P/1 - Queria que você começasse se apresentando, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Bom, meu nome é Daniela da Ascenção Dantas, eu tenho 35 anos, nasci em treze de setembro de 85, aqui no Guarujá mesmo.
P/1 - E quais os nomes dos seus pais?
R - Meu pai se chama Francisco Sales Dantas e minha mãe Sônia Maria da Ascenção Dantas.
P/1 - Quais são as atividades deles?
R - Meu pai é aposentado hoje, e minha mãe sempre foi do lar.
P/1 - E você tem irmãos?
R - Tenho, somos em quatro. São três meninas e um homem.
P/1 - E nessa escala, em que lugar você está?
R - Ah, eu sou a do meio.
P/1 - E como é a sua relação com os seus pais e seus irmãos?
R - Bom, com os meus pais… Hoje eles não moram junto comigo, eles moram em outra cidade, então a gente se fala mais pela internet mesmo, agora com os meus irmãos… Eu tenho mais afinidade com a minha irmã mais velha… A minha irmã, a segunda, no caso, tem um gênio mais forte, então a gente só fala mais o essencial mesmo, e o meu irmão, homem é meio desapegado, né? Casou… Só quando tem algum evento, alguma coisa e a gente marca de se encontrar. Mas contato assim mesmo, de estar sempre conversando é a minha irmã mais velha.
P/1 - E você lembra da casa onde você passou a sua infância?
R - É onde eu moro hoje. Eu morei lá até os dezenove, aí casei, não deu certo, aí os meus pais estavam pra se mudar e eu fiquei na casa, que é onde eu moro até hoje.
P/1 - E como é essa casa?
R - Em que sentido você pergunta? De recordação ou de estrutura mesmo?
P/1 - De estrutura e recordação.
R - É bem confortável, são dois quartos… Eu tenho uma filha de onze anos, aí tem o quarto dela, o meu. Eu tenho uma garagem boa, um corredor, eu tenho uma cachorra, aí tem espaço pra cachorra, tenho dois gatos, também tem bastante espaço para os gatos, e cozinha, sala e um banheiro.
P/1 - E mudou alguma coisa desde a sua infância até agora?
R - Mudou. Na verdade quem mudou a casa fui eu. Meu pai sempre trabalhou muito e meu pai era eletricista, eletricista de manutenção da Codesp, que é aqui no Porto de Santos, e como diz, “casa de ferreiro, espeto de pau”, então ele não fazia o que tinha que ser feito. Aí depois que ele mudou que eu reformei, dei umas mexidas, porque a casa tinham algumas coisas que tinha que ser arrumada, aí eu fui mexendo devagarzinho pra ter um pouco mais de conforto. Mas assim, estrutural não, mais de… Um gesso, outra parede, ou mudar um piso, essas coisas que eu alterei. Mas só.
P/1 - E como era o seu bairro quando você era criança?
R - Aí era bom, agora… É o mesmo bairro, porém, como tem muita coisa de aluguel na rua que eu moro, poucos são os vizinhos que eu tenho desde quando eu era pequena, acho que tem uns três ou quatro que são famílias de quando eu era pequena, que a gente brincava, que corria. Hoje é todo mundo trancado praticamente. É um ou outro que você conversa, eu converso mais com os meus vizinhos da lateral ou da frente, porque todo mundo vive na sua vida, chega do trabalho todo mundo se tranca. Na minha rua… Eu brincava muito, era aquela coisa da mãe gritar e tu vim correr, porque tu tava na casa dos outros, ou estava na rua detrás, e hoje não tem mais isso onde eu moro, é muito difícil. E é um bairro de família, mas você não vê muito criança jogando bola ou brincando como eu brincava quando eu era pequena. Às vezes eu apanhava pra entrar dentro de casa, hoje mal a gente vê criança ali. Está muito perigoso, né?
P/1 - E quais brincadeiras você costumava brincar?
