Entrevista de Audriney Silva do Nascimento
Entrevistada por Bruna Oliveira
São Paulo, 12/11/2021
Projeto: Mulheres no Mercado Rodo-Porto- Ferroviário - Rumo Logística
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista n.º: PCSH_HV1082
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Bruna Ghirardello
P/1 – Vamos lá, Audriney. Pra começar, eu gostaria que você começasse dizendo o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R – Meu nome é Audriney Silva do Nascimento. Eu nasci em 13 de dezembro de 1978. E sou nascida no Guarujá.
P/1 – Audriney, qual é o nome dos seus pais?
R – José Rodrigues do Nascimento e Benedita Eliege Silva do Nascimento.
P/1 – E o que eles faziam?
R – Olha, Bruna, o meu pai, aliás, a minha família inteira trabalhou na área portuária. Então, até hoje, a decisão da minha profissão vem daí. O meu pai era operador de guindaste, na época. E a minha mãe era encarregada das Lojas Americanas, ela cuidava de um departamento nas Lojas Americanas.
P/1 – E como você os descreveria?
R – Olha, eu venho de uma família abençoada, de um alicerce forjado nos valores de honestidade, amor, respeito e humildade. Os meus pais são muito trabalhadores, apesar de hoje já estarem aposentados. Mas a leitura que eu faço deles é essa.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho. Eu tenho duas irmãs, que também trabalham na área da logística. Eu sou a do meio. Eu tenho a mais nova, que é a Thais e a mais velha, que é a Viviane.
P/1 – E como é a sua relação com elas?
R – A nossa relação é maravilhosa. A minha família, a gente tem uma união muito bonita, um sentimento ímpar. E a nossa relação é muito boa. A gente vive conversando sobre trabalho, sobre os modais, sobre a logística. Então, assim, além da gente ter esse elo familiar muito bonito, a profissão também nos une. A gente vive trocando ideia sobre isso.
P/1 – E você sabe a história dos seus avós? Você chegou a conhecê-los?
R – Meus...
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Entrevistada por Bruna Oliveira
São Paulo, 12/11/2021
Projeto: Mulheres no Mercado Rodo-Porto- Ferroviário - Rumo Logística
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista n.º: PCSH_HV1082
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Bruna Ghirardello
P/1 – Vamos lá, Audriney. Pra começar, eu gostaria que você começasse dizendo o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R – Meu nome é Audriney Silva do Nascimento. Eu nasci em 13 de dezembro de 1978. E sou nascida no Guarujá.
P/1 – Audriney, qual é o nome dos seus pais?
R – José Rodrigues do Nascimento e Benedita Eliege Silva do Nascimento.
P/1 – E o que eles faziam?
R – Olha, Bruna, o meu pai, aliás, a minha família inteira trabalhou na área portuária. Então, até hoje, a decisão da minha profissão vem daí. O meu pai era operador de guindaste, na época. E a minha mãe era encarregada das Lojas Americanas, ela cuidava de um departamento nas Lojas Americanas.
P/1 – E como você os descreveria?
R – Olha, eu venho de uma família abençoada, de um alicerce forjado nos valores de honestidade, amor, respeito e humildade. Os meus pais são muito trabalhadores, apesar de hoje já estarem aposentados. Mas a leitura que eu faço deles é essa.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho. Eu tenho duas irmãs, que também trabalham na área da logística. Eu sou a do meio. Eu tenho a mais nova, que é a Thais e a mais velha, que é a Viviane.
P/1 – E como é a sua relação com elas?
R – A nossa relação é maravilhosa. A minha família, a gente tem uma união muito bonita, um sentimento ímpar. E a nossa relação é muito boa. A gente vive conversando sobre trabalho, sobre os modais, sobre a logística. Então, assim, além da gente ter esse elo familiar muito bonito, a profissão também nos une. A gente vive trocando ideia sobre isso.
P/1 – E você sabe a história dos seus avós? Você chegou a conhecê-los?
R – Meus avós eu cheguei a conhecer, sim. Tanto por parte de pai, quanto por parte de mãe. Os meus avós, da parte paterna, do meu pai, o meu avô trabalhava no porto também, na operação portuária e a minha avó era dona de casa. E no caso dos meus avós da parte da minha mãe, o meu avô também trabalhava na área portuária e minha avó também era dona de casa.
P/1 – E quando você era pequena, você lembra de histórias que a sua família contava, do porto? Era presente, quando você era pequena, esse tipo de memória?
R – Tenho várias memórias. Principalmente envolvendo a carreira do meu pai, na área portuária. E do meu avô também. Então, assim, é latente, inclusive, esse nosso gosto, hoje - eu falo de mim e das minhas irmãs - pela logística. E eu lembro de várias histórias envolvendo o meu pai, falando sobre a operação do trem, falando sobre a questão do rodoviário, os navios. Então, isso, pra gente, era muito comum, essa troca de ideias durante o almoço. Ou então, reunião de família no domingo, mesmo porque os meus tios também vêm da operação portuária. Então, assim, são muitas histórias enriquecedoras que fazem parte da minha infância e que me despertaram também esse amor que eu tenho hoje pela minha profissão.
P/1 – E tem alguma história que te marcou, que seja mais forte, assim?
R – Olha, pensando no meu pai... o meu pai trabalhava de turno, né? Então, ele trabalhava num regime de 6x2, então muitas vezes, ele estava na madrugada. E quando a gente levantava, era a hora do meu pai chegar. E esse dia, o meu pai não chegou. E a gente ficou preocupada. Naquela época, o mundo não era tão violento como hoje, mas mesmo assim, a operação portuária é norteada por vários imprevistos. A logística te dá um norte de possibilidades e, muitas vezes, o que você projeta para uma hora, acaba passando um pouco mais. E esse dia em específico, depois que o meu pai chegou em casa, graças a Deus, bem, não tinha acontecido nada com relação a acidente, mas a gente teve uma greve gerada na operação portuária que reteve uns trabalhadores dentro do porto. E acabou que isso foi resolvido de uma forma pacífica, mas o que ficou na minha lembrança foi a grande paralisação no Porto de Santos e o que aquela paralisação trouxe. O acúmulo de trabalho que ela trouxe, depois. Então, assim, eu tenho várias histórias falando sobre a área portuária. O meu pai, uma vez, caiu do guindaste, caiu na água. Estava desatracando um navio, o meu pai estava descendo. Ele ia trocar o turno, ele caiu na água. E pra gente, depois, foi assim, um pavor, mas graças a Deus, o meu pai sabia nadar. E foi tudo tranquilo. Mas são muitas histórias, viu, Bruna.
P/1 – E quando você era pequena, ainda nessa época, você lembra de alguma comida, algum cheiro? Tinha? Não sei se é forte isso na sua família, mas se tinha alguma coisa que era forte na sua família, que unia todo mundo? Ou uma data comemorativa que era importante.
R – Olha, eu trabalhei muito na área primária, né? Fazia a logística da entrega da soja, por exemplo, de um ponto a outro. E na safra da soja, no Porto de Santos, é muito comum você sentir o cheiro do produto. Você vê os vagões passando com a mercadoria. Você vê os vagões carregando. Então, esse cheiro me é familiar, sabe? Quando eu sinto aquele cheiro, você já: poxa, a saca está bombando no Porto de Santos e você já sabe que é uma alta produtividade que está acontecendo ali, na área primária. Então, o cheiro da soja. A operação de açúcar, também, me remete a muitas lembranças da área portuária. Então, eu acho que falando em cheiro ‘linkado’ à operação, eu lembro desses dois produtos.
P/1 – E você sabe por que foi escolhido o seu nome Audriney?
R – Olha, segundo a minha mãe, ela se inspirou naquela atriz, Audrey Hepburn. Mas ficou Audriney. Então, eu não entendi muito bem. Mas a inspiração veio daí. (risos)
P/1 – E você sabe a história do seu nascimento?
R – A história do meu nascimento? Não sei. Eu sei que a minha mãe, eu sei que o meu parto foi normal. E foi um parto tranquilo. Uma coisa que chamou a atenção da minha mãe é que eu nasci meia-noite e cinco. Então, ela: “Ai, poxa, vai ser dia dois, no dia do aniversário do fulano”. Não. Foi dia 3. Meia-noite e cinco. Isso eu lembro. (risos)
P/1 – Audriney, e você lembra da casa que você passou a infância, como era?
