Entrevista de Ana Maria Silva Ferreira
Por Arlinda Lourenço e Sofia Tapajos
Mariana, 13 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
MRD_HV019
0:23
P1 - Ana, qual o seu nome completo?
R- Ana Maria Silva Ferreira.
P1 - Onde nasceu, em que dia?
R - 28/06/1965.
P2 - E onde foi que você nasceu?
R - Campinas.
P1 - Qual o nome dos seus avós?
R - Meus avós maternos, Maria Margarida Hermenegildo e Raimundo Hermenegildo.
P1 - Onde seus avós moravam?
R - Gesteira.
P2 - Você ia bastante lá na casa deles?
R - Ia muito no Gesteira, de 15 em 15 dias eu ia no Gesteira. Depois faleceu, aí agora tem muito tempo que eu não vou lá mais. Mas o meu tio mora lá no Gesteira.
P1 - Seus tios ainda moram lá?
R - Tenho tios que moram lá.
1:20
P2 - E como que era a casa dos seus avós lá em Gesteira?
R - Maravilhosa! (risos) Maravilhosa!
P1 - O que você lembra que te deixou marcado do tempo que você ia na casa dos seus avós, que seus avós moravam lá?
R - Eu ficava feliz no dia que eu ia na casa da minha vó, porque ela gostava muito de fazer doce, eu gostava dos docinhos dela, sabe! Então eu chegava lá ela fazia festa para a gente. Depois faleceu, não tem mais. Na verdade meu avô foi quem me batizou, entendeu? Então é… Agora da parte do meu pai, eu não conheci o meu avô, mas o nome dele é Francisco e da minha vó, eu lembro muito dela, que é Ana Rosa de Jesus. Aí da avó paterna. Meu avô eu não conheci!
P1 - Moravam lá em gesteira?
R - Não, isso aí não, morava aqui em Campinas.
2:20
P3 - E quando você ia para casa desses avós em Gesteira que ela fazia doce, era que doce que ela fazia?
R - Doce de leite, picadinha, doce de curtido, sabe, que ela fazia. Sempre, até hoje eu lembro, como que a minha vó fazia aquele doce? Não lembro nunca mais. Aquele curtido, entendeu, a gente lembra.
P1 - Tinha festa em família?
R - Sim! Final de ano.
P1 - Quem que participava dessas festas todas?
R - Minhas tias, os netos.
P1 - Qual foi a festa mais marcante que...
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Por Arlinda Lourenço e Sofia Tapajos
Mariana, 13 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
MRD_HV019
0:23
P1 - Ana, qual o seu nome completo?
R- Ana Maria Silva Ferreira.
P1 - Onde nasceu, em que dia?
R - 28/06/1965.
P2 - E onde foi que você nasceu?
R - Campinas.
P1 - Qual o nome dos seus avós?
R - Meus avós maternos, Maria Margarida Hermenegildo e Raimundo Hermenegildo.
P1 - Onde seus avós moravam?
R - Gesteira.
P2 - Você ia bastante lá na casa deles?
R - Ia muito no Gesteira, de 15 em 15 dias eu ia no Gesteira. Depois faleceu, aí agora tem muito tempo que eu não vou lá mais. Mas o meu tio mora lá no Gesteira.
P1 - Seus tios ainda moram lá?
R - Tenho tios que moram lá.
1:20
P2 - E como que era a casa dos seus avós lá em Gesteira?
R - Maravilhosa! (risos) Maravilhosa!
P1 - O que você lembra que te deixou marcado do tempo que você ia na casa dos seus avós, que seus avós moravam lá?
R - Eu ficava feliz no dia que eu ia na casa da minha vó, porque ela gostava muito de fazer doce, eu gostava dos docinhos dela, sabe! Então eu chegava lá ela fazia festa para a gente. Depois faleceu, não tem mais. Na verdade meu avô foi quem me batizou, entendeu? Então é… Agora da parte do meu pai, eu não conheci o meu avô, mas o nome dele é Francisco e da minha vó, eu lembro muito dela, que é Ana Rosa de Jesus. Aí da avó paterna. Meu avô eu não conheci!
P1 - Moravam lá em gesteira?
R - Não, isso aí não, morava aqui em Campinas.
2:20
P3 - E quando você ia para casa desses avós em Gesteira que ela fazia doce, era que doce que ela fazia?
R - Doce de leite, picadinha, doce de curtido, sabe, que ela fazia. Sempre, até hoje eu lembro, como que a minha vó fazia aquele doce? Não lembro nunca mais. Aquele curtido, entendeu, a gente lembra.
P1 - Tinha festa em família?
R - Sim! Final de ano.
P1 - Quem que participava dessas festas todas?
R - Minhas tias, os netos.
P1 - Qual foi a festa mais marcante que aconteceu na casa da sua vó que você tem saudade?
R - Natal! Porque no Natal sempre reunia todos, mais do natal. E quando era o ano novo reunia todo mundo na casa da minha mãe, aí vinha os meus parentes do Gesteira, minha vó, vinha tudo para casa da minha mãe no ano novo. E dia 25 a gente ia para lá e ano novo era aqui, era assim. Daí reunia, a família reunia mais, ficava todo mundo junto. E era uma festa, eu tenho muito primo, era muita gente, era muito menino para brincar. A gente lembra, né!
P1 - Você aprendeu alguma coisa, tipo esses doces que a sua avó fazia?
R - Aprendi com a minha mãe, com a minha vó mesmo, aquele negócio de ela morar mais longe, a gente ia, quando chegava já estava pronto. Mas com a minha mãe a gente aprendeu.
P1 - Que tipo de doce que você mais gostava que a sua mãe fazia que você aprendeu a fazer, doce, comida, em geral?
R - Minha mãe sempre fazia doce de leite, doce de arroz, doce curtido também fazia, mas eu achava da minha avó bem melhor.
4:21
P2 - E essas festas de Ano Novo, como que elas eram?
R - As festas de ano novo? Era boa também, era boa!
P1 - Naqueles dias ali na festa do ano novo, qual tipo de comida e doce que eram feitos que te marcou?
R - Olha, naquele tempo a gente ficava contando até os dias para chegar no natal, porque a macarronada, esses tipo de comida a gente não tinha no dia a dia, gente, então assim, a gente ficava contando os dias para chegar para a gente comer uma comida melhor, era no Natal mesmo, no Ano Novo, porque hoje não, hoje é comum, você entendeu, a gente come todo dia. Mas naquele tempo que a gente era criança, não era não, naquele tempo era mesmo uma canjiquinha, a gente passou muita dificuldade aqui na roça, entendeu? Então, por isso que a gente ficava até, assim, ansiosa mesmo para chegar aquele dia. Tinha vez que a gente contava até na folhinha, tá faltando tantos dias para chegar a festa na casa da minha vó, tá faltando tantos dias, entendeu? Então é isso aí.
