Entrevista de Telma Luchetta
Entrevistada por Bruna Oliveira
São Paulo/Paulina, 02/06/2023
Projeto: Mulheres na Tecnologia
Entrevista número: MTS_HV002
Realizado por Museu da Pessoa
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Telma, eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento?
R - Eu sou a Telma Priscila Luchetta. Hoje, dia três de junho de 2023, eu estou na cidade de Paulínia, interior de São Paulo. Nasci em Carapicuíba, São Paulo. Desculpa (risos).
P/1 - Em que data você nasceu?
R - 04/12/1978.
P/1 - Te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R - Minha mãe me contou, sim. Eu sou a caçula de três filhos. E aí, então, eu tinha dois irmãos pequenos, minha mãe tinha uma vida muito humilde, trabalhando em casa, ajudando o meu pai. E aí o meu pai estava trabalhando nesse dia e meu tio acabou levando a minha mãe, tiveram que chamar um amigo que tinha um carro, porque na época eles não tinham carro, mas no final deu tudo certo. O parto foi um pouquinho conturbado, mas no final deu tudo certo, eu estou aqui inteirona e feliz. Mas foi bastante tumultuado ali, diante das circunstâncias, mas no final deu tudo certo.
P/1 - Telma, você sabe a origem da sua família?
R - É italiana, dos dois lados. Pelo lado do meu pai, italiana, meu avô é italiano. Pelo lado da minha mãe, tinha italiano com o espanhol. Então… aí a gente veio das regiões da Europa. Eles vieram de navio e ficaram, a parte do meu pai, todo mundo acabou ficando perto da região de Sorocaba, Boituva. E da minha mãe, foi Júlio Mesquita.
P/1 - E você sabe porque você chama Telma?
R - Meu pai gostava desse nome. E aí minha irmã queria que eu me chamasse Priscila, então aí ficou Telma Priscila.
P/1 - E qual é o nome dos seus pais?
R - João Nicola Luquetta e Maria do Carmo Galindo Luquetta.
P/1 - E com que eles trabalhavam?
R - Meu pai, um projetista, desenhava vagões de trem e ônibus. Ele fez isso até mais ou menos uns...
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Entrevistada por Bruna Oliveira
São Paulo/Paulina, 02/06/2023
Projeto: Mulheres na Tecnologia
Entrevista número: MTS_HV002
Realizado por Museu da Pessoa
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Telma, eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento?
R - Eu sou a Telma Priscila Luchetta. Hoje, dia três de junho de 2023, eu estou na cidade de Paulínia, interior de São Paulo. Nasci em Carapicuíba, São Paulo. Desculpa (risos).
P/1 - Em que data você nasceu?
R - 04/12/1978.
P/1 - Te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R - Minha mãe me contou, sim. Eu sou a caçula de três filhos. E aí, então, eu tinha dois irmãos pequenos, minha mãe tinha uma vida muito humilde, trabalhando em casa, ajudando o meu pai. E aí o meu pai estava trabalhando nesse dia e meu tio acabou levando a minha mãe, tiveram que chamar um amigo que tinha um carro, porque na época eles não tinham carro, mas no final deu tudo certo. O parto foi um pouquinho conturbado, mas no final deu tudo certo, eu estou aqui inteirona e feliz. Mas foi bastante tumultuado ali, diante das circunstâncias, mas no final deu tudo certo.
P/1 - Telma, você sabe a origem da sua família?
R - É italiana, dos dois lados. Pelo lado do meu pai, italiana, meu avô é italiano. Pelo lado da minha mãe, tinha italiano com o espanhol. Então… aí a gente veio das regiões da Europa. Eles vieram de navio e ficaram, a parte do meu pai, todo mundo acabou ficando perto da região de Sorocaba, Boituva. E da minha mãe, foi Júlio Mesquita.
P/1 - E você sabe porque você chama Telma?
R - Meu pai gostava desse nome. E aí minha irmã queria que eu me chamasse Priscila, então aí ficou Telma Priscila.
P/1 - E qual é o nome dos seus pais?
R - João Nicola Luquetta e Maria do Carmo Galindo Luquetta.
P/1 - E com que eles trabalhavam?
R - Meu pai, um projetista, desenhava vagões de trem e ônibus. Ele fez isso até mais ou menos uns quarenta anos e depois ele virou comerciante de uma cidade do interior de São Paulo e foi onde ele trabalhou, conseguiu dar continuidade aí até a morte dele, faz dez anos. Esse ano faz dez anos que ele faleceu, mês que vem, inclusive. E hoje, inclusive, tem uma rua nessa cidade que ele empreendeu. Minha irmã continua tocando o comércio dele. E a minha mãe, ela começou a trabalhar, ela era mais velha de oito irmãos, então começou a trabalhar com nove anos de idade, até que aos dezenove anos ela casa com meu pai, e aí ela fica cuidando da casa, aí quando eles tinham 25 anos de casamento, eles se divorciam, eles se separam. E minha mãe tinha só até a quarta série. E aí ela tinha cinquenta anos de idade, ela começou a estudar, fez supletivo de primeiro e segundo ano, prestou o vestibular, passou na faculdade, era uma das melhores alunas. E aí com sessenta anos de idade ela tinha dois escritórios de advocacia abertos. Então, uma história bem bacana, que ela começou a estudar, na verdade com cinquenta anos de idade, uma mulher muito forte, Então, eu tenho muito orgulho dessa história.
P/1 - E como você descreveria eles?
R - Meu pai, um homem empreendedor e muito conhecido na cidade, normalmente as pessoas gostavam muito dele, ele era uma pessoa que onde ele chegava, ele conseguia trazer brilho e alegria para as pessoas. Ele era muito festeiro, gostava de festa, gostava de uma vida com amigos. E era comum a gente ter churrasco em casa, reunião de família e amigos, isso era muito comum, ele gostava muito. E um homem que perdeu a mãe com dezessete anos de idade, começou a trabalhar muito cedo, era irmão mais velho também. A família dele se separa nessa época, porque eles não tinham como cuidar das crianças pequenas, ele era o irmão mais velho, para ele começar a trabalhar, ajudar o meu avô. E aí, enfim, trabalhou muitos anos numa empresa, somente naquela época o funcionário bom era aquele que não faltava e trabalhava muitos anos, então trabalhou trinta anos, até que a empresa, ela faliu e aí ele teve que se reinventar e virou comerciante. Mas um homem muito empreendedor, ele já, até na empresa que ele trabalhava, mesmo com uma atividade mais técnica, ele já empreendia, ele já gostava de fazer os eventos da firma, então ele estava sempre ali envolvido com pessoas, então ele gostava bastante de empreender e fazer coisas diferentes, está cercado ali de pessoas. A minha mãe, é uma mulher muito forte, que teve que batalhar muito cedo, trabalhou na roça, trabalhou de empregada doméstica, cuidou muito bem dos três filhos, dava muito carinho aos três filhos, ao mesmo tempo que também dava uma educação muito rígida. Meu pai também dava uma educação muito rígida. E ela é uma mulher que, ela faz dos desafios uma escada para subir, e ela nunca demonstrou muito ali fraquezas, então ela tava sempre ali se mostrando, mesmo se ela estivesse se sentindo fraca, ela não se demonstrava. Então, ela buscava sempre ferramentas, ou artifícios para se superar, como no caso ali da separação, que ela teve depois de 25 anos de casada com o meu pai e foi estudar. Então, não consigo, hoje minha mãe tem setenta anos de idade, acabei de fazer uma viagem com ela, e aí ela tinha uma dificuldade ali para andar e tal, falei: “Mãe, eu não consigo te ver desse jeito, vamos andar, vamos andar, isso é falta de andar”. A gente não consegue ver ela já, agora, começando a entrar na terceira idade. Então, é muito engraçado, na minha cabeça ainda não consegui aceitar muito a aposentadoria dela. Mas é uma mulher muito forte, que sempre batalhou muito e esteve do lado do meu pai ali, para trazer sempre o melhor para a gente. Embora uma vida muito humilde, mas uma vida de muita luta. Eu acho que isso foi o que eu aprendi e é o que eu pratico e é o que eu passo para minha filha, inclusive. Eu não acredito em um outro caminho de sucesso, que não seja a determinação e a luta para buscar o que a gente quer fazer. Então, foi isso que eu aprendi com eles.
