P/1 – Geison, eu vou começar perguntando o seu nome completo.
R – Meu nome completo é Geison Araújo dos Santos.
P/1 – Geison, você nasceu em que data?
R – Vinte e dois de janeiro de 1991.
P/1 – Em que cidade você nasceu?
R – Na Bahia, Jequié.
P/1 – E seus pais são de Jequié, seu pai e sua mãe?
R – Não. Meu pai e minha mãe faleceram quando eu era menor. Meu pai, de acidente e minha mãe, de bebida.
P/1 – Mas eles eram de Jequié?
R – Eram.
P/1 – Até quanto tempo você viveu em Jequié?
R – Deixa eu ver... Nem sei, até um mês, por aí.
P/1 – Você veio bebezinho de lá?
R – Vim.
P/1 – Quanto tempo você tinha, quando eles morreram?
R – Quando minha mãe morreu, eu tinha acho que cinco. Meu pai, acho que eu tinha cinco também. Não sei. Não lembro muito.
P/1 – Você lembra alguma coisa deles?
R – Mais ou menos.
P/1 – O que você lembra deles?
R – Acho que eu lembro quando eu era pequeno, só do rosto do meu pai ou da minha mãe. Nem sei.
P/1 – Como que era? Que imagem você tem?
R – Acho até que... Deve ser... Sei lá (risos).
P/1 – E aí, eles morreram e você ficou morando com quem?
R – Com a minha irmã.
P/1 – Ela era mais velha?
R – É.
P/1 – Quantos anos ela tinha?
R – Acho que ela tinha... Agora ela tem 40... Acho que 39 ou 40, não sei. A Vera.
P/1 – Aí você veio com ela para São Paulo?
R – Vim. Eu tenho três irmãs. Mas eu vim com ela, sempre fui criado com ela.
P/1 – Com a Vera?
R – É. Sempre fui criado com ela. Mas o resto das minhas irmãs também, que ajudam ela cuidar de mim.
P/1 – E aí, vocês vieram de Jequié para São Paulo?
R – É.
P/1 – Por que vocês vieram para São Paulo?
R – A gente veio para morar. Lá é difícil as coisas, para trabalho. E também, para eu poder estudar mais, porque lá eu não estava aprendendo muito.
P/1 – Você lembra de alguma coisa de Jequié? Como é que era Jequié?
R – Eu acho que eu nem lembro mais.
P/1 – Já esqueceu, faz tanto tempo.
R – Faz. Acho que vai fazer dois anos agora ou mais que eu não vou lá. Eu nem sei.
P/1 – E você tem parentes lá ainda?
R – Tenho.
P/1 – Quem mora lá?
R – Mora minha tia, Lidiane, e meus outros sobrinhos, filhos da minha tia. E uma outra irmã, que eu não considero, mas minha família fala, é a Selma. Eu tenho essas irmãs e tenho a minha tia. Só que se for para ir para lá morar, eu não vou. Eu não gosto de ir para lá pra morar mais. Agora, eu só quero morar aqui. Gostei daqui, desde quando cheguei.
P/1 – Quando você chegou aqui, o que você achou da cidade?
R – Eu achei que... Achei chato, sei lá. Achei que era tudo quieto. Igual na Bahia, porque lá eu não fazia nada, era tudo quieto. Não brincava direito, não tinha nada, não tinha shopping. Aí depois, quando eu cheguei aqui e passei a conhecer os lugares, eu gostei. Aí minha irmã perguntava direto para mim se fosse para mim voltar para Bahia, se eu queria morar na Bahia. Eu falava que não. Gostei daqui, me apeguei. Tem tudo aqui para mim, escola, amigos, tem tudo. Aí eu gostei daqui por causa disso.
P/1 – Quando você chegou aqui, em que bairro vocês foram morar?
R – Primeiro, nós moramos na Itamonte, no Jardim Brasil. E agora, nós estamos morando na Sabrina.
P/1 – Quem morava na Itamonte?
R – Eu e minha irmã, Vera.
P/1 – Só você e ela?
R – Quando chegamos, só era nós dois.
P/1 – E como ela fazia? Ela trabalhava, você ficava com quem?
R – Eu ficava com a vizinha lá, tem um quintal lá, ela deixava a chave, eu ia para a escola, chegava... Eu ia de manhã para escola, quando ela trabalhava, que ela trabalhava de manhã, ia para escola, chegava e ficava com a vizinha, no quintal, brincando, até ela chegar.
P/1 – Com quantos anos você entrou na escola?
R – Acho que uns 11 anos.
P/1 – Mas você estava em Jequié ou você já estava aqui?
R – Já estava aqui. Eu cheguei aqui, acho que com 11 anos mesmo, eu entrei na Pestalozzi.
P/1 – Como era essa escola, Pestalozzi?
R – Quando eu cheguei, eu não sabia nada. Ler, nada. Aí, me encaminharam para lá, falaram que lá era bom, que lá ensina. Eu fui com a minha irmã lá saber. Nos primeiros dias, eu ganhei uma bolsa de grátis lá, não sei como é que funciona. Aí eu comecei a estudar lá. Fiz lá até a quarta série. Aí, me formei e fui para o CIEJA.
P/1 – Você lembra de alguma professora da Pestalozzi?
