Projeto: A Economia Solidária na Vida das Pessoas
Entrevista de Carlos Alencastro Cavalcanti
Entrevistado por Bruna Oliveira
Entrevista concedida via Zoom (São Paulo/Curitiba), 03/06/2023
Entrevista n.º: IPS_HV007
Realizada por Museu da Pessoa
P/1 – Seu Carlos, para começar eu queria que o senhor dissesse seu nome completo, a data e o local do seu nascimento?
R – Carlos Alencastro Cavalcanti, nascido em 20 de julho de 1956, na cidade de Itabaiana, Paraíba.
P/1 – Contaram para o senhor como foi o dia do seu nascimento?
R – Não tenho conhecimento.
P/1 – E quais os nomes do seus pais?
R – O nome do pai não consta, consta apenas o nome da mãe, Ermelinda Carolina Cavalcanti.
P/1 – E o que ela fazia?
R – Doméstica, do lar, comerciária.
P/1 – E como que o senhor descreveria ela?
R – Uma mulher calma, tranquila, muito trabalhadora, muito educada, viveu dias difíceis em sua existência, mas sempre com muita garra, muita disposição pela vida.
P/1 – E o senhor tem irmãos?
R – Sou filho único.
P/1 – E como era a sua relação com a sua mãe quando você era mais novo?
R – Eu posso dizer que foi uma relação não tranquila, embora ela era uma mulher calma, mas talvez até pela própria época, anos atrás era uma relação, enquanto eu criança tinha a relação de obediência, e a gente seguia nessa linha, a partir da minha adolescência, ao avançar nos estudos, até acho que contribuiu também a vivência social com outras pessoas, fui um pouco rebelde.
P/1 – E você chegou a conhecer os seus avós?
R – Materna, conheci, também uma pessoa… Foram poucos anos de convivência, mas uma pessoa muito doce, que talvez até certo ponto da minha infância, foi uma vivência com duas mulheres, que eram mãe e filha, foi uma relação, posso dizer, embora de certa forma rígida, mas também com muita doçura, com muito carinho.
P/1 – E tem alguma história assim, alguma lembrança que você lembre com...
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Entrevista de Carlos Alencastro Cavalcanti
Entrevistado por Bruna Oliveira
Entrevista concedida via Zoom (São Paulo/Curitiba), 03/06/2023
Entrevista n.º: IPS_HV007
Realizada por Museu da Pessoa
P/1 – Seu Carlos, para começar eu queria que o senhor dissesse seu nome completo, a data e o local do seu nascimento?
R – Carlos Alencastro Cavalcanti, nascido em 20 de julho de 1956, na cidade de Itabaiana, Paraíba.
P/1 – Contaram para o senhor como foi o dia do seu nascimento?
R – Não tenho conhecimento.
P/1 – E quais os nomes do seus pais?
R – O nome do pai não consta, consta apenas o nome da mãe, Ermelinda Carolina Cavalcanti.
P/1 – E o que ela fazia?
R – Doméstica, do lar, comerciária.
P/1 – E como que o senhor descreveria ela?
R – Uma mulher calma, tranquila, muito trabalhadora, muito educada, viveu dias difíceis em sua existência, mas sempre com muita garra, muita disposição pela vida.
P/1 – E o senhor tem irmãos?
R – Sou filho único.
P/1 – E como era a sua relação com a sua mãe quando você era mais novo?
R – Eu posso dizer que foi uma relação não tranquila, embora ela era uma mulher calma, mas talvez até pela própria época, anos atrás era uma relação, enquanto eu criança tinha a relação de obediência, e a gente seguia nessa linha, a partir da minha adolescência, ao avançar nos estudos, até acho que contribuiu também a vivência social com outras pessoas, fui um pouco rebelde.
P/1 – E você chegou a conhecer os seus avós?
R – Materna, conheci, também uma pessoa… Foram poucos anos de convivência, mas uma pessoa muito doce, que talvez até certo ponto da minha infância, foi uma vivência com duas mulheres, que eram mãe e filha, foi uma relação, posso dizer, embora de certa forma rígida, mas também com muita doçura, com muito carinho.
P/1 – E tem alguma história assim, alguma lembrança que você lembre com carinho dessa época da infância?
R – Tem, embora tenha também, um finalzinho que não é tão alegre, mas a experiência em si foi interessante, eu também tive a experiência de convivência com primos, e nessa relação a gente também quando se encontrava aprontava as nossas, em uma época de mês de junho, onde lá no nordeste é típico as comidas de milho, e algumas frutas também da região, eu, o meu primo e uma prima acabamos fugindo de casa com o pretexto de ir colher milho para comermos pamonha, isso nós tínhamos sete, oito anos de idade, por aí, e para onde a gente foi buscar esses milhos, era uma cidade com, pelo menos, seis quilômetros de distância, e nós éramos crianças e fomos a pé, sem nenhum meio de transporte, e saímos sem, lógico, sem avisar ninguém e sentiram nossa falta, começaram a buscar por nós, e um conhecido na estrada acabou encontrando conosco, nos levou até o local onde a gente queria encontrar os milhos, nos trouxe de volta, e para fechar a história, cada um tomou uma bela surra como se diz lá no nordeste.
P/1 – E como eram os nomes desses seus primos?
R – Renato e Elisabete.
P/1 – Você falou da pamonha, mas tinha alguma outra comida ou algum cheiro, ou alguma data comemorativa que lembra a sua infância?
R – Sempre o São João, é a data que é mais característica do nordeste e que eu tenho mais lembrança, sempre a questão da fogueira e do milho assado na fogueira.
