Entrevista de Maria Aparecida dos Reis
Entrevistada por Luiza Gallo
São Paulo, 06/03/2022
Projeto: Aquilo que me move: Mobilidade e Diversidade - Arteris
Entrevista número: PCSH_HV1162
Realizado por: Museu da Pessoa
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Maria, primeiro eu quero te agradecer demais por estar aqui com a gente hoje. E para começar, vou pedir que você se apresente dizendo o seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Meu nome é Maria Aparecida dos Reis, tenho 44 anos, sou natural de Nova Odessa, Minas Gerais, e atualmente moro em Pouso Alegre.
P/1 - E que dia você nasceu?
R - Eu nasci na data do dia 04/04/1977.
P/1 - E quais os nomes dos seus pais?
R - Meu pai se chama Osvaldo Carlos dos Reis, minha mãe Maria Madalena de Assis Reis.
P/1 - E o que eles fazem, ou faziam… com o que eles trabalhavam?
R - Minha mãe sempre foi doméstica, e meu pai trabalha na zona rural, com gado, madeira, coisas que tem na fazenda. Trabalhava de funcionário na fazenda, aqui na região mesmo. Depois mudamos para Jacareí, São Paulo, ele foi trabalhar na indústria.
P/1 - E como você descreveria eles, o jeito deles?
R - Meu pai sempre foi muito trabalhador, mas sempre muito bravo, tolerância zero. Minha mãe sempre muito calma, muito serena e sempre muito alegre, sempre sorrindo, e meu pai sempre mal humorado. Tinha essas diferenças, os dois são bem complexos. Eu e meus irmãos temos muito o lado dele, acho que é o lado que mais impunha, o lado mais forte, e a gente acabou pegando o costume dele.
P/1 - Você tem quantos irmãos?
R - Nós somos em sete, são quatro homens e três mulheres.
P/ - E você está em que lugar dessa escala, a mais nova, a mais velha?
R - Eu sou uma das do meio, tem uma mais velha e uma mais nova.
P/1 - E como é a sua relação com seus pais e seus irmãos?
R - É bem tranquila, eu falo com todos, todos falam comigo, quando a gente vai lá, a gente ri muito, brinca muito. É que eu sou a ovelha...
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Entrevistada por Luiza Gallo
São Paulo, 06/03/2022
Projeto: Aquilo que me move: Mobilidade e Diversidade - Arteris
Entrevista número: PCSH_HV1162
Realizado por: Museu da Pessoa
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Maria, primeiro eu quero te agradecer demais por estar aqui com a gente hoje. E para começar, vou pedir que você se apresente dizendo o seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Meu nome é Maria Aparecida dos Reis, tenho 44 anos, sou natural de Nova Odessa, Minas Gerais, e atualmente moro em Pouso Alegre.
P/1 - E que dia você nasceu?
R - Eu nasci na data do dia 04/04/1977.
P/1 - E quais os nomes dos seus pais?
R - Meu pai se chama Osvaldo Carlos dos Reis, minha mãe Maria Madalena de Assis Reis.
P/1 - E o que eles fazem, ou faziam… com o que eles trabalhavam?
R - Minha mãe sempre foi doméstica, e meu pai trabalha na zona rural, com gado, madeira, coisas que tem na fazenda. Trabalhava de funcionário na fazenda, aqui na região mesmo. Depois mudamos para Jacareí, São Paulo, ele foi trabalhar na indústria.
P/1 - E como você descreveria eles, o jeito deles?
R - Meu pai sempre foi muito trabalhador, mas sempre muito bravo, tolerância zero. Minha mãe sempre muito calma, muito serena e sempre muito alegre, sempre sorrindo, e meu pai sempre mal humorado. Tinha essas diferenças, os dois são bem complexos. Eu e meus irmãos temos muito o lado dele, acho que é o lado que mais impunha, o lado mais forte, e a gente acabou pegando o costume dele.
P/1 - Você tem quantos irmãos?
R - Nós somos em sete, são quatro homens e três mulheres.
P/ - E você está em que lugar dessa escala, a mais nova, a mais velha?
R - Eu sou uma das do meio, tem uma mais velha e uma mais nova.
P/1 - E como é a sua relação com seus pais e seus irmãos?
R - É bem tranquila, eu falo com todos, todos falam comigo, quando a gente vai lá, a gente ri muito, brinca muito. É que eu sou a ovelha desgarrada, eu sou a única que mora longe e mora fora.
P/1 - Maria, você chegou a conhecer suas avós?
R - Sim, os avós por parte do pai morreram faz pouco tempo. Primeiro morreu meu avô, depois a minha avó, lá de Jacareí. Os pais da minha mãe são daqui do sul de Minas. Primeiro morreu o meu avô, e a minha avó está viva ainda, com 96 anos.
P/1 - E você sabe um pouco da história deles?
R - Muito pouco, sei que os meus pais contam. Todos foram nascidos e criados na roça, meu avô, minha avó, tanto por parte do meu pai como da minha mãe, sempre trabalharam nas fazendas aqui em Minas, sempre no sul de Minas, nessa região aqui mesmo.
P/1 - Maria, você tinha costumes familiares na infância, você tem recordação de eventos, datas comemorativas ou comidas, cheiros de infância?
R - Tenho da casa da minha avó, mãe da minha mãe, carne de porco, fogão a lenha, a comida dela, o cheiro, bolinho de chuva, é só sentir o cheiro que eu lembro dela, mas aquele cheirinho mesmo de fogão a lenha que é o que mais marcou, as vezes você sente mesmo que seja outro fogão, nem todo fogão tem o mesmo cheiro que era o cheiro da comida dela, alguns têm, alguns não.
P/1 - E você sabe a história do seu nascimento, como escolheram seu nome?
R - O meu padrinho, quando eu nasci. Eu nasci em casa, eu e meus irmãos nascemos nas mãos de parteiras, não foi no hospital, só dois irmãos que nasceram no hospital, um inclusive na porta do hospital, em Santa Rita do Sapucaí, o outro irmão nasceu no hospital de Jacareí. Eu e os outros nascemos na mão de parteira. Quando eu nasci e fui registrada, eu nasci em uma região de roça, de fazenda, perto da Terça, por isso eu sou registrada na Terça, porque fazia parte da comarca, mas na Terça eu nunca morei. O meu padrinho é muito católico, devoto a Nossa Senhora e falou para a minha mãe: “Vamos colocar o nome da menina de nossa mãe Maria Santíssima, Maria Aparecida”, assim foi escolhido meu nome, minha mãe queria que eu me chamasse Dalva, meu padrinho deu a opinião, meu pai aceitou e minha mãe que teve que aceitar.
P/1 - Você é a primeira das mulheres?
R - Não, eu sou a do meio, tenho uma irmã mais velha e uma mais nova.
P/1 - E qual foi essa idade que você cresceu na sua infância?
R - Eu fiquei um pouco aqui no sul de Minas, na fazenda, inclusive aqui perto. Com mais ou menos nove anos a gente mudou para Jacareí, eu fiquei em Jacareí até os meus dezesseis anos. Com dezesseis anos eu vim para Pouso Alegre, porque minha irmã mais velha era casada e morava aqui, eu vim para ajudar a olhar meu sobrinho, e por fim estou aqui até hoje. Voltei para Jacareí, fiquei um tempo lá, ganhei meu filho lá, depois voltei para Pouso Alegre, mudei outras vezes, mas sempre volto para Pouso Alegre, sempre estou aqui, depois que eu conquistei meu espaço aqui que eu comprei o terreno, construí minha casa, estou construindo, até hoje em fase de construção, mas estou aqui firme.
