia campeonatos, com mulheres jogando, que davam um pau em homem, jogava, jogava meu, muito melhor, então eu acho que isso começou a ter uma virada, estamos muito, tem uma jornada pela frente, mas eu acho que isso já começou. E o que eu achei legal do Sassaroli foi: “Eu vou trazer mulheres executivas, que estão de trás no negócio de videogame, e que estão trazendo essa feminilidade - se eu posso dizer assim - ou essa equidade para um mercado que pode ser igual, e deve ser igual”, então eu acho que começou aí uma batalha muito interessante. E aí quando a gente abrange mais a parte de entretenimento, de séries, tal, eu acho que ele é mais equalizado: ele tem oportunidades. Quando a gente vai para o mercado só de tecnologias, que aí é o famoso Stem, que entra mais ciência, tecnologia, matemática, engenharia, eu acho que a gente melhorou muito em termos de Brasil, hoje a gente vê muito, como eu comentei, a gente traz muitos currículos de mulheres, que fazem engenharia, eu vejo na turma dos meus meninos, tem um monte de menina que vai fazer engenharia, ele foi testar agora, foi fazer treineiro na Mauá, tinha um monte de menina treinando e prestando Mauá, engenharia. Então, tem computação, tem… Estamos em uma virada legal, temos muito ainda, inclusive eu estava ouvindo o noticiário essa semana, por causa desse projeto de lei, da equidade masculina e feminina de salários, quando a gente olha a base da pirâmide, claro que eu, mulher, branca, uma Microsoft, sou privilegiada, tenho ainda muitas dificuldades, que a gente enfrenta por ser mulher, né, o que eu comentei, o mansplaining, manterrupting, infelizmente acontecem, mas ainda privilegiada, numa base de uma pirâmide, em um Brasil, onde a gente sabe que somos quase no topo da pirâmide, quem sofre são essas mulheres, e hoje o que a gente promove muito é interseccionalidade, então a gente fala de mulheres que são negras, as vezes Lgbts, e que tem alguma deficiência, você imagina juntar tudo isso, né? Hoje, inclusive, acho que fez oito anos [de] um projeto de inclusão de acessibilidade, eles estavam até noticiando hoje, hoje fez oito anos do projeto de lei, então, estamos melhorando, fez oito anos, e eles estavam até mostrando alguns parques, né, para crianças que têm alguma deficiência física a importância, dos noventa parques que tem em São Paulo, treze são acessíveis. E os outros? Então, tem uma jornada pela frente, mas já existe uma melhoria, então essa minoria dessas mulheres, o que eu achei interessante nessa reportagem que eu vi, é [que] elas estão marginalizadas, são mulheres que geralmente são jogadas para empregos, enfermeiras, né, por quê? Porque é um estigma da profissão. “Para, não existe mais isso”, só que essas mulheres que são marginalizadas, elas têm filhos, os filhos delas precisam estar em umas creches, e as creches, se elas não tem um apoio como creche, esses filhos vão se sentir marginalizados, e esses filhos, uns deles podem ser homens, e é o homem que tem uma classe social mais baixa, e que é negro, e aí? O que a gente está deixando de legado, né? Então as pessoas esquecem que essas mulheres que eles estão marginalizando tem crianças que vão ser o futuro do Brasil, e que futuro a gente está deixando se a gente não tiver creches que apoiem essas crianças com educação, e que essas crianças são homens e mulheres, e que elas não podem ser marginalizadas para fazer um serviço de doméstica, de cuidadora, por que esse estigma? Acabou, então eu acho que essas reflexões que estão trazendo para a sociedade, fazem as pessoas pararem um pouco mais para pensar, que antigamente não pensava, entrava no looping, meu, é assim e acabou, rotulou. Então eu vejo sim, eu acho que tem uma Microsoft, tem outras empresas que elas estão fazendo movimento de mudar, inclusive, eu, como (crosspilar?) de (DNI?), hoje a gente tem na Microsoft, né, um comitê de diversidade e inclusão. Claro que Tânia é super ativa nisso. Então a gente tem um (DNI Lead?), que é um rapaz, o Dani, embaixo dele tem quatro pilares, que são quatro leads: acessibilidade, mulher, raças e Lgbt. E eu trabalho no cross, então é muito legal, porque eu consigo ver horizontalmente tudo que está acontecendo, e a gente vê, eu por trabalhar os pilares, faço muito benchmarking com outras empresas e sou chamada também como benchmarker. A Microsoft tem valores muito fortes, muito certos, muito enraizados sobre diversidade e inclusão, e a gente fala com Braskem, Unilever, outras empresas que tem isso também muito forte, outras empresas que estão aprendendo, de telecom, então eu acho que isso começa a disseminar, né, de uma forma muito positiva nas empresas, nas famílias, você vê hoje, todo mundo falando dessa, oito anos dessa lei que foi sancionada para inclusão com as crianças, então eu acho que a gente está no caminho bom, são passos de formiguinha,mas eu acho que a gente está em um caminho legal.
(01:58:39) P1 - Dentro da Microsoft, você já entrou para esse nicho de games?
R - Não, quando eu entrei, eu sai da Warner, e fui para Microsoft, também foi um convite, eu entrei para PCs, então era windows e office, e aí eu fiquei dois anos nessa parte de windows e office… quatro anos, na verdade. Fiquei uns 4 anos, olhando o mercado B2C, e cheguei a trabalhar um pouquinho B2B, e aí eu de novo: “Não é B2B que eu quero, é consumer”, aí eu voltei e fui trabalhar para Xbox, então hoje eu estou há quase dois anos em videogame.
(01:59:18) P1 - E nesse mercado, você também sente parecido com a Warner no sentido de…
R - Entretenimento?
P1 - É, pensado nos games mesmo.
R - Sim, total, porque onde eu estou, Xbox, é videogame, e o que é muito legal, tem os nossos videogames, então grandes franquias como Minecraft, Halo, Forza, Sea of Thieves, enfim… dá até medo de falar, porque são todos, (risos) não posso deixar nenhum de lado, muito grandes. Halo, enfim, não sei se eu falei Halo, Grounded, tem franquias nossas que são maravilhosas, e tem as franquias dos parceiros publishers, a própria Warner, né, que tem os jogos dela, tem Injustice, Mortal Kombat, enfim, que a gente também tem na plataforma de Xbox, tem Capcom, que é outro publisher, tem Electronic Arts, então a gente trabalha com um grande grupo dentro das plataformas de Xbox, como é que eu lanço esses títulos para o mercado, porque eles lançam, né, globalmente, trazem para o Brasil: “Como é que a gente traz isso para o consumidor brasileiro? Como é que eu comunico isso?”. Então é totalmente entretenimento dentro da área de videogames, que é muito gostoso, e o que é legal, a gente trabalha também com a questão diversidade e inclusão, então hoje eu represento, na parte de diversidade e inclusão também Xbox, a gente fala muito de jogos acessíveis, então, Forza ganhou prêmio inclusive do The Game Awards como um dos melhores jogos na parte de acessibilidade, né? Então, para as pessoas que têm dificuldade de acessibilidade, eles conseguem voz, narração, então está tudo ali muito acessível. Tem a parte do Tell Me Why - acho que é Tell Me Why - que é um jogo também que a gente fala na parte de Lgbt. Tem um que eu adoro, que é Psychonauts, que fala muito na parte de mental health, né, saúde mental, neurodiversidade, então tem jogos que levam para esse contexto também, que é muito interessante, e a gente tem o controle adaptável, que também ajuda as pessoas que têm dificuldade, que têm alguma deficiência manual, ele traz a mobilidade para poder você jogar com controle adaptável.