P/1 – Tem alguma história de algum São João boa?
R – É mais ou menos isso que eu já coloquei.
P/1 – E como era a casa e a rua que o senhor passou a sua infância, você lembra?
R – Era uma rua de terra na época, bem no começo da rua a casa era razoavelmente aconchegante, construída em alvenaria,com um certo conforto da época, energia, água, basicamente isso.
P/1 – E como era a cidade na época?
R – Uma cidade interiorana da Paraíba, porém ainda na época era uma cidade relativamente bem sucedida, porque vinha de um ciclo de comércio de gado na época, então Itabaiana foi uma cidade muito próspera para alguns poucos na vida da Paraíba.
P/1 – Nessa época na sua infância, quais eram suas brincadeiras favoritas?
R – O cavalo de pau, o cavalo de pau, foi um dos primeiros presentes que eu lembro que ganhei, tinha no começo do vara uma cabeça do cavalo feita em madeira, e aquilo para mim era o brinquedo mais importante naquele momento, correr com aquele pau.
P/1 – E onde que o senhor estudou?
R – O ensino que na época tinha como ensino primário e o ginásio foi lá mesmo em Itabaiana, na Paraíba.
P/1 – E teve alguma memória da época da escola, ou algum professor que foi importante naquela época?
R – Sim, sim, tem uma professora na época de nome Gilda, era uma professora de artes e a principal disciplina dela era a música e muito embora eu me esforçasse para tentar aprender não consegui, mas tinha muito apreço por essa professora, dona Gilda.
P/1 – E como que foi estudar, assim, naquela época, como que seguiu a sua formação? Até que série o senhor estudou naquela época?
R – Lá eu concluí o ensino primário, na época do primário, para se chegar no ginásio se prestava um exame de admissão, eu fiz, prestei esse exame, fui incluído no ginásio, e lá no colégio Antônio Batista eu concluí o ginásio.
P/1 – E nessa época o senhor estava já entrando na juventude, né? Como que foi esse momento da juventude? O senhor contou que foi um pouco rebelde, como que foi esse momento?
R – Então, é mais ou menos nessa época que começa um pouco da minha rebeldia com o contato com outras pessoas que até então eu não conhecia, e outros mundos que também não conhecia, como por exemplo, foi aí que eu tomei conhecimento de um colega no colégio de Fabio Mosan, que criou um grupo de teatro chamado “Jet”, e através desse grupo de teatro eu tomei contato com o teatro do oprimido, foi imbuído por essa experiência que comecei a minha rebeldia e resistência para uma vida de um país mais socialista e democratico.
P/1 – E o senhor participava do Teatro do Oprimido, como que era?
R – Eu não participei diretamente como ator, mas participei acompanhando o grupo e de alguma forma fazendo parte da produção.
P/1 – E o senhor se divertia como, era com eles, era sozinho, como que o senhor se divertia na sua adolescência?
R – Era enturmado, encantado com esses novos conhecimentos, com as novas pessoas, porque, como disse lá atrás, na infância, muito embora tinha o carinho tudo, mas era limitado, era… Não podia ter muito contato externo, então quando eu me vi com um pouco mais de liberdade aí me senti que era o momento de criar caminhos próprios.
P/1 – E nessa época tinha alguma profissão ou algum sonho que o senhor queria seguir no futuro? Ou não passava isso pela sua cabeça?
R – Ainda não, era leva a vida, deixa a vida me leva.
P/1 – E era na mesma cidade essas experiências novas?
R – Ainda lá em Itabaiana.
P/1 – E nessa época o senhor já trabalhava ou ainda não?
R – Ainda não, a minha vida até então, isso já tinha dezesseis, dezessete anos, ainda era sustentado pela mãe.
P/1 – E como que foi, como que seguiu a sua vida depois dessa experiência no teatro do oprimido, acompanhando o grupo, como que se desenrolou a sua vida?
R – Aí chegou por volta de 18, 18 anos para iniciar a vida de trabalho, por força da própria família, os parentes, consegui entrar na polícia militar da Paraíba, também não me acertei muito bem, fiquei 1 ano, 1 mês e 10 dias, acabei sendo excluído, também não me adaptava com a atividade e acabava faltando com muita frequência, e chegou a um ponto que, por conta de comportamento, fui expulso da polícia militar da Paraíba.
P/1 – E depois que o senhor foi expulso, como que continuou?
R – Aí já com uns vinte anos, por aí, aí como tinha dificuldade em conseguir trabalho lá na cidade uma opção foi vir para São Paulo, chegando em São Paulo, na mesma semana, eu consegui ser admitido em uma empresa metalúrgica, ajudante geral em uma metalúrgica, no Jardim da Saúde,aí começou a minha nova fase profissional a partir desse emprego, que me levou a também a fazer um curso no SENAI, e galgar uma outra ocupação dentro da empresa, e seguir uma vida por algum tempo como metalúrgico.
P/1 – Antes da gente entrar nessa história como metalúrgico eu queria saber qual foi a primeira impressão quando o senhor chegou em São Paulo?
R – Se fosse possível teria voltado no mesmo dia, no mesmo ônibus, porque sem experiência, sem ter tido informação interior, cheguei em São Paulo apenas com camisas de magas curtas, e estava em um frio tremendo que nunca havia experimentado, se fosse possível teria voltado no mesmo ônibus, mas enfim, a necessidade me fez permanecer.
P/1 – O senhor veio como?
R – De ônibus, uma viagem de ônibus que durou em torno de três dias.
P/1 – E veio sozinho?