P/1 - Você contou o que você tem irmãos. Eu queria saber os nomes e como era a sua relação com eles durante a infância?
R - A minha irmã mais velha, Silvia Luquetta, ela era uma mãe para mim, porque a gente ficava no mesmo quarto, dormia no mesmo quarto, então era quem acordava a noite para buscar água para mim, ou para me levar ao banheiro, era ela, então a gente tem uma relação muito maternal, até hoje. Inclusive, com os meus sobrinhos, com os filhos dela, tem uma relação ali como se eu fosse a mãe deles, eu acho que essa relação maternal, ela deu continuidade. E o meu irmão, ele era o moleque da casa, ele era o do meio, então quando a caçula que sou eu, nasci, aí eu tirei um pouco do conforto dele, dá atenção dele, uma personalidade muito forte, os dois, a gente sempre estava ali em conflito, mas um conflito bom, no sentido de competitividade, mas uma competitividade saudável. Então, numa brincadeira, numa disputa, ou em fazer algo, sempre existia ali uma disputa ali entre os dois, mas uma família que foi criada com muito amor. Então, todos os momentos de dificuldade que a gente passou, a gente é muito unido. Então, é uma família pequena, nós somos três irmãos, então a gente tá muito junto. O meu irmão, hoje, mora nos Estado Unidos, ele chama Celso Ricardo Luchetta, ele mora na Flórida e tem duas filhas. E minha irmã tem um casal. Então, hoje nós temos aí cinco filhos. Cinco netos. E eu tenho mais dois filhos de coração, do meu segundo casamento. Então nós temos sete netos na família. Uma família pequena, mas que tá sempre junta, tá sempre unida, sempre em harmonia. E um apoiando o outro nos momentos que a gente precisa.
P/1 - E você chegou a conhecer os seus avós?
R - Conheci o meu avô paterno, que era um homem que eu admirava demais, eu tinha uma empatia muito grande com ele assim, de gostar de estar próxima, de querer ir lá, de ficar perto dele. Então quando a gente ia para lá, eu ficava o tempo todo atrás dele. E ele faleceu quando eu tinha uns dezenove anos, eu estava na faculdade. A minha avó… O meu avô paterno, eu conheci muito pouco, porque ele faleceu, eu era criança. E a minha avó materna, aí eu conheci mais, mas a gente viveu muito mais próximo da família do meu pai. Então, por isso acho essa relação que eu tinha com meu avô. Mas, sim, convivi bastante com a minha avó também, embora a gente se via um pouco menos, mas tive uma relação próxima dela sim.
P/1 - E pensando na sua infância, tem algum cheiro, alguma comida, alguma festa, data comemorativa que lembra essa época, que marca você?
R - Nossa, agora eu vou começar a resgatar, eu sou muito família. Eu acho que sim, tem o cheiro… Eu me lembro muito dos churrascos que o meu pai fazia, meu pai, embora, mesmo com dificuldade, ele era muito caprichoso, então ele chamava as pessoas para ir na casa dele, ele recebia muito bem. Ele sempre estava com o freezer cheio de cerveja, para deixar todo mundo bem à vontade, servia, gostava de fazer a comida, o churrasco. Então, sim, eu tenho boas lembranças disso. Tenho lembranças também, porque a gente viveu, a gente cresceu dentro de um clube da cidade, então acho que esse clube também me traz muitas lembranças boas, porque era onde a gente passava a maior parte do tempo. E meu pai, quando a gente estava em horário de verão, ele saia do trabalho, e aí a gente conseguia ir na piscina com ele, então era algo super legal para nós ali, que a gente conseguia curtir um pouco. Carros antigos é algo que também me traz muitas lembranças, também pelo meu pai, ele gostava de montar os carros, ele comprava os carros velhos e depois reformava os carros, então eu tenho até hoje uma Rural 1974, que era dele, aqui em casa e a gente cuida desse carro. E música, porque ele foi baterista, enquanto era adolescente e depois quando conheceu a minha mãe e todos da banda se casaram e a banda acabou, mas até hoje tem uma foto deles no museu de Mairinque, que é uma cidade perto de Sorocaba, da bandinha deles, daquela época. Mas, assim, era muito comum eu acordar aos domingos ouvindo música, MPB, ele gostava muito de MPB, porque ele acordava e ele fazia o café e ficava ouvindo a música. Então, acordava todo domingo com música e ouvia muita música. E as pessoas costumam, quando a gente vai nessas brincadeiras de hotel fazenda, elas me puxam para o time delas, porque eu sou, eu tenho um repertório gigante de música por causa disso, de tanta música que eu ouvi na minha infância. Então, aquelas brincadeiras de continuar a música, de acertar o nome da música, aí eu faço bem, eu sempre ganho, quando eu estou nessa equipe eu sempre acabo trazendo alguma vantagem, mas eu acho que foi em função disso, de tanta música que eu ouvi. Mas música de muita qualidade, meu pai era muito seletivo nas músicas, ele adorava o MPB clássico, então eu tenho muitas lembranças. E sou uma pessoa apaixonada por música, nas minhas reuniões aqui em casa, sempre tem uma musiquinha ali por trás rolando para a gente se divertir.
P/1 - E você lembra da casa onde você passou a infância, como era?
R - Lembro, lembro bastante. Lembro. Era uma casa de esquina, na cidade de Sumaré, em uma das duas principais. Hoje é a rua de maior fluxo. Naquela época era uma das duas principais, mas não tinha tanto fluxo de carro, então a gente brincou, realmente, na rua, todos os dias a gente brincava, fazia, desenhava garrafão na rua, brincava de corrida, de pega-pega, esconde-esconde. Então passei a minha infância brincando muito tempo nessa rua e que hoje não teria condições nenhuma, porque é uma rua muito movimentada. Mas a gente brincou bastante, era uma esquina, e ambas as ruas, tanto a da horizontal, quanto a da vertical, eram ruas que a gente conseguia brincar, e hoje em dia são ruas que ficam bem no centro da cidade, então não tem condição nenhuma. Mas, assim, eu tenho boas lembranças dessa casa, lembro dessa casa como lembro dos azulejos, lembro da fachada, como se fosse hoje, muitas recordações.
P/1 - Telma, nessa época com quem você brincava e quais eram suas brincadeiras favoritas?