5:40
P1 - Seus avós trabalhavam? Eles trabalhavam com o que?
R - Minha avó paterna, só na roça e a gente trabalhava até junto com ela na roça, desde os meus 7 anos assim, ela passava cedo lá e gritava para gente ir para roça, tinha que ir para roça. A gente sempre ia para a roça, plantando arroz, milho, feijão.
P1 - Era para o consumo da família ou para vender?
R - Só consumo da família, não vendia não! E para o meu pai a minha avó trabalhava muito assim, com muita plantação, mas não vendia, era só mesmo para casa, sabe! Para casa! Na verdade o arroz era socado, colhia, socava no pilão. Minha mãe socava arroz para o almoço, para a janta, coitada! Era sofrimento.
P1 - E você ajudava nesses afazeres?
R - Ajudava, a gente ajudava!
P2 - O que que você fazia?
R - Assim, na roça? Capinava, fazia tudo na roça.
P1 - Você também ajudava na preparação?
R - Ajudava na roça. Que minha avó passava cedo e tinha que ir com ela para roça. E quando eu estudava, depois da escola, depois da escola, tinha que chegar em casa e ir para a roça.
7:00
P1 - Qual o nome do teu pai?
R - Antônio Viana da Silva.
P1 - Seu pai trabalhava?
R - Trabalhava e trabalha ainda. Agora em junho, ele vai fazer 80 anos e continua trabalhando na roça, tira leite. A gente fala com ele para parar, mas ele continua trabalhando. Com muita criação, sabe! Muita criação, trabalha até hoje.
P1 - Você sempre morou… morava e mora ainda no mesmo lugar?
R - Quando eu casei, que eu mudei para minha casa, é onde eu moro hoje ali. Só que eu fiquei uns tempos em Mariana… Aí eu mudei e fiquei uns tempos em Mariana, devido… Aí continuei trabalhando aqui, que tem 24 anos que eu trabalho na escola, só que eu não quis pedir transferência, porque a gente é acostumado aqui. Só que o transporte estava muito difícil para mim, saía de Mariana, eu saia 5:30 da manhã e chegava à noite. Então assim, tava muito difícil o transporte. Aí a gente tornou construir aqui de novo, onde era a casa velha da gente, a gente tornou a construir e depois veio a pandemia. Com o negócio da pandemia, eu fiquei mais aqui na roça, os meus meninos lá em Mariana, e eu mais aqui na roça, sabe! Que na verdade eles nem gostavam muito que eu fosse lá, no início. Aí eu fiquei mais aqui, e com isso eu continuo trabalhando aqui, tô mais aqui na roça. E vou em Mariana assim, fico lá uns dias, tem um feriado, uma folga que tem, aí eu vou lá em casa, fico lá, mas eu sempre tô mais aqui na roça de novo, lá na roça.
8:35
P2 - E quando você era criança foi sempre a mesma casa que você morou aqui?
R - Sempre foi a mesma casa, quando eu fui criança era a mesma casa
P2 - Como que era essa casa?
R - Simples! Casinha simples, minha filha! Muito simples.
P1 - Como era a alvenaria dessa casa?
R - Tijolinho
P1 - Quantos cômodos era?
R - Tinha três quartos, pequenininhos, uma sala, a cozinha e uma arinha social. E o banheiro era feito, não era junto assim com a casa, meu pai já até mudou muito a casa, mas naquela época o banheiro era feito um banheiro, mas assim, fora da casa.
P1 - Vocês são em quantos irmãos
R - 8.
P1 - Quantas mulheres, quantas homens?
R - Três mulheres e cinco homens.
P1 - Todos moram aqui na comunidade?
R - Mora na comunidade. Tem um que ele tem 4 anos que ele faleceu, infartou, então faleceu, tem 4 anos. E o resto mora tudo aqui mesmo
P1 - Todos trabalham e moram aqui mesmo.
9:46
P2 - E quando vocês eram crianças, como que era a relação de vocês?
R - Muito unido! A gente era muito unido em casa, sabe! Muito unido!
P2 - O que que vocês faziam juntos?
R - Brincava muito! Que a gente não tinha televisão, lá em casa não tinha, se a gente quisesse assistir uma televisão, tinha que ir lá na casa da fazenda onde meu pai trabalhava, você entendeu? Dia de domingo. Mesmo assim a gente não podia demorar, porque se demorasse, tinha aquela hora marcada, você volta, entendeu? A gente tinha que obedecer. Então, a gente, se quisesse assistir, não tinha. Então, a gente brincava muito de peteca, casinha, fazia casinha, esses tipos de coisa.
P1 - Você ia nessa fazenda para assistir televisão?
R - A gente ia.
P1 - Onde era essa fazenda?
R - Aqui no Jairo, ali.
P1 - Que programa você gostava de assistir quando chegava lá?
R - Agora nem lembro muito não. Mas assim, a gente assistia… nem lembro mais qual que era, tantos anos que tem. A gente gostava muito de assistir aqueles Trapalhões, eu gostava demais da conta. Eu era criança, mas eu gostava muito, entendeu! Gostava de assistir aquele programa lá.
10:59
P2 - E aí você falou da peteca, como que era a peteca?
R - Meu pai fazia para a gente de palha de milho e as peninhas de galinha. Palha de milho e as peninhas de galinha.
P1 - Aí todos os irmãos brincavam juntos?
R - Brincava de peteca, de casinha, esses trem. A gente brincava assim, pular corda. Meu pai fazia uma gangorra para gente também, aquele gangorrão lá, amarrava uma corda assim, punha uma tabuinha embaixo, e um balalango lá, tava gangorrando. Era assim.
P2 - Você falou de pular corda, tinha alguma música, alguma coisa?
R - Não, não, nada, um segurava lá na ponta, outro cá e um pulando, quando errava saía, outra entrava, era assim.
P1 - Cantavam na hora que tava batendo corda?
R - Não, não, cantava não.
P1 - Quando vocês brincavam de casinha que tipo de comidinha…
R - Fazia, pegava as panelinhas de mãe lá, uns caxizinhos lá, punha lá, fazia, pedia para ela dar alguma coisinha para nós fazer lá.
P1 - O que que ela dava para vocês fazer de comidinha?
R - Dava feijão, dava uns negócio lá para nós. Nós ia lá na casinha, a gente fazia o fogãozinho de tijolinho, aí punha lá e ficava lá naquela casinha brincando.
P1 - Os meninos também participavam?
R - Os meninos participavam, quando eram mais novos. Depois cada um vai crescendo, vai desistindo desses tipos de coisa. Enquanto eles eram tudo pequenos, brincava.