(02:01:27) P1 - Entendi. Então a preocupação de vocês é essa diversidade, inclusão e representatividade nos jogos, na acessibilidade mesmo, com aparelhos que facilitam e também na execução de quem trabalha?
R - É. Você fala da gente?
P1 - É mais mulheres trabalhando nesse mercado? É por aí? Só para ver se eu estou entendendo.
R - É por aí. E isso você [falou] me traz um gancho muito legal: a gente fez uma mesa redonda recentemente, junto com… a gente colocou inclusive uma mulher negra, Lgbt, eu representando Microsoft como um todo, tinha uma pessoa de acessibilidade, onde a gente discutiu isso, como é que está o mundo de games hoje para as mulheres e para esses pilares? Hoje, os grupos de representação minoritários, e a gente percebeu que sim, existe uma evolução, e mais do que isso, a Microsoft, ela faz dois desenvolvimentos muito legais: primeiro, ela desenvolve os desenvolvedores de jogos no contexto de diversidade e inclusão, ou seja, mais mulheres, mais pessoas com deficiência, para você entender como é que você vai desenvolver seu jogo. Se eu não entendo o que eu tenho que botar de acessibilidade, eu tenho que saber o que é, então por que não botar uma pessoa? Então a gente faz o desenvolvimento junto com pessoas, por exemplo, que tem alguma deficiência, para a gente entender melhor como esse jogo seria melhor. E além disso, promover realmente a comunidade, né? Então os gamers mais dentro dos jogos, daqueles que gostam e se sentem mais à vontade para jogar aquele jogo, como é que eles interagem dentro daquela comunidade, seja uma comunidade Lgbt ou não, pode ser uma comunidade misturada. Então como é que a gente promove isso? E mais mulheres, sem a toxicidade que eu comentei, né, porque não precisa. Todo mundo, nossa missão de Xbox é: jogar o que eu quero, com quem eu quero, da forma que eu quero, do jeito que eu quiser, a hora que eu quiser. Esse é o nosso mote: play anywhere. Exatamente isso! Eu posso jogar a qualquer hora. Então hoje a gente trabalha cross plataforma: eu posso jogar no console, posso jogar na TV. Hoje, a TV Samsung tem um aplicativo do Xbox Game Pass. Eu posso jogar no PC, no computador, que também tem, eu posso jogar no mobile, no celular. Então esse cross plataforma já me dá… eu posso jogar em qualquer lugar? Beleza. Eu posso jogar com quem eu quiser? Isso, você pode jogar com qualquer comunidade. Todo mundo tem que ter direito ao jogo. Existe um grupo dentro da Microsoft que se chama Games for Everyone, e é isso que a gente fala: jogos para qualquer um. Por isso o cuidado de desenvolver jogos que sejam acessíveis, porque jogos são para qualquer um. Eu adoro esse mote, porque é isso mesmo, E aí é isso que a gente passa né, para o consumidor, para a comunidade, eles entendem, eles aceitam, eles gostam, eles prezam, né? E esse é o meu trabalho: cada vez mais deixar isso claro, desenvolver produtos, comunicação, de que a gente vá por esse caminho de diversidade e inclusão. Jogos para qualquer um, diversão para qualquer um, né, que entretenimento é isso: é alegria que a gente tem que buscar. Então, do nosso lado, é videogames. Claro que tem toda parte… foi interessante porque a gente lançou, junto com a Paramount Plus, Halo, então foi uma série de Halo, que é um videogame muito conhecido, uma franquia super conhecida aqui no Brasil, com uma comunidade muito forte, Paramount Plus lançou Halo, a série [de TV], então foi muito legal, porque foi um BUM. Foi ano passado, eu acho. Fizemos até um evento junto com eles, tal, e foi bacana, porque você vê uma franquia que pode estar no videogame, como pode estar em uma série de TV, né, uma série da Netflix. Foi da Paramount, no caso, na Paramount Plus. Então, é a abrangência, né, isso é muito importante.
(02:05:34) P1 - E Ale, como que você entrou dentro dessa área de diversidade e inclusão? Você já tinha esse interesse ou foi meio por acaso?