R – Eu lembro. Eu lembro. Eu morava no BNH, em Vicente de Carvalho, que é um município do Guarujá. E eu lembro com detalhes. A minha infância foi uma infância recheada de muitas alegrias. Era a época que a gente brincava na rua, descalça. Tomava banho de chuva. Brincava de queimada. Chegava da escola, fazia os afazeres... enxugava a louça, varria a casa, cuidava dos afazeres da escola e depois ia brincar. Então, essa liberdade de brincar na rua, de tomar banho de chuva, de jogar queimada, me remete a um conforto muito grande. Eu tive uma infância muito privilegiada, muito boa, uma qualidade de vida muito boa.
P/1 – E como é que era a casa? Como era o bairro lá no Guarujá, que você morava?
R – O bairro era muito perigoso, né? Atrás da minha casa iniciava uma comunidade, que estava se formando. Uma comunidade que hoje é muito famosa no Guarujá. E era um bairro extremamente perigoso, faltavam recursos básicos. Então, assim, não tinha hospital, não tinha padaria próxima. A gente tinha que andar um pouquinho pra chegar até uma padaria, um mercado. A minha casa era uma casa boa, com conforto. Com segurança. O meu pai investiu muito em segurança, justamente por conta do bairro. Mas era um ambiente muito gostoso. A gente viveu ali, quase dezoito anos, nessa casa. Então, me remete memórias muito boas, apesar do entorno.
P/1 – E me conta quais eram as brincadeiras que você gostava naquela época. E com quem você brincava também.
R – Olha, engraçado, né? Hoje eu olho pro mundo e essas brincadeiras, algumas nem existem mais. Mas as brincadeiras que eu gostava mais: queimada, eu era muito boa, eu sempre ficava por último, era difícil me queimar. (risos) Jogo de taco, eu gostava também. Jogo de faca, eu gostava também. E esconde-esconde. Como nós morávamos numa comunidade, então tinham várias quadras de ruas e de casas seguintes. A gente batia ali no poste, né, quem batia o esconde e aí, a gente corria. Então, muitas vezes, eu estava a duas quadras distantes, ou estava escondida num campinho. Tinha um campinho de futebol do lado, então ali era um local super estratégico, porque não tinha muita luz, então à noite, pra achar a gente ali, era bem interessante. Então, essas são as brincadeiras que eu lembro. Uma brincadeira que eu adorava também, inclusive eu fiz depois, foi vôlei de praia. Adorava.
P/1 – Eu ia te perguntar se, naquela época, ainda bem pequena, já tinha algum sentimento, assim, algum sonho de ter alguma profissão no futuro? Ou se isso nem passava pela sua cabeça, ainda? Como é que era?
R – Engraçado que, da minha casa, você conseguia avistar os guindastes. E você conseguia também ouvir o barulho dos navios, a buzina dos navios. Quando os navios estavam encostando, fazendo a manobra, a gente escutava. Então, a área logística sempre norteou a minha vida, porque eu escutava aquilo atrelado à minha família, que todo mundo, sem exceção, trabalhava na logística, na área do porto, com os modais de transporte. Tudo isso contribuiu pra minha paixão, aquela paixão ia crescendo. Uma coisa eu sempre fui e isso também contribuiu para minha profissão, hoje: sempre fui organizada e gostava de me planejar, né? Então, eu chegava, fazia as minhas tarefas, planejava a hora que eu ia brincar, a hora que eu tinha que entrar em casa, a minha mãe dava horário pra gente entrar, voltar pra casa. Então, assim, tudo isso contribuiu pro meu amor ir crescendo pela área da logística.
P/1 – E você lembra a primeira vez que você foi no porto? Como foi esse dia?
R – Primeiro, que eu passava em frente sempre, né? Porque a gente morava próximo. Então, se a gente fosse ao mercado com o papai, fosse na casa de alguém, a gente passava pelo porto. E eu me encantava com o porto aceso na madrugada, aquele negócio que não dormia. O porto não dormia. Toda hora que eu passava lá, a gente via aquela movimentação intensa. Quando era safra, você via aquele aumento de veículos. Mas a primeira vez que eu pisei na área portuária, eu já me senti importante só de colocar o EPI. Foi muito engraçado. Eu falei: “Nossa! Pra entrar aqui tem que colocar esse capacete, tem que colocar essa camisa, com a parte refletiva”. E quando eu entrei, que eu comecei a caminhar por entre aqueles containers, eu olhava aquelas reach stackers imensas carregando, manuseando container, tirando do caminhão, levando pra área primária, eu apaixonei. Eu senti, assim, eu falei: “Nossa, eu quero fazer parte desse negócio. Como que faz pra eu trabalhar aqui? Como que eu faço pra chegar até aqui? Isso aqui não para”. Então, pra mim foi uma emoção muito grande. E aí eu tive a certeza do que eu queria fazer.
P/1 – E quantos anos você tinha?
R – Eu comecei a trabalhar muito jovem. Como eu cresci respirando essa área, só que eu não tinha idade ainda, pra entrar no mercado de trabalho, meu pai chegou e falou assim: “Olha, eu vou tentar um estágio pra você. Você entra em um estágio, porque você é muito nova. Você não pode ser fichada ainda e aí, a gente vai sentindo, se, realmente, é isso o que você quer”. Então, eu comecei a trabalhar com treze anos. Numa empresa, também era um terminal, na área secundária do porto. E a gente fazia exportação para o porto. E foi muito engraçado porque, desde essa época, eu entrei com treze anos e só fui desenvolvendo ali dentro daquela empresa e mudando para outras. Mas foi, realmente, com treze anos que eu ingressei nessa área. Bem jovem. Bem cedo.
P/1 – E, voltando um pouquinho, qual é a sua primeira lembrança da escola, que vem, assim, na sua cabeça?
R – Lembrança da...
P/1 – Da escola.
R – Eu sempre fui uma aluna muito disciplinada. Eu sempre gostei de estudar. Inclusive, eu estudo até hoje. Eu vou pro meu quarto MBA. Eu sempre busquei informação, eu sou viciada em informação. Então, uma lembrança boa de escola foi uma visita na operação portuária, no porto. No porto, em Santos, existia uma empresa que trabalhava na área secundária. Então, na escola, a gente conversava muito sobre cidadania, sobre responsabilidade social. E eu lembro, sim, da escola fazendo esse evento e a gente saindo de lá, muito feliz.
P/1 – E teve algum professor, alguma professora que marcou a sua trajetória na escola? Como é que era?
R – Eu tive uma professora chamada Lilian, que foi uma professora de Português. E ela me marcou bastante, porque ela era muito jovem. E um obstáculo que eu tinha naquela época, para trabalhar na área portuária, era justamente esse bloqueio, porque a área portuária sempre foi, entre aspas, uma área muito ‘masculinizada’. Uma área que era repleta de homens e poucos cargos para mulheres. Fora que eu era muito jovem. Então, quando eu tive o primeiro contato com a professora Lilian e tudo o que eu aprendi com ela, da língua portuguesa, eu falei: “Poxa, ela é tão jovem. Mas olha só, isso não tem nada a ver”. E foi uma professora que me marcou bastante.
P/1 – E como você ia pra escola?
R – Bom, naquela época, nós usávamos uniforme. Então, tinha a camisetinha regata da escola, com o nome da escola, aqui na frente, branca, com as letras em azul. E era saia. Era uma sala no joelho ou uma calça. Se era dia de educação física, era calça. Senão, era saia. E a famosa Conga, que eu tenho certeza que não é do seu tempo, mas é do meu. (risos)
P/1 – Audriney, me conta como que seguiu a sua formação. Depois desses primeiros momentos na escola, como é que foi? Você continuou na mesma escola? Você foi pra outras? Como é que foi se desenrolando, assim, a sua formação?