R – Eu lembro da Célia... Eu lembro de todas. Que eu passei, a Célia, a Fernanda... Não, a Fernanda não. A Célia, a Simone e a Eliane. Quando eu cheguei, eu fiquei com a Simone, foi quem me ensinou a ler, bastante mesmo. Ela e a Célia. A Eliane também, mas as duas pegaram mais no meu pé. Ela falou que ia se esforçar, que ela ia me ajudar para mim sair de lá, já lendo e escrevendo. Foi quando eu saí de lá para o CIEJA, já saí lendo e escrevendo. Eu não sabia nada.
P/1 – E do que você mais gostava na Pestalozzi?
R – Eu gostava de tudo. O meu preferido mesmo é futebol. Até hoje, eu faço treino lá. Eu falo pro pessoal que lá é minha segunda casa, por causa da quadra. É minha segunda casa, por causa da quadra e por causa do pessoal, me acolheram bem lá, me trataram super bem. Nunca me maltrataram, por isso eu falo que lá é minha segunda casa.
P/1 – Mas antes disso, tinha amigo que te maltratava?
R – Nenhum. Ninguém nunca me maltratou. Era tudo amigo. Para mim, era tudo irmão. Eles mesmos eram todos meus irmãos, porque nunca me maltrataram, nunca me bateram, nada.
P/1 – Você lembra de alguma história que te marcou na Pestalozzi?
R – Se eu lembro, eu não sei (risos).
P/1 – Tinha festas, lá?
R – Tudo.
P/1 – Festa Junina?
R – Tudo.
P/1 – Você lembra de alguma?
R – Antes de eu me formar, teve uma lá e eu participei. Falaram que nem ia ser lá, só foi lá porque não deu. A gente ia para a Record, para gravar no estúdio do Raul Gil... acho que foi do coisa lá na Record, nem me lembro do nome dele, acho que foi no Melhor do Brasil, a gente ia lá, gravar. A escola ligou para lá e convidaram. Eles convidavam a gente para um monte de lugar. Aí nesse dia, ia ter festa junina e a gente ia para lá, todo mundo, para apresentar lá. Do nada, eles cancelaram ou foi a escola que cancelou... Aí fizemos na escola, lá tem palco, tem tudo também. Foi o único dia que eu marquei. Outra vez que me marcou também, foi quando eles falaram que o pessoal da Record, Ana Hickmann, o Britto Júnior e a coisa, associaram com a gente e eles iam ser nossos padrinhos, na escola, padrinho e madrinha. Foi só isso, o resto foi…
P/1 – Você tinha amigos na escola?
R – Bastante.
P/1 – Quem eram eles? Fala um pouco deles.
R – Tinha o Rafael, da foto, o Álvaro... Os que treinam comigo, mesmo, o Rafael, mesmo, é super legal, o Álvaro também. O Álvaro é o que me ajuda mais. Fica falando as coisas, quando eu faço coisa errada. Ele fala quando eu apronto, quando ele apronta, eu ajudo ele. Ele e o Rafael. Eles me ajudam bastante. Os meninos do treino também, quando acontece alguma coisa de errado, para eu não fazer nada de errado... Que pelo caminho errado, não dá certo, não sei o quê… Me ajudam bastante.
P/1 – Quem te levava para a escola, como que você ia para a escola com 11 anos?
R – Eu ia com a mãe de uma colega minha, a Dandara. Eu ia com a mãe dela direto, a gente pegava o ônibus na porta da pracinha, lá na rua, tem um ponto, a gente pegava direto, eu, ela e a mãe dela. A mãe dela levava e buscava a gente. Também super legal. A gente ia e voltava direto. Quando tinha passeio também, ela ia buscar, levava.
P/1 – Quando você voltava da escola, você ficava onde?
R – Ficava em casa. Tinha vezes que eu saía para a rua pra jogar bola, tinha vezes que eu ficava em casa. Só que a minha irmã não gostava, até hoje, ela não gosta. Ela não gosta que eu saia escondido, essas coisas, para a quadra. Tem vezes que ela briga. Mas tinha vezes que eu saía normal. Vou pra quadra, vou pra um monte de lugares. Quando eu chego da escola e não tenho nada para fazer, eu falo pra ela que vou pra quadra, vou pra casa de alguém jogar videogame. Antes, quando ela trabalhava, ela não deixava. Chegava da escola com a mãe da minha colega, da Dandara, ela mandava eu ficar dentro de casa, para não sair. Eu tinha que ligar para ela para avisar onde ia. Eu ligava e avisava. Essa semana também, ela brigou comigo porque eu saí pra rua sem avisar. Eu falei pra ela... Agora, ela não liga mais.
P/1 – E quem fazia comida, quem cozinhava?
R – Ela já deixava tudo pronto. Agora não, porque agora eu faço sozinho as coisas.
P/1 – Na Pestalozzi, você fez até a quarta série. Depois você foi para o...?
R – Cieja.
P/1 – E como foi essa mudança do Pestalozzi pro Cieja?
R – Quando eu cheguei, eles falaram que... Antes de me formar, eu perguntei se eu ia para outra escola, perguntei para eles lá da Pestalozzi. Eles falaram que não sabiam direito também, que a diretora que iria informar. Depois da formatura, eu perguntei para a diretora se eu ia estudar em outra escola, o quê que eu ia fazer, se eu ia ficar parado. Ela falou: "Não, perto da sua rua deve ter a escola nova que abriu”, ai foi e falou do CIEJA, explicou para mim e falou que ia ligar para minha irmã, Vera, para explicar direitinho para me colocar lá.
P/1 – Você saiu da Itamonte e foi para a Vila Sabrina. Foi nesse momento que você mudou, quando que você mudou?