P/1 - Você lembra da sua casa onde você passou a sua infância, em uma casa marcante para você?
R - Quase todas foram bem marcantes, sempre foi muito difícil, minha mãe não trabalhava direito, meu pai alcoólatra, e a gente morava em umas casa muito ruins, uma condição muito complicada, um monte de criança. A gente passava muita necessidade, então tudo isso marca muito, porque quando você sofre meio que vira uma cicatriz. E uma das casas que foi a mais marcante, foi a casa que a gente morou lá em Jacareí, quando a gente mudou para lá, a gente foi morar nos fundos da casa da minha avó, dois cômodos, até então estava bom, para quem já morava em casa de fazenda estava no padrão, a família muito junto, muita briga, discussão, enfim. A minha mãe ganhou um terreno para morar com os filhos, porque meu pai estava muito debilitado por causa do vício, quase não conseguia trabalhar e aquela situação toda de alcoolismo. A minha mãe ganhou um terreno no outro bairro, perto do bairro onde minha avó morava, esse que a gente morava nos fundos, e a minha mãe foi para lá mesmo sem dinheiro, sem conseguir construir. Meus tios, minhas minhas tias ajudaram ela a comprar alguns materiais e fez um casebre de madeira, fez dois cômodos de madeira, de madeirite, e cobriu. Então nós fomos para lá, e lá era um terreno bem grande, até hoje a minha mãe mora lá, e é um terreno onde todo o lixo do bairro era depositado lá, tinha até cavalo morto quando nós fomos para lá, um monte de coisa, todo o entulho das casas que o pessoal ia construindo jogavam lá, porque era um terreno de barroca, terreno caído. A minha mãe pegou a melhor parte do terreno que era mais plana e construiu os dois cômodos. O vizinho emprestou a água e a luz. A gente ficou sete anos sem luz, e era a luz vela, sempre estava queimando o barraco, sempre pegava fogo em alguma parte da madeira, a gente era muito pequeno, todo mundo pequeno, meus irmãos e tal, enfim. Devagar minha mãe colocou água, colocou luz no nome dela, tudo certinho e hoje ela tem a casa que ela conseguiu construir, inclusive mora a minha irmã que construiu uma casa do lado, meu pai fez uma outra casinha para ele, meu outro irmão, está todo mundo junto lá.
P/1 - E que memórias você tem dessa época?
R - Para mim foi uma época muito difícil, porque eu trabalhava em casa de família, muita criança, mas para mim ainda era o melhor que tinha, porque em casa de família eu comia e bebia, que na casa da minha mãe não tinha, ela fazia mais para os meus irmãos pequenos, e era muito regrado, acho que uma das coisas que mais foi ruim, marcante, foi essa época mesmo, que eu chegava ali da casa de família não podia entrar em casa que o meu pai estava lá, bêbado, louco, querendo matar todo mundo, querendo bater em todo mundo. Então eu chegava da casa de família e ficava na rua conversando com as amigas, com o pessoal até que ele caísse no sono e eu pudesse entrar. Depois minha mãe me mandou para São Paulo para trabalhar na casa de uma madrinha dela, parente da minha mãe também. Tive minhas dificuldades, a prima da minha mãe, que era a dona da casa, me ajudou muito, me acolheu, me ensinou a escrever meu nome porque eu não sabia, já tinha quatorze anos nessa época. Primeiro, quando eu fui para casa dela eu tinha doze para treze anos. Quando eu estava mais ou menos com quatorze ela foi me ensinando a escrever meu nome, mas eu voltei para a casa da minha mãe em Jacareí porque o marido dela quis abusar de mim sexualmente, o marido da prima da minha mãe, e eu não podia falar pra ela que era a dona da casa. Minha mãe ensinava a gente assim, a gente que é pobre, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, então eu tinha que segurar, porque eu tinha medo de represália dela, eu não sabia, como eu era criança também não tinha muito raciocínio do que podia acontecer, então eu voltei para a casa da minha mãe em Jacareí, e fiquei lá até meus dezesseis anos, que eu vim para a casa da minha irmã em Pouso Alegre.
P/1 - Maria, com quantos anos você começou a trabalhar em casa de família?
R - Na verdade, assumir a casa, lavar louça, roupa, limpar tudo foi mais ou menos nessa época com onze anos. Mas com sete para oito anos eu olhava uma menina, uma criança, aqui perto de São Sebastião da Bela Vista, que é perto de onde a gente morava na fazenda. Tinha uma moça, tinha uma menina muito grande e ela não dava conta de cuidar da menina e da casa, e eu ia ficava lá com a menina, eu nem conseguia pegar a menina direito, a menina era bem fortinha, mas lá eu ficava com a menina. Então já era um empreguinho que eu tinha na época, tinha uma ocupação e ganhava por isso.
P/1 - E como você se sentia tão nova tendo tanta responsabilidade? Como era isso para você?
R - Quando eu era criança, adolescente, pré-adolescente, que é uma cabeça muito confusa, eu me sentia muito inferior, eu tinha um certo complexo de inferioridade, esse complexo durou até poucos anos atrás, porque quando você é criança, você escuta coisas que fica na sua cabeça para o resto da vida, se você não lutar para tirar, aquilo fica. E no meu caso, por eu ter o cabelo enrolado, o meu pai me chamava de negrinha, o meu pai é branco de olhos verdes, mas o cabelo dele é enrolado, e minha mãe é índia, então ele falava que eu não era filha dele, que eu era preta, porque a gente, na roça, queimava muito, o sol era muito escaldante, a minha pele era bem queimada, bem mesmo, ele falava que eu não era filha dele, que eu era negrinha, que eu era filha de um negão, então eu me sentia rejeitada por isso. Eu fiquei até pouco tempo me sentindo rejeitada, e parece que tudo que os outros falavam era para mim, até que eu mesma me curei, fiz uma terapia, enfim, fui melhorando, graças a Deus estou liberta desse sentimento, e a gente vai amadurecendo também, a gente vai entendendo algumas coisas.
P/1 - E como foi aprender a escrever seu nome?
R - Você acredita que até hoje quando eu tenho que escrever meu nome é por extenso! Eu escrevo como eu aprendi.
P/1 - Imagino. E como foi essa época?
R - Para mim foi um passo muito grande, eu fiquei maravilhada com aquilo, para mim era como se estivesse abrindo um portal para uma vida diferente, para uma vida de oportunidades, porque eu morava lá em São Paulo, um bairro que se chama Casa Verde, eu só andava ali na escola para levar as meninas da minha patroa e voltava porque eu tinha medo de andar, eu não sabia ler, então eu não podia pegar ônibus, porque como eu ia tomar ônibus ou metrô sem saber para onde estava indo, então eu fui aprendendo a ler, mas eu aprendi a ler muito depois.
P/1 - E brincadeiras, tinha tempo?
R - Nessa época não, já não brincava mais. Eu brincava quando morava aqui na fazenda, a gente brincava no final da tarde, tinha um campinho, às vezes a gente subia na árvore, fazia balanço, andava muito a cavalo, essas brincadeiras que a gente tinha. Boneca nunca tive, minha boneca era de espiga de milho, tinha umas espigas, tinha um cabelo bonito.
P/1 - Maria, quando você era pequena você pensava o que você queria ser quando crescesse, com o que você gostaria de trabalhar?