R – Eu saí dessa escola. Depois, eu fui fazer o técnico em processamento de dados. Eu fiz. Depois eu entrei na faculdade, pra fazer Administração com ênfase em Logística. E daí pra frente eu fui encarando outros desafios, completando as lacunas que me faltavam. Mesmo porque na minha trajetória profissional, eu fui encontrando, eu fui explorando outros campos da logística, outros modais. Então, eu tive contato com marítimo, rodoviário, ferroviário, estruturas de armazenagem diferentes. Então, os meus desafios profissionais foram direcionando para onde, para qual segmento da logística eu ia estudar, ia me capacitar. Então, eu tive uma época também, na minha vida, que eu sentia um pouco falta da parte financeira, então eu foquei também um MBA na parte financeira. E assim eu fui trilhando o meu caminho, a minha trajetória escolar.
P/1 – E quando você era mais nova, assim? Pensando ainda nessa passagem da infância para adolescência, você já trabalhava. Mas como é que era como era o trabalho naquela época? E como você fazia pra se divertir, sendo jovem? Como é que era a sua juventude?
R – A minha juventude, eu deixei só um espacinho pra ela. Porque, nessa época, eu comecei a trabalhar muito jovem e eu morava no Guarujá e estudava em Santos. As melhores faculdades estavam em Santos, naquela época, né? Eu não sei se todos conhecem, mas pra você ir de Guarujá para Santos, você tem que atravessar o mar. Você tem uma balsa, um barco no meio disso aí. Então, assim, a minha vida era extremamente corrida. Eu levantava praticamente na madrugada, ia trabalhar, depois eu pegava um ônibus, pegava uma barca pra ir pra Santos, pra ir pra faculdade. E depois eu fazia o caminhão reverso. Então, assim, quando eu olho pra minha juventude, eu assumi um desafio de encarregada operacional com dezoito anos, muito jovem. Então, assim, eu tinha duas opções. Poxa, eu não consigo... o mundo da logística é um mundo muito dinâmico, é um mundo muito vivo. Digamos que a operação seja extremamente nevrálgica. Então, assim, sobrava pouco tempo pra mim. Eu levantava às cinco horas da manhã, fazia tudo isso e não tinha tempo, né? Eu saía do trabalho, muitas vezes, onze horas da noite, meia-noite. Naquela época, nós não tínhamos a tecnologia que nós temos hoje. Se eu fosse fazer uma analogia entre um terminal hoje e outro naquela época, o nosso controle era totalmente no papel, tudo demorava mais. Então, fazendo uma analogia entre juventude e o trabalho, realmente, por eu ter assumido desafios muito jovem, desafios grandes, jovem, eu tive bem pouco tempo pra minha juventude. Eu saía muito pouco.
P/1 – E como é que foi esse primeiro trabalho que você começou a fazer, com treze anos? Como é que era a sua rotina, na época?
R – Era muito legal, né? Quando a gente é jovem, nada dói, a gente tem fôlego pra tudo. Eu ia trabalhar de bicicleta. Então, hoje eu fico lembrando, eu falo: “Puxa”. Pegava a estrada de bicicleta. Eu ia trabalhar de bicicleta. Levantava bem cedinho, pegava a minha bike e ia pro trabalho. Eu era estagiária, na época. E o estagiário trabalha bastante. Na época, nós tínhamos um armazém, fazia exportação de suco, fazia transporte. Então, eu chegava na empresa, cumpria o meu horário. E era uma jornada mais reduzida, por eu ser estagiária. Mas aí eu pedia pro meu chefe, eu falava assim: “Olha, você deixa eu ficar até mais tarde, para ajudar os meninos?”. Ele: “Não, mas eu não posso deixar, porque você é estagiária. E outra: a gente tem que pagar extraordinário”. Eu falava: “Não. Não. Não. Não precisa me pagar nada. Eu bato o meu ponto. Eu só quero aprender. Eu quero aprender. Tem muita coisa pra eu aprender aqui. E durante o dia eu não consigo, com as minhas tarefas normais. Então, eu quero aprender um pouco mais”. E aí ele me deixava ficar. Então, eu chegava, entrava às oito da manhã e eu ia sair umas oito da noite, dez horas da noite. E, pra mim, aquilo eu fazia com tanto amor, porque eu aprendia de uma forma muito leve. Era muito bom.
P/1 – E me conta o que você fez com o seu primeiro salário. Como você gastou?
P/1 – (risos) Olha, o meu primeiro salário, eu comprei um relógio. Eu sempre gostei de relógio. E, naquela época, o meu pai sempre fomentou para que as filhas soubessem o valor do dinheiro. “Olha quanto custa o dinheiro. Olha o quanto você trabalhou, pra ganhar isso aqui”. Então, eu lembro que, na época, eu dei um pouquinho pra minha família e eu separava o dinheiro da condução pra ir pra escola, pra “facul” e comprei o relógio.
P/1 – E tem alguma história dessa época, desse primeiro estágio que te marcou, que foi importante para, até, estimular, inspirar você para seguir nesse ramo?
R – A resiliência que eu tive em continuar. Porque, mesmo eu sendo muito jovem, tendo muito fôlego e paixão pela área, eu me apaixonei pela logística, ainda era um público muito masculino. Então, muitas tarefas que você se propunha a fazer, eram vistas, assim, com um pouco de preconceito. Ou então, a mulher vista como: “Ah, não vai aguentar” ou “Ah, não é pra ela”. Então, assim, quando eu olho pra minha carreira, hoje, que eu consegui para trás, eu admiro não ter desistido, quando mais jovem. E eu tenho certeza que, desde então, eu tenho a responsabilidade de ser uma agente de mudança, principalmente no mercado feminino. Em mostrar para as outras mulheres que lugar da mulher é onde ela quiser. Então, quando eu olho pro passado, eu vejo que a minha resiliência em continuar, apesar dos desafios, prevaleceu como protagonismo na minha carreira.
P/1 – E como era essa época da faculdade? Você trabalhava, né? Você sempre continuou trabalhando. E você ainda fazia Administração. Como você conciliava isso? E o que marcou pra você, da faculdade? Como é que você escolheu o curso? Como foi?
R – Difícil. Apesar da gente, enquanto jovem, ter uma energia abundante, o trabalho também acaba exigindo que você se dedique mais. Então, eu olhava assim e falava: “Poxa, eu vou desistir da faculdade. Eu vou focar mais no trabalho”. Mas, ao mesmo tempo, eu pensava: “Não, eu preciso estudar. Eu preciso galgar novos desafios lá na frente e essa questão da escola vai me fazer falta”. E eu tive que encaixar também, no meio disso tudo aí, aos sábados, o inglês. Que também, naquela época, era algo, assim, imprescindível pra você trabalhar no comércio exterior. Então, assim, eu acho que resiliente é a palavra. E propósito. Quando você une o que você gosta, o que faz teu coração bater mais forte, com o teu propósito, a resiliência alicerçando ali os teus passos e te motivando quando você quer seguir, eu acho que não tem como não dar certo. Então, assim, pensando lá atrás, fazendo uma retrospectiva agora, do meu passado, eu lembro que teve um domingo que eu me perdi, eu não sabia se era sábado ou domingo, mas eu estava em casa descansando e eu falei assim: “Poxa vida, eu estou cansada”. E aí, ao mesmo tempo que entrava essa vibe negativa do: “Ai, poxa, estou cansada”, meu outro já me norteava, tipo: “Poxa, você está onde você gosta. Você faz o que você gosta. Você é uma agente de mudança. Você é uma mulher trabalhando na logística”. E aí eu já me equilibrava e seguia adiante.
P/1 – E como era a sua família em relação a você trabalhar no porto? O que eles achavam? Eles te apoiavam?
R – O meu pai tem orgulho até hoje. Isso até me emociona. Porque ele olha pra mim... e eu vivo mandando vídeos do terminal, da operação ferroviária, de container. E ele fica, olha aquele vídeo, volta. Ele morre de orgulho. Ele olha e fala assim: “Está vendo?” Muitos criticaram os meus pais na época, da gente entrar muito jovem no mercado de trabalho. Mas o meu pai olha hoje, ele fala assim: “Eu não me arrependo, porque todas as três filhas que eu tenho, hoje têm uma carreira brilhante. São agentes de mudança, porque trabalham em áreas operacionais. E eu tenho muito orgulho”. O meu pai tem muito orgulho da gente. Isso é muito legal.