R - Bem legal essa parte. Eu sempre tive interesse, né, então nas outras empresas, eu sempre procurava entender, né, uma mulher [que] está se posicionando. Sempre tive admiração por líderes mulheres, né, tipo: “A isso é muito legal fazer, nossa como ela faz muito legal". Então, assim, sempre tive esse interesse, não só na parte de mulheres como, puxa, como respeitar pessoas, né, de Lgbt [que] são pessoas como nós, que têm que se sentir bem. PCDs também: como é que a gente faz acessibilidade? Pessoas negras, idade, né? Eu não tenho vergonha de falar, hoje eu tenho 47, que experiência legal que eu tenho, e eu tenho muito para viver, se Deus quiser. E classe social, isso indifere da pessoa ser menos ou mais, então eu sempre tive isso muito forte em mim. E aí quando eu entrei na Microsoft eu vi que a cultura é muito forte, eu sabia já, foi um dos grandes motivos que eu quis entrar, e aí eu fui convidada para entrar nessa parte de diversidade e inclusão. Tem um comitê, eu comecei a me interessar, existem membros aliados, que as pessoas dentro dessas lideranças, eu comecei a me interessar, e trouxe a oportunidade de fazer cross, como uma… “Por que a gente não pode olhar cross?” E aí foi muito legal, porque deu certo. E aí, para mim, assim, transformou demais a minha vida. O olhar pelo outro, pela humanização que eu já tinha muito forte, né, lá na época da escola, e aí o aprendizado, isso que eu trago um pouco de leis, o que as leis estão falando, capacitação, esses programas que eu comentei. Então, assim, claro que existem as especialistas em cada pilar, para trazer esses programas, que bom que elas trazem, através disso é que a gente consegue uma empresa melhor, pessoas mais conscientes, que vão influenciar. Eu influencio super minha família, né? Estou lá mostrando pros meus filhos, que são a nova geração, como olhar de uma forma respeitosa, mais humanizada. Como é importante ser pessoas melhores nesse sentido. Somos iguais em todos os aspectos, né? Então eu acho que para mim foi muito legal ver o movimento dentro da Microsoft. Hoje, quando eu falo com algumas outras empresas, as pessoas têm movimentos parecidos, eu acho bacana. E como é que eu trago isso dentro da empresa? Fortaleço, sou uma embaixadora, como todos eles são os disseminadores, os aliados, os famosos aliados, mas fora da empresa também. A gente também faz trabalhos muito legais de entrevistas, de matérias falando da importância de um plano de saúde. Hoje em dia a gente tem um plano de saúde lá dentro que pode ser para qualquer pessoa, então, se a pessoa é homoafetiva, e ele escolheu sair por seis meses, ele vai sair por seis meses, licença maternidade para o homoafetivo e tudo bem. Tem também, entrou no plano de saúde… isso eu já posso dizer tudo, porque já foi anunciado publicamente. A gente ajuda no plano de saúde para as pessoas que querem fazer afirmação de orientação sexual, né, e na parte de plano de saúde também para pessoas, mulheres, que tem a auto estima abalada por causa de câncer, e que precisa fazer uma prótese. Então, são melhorias na própria empresa que vão trazendo, seja em pelo de saúde, seja em engajamento de curso, seja nas próprias reuniões de trabalho que é uma forma que você consegue disseminar de dentro para fora. Eu não quero ter um talent pool só para a Microsoft, a gente está fazendo toda essa certificação, essa capacitação… Digi Girls! Eu hoje sou mentora, existe um dos programas que se chama “WoMakersCode” que é o WO de Woman, eu sou mentora de uma mocinha lá de Recife, que ela trabalha em um laboratório de tecnologia, então todo mês a gente conversa, e ela fez um crescimento, uma evolução na carreira dela que me dá orgulho, orgulho, eu falo “Nossa, Isabela, que lindo". E ela fala: “Nossa, como está sendo importante para mim". Mostrar para ela que assim ela pode fazer um plano de carreira, e ela desenhou o plano de carreira,sabe? Foi maravilhoso, junto com recursos humanos, então, são programas que como a Tânia fala, é uma capacitação para a sociedade, se a gente tiver espaço para a Microsoft vai ser super bem vindo, se não a sociedade que aproveite essa mulheres, mulheres e homens. Lógico que estão sendo capacitados. A gente fez uma interseccionalidade interessante, que tem uma que se chama Black Women in Tech, que é a interseccionalidade das mulheres negras na tecnologia. Como que a gente faz isso? Certificação, programas. E claro, tem para homens também. Inclusive, eles fizeram um que foi muito legal, são os próprios funcionários que são técnicos, que conhecem para caramba, não é meu caso, mas são técnicos, eles dão curso, então se chama Certifica Geral, todo sábado, porque eles também não podiam outro horário, e audiência, que são pessoas… acho que esse é o Black Microsoft. São de raças, né? Então, são negros e negras que não tem condições de estar em um curso. Eles estão das oito horas ao meio dia todo sabádo. Chama Certifica Geral. Fazem o curso de capacitação para, ao final, a pessoa ter total condição de se certificar. E Lu, essa certificação é uma porta de entrada para uma carreira profissional. É assim, é objeto de desejo profissional para muita gente, e principalmente para empresas de tecnologia, né? Então a gente sabe da importância: pode vir para a Microsoft; se a Microsoft não consegue absorver, as empresas vão te absorver, porque vocês estão sendo capacitados. Isso é muito legal.
(02:11:33) P1 - Fazendo história…
R - Fazendo histórias, para cada empresa que você passa você deixa a sua sementinha, e essa é uma sementinha muito legal que eu quero deixar aí, e ela não fica só na empresa, ela está aqui, está aqui, é lógico que mexe muito com a gente, que a gente começa a ver historias que abalam muito a gente, sabe, Lu? Porque a gente às vezes fica numa bolha, às vezes é mais fácil ficar numa bolha, né? Quando a gente estoura essa bolha e a gente vê que tem vidas muito difíceis, mas que a gente está ajudando, no começo abala, né, dá um nó na garganta, mexe, a gente fica fragilizado, depois a gente vê o quanto, meu, é louvável, o quando você mexeu com a vida. Cara, eu lembro de uma frase que uma vez um lead me falou isso: “Meu, não subestime a contribuição que você faz pelos outros”. Às vezes a gente fala: “Nossa, falei isso, fiz isso na reunião, fiz isso no projeto". Meu, a contribuição que você faz na vida do outro, você não sabe o impacto que é, você não sabe, ás vezes a gente passa numa reunião tal, outro dia me chamou uma pessoa, um rapaz e falou “Nossa Ale, aquele projeto que você fez, você liderou, você falou com parceiro e no final deu certo, cara como impactou a forma como agora eu olho…”. Eu não tinha a menor ideia, não tinha a menor ideia, mas nossa, eu fiz tão natural, mas meu, sempre tem alguém observando, aprendendo, como eu também faço, eu não sei tudo, como eu também olho outras pessoas que eu falo “que legal, vou fazer igual". Ou vou fazer diferente, do meu jeito, mas como foi legal ter visto a forma como a pessoa abordou, e é sempre do lado positivo, as pessoas que abordam, que são hostis, nunca vais ser legal, nunca vai ser pego como exemplo, não perdura, agora se você leva para o lado colaborativo, bacana, abraçando, energia, cara é só gol, só sucesso.
(02:13:35) P1 - E para você, como você se sente? Qual é a importância, ser mulher, ter um cargo de liderança, atuar nessa área de tecnologia, o que que representa?