R - Até pouco tempo atrás eu achava que eu queria ter muito estudo, isso era um sonho que me preenchia de vontade, de força, eu queria muito estudar, eu sonhava, claro, sonhava ter um bom emprego, trabalhar em um edifício, imaginava tudo isso, eu imaginava que eu tinha que conhecer muitos lugares longe, eu tinha uma imensidão para desbravar, eu tinha isso mesmo, uma coisa dentro de mim, mas como a gente não tinha televisão em casa, então eu não tinha muita noção do que era o mundo, mas eu imaginava que era muito grande. Minha mãe falava assim: “O mundo era muito grande”. Então eu tinha curiosidade de conhecer os lugares mais longes que eu pudesse ir, eu ia querer ir, aquilo me motivava a estudar, a aprender, a curiosidade de perguntar, para todo mundo eu perguntava, tudo eu perguntava, mesmo que eu não tinha estudo eu perguntava, porque eu sabia que a pessoa era instruída e ela tinha instrução para me passar. Quem me ajudou muito com tudo isso foram as minhas patroas, sempre tive patroas boas, todas me ajudaram muito, isso para mim foi o meu ensinamento, no individual foi elas, porque tudo que eu sei de base eu aprendi com elas.
P/1 - E com quantos anos você foi para escola?
R - Eu cheguei a estudar na escola da roça, mas só estudei um ano no pré, depois eu vim estudar com quatorze anos, quando eu voltei de São Paulo. Eu fui trabalhar em uma casa de família para uma moça que se chamava Elza, chama Elza. Ela me matriculou no supletivo à noite, porque como eu era menor precisava de alguém para assinar. Eu fui fazer esse supletivo à noite, fui me alfabetizar. Nessa época eu estudei um período à noite, aí com dezesseis anos eu vim para Pouso Alegre, fui trabalhar com dezesseis anos e fui registrada em uma fábrica, no laboratório de remédio. O laboratório Sono Biólogo, existe até hoje, eu trabalhava de manhã e estudava à noite, fiz até a Quinta série, Sexta série, parei, porque fui trabalhar à noite, depois eu voltei e assim fui indo. Parava um pouco, voltava um pouco, quando eu consegui terminar de fazer o Segundo ano, que é o Ensino Médio, a minha menina já tinha nascido, fiquei muitos anos parada, porque tinha meu filho e não tinha com quem deixar à noite para eu ir trabalhar, não dava para estudar, só tinha gente para olhar ele de dia para eu trabalhar.
P/1 - E nesse período da escola, que memórias você tem dessa época?
R - Só coisas boas, então o que você está aprendendo são coisas boas, e cada vez que você conquista alguma coisa é muito bom.
P/1 - Teve algum professor que tenha te marcado de alguma forma?
R - Acho que só a minha professora do pré mesmo, lá na roça, por ser criança eu tinha ela como uma princesa, ela era linda, educada e aquilo estimulava a gente a ser igual, a gente queria ser igual a professora, bonita, queria ser educada igual a professora, delicada, e o nome dela marcou até hoje, eu nunca esqueci, ela chamava Léia.
P/1 - Maria, como foi seguindo a sua vida depois desse trabalho no laboratório, quais foram os próximos passos que você deu?
R - Quando eu saí do laboratório eu já tinha amizade com bastante gente aqui na cidade, a gente tinha um time de vôlei no laboratório, a gente competia com as outras empresas, a gente foi fazendo amizade com as outras empresas, então me convidaram para ir trabalhar na Invicta, eu saí do laboratório Sono Biólogo e fui trabalhar na fábrica Invicta, que é a fábrica de garrafa térmica, trabalhei por um período. Na época eu conheci o pai do meu filho e fiquei grávida, eu saí e fui para a casa da minha mãe para ganhar meu menino, quando o meu menino tinha um ano e oito meses eu voltei para Pouso Alegre.
P/1 - Como foi se tornar mãe, o que a maternidade representa na sua vida?
R - Para mim, hoje, olhando tudo que eu passei com o meu menino, eu tive ele com dezenove anos, fiz dezenove no dia quatro, ele nasceu no dia cinco. Para mim foi muito bom porque eu sempre fui muito forte, muito corajosa, para mim aquilo não era um desafio, para mim era só mais um ponto acrescentando na minha vida, eu tinha força e coragem suficiente para criá-lo, para educar, para seguir junto com ele, estar ali com ele o tempo todo apoiando e fazendo tudo o que podia. Eu quis sempre dar o melhor para ele dentro das possibilidades, claro, e para mim foi muito bom, porque a gente amadurece muito quando se é mãe, você começa a enxergar a vida por um outro ângulo, você desfoca de algumas coisas desnecessárias e começa a focar em coisas que são necessárias, que só a situação faz você enxergar, a situação de necessidade, de estar ali, porque não é só você na terra, é você e mais alguém, foi muito bom ter sido mãe logo cedo.
P/1 - Você ficou junto com o pai dele durante um tempo ou não?
R - Não, não, a gente nunca foi namorado, nem marido, nada, era só aquela paquerinha de vizinho, a gente se paquerava desde os meus dezesseis anos, quando eu vim morar em Pouso Alegre, com dezoito a gente saiu algumas vezes e eu fiquei grávida, depois não tive mais nenhum contato.
P/1 - Você foi mãe solo?
R - Sim.
P/1 - E como foi isso?
R - Como eu tenho um espírito muito forte de liberdade, para mim foi maravilhoso. Eu acho que se eu pudesse escolher ser mãe solteira de mais uns três eu seria, porque a diferença da educação do seu filho quando só você educa é totalmente diferente, quando tem um pai envolvido é uma diferença muito grande, porque se os dois não falarem a mesma linhagem a criança fica com a cabeça bagunçada, ela não sabe quem respeitar, quem está educando de verdade, quem está falando a verdade, a cabeça fica bagunçada. Eu falo por experiência própria, porque a educação do meu menino é muito diferente da educação da minha filha, não que ela não tenha educação, tem, claro, só que ela tem outra linha de raciocínio, porque eu falava uma coisa, o pai falava outra, agora que ela já está grandinha, já é adolescente, ela entende, tanto é que ela me obedece muito mais do que ele, mas tem o pai querendo afrontar a mãe usando a criança, a criança não sabe o que é certo, o que é errado, então ela tem que crescer um pouquinho para ela entender, e foi o caso aqui comigo, em casa. Por isso que eu falo, ser mãe solteira é muito bom, é maravilhoso.
P/1 - E como seguiu a vida depois, agora com filho, você voltou a trabalhar, como foi?
R - Ele ainda era bebê e eu já fui trabalhar, porque eu nunca pude ficar em casa esperando. Esperar por quem? Esperar pelo quê? Sempre sou eu mesmo! Então o pai dele começou a ajudar com as despesas dele, o menino já tinha um ano e três meses, eu tive que deixar ele bebê, mas a minha mãe ajudava, meu pai ajudou muito. A paixão do meu pai é ele, meu pai olhava ele bebê para eu ir trabalhar, até hoje o meu pai acha que ele é o bebê dele, minha mãe ajudava, minhas irmãs, principalmente minha irmã mais nova, tinha ele como filho, ela não trabalhava e olhava muito ele para mim, e eu não conseguia trabalhar e manteve a gente tranquilo.
P/1 - E como foi seguindo, desenrolando a vida?