R - Nossa, eu e meu irmão a gente aprontava. Era futebol… Acho que eu só não empinei pipa, mas futebol, esconde-esconde, pega-pega, aí tava andando de bicicleta e dava volta na rua. Eu lembro que teve uma época que eles iam asfaltar uma das travessas, e aí a prefeitura pôs um monte assim, uns dois caminhões de aterro, e a gente passava o dia dando cambalhota naquele aterro, era muito divertido. A gente ficou até com - como eu posso falar - pegou uma irritação na pele, de tanto que a gente ficava naquela terra, eu e o meu irmão… Na verdade todas as crianças. Era cambalhota… Porque era muito grande o aterro que eles fizeram. Mas era brincadeira normal mesmo, naquela época, queimada.
P/1 - E os amigos de vocês eram do bairro mesmo?
R - Era, eram vizinhos, né?
P/1 - O que você mais gostava de fazer quando você era criança?
R - Era ficar na rua mesmo, sempre ficar na rua. A gente cresceu, eu e a irmã do meio, no caso, a gente era da mesma faixa de umas meninas que tinha lá na rua, a gente ia pra casa delas, aí brincava de ônibus, escolinha, várias coisas. Essa era a brincadeira que eu mais gostava, que era quando a gente ia pra casa de alguma das meninas e aí ali que a atividade ia… Eu lembro que a gente brincava muito de ônibus, que colocava um monte de cadeira, cada uma sentava em uma, e a gente ia pra passeios, fazer pique-nique, e escolinha, é o que a gente brincava bastante. Nossa, se você não fala eu nem lembro dessas coisas, a gente acaba esquecendo das coisas que a gente já fez.
P/1 - E como é, para você, vê as suas experiências de quando você habitava o bairro, habitava as ruas do seu bairro, e agora a sua filha que não faz muito isso?
R - Eu sinto por ela, que ela não vai ter toda essa experiencia que eu tive. Eu tenho dos meus vizinhos amigos que até hoje a gente considera como se fosse família, que a gente brincava, que brigava, mas hoje ainda a gente está sempre se reunindo, e o que ela vai ter de experiência? São os amigos da escola, só? Porque a minha filha não fica na rua, ela não brinca. Ela não brinca de pega-pega, nada. E hoje fica em casa, a criança está no celular. Ela ainda brinca ali no mundinho dela com barbie, essas coisas, mas essas brincadeiras na rua, de correr, isso ela não tem. Às vezes da uma andada de bicicleta, mas a criança está tão acostumada a ficar dentro de casa, que eu falo: “Quer andar de bicicleta?”, “aí mãe, eu não quero”. E eu sinto isso ali, são muitas crianças que ficam dentro de casa, no celular.
P/1 - E o que você queria ser quando crescesse?
R - Olha, não era motorista, isso eu lembro (risos), mas eu não tinha muito assim… Eu não pensava muito no que eu queria ser quando eu crescesse, eu não tinha muito isso não. Eu só estudava mesmo e a gente ia levando, entendeu? Eu não tinha aquela coisa de: “O que você quer ser? Vamos focar e você vai ser isso”, eu fui ter isso agora, já adulta, depois de ter passado por muitas experiências e aí eu vi a importância, né?
P/1 - E qual é a sua primeira lembrança da escola?
R - Olha, a lembrança que eu tenho da escola… Na verdade é de uma professora, que eu não sabia escrever a letra “Q” na lousa, eu não sabia escrever a letra “Q”, aí ela fez eu escrever na lousa e eu escrevia, eu fazia uma bolinha e um risquinho, e ela me levou pra lousa e fez eu ficar na lousa até eu fazer o “Q” certo. Aí eu fiz o “Q” certo. Hoje eu não faço o “Q” daquela forma, mas eu sempre lembro dessa professora, que eu fiquei muito constrangida. É essa memória que eu tenho. Quando falam da escola, eu lembro dessa professora que fez eu ficar lá na lousa escrevendo o “Q”. Mas fora isso, eu passei por três colégios, porque aí você está até uma série, depois muda para outra, mas eu nunca tive problema, foi sempre bem tranquilo os meus estudos. É que eu também tinha uma mãe que “ou você passa, ou você passa”, então eu tinha que estudar.
P/1 - E nesse seu primeiro colégio, como você ia pra escola?