R - Olha, é muito legal. Eu falo: “Gente, eu vou me aposentar aqui”, porque eu estou realmente me realizando, né, eu diria não só como profissional, como uma pessoa. De tudo isso que a gente está conversando, eu me sinto privilegiada, né, mas, ao mesmo tempo, eu sei o esforço que foi estar aqui. Então também tem uma frase muito interessante que as pessoas falam: “Você só vê os goles que eu dou, mas não os tombos que eu tomei". Então, tiveram muitos tombos, eu até acho legal que você trouxe até lencinho, porque às vezes dá até vontade… Dá um nó na garganta, mas tiveram muitos tombos, lembra? Virou a chave, mundo corporativo, mas como tem gente muito legal no mundo corporativo, os aliados, as pessoas do bem, tem muita gente legal, então quando você entra nessa trajetória, olha para trás que é muito gostoso, né, esse tipo de bate papo, porque é gostoso você olhar para trás e ver tudo que você passou, toda trajetória muito bacana, foi diferente, foi privilegiada, né, mas foi tudo estudado, né, você perceber as suas oportunidades, você não saia no meio de uma palestra de de 8000 pessoas e falar: “Não é para mim". Por que não? Pode ser para você, então ficar, acreditar, né? Então, hoje, você olhar para trás e falar: “Nossa, quantos tombinhos foram, mas foi tudo pensado, tudo estratégico, e hoje eu estou aqui, vou continuar os desafios, vão continuar pessoas difíceis, que a gente vai enfrentar pela frente, mas quem sabe a gente consegue mudar essas, né, ser mais colaborativas, a gente também muda, a gente também muda, a gente também aprende, a sermos pessoas mais flexíveis, mais abertas, mais espertas, enfim, mas eu me sinto assim, muito realizada, acho que ainda tem uma jornada pela frente, não quero desistir agora. Penso realmente em uma aposentadoria em uma empresa bacana, que hoje você sente que você, você não está na zona de conforto, não quero isso, eu adoro desafio, eu curto, como eu falei, a vida a cada segundo, com desafios, né, sejam eles espinhosos, sejam eles mais fáceis, mas é importante para a gente crescer, é engraçado que tem dias que a gente fala assim: “Ai que dia tranquilo, não vejo a hora de ter um dia tranquilo". Aí você fala: “Está muito tranquilo, está esquisito". E aí quando você passa: “Nossa Ale, amanhã você precisa fazer uma apresentação! Nossa diretora… esqueci de te falar!” Você fala: “Meu Deus! Para amanhã?”. Cara, o quanto você cresce para fazer essa apresentação overnight, você faz muito bem, então às vezes esse imediatismo, a gente fala: “Ai, aqui não é padaria que é pão toda hora". Não é, lógico, planejado tudo melhora, a gente faz melhor com qualidade, mas às vezes, essas coisas que aparecem de última hora, ou que você tem que se reunir com uma equipe que você nunca viu, esses desafios são muito importantes, é onde eu sinto que foi um grande aprendizado. Eu vou te dar um exemplo, que eu achei muito legal, que eu até ganhei um prêmio por conta disso, quando eu consegui aliar diversidade e inclusão com o meu trabalho, né, que eu falei: “Gente, diversidade e inclusão é muito lindo, é muito legal, faz parte de uma sociedade melhor, mas ele também gera negócio”, né, em prol para todo mundo. Como é que eu faço isso acontecer? Trabalhava, como eu falei, quando eu entrei eu trabalhava em computador, Windows e Office, e uma das coisas que a gente fala muito em diversidade e inclusão, principalmente em acessibilidade é “os nossos produtos são 100% acessíveis, incluindo o Xbox". São muito acessíveis, hoje o Windows tem narrador, ele tem a cor, o contraste, tudo para ser mais acessível, o office hoje, quando você entra no Powerpoint, você vê uma coisinha que chama accessibility, então toda apresentação que você fizer, quando você aperta esse accessibility, ele entrar do seu lado dicas de como você melhorar a sua apresentação para ela ser mais acessível, a cor, a fonte, a imagem. Então, por exemplo, a imagem você pode deixar lá depois você ponhe no áudio, tem a parte do subtitle, né, que eu vou deixar tudo isso para ser mais acessível você ponha lá, tem uma figura, eu sou cega eu não sei que você está mostrando uma figura, ele vai falar: “Uma senhora segurando um computador com…”. “Caramba, meu, o office faz isso”, o que hoje é conhecido como Microsoft 365. Eu falei: “Caramba, então vamos lá, se eu tenho os melhores produtos acessíveis, Windows e Office, e eu tenho PC, que são os meus parceiros, Dell, Lenovo, Acer…”. Também não posso esquecer de ninguém. (risos) Positivo, Multilaser, está todo mundo ali. Eu falei: “Guys, vamos pensar o seguinte? Hoje ninguém se apropriou de um território onde a gente fala, vamos nas escolas, que hoje tem escolas especiais, que precisam de produtos especiais, porque as pessoas têm necessidades diferentes, e elas precisam de produtos acessíveis, né? A gente tem isso, a gente pode mostrar". E o que é legal que tanto o Windows quanto o Office, para cada tipo de deficiência ele tem uma solução, cara é uma lista desse tamanho, eu falei: “Gente…”. Aí eu fui estudar qual é o tamanho de mercado dessas escolas especiais que estão recrutando, recrutando não, que aceitam crianças, adolescentes que precisam, que tem uma necessidade especial, estava crescendo mais de 30%, ou seja, existem escolas especializadas para isso, por que não ir lá e falar: “Gente, deixa eu fazer um treinamento aqui?”. Essa solução já existe, você já tem um produto acessível, vamos mostrar para eles como usar, cara, foi incrível né, e aí alguns parceiros, e foi muito legal, porque alguns deles, não vou falar nomes aqui, alguns deles fizeram campanhas, venderam, foram nas escolas de educação que tem esse… Escolas especiais, que precisam, mostraram como usa, nossa, foi incrível, as pessoas não tinham ideia: “Meu deus, está pronto". Está pronto, super acessível, outros fizeram sites mostrando para cada deficiência qual recurso melhor usar de Windows e de Office, da Microsoft, para mim foi um super aprendizado, eu uso hoje no powerpoint, primeira coisa que eu falo: “Gente, subtitle, já pergunta, acessibilidade, essa fonte, essa cor". Eu não consigo fazer diferente, e hoje quando a gente entra para a gente falar, a primeira coisa que a gente entra numa palestra, em um auditório é: “Alguém com alguma dificuldade pode vir mais para frente, meu nome é tal…”. Faço uma auto descrição, como fiz da outra vez, e aí a gente pergunta, isso é natural, isso é o letramento, que a gente chama, como é que a gente vai educar as pessoas para elas naturalmente aprendem que sim, pode ter gente na nossa audiência, uma audiência externa, que tem alguma deficiência, por que não saber? Levar isso de uma forma natural, pode chegar mais perto: “Olha, eu estou aqui”, tem gente que às vezes não enxerga. Isso eu aprendi também: se você falar no microfone, sai ali, e sai ali o som, só que você está aqui, a pessoa que não enxerga, ela vai olhar para o alto falante, que ela está ali, ela está achando que você está ali. Então o que eu aprendi uma vez, foi muito legal: “Gente, meu nome é Alessandra, tal…”. Sem microfone: “Eu tô aqui, meu nome é tal”, pronto, a pessoa já te localizou, ela sabe que você está ali. “Eu vou pegar o microfone, para vocês poderem me ouvir". Mas