R – Eu mudei depois que minha irmã casou. Ela casou com o meu cunhado, aí eu mudei da Itamonte.
P/1 – Aí, sua irmã te matriculou no Cieja. Era perto da sua casa?
R – É lá perto de casa.
P/1 – Você ia como?
R – Eu ia a pé. É no quarteirão da frente, na rua da frente.
P/1 – E como foi mudar de escola, como foi essa mudança?
R – Foi assim... Eles me falaram que eu ia me formar, que lá era até a quarta série, que eu não ia ficar lá, eu ainda perguntei: "Não pode ficar mais?", perguntei para ver se podia, que ai, eu ficava. Aí, a diretora explicou que não podia, que era até a quarta série, que eu ia mudar para outra escola, podia ser qualquer escola da prefeitura, mas ela explicou que tinha o Cieja, que todo lugar ia abrir. Aí eu falei: "Está bom". Depois ela ainda perguntou se eu não ia ficar chateado, eu falei: "Não, imagina, vocês me apoiaram", eu falei que elas me acolheram bem, agradeci. E esperei minha irmã ligar no Cieja para ver o que ia fazer.
P/1 – Como era o Cieja , quando você chegou lá, como é que era a escola?
R – Legal. É legal também, fiz amizade rápido com o pessoal. Os professores todos legais, todo mundo legal. Estou aprendendo mais, fazendo lição, aprendendo ler e escrever, também.
P/1 – Mas você já não sabia?
R – Quando eu cheguei aqui em São Paulo, não.
P/1 – Mas quando você chegou no Cieja , você já sabia ler e escrever?
R – Já. Saí da Pestalozzi mais ou menos e entrei no Cieja, estou aprendendo mais coisas.
P/1 – Há quanto tempo você está no Cieja?
R – Acho que vai fazer um ano ou dois.
P/1 – Um ano ou dois? Faz pouco tempo. Quem são seus amigos lá?
R – Todos (risos).
P/1 – Você é popular.
R – Todos são. São todos, mas os mais mesmo, que é amigo mesmo, que ajudam assim, é o Álvaro, o Rafael e o Douglas.
P/1 – Eles te ajudam em quê?
R – Tudo. Tudo o que precisar, ajudam. O Álvaro principalmente, quando tem lição para fazer, prova... A gente faz lição na casa dele, o Rafael também. Todos me ajudam, não tem um que não ajuda.
P/1 – E os professores?
R – São todos legais. Todos legais e me ajudam bastante também.
P/1 – Geison, você já teve namorada? Qual foi a primeira menina que você gostou?
R – A minha primeira namorada foi na Pestalozzi. Mas quando eu cheguei lá, eu nem pensava em namorar. Eu olhava para as meninas e falava: "Não vou ficar com nenhuma dessas meninas". Sei lá por que. Aí, meu colega veio e falou: "Tem uma amiga minha querendo ficar com você. Você quer?". Aí eu falei: "Não sei, acabei de chegar, como é que vocês já..." "Ah, fica, fica...", quando eu fui ver, era a Carla. Fiquei com ela, mas não era de dar beijo, que não podia. Eu fiquei com ela e depois falei pros meninos: "Eu não quero ficar com essa menina" "Por quê? Ela é legal" "Não, não quero. Não vou namorar agora, não chegou a minha hora" "Ah, fica". Aí, eu falei: "Vocês estão enchendo o saco". E terminei com ela. Do nada, veio, acho que foi a Camila. Aí, a Camila: "Geison, quero ficar com você". Eu falei: "Não quero ficar com vocês" "Por quê? Você não gosta de meninas?", ainda falou assim, e eu: "Não, não é que eu não gosto de meninas. Vocês não estão entendendo." "Você está com medo do quê? A gente não vai te forçar, ninguém vai te bater, nem nada" "Não quero agora. Cheguei agora, quero aprender primeiro, pra depois eu ver", ai foi, fiquei com a Carla, fiquei com a Camila, fiquei com a Luana, aquela que está lá, aquela, e a que eu fiquei mesmo, até dois anos de namoro, foi a Dandara.
P/1 – Que era a que você ia para a escola com a mãe?
R – É. Eu fiquei dois anos com ela. Agora terminei com ela, ela ficou super chateada.
P/1 – Por que você terminou?
R – Por causa da Sandra. A foto da Sandra, que está aí, por causa dela. Eu conheço ela de lá de perto de casa. Eu comecei a fazer amizade como amigo, e ela veio perguntar para mim se eu tinha namorada. Falei: "Tenho" "Mas você vai terminar? Você está terminando ou você está começando?" "Estou vendo se eu termino, porque ela está morando longe". A Dandara é daqui, ela não é de lá, ela está em Minas. Ela não é daqui, ela não é de lá, ela é daqui.
P/1 – A Dandara voltou para Minas?
R – Ela é de lá, ela é daqui. A mãe dela foi morar, só que ela não quer ficar lá, ela quer ficar aqui. Ela fica falando para a mãe dela que o lugar dela é aqui. Só que depois que eu terminei com ela, por causa do namoro com a Sandra, ela ficou super chateada. Falou que não ia nem pisar os pés mais aqui, porque ela não perdeu mais nada aqui. Eu falei pra ela: "Para com isso. Não vou nem poder te ligar mais, para ser amigo?" "Vou pensar.", falou que ia pensar, aí eu deixei pra lá. Foi a única que eu fiquei até dois anos de namoro. Aí, comecei com a Sandra, fiz amizade com a mãe dela, só que a gente não começou nada assim, era amizade, ela também não queria nada. Foi quando a mãe dela falou para mim que não era pra ficar com ela, porque ela era casada, tem dois filhos.