R – Sozinho, sozinho, já tinha uns parentes que residiam em São Paulo, e vim para ficar na casa desses parentes em São Paulo.
P/1 – E quais foram as primeiras dificuldades quando o senhor chegou aqui, além do frio?
R – Conseguir o trabalho, que demorou um pouco mais de uma semana… O convívio com as pessoas, já São Paulo é um ritmo acelerado, naquela época já era também, então isso foi lento para eu ir me adaptando.
P/1 – E nessa época que o senhor entrou na metalúrgica o senhor já se considerava militante?
R – Fundamentalmente não, mas a partir de um certo tempo eu já estava com um pouco mais de um ano na metalurgica, quando eu tomei contato com o sindicato, era momento de dissídio coletivo e aparecia muita gente de sindicato nas portas das empresas entregando folheto, coisa e tal, e foi aí que eu fui tomando contato, fazendo a comparação do que eu vi e ouvi sobre sindicato com aquela experiência que tinha lido do teatro do oprimido, fui juntando as coisas e falei: “ É isso aqui que é minha toada”, e foi por aí que vai seguindo.
P/1 – E como era a rotina na metalúrgica naquela época, como que era seu dia, como que o senhor trabalhava?
R – Era trabalho noturno, das 22h as 6h da manhã, durante o dia praticamente era para dormir. O sábado e domingo ainda era na frente da televisão, ou uma vez ou outra, em final de semana muito próximo ao pagamento, porque eu ainda tinha um pouquinho de dinheiro, era ir no parque ibirapuera, essa era minha caminhada de lazer e diversão em São Paulo nesse início.
P/1 – E quando o senhor chegou para que bairro foi?
R – Jardim da Saúde.
P/1 – Era no mesmo bairro da metalúrgica?
R – Sim, a metalúrgica era próxima a casa em que eu morava
P/1 – E como foi essa experiência da metalurgia para você?
R – Foi uma ótima experiência, porque foi aonde eu passei de fato a me reconhecer como trabalhador, fazendo parte ativa da vida, é isso, foi a partir daí que eu me senti parte da sociedade de fato
P/1 – E lá dentro da metalúrgica teve algum processo de greve, ou de alguma mobilização que o senhor participou? Como que foi?
R – Nessa primeira não propriamente, mas em outras aonde eu participei teve, teve paralisação, já era final dos anos 1970, então o auge das greves já tinha passado, mas ainda tinha algum ou outro movimento que a cada ano, por conta das necessidades e negociações por melhora de salário, sempre tinha uma ou outra empresa que entrava em greve, e algumas dessas empresas que eu participei também enfrentei e participei em períodos de greve.
P/1 – Quanto tempo que o senhor trabalhou em metalúrgica, e que momento vai para outro caminho profissional?
R – Meu período como metalúrgico foi entre doze e quinze anos, tanto em São Paulo como aqui em Curitiba.
P/1 – E como foi essa mudança para Curitiba? Em que momento teve ela?
R – É uma história um pouquinho delicada, mas a gente tenta resumir, isso já era os anos 1980, por volta de 1986, 1987, eu estava desempregado e nessa época ainda, hoje ainda deve ter, mas naquela época era muito mais, a Praça da Sé a noite se transformava em uma escola política, eram vários grupos que se reunião discutindo política na Praça da Sé, e nesses grupos eu conheci uma pessoa que também estava desempregada e era uma pessoa que tinha uma vivência sindical mais longa do que a minha e nesse sonho socialista a gente imaginou fazer uma viagem para chegar no Peru, sair de São Paulo para chegar no Peru, tentar participar de movimentos lá, aprender técnicas de guerrilha, e voltar para o Brasil. Nessa conversa participamos três pessoas, quando decidimos fazer a viagem, um já desistiu em São Paulo mesmo, como não se tinha recurso para fazer uma viagem direta, sair de São Paulo, então a ideia era sair de cidade em cidade, fazer parada, ficar um tempo, arrumar trabalho, juntar um dinheirinho, e seguir, e a primeira escala era São Paulo, Curitiba. Esse caminho, porque essa pessoa que eu resolvi me juntar nessa empreitada dizia ter parentes em Curitiba, aí a ideia era vir a Curitiba, passar um tempo com esses familiares dele, trabalhar e seguirmos viagem, o que aconteceu? Em Curitiba, na rodoviária, esse cidadão me falou para esperar um pouco por ele, que ele iria na casa dos familiares preparar o terreno e viria me buscar, até hoje estou esperando esse cidadão, até hoje estou esperando esse cidadão. O pouco de dinheiro que eu tinha no bolso, comprei um… Isso era um domingo, conversando nas bancas de jornais eu descobri o jornal que tinha um caderno de emprego, comprei esse jornal, isso já era o final da tarde para início da noite. Fui me localizando no centro de Curitiba, descobri um hotelzinho bem barato, e foi aí que eu cheguei e fui ficando em Curitiba, de posse com esse jornal, já fui grafando algumas vagas que eu poderia pleitear, e já na segunda-feira, mesmo sem conhecer nada da cidade, apenas me orientando por informação, fui ao local onde tem o maior número de empresa aqui em Curitiba que é chamado a cidade industrial, e por sorte, a bem do destino me conduzindo, nesse mesmo dia eu consegui entrar em uma metalurgica, e a partir daí começou a minha história em Curitiba.
P/1 – E como foi esse momento de chegar sem conhecer nada e não ter muitas perspectivas de como ia se seguir, como o senhor lidou com isso?
R – De certa forma, posso dizer que com tranquilidade, imbuído, como disse antes, uma vez que eu me considero monoteista eu também busco ter essa relação de fé e sobretudo, de esperança, a esperança do esperançar.