P2 - Era você com seus irmãos ou tinha algum vizinho, alguma outra amizade?
R - De vizinho não tinha, porque lá onde meu pai mora, que meu pai mora lá até hoje, não tem ninguém não, na verdade hoje mora só ele e Deus. Não tem assim vizinho, só quando a gente vai lá mesmo. Não tinha vizinho não. Porque a gente fala que é Campinas, mas é vila Guilhotina ali, a casa dele tá do lado assim.
12:51
P2 - E você tem alguma coisa que marcou a sua infância?
R - Tem! Arte que fazia de mais da conta. Vou contar uma arte que eu fazia aqui, mas apanhei um couro, levado. Tinha um moço, que ele fazia telha, tinha um terreiro, assim, enorme, de fazer telha. Aí ele fez a telha, bateu a telha bonitinha lá, deixou. Eu esperei.. tinha eu e minha irmã, nós esperamos o moço virar um alto, que ele virava para ir para casa. Aí nós fomos lá, bem assim nas telhas, tudo assim o.. em cima das telhas do homem toda. No outro dia ele chegou, quando eu vi ele gritando mãe lá na porteira, ele gritou mãe, falou pra ela, arrastou tudo em cima lá. Mãe falou, vou lá agora. Mas foi um couro, que eu não me esqueço desse couro até hoje. Pisamos a telha do homem tudo.
P1 - Só vocês duas?
R - Só nós duas. Muita arte, fazia muita arte…. Sei que eu apanhei demais da conta por conta dessa telha. Que ele batia ela assim, tudo encarreradinha, e nós pisando nelas tudo. Esperamos só o homem virar, não sei nem para que eu fui fazer isso. Só Deus! Cada coisa.
14:13
P1 - Algum momento mais que você lembra da infância sua com seus irmãos? Brincadeira de rua?
R - Só essas brincadeiras mesmo.
P2 - E seus pais, seus irmãos, eles participavam de algumas coisas aqui na comunidade?
R - Não, não!
P2 - Seus irmãos participam de algum evento aqui da comunidade? Você? Alguma festa, alguma comemoração?
R - Não, não, participa não.
P3 - Você falou da escola, que você estudava e depois tinha que trabalhar. Com quantos anos você foi pra escola?
R - Sete anos.
P2 - Onde que era essa escola?
R - Era na Fazenda. Depois… eu fiz a primeira série, que não tinha educação infantil. A dona da Fazenda, dava escola, mas lá na fazenda mesmo. Então tinha um comodo que ela dava escola lá. Aí eu fiz o primeiro, o segundo e o terceiro ano nessa Fazenda. O quarto ano a gente já fez aqui, naquela antiga escola que tinha aqui em Campinas. Porque aí o Prefeito construiu essa escola na época. E a gente mudou para cá, sabe!
P1 - O que você lembra do tempo de escola?
R - Tempo de escola? Fazer o dever de casa por estrada fora, que não fazia muitas vezes em casa, chegava na estrada… castigo, porque naquele tempo ficava de castigo mesmo. Aí sentava no alto que tem ali, sentava lá fazia o dever, copiava da outra menina também, que vinha de um outro lugar, copiava o dever também, chegava na escola. Desse tempo eu lembro. E brincava com os colegas também da escola, na hora do Recreio. Isso aí a gente lembra. E na verdade tinha muita, muita, hoje tem hora que eu fico imaginando assim, dessa época, quantas pessoas nem tá aqui mais, que a gente estudou junto, sabe! Tem pessoas que você vê, tem pessoas que já foram embora para São Paulo, que a gente nunca mais viu, mas tem muitas pessoas também que já não está nesse mundo mais, que já partiu. Foi várias pessoas que a gente estudou junto e hoje já não está mais, sabe.
P1 - Tem saudades de alguma amiga?
R - Ah tem, boba, a gente tem.
P1 - Como chamava?
R - Saudade a gente tem. Tem várias.
P1 - Tem alguma delas que te deixou mais saudade?
R - Ah tem!
P1 - Conta um pouquinho pra gente?
R - Sempre tem! Sempre tem uma amiga assim, mais íntima da gente.
P1 - Aquela amiga que conta segredos.
R - É! Tinha uma amiga assim. O nome dela era Edna. Então nós duas, quando chegava a época assim, de festa junina, a gente ficava ali fazendo as coisas assim, “vamos por um copo com água ali”. A noite inteira, tinha dia que a gente ficava a noite inteira ali esperando dar meia-noite, para poder a gente fazer, por copo com água para ver quem ia casar, quem não ia. Uns trem assim que a gente nem…(risos) Ai meu Deus! Olhava no espelho,.. São João. A gente ficava fazendo esses trem assim, nós ficava acordado, a gente trabalhava de dia acordado, fazendo esses negócios. Tem umas amigas que a gente lembra.
P1 - Aí eu olhava no espelho para ver a foto do namorado?
R - Não via ninguém.
P1 - Via não?
R - Via ninguém! Ô meu Deus, era cada coisa.
18:05
P2 - E nessa escola da Fazenda, vocês só tiveram uma professora durante os anos?
R - Só uma professora, a dona da Fazenda.
P2 - Você lembra dela?
R - Lembro muito dela. Ela é viva até hoje, tá muito velhinha, mas mora em Mariana, sabe. Lembro dela.
P1 - Como era ela como professora?
R - Muito boa professora. Os meninos com ela aprendia, boba!
P1 - Como ela chama?
R - Cleonice.
P2 - E tinha alguma coisa que você gostava muito de estudar, que você gostava mais?
R - Olha, hoje eu não vejo isso mais na escola, mas aquele tempo que eu estudei, tinha um tal de um questionário para a gente responder, eu gostava demais do questionário, gostava de mais daquilo, era tantas perguntas que tinha no questionário, eu gostava demais. Quem que descobriu o Brasil, perguntava lá, quem que fez isso? Quem que fez aquilo? A gente estudava aquilo ali. Hoje eu não vejo isso na escola mais não, entendeu? Vai mudando, as coisas mudam muito, não era aquele tempo que a gente estudava, entendeu. Mas eu gostava muito do questionário, estudar questionário. Aí até assim, para você ver quanto tempo, quem inventou o rádio? Tinha lá a pergunta, quem inventou o rádio? Aí a professora perguntava, quem inventou o rádio? A gente respondia. Quem fez isso? A gente estudava isso daí, tinha que saber de cor.
P1 - Você estudou até que idade?
R - Até 12 anos
P1 - Seus irmãos também?
R - E meus irmãos eu não lembro. Meus 2 irmãos mais novos, chegou a estudar em Águas Claras, ja fez o primeiro ano, sabe! Mas na época minha não tinha, na minha época aqui em Campinas, era só a quarta série e acabou. Aí para você estudar mais tinha que ir em Mariana, mas a gente não tinha condições.