R - Eu vim para Pouso Alegre quando ele era pequeno, eu vim morar sozinha com ele, foi bem difícil, foi bem complicado, porque você imigrar não é fácil, mesmo que seja em outra casa, em outro bairro já é difícil, você imigrar para outra cidade com uma criança pequena é bem complicado. Eu tive apoio graças a Deus, sempre tive muito apoio, apoio dos amigos, da família. Eu escolhi Pouso Alegre porque o pai dele está aqui, eu pensava: Eu deixo o menino com ele, que é o pai, fico na casa das minhas amigas, vou arrumar um emprego e arrumar um lugar pra gente ficar. E assim eu fiz, trouxe ele, deixei com o pai, falei: “Olha ele para mim por um tempinho que eu vou procurar trabalho e um lugar pra gente ficar”, e ele quis se aproveitar da situação, quis tirar o menino na justiça, porque falou que eu tinha abandonado o menino lá, que não sei o que…enfim, não conseguiu porque eu era muito brava, eu não deixei, não faz essa pose toda não, não teve esse direito de pegar e pronto, fui morar eu e ele sozinho em um bairro de periferia aqui, moramos por um período, depois a gente mudou para um outro bairro, ele ficava na creche e eu ia trabalhar, nessa época eu conheci o pai da minha menina, já tinha quase três anos praticamente, a gente ficou por um longo período, uns dezessete anos. Namoramos por um tempo, moramos juntos na mesma casa por dez anos, e assim que a minha menina tinha cinco anos a gente se separou e eu vim para esse lugar que estou hoje, e assim vamos tocando ali, mudando de profissão e seguindo, cada dia é uma história nova.
P/1 - Isso que eu queria saber. Quais foram as profissões? Quais eram os seus trabalhos, a sua área de atuação?
R - Então, quando eu ainda morava com o pai da minha filha, ela era o bebê, um pouco antes de eu ficar grávida dela, eu trabalhava em um hotel de camareira, eu trabalhei por cinco anos. Antes de trabalhar neste hotel, eu trabalhava como camareira e trabalhava na lavanderia de um motel, eu parei de trabalhar no motel e fui trabalhar no hotel, e nesse hotel eu fiquei cinco anos, foi quando eu fiquei grávida da minha menina tudo, tive minha menina trabalhando lá, quando a minha menina tinha uma certa idade eu saí do Marcos Prass que era esse hotel, fiz um curso de vigilante lá em São José dos Campos e vim trabalhar em Pouso Alegre, antes de eu pegar o diploma eu consegui um trabalho em uma das melhores empresas que tem aqui, comecei a trabalhar na empresa, no laboratório de remédio, que chama Cimed, trabalhei mais ou menos um um ano e oito meses de vigilante, trabalhei na União Química, também de remédio, laboratório. Depois disso trabalhei de vigilante, eu quis ir para área de logística, eu fui trabalhar em portaria, trabalhei em algumas portarias de fábrica, inclusive na portaria da Invicta eu trabalhei como controlador de acesso, pesava os caminhões, foi onde eu fui pensando em ir para essa área, agora é a hora de ir para essa área. Eu pesava os caminhões, falava muito com os motorista, eu meio que invoquei com o caminhão, foi nessa época que eu estava tirando carteira de caminhão, porque a carteira de caminhão na verdade não foi a finalidade, não foi para caminhão que eu tirei, porque assim que eu quis parar de trabalhar de vigilante, eu fiz um curso de instrutora de trânsito para dar aula em autoescola, porque a autoescola que eu tirei carteira o dono ficou meu amigo, ele e a esposa dele, ele me chama de Cidinha, “Cidinha faz o curso, vem trabalhar com a gente, faz o curso, vem trabalhar com a gente, pode vir, eu sou seu padrinho, vou te apadrinhar, vou te ajudar”. Aí eu fui fazer o curso, na época que eu estava fazendo o curso, veio a nova lei que para dar aula tinha que ter a categoria D, foi onde eu iniciei a categoria D, eu fiquei tirando a carteira D. Fui trabalhar de portaria, fiquei vendendo os caminhões e falando com os motoristas, e aquilo foi incentivando, cada um tem uma história, eu fiquei encantada com aquilo, “acho que é isso que eu quero para mim”. Eu gosto de liberdade, não gosto de ficar presa. É desafiador, porque meu pai não dirige, minha mãe não dirige, meus irmãos aprenderam a dirigir agora depois de mais velhos, não têm tio caminhoneiro, não tem parente nenhum, eu sou a única da família que invocou com esse negócio de caminhão, abraçou e não quer largar mais. Quero ir para frente, eu fui tirando a D com a intenção de ir um dia para o caminhão, para o ônibus, desistir desse negócio de dar aula em autoescola, eu tinha desfocado disso, mudei de ideia, quando tirei a carteira D já mudou o foco de novo, foi para outros lados. Porque eu conheci uma pessoa e a gente começou a falar sobre outros planos, fomos embora para fora do país, mudou todos os planos aqui no Brasil, acabei de tirar a D e fui para a Itália, fiquei um período lá, voltei, depois eu fui de novo, depois da Itália. A segunda vez que eu fui levei a minha menina e meu menino, de lá a gente foi para Londres, minha menina não se adaptou, não se acostumou, voltamos para o Brasil. Nessa que eu voltei para o Brasil, cheguei aqui e pensei: “E agora? Para onde eu vou? Começar de novo, começar praticamente do zero”. Não do zero porque eu tinha a minha casa e meu pai estava olhando para mim, mas eu falei: “Agora para que lado que eu corro? Tenho que achar uma saída”. E em seguida veio a pandemia. Nós chegamos aqui, passou um mês e meio, dois meses, estourou na Europa inteira a pandemia, vindo e tomando conta do resto do mundo. Quer saber? Eu vou correr e fazer os cursos que eu preciso arrumar um emprego na área com a carteira. Fiz o curso MOPP, fiz o coletivo, eu já tinha feito alguns bicos de caminhão, já tinha viajado, já fui para o Recife com caminhão, só uma viagem, eu achei muito perigoso, achei muito desafiador, fiquei pensando: “Será que vai dar certo isso?” Depois arrumei serviço no ônibus, fiquei um tempinho no ônibus. Essa empresa que eu estou hoje me chamou para ir fazer entrevista, um amigo tinha levado o meu currículo e tinha me indicado, que na verdade nem é um amigo, era um conhecido. A moça me ligou para eu fazer entrevista e eu falei: “Eu já comecei a trabalhar, eu queria muito entrar, mas agora já estou trabalhando”. Ela falou, mas vem então pelo menos para entrevista. Eu falei para ela, mas eu trabalho à noite e durmo de dia. Ela falou, a hora que você acordar você pode vir, pode dormir, descansar, quando você acordar você vem para entrevista. Eu fui e ela conversou comigo, eu vi que era bem melhor, eu saí de onde eu estava, tinha acabado de entrar, e vim para essa empresa que eu estou agora, e já estou pretendendo ir para outras maiores, com caminhões maiores, e vamos evoluindo, procurando uma melhora.
P/1 - Maria, posso voltar um pouquinho? Queria saber como foi essa experiência de morar fora do país?