P/1 – E depois da metalúrgica que você trabalhou em Curitiba como que se deu a sua trajetória profissional aí na cidade?
R – Isso já era governo, não me recordo bem o governo da época, mas foi onde o Brasil voltou a uma recessão, onde também começou a ter o esvaziamento de emprego, e sobretudo de salário, e me vi mais uma vez desempregado. A essa altura comecei a fazer novos cursos, buscar novos caminhos, uma vez que eu não estava conseguindo me recolocar na metalúrgica, passei a fazer cursos buscando novos caminhos, fiz curso de padeiro, fiz curso de pizzaiolo, trabalhei como garçom, trabalhei como copeiro, e trabalhei como recepcionista de hotel, então eu fui até então eu fui uma pessoa extremamente profissionalizada, mas mesmo assim vez ou outra experimentava o desemprego, até chegar o ano de 2000 e eu não ver outra perspectiva a não ser enxergar no que convencionalmente se chama de lixo uma possível saída. Eu, na época, tinha três filhos pequenos que ainda dependiam extremamente de mim, e uma dificuldade de relacionamento em casa também, por conta muito desses meus desempregos, por conta da falta de recurso, para custear até o básico da própria família. Até que um dia em uma noite de natal, eu fui passar essa noite com uma família e ao apagar da luz, cada um foi se acomodar, e eu fiquei por ali o observando o que sobrou, talvez mais para ajudar na organização do ambiente, do que propriamente no trabalho, mas também me despertou a curiosidade de que o que sobrou ali também poderia se tornar um dinheiro. O que que eu fiz? Mesmo sem saber o que tinha valor, ou qual valor, coloquei tudo dentro de um saco, e na manhã seguinte procurei um local que compra material reciclável e fui lá, com o dinheiro desse pouco de material que eu levei lá consegui chegar em casa com um pacote de 1kg de arroz e um pacote de feijão, eu ainda era fumante, também aproveitei e comprei uma carteira de cigarro, esse foi o meu primeiro recurso com material reciclavél. Percebendo que era possível fazer isso de forma alternativa eu passei, a mesmo envergonhado, porque não queria que as pessoa me vissem naquela situação, e sem ter um carrinho, uma coisa que pudesse me ajudar a ter um volume maior de material, eu passei a fazer essa catação com sacos nas costas, a noite, para que ninguém me visse. O espaço aonde eu vivia em casa acabou sendo um depósito de material reciclável, porque aí eu já fui percebendo que não adiantava eu passar a noite catando e de manhã levar para vender, porque o valor era quase insignificante, eu teria que ter um pouco mais de volume para compensar. Tinha um vizinho que já trabalhava na atividade, e foi esse vizinho que foi o meu primeiro professor na catação, me orientando no que valia a pena catar, o que era possível ter melhor condição de venda, foi a partir daí que iniciou a minha atividade na catação. E diante dessa necessidade eu fui me envolvendo cada vez mais, nessa buscas de trabalho, de convivência social, conheci uma organização chamada “---” Centro de Formação Urbano e Rural, aqui em Curitiba, e essa organização o foco dela é trabalhar a perspectiva da economia solidária e formação de empreendimento solidário nessa perspectiva, e me convidaram para participar de uma palestra, e essa palestra sobre economia solidária, sobre trabalho social, eu fui abrindo mais ainda a mente e na época essa organização estava desenvolvendo um projeto de padarias comunitárias. Como eu ainda não estava totalmente engajado com o trabalho com material reciclavél, deixei de lado a catação, e me engajei nas padarias comunitárias como vendedor de pão, mas também como eu já havia feito curso de padeiro, curso de pizzaiolo, também já tinha uma certa experiência na manipulação para a fabricação de pão, participei até de uma primeira oficina promovida pela prefeitura nessa área, e ao mesmo tempo que participava na padaria, uma coisa era ligada a outra, teríamos que participar de atividades da organização do _________, curso, treinamento, palestras, e eu fui cada vez mais me sobressaindo nesse conhecimento, até que passei a ser convidado para falar sobre o tema em diversos espaços, participei de diversos encontros estaduais, participei de conferências, fui eleito delegado para participar de conferências em Brasília, e fui cada vez mais me envolvendo, me encantando, e me realizando como pessoa. Nisso, como o valor que eu ganhava na padaria era baixo também tentei conciliar com o material reciclável, até que conheci um pessoal ligado à paróquia no bairro que estava buscando também desenvolver no bairro um trabalho de geração de trabalho e renda, com base na orientação de um documento da CNBB esse pessoal estava buscando formar grupos de trabalho no bairro, e um dos grupos de trabalho que foi identificado, como no bairro existia um número expressivo de pessoas trabalhando com material reciclável, então o material reciclável foi uma das ações a ser acolhida pelo grupo de trabalho para tentar fomentar uma associação de catadores. E é aí que começa, que começa de fato, a minha atividade coletiva com material reciclável, a partir de uma associação no bairro fomentada por uma organização religiosa no bairro.
P/1 – Até então era um trabalho individual a catação para você?
R – A Catação individual foi até aí, a partir daí passei ao coletivo, e com essa experiência acumulada eu já não era só o associado, eu também passei a desenvolver a militância na catação. Até que através de um evento fui convidado a conhecer o trabalho do Movimento Nacional de Catadores, fui participar de uma formação com o movimento nacional de catadores, e a partir dessa formação abracei a causa e me tornei não só um catador, mas também um militante pela causa, tanto pela causa dos catadores, quanto pela economia solidária.