você já localizou, a pessoa já te localizou, você está no meio do palco, então são sutilezas, que eu diria mais que sutilezas, letramentos, você vai aprendendo, vai disseminando, nossos jargões de raça, né, criado mudo, fez nas coxas, tem que parar com isso, porque é tudo um legado ruim que a gente trouxe de uma herança lá atrás, que infelizmente o Brasil passou por uma escravidão, né, então a gente fez, até foi legal, o pessoal de (BAM?) que é o (Black Microsoft?), fizeram uma cartilha do que não falar, né? “Está nos nossos jargões, mas vamos tentar evitar”, né, não tem mais porque usar. Também é um condicionamento. Então, de novo, meu, a vida é um aprendizado, né? Então, para mim, toda essa transformação… e nos jogos também. Então hoje a gente faz parceria com a AbleGamers, que é uma ONG super bacana, liderada hoje pelo Cristian aqui no Brasil, fundador, e ele trabalha justamente com parte de controles adaptavéis, que a gente tem esse de Xbox, e ele faz outras adaptações para cada tipo de necesssidade, de uma pessoa que tem um tipo de deficiencia, para que? Para que todos tenham direito ao videogame, ele inclusive fez um evento em setembro do ano passado, fez lá no shopping Santa Cruz, esse ano ele vai fazer em setembro de novo, para mostrar jogos mais acessíveis, acessórios mais acessíveis, consoles mais acessíveis, porque meu, games for everyone, é para qualquer um. Então, são coisas que você vai criando, vai criando esse mundo que você fala “Meu, tem espaço para todo mundo". Então, eu me interessei, né, então quando eu vi tudo isso eu me interessei, mas mais do que isso interessa, é você se engajar, você falar assim: “Poxa, mas como é que”... Outro exemplo, da parte de Lgbt, os banheiros da Microsoft são unisex, e aí você pega cliente, que você está saindo do banheiro, a pessoa fala assim: “Onde é o banheiro?”, “Lá na ponta", “Tá". Aí você sai do banheiro o cara já falando: “Oi, você sabe onde é o banheiro masculino?”, “É aqui, é junto, é unisex". Tem outro box privativo, tal, como em alguns bares, restaurantes, você já vê um banheiro, três banheiros, que serve para todo mundo, homens e mulheres, é uma educação, né, é um aprendizado, e a gente foi para cima nisso, alguns clientes que não estão acostumados, passam a se acostumar, e muitos deles adotam nas suas empresas, que é muito legal, que é muito bacana.
(02:24:00) P1 - Ale, assim, a gente ficaria mais horas falando da sua carreira, acho que se você topar e quiser contar um pouco, como foi o seu casamento, a maternidade? Como foi se tornar mãe?
R - Aí, maravilhoso, faço tudo de novo. O susto foi ter gêmeos, mas foi muito legal, era um plano que a gente já tinha, eu e meu marido. Então quando a gente casou, a gente ficou quatro anos sem filhos, e aí veio a grande surpresa, depois que eu descobri do lado da minha mãe que o meu tio Swen, com os nomes alemães, ele era gêmeo de alguém, mas na época o irmãozinho dele não sobreviveu, então aí que talvez tenha uma história de gemelar. Mas pra mim assim, é uma das grandes realizações pessoais, né, como mulher, ou como mãe, ou meu marido também falando, é uma paixão, é aquela coisa que você fala, é um amor, que eu falo até para os meninos, chega a doer o coração, eles falam: “Nossa, toma remédio", (risos) aquela frieza adolescente. É muito lindo, é um amor maternal, e assim, faria tudo de novo. Quando eles vieram gêmeos, foi muito difícil no começo. O que eu deixo aqui de mensagem é: meu, abram-se para ajuda, porque toda ajuda é muito bem vinda. Mas para mim foi um aprendizado, foi uma época boa, que eu tive eles na Dupont, então a Dupont foi uma mãe, quando eu estava grávida eu tinha muito sono, comi muito, tinha muito sono, tudo em dobro, né, tudo em dobro, e aí a empresa tinha uma parte de enfermaria, para grávidas, então assim, você almoçava na empresa, e depois ia fazer um cochilo, aí gente era tão bom. Então assim, foi uma gravidez super boa, super tranquila, os meninos nasceram super bem, graças a Deus, sendo gemelares, hoje eles são muito amigos, um é minha cara e o outro é a cara do meu marido, então são democráticos, o que é bom, mas é uma realização. Assim, eu super recomendo e também super respeito quem não quer ter, mas quem quer ter eu dou várias dicas que é muito amor, muito amor.
(02:26:09) P1 - O que vocês gostam de fazer juntos?
R - Tudo gente, é filme, bom, exercício, eles jogam bola, vão comigo andar de bike, nadam, aprenderam a nadar, né, fazem esportes com a rita que é a professora, mas claro tem momentos de cinema, então por exemplo, essa semana a gente foi assistir Indiana Jones clássico Indiana Jones, eles foram também, então, tem muita coisa, e a gente gosta muito de viajar, quatro sagitarianos, então você imagina, em uma semana todos fazem aniversário, eles no dia 5, meu marido dia 7, e eu dia 12, então assim, é uma loucura, é fogo total, e a gente aventureiro, então a gente viaja muito. Então, a gente fez uma viagem recente para Fernando de Noronha, então assim meu, mas assim, trilha, nada no meio do mar, e foi loco, né, porque foi bem naquela época, dois anos atrás que teve aquele acidente com uma mocinha, não sei se vocês ouviram, lá na Bahia do Sueste, a gente tinha ido viajar em janeiro, meu, fizemos tudo lá, tudo, tudo, todos os passeios, a gente ficou doze dias em Noronha, que eu acho que é o limite para ficar lá, e a gente fez todos os passeios, porque eles adoram fazer tudo que é a ventura, e aí uma delas foi a gente meu, nadar na Bahia de Sueste, que ela é uma Bahia mesmo, e é muito legal, porque ela é dividida aqui no meio, os turistas, os banhistas que eles chamam, lado esquerdo ninguém entra, porque é a parte de pesquisa, então tem até uns tubarõezinhos pequenininhos que ficam nadando ali bem na ponta, e do lado direito você entra com os guias para você mergulhar, então a gente fez banhista, fez a parte com turista, com o cara do guia, e aí a gente foi até o fundo, viu umas tartarugas enormes tal, a gente saiu no meio de janeiro, que a gente ficou doze dias, na ultima semana de janeiro teve um acidente, então assim, da um, da um medinho, mas cara não da para deixar de aproveitar, como… E tadinha, a menina, tava nessa parte de banhista, né, ela neme stava mergulhando lá com guia, então teve infelizmente lá um ocorrido com tubarão, eles até fecharam a Bahia do Sueste por conta disso, porque não é normal, não é natural, fazia anos, acho que 2000, fazia uns dez, quinze anos que não tinha umn acidente, aconteceu um aciente com um turista lá também, então eles estão estudando lá a parte biologica, mas a gente gosta muito de viajar e fomos para Capitolio, antes do acidente também de Capitolio, ai gente, só acidente, mas é toda essa parte a aventureira, então fomos para Mato Grosso também, no pantanal, para fazer… Então, a gente gosta bastante de viajar, a gente viaja juntos. E meu irmão que mora nos Estados Unidos, mora em Colorado, então lá tem várias montanhas, né, tem uma que chama, como é que chama? É “God of…” Alguma coisa assim, não lembro agora o nome, mas ela é, meu, são montanhas altas, então a gente fazia hiking, andando para caramba, forte, então eles acompanham bastante, são muito companheiros.