P/1 – A Sandra?
R – É. (risos) Só que foi assim, a gente não levou nada a sério. Na hora, eu não levei nada a sério, era só amizade. Aí ela começou... Não sei o que nós estávamos falando, eu brincando com a irmã dela, a Valquíria, aí do nada ela falou: "Vamos ver se nossa mão combina". Eu falei: "Não faz isso." "Vamos do ver, vai saber, se der certo, se rolar, rolou." "Você é doida? Você tem marido." "Não interessa.". Aí, colocou a mão dela na minha: "Deu certinho.". Aí, começou. Eu falei: "Você é doida, menina.". Aí, do nada, ela falou: "Mãe, estou gostando do Geison e quero terminar com o Claudinei", o marido dela. Nisso, eu estava indo pra casa dela escondido da minha irmã, eu não falava nada. Eu ficava em casa, minha irmã ia trabalhar à tarde, eu ia para casa dela e ficava lá. Minha irmã ligava e eu não atendia, não fazia nada, deixava o celular desligado. Minha irmã ficava revoltada. Foi essa semana que minha irmã descobriu, porque ela começou a morar perto da minha outra irmã, nos predinhos. Eu estava mentindo para a minha irmã falando que não ia para lá, só que eu estava indo. Eu já estava com ela, desde aquele dia que a gente conversou.
P/1 – E o marido dela?
R – Ele é legal, fala comigo. Não falou nada, não. Aí, minhas irmãs foram lá conversar com ela para saber o que ela queria, se ela queria coisa séria, se ela queria só pra me iludir. Aí ela falou que queria namorar sério comigo. Aí minha irmã até falou: "O Geison não tem condição de cuidar de uma família.". Ela falou: "Mas eu não quero ele para cuidar de filho meu, quero para namorar só. Não quero nada dele, só namoro.". Aí minhas irmãs aceitaram.
P/1 – E fica você, ela e o marido?
R – Não.
P/1 – O que aconteceu com o marido?
R – Ela terminou com o marido dela, na boa. Só que o marido dela está morando na Benfica, onde ela morava. A gente começou a ficar lá, na rua. Essa brincadeira começou tudo lá, que não era nem pra rolar. Não que eu não estivesse a fim, ela é bonita. Mas, quando eu conheci, estava fazendo amizade com a irmã dela, com a Valquíria. Aí a Valquíria falou: "Eu tenho uma irmã." e chamou, cumprimentei, aí, do nada... Só que na minha mente já estava vindo. Só que eu também sou meio cínico, não vou mentir. (risos) Apresenta alguém para mim, depois que essa pessoa sai, vai pra algum lugar, eu falo: "Nossa, mó bonita". Eu fiquei falando isso o tempo todo para a irmã dela. Falei: "Nossa, sua irmã é bonitinha." "A minha é gorda.". Ela pondo defeito na irmã: "Minha irmã é mó gorda, você é doido? Fica comigo.". Eu falei: "Não, vou ficar com ela.". E a Valquíria: "Vou arrastar só para você ficar com ela agora, começou, agora aguenta." "Eu não comecei nada, só estou falando que ela é mó gatinha, mó bonitinha.". Até hoje estou com ela. Fico na casa dela até dez horas, dez e pouco eu vou embora. De sábado, eu durmo lá, fico lá. De sexta, sábado, até domingo.
P/1 – Você dorme com ela?
R – Fico de sábado para domingo lá, durmo lá. A gente sai de noite, vai pro shopping. Sábado agora, acho que a gente vai sair, estou querendo ir ao shopping com ela, para comprar um presente. Só que ela já está me cobrando que quer aliança de namoro. Ela já está me cobrando, falou para a minha irmã, está pegando no meu pé, direto.
P/1 – Geison, você já trabalhou?
R – Já. Não trabalhei registrado, já trabalhei fazendo bico.
P/1 – Qual foi a primeira vez que você trabalhou?
R – Eu trabalhei de pedreiro, ajudando na Itamonte, quando eu morei lá, na reforma da casa da vizinha. E o segundo trabalho foi de cadeira.
P/1 – O que é cadeira?
R – Montar cadeira de computador, com rodinha. Montar e desmontar. Mas a parte que eu fiz era de desmontar. Eu desmontava na garagem do rapaz que eu trabalhei e de lá, a gente levava para outro rapaz reformar, pôr o forro, as coisas. Até apertar atrás eu fazia. Ele só levava para pôr o forro. A madeirinha, colocava o forro e trazia. O resto eu montava todo. Eu não posso trabalhar registrado por causa do meu benefício. Eu tenho benefício e não posso.
P/1 – Você recebe benefício do quê?
R – Do prefeito.
P/1 – Por que você recebe?
R – Eu não sei. Eu tento descobrir isso até hoje, não sei. Só que a minha irmã falou que foi ver se eu podia trabalhar registrado, se perde ou não. Diz a minha irmã que o prefeito deu, sei lá, e quando dá, todo tipo de trabalho registrado perde. Até hoje eu não entendo esse negócio, eu não entendo muito.
P/1 – Mas dá pra trabalhar sem ser registrado?
R – É.
P/1 – E você tem vontade de trabalhar?
R – Tenho.