R - A gente sempre foi a pé lá em casa, sempre estudamos, eu mais o meu o irmão, ou eu e a minha irmã, sempre na mesma escola, então a gente sempre… Se fosse de manhã, acordava cedo, tomava o banho, o café e ia. Enquanto a gente era menor a minha mãe levava, mas depois que ficou maiorzinho, naquele tempo era diferente e dava para ir pra escola sozinho. Hoje eu dia já não dá, mas a gente foi pra escola sempre a pé.
P/1 - Nessa época você tinha amigos?
R - Não. Eu fui ter amigos mesmo na oitava série, por aí, que são quem eu tenho amizade hoje ainda, mas quando eu era mais novinha assim, não.
P/1 - E como foi a mudança de escola? Desse primeiro para o segundo colégio.
R - É difícil, né? Eu sempre fui muito tranquila, mas eu mudei para uma… Eu mudava com a minha irmã, a Denise, e a Denise era meio briguenta, então: Ah, tu é irmã da briguenta, então tu vai apanhar também, né? Eu nunca apanhei, mas ela sempre tinha problema de minha mãe ter que ir na escola porque queriam pegar ela, queriam bater nela, coisas desse tipo, então sempre tinha alguma coisa. Então tu chega numa outra escola, aí a tua irmã já… Acaba sobrando pra você, né? Mas é coisa da adolescência.
P/1 - E nessa época vocês também iam a pé pra escola?
R - A gente sempre foi a pé, sempre.
P/1 - E nessa última mudança de colégio foi no Ensino Médio?
R - Foi, que aí foi o terceiro colégio e ali a gente terminou, que aí foi o terceiro ano. Ali foi mais tranquilo, que era uma galera mais… Eu sempre fui muito tímida, muito na minha, eu não tinha facilidade em fazer amigos. Hoje eu ainda não tenho muito, mas… Minha irmã que fazia mais amizades, aí eu ia no grupinho dela, mas era um pessoal mais animado, mais unido, nessa última escola. E foi uma passagem do primeiro, segundo e terceiro mais tranquila.
P/1 - E como você se divertia nessa época?
R - Então, eu não me divertia muito, porque os meus pais têm a religião deles e tinha que ser o que eles queriam, então eu não fui uma adolescente que saia pra balada, ou que ficava com os amigos bebendo, experiências dessas eu quase não tive, de diversão, era mais alguma coisa em família, ou ia com o pessoal da igreja pra praia pra jogar bola, mas também se não fazia em casa o que eles queriam, “ah, também não vai com o pessoal…”, que era a nossa diversão, digamos assim, não fez o que eles queriam, não ia mesmo com o pessoal da igreja. Meus pais eram muito rígidos nesse ponto. Aí eu não tenho muito experiencia de viajar com os amigos, de dar alguns passeios ou de bagunçar.
P/1 - E me conta um pouquinho desses seus amigos que você falou que começou a fazer na oitava série, que você mantém até hoje, não é?
R - Eu tenho, então… Eu fiz, foram duas amigas, na verdade, a Margareth e a Viviane, uma mora perto da minha casa ainda… Hoje a gente não tem muito contato. A Viviane tem um irmão, que é a Valéria, eu estudei com a Viviane, e eu falo às vezes com a Viviane, mas acabei fazendo amizade com a irmã dela, que ela mora na rua atrás da minha, e é uma amizade assim… Eu fico uma semana, não dou oi, nem nada, mas aí do nada: “Vem aqui tomar café”, aí a gente vai, fica horas conversando. Minha filha brinca com a dela, dorme na casa dela, são coisas assim. (Pausa). Aí é mais ela, e eu tenho também, que eu falei que a gente brincava, tudo junto também, a gente era vizinho que é o João Paulo, é a família, o João Paula, a Flávia, que hoje em dia a gente sempre vê, o filho fez aniversário, ou “é aniversário da minha mãe, vem aqui em casa”, mas está sempre ali. Agora com a pandemia às vezes faz chamada de vídeo, ou mando um “oi”, pra saber como está. Mas são poucas as amizades que eu tenho que ficaram.