(02:29:21) P1 - Seu marido também gosta?
R - Também acompanha, acompanha menos, mas acompanha, sou mais eu e eles, mas ele acompanha em algumas.
(02:29:29) P1 - E como que é para eles ter uma mãe que trabalha nessa área de games?
R - Só love, né…
P1 - É sucesso…
R - Só love, não, muito legal, o que é legal é que assim, o papo flui, né, não estou dizendo que com a mãe, com os outros que trabalha em outro lugar não flui, mas eu acho que para gente a aceitação deles jogarem e equilíbrio, eu acho que tem um papo bem aberto, né, e é interessante que as vezes eu vou em reunião de colégio: Nossa, meu filho não sai do videogame, não sei o que e não sei o que". E eu fico só ouvindo “Nossa, que absurdo, eu também". Aí vira uma delas, que são minha amigas e fala “Ela trabalha em games". Eu falo: “Gente, mas está tudo bem, é só ter o equilíbrio". Então,é uma forma de eu falar, explicar para elas: “Ai, Ale, mas você acha?”, “Gente, é só ter equilíbrio”. Porque na pandemia na pandemia foi super bom, eles se socializam através do discord, o discord tem milhões de coisas complicadas, mas se você tem um mundo fechado ali no discord, que é o grupo que você faz, ele é super sociável, então tudo sem exagero…Exercícios sem exagero,trabalho sem exagero, água sem exagero, comida sem exagero, videogame sem exagero, é a diversão, é o equilíbrio, tudo tem o espaço, tudo. Então, eu acho que de uma forma ou de outra para mim, minha relação com eles é incrível, né, entretenimento como um todo, todos gostam, então para mim é muito gostoso, flui, mas é uma forma deu também ajudar as outras mães, né, que encaram o videogame de uma forma um pouco mais preconceituosa, é o momento de falar “não vai por esse lado”, ele mexe muito, teve um estudo muito legal sobre parte de coordenação, né, eles usam até para fisioterapia, naquela época do kinect que se usava era até para fisioterapia, equilíbrio motor, você tem que ter muito jogo ali, eu não sei jogar fifa, por exemplo, eu não tenho, para mim é difícil, mas adoro jogar luta, então como trabalhar a parte motora? A parte de socialização, você está no mundo aberto ali jogando com pessoas, sem ter a toxicidade, mas você joga com seus amigos, né, então eu acho que, hoje em dia o equilíbrio é importante, porque a geração já nasce assim, né, então essa geração que já nasce assim, ela tem que ter o equilíbrio também,na minha época é travessia, polícia e ladrão, foi muito legal, eu cai de árvore, pular de muro, isso foi muito legal, como que eu faço o equilíbrio aí com tecnologia, e uma das coisas que me inspirou eu vir para Microsoft, foi a tecnologia. E eu lembro muito assim, tecnologia na medicina… cara, a gente lançou recentemente (onno lens?), que é um óculos que ele tem mix, ele não é VR, que é virtual reality, ele é realidade aumentada, é tipo um mix, né, então você enxerga para fora, você não está dentro, submerso, você está para fora, você consegue trabalhar em equipamentos, industriais, sei lá, seja da medicina, você vê um cadáver. Fizeram demonstrações maravilhosas, então me encantou na Microsoft, essa possibilidade de você unir tecnologia para fazer sua vida melhor, mais saudável, mais rápida, mais assistida, totalmente mais assistida, mais legal, com o videogame, porque não, então foi um dos pontos que eu falei: “Cara, que empresa maravilhosa". Eu hoje vejo gerações falando “Ai eu quero muito trabalhar, meu, na tecnologia, na Microsoft, porque cara…“. Tecnologia que traz esse encanto, não é produto tão palpável, que você trabalha com produto com bens duráveis, está lá a tecnologia existe, um console é durável, né, mas o que tem por trás de uma tecnologia? Engenharia da tecnologia, é muito legal, então a gente tem que incentivar meninas a irem, tem o equilíbrio quando a gente estuda, a mulher pensa mais como, o homem pensa mais como, como juntar essas duas coisas,porque a beleza da diversidade é essa, traz mais inovação, traz performance, se a gente juntar os dois ideais, não é separar, é juntar.
(02:33:39) P1 - Ale, caminhando para o fim, queria saber quais são os seus sonhos?
R - Nossa, bom, meus sonhos, ai eu quero muito, a gente sempre pensa no outro antes, mas a gente tem que pensar na gente, a gente está falando de mim. Mas, meus sonhos, cara, eu quero continuar assim, trabalhando onde eu trabalho, feliz, né, ter uma boa aposentadoria, eu acho que hoje no Brasil a gente caminha para uma política de previdência a passos de formiguinha, né, eu vejo as pessoas não falando de poupança, de previdência, de investimento, então, eu acho que você planejar o seu futuro, né, puxa ser mais relaxado, hoje eu busco isso, já começa um equilíbrio de ter uma vida pessoal, e profissional mais equilibrada, né, saber dizer não, e saber investir para você ter uma previdência, um futuro mais equilibrado, porque é muito louco você estar em uma renda assim, e o INSS é uma renda assim, e você quer manter seu padrão? Você começa a pensar desde agora, e hoje a gente vê uma geração que não pensa muito nisso, né, e nem é a geração atual, a minha geração ainda não pesa, tem muitos que não pensam, então eu acho que o meu sonho é, eu quero continuar me realizando profissionalmente, acho que vai ter um momento, né, que eu vou sentir, vou descansar, né, talvez chegue esse momento, e eu adoro viajar, adoro, né, cuidar, cuidar das pessoas que estão ao meu redor, eu acho que eu tenho o sonho de realmente de continuar viajando muito que eu amo viajar, amo aventura, enquanto eu tiver saúde para continuar trazendo meus sonhos de viagens para a realização, e poder ter uma boa aposentadoria assim, feliz, tranquila, né, como eu estou conseguindo proporcionar para os meus pais, né, de uma maneira tranquila, saudável, com equilíbrio, um bom padrão, então para mim seria isso. Acho que para o meu marido também, poder cuidar dele, e a gente ter aí um final feliz de vida, e para os meninos que eles escolham a melhor profissão, que eu deixo totalmente ao cargo deles, aptidão, vocação, fizeram teste vocacional, que eles realmente, assim, a gente tenta botar no trilho certinho, e a gente sabe que uma hora, o coração pequeno, eles vão fazer “Tchau mãe, já volto". E aí você fala “Aí meu Deus". O famoso empty nest, o nosso ninho vazio, que a gente perde os filhos, eles vão para a vida, a gente traz eles para a vida, então a gente começa a trabalhar isso na cabeça, que eles sigam o melhor caminho, então eu acho que esse é o ideal.