P/1 – Geison, quando você estava na escola, na Pestalozzi ainda ou depois, tem alguma coisa que você fala: "Eu quero ser tal coisa na vida", alguma profissão?
R – Tem. A parte do que eu faço de manhã, tinha um horário da tarde que a gente fazia a oficina. Tinha todo tipo de oficina, tinha cozinha, que ensinava culinária, tinha outro de papel artesanal e tinha a minha parte, eu era da xerox. Eu aprendi a tirar xerox, aprendi tudo. Depois tiraram, fizeram mais salas. Mas quando eu entrei, tinha oficina, era papel artesanal. Eles colocavam em exposição, mandavam para a Record. Quando tinha alguma exposição nova que a gente fazia, a gente fazia na quadra, colocava as telas, os quadros, as coisas de xerox. O rapaz de lá, o Cenival, ele trabalhou em escritório. Ele já trabalhava com isso, aí ele arranjava emprego pra gente. Ele arranjou para mim, para a Dandara e para um outro aluno. Só que eu e a Dandara passamos no teste. Só que a minha irmã e a tia da Dandara não deixaram, porque era registrado. A gente com beneficio... A Dandara ficou nervosa, começou a chorar, brigou até com a tia dela. Eu não fiquei nervoso, nem falei nada. Eu falei pra minha irmã, ela explicou tudo... Eu falei: "Mas o certo, eu queria trabalhar", porque eu tinha passado no teste, fui falar com o Cenival se eu passei, o Cenival: "E daí, e se você passou ou não?" "Eu queria saber." "E sua irmã, liberou?", eu falei: "Não" "E se eu te falar que tu passou, tu e a Dandara?". Na hora, eu fiquei nervoso, por quê? Porque falei: “Fui pro negócio e agora?” Tinha passado no teste, porque só foram três ou quatro alunos. Eu e a Dandara passamos, o outro menino não passou.
P/1 – A Dandara também tem benefício?
R – Tem. Ele falou: "Você passou e agora? Vai perder um emprego por causa disso?" "Ah, não posso fazer nada, minha irmã não deixou”. Ele falou que ia ver outros empregos, mas quando eu saí de lá, já tinham acabado as oficinas, não estavam fazendo mais nada. Tinha acabado o xerox, tudo. Mas, se for para trabalhar, eu preferia trabalhar de tirar xerox em algum lugar. Qualquer lugar que pegar, mercado, qualquer lugar eu vou. Mas não para registrar.
P/1 – E você está procurando?
R – Estou. Essa semana mesmo eu fui no CATI do Java Rural lá do Jaçanã para ver esse negócio do meu benefício, se eu perco ou não. Eles me encaminharam para os Correios, eu fui lá ver, mas tinha acabado de fechar. Ontem não, segunda-feira era pra eu ter ido lá resolver, mas eu não fui. Minha irmã falou que não era para ir. Só que eu fico correndo atrás. Na Sabrina, tem uma pá de lojas, dentista... Essa semana, eu fui lá ver se eles estavam pegando para entregar papelzinho. Só que tem loja que já tem, tem loja que não. Essa semana, eu vou lá de novo.
P/1 – E essa sua namorada, ela tem benefício?
R – Qual, a Sandra?
P/1 – A Sandra.
R – Não. Trabalha e tudo. Agora, ela trabalha, não tem. É só eu e o resto dos alunos da escola.
P/1 – Tem algum fato marcante que tenha acontecido com você no Cieja? Alguma história que você lembra?
R – Não sei.
P/1 – Esse brinco, quando você furou a orelha?
R – No Natal.
P/1 – Agora?
R – Não, 2013. Eu ia tirar, porque... Eu estava com outro brinco do meu sobrinho. Eu fui viajar e começou o outro brinco a machucar. Eu ia tirar, esperar fechar e furar de novo. Se deixasse com o outro brinco, ia rasgar. Só que eu vou ver se vou tirar, talvez tire, talvez não. Vou esperar fechar para furar.
P/1 – Geison, vamos voltar um pouquinho lá atrás. A sua irmã conta alguma história do seu pai, da sua mãe?
R – Não. Contar, ela conta. Só que eu não vou lembrar, eu não lembro. Eu era muito pequeno. Ela fala para mim que se ela for contar, ela não vai saber contar direito, porque eu não vou lembrar, não vai ter como porque eu não lembro muito deles, porque quando eu nasci... Eu era pequeno mesmo. Eu tinha acho que cinco, quando minha mãe morreu ou os dois... Não lembro muito. Eu já perguntei várias vezes para ela, eu pergunto.
P/1 – O que ela fala?
R – Ela fala que não vai saber explicar, porque eu não lembro direito. Que ela pode até saber explicar, só que eu não vou lembrar, porque era muito pequeno. Quando eles faleceram, eu era muito pequeno. Eu não lembro muito deles.
P/1 – E avô, avó, você tem?
R – Não, faleceram também. (pausa) E ela também não conta. Eu já perguntei de tudo, ela não conta. Ela fala: "Geison, se eu for contar, você não vai lembrar, porque era muito pequeno. Não tem como eu te contar, você era bebezinho ainda.". Ela mesma, quando meu pai faleceu, era bebê. Eu não vou lembrar, não tem como. Todo mundo pergunta: "Você lembra do seu pai? Você lembra da sua mãe?".
P/1 – Mas ela não te conta mesmo sem você lembrar?