19:50
P1 - Os seus irmãos, por exemplo, eles ficaram adolescentes, ainda estudavam aqui e trabalhavam com seus pais?
R - Aham!
P1 - Depois quando eles ficaram adulto eles continuavam?
R - Alguns foram trabalhar em firma, em Mariana, mesmo Arlindo trabalhou em firma em Mariana. Depois que voltou, casou e mora aqui. Mas assim, saiu para trabalhar sim.
P1 - Naquela época quem estudava mais menino ou menina?
R - Ai, ai, as meninas, acho que menina sempre estudou mais. Os meninos faziam mais bagunça.
20:33
P2 - Aí depois que você parou de estudar, depois da quarta série, que que você fazia nos seus dias?
R - Na roça, continuei na roça, a mesma coisa, na roça.
P2 - E aí quando você não estava trabalhando, tinha alguma coisa que você gostava de fazer?
R - Só sábado. Sábado a gente arrumava a casa, lavava roupa, fazia esses negócios no sábado, mas tirou disso era na roça.
P2 - Vocês lavavam roupa ontem?
R - Não tinha tanque assim não. Na casa do meu pai tinha uma pedra, a gente esfregava a roupa na pedra, com a escova lá na pedra.
P1 - Essa pedra era localizada onde?
R - Tinha a bica e a pedra era do lado assim, até hoje tem ela lá.
P1 - Perto do rio?
R - Não, na bica d'água mesmo.
P1 - Era muita água, né?
R - Na casa do meu pai até hoje, a mesma coisa, tem essa bica d'água, a mesma coisa. Só que hoje tem tanquinho, tem outras tipos de coisas, que antes a gente não tinha nada disso lá, a gente batia a roupa na pedra, pegava escova ficava ralando a roupa ali. Hoje está mais fácil.
21:39
P2 - E você falou das festas de São João, tinha bastante aqui?
R - Tinha! Fazia fogueira. Hoje até não está tendo mais. Tempos atrás aqui era muito moça e muitos rapazes que tinha, só que dos tempos para cá, acabou, não tem mais, entendeu? Nessa época a gente juntava, a gente carregava lenha, carregava lenha na cabeça, nas costas, para poder fazer a fogueira. Animava.
P1 - Na época dessas festas você tinha namorado?
R - Não, mais amigas.
P1 - Só ficava olhando o copo de água mesmo?
R - Só olhando o copo de água. Punha clara de ovo lá, a noite inteira vigiando para ver se dava, se desse um tendão, esse é noivo, se não desse, não ia ser. A gente ficava olhando lá, uai!
P1 - Como assim tendão?
R - Tem um tendãozinho que dá dentro do copo assim, dentro do copo de água, eu punha a clara lá no fundo, põe um pouquinho de água e deixava lá no sereno lá. A gente no outro dia de manhã cedo ia lá olhar como é que tava.
P1 - Algum copo de vocês deram isso daí?
R - Alguns deu! Alguns deu certo e outros não! É interessante!
22:55
P2 - E onde que eram essas festas?
R - Lá em casa, fazia na casa de mãe mesmo.
P2 - E todos os irmãos participavam?
R - Não, só mais eu, minha irmã que é mais velha, mais algumas das amigas que ia.
23:13
P1 - Vocês trabalhavam, o que vocês faziam com o dinheiro que recebiam pelo trabalho?
R - O dinheiro, na verdade, igual a gente trabalhava em casa mesmo, não recebia. A gente trabalhava, igual o meu pai, plantando muita roça, minha vó, a gente mexia só na roça ali, a gente mexia só para a gente mesmo, a gente não recebia. Que meu pai trabalhava nessa fazenda, ficava tirando leite, mexendo lá. E a gente plantava também, só que a gente ia para a roça, e ele ficava mexendo lá na fazenda.
P2 - E aí você falou que você morou nessa casa até os 17 anos?
R - Até os 18.
P2 - Foi quando você casou. Como você conheceu o seu marido?
R - Aqui mesmo! Que ele era da roça aqui. Desde criancinha que nós era tudo amigo mesmo, aí acabou casando.
P1 - Como foi que vocês decidiram formar uma família, casar?
R - Casar… Ele foi trabalhar porque a gente não tinha lugar para morar antes, sabe? Aí foi trabalhar, e eu fiquei aqui para ele trabalhava para poder construir a nossa casa. Aí ele trabalhava lá em Mariana e a gente construiu a casa, ele vinha só sábado, trabalhava a semana inteira em firma. E sempre foi assim. Porque aqui é muito bom para morar, mas de serviço aqui é ruim. É ruim, porque assim, é roça mesmo, não tem serviço mesmo assim. Depois, quando meu menino mais novo estava com 2 anos, eu consegui um emprego na prefeitura, para trabalhar na escola. E onde eu to aqui trabalhando.
25:12
P1 - No dia do seu casamento teve uma bela de uma festa. O que você lembra?
R - Não teve muita festa.
P1 - Não teve não? Como foi?
R - Teve assim, um jantar, mas não teve festa mesmo assim, sabe! Eu na verdade casei lá em Gesteira. Em Gesteira, chovendo de mais. Então assim, teve muita dificuldade para a gente chegar, tudo, mas conseguimos. E teve assim, um jantar só, mas não teve festa assim, muita festa não.
P1 - Como chovia muito, como que foi a cerimônia? Aí você ficou lá, veio aqui para Campinas?
R - Foi uma dificuldade.
P1 - Como assim, conta para mim?
R - Foi uma dificuldade para a gente poder chegar lá, porque carro nessas estradas era difícil demais, sabe. Então assim, eu nem tô lembrada bem, mas foi muito difícil para chegar. Carro, tinha até que empurrar carro na estrada, porque barros demais. Então teve muita dificuldade mesmo, entendeu? Para a gente chegar.
26:23
P1 - Você teve quantos filhos?
R - 5.
P1 - Menino, menina?
R - 5 homens.
P2 - E você lembra o dia que o seu primeiro filho nasceu?
R - Lembro!
P2 - Como foi?
R - Lembro como se fosse agora. Foi aquele momento esperado que a gente esperava, foi muito bom. Nasceu em Mariana, no hospital de Mariana, eles tudo nasceram no hospital de Mariana, tudo nasceu no hospital Monsenhor Horta. Fui la para a casa da minha vó, bisavó, na verdade, cheguei lá… Porque aqui era muito difícil de carro. Fiquei lá, ia pra lá, ficava lá, e de lá fui para o hospital lá.
P1 - Que dizer, você ia uns dias antes.
R - Uns 8 dias antes eu ia, o médico marcava para a gente… Eu ia por causa de dificuldade mesmo de ficar… carro.