P/1 - E como foi o momento em que você acabou o colégio?
R - Eu acabei o colégio acho que estava com dezessete anos, aí eu já queria trabalhar, trabalhar, trabalhar, o meu pai sempre falava: “Vai estudar alguma coisa”, e eu fui trabalhar, fiquei acho que dois anos trabalhando numa papelaria, aí depois eu fui… Me perguntaram: “O que você quer fazer?”, aí eu fui fazer curso de radiologia médica, mas acabou que nesse período eu engravidei, aí tive que parar, mas foi… Aí eu fiz esse curso de raio-X.
P/1 - Voltando um pouquinho, queria saber como você entrou pra trabalhar na papelaria.
R - Foi um amigo da igreja, que ele trabalhava em contabilidade, então ele ia sempre nas lojas perto de casa, aí ele sempre estava em contato com donos de lojas e a moça falou que estava precisando de alguém, aí eu entrei… Ele: “Ah, posso te mandar uma menina?”, aí eu fui. Fiquei lá acho que dois anos, trabalhei com ela, depois eu saí para trabalhar numa ótica, mas fiquei só a experiência… É que nesse intervalo - vou contar a história toda - eu comecei a fazer o curso de raio-X, estava namorando, aí engravidei, aí eu tive que parar o curso, eu casei e acabei perdendo a criança, aí depois que eu perdi a criança eu fui trabalhar na bomboniere. Terminei o curso de raio-X, fiz o meu estágio, mas não quis seguir com a profissão e fiquei trabalhando na bomboniere acho que foi uns quatro anos, mais ou menos.
P/1 - Vou querer saber de tudo isso daqui a pouquinho. Você lembra o que você fez com o seu primeiro salário?
R - Eu acho que eu comprei um secador de cabelo, foi. Foi isso mesmo. Meu pai falou: “Agora que está trabalhando, vai ajudar na luz”, aí eu ajudava na luz, mas eu lembro que eu comprei um secador de cabelo, ele ainda está funcionando. É, foi isso mesmo, foi um secador de cabelo.
P/1 - Então você entrou na papelaria, comprou o seu secador, ajudava na luz e aí foi trabalhar um tempo na ótica?
R - Isso, fiquei três meses lá.
P/1 - Tá. O que você achou?
R - Não nasci pra aquilo. Acho que o dono percebeu e falou: “Não, não dá”. Porque eu consegui vender, eu acho que ele me dispensou porque eu consegui vender um óculos feminino pra um homem. Aí depois que o cara chegou em casa e viu, aí ele voltou lá e falou: “É feminino, eu quero trocar e tal”, depois do óculos todo feito. Aí acho que ele viu que eu não levava muito jeito, né? E ele falou também que eu não era muito comunicativa, não com os clientes, mas ali com os colegas de trabalho.
P/1 - Aí nesse tempo você voltou a estudar?
R - Eu voltei a estudar depois que eu… Foi depois que eu saí da ótica, aí eu fui fazer o curso, é isso mesmo. O curso de raio-X.
P/1 - E por que esse curso? O que te motivou a estudar raio-x?
R - Olha, na época era porque, diziam: “Ah, raio-x trabalha pouco”, porque são só quatro horas por dia, entre isso e enfermagem eu preferi o raio-X, porque eu achava que era menos contato com as pessoas, mas não, não era. Aí eu não… Preferi mudar de profissão.
P/1 - Mas como foi fazer, estudar… Você chegou a praticar?
R - Eu fiz estágio. Fiz estágio no pronto-socorro, mas eu não conseguia lidar com certas situações da pessoa em sofrimento, então aquilo pra mim não deu, de ver uma criança, eu tive que ver gente com espátula de unha enfiada no pé, algumas coisas desse tipo, aí eu vi que ali não era pra mim não. Porque é muito sofrimento e você tem que conseguir não se envolver, e eu não conseguia, e às vezes eu não conseguia chorar, dependendo da situação, então eu não tinha mente pra trabalhar naquilo, aí eu não quis mais.
P/1 - Você lembra de alguma história marcante?