R - Eu brincava com as crianças, com os vizinhos. Então, acho que a gente tinha dois momentos, assim, durante a semana era com os vizinhos, então brincava ali mesmo, essas brincadeiras tradicionais de rua, tinha… a gente desenhava um garrafão, o mamãe mandou, pega-pega. A gente gostava muito de dançar, eu lembro muito disso, assim, era Xuxa, Paquitas e tal. Então, eu sempre gostei de liderar bastante, então eu sempre estava ali puxando as meninas para fazer alguma dança. Brincar de escolinha também era algo que eu gostava, eu tinha uma lousa num quartinho no fundo de casa, que eu gostava. Brincava muito sozinha também, eu brincava muito em turma, na rua, mas dentro de casa acabava brincando sozinha ali, então eu brincava de escolinha, imaginava algumas crianças ali, eu colocava os meus bonecos, minhas bonecas ali me assistindo como se fosse uma sala de aula. E aos finais de semana, nós éramos vizinhos de uma família tradicional italiana da cidade, bem italiana. E eles tinham um sítio e todos os domingos nós íamos para esse sítio. E aí as brincadeiras já eram da gente escorregar com papelão naqueles tanques de água, chupa cana, esconde-esconde, mas aí pensando em um sítio. Então, a gente viveu muito tempo essas duas experiências. Então a vida mais rural e uma vida mais na cidade, só que era uma vida… era cidade pequena, então… Hoje, Sumaré é uma cidade muito grande, mas na época era muito canalizada no centro, então todo mundo se conhecia, as famílias eram conhecidas. O lugar que a gente saía, os adolescentes, era um só, era na avenida da cidade, um ponto específico. Então, era muito pequenininho. Então, essa vida de interior, de cidade pequena, é algo que me atrai até hoje, se eu tenho a opção. Por isso que eu trabalho em São Paulo, mas eu moro no interior, se eu tenho opção de buscar uma cidade pequena, ao invés de uma grande, eu sempre vou buscar a pequena. Porque eu ainda gosto desse clima de interior, de você conversar com vizinho, de estar tudo muito pertinho, de você ter as festas tradicionais de paróquias, igrejas. Também foi algo que eu fiz muito, trabalhei, fiz alguns trabalhos voluntários dentro dessas festinhas tradicionais, então é algo que eu gosto bastante, esse clima mais de interior.
P/1 - E você acabou não contando, mas eu queria saber um pouco de como foi essa mudança de Carapicuíba para Sumaré?
R - Na verdade, eu fui com quatro anos para Sumaré, por conta da transferência do meu pai. A empresa em que ele trabalhava existia em Osasco e em Hortolândia, então ele foi transferido. Para nós foi algo muito bom, porque a gente saiu de uma cidade da grande São Paulo e a gente foi morar numa cidade no interior. Então, essa vida de clube, essa vida de brincar na rua, os meus primos não tiveram. Mas a gente acaba mudando por conta dessa transferência que ele teve de trabalho.
P/1 - E nessa época, quando você era pequena, tinha alguma profissão que você sonhava em ter no futuro, ou você não pensava nisso, era só brincar mesmo, como era?
R - Eu gostava de imitar. Eu tenho uma relação muito forte com o meu pai, eu já falei dele já duas vezes, só nesse pedacinho aqui de entrevista. Então, como ele desenhava, eu vivia desenhando para mostrar para ele que eu desenhava bem. Mas eu não pensava naquilo como uma profissão, não. Eu acho que a profissão era muito mais relacionada a arte, porque eu fazia ballet, jazz, uma cidade pequeninha, tinha aqueles festivais de final de ano. Então, eu estava sempre fazendo alguma coisa relacionada à arte, mas ainda não pensando numa profissão específica. Mas eu sempre fui muito sonhadora, só que eu acho que a minha motivação sempre era ter a minha independência, desde criança eu não gostava de pedir dinheiro para o meu pai, então eu queria ser independente. Eu sempre mentia a minha idade, falava que era mais velha do que eu era. Hoje, jamais faço isso, mas naquela época eu fazia. Andava com pessoas um pouquinho mais velhas do que eu, tinha um senso de responsabilidade muito grande, com treze anos de idade. Então, eu acho que a questão da independência era mais forte do que uma profissão, especificamente falando. E aí eu já fiz de tudo, já trabalhei em comércio, já trabalhei em indústria. Até que eu, depois de me formar, aí tive minha profissão no mercado financeiro. Mas antes disso eu fiz muitas coisas. Trabalhei em locadora, onde a gente alugava os filmes, vendia roupa de surf, skate, no comércio. Porque eu gostava de ter o meu dinheirinho, eu não queria em nenhum momento ter que pedir. E quando tinha aquelas excursões para o Playcenter, era super tradicional, então no dia do aniversário da cidade, que era Sant'ana, a santa padroeira da cidade, saiam vários ônibus para São Paulo, para o Playcenter, então isso era uma tradição. E eu não tinha coragem de pedir o dinheiro para o meu pai, então eu escrevi um bilhetinho para ele, esperava ele dormir, escrevia um bilhetinho, porque de manhã ele saía muito cedo. “Pai, se você puder e tal”. Eu sabia que era muito difícil, então eu acho que eu não me sentia à vontade para pedir. Assim, eu fui uma criança que tive, era um brinquedo que eu ganhava no ano e esse brinquedo era para o Dia das crianças, para o Natal e para o aniversário. Não tinha, assim, hoje a gente vive, graças a Deus, uma vida muito melhor, a gente pode dar mais para os nossos filhos, mas naquela época era tudo muito difícil. Então, eu acho que eu tinha esse senso de responsabilidade dentro de mim, então eu queria trabalhar, não importava o quê. Mas não existia uma profissão específica, eu sabia que eu podia me virar em qualquer lugar, que eu também gostava de empreender, gostava de criar coisas, gostava de imaginar. Eu sonhava, mas era muito mais com a minha independência do que com uma profissão especificamente falando.
P/1 - Você lembra como foi a primeira vez que você entrou na escola, o primeiro momento na escola?
R - Lembro! Eu via os meus irmãos, lá em Carapicuíba mesmo, antes dos quatro anos de idade, eu via os meus irmãozinhos indo para a escola e eu queria muito ir para uma escola. Aí minha mãe, com todo esforço do mundo, me colocou numa escolinha infantil, para que eu pudesse… Chamava Vovó Sebastiana, a escola, para que eu pudesse ter essa vida na escola também. Foi um período curto, porque depois disso a gente já foi para o interior. Mas eu tinha esse desejo, e eu queria conviver com outras crianças. Aí quando nós mudamos para Sumaré, eu entrei já numa escola estadual. Estudei sempre em escola pública. E era uma escola muito perto da minha casa, era um quarteirão da minha casa. Então, de novo, exercendo a independência, eu queria ir sozinha para escola, voltar sozinha da escola. Então, eu tinha muito essa necessidade, de mostrar ser uma pessoa mais adulta do que de fato era. E eu adorava estudar lá, porque era muito pertinho. Então eu podia ir, enquanto as outras crianças tinham que ir de ônibus, de carro, moravam longe, eu podia ir a pé para a escola, ia e voltava, ficava muito tranquila. E eu sempre gostei muito do ambiente da escola, porque eu gosto também de lugares com pessoas, então acho que para mim a diversão era estar vivendo essa experiência. E aprendendo algumas coisas, hoje me conhecendo um pouco mais eu vejo que eu gosto de estar próximo às pessoas que me ensinam alguma coisa que eu não sei, naquela época eu não tinha essa noção. Então, a gente levava a escola como uma obrigação mesmo, por conta das provas e tudo mais, de passar de ano, que era uma exigência que existia. Mas hoje eu vejo também que a vontade de aprender coisas diferentes, isso também me atrai muito. Então, acho que isso de alguma forma já me estimulava naquele momento.
P/1 - E tem algum professor, ou alguma história que foi muito marcante nessa época da escola para você?