P/1 – E a quanto tempo o movimento nacional já existia? Quando o senhor entrou ele já existia, mas a quanto tempo?
R – Sim, o Movimento Nacional de Catadores, ele surgiu em 2001, e eu me engajei ao movimento a partir de 2004, 2005, e de forma mais efetiva com a minha participação no congresso latino americano que aconteceu na cidade de São Leopoldo, aí eu já participei de forma concreta do evento como coordenador de atividades no evento.
P/1 – O senhor é coordenador do Movimento Nacional?
R – Hoje estou como um dos Coordenadores Nacional do Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis.
P/1 – E eu queria saber um pouco mais sobre essas formações que o senhor teve no começo do trabalho de catação, como foram, se elas contribuíram para o senhor se organizar coletivamente?
R – Sim, o processo de formação ele é fundamental e a gente tem um norte de buscar a trabalhar nessa formação de forma contínua, só que essa formação que a gente busca desenvolver, quanto movimento social organizado, ela é pautada na educação popular, e essa educação popular é de certa forma, dentre os muito educadores populares que existem, o que a gente procura mais trabalhar é o método de Paulo Freire.
P/1 – Carlos, no começo você contou que você tinha vergonha, e você se referiu o que você achava que era lixo, foi nessa época que você entendeu que os recicláveis não eram só lixo e que você deixou de sentir vergonha da catação? Como que foi essa virada de chave?
R – Então, é interessante isso, ao mesmo tempo que isso também foi um processo pedagógico para mim de formação, ao mesmo tempo em que eu estava tirando o meu sustento, e o sustento da minha família dalí, as formações me ajudaram a compreender que não era uma atividade apenas econômica, a minha atividade também estava contribuindo com a vida do bem estar ambiental do meu vizinho. Então, a nossa causa não é tão somente pela sobrevivência, ela também vai além da sobrevivência, vai além do econômico, e se espalha ao social e o ambiental
P/1 – Nessa época do início, e depois quando o senhor se engaja no movimento nacional eu queria saber qual que era, se se sentir confortável, qual era a posição da sua família, como a sua família enxergava o seu trabalho?
R – Como eu tinha que dividir o meu trabalho com as formações que eu participava, com as saídas que eu estava fazendo, eu não conseguia dar conta do trabalho, aí meus filhos já passaram a contribuir comigo onde eu fazia o trabalho da catação, eles faziam a separação, e a gente vendia coletivamente, os meus filhos tiveram grande participação para que eu tivesse a minha vida de militância desenvolvida.
P/1 – Eu queria saber qual é a vantagem de trabalhar coletivamente em vez de trabalhar sozinho?
R – Tem algumas diferenças, entre elas, quando o Carlos trabalha sozinho, o Carlos vende o que cata sozinho, tem um valor, quando o Carlos está associado, o Carlos já não vende sozinho, o comprador quando vai comprar vai comprar da associação, não vai comprar do Carlos, isso por si só já melhora a renda do Carlos, pelo volume que é comercializado a renda do Carlos já melhora, e não menos importante, o trabalho coletivo ele resgata a cidadania, ele empodera as pessoas, é fundamental. Não podemos dizer que não deva existir trabalho individual, o ideal era que não houvesse, o ideal seria que a sociedade enxergasse essa possibilidade de sair das crises até, sobre tudo de emprego, se organizando coletivamente para gerar trabalho e renda, basicamente eu resumiria dessa forma a diferença entre trabalhar individual e o trabalhar coletivo.
P/1 – E quando o senhor começa a trabalhar e a militar provavelmente tinham catadores que não eram militantes, né? Como que se dava esse processo de falar para eles, de conversar com eles também?
R – Hoje ainda, muito mais que aquela época para trás, esse processo de organização sempre se dá partindo da iniciativa de uma organização não governamental, seja da sociedade civil, seja vinculada a igreja, ou até mesmo por iniciativa do poder público municipal, raramente acontece ainda hoje, raramente acontece o trabalho associado por vontade própria das pessoas, são poucas organizações que se iniciam dessa forma, então é fundamental que o trabalho do convencimento de que se dá fundamentalmente mostrando as diferenças entre o trabalho individual e o associado. Basicamente o convencimento se dá pela melhoria da renda, esse é o fator primordial para que as pessoas venham para a associação, para uma cooperativa.
P/1 – O senhor estava falando que também militou pela economia solidária no geral, aí eu queria saber se tem alguma história, se o senhor chegou a conhecer o professor Paul Singer?
R – É interessante, é marcante falar de Economia Solidária e não lembrar o mestre Paul Singer, eu tive a oportunidade de conviver com o mestre na Secretaria de Economia Solidária quando eu exerci a participação no Conselho Nacional de Economia Solidária, e por algumas vezes eu o acompanhei, o professor a eventos do Movimento Nacional de Catadores realizado especialmente em São Paulo, onde o Movimento Nacional de Catadores geralmente tem um evento chamado Expocatador, e em alguns desses tive o privilégio de acompanhar o professor nesse evento. E o evento mais marcante que eu tenho na memória em participar com o professor Paul Singer foi em uma audiência na câmara onde foi feita uma homenagem em um dos seus aniversários, eu tive a oportunidade de participar com ele nessa mesa, foi um momento marcante que eu guardo vivo na memória a relação com ele.
P/1 – O senhor falou que participou do Conselho de Economia Solidária, como foi essa experiência?