P/1 – E me conta como foi esse desenrolar da sua trajetória profissional, desde lá do primeiro estágio. Com quantos anos você saiu? Saiu, não, você foi efetivada. Como é que foi esse desenrolar mesmo, pra eu ir entendendo, assim.
R – Eu comecei a trabalhar muito jovem, como estágio, então eu não podia ser efetivada naquela época. E com quase dezessete anos eu fiquei nessa empresa, trabalhando nessa empresa e aí eu fui efetivada. E aí, desde então, nessa nossa área, na logística, você acaba fazendo um network muito positivo e aí as pessoas começam te olhar: “Poxa, vem trabalhar comigo. Vem pra cá”. E aí eu fui, saí dessa empresa, que eu comecei quando muito jovem. Eu fui trabalhar num outro terminal. Praticamente na empresa da frente, no terminal da frente. As distâncias eram muito próximas. E aí, dali, eu fui aprendendo outras coisas, fui aprendendo a trabalhar com modal rodoviário. O core business dessa empresa era o rodoviário. E aí o meu leque de responsabilidades começou a aumentar. Foi aí que eu assumi o meu primeiro cargo de liderança, com dezoito anos. E foi nessa época que eu também tinha que dividir o inglês e faculdade com o trabalho. Então, assim, pra mim foi uma loucura, mas a minha ascensão profissional foi marcada por segmentos diferentes da logística, né? Cada vez eu fui aprendendo uma coisinha, um modal diferente, uma estratégia para manuseio de uma carga, diferente. Então, foi muito bacana. E daí eu fui pra outra empresa, depois, também. Você quer que eu detalhe? Fale de ano, de tudo? Ou não?
P/1 – Se você quiser. Assim, é a sua história. Então, fica à vontade pra contar da forma que você quiser. Eu não me importo. Eu acho bem legal. (risos) Se você quiser contar por quais empresas você passou, pode falar o nome, sem problema, falar as datas, assim. O que você se sentir à vontade.
R – Então tá bom. Então, saindo dessa minha primeira experiência, na Murchison. Era um terminal que tinha no Guarujá, uma multinacional argentina. Então, ali, eu aprendi muita coisa. Muito jovem, praticamente sem experiência. Então, ali, realmente, foi o início da minha carreira. Ali a gente lidava com transporte e armazenagem. E logo, saindo dali, não podia ser fichada, assim que eu fui fichada já fui pra outra empresa, pra empresa vizinha, pra Fassina. E a Fassina é uma empresa familiar. Inclusive, a Fassina opera, até hoje, no Porto de Santos. E era uma empresa que tinha uma frota rodoviária gigante. A gente fazia uma logística de cheios e vazios entre o porto, margem direita, esquerda. Fazia gestão, também, dos containers dos armadores, naquela época, tanto cheio, quanto vazio. E também, ali, foi o meu primeiro contato com a área comercial. Eu comecei a fazer prospecção de novos clientes, né? Então, eu também era um pouco comercial, na época. E fora a liderança que eu assumi bem cedo, com dezoito anos. Então, foi a primeira empresa que eu tive um cargo de liderança e que eu aprendi o peso da responsabilidade e o quanto a logística te desafiava diariamente. Porque todos os dias era uma situação diferente, que você tinha que pensar numa estratégia, numa saída, para que você conseguisse resolver o problema que estava na sua frente. Então, a minha paixão foi aumentando, já virou amor. Aí, eu saindo dessa empresa, eu fui trabalhar na Hamburg Süd, que é um armador alemão. Fui convidada para trabalhar lá. E aí, meus leques foram aumentando, porque eu deixei o modal de transporte rodoviário, deixei a parte do terminal pra trás e entrei no armador, que é uma operação totalmente diferente do que eu já tinha. Eu fui agregando conhecimento à minha trajetória profissional. E eu comecei a trabalhar em Santos, lá em meados de 2001. Fazia o controle da frota do armador, cuidava também da manutenção dos equipamentos, desenvolvimento de novos parceiros. Então, assim, a logística te dá uma amplitude de áreas. E ali eu consegui olhar o Brasil como um todo, foi quando eu comecei a viajar, também. Essa empresa proporcionou que eu conhecesse a logística de outros portos, conhecesse a cultura das pessoas, como era o modus operandi de uma operação logística na Bahia, como era em Fortaleza. Então, isso, pra mim, foi enriquecedor. Foi ali que eu fui criando musculatura pra partir pra outro desafio. Saindo dali, eu recebi um convite pra entrar numa empresa chamada Maestra, que era outro armador também, porém na parte de cabotagem. Era um armador que estava explorando a área de cabotagem no Brasil. E pra mim também foi um grande desafio, o meu nível de responsabilidade aumentou. Eu entrei como supervisora e na sequência eu já fui promovida como gerente nacional da operação. E aí, aquela loucura, né? Você, quando olha uma operação a nível nacional, você tem uma operação acontecendo em vários portos brasileiros. E aí você tem que ser mais resiliente ainda e ter uma escuta ativa muito apurada, porque tudo está acontecendo, né? Foi uma experiência muito bacana. Eu ficava viajando entre os portos, então, acompanhando a operação, desenvolvendo novos fornecedores e parceiros. E tinha uma liderança também abrangente nesses portos. Então, foi um desafio muito bom. Trabalhava com parceria comercial, atendia clientes. A gente desenvolvia novos mercados. Naquela época, a cabotagem estava tomando musculatura no Brasil. E eu tenho muito orgulho de fazer parte disso tudo. E, nessa época, foi quando eu fui morar em São Paulo. Eu morava no Guarujá e eu tinha que fazer um transfer pra São Paulo, todos os dias. Então, eu acordava quatro horas da manhã, pegava o fretado às cinco e vinte da manhã, então pegava trânsito. Era muito cansativo. Eu ficava muito tempo fazendo esse transfer, até chegar ao trabalho. E aí foi quando eu saí de casa. Eu fui morar em São Paulo. E, morando em São Paulo, eu realmente consegui ter liberdade para mergulhar no meu trabalho. Então, eu vivia o tempo inteiro no trabalho. E aí, depois disso, eu saí dessa empresa e assumi uma operação no interior de São Paulo, em outra empresa. E eu cuidei também dessa operação, no interior e cuidei da área portuária. Então, eu cuidava de duas filiais, uma era Redex e a outra era um CD no interior de São Paulo. E aí a gente fazia a gestão do centro de distribuição. Isso envolvia armazenagem da parte de forma vertical. A gente tinha uma liderança muito composta, um time de quase trezentos e vinte colaboradores. Então, era uma operação muito nervosa, uma operação que acontecia vinte quatro horas ao dia. E foi muito bacana, porque também na parte do Redex foi onde eu mergulhei e foi muito abrangente o conhecimento na área de importação e exportação. Então, ali, em Santos, nesse Redex, a gente fazia essa importação e exportação de vários produtos. E eu ficava nessa ponte aí de ir pro interior e voltar pra Santos. Saindo dessa empresa, eu entrei na Brado, né? Foi uma opção minha entrar na Brado. Olhando para trás, na minha trajetória profissional, a ferrovia sempre me apaixonou. E a Brado é uma empresa de solução logística. E ela envolve ferrovia, ela tem ferrovia. Então, eu olhava, assim, eu não conhecia a empresa, direito. Eu falava: “Poxa, eu quero entrar nessa empresa. Poxa, a Brado, do grupo Rumo, caramba, que sonho entrar lá”. E graças a Deus eu consegui, né? Hoje eu sou a gerente de operações logísticas do Terminal de Rondonópolis, aqui no Mato Grosso. Então, assim, é uma empresa que conecta regiões produtoras de diversas mercadorias. Então, assim, aos portos da nossa região. A gente faz essa conexão de exportação até esses portos. A nossa logística envolve muitos modais. Então, eu sou apaixonada pelo que eu faço. A ferrovia, o rodoviário, a logística brasileira como um todo, me emociona. Porque nós somos o movimento. Eu sou um exemplo, nessa cadeia logística, de que a mulher está onde ela quiser, né? Quando você olha: “Poxa, mas a ferrovia, um mercado extremamente masculino”. Não. Não é. Mudou, né? As coisas, hoje, a mulher, hoje... eu sou um exemplo dessa mudança na sociedade. Então, isso me deixa muito feliz.