R - Tem! Teve uma professora que eu gostei muito, que foi nessa primeira escola, Alckmin, ela chamava. Chamava Dona Lady, eu nem sei sobre ela, mas foi uma professora que eu me apaixonei e eu acho que eu tava o quê, no primeiro ano. No pré e no primeiro ano, e eu me apaixonei por essa professora, foi amor à primeira vista, tive uma empatia muito grande por ela. Eu lembro até hoje dela, cabelinho branco, oclinhos quadrado, aquele fio dourado. E eu gostava muito dessa professora, mas foi uma questão de empatia mesmo, eu era muito criança. E depois, quando eu entrei já na minha fase de adolescente, eu gostava de professores que normalmente as crianças não gostavam, que eram os mais bravos. Não sei se é porque meu pai era muito bravo e eu já estava acostumada com aquilo, mas eu gostava de professores que me desafiassem. Então, teve uma professora, ela era professora de Ciências, Marinilze, ela chamava. Eu nunca fui muito caprichosa, minha letra sempre foi um garrancho, meu caderno tinha orelha, nunca fui uma menina toda caprichosa, não. Não era eu, eu sou de exatas, então o negócio era zero e um, zero e um. E aí, eu tinha essa professora e ela sempre fazia comentários, assim: “Ah, o caderno do seu irmão é impecável, o caderno do seu irmão é impecável”. Eu ficava brava, porque tinha aquela competiçãozinha com meu irmão, ficava brava. “Que saco, ela de novo falando sobre isso”. E aí, até que teve um dia que ela falou, assim: “Telma, eu não acredito que o seu caderno está desse jeito, eu vou fazer um desafio para você, se você passar o seu caderno inteiro a limpo e me trouxer esse caderno, eu te dou dez, você não precisa fazer a prova”. Ai, adorei aquele desafio, sempre adorava ser desafiada. Peguei o caderno das meninas que sentavam na primeira carteira, eu sempre sentava na última carteira. Peguei o caderno delas, tudo bonitinho, cheio de florzinha, figurinha, canetinha tal. Peguei, passei meu caderno inteiro a limpo, aí depois de um, dois dias, entreguei o meu caderno para a professora de Ciências. Ela olhou, o caderno realmente estava muito caprichado, tava bem escrito, tava bem cuidado. Daí ela cumpriu a parte dela, ela me deu dez. E eu lembro que a prova, que ela me livrou naquela época, foi uma prova muito difícil, até o pessoal que se saía muito bem nas provas, eles foram mal. E aí eu lembro, pra mim aquilo, eu dava risada: “Nossa, não precisei fazer a prova”. Então, para mim foi uma alegria gigante. Eu lembro desses dois episódios aí. Foi muito especial, eu guardo até hoje.
P/1 - E o que você fazia? O que você gostava de fazer para se divertir durante a adolescência?
R - Eu gostava de festa de peão, adorava. Então, sempre fui em festa de peão, Barretos, Americana, Jaguariúna. E aí, assim que eu peguei, comecei a dirigir, eu já tinha meu carrinho, daí eu ia para todo canto. Se a minha filha fizesse isso comigo hoje, acho que eu ia ficar mais preocupada. Mas eu saía. Eu não sei, acho que antigamente, não sei, parece que era tudo mais pertinho e não tinha tanto trânsito também. Mas eu pegava o carro e saía, ia para todas as festas de peão que existiam. Adorava, adorava! E fora isso, assim, os churrascos, que no interior é comum a gente se reunir numa turma de amigos e fazer um churrasco no canteiro central da cidade. A gente coloca uma Saveiro assim, sabe aqueles carros que tem uma carroceria? Colocava assim a Saveiro, com uma caixa de isopor atrás, com cerveja, gelo e a gente ficava dançando, era super… Não tinha drogas, não tinha nada disso, a gente gostava de dançar, ouvir música e tomava cervejinha, era o que a gente gostava. Então eu tive muita experiência como essa. Ah, e também, em relação ao clube, que eu comentei, tinha os bailes de carnaval, baile do Hawai, baile do cowboy. Então a gente se programava um ano antes para esses bailes, a gente fazia blocos, mandava fazer na costureira, as fantasias. E aí tinha campeonatos para eleger as melhores fantasias. E aquilo era uma festa, a gente se preparava um ano antes, organizava os blocos, fazia as fantasias e ia para esses bailes. Hoje não tem mais, infelizmente. Mas a gente se divertia muito nesses bailes do Clube.
P/1 - E como que veio a ideia de cursar Estatística? Como surgiu isso?
R - Estatística surgiu quando eu acabei o meu ensino técnico, eu não tinha muita preparação. Eu queria passar numa faculdade pública, eu já tinha isso na minha cabeça, porque eu vi os meus irmãos mais velhos, fizeram faculdade particular, então eles trabalhavam o dia inteiro, acordavam quatro da manhã, cinco, iam trabalhar, depois já iam direto para a faculdade, chegava em casa meia-noite e esse ciclo. Então eu via o sofrimento deles. Eu falava assim: “Eu não vou pagar faculdade, não, vou para faculdade pública”. Só que eu sabia que eu só tinha estudado em escola estadual, municipal, eu não tinha condições de passar numa faculdade pública. Então, eu cheguei para o meu pai - eu já trabalhava nessa época - falei assim: “Eu queria fazer um ano de cursinho, só que eu vou ter que parar um ano de trabalhar porque eu preciso me dedicar. Tudo bem?” Aí ele falou: “Tudo bem”. Aí eu fiz esse cursinho, ele me ajudou a pagar. E esse ano eu não trabalhei. E aí eu precisei vestibular. Na época eu prestei vestibular, Veterinária, Fono e Estatística. E aí eu vou chegar lá na Estatística. Então, assim, eu não tinha muito certo, eu sabia que eu queria ter ou um consultório, se fosse fono, ou se fosse veterinária… eu queria trabalhar como veterinária de grande porte, queria trabalhar com boi, com vaca, cavalo, queria trabalhar numa fazenda. E aí estatística surgiu, porque eu morava em Sumaré, que é do lado de Campinas, e a Unicamp tinha lá os cursos de engenharia e depois era assim, química, biologia, matemática, história, física. Eu falava assim: “Eu não quero ser professora, eu quero trabalhar numa empresa ou eu quero ser autônoma, abrir alguma coisa. Esses cursos não me interessam”. Só que eu ia muito bem em matemática. No ensino técnico eu fazia a minha prova de matemática, e aí o pessoal ficava todo mundo em cima de mim, porque sabia que eu nem estudava e ia muito bem. Então, eu fazia a minha prova, depois eu escrevia isso numa folha e passava para eles, falava: “Agora vocês se viram, mas não me atrapalha enquanto eu estou fazendo a minha prova”. Fazia a prova, dava meu papel para eles, e aí saía da sala e ia embora. Acabava a prova em quinze minutos. Então eu me dava muito bem em matemática, mas falei: “Puxa, não quero fazer matemática e dar aula”. Aí eu trabalhava numa Indústria têxtil, nessa época, no laboratório de controle de qualidade, então eu tinha que fazer muitos experimentos, estudos. Aí que surgiu o curso de estatística. “Ah, eu vou prestar então, na Unicamp e vou prestar estatística”, prestei Federal do Paraná, Federal de Minas e a USP. A Federal de Minas eu fui muito mal, muito mal, porque a prova de história e de geografia era bem focada em Minas e eu era de São Paulo, não tinha tanto conhecimento. Federal do Paraná eu fui muito bem, até cheguei a ficar numa lista de espera. E a Unicamp eu passei. Então eu não tive assim outra alternativa, falei: “Bora fazer Estatística, vamos lá!” Aí eu fui fazer Estatística, mas eu não tinha noção que essa seria a profissão do futuro, de Ciências de Dados, Engenharia de Dados. E eu comecei a fazer muito pensando na indústria, porque naquela época eu trabalhava em indústria. Tanto que o meu primeiro estágio foi na Danone, que é uma indústria alimentícia, também trabalhando com controle de qualidade. Aí só depois, quando eu fui para o mercado financeiro, que eu comecei a ver a área de analítica, de fazer estudos, modelos, algoritmos. E daí eu comecei a entender essa profissão, e aí comecei a explorar mais esse lado. Mas foi algo que foi acontecendo, circunstâncias. Assim, meu pai, claro, me influenciou para eu ficar perto, estudando perto. E aí na Unicamp o curso que eu tinha prestado era esse. Depois que eu fui descobrir que Estatística era o segundo curso mais difícil de se concluir, na Unicamp, não de entrar, mas de concluir. O primeiro era Física, era, não sei se é ainda é assim. Primeiro era Física e o segundo Estatística, tinha 70% de desistência, as pessoas não terminavam o meu curso, da minha turma se formaram cinco pessoas, no ano que