R – O Conselho de Economia Solidária ele foi fundamental para a realização das conferências, da experiência que eu trago marcante de minha participação no conselho, e até mesmo como, posso dizer que foi um dos grandes legados do mestre Paul Singer, a lei 12690 que trata das cooperativas de trabalho, e é por conta dessa lei, muita gente desacreditou, muita gente teve dificuldade de compreender, e entre essas pessoas eu me situo. O próprio movimento tem dificuldade em compreender essa lei 12690 porque é uma lei que ela, o Paul Singer imaginava que com essa lei o trabalhador associado teria melhor qualidade de vida, e eu comprei essa ideia, eu entendo a lei dessa forma, então eu acho que ao meu ver um dos marcos de legado da passagem do Paul Singer na economia solidária é a lei 12690.
P/1 – Que lei é essa? Ela fala sobre o quê?
R – É uma lei que regulamenta as cooperativas de trabalho no Brasil, e por essa lei as cooperativas de trabalho podem dar melhores condições de renda, garantindo uma renda de pelo menos um salário mínimo para cada associado.
P/1 – E além dessa lei, durante a existência da SENAES, se você pudesse contar um pouco quais políticas abarcaram os catadores? Eu sei que tem um programa? Quais foram os impactos dessas políticas, quais foram essas políticas que abarcaram vocês?
R – A existência da Secretaria de Economia Solidária para os catadores foi fundamental, muito embora os diversos órgãos do Governo Federal se — recursos para catadores, mas de certa forma esse recurso também passava secretaria de Economia Solidária em seus projetos, em seus editais, eu posso dizer que dentre os programas mais importantes foi o cataforte, o cataforte tivemos o Cataforte 1, 2 e 3, e o programa cataforte foi uma política tão, tão interessante, que acabou expirando até um outro programa voltado para o campo que foi o terraforte, então hoje, no atual governo, nós também estamos lutando para que se volte a essa experiência e se aprimore para que possa fortalecer o cooperativismo de catadores no brasil.
P/1 – Como que essas leis, esses programas impactaram as vidas dos catadores?
R – A gente pode situar os catadores no antes e depois, por exemplo, ser catador, ser catadora, hoje no Brasil é ter uma ocupação reconhecida na CBO, a CBO é a classificação brasileira de ocupações vinculada ao ministério do trabalho que regula as ocupações, regula e reconhece as ocupações profissionais no Brasil. Então, nós tivemos esse reconhecimento já em outubro de 2002, tivemos outros marcos importantes que a gente pode citar, por exemplo, a lei 11445 que é a lei que hoje já tem um outro nome, um outro número, mas é a política nacional de saneamento básico, por essa lei, que foi estabelecida em janeiro de 2007, os catadores podem ser contratados com despesa de licitação, então hoje os municípios têm a possibilidade de cumprir uma marco legal, fazendo com que os catadores organizados participem efetivamente da coleta seletiva do município, não menos importante temos a política nacional de resíduo sólido. Essa política nacional de resíduo sólido ela reafirma esse quesito que citei anterior da contratação, e estabelece o marco social reconhecendo o resíduo sólido como um bem econômico que gera trabalho e renda, então a existência de um marco legal tem fortalecido essa relação e atividade dos catadores no Brasil, aí a gente citou, como coloquei antes, o antes eo depois da história.
P/1 – Tem alguma amizade ou parceria que você gerou depois da sua participação militante dentro do movimento nacional dos catadores que você quer contar sobre ela?
R – Por gentileza, você pode repetir a pergunta? Acho que eu não peguei bem
P/1 – Posso, posso sim, sem problemas, queria saber se tem alguma amizade ou parceria que foi importante para o senhor durante a sua militância?
R – Sim, fora do movimento eu posso citar uma pessoa que foi secretário na secretaria de economia solidária, que é o professor Roberto residente em Rio grande do Norte, uma pessoa que dessa experiência eu guardo e sempre tenho contato com ele, porque foi uma relação muito gratificante o ter conhecido.
P/1 – Seu Carlos, quais foram os momentos mais marcantes da sua participação no movimento nacional?
R – Talvez foi, acredito, dentre alguns que eu possa citar, o mais importante foi ter em um evento… Abraçar o Lula, ter essa oportunidade de estar em um evento de catadores e estar ao lado do presidente e o abraçar, isso foi marcante e sempre será lembrado a minha história.
P/1 – E como foi esse dia? Me conta um pouquinho como foi esse dia que o senhor conheceu ele
R – Nós tínhamos realizado aqui no Paraná um encontro de mulheres, esse encontro ele foi realizado no litoral do Paraná, mas para fechar o encontro foi realizado uma marcha de mulheres catadoras em Curitiba, e nesse dia ele veio a Curitiba recepcionar as catadoras, e foi nesse momento que eu tive oportunidade de estar lado a lado com ele, e abraçá-lo pessoalmente.
P/1 – Tem outra história dentro do movimento que o senhor lembre assim que foi marcante?
R – Dentro do movimento tem, eu ter abraçado a causa militante dos catadores me promoveu algumas oportunidades, dentre essas oportunidades, por exemplo, marcantes, eu posso citar conhecer outros países e uma dessas visitas que eu tive a oportunidade de fazer foi ir a Nova Iorque, em ocasião que estava acontecendo uma assembléia geral da ONU, e ter, fazer parte de uma comitiva de catadores fora do Brasil, em um evento da ONU, foi fantástico.
P/1 – O senhor lembra quando foi para lá como que foi? Quando pisou lá em Nova Iorque como que foi esse dia?
R – O primeiro impacto é ter a notícia, você um catador, jamais esperaria de que viesse a conhecer Nova Iorque, se quer ter essa possibilidade de, então ter recebido a notícia, ter ido aos Estados Unidos acompanhando uma comitiva do governo federal foi emocionante, gratificante, entrar no avião para fazer uma viagem internacional, isso é marcante para o catador. Hoje talvez a gente já faz isso com mais tranquilidade, mas a primeira sempre é emocionante.