P/1 – Audriney, no comecinho você estava falando que trabalhar com logística envolve imprevisibilidade, por conta de imprevistos que acontecem. E como que foi, assim, durante a trajetória profissional, lidar com o desconhecido, com o imprevisível? E como você arranjou soluções, a partir disso?
R – A operação logística te desafia, todos os dias. E algo que eu desenvolvi e aprendi: um profissional de logística tem que ter aquela flexibilidade cognitiva. São vários problemas, vários imprevistos, várias coisas acontecendo ao mesmo tempo. E você tem que olhar para aquilo e achar uma solução. E é isso que a Brado faz hoje. A nossa operação é uma operação muito nevrálgica. Então, esse quebra-cabeça de você levar a carga, da origem, até o destino, te desafia muito. Porque você tem que ter um preparo técnico e emocional, até pra lidar com o dia a dia, com tudo aquilo que você planejou e o que saiu fora do script. Então, isso é extremamente importante. O profissional de logística, hoje, tem que ter flexibilidade cognitiva. Você tem que ser rápido nas decisões, você tem que olhar e já traçar um plano estratégico, para que você consiga fazer com que a operação não pare.
(44:37) P/1 – E quando você foi passando de uma empresa pra outra, assim, principalmente quando você estava mais em Santos, como era a presença feminina, além de você, lá? Tinha outras mulheres? Você via essas outras mulheres trabalhando? Ou era uma coisa, assim, distante? Em que momento, também, tiveram mais mulheres trabalhando com você? Como que foi?
R – A presença da mulher em áreas operacionais é um pouco assustadora. Naquela época era assustadora, porque não tinham muitas mulheres, né? As mulheres, inclusive, eu acho, pensando assim, olhando, fazendo uma retrospectiva, as mulheres foram se desafiando e falando: “Não, cara. Esse mercado também pode ser meu. Eu gosto, né? Por que não?” Então, assim, não tinham muitas mulheres, muitas colaboradoras, na época, que eu pudesse me espelhar. Mas a partir do momento que eu também fui me desenvolvendo e o mercado foi se abrindo, eu fui encontrando mulheres que me trouxeram muita ajuda, sabe? Aquela questão do: “Olha, o que você está passando agora, eu já passei. Então, assim, tranquilo, a direção é essa. Seja forte”. Não tem nada que a gente não consiga aprender. Desde que você esteja aberta pra isso. E esteja preparada. Então, eu encontrei mulheres também, apesar de serem poucas, de fibra, mulheres que tinham também um propósito, eram apaixonadas pela área e foram exemplo pra mim. Apesar de serem poucas, eu olhava e falava: “Por que não?”
P/1 – Audriney, eu fiquei curiosa quando você falou que trabalhou em diversos modais, né? Eu queria, pra uma pessoa de fora, assim, da logística, né, quais são as diferenças entre os modais, assim? Lógico que, obviamente, eles são diferentes. Mas quais, assim: o que muda na logística de cada modal? Quais são as preocupações, as especificidades de cada modal? E como é trabalhar em cada um deles? Quais são os desafios?
R – Bom, quando a gente fala em modais de transporte, eu trabalhei muito com o transporte rodoviário. Os que marcaram a minha carreira foram o rodoviário, o ferroviário e o marítimo. Então, de acordo com a carga que você tem, ou de acordo com o percurso que você tem que fazer pra levar essa carga, de um ponto A para um ponto B, você estuda qual é a melhor forma e qual é o melhor modal que eu vou utilizar pra levar aquela carga de um ponto para outro. Então, na minha trajetória profissional, os modais que nortearam a experiência que eu tenho hoje, foram o rodoviário, o ferroviário e o marítimo.
P/1 – E quais eram os principais desafios de cada um? Como é que era cada um, assim?
R – Bom, todos eles têm uma operação nervosa. Mesmo porque você tem prazo, você tem toda uma documentação, toda uma logística na retaguarda do processo, que precisa estar alinhada, para que esses modais entrem, realmente, em ação. Se eu for fazer uma analogia entre os três, todos os três têm essa particularidade, são modais desafiadores. Hoje, no Brasil, a gente tem o rodoviário como um protagonista importante, mas o rodoviário é como se fosse o elo da nossa cadeia. A gente sempre fala que não existe o marítimo sem o rodoviário e muitas vezes, até, um ferroviário sem o rodoviário. Mas, de todos eles, com relação ao modus operandi, eu vejo que tudo depende do perfil da carga, né e de onde eu estou tirando essa carga. Por exemplo: hoje eu tenho uma operação aqui em Mato Grosso, em que eu tiro e trago carga pra cá. Então, eu faço as duas movimentações. E muitas vezes, por exemplo, numa operação de exportação, eu chego a utilizar os três modais, eu faço uma operação multimodal. Então, hoje, por exemplo, eu faço escoamento da safra da pluma do Mato Grosso. Então, eu recebo essa pluma via modal rodoviário, no meu terminal. Eu faço uma operação de estufagem dela, do caminhão para o container. Eu embarco esse container num modal ferroviário. Então, esse container ferroviário sai do Mato Grosso e vai pra Santos. Chegando em Santos, eu faço mais uma conta rodoviária do trem para o operador portuário. E, pra finalizar esse ciclo, eu embarco esse container no modal marítimo, para o destino. Então, assim, se a gente for olhar, a gente tem um país de dimensões propícias, inclusive, pra cabotagem, pro marítimo, pro rodoviário e pro ferroviário. E a gente consegue, numa operação só, utilizar esses três modais.
P/1 – Uau! Fiquei até arrepiada. (risos) Muito legal. E me conta como foi o seu primeiro dia na Brado. Como que foi, assim? O que você pensou? O que você sentiu? Por que você escolheu a Brado? Como foi?
R – Olha, falar da Brado, pra mim, me deixa até emocionada. Eu uso essa camisa com muito orgulho, sabe? O meu primeiro dia de Brado... primeiro que a minha entrevista foi muito curiosa. Porque o meu chefe, na hora da entrevista, falou que a Brado era uma empresa muito dinâmica e flexível e se eu tinha disponibilidade de viagem. E no dia que eu fiz a entrevista na Brado, eu ainda estava trabalhando. E eu uso uma malinha de viagem. E quando ele falou isso, eu virei pra ele e apontei pra mala. Aí eu falei assim: “Ó, eu estou disponível a hora que você precisar. Eu vou pra qualquer lugar”. E a gente faz essa brincadeira até hoje. Porque eu vou, realmente, pra qualquer lugar que a Brado me mandar. Eu sou uma profissional com disponibilidade total para mudança. E o meu primeiro dia na Brado, a minha emoção foi muito grande. Eu estava muito feliz. Desde que eu entrei na Brado, eu tenho um amor... eu já tinha um amor antes de eu entrar. Só por ler, só por entender que era uma empresa que unia aqueles modais. Eu falava assim: “Gente, não tem limite pra nossa criatividade. A gente vai receber do cliente uma proposta para uma solução logística e a gente vai pensar, a gente vai fazer. A gente vai olhar pro Brasil, vai olhar pros modais, vai olhar pra estrutura que a gente tem hoje e a gente vai propor uma solução para esse cliente. Então, assim, eu cheguei com uma expectativa altíssima na Brado. E eu vou te falar que até hoje esse meu coração pulsa por essa empresa. Porque tudo isso que eu estou te falando, a gente pratica no dia-a-dia. Você chega com um problema ou almejando uma solução logística para sua carga, a gente une todos esses modais e a gente traz uma solução. E, assim, é uma solução pensando em tudo: pensando no meio ambiente, pensando no custo, pensando na produtividade, pensando na segurança dos nossos colaboradores. Então, o meu primeiro dia na Brado, a emoção que eu senti, é viva até hoje. (risos)
P/1 – E essas viagens que você fez? Você contou que você viajou, acho que pelo Brasil inteiro, né? Assim, conhecendo. Qual foi a mais marcante pra você? E como que foi?