eu me formei. Então era um curso muito difícil, eu não tinha noção, pensei em desistir várias vezes, minha mãe não deixava. “Não, não vai desistir, não vai desistir não, você está indo bem, é uma faculdade importante”. E hoje, assim, valorizo muito eu ter conseguido essa formação, porque a Unicamp me abriu muitas portas, o mercado financeiro, alguns anos atrás, quando eu entrei no mercado financeiro, eles realmente analisavam ali, eles contratavam só pessoas de faculdades de primeira linha, USP, Unicamp. Então, a Unicamp me abriu portas, para minha profissão, então eu valorizo muito. Mas naquela época eu não entendi direito, hoje eu consigo ver, nossa, valorizo demais e acho que eu fiz a coisa certa realmente, ter me formado e não sabia dessa profissão que seria tão importante para a sociedade, para todas as indústrias. É uma profissão que está crescendo bastante, tem poucos profissionais, infelizmente. Mas que ela vai perdurar por alguns anos, principalmente com essa agenda de inteligência artificial, então, onde a gente usa bastante algoritmo. Então, eu tenho certeza que ela vai ser importante por mais alguns anos. Então, eu fico muito feliz com a minha escolha, mas foi algo que não foi tão pensado assim, foi algo que foi acontecendo. Aí terminei o curso, comecei a trabalhar e não saí mais da área.
P/1 - Antes da gente ir para suas experiências de trabalho, eu queria saber se tinha outras mulheres estudando com você na Unicamp?
R - Tinha, tinha sim. Tinha mulheres, mas poucas, era como se fosse um curso de Engenharia, tinham poucas mulheres, a maioria eram homens. E na nossa profissão também, porque a área de Data e Analytics, começou cada vez mais a ir para a área de tecnologia, então a gente ainda vê poucas mulheres, infelizmente. Essa é a minha luta de hoje, para formar mais mulheres dentro de tecnologia. Mas sim, existiam poucas mulheres.
P/1 - Você contou um pouco do seu estágio, aí eu queria saber em que momento você começou a se interessar por tecnologia e entrou no mercado financeiro, como foi esse momento?
R - Tá. Quando eu comecei a trabalhar, eu comecei a trabalhar, tanto no mercado financeiro, quanto na indústria, nas áreas de negócio. Então, pensando já no meu primeiro emprego no mercado financeiro, que foi numa instituição, num banco privado, bem conhecida e importante. Eu entrei dentro de uma área de marketing, então eu ajudava a preparar o público-alvo para as campanhas. Então, eu fazia toda a mineração, fazia estudos de crocell para ver propensão de uma pessoa comprar um determinado produto, de ela cancelar um determinado produto. Então, eu vivia fazendo estudos. E ali eu comecei a perceber a importância da parte da base de dados e tal. Mas ainda nas áreas de negócios, elas não queriam depender muito de tecnologia, porque todas as vezes que as áreas de negócio precisavam de alguma coisa de tecnologia, isso entrava numa fila de prioridade de projetos estratégicos daquela empresa. E aí uma demanda que poderia ser mais simples, mais rápida, como um estudo, ela acabava demorando tempo demais. Então, as áreas de negócio, elas foram criando estruturas caseiras, assim, colocava uma máquina com bastante espaço, mais parruda, que a gente fala. Uma máquina com memória, para fazer estudos para aquela área especificamente falando. Então ela começou a criar artifícios, criar ferramentas para não depender 100% de tecnologia. Naquela época a gente tinha muita dificuldade com armazenamento de dados, então se eu quisesse fazer o estudo histórico, eu tinha que pedir para a área de tecnologia e eles tinham que tirar os dados de fitas, que eles armazenavam esses dados. Então, era muito custoso. “Puxa, eu quero todas as transações que aconteceram de hoje para cinco anos atrás”. Nossa, eles tinham que procurar as fitas, de alguma forma extrair dados dali, para depois me passar. E aí eles, para me passar esses dados, a gente não tinha a parte de infraestrutura para suportar essa migração de um lado para o outro, de um lugar para o outro, o dado de um lugar para o outro. Então, era tudo muito difícil, muito custoso. Hoje com nuvem, Cloud, que a gente começa a ter mais possibilidades de armazenamento de dados e com grandes volumes de dados. Porque pensa assim, lá atrás as pessoas, a gente viveu algumas eras, então teve a era onde todo mundo teve o seu computador, depois disso, onde todo mundo teve a sua internet. E internet muito ruim naquela época. E depois a mobilidade, que é onde nós temos o celular e consegue gerar dados a todo momento. Então, esses dados, eles foram aumentando de uma forma muito exponencial, foram crescendo, crescendo, crescendo, crescendo. E aí, foi insustentável, a área de negócios não podia mais fazer estudos sem desenvolver tecnologia, porque ela precisava de uma infraestrutura para suportar, para fazer todos esses estudos. Eu cheguei a trabalhar numa empresa, que a gente demorava 45 dias para fazer as contas a receber, para fazer cálculo de PDD, toda a parte de inadimplência. A gente demorava 45 dias, era muito tempo. Então com o tempo isso foi viável, as áreas de negócios começaram a se associar ou ter mais parcerias com as áreas de tecnologia. E aí, com isso, eu fui obrigada a aprender mais tecnologia, porque até então, eu tinha a área de tecnologia como um apoio para mim, eu fazia tudo que eu precisava dentro da área de negócios. Aí quando isso começou a mudar, aí a gente começou a estabelecer uma conexão realmente com tecnologia e começou a perceber a área de Data e Analytics, tem que ficar embaixo de tecnologia. E aí surgiram os CFO, que são os cargos mais executivos de áreas de dados, as áreas de gestão de dados, a própria área de DPO, que é executivo que tava cuidando da LGPD, compliance. E aí, as áreas começaram a ser criadas, e aí realmente hoje a gente pode olhar tudo no mesmo pacote, Data e Analytics, tecnologia, tem que andar muito junto, se você não anda junto com eles, você não consegue estar à frente nos estudos, você vai sempre fazer estudos muito simplistas. E para você colocar isso numa esteira de produção de um banco, por exemplo, pensando você como uma consumidora, eu faço um score para você, de risco, por exemplo, para falar: “Puxa, eu posso emprestar dinheiro para a Bruna, ela é uma pessoa adimplente? Ela vai pagar? “Então, é feita toda uma análise com dados cadastrais, com dados comportamentais, da sua conta corrente, de produtos que você adquiriu ao longo do tempo, e aí eu atribuo a você um score. E esse score muda a todo momento. Assim, conforme você vai avançando no seu ciclo de vida, fora da organização, dentro da organização, vai mudando. Então, pensa assim, você era um adolescente, depois você casa, vira mãe, aí você tem um filho, você tem uma previdência, aumenta sua renda. Então, você vai atuando ali em diferentes níveis dentro desse ciclo. Então, esse score vai mudando com o tempo. Então, imagina você fazendo a mão toda vez que precisar atualizar os dados da Bruna? Pensando só na Bruna, fazer esses estudos na mão. Então ficou inviável, então a gente precisava cada vez mais ali ter toda a infraestrutura, para que a gente pudesse criar ferramentas de inteligência artificial, de Machine Learning, para calcular esses score automaticamente, para que eu tenha sempre atualizado ali qual score da Bruna, para o momento que ela quiser fazer um empréstimo numa organização, numa instituição financeira, eu tenha ali os dados dela atualizado. Então, isso a gente extrapola para outras áreas também, a área de CRM, para campanha, áreas que a gente não via, até pouco tempo atrás, áreas jurídicas, área de recursos humanos, também implementando Data e Analytics, estudos para avaliar a performance dos profissionais, para avaliar a produtividade dos profissionais. Então, hoje a gente vê já uma disseminação desse tema, com uso de tecnologia para várias áreas de negócios. Então, a coisa está realmente ali crescendo exponencialmente, ganhando uma lateralidade bastante importante, para que a gente sempre tome decisões baseado em números, baseado em dados e não somente de forma subjetiva. E é isso. É para isso aí que a gente, hoje, trabalha, para ajudar as principais instituições na tomada de decisão de uma forma mais rápida, de uma forma mais assertiva, através de estudos e análise.