P1 - Como vocês iam para lá?
R - Quando a gente não ia de carona, a gente ia de ônibus.
P1 - Tinha ônibus aqui?
R - Tinha ônibus, sempre teve o ônibus lá em baixo
P1 - Quem era o motorista da época?
R - Patricio
27:48
P1 - E como era o seu dia a dia com as crianças pequenas nessa época?
R - Olha, eu passei muita dificuldade! Não tenho vergonha de falar, porque eu passei muita dificuldade com eles, por que? 5 pequenos, foi muito assim, um escadinha, portanto assim a diferença era muito pouca, um do outro, entendeu? E na verdade, o meu último, eu fiz um pré-natal até em Barra Longa, que Doutor Mário, ele marcou o dia, “seu filho vai nascer dia 27 de fevereiro”. E nasceu na data certinha que ele marcou, mas só que aí… ele falou assim comigo, “dia 25 você vem aqui para Barra Longa, que eu vou te mandar para Ponte Nova”. Só que como o meu marido estava trabalhando em Mariana, tava muito difícil, eu ir para Barra Longa e ele trabalhando em Mariana. Quando eu passei mal, eu cheguei no hospital, o médico falou para mim, “você veio por que está marcado ou porque você está sentindo mesmo?” “Não, porque eu estou sentindo!” Porque estava marcado no meu cartão do pré-natal dia 27. E justo dia 27 nasceu. Esse médico de Barra longa, que eu fiz pré- natal com ele lá em Barra Longa. Eu achei tão interessante, que no dia que ele marcou, nasceu.
P1 - Foi esse aí que você fez pré-natal em Barra Longa?
R - Em Barra Longa.
P1 - Qual diferença de tempo de um para o outro?
R - Diferença, assim, de 2 anos. E o mais novo, o outro que era abaixo dele, só tinha 1 ano e 4 meses, aí o outro nasceu. Portanto ele ficou 15 dias com a minha vó, que ela falou assim, “vou ajudar você cuidar do menino porque ele está muito novinho ainda.” Aí ele ficou com ele ainda uns 15 dias na casa dela, até…
29:41
P1 - Como é sua relação aqui com a comunidade?
R - Muito boa! Muito boa! Graças a Deus, com todas, não tem nenhuma pessoa que eu não converso, converso com todo mundo. Perfeito a gente não é, mas aqui depende de mim eu estou pronta para fazer, ajudar, sabe?
P1 - Você tem muitos amigos aqui, então?
R - Muitos amigos! Não tem nenhuma pessoa aqui que eu não converso, nem um menino, nem uma mulher, nenhum homem. Converso com todo mundo, graças a Deus!
P1 - Então a vida sua aqui com a comunidade…
R - Muito boa! Graças a Deus! Muito boa mesmo!
30:25
P1 - E a quanto tempo você trabalha na escola?
R - Está fazendo 24 anos que eu trabalho nessa escola.
P1 - Você lembra do seu primeiro dia de trabalho?
R - Lembro do meu primeiro dia de trabalho, fiquei muito alegre, quando alguém chegou lá na minha casa e me gritou. Me gritou, me chamou, “é para você descer lá na escola agora!”. Eu sei que eu peguei o meu menino mais novo, do jeito que eu tava, eu sai, nem era diretora que eu falava, falava coordenadora, ela falou comigo, “é que o seu nome está aqui para você começar a trabalhar amanhã!” Eu me senti tão feliz, mas tão alegre! Aí dessa data para cá, graça a Deus, tô aqui! Já passou tantas pessoas, tantas pessoas nessa escola, tanto… De Barra Longo mesmo, trouxe umas meninas de Barra Longa, que até hoje elas ficam ligando pra mim. Então assim, nunca saiu uma pessoa aqui de dentro da escola de mal de mim, graças a Deus! Nenhuma com raiva de mim. E sempre, todo mundo, onde eu encontro… muito maravilhoso! Muito maravilhoso! Eu to aqui!
31:28
P1 - Como já tem muito tempo que você trabalha aqui na escola, teve um tempo que morava uns professores de fora aqui na comunidade, né?
R - No alojamento! Já morei no alojamento. O tempo que eu fui para Mariana, que eu saí de casa, que eu mudei! Eu fui para Mariana, mas como o transporte tava muito cansativo, aí eu fiquei no alojamento também. Ficava eu, uma de Barra Longa, que era a Maria Angela, que na verdade ela aposentou aqui em Campinas, desde o primeiro dia de aula dela, até aposentar foi aqui em Campinas, 25 anos trabalhando aqui em Campinas. Então, ficava eu e ela ali no alojamento e uma outra de Congonhas. Aí a gente ficava ali, foi muito bom também. Aí na hora de ir embora era aquela choradeira, aquela choradeira.
32:19
P1 - Qual é a transformação que você viu acontecendo aqui na comunidade que te marcou muito?
R - Transformação? Um exemplo, deixar eu ver. Um exemplo pra mim.
P1 - Escola nova.
R - A tá! Isso ai teve! Transformação, seguinte, que na época aqui não era calçado, foi calçado. A gente ficou aqui, na época que eu casei, nem luz não tinha, a gente caminhava com luz de querosene. Aí já foi evoluindo, já veio CEMIG, já calçou umas partes, depois calçou aquele morro lá, entendeu? Agora tem o posto de saúde. A escola que era a antiga escola, foi reformada com salão comunitário. Isso tudo vi a transformação. A quadra, que não existia, já tem a quadra. Escola nova também, que foi construída, porque a escola era bem pequeninha ali em baixo.
33:32
P2 - Voltando um pouco para o seu trabalho aqui na escola. Nesse tempo, teve algum momento que te marcou, alguma coisa que você guarda na sua memória?
R - Muita coisa boa aqui na escola, muitas festinhas, tipo formatura. Foi muito bom! Quadrilha também! Agora mês de julho, sempre tem a quadrilha. Só o negócio da pandemia, porque aí não teve não. Mas ano passado já voltou normal, graças a Deus!
P1 - Essa quadrilha é só da escola?
R - Da escola, aí a quadrilha abria mão para a comunidade.
P2 - E você dança quadrilha?
R - Não, dançar quadrilha não. Eu fazia, ficava fazendo as coisas, canjica, cachorro quente, fazia essas coisas para vender.
P1 - Para arrecadar fundo para a escola ou para a comunidade?
R - Para a comunidade. Inclusive uma vez, até a Gislene, a gente estava fazendo quentão, teve que chamar a Gislene para ajudar fazer o quentão. Então, tudo foi festa.
P1 - Por que, o que aconteceu no quentão?
R - Não sabia fazer o quentão direito e uma punha um negócio… chama a Gislene para ajudar fazer o quentão. Aí meu Deus, mas foi bom! No final foi tudo bom, né Gislene?