R – Esse desafio, que eu viajava bastante, eu tinha equipes. Eu liderava equipes no Brasil todo. Eu acredito que a parte, assim, que me deixou, que eu criei musculatura para entender de pessoas, foi com esse desafio. Porque, na minha cabeça, a equipe que eu tinha em Santos, o volume de cargas e as pessoas, a velocidade que eu tinha, do time em Santos, era a mesma que eu tinha em outra região, de outro país. A forma com que a documentação era realizada, o modus operandi de um porto era igual ao outro? Não era, era tudo diferente, né? Então, assim, eu faço uma leitura dessa minha passagem nessa empresa, de uma forma, assim, muito enriquecedora para gestão de pessoas que eu tenho hoje. As pessoas não são iguais. As regiões te provocam isso, como gestora. Você não pode fazer uma análise, por exemplo, de produtividade entre a região A e B. Você não pode achar que a operação que você faz num porto, que tem a documentação XY, é a mesma que você faz no outro. Então, fazendo uma leitura dessa experiência que eu tive, em que eu passava, em que eu viajava a maior parte dos portos do Brasil, me trouxe isso: em que as regiões têm perfis de pessoas diferentes, a cultura é diferente. E você aprender essa cultura, nessas regiões, te forma um gestor completo, a nível de gestão de pessoas. Você olha, você entende as limitações do lugar. Você entende as particularidades, até ligadas à região, também. “Poxa, isso aqui, nessa região, o pessoal não tem feriado, não tem a parada da operação. “Poxa, nessa região tem. Nessa região, as pessoas se preservam nessa data, por isso”. A produtividade de uma região é diferente da outra. Então, assim, essa passagem que eu tinha pelas regiões brasileiras, me tornaram uma gestora melhor na gestão de pessoas.
P/1 – E como foi, pra você, chegar a esses cargos de liderança? Principalmente numa área tão masculina, né? Assim, que antes era vista como “tão masculina”. Como é que foi se afirmar enquanto uma profissional, enquanto mulher, nesses espaços, construir essa liderança?
R – Não foi fácil, né? Aliás, eu digo pra você que até hoje não é fácil. Quando a gente olha pro mercado brasileiro, quando a gente olha as estatísticas e faz uma analogia com outros países, a gente vê que, principalmente no Brasil, a mulher ainda sofre com a entrada e com a aceitação no mercado de trabalho. A gente ainda não tem um protagonismo em determinadas áreas. E não por falta de empenho ou estudo e sim por oportunidades. A gente ainda tem um machismo velado, sim, que faz com que muitas vezes a mulher seja diminuída. Da minha parte, todos os desafios em que eu briguei, as posições que eu passei na minha vida profissional, foram muito desafiadoras. Então, assim, eu tive que me preparar mais do que eu deveria, mais do que o necessário. Porque, de final, quando a gente olha pro mercado e quando você olha as estatísticas, você já dá um passo pra trás, você meio que desanima. Você fala: “Poxa, quando eu vou conseguir estar nesse local? Deixa eu dar uma olhada. Deixa eu dar uma olhada no histórico, deixa eu ver as estatísticas. Puxa, quase não tem”, né? Mas isso fez com que eu me tornasse muito forte. Eu me preparei muito a nível de estudo. E uma coisa que eu faço e vem muito, também, da minha origem familiar, é que toda a minha entrega, todo o meu trabalho, eu trabalho pra Deus. Tudo o que eu faço, eu faço de melhor, eu faço sempre pensando no melhor. Independente do que eu faço e em que empresa que eu esteja, em que momento de carreira eu esteja, eu sempre penso nisso. Porque, quando a gente trabalha com muito amor e pensando no propósito do bem-estar... porque a gente, como gestor, tem um papel, principalmente voltado para sociedade, muito importante. A gente mexe com vidas, a gente mexe com pessoas. Se eu olhar a minha operação hoje, eu vou te falar que o maior tesouro, a coisa mais importante da minha operação são as pessoas. Sem as pessoas, a gente não consegue atingir o nosso objetivo final. Então, assim, quando eu olho pro meu desafio enquanto mulher, num cargo de liderança e quando eu olho a entrega que eu faço e a responsabilidade que eu tenho, isso fica muito leve, porque o meu propósito é um só. Então, eu sempre me preparo bastante, procuro entregar o meu máximo, porque o meu chefe está lá em cima. E eu penso na minha responsabilidade com as pessoas. Então, a minha entrega, a minha exigência comigo sempre vai ser muito alta. Então, quando eu olho os cargos que disputei, hoje, com pessoas inclusive do sexo masculino e que eu admiro muito, pessoas, assim excelentes também, eu vejo que a nossa luta é com equidade. Então, se eu cheguei lá, não foi ou porque eu era mulher, ou porque... não. Foi realmente por meritocracia. Porque a minha entrega não tem gênero, não tem cor, não tem raça.. Ela teve, sim, um grande preparo na retaguarda e uma grande vontade de fazer o melhor.
P/1 – Audriney, eu queria saber, pra você, qual você acha que é a importância de trabalhar com logística, com transporte, assim, em relação ao país? Qual a importância dessa área pro país, pro desenvolvimento do Brasil? E o que você sente em relação a isso, né? Qual a importância, pra você, de trabalhar nessas áreas?
R – Olha, nossos trilhos são a melhor distância entre gente que consome e gente que produz. Quando eu olho no propósito que a logística tem no país, por exemplo: na pandemia, enquanto muitas áreas de negócio pararam, a Brado continuou. A gente continuou abastecendo a economia local, com álcool, com insumos. Ou seja, a gente não parou. Então, a gente tem um papel muito importante pro Brasil, porque nós movimentamos a logística brasileira. Então, isso, pra mim, é singular. É extremamente importante.
P/1 – Tem alguma história marcante, de alguma entrega, de algum momento da sua trajetória profissional? Ou algum sufoco, uma história engraçada. O que você achar, assim, que marcou você, mesmo.
R – Uma história triste ou engraçada?
P/1 – Pode ser as duas, se tiver.
R – Pode ser as duas? Bom, eu tenho uma história que eu lembro, assim, com muito... eu acho que o sentimento que me traz é de conforto porque, naquele momento, a gente conseguiu resolver um problema e ajudar uma comunidade. Na época da pandemia, algumas localidades não tinham mais lugar pra colocar corpos, né? Não tinha mais onde colocar. E a questão de você providenciar o enterro desses corpos, a logística, como o número de mortos era muito alto, a gente tinha um delay e tinha um problema de onde colocar esses corpos. E eu participei desse projeto. E a gente forneceu containers refrigerados, pra ajudar essa logística, na época e fazer com que a gente não tivesse um problema mais grave, no final. Então, a gente estruturou, pra que conseguisse acomodar essas pessoas. Então, assim, essa é uma lembrança não alegre, mas que, de final, trouxe ajuda pra comunidade. E uma lembrança alegre da logística, é que a Brado, na época da pandemia, em uma das empresas do grupo, nós fornecemos máscara e álcool para os motoristas. Você veja: aqui no meu terminal, nós recebemos motoristas que fazem uma viagem cansativa, distante, né? E não pararam também, na pandemia, também foram protagonistas desse abastecimento, da logística local. E nós trouxemos, através dos nossos trens, o álcool. Fizemos os kits e entregamos para cada motorista. Ou seja, nós cuidamos dessas pessoas. Assim que o motorista chegava no nosso terminal, a gente media a temperatura, borrifava álcool na mãozinha dele, dava um kit, com uma máscara e com um ‘alquinho’ em gel. Então, assim, protegendo, cuidando das nossas pessoas. Então, fazendo uma analogia entre a logística e, assim, uma situação, assim, muito importante pro nosso país, foi essa: a gente cuidou das pessoas, na pandemia. E não paramos.
P/1 – Me conta assim, pra você, pessoalmente, como é que foi essa mudança para Rondonópolis? Assumir essa posição no terminal? E como é o seu trabalho, hoje, como gerente?