R - Lembro. Eu estava no pronto-socorro, aí passou uma ambulância com uma senhora, aí ela chegou lá já… Ela teve parada, chegou lá no pronto-socorro ela já estava morta, ainda tentaram reanimar ela, babou, enfim… Mas ela estava esperando horas, ela começou a ter um AVC, um infarto, e ela ficou esperando cerca de quatro horas pra ambulância chegar lá na casa dela, porque era na favela e eles não conseguiam entrar, não tinha ambulância, então quando eles chegaram, ainda tentaram fazer alguma coisa, só que ela chegou no pronto-socorro já morta, aquilo pra mim foi… Foi uma das coisas, sabe? Que você vê que o sistema não funciona. Aí também teve outra situação, foi… Ali não foi que não me fez, aquilo ali eu até fiquei curiosa, eles pegam um morador - é meio nojento - eles pegaram um morador de rua que eles sempre cuidam, aí levaram… Ele estava lá, e todas as enfermeiras saíram, porque eles falaram: “Não, não dá, vamos…” e tinha uma que brigava com ele, eu não pude entrar na sala pra ver, porque ele ia lá, fazia o tratamento, elas davam remédio e elas limpavam todo… A perna dele estava com bicho, elas limpavam, passavam medicamento, tiravam todos os bichos e ele ia pra rua e não tomava cuidado nenhum, aí voltava pra lá uma semana, duas semanas depois, com bicho de novo para elas fazerem o mesmo trabalho, aí também… Tem que amar mesmo a profissão, pra você ficar, aí eu não quis.
P/1 - E nessa época você estava namorando?
R - Tava. Não, na época do estágio não. Eu fiz o curso, aí eu engravidei, aí quando eu fui fazer o estágio, eu não podia fazer, porque eu estava grávida e não pode, né? Aí depois que eu perdi o bebê que eu voltei, aí eu completei o estágio. Aí eu já estava casada, já.
P/1 - E esse primeiro namoro, onde vocês se encontraram, como vocês se conheceram?
R - Ele morava três ruas depois da minha casa, e a gente ia pra igreja a pé também, então a gente passava pra ir pra igreja e ele sempre via, aí um dia ele parou, pediu telefone… Pediu telefone? Não, não tinha telefone nessa época. Aí ele: “Ah, vamos conversar”, aí eu trabalhava e ele me pegava no serviço, aí a gente dava uma volta e acabou que a gente começou a namorar, foi o meu primeiro namorado.
P/1 - E ele é o pai da sua filha?
R - É, ele é o pai da minha filha.
P/1 - E como foi essa primeira gravidez?
R - Então, eu casei porque eu tinha engravidado, a gente achou melhor: “Ah, vamos casar e tal”, aí o bebê… A gravidez foi tranquila, eu cheguei até os nove meses, aí já com tudo pronto, perto pra… Só esperando o hora da bolsa estourar, o bebê faleceu. Eu tive eclâmpsia, aí quando eu fui para o hospital o bebê já estava morto dentro da barriga.
P/1 - Quando vocês descobriram que você estava grávida, o que você sentiu?
R - Medo, né? Da minha mãe, pra falar, como eu ia falar? Mas… Eu cheguei lá, tava sentado - eu lembro disso - tava sentado… Primeiro eu falei pra minha irmã mais velha, aí ela: “E agora?”, eu falei: “Ah, fazer o quê? Vou falar pra mãe, né?” Aí tava sentada, minha mãe: “O que é Daniela?”, eu falei: “Mãe, estou grávida”, assim. Aí ela: “E agora? Vai fazer o quê?”, aí eu: “Não sei, né?”. Aí depois ele foi lá falar com o meu pai, aí: “Ah, o que vocês vão fazer?”, aí ele: “Ah, vamos casar”. Aí casamos.
P/1 - Quando você se descobriu mãe vocês já moravam juntos, ou não, nunca moraram?
R - Não. Quando eu engravidei eu só namorava, aí depois quando a gente casou que a gente foi morar junto, aí fomos morar no… Meu pai tem um quarto nos fundos da minha casa, aí a gente deu uma arrumada e ficou lá por um tempo até eu ter minha outra filha, depois que a gente saiu.