R - Foi muito boa, foi bom demais, foi tão bom que eu pretendo voltar um dia, eu só não voltei ainda por causa da pandemia. Os aeroportos estavam todos fechados, eu não voltei por isso, eu foquei aqui. Vou trabalhar aqui fazendo o que eu gosto, a hora que chegar a oportunidade eu vou. Estava nos planos de agora nesse mês de fevereiro, mudou porque o menino comprou um carro e eu estou ajudando a pagar, dei uma segurada de novo no plano de ir para lá. Mas foi muito bom, foi uma experiência que não tem como eu te falar, é uma coisa que só você vivendo para você ver o tanto que é diferente e é bom, te amadurece, te enriquece de informação, te enriquece de conhecimento, é muito bom, eu aconselho todo mundo se tiver uma oportunidade de um dia sair do país, ir para qualquer outro país, vá, porque não é perdido, muito pelo contrário, você só ganha. Dificuldade você passa até no seu país, trabalhar você tem que trabalhar mesmo, desde que a gente é gente a gente tem que trabalhar, então não tem dificuldade nisso. Eu não falava nem um “oi” em inglês. A necessidade faz você aprender e isso te enriquece porque isso é bom, tudo que você aprende é bom. Foi difícil, foi complicado, mas foi bom, você aprende mesmo com os desafios, com as dificuldades, com as coisas ruins que vem na sua vida, que você fala, foi bom ter passado por isso, e essas coisas boas me ensinaram, porque nada vem pronto, você tem que se jogar.
P/1 - Qual era a região? Que cidade você morou na Itália?
R - Eu morei em uma cidade chamada Mantova, perto de Milão.
P/1 - E com o que você trabalhava?
R - Eu fui trabalhar com limpeza, porque quando você chega você não tem documento. Você trabalha com brasileiros que já tem documento, que montam uma empresa e vão pagando os imigrantes que vão chegando sem documento e põe para trabalhar. Eles ganham o deles, tiram o deles e te dá o seu, é por hora. Na época que eu estava lá era doze euros a hora, desses doze euros ele pegava seis para ele que era o dono, o que tinha montado a empresa, que tinha pegado o serviço e te pagava seis a hora. Para mim estava ótimo, não queria saber quanto ele estava ganhando, quanto que ele vai ganhar em cima de mim. O que eu estava ganhando estava sendo suficiente, isso também foi bom, porque você vai conhecendo mais gente, vai virando uma corrente, eu saí de lá e comecei a pegar algumas casas, porque a limpeza lá é muito fácil, você consegue limpar até três casas no mesmo dia, aqui você mal consegue limpar uma. Os italianos são muito limpos, são muito organizados, tudo muito básico. Você chegou, tirou o pó, uma lavadinha no banheiro, passou pano, aspirador, está limpo. Porque não pode jogar água em nada, é crime você jogar água. Nem nos banheiros pode jogar água, então é coisa que a gente aprende até a economizar, aprende a separar o lixo, você pega esse exato. Você faz isso aqui no Brasil, mas o lixeiro vai jogar tudo dentro do caminhão, vai jogar tudo misturado, mas pelo menos sua parte você fez de separar, são coisas que a gente aprende, e depois são coisas boas que você pega para você. Foi muito bom, em Londres tem outra cultura.
P/1 - Como foi Londres? Você falou de todas as etapas… e essa mudança de país, quais foram as novidades, os novos desafios de viver em Londres?
R - Londres já foi um desafio maior, porque o inglês é uma coisa que eu não entendia nada de nada. O meu menino ainda entende um pouco, porque ele fez bastante inglês no Brasil, estudou sete anos aqui, então por mais que seja muito diferente, um dinheiro que eu achei que tinha jogado fora, mas serviu de alguma coisa, porque ele tinha uma base para ele se aperfeiçoar lá, então ele aperfeiçoou, ele conseguiu se desenvolver bem, conseguiu aprender mais porque já tinha uma base. E eu nada de nada. Com as dificuldades eu fui aprendendo um pouquinho, pelo menos para andar, para comprar as coisas, tomar trem, metrô, eu fiquei pouco tempo, lá eu aprendi muita coisa, em pouco tempo, por causa da necessidade de estar lá e ter que falar, isso te força. Quando uma situação te força, você aprende muito rápido. E foi muito bom por isso, foi muito bom porque lá tem muitas culturas, é uma das maiores metrópoles do mundo, tem gente de todo lugar do mundo naquela cidade, tem tudo que você imagina ou não imagina tem naquela cidade, então foi muito bom essa experiência, embora também lá é uma cidade muito suja. Quem manda no centro de Londres, quem comanda todo mundo são os indianos, os marroquinos, é uma cultura que tem que se adaptar, aqueles ingleses que são mais bagunçados ainda, então tudo isso foi bom, tudo isso foi um aprendizado muito bom para mim, para os meus filhos, muito bom. Por muito pouco tempo minha menina já pegava metrô, ia para o centro de Londres se encontrar comigo, uma cidade muito segura. Claro que tem suas violências, mas nada comparado com o nosso Brasil em matéria de violência. Mas foi bem complicado lá para mim essa sujeira que é lá, as casas que você aluga, pronta, montada, mobiliada, e lá tem muito aqueles bichinho que eles falam que é percevejo, que aqui no Brasil é conhecido como piolho, chato, carrapato, matei muito. A gente foi morar em uma casa - aqui no Brasil, fala kitnet, lá fala estúdio - a gente foi morar em um desses e a minha menina começou todo dia coçando, coçando, coçando, coçando. Então adivinha? Pernilongo não era em um frio daqueles, eu não sabia que tinha esses bichinhos. E lá você vê muito colchão novo, colchão grande, bonito, jogado fora, eles jogam na rua, por isso que é muito suja a cidade, esses colchões estão todos infectados com esses bichinho, as casas são de carpete, a maioria dos apartamentos são de carpete em madeira, todas as divisórias são de madeira, não sei se você já morou lá, já foi lá, é tudo de madeira por dentro, as divisórias, o piso, e põe carpete, e vão juntando esses bichinhos, ele infesta os colchões e vem picar a pessoa, infesta a roupa da pessoa, é horrível. A gente descobriu que tinha isso, eu quase infartei. Falei: “Meu Deus”. Nunca suportei. Como a gente não falava inglês, falando com um dos brasileiros que tinha lugar para gente, lá os brasileiros fazem muito isso, eles tem documento, eles alugam as casas, dividem e alugam os quartos para os brasileiros que chegam sem documento. No caso a gente não morava no quarto, o rapaz que eu estava aqui no Brasil tem documento europeu, então a gente não tinha necessidade de ficar fugindo, a gente tinha o direito de estar lá, por ser europeu, e nessa ele pediu, a prefeitura veio e dedetizou tudo, mas a gente teve que ficar dois dias fora, por causa da dedetização não podia ficar no apartamento, e graças a Deus como eu tenho amigos lá, amigos de coração mesmo, inclusive a minha vizinha que mora na terceira rua daqui mora lá há mais tempo, e ela falou: “Vem para cá”, e fomos para casa dela, ficamos lá, foi uma das pessoas que me ajudou. Hoje eu quero ir para lá porque ela fica: “Vem, volta, volta, volta, saudade de você”. Tem vantagem, porque lá foi muito bom para mim, para o meu filho, o sonho do meu filho é voltar também.
P/1 - E como foi o retorno ao Brasil?