(02:23:22) P1 - E o que você acha que pode ser o seu legado? O que você gostaria de deixar?
R - Olha, eu gostaria de deixar uma coisa que me ensinou muito, né, eu acho que é você aproveitar do que você gosta muito, você, de novo, a gente pensa sempre no outro, que é legal, mas a gente não pode esquecer da gente, né, então para mim o legado é, como é que o que eu gosto de fazer, a minha autoconfiança, o que me traz prazer, alegria, realização, que é o esporte, né, como é que ele me trouxe tanta satisfação, tantos desafios, chorei várias vezes, competição, mas superei, treinei melhor, e consegui, em esportes individuais, esportes coletivos, então como é que eu trago o legado de um esporte que eu amo tanto, que para mim faz muito sentido, em disciplina, planejamento, em colaboração, em superação, para tua vida profissional, então, minha vida pessoal com esporte, que é muito respaldada, eu nasci, eu acho que na barriga da minha mãe eu já fazia assim, porque eu nasci louca, desesperada, antes do tempo, como que eu pego isso e transformo na minha vida profissional? Tem um link muito legal, da disciplina, do planejamento, da realização, da superação, da celebração, que nem você falou, que é muito importante, a gente estar lá, se auto flagelando o tempo todo, né: “Eu quero, quero, posso, que legal". Cara, e quando você consegue, você celebrou, você falou? Você comemorou? A gente se policia muito na empresa: “Cara, vamos celebrar”. A gente acabou de acabar o ano fiscal: celebramos. Então, eu acho que o legado é esse, pegue o que você tem, o seu interior, o que te motiva, o que te faz viver, né, que é muito importante para você, e como que você constrói isso para sua vida, para o seu dia a dia, seja ali na carreira, seja ele na sua vida pessoal, né, como é que você faz esse link, para você continuar para frente, porque é isso que vai te dá essa alavanca, né?
(02:38:34) P1 - Você gostaria de acrescentar alguma história que eu não tenha te perguntado, contar alguma coisa? Sempre falta…
R - É, isso que eu ia falar, a gente falou bastante, (risos) mas sempre… Ai, eu acho que a gente cobriu tudo mesmo, né, que a gente falou, falou do nascimento… Acho que uma grande realização que foi, foi ser mãe, nossa, é um marco na nossa vida incrível, mas eu acho que tem uma história, assim, que eu lembrei agora, que eu falei muito da auto confiança, né, quando eu falo do esporte, tal… Quando eu estava trabalhando no estágio e fazendo meus projetinhos de promotora, eu tinha um objetivo ali por trás, né, nunca foi tão fácil, meu pai falava: “Putz, não tem dinheiro a rodo". E eu tinha uma realização de fazer uma viagem, que eu sabia como boa sagitariana, aventureira que gosta de viajar, mas era uma viagem com propósito, eu fazia estágio já, na época, e eu precisava juntar meu dinheirinho que meu pai falou “Eu não vou conseguir te ajudar nesse momento". Eu falei: “Tudo bem, eu trabalho, tal". E eu precisava fazer uma viagem para eu aprimorar o meu inglês, que era uma coisa importante, que a gente sabe que é um pré requisito, né, e já era na época, e conhecer outras culturas, né, e eu poder viajar, poder me desafiar, eu tinha vinte, 21 anos, era jovem ainda, eu estava fazendo estágio no Chase, e eu juntei meu dinheirinho e falei com o diretor lá, então eu acho que também a negociação, e não ter medo de pedir, e não ter medo de encarar as coisas, eu acho que é muito importante, eu falei: “Olha, tem uma viagem que eu queria fazer, é isso, eu vou fazer um estudo, depois eu vou ficar dois, três meses viajando nas principais capitais". Mostrei todo o roteiro, falei: “Eu acho que vai ser importante para mim, e eu vou trazer esse legado para cá” E ele falou: “Nossa, que máximo, está apoiado". E eu fui, eu estava fazendo faculdade já, eu sai no início de junho, voltei no final de agosto, fiquei três meses, fiz um mês de inglês ali, meu, era todo dia, laboratório, tal, fui para a Inglaterra, estudei e me enfurnei. Ali acho que foi, meu, onde deu o up do inglês, ajudou bastante. E aí eu fiz as principais capitais da Europa. Cara, trem, mas assim, tudo por conta, planejada, lembra? O esporte me mostrou: planejamento. Então planejei tudo, pegava aqueles trens Eurostar, fiquei em hostel, tudo albergue, tudo planejadinho, o que eu ia fazer, o que eu ia visitar, Lu, eu chegava assim em Roma, imagina vinte anos, eu botava a mão no Coliseu e chorava,e u falava “Meu Deus, eu estou aqui". Cortei meu cabelo bem curtinho para não me dar problema, e meu, mochilão nas costas, aquela mochila de meu, sabe, de turista, né, e era muito engraçado, porque teve um lugar em Florença que o cara virou, um brasileiro, né, eu estava fazendo check-in, deixei a mala ali, e a mala meu, tinha vários cadeados, porque era minha vida durante dois meses aquilo, e aí veio um cara falando para o outro: “Nossa, olha a mala desse cara, o cara é mó noiado, cheio de cadeado, cara, precisa disso?”. E Eu lá no check in, aí daqui a pouco eu venho, pego a mala e vou deixar no meu quarto: “Mano, é uma mina, é uma mina". E eu com muito orgulho falando: “É uma mina, é uma mina". E deixei ele lá, porque na verdade isso, né, tipo, nossa que conquista, que legal, fui meu, para vários, e cada um, meu, dormia em trem, dormir no trem da Itália, dormi assim, minha mochila lá em cima, presa, era, três cadeiras aqui, três cadeiras aqui, cara, nós somos mulheres, no meio de um trem, doido, um trem que era super simples, que eu peguei tipo meia noite, e eu dormia, para a próxima estação, chegava às seis horas da manhã, e aí? Quem estava tomando conta de mim? Eu, meus mestres e Deus, então eu era lá, dormindo e acordada, dormindo e acordada, então foram situações… Por outro lado, peguei um trem, acho que saia da Alemanha para a Suíça, nossa, passagem assim, eu cheguei a chorar, de tão linda a paisagem, sabe aquela paisagem que parece maquete? E aí o cara olhou para mim, era de dois para dormir, ele olhou para mim assim: “Você está sozinha?” Eu falei “Estou". “Faz o seguinte, tranca por dentro, ninguém vai te encher". Mano, meu, ver uma mocinha, com vinte anos, quem é o louco que pode entrar nesse vagão? “Tranca por dentro, ninguém vai te encher". Então, você encontra gente que cuida de você, né, e foi a melhor viagem, porque eu dormi, consegui dormir, e consegui aproveitar a paisagem. Então assim, foi uma experiência de vida que hoje eu falo para os meninos “Se vocês quiserem fazer, eu vou ser a maior promotora disso". Porque eu voltei outra pessoa, eu voltei estudada, conhecimento, foram situações difíceis, de medo, de angústia, de alegria, né, de você falar, não tinha celular na época: “Aí, com quem eu vou falar". Não tinha com quem falar, e foi interessante na Holanda, eu estava lá em Amsterdam, aí eu estava saindo, eram umas seis, sete horas da noite, eu ia jantar em algum lugar, e o cara do Hostel me parou e falou: “Você vai aonde?”