R – Não, não tem como. Ela não... Ela pode até contar, só que ela vai falar: "Tu lembra? Então, fala". E eu não vou saber falar, porque eu era muito pequeno. Não consigo, já tentei. Tem um quadro da minha mãe. É um quadro que ela está no bar que é mó antigo. Pela foto, só olhando, eu lembro dela. Do meu pai eu lembro que tem uma foto que ele está no time de futebol, ele é goleiro. Aí minha irmã me mostra ele. Só. Mas se tirar a foto e perguntar alguma coisa, se eu lembro como eles eram, eu não lembro. Só vendo a foto mesmo.
P/1 – Que bar que está essa foto?
R – Ela está no bar lá... Acho que foi lá na Bahia. Ela tinha um comércio dela de bar, uma venda.
P/1 – E você diz que ela morreu de bebida, porque ela bebia muito?
R – Quando ela engravidou de mim, ela bebeu demais. Aí, eu fiquei com esse problema também, no meu olho. Eu peguei por causa disso, ela bebia muito. Essa parte, minha irmã me conta. Eu pergunto porque que eu nasci assim, com esse negócio, e ela me conta, ela fala que é porque minha mãe bebeu demais. Se minha mãe não tivesse bebido, nascia normal. É porque ela bebeu bastante.
P/1 – Mas que negócio você tem?
R – Desvio no olho. Eu não sei como é que fala direito, minha irmã que sabe. Eu sei que é por causa disso.
P/1 – Hoje, você mora com a sua irmã, quem mais mora na casa?
R – Mora eu, minha irmã e meu cunhado. E minha sobrinha, Ana Clara. Nós quatro.
P/1 – E como é a casa?
R – Três cômodos. Eu durmo na sala. Ela, minha sobrinha e meu cunhado dormem no quarto. Não tem espaço para dormir, aí eu durmo na sala.
P/1 – Como é a convivência com o seu cunhado, com a sua irmã e com a sua sobrinha?
R – Normal. Meu cunhado é super legal, todo mundo, normal.
P/1 – E a Sandra vai na sua casa?
R – Vai.
P/1 – E como é a sua relação com as filhas dela?
R – Legal, super legal também.
P/1 – Quantos anos têm?
R – Acho que a Julia tem seis, o Cauã tem cinco, não sei. Tem as filhas dela e as filhas da irmã dela, da Valquíria.
P/1 – Elas moram juntas?
R – Só que a Sandra trabalha e a Valquíria, não. As filhas da Valquíria e da Sandra gostam muito de mim. Elas gostam demais de mim. Até esses dias, minha irmã pegou... Eu tenho mania de brincar com criança, isso e aquilo, com minha sobrinha, que é maior, eu não brinco muito. Aí, minha irmã esses dias achou ruim, porque eu brinco demais com as meninas da Sandra e da Valquíria e com minha sobrinha eu não brinco igual eu brinco com os dos outros, igual eu faço amizade com a sua filha, brinco, pego no colo, isso e aquilo. Com a minha sobrinha eu não sou, sou diferente. Eu grito, eu não gosto, sei lá. Aí, minha irmã fica revoltada com isso. Ela fica falando que eu dou atenção para o filho dos outros e não dou para o de casa, para minha sobrinha. Ela quer que eu dê para minha sobrinha o que eu dou para os outros. Ela quer que faz isso. Eu fazendo isso, ela não implica muito. Porque o certo é o quê? Dar para um e para o outro, não é? Então, ela quer que eu faça isso. Só que, sei lá... Não sei explicar... Eu não gosto mesmo. Mas se for de dar atenção, eu dou atenção para todo mundo.
P/1 – Geison, você gosta de ver filmes, televisão?
R – Gosto.
P/1 – Sempre gostou?
R – Se for para ficar dentro de casa... Minha irmã fala: "Geison, fica dentro de casa, não sai pra rua.". Eu não consigo. Eu fico em casa assim, se for para assistir um filme novo... O que eu gosto mais é filme de terror.
P/1 – Qual foi o filme que você viu que você mais gostou?
R – Todos. Todos que eu já vi, eu gostei.
P/1 – Tem alguma história de um filme que tenha te marcado?
R – Agora esqueci... Tem um super legal. Eu gosto mesmo. Esqueci o nome do filme. Mas esse eu gostei demais.
P/1 – Como era a história?
R – É bíblico. É um filme... Ai, esqueci. Eu sei que no final, a menina fica grávida, perde o bebê. Aí, no final do filme canta o louvor do Thalles. Só esse filme me marcou, até hoje, que eu gostei. Ela casa com um cara lá. O cara chega do escritório, os amigos chamam para ir pra uma festinha, ele chega bêbado em casa e ela descobre. Aí, os dois se separam, terminam. Ele entra acho, em um grupo de jovens da igreja do Senhor. Aí, eles se encontram no final do filme no mesmo lugar, que eles foram num sítio. Ele pede perdão para ela pelo que ele fez. Ela perdoa ele e os dois ficam na boa. E no final do filme... Só esse, porque o resto... Só esse me marcou mesmo. Eu não gosto de assistir muito também por causa disso (risos). Eu chorei no primeiro dia que eu assisti. Eu chorei, fui até na igreja. Fui até na minha igreja, porque eu assisti esse filme e chorei. Eu fiquei procurando a maior cota pra assistir, aí tive que assistir no YouTube. Mas eu não assisto muito ele por causa disso, porque eu choro. Ele é muito... Além de ser pesado, ele é muito forte por causa disso. Eu não gosto de assistir muito. Eu gosto da música do Thalles do filme, desse filme.