P/1 - Que legal ver você contando, porque dá para ver que você acompanhou todo esse processo de crescimento dentro da área, junto com você foi crescendo. Eu queria que você contasse como funciona o seu trabalho hoje?
R - Hoje? Bom, hoje eu tenho uma estrutura de engenheiro de dados, cientista de dados. A gente atende às principais instituições da América Latina. Hoje eu faço parte de uma estrutura Financial Service para a Latam. Então, a gente atua em bancos que permeiam ali toda América Latina, bancos, seguradoras, fintechs, cooperativas de crédito, toda indústria financeira ali, a gente suporta essas indústrias, através da prestação de serviços. Considerando a locação de profissionais para fazer alguns estudos específicos, ou para ajudar atividades, ou demandas que são priorizadas ali pela organização. Seja através de uma necessidade de negócios, ou seja, através de uma necessidade regulatória. Então, a gente tem hoje ______, _______, que são reguladores que fiscalizam essas instituições financeiras, elas fazem algumas exigências para esses bancos, então esses bancos precisam se preparar, enviar relatórios para esses órgãos reguladores. Além disso, assim, a gente precisa continuar fazendo os estudos para ajudar a área comercial, para definir o público-alvo que é mais propenso a comprar aquele determinado produto, para pensar estratégias de como é que eu posso ofertar mais crédito, limite de crédito que eu posso oferecer para essa pessoa. Então, assim, oportunidades de estudos são diversas. E aí, hoje a gente consegue atuar, suportando todas as áreas de negócios de uma instituição financeira, através de estudos, de análises, de preparar as bases de dados, de fazer tratamento nesses dados, de construir motor de cálculo, que é como se fosse um motorzinho que vai rodar todos esses algoritmos, de fazer com que esses algoritmos rode numa esteira mais automatizada, de pensar em alguns robôs. Então, a gente vai criando aí ferramentas, para poder ajudar o gestor, seja de negócios, seja de tecnologia, a atuar de forma mais estratégica e de forma mais rápida, de forma mais assertiva. Então, esse é o trabalho que a gente faz. Essa estrutura fica dentro de Tecnologia, como eu já havia comentado. E a gente acaba suportando também as áreas de gestão de dados das principais instituições, ali com serviços também, colocações de profissionais, para poder fazer preparação dessas bases, para poder pensar em estratégias operacionais, para rodar uma determinado código, para preparar tabelas, para extrair dados, para tratar esses dados, para gerar relatórios. Então, as atividades são diversas. Nos últimos anos, com esse boom aí que teve na pandemia, a gente sofreu bastante, porque os profissionais, eles são bastante escassos dentro de Tecnologia. Então, a gente teve que se reinventar para mostrar para o mercado que nós éramos uma marca empregadora de profissionais de Tecnologia, para que os profissionais que tivessem interesse em vir para EY, que é a empresa que eu sou sócia hoje. E além disso, estratégias de captação de profissionais, estratégia de retenção, porque como tinham poucos profissionais, o mercado começou a roubar do outro ali. E a gente começou a pensar: puxa, se a gente continuar dessa forma, a gente não vai crescer, então a gente precisa formar novos profissionais. E aí, a gente começou a criar academia de Data e Analytics, que é onde a gente busca juntar uma questão social, então a gente busca profissionais que estejam em regiões periféricas, de classe D e E, a gente aumentou o público-alvo. Então, antigamente, como eu falei para você, as empresas contratavam só engenheiro de faculdade de primeira linha, hoje não. Hoje a gente contrata profissionais que se formaram em diferentes faculdades, que tem habilidades de programação, de tecnologia e mulheres, pretos, LGBT, pessoas com deficiência. Os autistas são ótimos em linguagens de programação. Então, a gente começou a ampliar esse público-alvo, e dar oportunidade a essas pessoas que não tem oportunidade de estudar, capacitando essas pessoas e no final dessa academia, eles performando bem, eles vão passar por alguns testes, mas passando por todas essas fases e entregando o trabalho, que entregar um projeto que eles têm que apresentar ali para uma banca de especialistas, a gente contrata esses profissionais. E com isso a gente também faz algo para a sociedade, com um cunho mais social, de dar emprego a mais pessoas, pensar um pouco nessa agenda de diversidade. Então, hoje, além da agenda técnica que nós fazemos, a gente tem muito esse olhar, de como eu vou formar mais profissionais de Tecnologia. A gente tem ainda um problema muito grande social, de não ter, as escolas normalmente não têm computadores, e quando tem, estão quebrados. Então a gente fala com ONGs, a gente fala com empresas parceiras, para ver como é que a gente consegue ajudar essa agenda, colocando mais computadores a disposição, trazendo mais tecnologia, desde o ensino fundamental, para que as pessoas já comecem a ter mais familiaridade com tecnologia. Então, a gente vem trabalhando muito nessa agenda. Foi sim, por uma questão de necessidade de mercado, mas que depois quando a gente começa a se envolver nesse olhar mais social, você começa a se envolver emocionalmente com aquilo e você começa a ter mais paixão ainda por fazer. Então, hoje eu posso te dizer que metade do meu tempo está muito dedicado na formação e captação de profissionais técnicos, o que é bem legal, porque eu acabei descobrindo habilidades que eu tinha. E a gente tendo que se reinventar, para conseguir trazer oportunidades para pensar em como a gente ajuda o país a crescer cada vez mais, as empresas prosperarem. Então, hoje essa é a minha função.