R - Muito frustrante, ao mesmo tempo foi uma sensação de liberdade, porque como a minha filha não se acostumou, estava depressiva, engordou muito, eu vi que ela estava adoecendo e voltei pelas coisas não terem dado certo como a gente planejou aqui no Brasil. Chegou lá e não deu tudo certo, em questão do rapaz que eu estava, que a gente ia fazer documento por ele, não deu certo por isso, mas em compensação deu muito certo por outros ângulos. Foi muito frustrante para mim porque era uma coisa que eu tinha muita vontade de conquistar desde criança, desde muito pequena, adolescente, meu sonho era morar nos Estados Unidos, como eu nunca fui para os Estados Unidos, a oportunidade para mim já era de um sonho realizado, e não pude ficar lá, porque não posso sacrificar ela por um sonho meu, não achei justo. Voltei muito frustrada, muito frustrada, com um monte de coisa para resolver, vida de novo para começar, sem profissão, porque até então eu não estava trabalhando em nada, formação acadêmica nenhuma, então piorou, mas recuperei, acho que eu demorei uns três meses para começar engatar a primeira e começar. Depois para ir atrás de novo, mas engatar a primeira demorou para eu passar para a segunda, já tem quase dois anos que estava assim. Vai passar a segunda agora, já estamos no terceiro ano aqui no Brasil de novo. Agora as coisas demoram muito para você conseguir estabilizar em qualquer lugar que você vá, em todo o sentido, mesmo que seja seu país, demora para você estabilizar novamente. Mas com força e a quantidade de fé, você consegue tudo que você quer na vida.
P/1 - E como foi esse período de pandemia para você? Porque além de tentar restabelecer, o mundo estava um caos. Como foi esse período?
R - Foi muito complicado, porque eu tinha acabado de matricular minha menina na escola de novo, foi uma luta eu conseguir matricular ela aqui, eles não queriam aceitar, eles não aceitaram os documentos de lá, a escola aqui não quis dar vaga para ela, tive que ir na delegacia da Secretaria de Ensino. Até chorei lá um dia, pedi pelo amor de Deus para dar uma vaga para ela, deram a vaga pra ela, ela começou a estudar, não foi nem uma semana, veio a pandemia e parou tudo. Emprego então… Mas como eu tinha o cadastro antes de sair do Brasil do Bolsa Família, ela estudava e eu tinha cadastro lá no governo de Bolsa Família, eu consegui receber aquele auxílio do governo. E o pai da minha menina me ajudando, então a gente não passou necessidade, também não tivemos que ficar expostas na rua para pegar a doença, então a gente ficou quietinha em casa nos períodos mais críticos, com a ajuda que o governo deu, ajuda que a minha menina recebe do pai, a gente se manteve. E eu sempre fazendo meus bicos, não posso parar. Minha vizinha montou um restaurante, eu fui ajudar e também ganhava o meu dinheiro, não ficava parada, e assim toquei minha vida até as coisas melhorarem. Vai melhorar muito ainda.
P/1 - Maria, quais foram os motivos que te levaram a escolher esse ramo como motorista de caminhão?
R - O motivo era viajar, pegar estrada. Estrada para mim é tudo, a sensação de liberdade, você vê o dia nascer, vê o dia ir embora, vê a noite cair, conhece lugares e pessoas, além de ser desafiador para mim, para minha pessoa, para o meu ego e eu saber que eu sou o suficiente para dar conta daquilo. Eu me senti recuperada e forte interiormente para eu ser capaz de trabalhar em uma coisa assim, desafiadora, perigosa. Você tem muitos desafios, todo mundo sabe que o Brasil é um país muito perigoso, então essa adrenalina acho que é o que me motiva também.
P/1 - E você teve apoio quando tomou essa decisão, dos seus familiares, amigos?
R - Familiares não, mas é normal, porque eles nunca me apoiaram em nada mesmo, então não fez muita diferença para mim. Mas o apoio dos meus filhos é muito importante, porque tudo que eu falo de fazer eles me apoiam, eles falam: “Mãe, mesmo que for dar errado a gente está junto com você, junto para somar, para tudo”. Se vai dar certo ou errado, temos que tentar. E amigos me incentivam muito, pessoas de boa fé que quer… “Se é a sua vontade, vai para cima, vai lá que você vai conseguir, você vai conquistar. Se precisar de mim estou aqui e qualquer orientação estou aqui”. São pessoas que te apoiam, graças a Deus tem essas pessoas que me apoiam.
P/1 - E como foi essa primeira viagem que você fez?
R - Essa primeira viagem que eu fiz longe foi para Recife, foi desafiadora, porque tem umas estradas… quando você chega lá para baixo de Belo Horizonte, umas estradas muito perigosas, é uma loucura aquilo, mas eu não fiquei muito insegura, com medo, porque o meu amigo foi na carreta na frente e eu fui com o truque atrás. Eu seguia todas as orientações dele, não teve grande dificuldade por isso, ele foi na frente e eu fui atrás, fui seguindo as instruções dele, os postos que ele parava eu parava, porque eu não conheço nenhum posto de beira de estrada, ainda mais para aqueles lados. E as dificuldade, ele falava que os caminhões desciam, porque a estrada é para passar dois caminhões, passam três. Eles dividem o caminhão para os lados, que é o acostamento, porque as vezes vem uma carreta descendo e ela vem pelo meio e você tem que estar subindo ali dividindo a pista com o acostamento, tanto você desse lado, como quem está descendo devagar do outro, eu achava que não, que a pessoa tinha que andar certinho, então ele me orientou que isso acontece, eu já fiquei esperta, e para mim foi uma experiência muito boa. Foi também um anjo na minha vida, ele me ajudou, está sempre me apoiando, está sempre me mandando vagas de emprego nessa área, é uma das pessoas que quer me ver pelas estradas.
P/1 - E que cargas você costuma transportar?
R - Quando eu fui eu levei uma carga de carpete para Fiat, para montadora da Fiat, estava montando a Toro. E para voltar a gente conseguiu uma carga de tampinha de garrafa, um peso muito além do caminhão. A gente voltou e o destino da carga foi para São Paulo, só que a gente ficou lá uns dez dias no pátio, porque não descarregou quando chegamos, deu feriado prolongado, a gente foi para a praia, tem as fotos da praia, depois vou te mandar. Fiz bastante amigos, pessoas que moram ali na região de BH, foi uma experiência muito boa também.
P/1 - Era isso que eu queria saber, nessas viagens é possível conhecer pessoas? Visitar os lugares? Conhecer a região?
R - Geralmente dá, porque você tem que esperar para descarregar, tem que esperar para carregar, e às vezes levam dias. A gente ficou todo esse período, por isso, porque não descarregamos no dia e tivemos que ficar esperando carga depois para vir, então você tem a oportunidade de conhecer um monte de gente, de falar com um monte de pessoas, de trocar experiência. É muito bom. E todos esses caminhoneiros que estavam lá, carreteiros… tinha mais ou menos uns trinta caminhões, e cada hora fazia comida em uma cozinha de um caminhão. Eu peguei amizade com todos, cada um faz um tipo de comida, porque cada um vem de uma região, é legal pra caramba. Muito bom!
P/1 - E como você se sente sendo mulher dirigindo sozinha nas estradas? Como é isso para você?
R - Para mim é normal, mas eu sei que o olhar das outras pessoas não é tão normal assim, está sendo bem mais aceito do que antigamente, porque agora tem muito mais mulheres nos caminhões do que antigamente, muitos olham, faz uma cara de: “Nossa”, ou só olha: “Parabéns, Deus abençoe”. Tem muito mais isso: “Parabéns, que bonito, adoro ver a mulher no volante do caminhão, Deus te abençoe”. Principalmente as pessoas de mais idade, as senhorinhas: “Você que dirige? Meus parabéns, Deus te abençoe!” Então você escuta muito mais coisas boas do que coisas ruins, às vezes o negativo… eles só olham e você percebe que é um olhar negativo, eles também não falam, e quando falam você não vai dar confiança, porque você escutou muito mais coisas boas durante o dia inteiro do que uma coisa ruim. Você vai deixar uma palavra ruim estragar seu dia? Você não vai fazer isso!