P/1 - E você tinha quantos anos nessa época?
R - Vinte. Dezenove, vinte, por aí.
P/1 - E o seu casamento, como foi? Teve festa?
R - A gente fez um almoço e fez uma festa a noite. Um almoço para família e uma festa a noite pro… Porque o meu sogro, na época, queria festa, festa, “ah tá bom”, aí fizemos uma festa, mais pra família mesmo, mas foi legal, foi bonito.
P/1 - E como foi o momento que você perdeu o seu bebê?
R - Demora, né? Pra cair a ficha. Eu lembro que a gente foi pro hospital… Ele chegou do trabalho e eu estava normal, não sentia nada e eu falei assim pra ele: “Ah - era uma menina - a nenê não mexeu hoje”. Aí ele: “Sério?”, aí eu: “Sério”, aí ele: “Será que está chegando a hora? Ah, vamos pro hospital pra ver”, e a gente foi. Os dois animados no carro, já com tudo, com a sacola, tudo. Aí chegou lá, a médica disse que o aparelho estava ruim e que não conseguia escutar o coração do bebê. Aí ela: “Não estou conseguindo escutar, esse aparelho está ruim”, aí me mandou pra cima, isso foi no [Hospital] Ana Costa, lá de Santos. Aí mandou outro médico vir pra fazer um ultrassom mesmo, aí falou que ela já tinha falecido.
P/1 - E como foi para você receber essa notícia?
R - Ah, eu fiquei meio… Ninguém está preparado. Você vai pro hospital esperando que você vai sair com o seu filho nos braços e você fica… Eu não tive muito tempo pra ficar triste no hospital, porque eles falaram: “Tem que tirar, tem que tirar”, aí já começaram os procedimentos, e eles tentaram fazer… Nisso quem estava comigo era a minha irmã mais velha e o namorado dele, que estavam lá, aí avisou a família, aí a minha mãe: “A gente vai para aí”, aí foi minha mãe com o meu pai e os meus sogros. Aí: “Vamos induzir um parto normal”, aí nisso que eles tentaram… Eu fiquei lá um tempo pra tentar nascer de parto normal, eu comecei a passar mal, eu tive convulsão, aí fizeram uma cesária de emergência e me internaram. Eu fiquei achoque dois dias na UTI, porque foi pressão alta e a pressão não baixava. Eu não tive muito tempo pra ter luto. Teve o enterro da neném, eu estava internada, foi só o pai dela e a família. Aí depois eu saí… Quando eu voltei pra casa já tinham tirado o berço, já tinham desmontado tudo, ficou aquele vazio por um ano mais ou menos, aí eu tentei seguir, fui voltar a fazer o estágio, aí comecei a trabalhar, mas eu sentia que eu precisava ser mãe, que aí foi quando eu tentei… Parei de tomar remédio para tentar engravidar. Aí eu engravidei de uma menina de novo.
P/1 - E como foi essa volta ao trabalho?
R - Foi… Eu precisava, na verdade, me ocupar. Eu ficava só em casa, só em casa. Aí chegou um momento que eu falei que não dava mais, que eu precisava fazer alguma coisa, que eu precisava trabalhar. Aí a irmã do meu ex-marido que me arrumou esse trabalho também, que foi na bomboniere, que praticamente consumia meu dia, então eu não tinha tempo pra ficar em casa chorando, trabalhava o dia todo, chegava em casa tinha que cuidar, o meu marido trabalhava a noite, trabalhava de turno, então tinha que fazer marmita pro outro dia, então era sempre… E eu trabalhava em uns horários meio doidos, então eu só trabalhava. Chegava em casa muito cansada, fazia marmita, descansava, no outro dia tinha que trabalhar de novo, e foi assim por um tempo.
P/1 - E como foi quando você descobriu que estava grávida de novo?