P/1 - Eu queria fazer duas perguntas em uma, agora. Desde que você entrou no mercado da tecnologia, até hoje, eu queria que você dissesse quais são as principais transformações em relação às mulheres, a contratação de mulheres dentro da área e o que você projeta para o futuro das mulheres no mercado da tecnologia?
R - Ótima pergunta. Bom, ainda a gente convive aí com um cenário que não é muito favorável, o número de mulheres em tecnologia ainda é inferior ao número de homens. Então, o que a gente percebe, isso está evoluindo, a vida da minha filha, da sua filha, vai ser muito mais fácil do que foi a nossa vida. Eu acho que isso vai mudando e como uma velocidade bastante rápida, porque até pouco tempo atrás, e pouco tempo atrás mesmo, não se falava sobre essa agenda de diversidade. A gente não podia, nunca, tocar nesse assunto, porque isso pegava mal, isso não era legal. A gente não tinha espaço para falar sobre isso. E a partir do momento que hoje abre uma possibilidade para a gente falar sobre esse assunto, para a gente trazer o poder de fala, dizer como a gente se sente em algumas situações, mulheres fazendo trabalhos que são menos analíticos, mais operacionais e homens nos projetos mais estratégicos. Pensando em oportunidades que normalmente eram mais dadas aos homens, porque os homens estavam ali fazendo network, a mulher não fazia muito isso, então elas nem eram lembradas. A gente vê um cenário aí de evolução, isso é algo que a gente tem muito orgulho, porque embora ainda nós tenhamos poucas mulheres em comitês executivos, à frente de empresas, em cargos executivos, é algo que vem mudando e as empresas estão começando a fazer isso. Inicialmente, até podia ser que isso acontecesse, talvez de uma forma mais oportunista, ou de, “ah, eu quero aparecer para o mercado, quero trazer essa agenda para o mercado”. Mas hoje as pessoas estão mais conscientes, e eu começo a enxergar, que sim, tem um olhar para isso. Não vai acontecer de um dia para o outro, por isso a importância das cotas. Eu acho que as cotas sim são importantes, é um assunto super polêmico, mas é verdade, ninguém vai colocar ali uma mulher, porque ela é mulher. Se uma empresa está tratando dessa forma, está errada, o que a gente está fazendo é abrindo possibilidades para que mulheres que não eram nem pensadas para aquela posição, elas comecem a ser pensadas. E a gente tem também, fazendo um paralelo, estatísticas que falam que uma mulher só se candidata para uma vaga quando ela tem 100% dos requisitos exigidos para aquela oportunidade, ela tem medo de não dar conta por conta da síndrome do impostor, enfim, aí a gente vai até ampliar essa agenda. Mas as mulheres, elas não se candidatam, isso também é algo que desfavorece as mulheres. E os homens já não: “Ah, se eu vou aprender sobre isso, eu vou me candidatar para essa posição”. Eles são mais corajosos nesse sentido. Culturalmente os homens são mais desenvolvidos, ou eram mais desenvolvidos, para… homem não pode chorar, homem tem que ser forte. E as mulheres eram sempre o cristalzinho, a princesinha. Hoje isso está mudando, a mulher pode ser o que ela quiser ser. Então, elas estão mais encorajadas, isso ajuda muito! Então a gente começa a ter aqui, por um lado, as empresas fazendo movimento forçado de puxar mais mulheres para cargos de liderança, e por outro lado, a gente começa a ver uma mudança cultural. Mas essa mudança cultural é muito mais lenta, então por isso que as empresas precisam fazer esse push, ela precisa continuar fazendo essa força tarefa para acelerar, porque senão... Se for esperar isso aqui, vai demorar quantas gerações para a gente conseguir chegar no patamar que precisa? E aí algumas ações são necessárias, mas daqui um tempo vai ser natural, não vou precisar mais ter cotas, já vai ser um processo natural. Então, tem ainda uma agenda de transformação, ela é dolorosa, ela é lenta, mais lenta do que a gente gostaria, mas está acontecendo. E cada vez mais a gente tem espaço para falar sobre isso. E quem não tiver nessa agenda, não está antenado com o futuro. A gente vê estatísticas aí, de performance de empresas com mulheres na liderança, que são líderes de mercado, as empresas crescem constantemente. A gente sabe que as mulheres têm algumas características de intuição, de algo que até pouco tempo atrás era até discriminado, mas que hoje é visto como: isso aqui é um diferencial. Para você entender o cliente, o comportamento do cliente, você ter essa intuição, você ter algo que é intangível, mas você consegue ali captar algumas coisas. A mulher consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo. Então, tem várias características ali que ajudam o mercado para trazer mais resultados. E a gente tem que explorar isso. O que aconteceu no passado, é que as mulheres, para chegar em cargo de liderança, elas tinham que estereotipar o homem, eu tinha que ser uma mulher dura, eu tinha que ser uma mulher focada em resultados, que trabalhava dez vezes mais para conseguir chegar em algum lugar, porque eu tinha que buscar esse estereótipo masculino. E o que a gente percebe hoje, até nas agendas de negócios das organizações, é que essas características femininas, de intuição, de liderança transformativa, de diversidade, agenda de people, de você cuidar das pessoas ______. Então, a gente percebe as empresas correndo atrás de algo que a mulher tem características de sobra para fazer. Então, as mulheres precisam parar de olhar para o estereótipo masculino e assumir a identidade dela. E porque não os homens começarem a olhar para essas características femininas, para tirar um pouco desse estereótipo masculino de como foi até hoje, do controle, daquela gestão mais dura. Então, existe uma oportunidade aí na liderança, de balancear um pouco essas características, e usar isso a favor da empresa, para essa empresa crescer de uma forma saudável, sustentável, com qualidade, proporcionando uma vida, ou até um clima mais favorável para os profissionais. Então, tem muita oportunidade. O que precisa ser feito, realmente, as pessoas precisam se engajar nisso. E aí como as pessoas podem ajudar? Apoiando essa agenda, ajudando na hora que uma mulher está falando alguma coisa, se o homem ver a mulher sendo interrompida, o próprio homem chamar a atenção do outro homem: “Olha, deixa ela acabar de falar”. Dar exposição às mulheres, dar oportunidade a essas mulheres. É defender essa agenda, questionar porque não é uma mulher que está indo para essa posição. Se todo mundo fizer isso, claro, tem uma agenda mais forçada agora, mas que depois vai se tornar natural. E aí as coisas começam a entrar num eixo mais estável. Então, o que eu vejo é isso. Tem oportunidade, tem muita coisa para ser feita, mas as pessoas estão mais engajadas e precisam estar cada vez mais. Então é isso que a gente pede apoio aí para todo mundo, para o pessoal ter um olhar. É aquilo que eu falo, a empatia você consegue ter, mas você não tem o poder de fala. Então a gente não pode julgar porque a gente não sabe o que aquela pessoa passou, então a gente precisa ajudar. Se ela disse que passou por aquilo, a gente tem que estender a mão e ajudar, independente do pré julgamento que a gente faz. Então, se um ajuda o outro, tenho certeza que as coisas caminham para um momento muito melhor e com uma velocidade muito maior, que é o que a gente precisa.
P/1 - Telma, e quais são os seus sonhos hoje?