P/1 - Maria, pensando em todas as suas viagens, a sua experiência, você se lembra de alguma situação inusitada, engraçada, curiosa na estrada?
R - Engraçada a gente vê todo dia praticamente, tem muita coisa que é engraçada que a gente vê, que é exorbitante, inusitada, é cheio de surpresa, você já sai de casa com o seu psicológico, seu espírito preparado, você vai ver coisa que você nunca imaginou ver, tem muita coisa boa que acontece. Mas extraordinária eu ainda não vi, como eu sou ainda muito nova nas estradas e eu faço mais aqui a região do sul de Minas, é um trânsito tranquilo, não tem grandes surpresas. A gente vê muita coisa, todo dia você aprende alguma coisa, isso que é gostoso, isso que é bom, você estar ali todo dia em uma situação diferente, porque todo dia você tem a oportunidade de aprender alguma coisa, às vezes você aprende muito mais com os seus próprios erros, do que com o erro dos outros ou com a aceitação dos outros. Só na realidade que você aprende, as pessoas falam, mas a hora que você vive aquilo você leva um choque. Mas ainda não vi nenhum acidente bem grave graças a Deus, nunca aconteceu nada de grave com a gente nessa estrada.
P/1 - E a sua viagem mais marcante? Você consegue dizer qual foi?
R - Você fala com o caminhão?
P/1 - É.
R - Para mim todas me marcaram muito, quando eu chego em um lugar que eu nunca fui, que eu nunca imaginei, que às vezes eu imaginava que era uma coisa e é outra, todas são muito marcantes, porque para mim tudo que é um lugar novo me marca de alguma forma, porque todo lugar é uma beleza diferente. Eu, como sou admiradora dessa beleza toda, os lugares que são de muita água, de muita montanha, outros são de mar, cada lugar tem uma marca guardada aqui no coração, na mente, mas nada exuberante.
P/1 - E você já enfrentou alguma dificuldade no trabalho, algum tipo de preconceito?
R - Preconceito são todos os dias. Geralmente começa dentro da empresa em que você trabalha, todos os dias se convive com aquela piadinha, com aquele preconceito, aquelas alfinetadinhas daqui, outra dali. Às vezes você chega para fazer uma entrega, aqui na região eu trabalho com ajudante, é rota de três dias. A gente dorme em hotel, a empresa paga o hotel, às vezes a gente chega para fazer uma entrega, o cara olha para o meu ajudante e fala assim: “Pode puxar o caminhão, pode colocar o caminhão na doca, pode tirar o caminhão da doca. Viu o motorista?” Fala com ele, trata ele como motorista, ninguém me enxerga como motorista. Como está eu e ele, todo mundo enxerga ele como motorista por ser homem, nunca falam comigo em espécie alguma, eles não me enxergam, eles acham que eu estou ali passeando, mas isso é em todo lugar.
P/1 - E como você se sente?
R - Para mim é normal, porque a cabeça deles é assim, eles tem essa coisa amadurecida na cabeça que o homem é que tem que ser motorista. Às vezes eu estou em algum hotel que a gente fica e tem que colocar o caminhão na tomada, o recepcionista do hotel fala assim: “Pede para o motorista vim aqui assinar para mim a atualização da tomada”. Eles pedem para eu falar para o motorista, eles acham que o meu ajudante que é o motorista por ser homem, não que é um preconceito, é que na cabeça deles é amadurecido que o homem que vai dirigir o caminhão, não eu, quando eles vêem que subo no volante: “Mas é ela que dirige”. Uns fazem uma piadinha: “Você tem coragem? Você não tem medo não?” Ou fala assim: “Não tem amor à vida mesmo hein?” Falam para o meu ajudante. O preconceito que a gente escuta todos os dias.
P/1 - E como você lida nessas situações?
R - Eu só dou risada. Deixa eles pensarem o que eles quiserem, a gente não muda a cabeça das pessoas, a gente tem que aceitar o jeito que eles pensam, depois eles vão refletir. Eu acho que sobre isso, a próxima vez que virem uma outra mulher, eles vão ter mais a atenção em falar alguma coisa, sei lá, eu acho que para ele serve também de aprendizado.
P/1 - Maria, qual é a empresa que você trabalha?
R - Eu trabalho na Vale Cargas.
P/1 - E tem outras motoristas?
R - Não, ali é só eu, aqui nessa base de Pouso Alegre. Porque ela é de São José dos Campos, São José dos Campos não tem mulher, já teve, mas não tem mais, Guarulhos tem uma mulher também, e aqui em Pouso Alegre sou só eu.
P/1 - E como você se sente sendo a primeira mulher a trabalhar nessa empresa, abrindo novas portas e caminhos?
R - Eu tenho um desafio, porque ali tem muito homem, hoje não, porque já estão acostumados comigo, mas no começo foi complicado, porque tinha um gerente, foi ele que me deu essa oportunidade e agora ele não está, não faz mais parte da empresa. Ele e os motoristas vinham falar com ele, os ajudantes, porque não pode trabalhar sem ajudante, os ajudantes falavam com ele: “Eu não posso ir com a Maria, porque minha mulher não deixa eu ser ajudante de uma mulher”. Ele ficava contornando. “Então manda outro”. Aí mandava outro, a escala é por semana, é por rota, na verdade, chega lá está escalado, a Maria e o Jefferson, por exemplo. O Jefferson chega e fala assim: “Eu não vou com a Maria, eu não posso ir com a Maria, se eu for com a Maria minha mulher toca fogo no caminhão”. O outro fala assim: “Eu também não posso ir com a Maria porque se eu ficar no mesmo hotel que a Maria minha mulher vai separar de mim”. Esse gerente ficava contornando essa situação, como agora ele não está mais na empresa, os caras continuam, ele já sabia quem podia escalar comigo ou não, as mulheres que não tem ciúmes, não tem esse negócio, ele já escalava os meninos certos comigo. Agora, esse que está interino, ele sabe de toda essa situação, mas ele escala normal. O que acontece? Ele pega e coloca os caras comigo, ele fala assim: “Eu não gostei que não vá com a Maria”, eu falo: “Mas eu também não quero ser o pivô da separação de ninguém”. Eu falo: “Põe Fulano, Cicrano, tem os menino que vão, que a mulher não tem ciúme, não tem esse negócio”. Agora está praticamente um ajudante fixo que a mulher dele não tem problema comigo por eu ser mulher, ele trabalha comigo a semana toda, ele é o melhor ajudante, eu prefiro que seja ele mesmo, porque ajudante tem que ser parceiro, a gente é parceiro do grupo.
P/1 - Maria, você lembra de algum caso, alguma situação curiosa que você vivenciou na Fernão Dias, ou não?
R - Ultimamente ela é bem desafiadora, porque ela é cheia de buracos, todos os trechos que a gente pega por aqui estão muito danificados, quando eles param para arrumar alguma parte, eles interditam e as filas ficam enormes, a gente fica ali naquele sol esperando. Mas ali na Fernão Dias mesmo, os desafios são os buracos e alguns retornos que são muito estreitos, se a pessoa não conhecer e fizer um retorno de qualquer jeito ela é jogada para fora do retorno. Tem muita curva que é sinalizada, porque o índice de acidente é muito gritante, a gente conhece porque está aqui na região, mas se você pega um de São Paulo e Belo Horizonte, tem muito mais desafio.