P/1 – Como é a música?
R – É “Maravilha”. Eu baixei a música dele no meu computador, só que eu não coloquei no celular. Além de eu não gostar de... Além de eu não assistir ao filme, eu não gosto de escutar a música, porque eu choro. A música é muito linda, é muito legal. Tem vários filmes que eu gosto. Filme mesmo que eu gosto é de terror. Gosto mais de terror, de ação não gosto muito.
P/1 – Quando você começou a ir na igreja?
R – Quando eu cheguei aqui. Não... É, acho que é. Cheguei aqui... É, comecei quando eu cheguei aqui. Comecei a ir para a igreja.
P/1 – Com quem?
R – Com a minha irmã, Vera.
P/1 – Que igreja?
R – Na Vida Plena, no Jardim Japão. Fica perto da minha casa também.
P/1 – Quem levou vocês lá?
R – Acho que foi a mulher do pastor. Foi a vizinha lá que falou pra gente. Aí levou a gente e foi quando nós começamos a ir para lá. Eu saí de lá, fui para outra igreja. Fui para a Amando Vidas, que é lá perto da minha outra irmã, da casa da minha namorada, a Sandra. Aí, fiquei lá também. Eles montaram um grupo de jovens lá também na Amando Vidas. Eu comecei lá por causa da Neide, que minha outra irmã me levou. Aí fizeram um grupo de jovens e me encaixaram. Eu me batizei lá e tudo. Eu peguei e fui, fiquei. Aí começou um grupo... Teve uma briga lá por causa de uns negócios da igreja, aí todo mundo começou a sair do jovem, ninguém queria participar mais. Quando tinha ensaio, ninguém ia. Aí, eu peguei e chamei a Neide, falei: "Já que é pra ficar indo pouco, eu também não vou ficar.". Peguei e voltei para a Vida Plena. Falei com o pastor e o pastor aceitou. Agora, estou em um grupo novo dos jovens da Vida Plena nosso lá. Só que lá é melhor do que nada. Só que onde eu estou é bem melhor, eu me acostumei mais lá. Porque, quando eu cheguei, foi a primeira coisa que eu gostei, da Vida Plena.
P/1 – Por que você gostou?
R – Porque lá tem uma pá de coisas para fazer. Eu gosto de mexer nas coisas. Agora mesmo, nessa semana, eu conversando com um rapaz, um irmão da igreja, ele me colocou no som. Eu fico no som da igreja todo domingo. Fico no som e no projetor, para passar os louvores e tudo. Quando tem alguma festa, eu vou lá na frente com o microfone, tirar a pilha... Sábado agora, vai ter festa junina lá na igreja, dos jovens. Eu vou ter que ir mais cedo fazer um monte de coisas. Vou ter que ajudar eles, eu ajudo. Quando é para lavar a igreja, eu ajudo a lavar, de sábado. Quando tem alguma coisa, que é para ajudar a limpar, arrumar para a festa, eu ajudo. Por isso que eu gostei de lá também, por causa disso, o pessoal de lá é legal e ajuda a gente no que precisa.
P/1 – A Sandra vai com você na igreja?
R – Ela não ia, agora ela vai. Assim, ela não ia, ela bebia. Ela bebia, só que não muito. Aí, eu comecei a namorar e minha irmã começou a falar: "Se você ficar com ela, se der tudo certo, chama ela para a igreja.". Aí, eu chamei. Eu sempre chamava, quando eu ia na casa dela de domingo. Ficava até cinco horas e: "Vamos na igreja. Que dia tu vai?" "Qualquer dia eu vou.". E não ia. Aí, eu falei: "Se a gente for namorar sério, você vai começar a ir pra igreja." "Eu vou visitar.". Aí foi, visitou a minha, visitou a da minhas duas irmãs e agora, ela está firme, vai para igreja direto, não está bebendo mais. Eu falei pra ela... A irmã dela, terça-feira, teve oração na casa dela. O pessoal amigo da irmã dela da igreja foi. Fizeram oração e isso e aquilo.
P/1 – Geison, quais são os seus sonhos ou qual é o seu maior sonho?
R – Casar e ser jogador de futebol.
P/1 – Você falou que continua jogando. Desde quando você joga?
R – Desde quando eu entrei no Pestalozzi. Comecei a treinar lá.
P/1 – E você joga até hoje? Quantas vezes por semana você vai?
R – Toda sexta. Toda sexta, dez horas. Acaba onze e meia, meio-dia. O horário era da uma até às três. Aí, os professores que davam nos outros horários saíram, foram para outra escola e ficou um professor. Agora é de manhã. Só que eu fico falando para o Álvaro e para o Rafael, que se a diretora lá for tirar... É que assim, tem dia que tem reunião pra gente, aí eles avisam. Quando não tem... Teve uma vez que a diretora, a Fátima, falou que ia tirar, porque estava indo pouco aluno. Aí, a gente teve que levar amigos nossos para juntar e poder jogar fora. Não adianta só três, quatro irem fazer o treino, chega no dia, quando a gente vai chamar, aparece um monte. Aí não adianta nada. Eu gostei de lá também por causa disso. A diretora falou uma vez para mim, quando eu saí de lá na formatura: "Geison, estou pensando em não deixar você ficar no treino, porque você já vai sair daqui.", aí eu conversei com ela e ela falou: "Você só vai ficar porque você estudou aqui, porque senão...". Ela liberou a gente, falou que só fica no treino quem estudou lá, explicou. Só que a gente conversou com ela para poder ver se arranja mais times para poder treinar com a gente, porque só tem a gente. Ela liberou. Amanhã, eu vou ver se eu levo alguém.