R - Eu ó… Eu parei de tomar remédio, eu engravidei com um mês que eu tinha parado de tomar o remédio, foi muito rápido. Aí fiz o exame, fui lá, liguei para minha irmã, aí contei pra ela, tal, aí foi a felicidade da família, né? Minha mãe ficou, depois que eu perdi a primeira neném, ficou meio depressiva, porque fez enxoval, fez um monte de coisa, era a primeira neta, aí foi o momento que eu estava mais preparada, porque não foi um acidente, eu queria ter um filho nessa época. Aí foi tudo bem, tomei os cuidados que o médico... Fiz aquele acompanhamento para não acontecer isso de novo, aí foi tudo certo.
P/1 - E o que a maternidade representa na sua vida?
R - Nossa, a minha filha é tudo pra mim, ainda mais que ela é uma menina sensacional, minha filha… Ela é o oposto do que eu sou, deu ser agitada; ela é uma criança tranquila. Ela, às vezes, me chama atenção em algumas coisas, porque eu… Um exemplo assim, eu cheguei na minha irmã, eu abri a geladeira, tinha um chocolate, eu peguei o chocolate, aí ela: “Mãe, você não pode fazer isso, você não tá na sua casa”. Aí eu: “É, filha, está certo. A mãe não vai fazer mais isso”. Da gente estar no ônibus e eu tinha acabado de falar pra ela: “Ó filha, não pode jogar o lixo na rua, não pode jogar o lixo no chão, pega o papel da bala, guarda”, aí o rapaz da frente abre a janela e… Jogou o linho na… Aí ela assim: “Você viu, mãe?”, aí eu: “É filha, a mãe dele não educou ele, tá vendo a mamãe está ensinando pra você”, aí ela pega o lixo dela: “tó, mãe”. Ela faz coisas assim que, é dela mesmo, não é de mim, não é do pai, é dela. Ela é muito tranquila, muito.
P/1 - Qual é o nome dela?
R - Ana Luiza.
P/1 - E aí quando você se tornou mãe, quais foram as mudanças na sua vida, no seu dia-a-dia?
R - Depois que eu tive ela eu continuei trabalhando na bomboniere, mas aí aquilo que você tinha antes de chegar e descansar, depois no outro dia… Você não tem mais. E ela quer atenção, a criança precisa de atenção e eu também já não estava conseguindo dar isso, então eu estava sempre ficando muito estressada, muito cansada, e na época que ela era bebê ela era muito agitada, muito, muito danada, não parava, foi uma criança que eu saia pra trabalhar, ela não comia nada, ela esperava eu… Eu amamentei e ela mamava muito, então eu chegava em casa na hora do meu almoço, minha mãe com uma cara desse tamanho, estressada, e ela vermelha de tanto chorar porque ele não comia nada, aí minha mãe: “Ó, desisto, ela não quer suco, não quer leite, não quer nada”, então foi uma parte que foi estressante. É gostoso, é, é um monte de coisa, mas também é estressante, é cansativo. Porque eu chegava, sentava no sofá no meu horário de almoço, eram as duas horas com ela mamando. Aí ia, voltava pro trabalho, quando chegava do trabalho era a mesma coisa, minha mãe com aquela cara daquele tamanho, e ela também, porque ela não queria nada. Ela não pegou mamadeira, não pegou leite, foi uma época bem… Aí com nove meses a gente colocou ela numa creche, porque eu trabalhava o dia todo, e na creche ela se adaptou super bem, que aí ela começou a dar uma acalmada, mas era muito cansativo, a maternidade é cansativa, porque não adianta, eu falo sempre, você tem um marido que te ajuda, o pai dela sempre me ajudou, mas tem horas que não adianta, porque a criança não quer o pai, a criança quer a mãe, você estando cansado ou não, tem que ser você.
P/1 - E nessa época você estava casada ainda, ou já tinha se separado?
R - Não, estava casada. Eu separei [quando] ela ia fazer uns dois anos, mais ou menos.
P/1 - E como foi esse momento?
R - Olha, eu acho que… Ela sentiu bastante, mas a gente sempre procurou… Ele mora perto e os pais dele moram perto, então os meus pais já não moravam mais aqui, então era sempre eu com a mãe dele, com os pais dele, ou então entrava em contato com ele e falava: “Ó, vem pegar ela”. É guarda compartilhada que a gente tem, então ela sempre ficou muito assim: “Leva pra vó”, “agora tu vai pro teu pai”, “vamos de volta pra vó”, mas hoje ela já… Ela acostumou.