R - Meu sonho! Meu sonho é eu poder continuar buscando… acho que o meu maior sonho é construir o meu legado, assim, acho que eu vou ficar feliz quando eu conseguir ver o meu time crescendo, formando pessoas, conseguindo realizar essa agenda na prática, que é algo que a gente trabalha ainda bastante na teoria e que a prática está acontecendo, mas precisa acontecer mais. E eu poder, trazendo um pouco o lado pessoal aqui, e eu poder continuar trazendo bons exemplos para minha filha. Tudo que eu faço hoje, eu penso assim: puxa, eu vou ter orgulho de contar isso para minha filha ou não? Então, eu atuou muito tentando fazer a coisa certa, sempre. Nem sempre eu consigo, mas essa é a minha vontade, é o meu desejo, é o meu propósito, de tentar sempre fazer a coisa certa. Porque no final do dia, às vezes, o ritmo para você chegar até um determinado lugar que você queira, ele não é tão rápido, mas pelo menos é sustentável, se você faz sempre a coisa certa, você… naturalmente as pessoas vão conseguir enxergar isso. Demora um pouquinho mais, mas elas enxergam. Quando você burla, quando você pula etapas, você pode até crescer mais rápido, mas você não se sustenta lá, porque você não está preparado. Então, o meu desejo é continuar fazendo a coisa certa e poder… E ver a minha filha também nesse mesmo caminho, e próspera, feliz e realizando sonhos e realizações pessoais dela. E na agenda profissional, o que eu quero mais, é construir esse legado aí que eu estou lutando tanto, mas que venho trabalhando para isso e vou chegar lá.
P/1 - E como foi se tornar mãe?
R - Uma experiência maravilhosa. Assim, eu acho que foi o meu melhor presente. Eu acho que foi o que eu fiz de mais certo na minha vida. Eu tenho uma filha maravilhosa, sou mãe, sou coruja, é claro. Mas realmente ela é uma menina justa, uma menina que foi muito amada, e sensível, e ao mesmo tempo determinada demais, porque viu a mãe também, acho que até demais, porque viu a mãe aí sempre buscando, brigando, trabalhando. Então ela é realmente muito responsável. Então, foi o maior presente que Deus me deu e eu sou muito feliz de ter a Giulia na minha vida. Hoje ela tem dezessete anos e é a minha inspiração, a minha força para os momentos difíceis, é o que me faz levantar todos os dias, me dá energia para fazer, mesmo quando eu não esteja tão a fim de fazer, ela é a minha força, inspiração. Muito bom ser mãe. Isso não me atrapalhou em nada, tá? Na minha carreira, porque desde criança ela foi acostumada a ficar na escolinha, então, assim, ela não teve muita referência. A mesma história do chocolate, criança só sente falta quando ela experimenta. Ela viu a mãe sempre trabalhando, ela viveu com isso. E assim, passei por situações difíceis na minha carreira, viagens a trabalho e deu tudo certo, não precisei tirar o pé da minha carreira porque eu virei mãe. Eu acho que esse é um ponto, também, para ser discutido, porque as mulheres, elas acabam abrindo mão da vida delas. E depois essas crianças crescem, precisam ter a vida deles, e aí? O que a gente faz? Como a gente vive depois disso? Então, a gente não pode parar. E eu tenho certeza que os filhos vão entender, que vai dar tudo certo no final. É mais a gente do que… O universo conspira para que dê tudo certo, se a gente deixar tudo muito organizadinho, não tem como dar errado. E tá tudo bem uma criança crescer numa escola, ela vai estar sendo ali cuidada, está sendo orientada, vai conviver com outras crianças, vai comer direito, porque vai comer o que tá todo mundo comendo. É a gente que acaba estragando, não precisa. A gente não precisa abrir mão da nossa vida em função dos nossos filhos. A gente, claro, vai fazer se tiver realmente uma necessidade, a gente é mãe, a gente vai fazer isso. Mas não precisa, assim, abandonar a nossa profissão, porque a gente quer ser mãe, dá para fazer as duas coisas, eu sou prova disso.
P/1 - A gente já está encaminhando para o final, eu tenho só mais duas perguntas, são mais rápidas. A primeira delas é se você gostaria de contar uma história, que eu não te perguntei, se eu deixei de perguntar alguma coisa, ou deixar alguma mensagem?
R - Eu vou deixar uma mensagem. Vou deixar uma mensagem para as meninas que estão começando a sua carreira. Na verdade, assim, é mais uma inspiração, porque de novo, a gente pode falar do que deu certo para gente, e pode ser que isso não dê certo para todos, mas o mais importante é a gente não desistir de nós mesmas, é a gente acreditar nos nossos sonhos, acreditar que a gente é capaz, mesmo quando o mundo inteiro fala que você não é capaz, porque se você, dentro de você, sabe que você pode chegar lá, não desiste. E muitas vezes você vai ter vários desafios e pessoas que vão colocar obstáculos para que você chegue onde você quer chegar, só que quando você chega e você passa por tudo isso, você olha para trás, você fala assim: “Nossa, eu fiz tudo isso”, é muito gratificante. É uma felicidade imensa que você sente e uma sensação de, puxa, concretizei, eu consegui, eu cheguei, eu busquei. Foi difícil. Não vai ser fácil, mas é aquilo, na minha carreira eu tive muitos momentos que eu pensei em desistir, e eu não desisti. Eu tive a força da minha mãe, eu tive algumas circunstâncias que aconteceram no caminho que não me possibilitou desistir. E hoje, quando eu olho para trás, eu penso em vários momentos, assim… você falou de histórias, aconteceu várias vezes, assim, eu trabalhava durante a minha faculdade e eu tinha muita dificuldade na faculdade, porque eu não tinha a base que as pessoas tinham. E aí, por muitas vezes eu dormi no ponto de ônibus, esperando o ônibus passar, para eu poder ir para faculdade, estudando para a prova, o ônibus passou, eu tive que sair correndo, buscar outro ônibus, pegar dois, três ônibus para chegar, chegava atrasada na faculdade para fazer uma prova. Trabalhava junto também. Puxa, quanta coisa que a gente passa, quanto esforço que a gente faz. E quantas pessoas me falaram que eu não seria capaz, várias. Mas eu consegui, eu estou conseguindo, um dia depois do outro, eu estou conseguindo chegar lá. E quando eu olho para trás, eu sinto muito orgulho. E tudo depende da referência. Então, assim, a gente não pode acreditar no que as pessoas falam, porque para algumas pessoas eu sou uma coisa, mas para minha filha, para minha família, eu sou algo completamente diferente, as pessoas têm orgulho de mim, elas acham que eu me superei, eu sou a pessoa mais extraordinária desse mundo. Então, é a gente começar a olhar o copo mais cheio do que vazio, mudar a perspectiva, se alguém colocar a gente para baixo, mudar a perspectiva, tirar o foco daquilo. Não olhar para o lado, olha para o seu trabalho, olha para a frente, não se comparar com ninguém. E seja resiliente para superar os desafios. Tenho certeza que fazendo a coisa certa, você vai chegar onde você quer chegar. É só a gente acreditar e seguir o jogo. Então, esse é o recado que eu deixo para as meninas.
P/1 - E como foi contar a sua história hoje no Museu da Pessoa? É só um recorte, mas seria preciso desde 78 para você contar a sua história, mas esse pequeno pedacinho que você contou hoje, queria saber como foi essa experiência para você?
R - Foi uma delícia. Porque eu não estava preparada, como eu comentei com vocês, eu estava pensando que era uma entrevista técnica, como eu faço muitas vezes, em eventos, falando da agenda de tecnologia. E aí, vocês me fizeram perguntas deliciosas, que me fizeram resgatar aí vários momentos importantes, lembrar de pessoas especiais que passaram pela minha vida. Então, foi muito gostoso, foi muito prazeroso. E eu agradeço muito por isso, viu?! Muito bom.
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