R – Bom, a minha mudança para Rondonópolis foi, assim, extremamente desafiadora, no sentido do clima. Aqui é bem quente. Eu venho de um clima bem ameno, bem mais tranquilo. Então, foi uma mudança repentina, né? Assim que a empresa precisou, eu já estava de malas prontas. Eu já vim pra cá e comecei já a ver o lugar aonde eu ia me acomodar. Mas eu vou te falar que as pessoas são maravilhosas, me abraçaram na minha chegada, sabe? Eu fui muito bem recebida. O clima, pra mim, no início, foi um desafio. E hoje eu estranho quando eu vou em São Paulo, eu sinto frio. (risos) E, como toda mudança, gera uma expectativa e um pouco de medo, né? A gente olha e fala: “Caramba, essa aqui é a minha nova cidade, esse é o meu novo trabalho. Como serão os desafios diários? Como serão as pessoas?” Mas, graças a Deus, foi tudo muito positivo, porque eu vou te falar, Bruna, quando a gente trabalha com amor no propósito, quando você ama o que você faz, você pode encarar qualquer problema. Mas no final do dia, você vai embora com a consciência tranquila. Você dá significado pra tua vida. Você vai com aquele sentimento de: “Poxa, trabalho realizado”, né? E aí você se renova e no outro dia você recarrega as suas baterias. E você está... sabe, eu sou uma pessoa que trabalho... eu me automotivo. Eu tenho uma energia positiva. Eu acredito muito nas pessoas, né? Quando você lidera uma equipe, uma equipe vasta, você pega ali diferentes perfis de pessoas, então, você precisa gostar de gente, senão o negócio não sai, né? E eu tenho isso. A minha gestão é uma gestão compartilhada, eu conto muito com a ideia do time, a gente conversa bastante, né? Então, a minha mudança para Rondonópolis, apesar de você ter aquele time de adequação na cidade, o meu foi muito rápido. Depois de um mês, dois meses, parecia que eu estava em casa. Então, assim, a nossa mente é o nosso lar, né? E eu me sinto muito bem, aqui. E se eu tiver que ir pra outro lugar, também, como eu tenho esse espírito muito desbravador e essa adaptabilidade muito apurada, eu também vou me sentir bem em outro lugar, também. Se a Brado demandar, eu estou indo também. (risos)
P/1 – Audriney, e que mudanças, desde o começo da sua carreira profissional, quais são as principais mudanças que você percebe, assim, no setor da logística? O que tem de diferente da época que você tinha treze anos? O que mudou? O que se modernizou? Como que é? O que você observa, na sua percepção?
R – Olhando, fazendo uma analogia de treze anos pra cá, na mesma área, trabalhando com diversos modais, os grandes impactos que eu sinto, hoje, com certeza é a expansão da nossa infraestrutura. Então, assim, de lá pra cá, nós tivemos grandes empresas, grandes capitais privados, que investiram no nosso negócio. E fizeram com que, hoje, a logística ficasse mais fácil, crescesse. Hoje a gente tem um Brasil diferente do início da minha carreira. Hoje a gente tem grandes investimentos, governos que olharam pra nossa infraestrutura e dedicaram grandes investimentos. Se a gente fizer uma analogia, hoje, da malha rodoviária, poxa vida, como crescemos. Como a Rumo colocou trilhos onde não tinha, né? E isso facilitou o quê? A nossa logística. Olha eu aqui em Rondonópolis, mandando carga pro Porto de Santos, via nossos trilhos. Então, eu vejo, assim, um avanço na nossa infraestrutura, voltada para os modais. Eu vejo uma automação gigantesca nos nossos processos. Eu olho lá atrás, muitos processos que eu perdia uma hora, uma hora e meia fazendo controles em planilhas, anotações manuais, hoje a gente tem isso automatizado. Eu trabalho num terminal, hoje, em que o nosso propósito é inovação. Então, a gente tem áreas totalmente automatizadas. Então, eu vejo que a gente está no caminho certo e que crescemos muito. Isso é muito bom. Porque, se você dá condições pro cliente levar a carga dele do ponto A a B, melhores, poxa, ele escolhe, hoje: “Poxa, eu posso levar essa mercadoria, eu posso levar como? Eu posso levar no ferroviário. Posso levar no rodoviário. Poxa, como eu faço? Poxa, tem essa solução logística”. Então, assim, eu vejo que crescemos muito. E eu fico muito feliz com isso. Porque eu tenho certeza que é um gráfico ascendente, vamos crescer mais ainda.
(01:12:04) P/1 – Audriney, eu queria saber como você lida, assim: o seu trabalho, a gente consegue ver pela paixão que você fala, que é uma coisa, assim, muito importante na sua vida e eu queria entender como você concilia o seu trabalho com a sua vida pessoal, como é pra você fazer essa dupla jornada, né? Principalmente, sendo mulher. E também saber se tem, como você enxerga, assim, outras mulheres na empresa.
R – Bom, a mulher tem uma dupla jornada. E, às vezes, até uma tripla, dependendo do quanto a gente coloca no nosso guarda-chuva, né? E é bem desafiador porque, como a logística é muito dinâmica, você precisa conciliar a sua agenda, fazer ali um gerenciamento da rotina, para que haja um equilíbrio. Não dá pra você só trabalhar. Não dá pra você trazer esse desequilíbrio pra tua vida pessoal, senão você se sente como mulher, como saúde, a gente precisa ter esse equilíbrio. Hoje, a minha jornada, eu levanto muito cedo. Eu tenho o costume: quatro horas da manhã, eu já estou de pé. Então eu chego no terminal muito cedo. Eu já planejo o meu dia. Quando a minha equipe chega, a gente senta, fala sobre o “D menos um”, sobre o dia anterior e o que a gente vai fazer, quais são os nossos desafios pra aquele dia D e pro D mais um, né? E depois cada um vai em busca do seu desafio, né? Eu costumo chegar bem cedo aqui, não tenho horário pra ir embora. Mas eu consigo, sim, dividir e manter a minha vida pessoal, eu consigo estudar. Que nem eu falei no início: eu sou viciada em informação, então até hoje eu estudo. Então, eu consigo conciliar. E, assim, a dica que eu dou pras outras mulheres é que a gente consegue fazer isso, sim. É uma jornada que exige mais da tua gestão da rotina? Sim. Exige, sim, um planejamento, um saber dizer não, ser um termostato no dia. Nem tanto aqui, nem ali. Ser o equilíbrio. A gente consegue, sim.
P/1 – Audriney, eu ia perguntar o que você gosta de fazer nas suas horas de lazer.
R – (risos) Olha, você não vai acreditar. Mas eu, nas minhas horas de lazer, eu adoro jogar videogame. Adoro jogar videogame. Adoro leitura. Sou viciada em tecnologia. Então, assim, esses são os três responsáveis por roubarem a minha atenção no final de semana. (risos)
P/1 – E me conta, assim, como a pandemia marcou a sua vida pessoal? Como é que foi? Você começou a trabalhar no terminal, aí já era a pandemia, né? Como é que foi essa mudança?