P/1 – Seu Carlos, você acha que o trabalho associado mudou a sua vida ou o jeito de ver a vida?
R – Sim, sim, o trabalho associado ele se ordena por princípios, e tantos princípios da Economia Solidária, princípios do cooperativismo, princípios do Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis, a gente lendo os princípios, eles acabam sendo repetidos, reproduzidos, e tem a mesma finalidade, que talvez eu destaco como os mais importantes é a cooperação e a solidariedade. Então, o trabalho associado, ele revoluciona as pessoas dessa perspectiva de buscarem se construir coletivamente.
P/1 – E como você enxerga o futuro do trabalho da catação e também do movimento nacional dos catadores no futuro?
R – Gostaria que esse futuro seja longevo, por tudo que se caminhou até aqui, o futuro da catação, ele sem dúvida, por tudo que a gente vivencia, e de inovação tecnológica, a catação também vai ter que caminhar nessa perspectiva, de se fortalecer do ponto de vista tecnológico, o movimento também tem que acompanhar a evolução da sociedade e a gente imagina que o movimento possa vislumbrar, cada vez mais, trazer e difundir conhecimento para que possa ter mais catadores integrados conosco.
P/1 – O senhor contou no início que voltou a estudar,está cursando administração, mé? Eu queria saber como foi esse movimento de voltar a estudar?
R – Muito embora eu tenha ficado muitos anos afastado dos bancos escolares, mas nunca abandonei o hábito de ler, nunca abandonei buscar conhecimento, e sempre alimentei a expectativa de ter uma graduação. Já havia tentado antes um outro curso, por conta das dificuldades tive que me afastar, mas diante do que a gente falou há pouco, diante da necessidade de se avançar para um futuro mais qualificado diante dessa perspectiva de inovação tecnológica que se vive no mundo, eu sempre alimentei esse desejo de voltar a faculdade, e por iniciativa de uma relação da faculdade que eu estou com uma organização social aqui em Curitiba foi possível eu ganhar uma bolsa, e essa bolsa é integral, e quando essa oportunidade me chegou eu falei: “ Esse é o momento que eu vou entrar e vou até o fim.” É um curso de duração de quatro anos que se iniciou no segundo semestre de 2019 e termino agora em junho de 2023, com a graduação bacharelado em administração de empresas.
P/1 – Carlos, como é o seu dia a dia hoje?
R – Muito embora eu continue me reconhecendo como um catador de material reciclável, porque a minha origem para estar onde eu estou hoje é essa, mas o meu dia a dia é praticamente participando de reuniões, de eventos, momentos como esse aqui agora, meu dia a dia é isso. É a militância pura, é incidência pura, junto a organizações não governamentais, junto a poder público, então o dia a dia é isso, é atividade de militância.
P/1 – E nas horas de lazer o que que o senhor gosta de fazer?
R – Dançar, dançar, é o meu lazer, é aí que eu recupero as energias.
P/1 – Gosta de dançar o quê?
R – Aqui no Sul, é muito comum principalmente nós, mais de idade, baile da terceira idade, e a música é a música gaúcha, principalmente o xote.
P/1 – Seu Carlos hoje em dia você tem algum relacionamento?
R – Pode repetir?
P/1 – Se você é casado, se tem algum relacionamento?
R – Sim, sim, tenho uma relação afetiva, que já dura alguns anos.
P/1 – Aí o senhor só conta se quiser, mas como se conheceram, você conheceu a pessoa que você está junto?
R – Por incrível que pareça, esse foi um dos benéficos que a internet me trouxe, nós nos conhecemos através de um aplicativo de namoro chamado, até não sei se ainda existe é, “Badoo”, um aplicativo chamado “Badoo”, nós nos encontramos nesse aplicativo e conversando, conversando, fomos criando afinidades até chegar a ao passo de nos unirmos definitivamente.
P/1 – E como se chama?
R:Ana, Ana Maria.
P/1 – E você tem filhos, né? Você contou, você quer contar um pouco do seus filhos, quais são os nomes deles, como foi se tornar pai?
R – Eu me tornei pai já, talvez, pelo costume e cultura brasileira, talvez pelo costume brasileiro de achar que tem que ter pai e mãe cedo, eu já fui pai com mais de 30 anos, então eu tenho três filhos, o mais velho é o Jonathan, o do meio é o Vladimir, e a menina é Ana. Eu, como pai, pela experiência que eles adquiriram pela vida, eu me sinto realizado como pai, foram, eu posso dizer, que embora sejam pessoas relativamente dentro da classe pobre, mas todos encaminhados com seus trabalhos, e por incrível que pareça eu também tive uma participação fundamental na vida profissional deles, foi a partir dessas minhas vivências e conhecimentos que pude encaminhar eles para projetos de primeiro emprego, e por aí nessa toada, e cada um a partir da sua experiência criou vida própria.
P/1 – E o senhor tem netos?
R – Tenho, tenho três netos também, que são Eduardo, Kauan e Mariana. A Mariana é filha da minha filha, e o Eduardo e o Kauan são filhos do Jonathan que é o mais velho, o filho do meio que é o Vladimir não tem filhos ainda.
P/1 – Seu Carlos, eu queria perguntar como que o coronavírus impactou a sua vida, a militância, o movimento nacional dos catadores, como que foi esse momento?