35:00
P1 - E você participava, além da quadrilha, de alguma festa da comunidade, padroeiro, ou algum outro tipo de festa assim?
R - Não, não, do padroeiro assim não. Mas precisa fazer alguma coisa assim, eu fazia.
P1 - O que, por exemplo?
R - Por exemplo, igual na igreja, sou evangélica. Mas igual a igreja católica, tipo assim, fazer uma toalha para a mesa, eu fazia! Sabe? Vamos fazer um de croche, eu fazia. Inclusive eu tive ali na igreja a poucos dias, agora, o menino falou, vem cá para você vê a mesa que eu comprei, aí eu fui lá para vê, aí eu vi a toalha lá. Gente quanto tempo que eu fiz essa toalha, essa toalha tá aqui ainda. O que depender de mim eu estou fazendo, entendeu! Eu não faço diferença assim, sabe? Por isso que eu convivo com todo mundo, graças a Deus!
35:55
P1 - Como é essas festas na comunidade? E quando ela acontece?
R - Olha, em outubro tem a festa da Nossa Senhora da Aparecida, dia 12 de outubro. Às vezes até mudava a data, mas agora não tá mudando a data não, tá fazendo mais ou menos dia 12 mesmo. Tem a de menino Jesus, que acontece aqui. Essas mesmo, não tem mais festa não. Nossa Senhora Aparecida em outubro e menino Jesus.
P1 - E o que você gosta de fazer nas festas?
R - O que precisar de mim, se eu puder fazer eu to fazendo.
36:45
P2 - Você falou do crochê, é crochê que você faz? Você lembra com quem você aprendeu a fazer crochê?
R - Com essa dona da fazenda. Eu ficava muito na casa dela, inclusive eu morava muito lá, eu ficava muito lá. Aí ela ensinou fazer crochê. Ponto de cruz foi minha mãe que ensinou, a fazer um ponto de cruz, entendeu?
P1 - Aí você passou para mais alguém esse saber seu?
R - Não passei não.
P1 - Porque você só tem menino.
R - Só tenho menino, aí eles não se interessaram muito não.
37:26
P2 - E teve alguma coisa que você fez de crochê, de bordado que você lembra muito?
R - Tem! Lá em Mariana eu pensei nos meus bordados, igual eu estou te falando, os meus clientes estão tudo em Mariana. Trouxe cada coisa aqui para roça. Só que lá em Mariana tem muito bordado, de caminho de mesa. Fiz aula de pintura lá em Mariana, muito tempo, tenho muita coisa de pintura, sabe. Mas só que tá tudo em Mariana, aqui tem pouca coisa.
P1 - Mas uma peça assim que você fez que te marcou assim…
R - Ah tem! Tem bordado, igual ponte de cruz, tem um caminho de mesa que eu não desfaço dele de jeito nenhum, porque eu achei muito interessante.
P1 - E você aprendeu no curso ou você aprendeu com a sua professora?
R - Não, o ponto de cruz eu aprendi com a minha mãe. O crochê eu aprendi com essa dona, a gente dia de domingo eu ia para lá, sentava lá, eu e mais umas duas meninas lá, a gente ficava fazendo e ela ensinando nós
38:20
P2 - E esse curso de pintura?
R - Curso de pintura eu fiz em Mariana, não tem muito tempo não, muitos anos não, foi em 2014, por aí! Que eu fiz esse curso de pintura, lá na Vila Maquiné. Fiquei uns 3 anos no curso de pintura lá.
P1 - Sua religião hoje?
R - Sou envangelica.
P2 - Você sempre foi evangélica?
R - Não, depois assim… Eu era solteira ainda, meus pais foram, aí também fui, a gente acabou crescendo.
P1 - Você tem alguma participação?
R - Você fala assim, na igreja?
P1 - É, na igreja sua, que você frequenta.
R - A gente vai aos cultos que tem, algum evento que tem a gente vai. Mas assim, coisa mesmo, não. Eu sou assim, algum evento que tem, eu vou em encontro, a gente vai. Mas fora disso, não.
P1 - Você lembra de algum momento específico, especial?
R - Assim de igreja? Teve encontro das mulheres, que foi muito bonito, que eu gostei, mas foi só isso mesmo.
P1 - Foi onde?
R - Em Mariana, lá no centro de convenções.
P1 - Foi só a comunidade…
R - Foi so a igreja só.
P1 - Encontrou com outras lá?
R - Porque assim, são várias igrejas, de Mariana. Foi o pessoal de Mariana, de Antônio Pereira, aí juntou. Bela Vista, onde tem igrejas. Aí as mulheres juntaram tudo no centro de convenções e fez um evento lá, tem um evento lá.
P1 - Como foi esse evento assim…
R - Teve um cantor, cantou. Teve o grupo das mulheres que cantavam
também. Depois teve uma janta, teve um jantar lá. Aconteceu no centro de convenções.
40:26
P1 - Como foi contar a sua história hoje?
R - Foi bom! Foi bom! Eu achei maravilhoso, porque tipo assim, não é me achando melhor que ninguém, mas eu fui chamada para participar, e vim participar. Então foi muito bom por isso. Foi muito importante, foi muito importante.
P1 - Quem que você quer que ouça a sua história?
R - Todos que quiserem ouvir, todos que quiserem ouvir.
P1 - O que você faria diferente do que você faz hoje?
R - Se eu tivesse uma oportunidade de fazer diferente? O que eu faria? Eu to querendo aposentar, assim que eu aposentar eu gostaria de fazer as minhas coisas de artesanato, entendeu? Porque o que que acontece, igual fiz minha aula de pintura, mas eu não tenho muito tempo pra… como eu trabalho não é igual, então assim, tá ali mais praticando, que eu já fiz flores para vender, mas assim, não é igual está trabalhando, entendeu? Gostaria mais de praticar mais assim, pra mim mesmo assim, trabalhar pra mim mesmo, com artesanato.
P1 - Esse saber seu você gostaria de estar fazendo peças para você tá ganhando mais?
R - É! Isto!
P1 - E também ensinando outras?