P/1 – Geison, você torce para algum time?
R – Palmeiras.
P/1 – Desde quando?
R – Desde quando eu cheguei aqui. Quando eu era da Bahia, eu torcia para o Bahia e para o Vasco. Aí cheguei aqui, os meninos perguntaram que time eu era, falei que era do Bahia. Eu perguntei se tinha time aqui, eles: "Ixi, time aqui é o que não falta.". Aí foi falando, Corinthians, blá blá blá... Teve um que queria que eu virasse corintiano. Eu fiquei pensando, falei: "Corinthians, não sei não, vou ver.". Aí do nada, minha irmã conheceu o meu cunhado, o Vanderlei. Quando a gente foi lá conhecer, eu perguntei para ele que time ele era e ele falou: "Palmeiras.", por causa dele, eu fiquei crescendo palmeirense. Eu ia ser corintiano, só que eu fiquei pensando... Não sabia nem que time tinha aqui quando eu perguntei. Eu nem sabia que times tinham, aí por causa dele, eu virei palmeirense. Meu sonho mesmo é ir no estádio assistir o jogo.
P/1 – Você nunca foi?
R – Já, só no Pacaembu, mas não foi para assistir jogo assim. Foi para assistir um da igreja que eu fui com o pessoal. Só, agora de clássico, Palmeiras e Corinthians, São Paulo e Palmeiras, nunca fui. Mas no Pacaembu, no estádio, eu já entrei. Só que para assistir jogo com torcida mesmo assim, não. Meu sonho mesmo é entrar.
P/1 – Em Jequié, você torcia para o Vasco...
R – Em Jequié, eu já torci para o Vasco, para o Flamengo e para o Bahia.
P/1 – Por que você torcia para times diferentes? Tinha alguém que te influenciava lá?
R – Não. Em Jequié, não. Lá, eu era vascaíno... Eu fui vascaíno por causa do cunhado da minha irmã, do namorado da minha irmã. E flamenguista eu já era faz tempo, por causa do meu pai. Meu pai era flamenguista. Depois, eu comecei a torcer para o Bahia. Só não torcia para o Vitória nem para os outros. Eu fiquei flamenguista por causa do meu pai, vascaíno por causa do namorado da minha irmã e Bahia, por causa de mim mesmo. O Vasco também, eu só torci por causa do namorado da minha irmã e por causa de alguns jogadores que tinham.
P/1 – E seu pai era flamenguista?
R – Era.
P/1 – Você assistia jogo com ele?
R – Não. Eu era pequeno e ele nunca me levava. Quando ele ia jogar mesmo, no time... Ele tinha um time quando ele era goleiro, e ele não me levou. Eu era pequeno e ele não me levava. Mas ele falava que... Ele falou uma vez, que eu lembro, que o sonho dele era ver eu crescer e ser jogador. (pausa) Eu comecei a assistir jogo por causa dele. Tentava arrumar um time para jogar, só que eu não conseguia. Aí comecei a estudar na Pestalozzi, falei: "Vai ser aqui mesmo que eu vou começar a tentar um sonho para ver se eu consigo alguma coisa". Todo mundo começou a falar: "Para". Eu já pensei de parar, falei: "Vou tentar outra coisa, vai que jogador não dá certo.". Só que eu não consigo, não adianta. Eu tento procurar outra coisa, mas não... Os outros falam: "Por que você não para de jogar bola e não procura?". Não consigo. Não tem como. Lá em casa, tem um campo perto de casa, eu fico direto jogando. Sábado, eu joguei. Sábado agora vai ter jogo, só que eu acho que eu vou sair. Mas eu vou ver, se tiver, eu vou. Os meninos já me chamaram. Já era para eu estar em quatro times. Eu já fiz teste lá no Corinthians, lá no Itaquera… no Itaquera não, no Parque São Jorge, mas era para campo, só que tinha que fazer o teste dentro da quadra. Passar, eu passei, só que eu não fiquei porque ele ia fazer outro teste e tinha que passar no médico. Aí, eu saí. Os outros dois meninos ficaram. Eu não fiquei porque eu falei: "Ah, não adianta eu ficar aqui me matando na quadra.". A professora que me encaminhou falou para o professor de lá que eu era campo. Por quê? Porque eu corro bastante, na quadra não tem como. Na quadra, se eu for correr... Além de os meninos não me pegarem direito, eles conseguem, só que para eu correr, minha velocidade já é de campo. Por causa do meu pai também, que eu sempre gostei de futebol. Eu vejo a foto dele de goleiro... Eu falo: "Meu sonho é goleiro ou jogador, um dos dois.". Ele é goleiro, na foto, ele está de goleiro. Só que eu falo: "Um dos dois eu vou ser, ou goleiro ou jogador.".
P/1 – Você já é, né? (risos)
R – Falta só arranjar um time para eu ficar. Agora, eu não sei. Apesar que eu já estou no time da escola, só que se a escola não for fazer mais o treino, aí vou ter que ficar em outro.
P/1 – Geison, a gente falou um pouco da sua história de vida aqui, tem alguma coisa que você acha importante deixar registrado?
R – Não sei.
P/1 – O que você achou de contar a sua história aqui?
R – Ah... Normal.
P/1 – Queria agradecer.
FINAL DA ENTREVISTA
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