R – Sem dúvidas causou impacto a todos nós, e não foi diferente na vida dos catadores, mas também trouxe fatos positivos, os fatos positivos, por exemplo, eu citaria hoje, por exemplo, que não acontecia antes, a gente imaginava que sempre que precisava fazer uma reunião tinha que ser presencial, a pandemia nos trouxe essa possibilidade de dizer - “Olha, você podem se reunir aonde vocês quiserem, a onde estiverem, isso foi um ponto positivo que a pandemia trouxe, e manteve a atividade de certa forma com uma certa regularidade de atuação. Pontos negativos: A maioria dos empreendimentos tiveram dificuldade com baixa de material, de vários dias que não podiam trabalhar, porque não podia se aglomerar, então isso impactou bastante do ponto de vista da relação trabalho e renda.
P/1 – Agora me surgiram algumas questões que eu não tinha pensado antes, a primeira é quantas pessoas participam do movimento nacional assim, ativamente?
R – Por favor, pode repetir?
P/1 – Posso sim, sem problemas. A primeira pergunta, que eu queria saber, é quantas pessoas participam ativamente do Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis?
R – No Brasil, o Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis estima que somos em torno de 800 a 1 milhão de pessoas que vivem, que sobrevivem da catação, como movimento social organizado, nós temos em torno de menos de 10% do volume de pessoas que trabalham na atividade, temos aí em torno de 35.000 pessoas que de alguma forma estão vinculadas ao movimento, é mais ou menos esse número que a gente tem.
P/1 – E essa articulação nacional funciona como?
R – Hoje o nosso organograma já está um pouco defasado, mas a articulação nacional ela é fruto, ela é saída de dentro da comissão nacional, a comissão nacional, ela é constituída via de regra por dois representantes de cada estado, tem estado que já tem um número maior do que dois nessa composição, mas via de regra é isso. É duas pessoas por estado, e esse coletivo escolhe por região um representante para fazer essa articulação nacional, hoje a gente já trabalha com um conceito de articulação ampliada, onde já temos um coletivo maior, também saindo de dentro desse coletivo nacional, e é nesse sentido, essa equipe que vinculado a comissão nacional que é como, que funciona como se fosse uma assembléia na cooperativa, é esse coletivo que dá a diretriz para o movimento através dessa articulação nacional , que quando a gente busca desenvolver é pautado no que a comissão nacional orienta. É basicamente construir relações políticas visando chegar a políticas públicas.
P/1 – Seu Carlos, a gente já está se encaminhando para o final, são as perguntas finais agora, a primeira delas é: O Que que a economia solidária representa na sua vida?
R – Muito, muito, Como e por que esse muito? Porque foi através da experiência da economia solidária que eu cheguei até aqui, foi a economia solidária que me dá a utopia para seguir a caminhada da militância, é essa utopia da economia solidária que me inspira por ensejar um país mais justo, mais solidário, mais cooperativo, enfim. É isso que a economia solidária representa na minha vida.
P/1 – E o que é importante para você hoje?
R – O que é importante para mim hoje? Felicidade, e afinal quando falamos de felicidade geralmente as pessoas buscam inspiração para felicidade fora de si, e na verdade ela está dentro de cada um de nós, então é viver para ser feliz é olhar para si mesmo buscar fazer com que essa felicidade que temos impacte na vida de outras pessoas.
P/1 – E quais são os seus maiores sonhos?
R – Os meus sonhos, do ponto de vista pessoas acho que é viver por muitos mais anos, quero atingir puma longevidade, do ponto de vista operacional quero exercer a atividade que estou me formando, quero ser útil aos empreendimentos solidários a partir do meu conhecimento, é basicamente isso o meu sonho em relação a ao trabalho e vida pessoal.
P/1 – Seu Carlos, eu queria saber qual é o legado que você deixa para o futuro?
R – Por enquanto eu ainda não consigo vislumbrar que legado seria esse, mas eu acredito que a minha história, o meu exemplo de vida, quem o conheça possa ter como inspiração para construir algo novo.
P/1 – Eu tenho só mais duas perguntas finais, a primeira delas é se o senhor gostaria de acrescentar alguma coisa a sua história, que eu acabei não perguntando, ou deixar alguma mensagem?
R – Acredito que deixar uma mensagem nesse momento seja importante, e a mensagem que eu deixo é que viver vale a pena, lutar por dias melhores vale a pena, lutar por um Brasil cooperativo e solidário vale a pena, por isso finalizo viva a economia solidária, viva Paul Singer, viva o MNCR.
P/1 – Seu Carlos, como foi contar um recorte da sua vida hoje, um pouquinho da sua história para o museu da pessoa?
R – Acredito que é fruto da caminhada que a gente tem desenvolvido, ter chegado até vocês é o reconhecimento que alguém que nos conhece, acredita que vale a pena conhecer um pouco do que é o seu Carlos.
P/1 – Vale muito a pena conhecer o Carlos, muito obrigada seu Carlos, foi ótimo.
R – Eu que agradeço a oportunidade, e sempre que necessário e possível estou a disposição.
P/1 – Agradeço muitíssimo em nome do museu, em nome do instituto Paul Singer, em meu nome também, e vou entrar em contato para os próximos passos, primeiro é a licença para o senhor assinar para sua história pode ir ao ar, depois eu peço as fotos, o senhor vai ter um tempo para separar, e daí eu vou avisando, vai ter um certificado de participação que o senhor contou sua história de vida no museu da pessoa, eu agradeço muito, obrigada pela oportunidade de ouvir.
R – Eu agradeço e peço desculpa por ter demorado tanto tempo para a gente chegar a esse momento aqui.
[Fim da Entrevista]
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