R - Também gostaria, se alguém quiser aprender, nós estamos prontos para ensinar, que a gente não pode ficar só pra gente, entendeu? Mas depende muito de pessoas querer e ter vontade, depende. Igual, eu fiz dois cursos de flores lá em Mariana, inclusive eu comprei até umas peças, flores de EVA. Eu tenho lá em casa tudo feito. Mas assim, eu não pratico aquilo. Eu fiz, coisas que ninguém toma de mim, porque sempre eu falo, aquilo que a gente faz, ninguém toma da gente, ninguém toma. É uma coisa que eu vou ter para sempre. Eu tenho esse curso de pintura, amanhã se eu resolver, eu fiz! Assim, não tenho praticado muito, igual eu to falando, eu estou trabalhando. Chega em casa, tem os afazeres de casa, mas se amanhã eu aposentar, por exemplo, e resolver, não, eu vou fazer a minha pintura, vou fazer minhas flores. Então assim, aquilo que a gente sabe, ninguém vai tomar de mim, é isso aí. Tem outra coisa importante que eu fiz na minha vida também, que eu gostei e fiz. Eu sai aqui de Campinas… se fosse hoje, nessa data de hoje, eu não faria mais, que eu fico assim, como eu fui fazer isso. Tem hora que eu mesmo pergunto pra mim, que coragem que eu tive de fazer isso. Fiz aula, eu trabalhando aqui, conversei com a diretora, a diretora na época me ajudou. Me ajudou assim, de eu sair mais cedo um pouquinho, ia para Mariana, pra mim tirar minha carteira… Tinha dia que eu punha um dinheiro no bolso, pra mim comprar alguma coisa… Às vezes saia aqui da escola, tomava um banho, corria para fazer a aula, às vezes eu punha o dinheiro no bolso. Saia de Mariana quatro horas da tarde, às vezes quatro horas eu tinha bater o dedo para coisar, às vezes não dava tempo de eu comprar um nada para eu comer. Sabe! Pra mim vim embora, que tinha que vim trabalhar no outro dia. Já vim de Águas Claras umas três vezes a pé, com Deus, fazendo essas aulas. Que eu chegava em Águas Clara, vinha no ônibus escolar de Águas Claras 16h30, chegava em Águas Claras, cadê? Já tinha perdido a Kombi, a Kombi já tinha vindo embora. Aí já tinha vindo, ele não podia me esperar, que tinha horário de buscar os professores. Eu tinha que por o dedo lá para poder fazer a minha aula. Tive muita dificuldade, muita dificuldade, mas sempre… Mesmo assim eu ainda falo, uma coragem, se fosse hoje eu não teria mais, entendeu? Hoje não teria mais! E você vim de Águas Claras a pé aqui em Campinas, fazendo aula. Em Ponte Nova, teve um dia que eu cheguei em Ponte Nova, fui fazer prova lá em Ponte Nova, cheguei em Mariana era nove horas da noite, cheguei aqui em Campinas era meia noite, de moto, entendeu? Então assim, eu já fiz muitas coisas, que hoje eu não teria mais essa coragem, entendeu? Não teria mais. Mas o que que eu penso, só que é coisas que ninguém toma, só Deus, ninguém toma de mim. Lutei muito, mas uma coisa que, né?
45:34
P1 - Você venceu porque você é uma mulher guerreira.
R - E no dia que eu fui fazer, fiz blanca, fiz 6 vezes, não tenho vergonha de falar. Já desci aquele morro ali chorando pra casa, “eu não faço mais”. Aí chegava em casa, “não, vou fazer porque eu não posso perder o que eu já fiz”. Voltava de novo. Gente, o dia que eu… o rapaz falou assim, “você foi aprovada!” Eu saí de lá tão feliz, eu andei, andei, quando eu cheguei em certo lugar eu comecei a tremer, peguei o meu telefone, falei: é verdade? Eu mesmo perguntei, “é verdade isto?” Então tem coisa na vida da gente, isso tudo eu já passei! Nem eu não estava acreditando naquilo mais, sabe? “Será que é verdade mesmo que eu passei?” Daí eu olhava assim, eu comecei a tremer. Cheguei em casa, quase tive um troço na rua, mas é uai! Só Deus mesmo! Graças a Deus eu venci!
46:36
P2 - E como você se sentiu quando você passou?
R - Tranquilo! Tranquilo! Eu tive mais dificuldade para fazer a baliza, não fazia de jeito nenhum, até chegou um dia que eu fiz.
P1 - Quando você chegou em casa contou para o maridão, para a família, como é que foi?
R - Contei! Todo mundo ficou alegre. Porque o esforço meu foi muito, saí daqui para Mariana. Eu mesma, gente, que coragem que eu tive. Hoje eu não faço mais.
P1 - Então o seu sonho é abrir um próprio negócio, continuar tuas aulas de pintura?
R - Sim! Deus dando vida, força, saúde. Primeiro Deus, sobre todas as coisas.
47:44
P1 - Tem mais alguma coisa que você quer contar para a gente?
R - Tem coisa assim, que eu passei dificuldade com os meus meninos pequenos e o meu marido trabalhando fora. Não vou dizer sozinha, que Deus ajuda a gente, e os amigos tudo. Mas às vezes, se adoecia, eu tinha que sair para o médico. Então, eu lutei muito! Nunca deixei eles, se precisasse de sair, nunca deixei eles de qualquer maneira. Inclusive, o meu mais novo, ele tinha o que, era pequeninho, ele bateu o olho no bambu, quando eu cheguei assim, ele tava chorando, corri para ver o que que era, ele tinha batido o olho no pé do bambu, o pé do bambu tava um pouquinho com terra. E aí larguei em casa sozinho, que não tinha mais ninguém, sai correndo, para procurar um carro para levar em Barra Longa. Na época tinha hospital em Barra Longa, Antônio Enfermeiro, não sei se você lembra? Antônio Enfermeiro, ele falou pra mim, se você não traz ele, ele tinha perdido o olho, ele explicou lá. Hoje, portanto, ele tirou a carteira dele, AB, ele queria trocar a carteira dele para D, só que não está conseguindo, porque ele tem uma parte da vista perdida. Só que quando ele me contou, eu fiquei com aquilo pensando, só que eu não vou ter remorso, porque eu cuidei na hora, se eu tivesse largado, deixado, eu podia hoje estar remorciada. Mas na hora eu arrumei um carro, saí. Inclusive, teve alguém que falou que eu fui andar a toa em Barra Longa, pagar carro, andar a toa, porque não tinha necessidade de eu levar. Eu falei, é meu filho, eu vou levar, porque eu vou cuidar. Com muita dificuldade, eu nunca deixei sem vacinar. Às vezes eu pegava carona para levar meus meninos para vacinar. Até hoje, um está com 38 anos, eu tenho o cartão de vacina desde novinho, tudo em dia. Lutei assim, deixava às vezes de comprar as coisas pra mim, para comprar para eles. E não foi fácil não, 5 pequenos. Não foi fácil não. E hoje, graças a Deus, agradeço muito a Deus e eles também, eles são muito bons pra mim. Eu fico até emocionada de falar deles, desculpa! Fico até emocionada de falar, porque é muito bom pra mim. A gente passa muita dificuldade, mas foi muito bom o que eu ensinei para eles. Graças a Deus! O mais velho até falou comigo assim, quando ele saiu daqui, que foi para Mariana, ele foi trabalhar numa padaria lá. E o pessoal falava assim comigo, “seu menino não vai dar nada que presta”. Eu falei, o meu Deus, a necessidade obriga, a necessidade obriga. A pouco tempo ele falou comigo, eu nunca tive vontade de por nem por brincadeira um cigarro na boca. E sempre trabalhou, sempre lutou, sempre lutou. Quando foi pouco tempo agora, ele falou comigo, "única coisa que eu tinha vontade na minha vida, de comprar um pedacinho de terra pra mim”. Eu falei com ele assim, “o meu filho, não tem condições não, mas aquele que está lá em cima tem”. Do nada ele comprou o terreno dele aqui. Eu fiquei tão alegre, o filho que ajuda a mãe e o pai, eles são ajudados por Deus. Aquilo que a gente não tem condição, que eu não tinha, não tinha. Desculpa! Que eu estou emocionada com aquilo que acontece na vida da gente. Mas graças a Deus. Só uma pessoa muito feliz. Muitas vezes eu faço coisas fala assim, você não tem tristeza?” Não, mas não adianta, se eu estou com um problema eu vou descontar nela? Não! Você entendeu! Eu estou com os meus problemas, se eu estou com um problemas na escola, eu não levo ele para casa, se eu estou com um problema em casa eu não trago ele para a escola. Colega de trabalho nenhum é obrigado… entendeu? Muita gente falou, “você parece que não tem tristeza na vida”. Falei, tem sim, mas Deus ajuda a gente, a gente vence! Eu sou sempre feliz! Graças a Deus!