R – A pandemia, pra mim, foi um desafio, sabe? Eu recebi a proposta para vir pra Rondonópolis em 2020. Então, na primeira semana de janeiro, eu já estava aqui, no dia oito. E foi justamente nessa época, o ano passado, em que a pandemia começou a ganhar corpo. E quando eu vim para Rondonópolis, eu vim sozinha. Então, assim, eu estava chegando numa filial nova, né? Uma filial que tem uma grande operação, uma grandiosa operação e que não parou. E eu estava chegando numa cidade em que eu não conhecia. Então, eu praticamente estava sem ninguém, não tinha família aqui, não tinha nada, né? Então, qual era o meu propósito frente à pandemia, pra tocar o negócio? Eu precisava cuidar das pessoas. Eu precisava cuidar do negócio. Eu precisava cuidar dos clientes. E eu precisava cuidar da minha saúde mental. Porque, pra mim, eu nunca passei por uma pandemia, pra mim era muito novo. E era algo que me assustava, porque eu estava distante da minha família. Eu não sabia se eu ia pegar e como o meu corpo ia reagir com aquilo, né? E eu fiquei apavorada. Te juro que, quando eu cheguei, que eu olhei tudo isso, eu falei: “Meu Deus!” E eu escutava, assim, algumas notícias falando: “Ah, a cidade X fechou as suas fronteiras”. E eu pensava: “Poxa, como é que eu saio de um lugar tão distante, né? Mato Grosso é tão distante de São Paulo, como que eu chego? Os aviões cancelando os voos!” Então, aquilo chegou a mexer um pouco com a minha estrutura emocional. E aí a nossa empresa, eu sou muito privilegiada por ter gestores, por ter líderes muito humanizados, então eu expus isso, principalmente pro DHO, eu falei: “Gente, poxa, acabei de chegar. Eu estou um pouco assustada”. E o DHO me deu todo o apoio do mundo. Inclusive, a minha mãe contraiu Covid e eu não podia ir lá, porque eu também poderia pegar e também não tinha como eu ir e a minha empresa cuidou da minha família. Então, emocionalmente, eu consegui me equilibrar. Eu fiquei muito bem com todo esse apoio que eu recebi da empresa e o apoio que eu recebi da minha família e eu consegui colocar esses pilares em equilíbrio. Então, eu cuidei das minhas pessoas, dos meus funcionários, a gente cuidava da saúde deles. Muitos funcionários perderam esposas, filhos, familiares. Então, a minha principal preocupação era: como estão as pessoas, como estão os meus colaboradores. Então, eu cuidei muito da nossa gente. Cuidei também da expectativa dos clientes, porque os clientes ficaram preocupados: “Poxa, como que o meu negócio vai seguir, se o país está parando?”. Mas a Brado não parou. Então, a gente também conseguiu cuidar da expectativa e, graças a Deus, ela se manteve positiva até hoje, né? Cuidamos do negócio da empresa. Então, assim: poxa, como é que está o meu negócio? Como que eu faço a gestão das pessoas? Como que eu faço a separação, o distanciamento social, as reuniões? Então, a gente cuidou também do negócio. E eu cuidei da minha saúde mental. E, graças a Deus, a gente conseguiu passar pela pandemia com muito sucesso.
P/1 – Eu queria te perguntar, assim, pensando em toda a sua família e toda essa trajetória portuária, trabalhando com logística, eu queria saber, pra você, o que representa ser mais uma geração da sua família na logística, no transporte. O que isso significa e representa na sua vida?
R – É a minha base, né? É o meu alicerce. Quando eu olho e vejo a profissional que eu sou hoje e todo o incentivo e o apoio que a minha família deu, a única palavra que sai, assim e que me representa, é amor. Porque eu tenho amor à profissão. A minha família me apoiou. A minha família tem muito orgulho do que eu me tornei, hoje. Toda a minha aspiração profissional vem deles. Então, eu tenho muita honra pelo o que eu faço, pela empresa que eu estou e por saber que esse alicerce forte foi forjado em cima de uma família, em cima de um trabalho feito com muita simplicidade, muito esforço e muita resiliência.
P/1 – E o que é importante pra você, hoje?
R – Hoje, pra mim, o importante, principalmente como uma mulher, como uma agente de mudança, como um exemplo para outras mulheres, é continuar o trabalho. É eu continuar a deixar um legado para as próximas gerações, para que as pessoas não desanimem, para que as pessoas acreditem no seu propósito, para que as pessoas não desistam. E, sobretudo, para que as pessoas acreditem que todo mundo pode tudo, basta você querer.
P/1 – E quais são os seus sonhos?
R – (risos) Olha, é engraçado que a gente se provoca, né? E olha pro futuro e fala: “Poxa, onde eu quero estar? Qual é o meu sonho?”. E eu acho que a pandemia mexeu muito com o meu direcionamento de carreira, sabe? Quando eu penso no futuro, eu não penso em posição, em não penso em cargo, eu não penso no desafio, em si. Eu penso em ser uma agente de mudança, em trabalhar com propósito, em deixar um legado, em ajudar as pessoas. Eu penso muito na multiplicação do bem, sabe, como gestora. Porque a nossa vida como gestora, principalmente, que nem, como negócios iguais o meu, que você impacta em vários clientes, você tem clientes de grande monta, com grandes volumes, você é responsável por aquilo. Quando eu olho também, o quanto a gente é responsável pelas pessoas e o quanto eu trabalhar esse alicerce, a gente vai chegar do outro lado de uma forma mais leve, com mais qualidade e, assim, brilhante, eu penso que os meus próximos passos vão continuar nessa direção. É eu trabalhar com o meu propósito. É eu trabalhar com as verdades, né, com a transparência na relação, não só minha com a empresa, mas minha com a minha equipe. Então, assim, quando eu olho pro futuro, o meu desejo é que eu esteja em lugares que eu consiga trazer um impacto positivo pra logística brasileira, para os clientes e para as pessoas.
P/1 – A gente já está chegando no fim. Tem algumas perguntas, ainda. Eu queria saber se você queria acrescentar alguma história que eu não tenha perguntado, ou deixar alguma mensagem. Fica à vontade.
R – Eu acho que a mensagem que eu queria deixar era essa, né? Que todas as mulheres podem chegar onde elas almejam. Afinal, lugar de mulher é onde ela quiser. Somos agentes de mudança. Temos um legado. Impactamos na vida das pessoas e também na logística brasileira. E só vamos conseguir chegar lá se, realmente, trabalharmos com muito amor e propósito. Então, pra que não desistam e que continuem acreditando. Trabalhem pra Deus. (risos)
P/1 – Audriney, e o que você acha dessa proposta do museu, de contar história de mulheres que trabalham num mercado, assim, que antes era visto como masculino e não é mais, até pela presença, né, dessas mulheres que a gente entrevistou, você. Mas o que você acha dessa proposta de mulheres contarem as suas memórias, trabalhando no mercado de transportes rodo-porto-ferroviário?
R – Bom, primeiramente, parabéns. Porque essa inovação, eu nunca soube de um projeto igual a esse. Então, assim: isso, pra mim, foi impactante. Porque, pra você mudar alguns cenários que existem hoje, principalmente voltado à mulher no mercado de trabalho, à equidade, diversidade e inclusão, você precisa começar. E vocês deram o primeiro passo, né? Se não fossem vocês, outras mulheres não escutariam a minha história. E a gente tem que entender que a gente tem um papel na sociedade, muito importante. Somos um agente de mudança. E as nossas histórias podem encorajar outras mulheres a chegarem lá, a acreditarem no seu potencial, a não se curvarem aos desafios diários. Então, o propósito desse projeto precisa continuar. E ele precisa, também, multiplicar as falas. A gente tem que ir para outros canais de comunicação, para que outras pessoas consigam ser norteadas por essas histórias. A gente precisa multiplicar o nosso propósito, porque só assim a gente consegue uma mudança.
P/1 – E o que você achou de ter compartilhado um pouco da sua história de vida, hoje? Como foi, pra você, ter esse momento?
R – Nossa, pra mim foi emocionante, né? Muitas vezes, eu segurei aqui. Porque você vai passando uma linha do tempo na sua memória. A gente vai lembrando de algumas passagens que construíram a mulher que eu sou hoje. E passagens, assim, muito boas, como passagens que me destruíram na época, mas, de final, me reconstruíram, então, de repente, um preconceito, um desmerecimento por ser mulher. Então, nessa linha do tempo das nossas conversas, a gente traz isso. E muitas vezes isso faz com que você olhe pra trás e fale assim: “Ó, valeu a pena. Eu estou contando a minha história. E eu estou enxergando que, lá atrás, eu tive alguns desafios, alguns obstáculos, momentos bons e momentos ruins, mas que formaram a mulher e a profissional que eu sou hoje”. Então, com muito orgulho, eu concluo que esse projeto, eu saio daqui, hoje, melhor do que eu entrei. Porque, além de eu ter contado a minha história, de eu ter falado de mim, de eu ter lembrado de momentos que o quanto me reconstruíram, eu saio com uma palavra pro meu time, pra sociedade, de um projeto que existe hoje, de uma oportunidade que eu estou tendo de mudar vidas, de conseguir alcançar pessoas e contar uma história. Então, assim, excepcional.
[Fim da Entrevista]
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