P/1 - E o que você gosta de fazer nas suas horas de lazer?
R - O mais escasso são minhas horas de lazer, eu só tenho o domingo em casa. Ainda tenho os domingos, porque tem empresa que você não tem nem o domingo. Quando você está rodando para longe, você não tem nenhum domingo, eu ainda tenho o domingo em casa, o sábado à tarde. A gente retorna sempre no sábado, tem o resto do sábado e o domingo em casa, geralmente eu fico aqui com os meus filhos ou por aí bebendo uma cervejinha com as amigas, mas sempre mais em casa, descansar um pouquinho para a semana começar de novo.
P/1 - E essa questão de deixar os filhos em casa, passar quase toda semana fora, como é isso para você?
R - Como eu disse, é tranquilo, porque eles já são bem independentes, são grandes. Um tem 25, o outro tem quinze, e todos os dois lavam roupa, eles limpam a casa, eles fazem comida, eles fazem o bolo que eles querem comer, eles fazem comidinha, eles se viram bem, eles estão o tempo todo comigo no telefone, sempre dando um suporte no telefone para eles, o que eles precisam eu consigo resolver, às vezes, por telefone. Eu retorno geralmente nas quartas-feiras eu estou em casa a noite.
P/1 - Maria quais são os maiores aprendizados que você tira dessa sua trajetória profissional, como motorista de caminhão?
R - Acho que os maiores aprendizados foram as manobras com o carro grande, os lugares desafiadores que você tem que colocar o caminhão, geralmente os lugares. E tem cidades muito antigas que as ruas são muito estreitas, não é asfalto, ainda é paralelepípedo, muitas árvores antigas, as ruas muito estreitas, muito apertada para manobrar. Os lugares que você tem que colocar o caminhão para descarregar são muito apertados, cheio de obstáculos, então o aprendizado é esse que você tem que aprender como faz diferente um do outro.
P/1 - E como é para você ser mulher e dirigir caminhão, trabalhar em uma área que historicamente e culturalmente costuma ser realizada por homens, o que isso representa para você, qual é a importância disso na sua vida?
R - Para mim é muito importante, porque eu posso provar para mim mesma e para toda a sociedade que eu sou autossuficiente e forte para fazer o mesmo trabalho que qualquer outro homem faz. Para mim é gratificante, me fortalece pensar assim. E eu sei que eu posso apoiar pessoas que também tem vontade de estar aqui, e que às vezes acha que é muito complicado e não é, é só ter coragem e ir para cima.
P/1 - E quais são os seus maiores sonhos?
R - Meu maior sonho é trabalhar em uma carreta na Europa, agora está sendo um dos meus maiores sonhos. Eu sei que se eu lutar eu consigo, eu sei que se eu tiver garra e força de vontade eu chego lá. Esse é o próximo passo.
P/1 - A gente está encaminhando para o fim. Tenho umas últimas perguntas, mas queria saber se você gostaria de acrescentar alguma coisa, alguma história da sua vida, ou contar de alguma situação, algum período que eu não tenha perguntado?
R - Acho que eu contei um pouquinho de cada fase da minha… se eu for falar mesmo, fica o dia inteiro, mas eu acredito que a gente… por mais difícil que isso tenha sido na sua vida de infância ou adulta, que essas dificuldades só te fortalece, te empurram para frente. Então a gente tem que começar a pensar que as dificuldades só existem para te empurrar, elas não existem para te diminuir. E os preconceitos, não leve para sua vida para te diminuir, para você desanimar, para você desistir, não, leve eles ao contrário, mostre para quem te critica, para quem fez algum tipo de piada ou fez um preconceito, leve isso como um empurrãozinho. Se eles fazem isso, você cria coragem para mostrar que é ao contrário do que eles estão pensando e agindo, fica para quem tem vontade de estar desafiando o caminhão na estrada. “Eu tenho vontade, mas eu não tenho coragem”, você escuta muito isso. A coragem ela tem que vir primeiro do que a vontade, primeiro você tem que ter coragem, primeiro vontade depois a coragem, tem que estar com vontade de fazer aquilo, a coragem vem com o tempo, você tem que desafiar seus próprios medos para você ficar mais corajosa, as minhas experiências ainda são poucas, mas ainda quero voltar, queria contar muito mais.
P/1 - E você gostaria de deixar alguma mensagem?
R - Acho que a mensagem é nunca desistir. Nunca desista de nada na sua vida, de nada que você pensa, que você sonha, não acha nada difícil na sua vida. Acha que tudo é possível, tudo é possível, tudo nessa vida é possível, só basta você procurar os caminhos para isso, ir atrás, porque se existe o caminho, é porque existe destino, você tem que chegar no seu destino, você vai pelos caminhos, procure um caminho mais próximo para você chegar lá. A mensagem que eu tenho que deixar para todas, todos: Tenha fé, vontade e coragem, você chega lá!
P/1 - Como foi essa experiência, para você, de dividir um pouco das suas histórias com a gente, lembrar de fases e momentos da sua vida, como foi essa experiência para você?
R - Foi emocionante, umas lembranças lá atrás que às vezes a gente prefere esconder da gente mesmo, prefere deixar no oculto, não gosta muito de lembrar, principalmente coisas de infância. Confesso que foi emocionante. Tiveram alguns momentos que quase chorei, mas foi muito bom, porque fazia muito tempo, muitos anos que eu não comentava sobre essas fases que eu tive lá atrás. Às vezes as pessoas acham que é mentira: “Eu não acredito que isso tudo aconteceu”. Para mim foi muito bom ter falado, foi bom, foi quase um desabafo, esse bate-papo foi bem gostoso que a gente teve, foi bem legal, foi bem emocionante. Eu agradeço demais ter essa oportunidade de estar aqui com vocês, ter dividido um pouquinho da minha experiência de vida, as coisas que eu passei, para onde eu andei, as pessoas que passaram na minha vida e ficaram, tem uns que passam e ficam, outras passam e passam. Foi muito bom. E vocês vão ser uma equipe que passou e vão ficar, foi muito bom estar aqui dividindo isso com vocês.
P/1 - Maria, quero te agradecer muito, para mim foi muito, muito importante te ouvir, conhecer uma mulher que foi para o mundo, tinha esse desejo de desbravar essa imensidão. Você falou isso logo no começo da entrevista, e agora eu posso ver que sim, acho que você é uma desbravadora mesmo de caminhos, de estradas, de histórias. Então foi muito bom poder ouvi-la. É muito gostoso. Eu te agradeço muito, eu e em nome do Museu da Pessoa. Assim que tudo estiver pronto a gente obviamente te envia o link, esse registro vai ficar para você, para sua família, para os seus filhos, ele vai ficar guardado no Museu. Enfim te agradeço demais, foi muito especial. A gente vai falando sobre fotos, próximo passo, e qualquer dúvida que você tiver você tem meu contato, só mandar mensagem, está bom?
R - Está certo, eu agradeço demais e eu espero que um pouquinho que a gente bateu esse papo legal, que um pouco da minha história sirva de incentivo para alguém, porque a minha vida toda foi marcada de incentivos, mesmo com todas as dificuldades, tem pessoas que se incentivam comigo, com a minha história, com a minha vida, e eles falam: “Quero fazer alguma coisa que você faz”. Isso é bom porque você é um incentivadora, tem gente que me acha forte e quer copiar, isso é bom.
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