52:19
P1 - Algum dos seus filhos é casado, você já tem netos?
R - Tenho netos, tenho 10 netos! 10 netos! Tenho uma neta de 13 anos, mora longe, lá em Brasília, que o meu menino ficou lá em Brasília 3 anos, então arrumou essa menina lá, tenho essa neta. Mas assim, a gente tem contato, nunca abandonou também, tem contato com estudo, sempre final de ano busca ela. Então assim, nunca a gente abandonou não, sempre tá unido. Graças a Deus!
P1 - 10 netos? Final de ano o festa, hein?
R - Festa! Natal mesmo foi, uma festa.
P1 - Todos?
R - Reuni todos.
52:57
P2 - E o que mudou na sua vida quando você se tornou vó?
R - Foi bom! Mas assim, não vou dizer, porque a gente não morava… Bom, assim, a gente ficou alegre e tudo, mas nunca tive assim, porque quando estava lá, cada um na sua casa A gente fica muito alegre, mas com os netinhos tadinhos. E eles gostam de mim.
P1 - Você mora aqui, mas quando é essas datas especiais…
R - Vem todo mundo. Junta todo mundo! E sempre dia de domingo vem, quando não vem um, vem outro, sempre está, quando eu estou aqui. Quando to em Mariana também, “senhora está em Mariana?” “Tó!” Onde eu to eles aparecem, não abandona não. Não vem todo dia porque todo mundo trabalha, não tem condição. Mas na hora que tem oportunidade eles estão aí.
53:48
P1 - E o que vocês fazem quando vocês estão juntos?
R - A data que mais junta tudo, é difícil de faltar, é só assim, dia das mães, dia dos pais, natal. Agora de domingo assim, sempre vem um, vem outro, vamos fazer um churrasco, sabe? Eles fazem um churrasquinho, é assim que faz!
P1 - Você continua fazendo aquela macarronada gostosa?
R - Faço a comida, almoço. Quando eu sei que eles veem eu faço alguma coisinha mais diferente para eles, graças a Deus. Quando vai embora a gente fica triste. Quando é domingo de tarde, que segunda-feira tem que trabalhar, tem que ir embora.
54:46
P2 - Quer falar mais alguma coisa?
R - Não!
P1 - Arte de algum deles? Algum desejo?
R - Mas fazia! Fazia arte.
P1 - O que eles fizeram que te marcou?
R - Fazia arte, porque ficava em casa mais só. Igual você também deixava eles em casa para trabalhar. Aí fazia. Quando eu fui para Mariana também. O dia que eu fiz a prova, sou concursada, graça a Deus. O dia que eu fui, foi uma luta também, se fosse hoje, eu também não saia de casa. Saí de manhã, com escuro, não sei se vocês. …Com escuro, com a lamparina acesa para ir lumiando, para eu sair de casa, meus filhos tudo saindo, sem saber para onde que eu já vou, de que que eu já vou. E 8h30 a gente tinha que estar em Mariana para fazer a prova, se não o portão fechava. Foi uma luta, foi uma luta. Hoje tá até bom, que graças a Deus, as estradas estão cascalhadas, tá bom, mas antes não era fácil não, para sair daqui não, era com muita dificuldade mesmo. Aí arrumamos um moço para levar nós, ele falou, “não vou levar mais não que choveu”. Eu falei, nossa Deus, é agora? Aí saímos para a casa de outro, mas sabe aquela pessoa que se tá vendo que não tá com boa vontade, no tempo de ajoelhar no pé da pessoa, aí ele falou, “vou levar vocês, mas hoje eu levo mais caro a corrida, porque hoje é domingo. Nós paga! Pode levar! Graças a Deus, passamos. Eu na verdade, foi mais duas daqui, não passou não, coitadas, até fiquei com dó, mas no dia lá, fazer o que, é um coisa que está na gente. Passei no concurso, graças a Deus, foi 2001. 2001, ou 2002. Aí a gente já tomou posse, graças a Deus. Sou efetiva! É isso! A gente conseguiu uma coisa com muita luta. Muita luta! Graças a Deus, assim, tudo que eu consegui foi com muita dificuldade, muita luta. Mas se a gente desanimar um pouquinho, a gente não vai não.
57:00
P1 - Quando saiu o resultado lá que você tinha passado no concurso, como foi?
R - Fiquei muito feliz, quando eu fiquei sabendo que eu tinha passado. O dia de tomar posse também foi muito, muito… lembro até hoje, foi um dia muito maravilhoso. Lembro do prefeito cantando o hino nacional, coisa mais linda que foi. Sempre que eu lembro. Uma dó, que naquele tempo nem telefone eu tinha para tirar uma foto nem nada, mas foi muito lindo. E na época foi… até, quando eu tomei posse. Aí ele cantou o hino nacional, foi coisa linda, entendeu?
P1 - Foi você e mais quantas aqui de Campinas?
R - Que passou? Eu e Nenega que passamos no concurso. Foi mais, mas não passou, entendeu? Não passou, não passou!
P2 - Muito obrigada!
R - Por nada! Eu que agradeço! Desculpa de alguma coisa, viu gente! Que tem hora que a emoção toma conta da gente
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