. Falei: “Vou dar uma volta". “Não, mas você vai sentido o Red Light District?”, “É”, “Você não quer ir com o Gustavo?”. Eu falei: “What Gustavo?”, “Não, é um Brasileiro que tem aqui também". “Mas por quê?”, “ Seria mais seguro, tal, olha…“. E ele ligou para o Gustavo: “Gustavo, can you came down here?” E o cara desceu e foi comigo, uma graça o menino, e fomos andando no Red Light District, e obviamente passamos por uns perrengues lá de oferecerem droga. Então você fala, tem muita gente legal, né, então você começa a discernir o certo e o errado de uma forma mais concreta, das pessoas que realmente te ajudam, a habilidade de você entender o perigo, né, e meu, você tem que se jogar, tem que se jogar., então eu acho que eu deixo essa última história, eu acho que foi muito legal, foi um legado muito bom, né, juntando a parte do que traz da autoconfiança, de você acreditar, né, esquece julgamentos, vai para frente, porque as pessoas vão julgar, e dane-se, o que importa é o que você acredita, porque está certo, tem que estar certo, se você tem bons valores, se você acredita naquilo, se você tem um bom eixo, cara vai, vai, porque vai da certo.
(02:45:14) P1 - Ale, como foi dividir um pouco da sua história com a gente, relembrar sua trajetória?
R - Foi maravilhoso, gente, eu estou parecendo que estou em uma sessão de amigas, foi muito legal, foi assim, totalmente construtivo. Eu acho que é o momento de você fazer uma reflexão, assim, a gente falou um pouquinho do propósito do museu da pessoa,eu super inspirei, falei: “Nossa, faz muito sentido…” Depois que você vive a experiência, cara faz muito mais sentido, que está aí é a tua vida, e aí eu queria que o que ficar dessa história que eu estou deixando, como eu inspiro muitas pessoa, gostaria muito de deixar uma inspiração, né, que as pessoas vejam, ouçam, falam: “Que legal". Porque tem sintonia, as pessoas linkan com alguma coisa, falam: “Nossa, comigo também passou isso, nossa, que legal, nossa, ela fez isso, também queria fazer". Ou não: “Nossa, isso não é para mim". E tudo bem, e tudo bem, não é para você, e você tem que se entender, é o tal do autoconhecimento, e tudo bem, o importante é você estar feliz da forma como você faz, então para mim, hoje vendo o propósito e concretizando, eu me sinto super feliz, realizada, agradecer a oportunidade mais uma vez, parabenizar pelo trabalho de vocês, que é realmente inspirador.
(02:46:44) P1 - Você começou falando que sua mãe contava que você nasceu com sede de vida, de viver, quem sou eu para falar alguma coisa, mas assim, te ouvindo, sede de viver, e sede de passar pelas dificuldades, né? Dessa adrenalina de se sentir viva.
R - É, é isso mesmo.
(02:47:04) P1 - Faz esporte, que traz essa coisa de se superar, de superação.
R - E vou falar, cansa, mas é muito importante para a evolução espiritual, a gente sabe que a gente está aqui de passagem, e por exemplo, quando a gente se depara com os desafios de um certificado, você fala: “Cara, eu não posso desistir, é isso que eu tenho pela frente, porque eu estou tendo que passar por isso". E aí o autoconhecimento, que agora a gente entra em uma parte de meditação, de mindfulness, que antigamente não era tão relevante para mim, hoje é, e talvez por maturidade, você fala: “Por que que eu estou tendo que passar por isso?”. Porque eu estou tendo que passar, então eu vou enfrentar, ou quando você pega dificuldades de algumas relações “peraí, por que que eu estou tendo que passar por isso?” Ou melhor, tem um guru que eu sigo que chama Sadi guru, que eu gosto muito, ele fala umas frases que às vezes são bacanas, te param para pensar, eu sigo ele, tem até vídeos e tal, e ele fala: “A partir do momento que você se deixa influenciar por reações externas, ou seja, porque você está sentindo ódio, raiva, medo, por uma situação externa? É o momento de você olhar para você". Porque não pode te influenciar, porque a partir do momento que você tem seu autoconhecimento, sua autoconfiança, é você que vai buscar isso, não fatores externos que vão te influenciar, então o momento de querer a disciplina, a auto realização, superação, e uma coisa minha para buscar, sem julgamentos, porque eu preciso passar por isso, sabe quando você sente a missão? E aí quando a gente fala que legado a gente quer deixar, a gente sabe que tem pessoas que estão observando, e que é muito legal, e quando você ouve algumas pessoas falando: “Cara, eu achei muito legal quando você fez aquilo". Eu falei: “Nossa, eu nem imaginei que tinha gente…”. A contribuição que você deixa para algumas pessoas, isso é muito legal, né, então essa é a sede de viver, eu falo, dá medo? Claro, mas cara, eu curto cada segundo, minha mãe fala: “Meu Deus, você tem uma sede de viver desde que você nasceu, que é muito louco". E é, eu curto, eu sempre vejo, e eu ouço feedbacks nesse sentido “A lá vem a Ale, só vê o lado bom". E é gente, eu sou otimista por natureza, cara vai ter um momento que você vai falar: “Preciso parar para pensar". Lógico que tem momentos difíceis e ruins, tal, “mas vamos ver o lado bom”, “puta, você consegue ver lado bom?”. Tem que ter gente, tem que ter, e tem, e tem, lado bom, sabe o copo cheio? Vê o copo vazio, tem o copo cheio, e às vezes você tem que passar por isso, e vamos embora, e vamos embora. E eu acho que é muito isso que eu falo com os meus filhos, e eles enfrentam dessa forma, eu vejo que na minha época não era tanto, e que eles hoje, talvez eles, ou a geração, sejam mais: “Vamos enfrentar, e está tudo bem, vamos para frente". Não ter medo das respostas, né, e enfrentar o que pode vir pela frente seja bom ou seja ruim, porque vai ser importante para aprender.
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