P/1 - E depois como foi a decisão de sair da bomboniere e fazer outras coisas?
R - Então, eu estava muito estressada, muito estressada mesmo, porque eu entrava uma e meia da tarde pra sair onze e meia, e chegava na… Dez horas, dez e meia, aí o encarregado: “Ah não, não vai dar para ir embora porque está dando movimento e você vai ter que ficar até a uma da manhã”. Eu tinha que ficar até a hora que fechava, uma, uma e meia, aí chegava em casa duas horas da manhã. E era muito adolescente, muito adolescente sem educação, que está comprando uma bala, mas ele acha que ele manda em você, e aí eu tava já no limite. E assim, você tem emprego, eu levo isso pra mim hoje, eu tenho um emprego então eu vou trabalhar feliz no que eu estou fazendo, e eu já não estava mais assim, e as pessoas estavam percebendo, então eu fui fazer o quê? Fui mudar a minha categoria, fui mudar a minha habilitação, porque não adiantava, eu não podia - eu era casada ainda - mas eu não podia simplesmente “não quero mais trabalhar”, porque eu já tinha a minha filha e tinha que ajudar o meu marido, então eu decidi: “Vou mudar, vou tentar mudar de alguma forma”, que aí eu fui tirar a habilitação.
P/1 - E como foi a decisão? Por que habilitação? O que você pensava na época?
R - Então, na época, o meu marido tinha mudado a categoria dele, e tinha conseguido um emprego rápido, aí um dia ele falou: “Dani, o cara lá do trabalho, a esposa dele está tirando habilitação, porque você não tira também?” Aí eu fiquei naquela: eu já fico pouco com ela, minha mãe tomava conta dela, e era muito longe onde eu tinha que fazer as aulas, mas eu: “Ah, tá bom, vamos lá”. Aí a gente conseguiu, pagamos a habilitação, teve alguns problemas lá na autoescola, de “ah, não dá pra fazer tal dia”, aí ele teve que chegar lá: “Não, ela vai fazer esse horário, é o horário que ela tem pra fazer e vocês vão arrumar um tempo pra ela ou um professor”, aí eles conseguiram, eu arrumei um professor muito bom na autoescola, muito bom mesmo, tinha muita paciência, e eu tirei, passei. Aí eu tirei a carta de ônibus, micro-ônibus, e depois tirei a de carreta, passei nos dois, e depois continuei trabalhando, fiz tudo isso trabalhando, esperando oportunidade, que aparecesse alguma coisa.
P/1 - E essa bomboniere era no Guarujá?
R - Isso, em São Vicente de Carvalho.
P/1 - E aí quando surgiu… Quando você começou a trabalhar como motorista?
R - Então, primeiro eu fui fazer um teste na Libra Terminais, e o rapaz que me avaliou… Eu estava muito crua, realmente, porque eu só tinha a experiência da autoescola, aí ele: “Olha, desse jeito não dá, você arruma alguém que tem caminhão para dar umas voltas com ele e depois você volta aqui”, aí eu saí de lá. Aí tinha uma amiga minha do trabalho da bomboniere, que o marido dela tinha caminhão, aí: “Patricia, isso, isso e isso”, aí ela: “Não, vou falar com ele”, aí eu passei um dia com o marido dela rodando o Porto, porque ele ia carregar em tal lugar, aí ele ia descarregar. Eu fiquei meio assim, né? Porque os lugares que ele passou eram muito sujo, é tudo muito sem estrutura, aí eu fiquei pensando assim: “Bom, vamos ver no que vai dar”. Aí me chamaram pra trabalhar, um rapaz que tinha um caminhão dentro de um Terminal, que o caminhão trabalhava no Terminal e precisava de um motorista. Aí eu: “Tá bom, quero”. Aí fiz um acordo com o meu patrão da bomboniere, ele me dispensou, eu fui lá, pra esse Terminal, só para trabalhar lá dentro, com um caminhão bem velho mesmo, mas aprendi muito lá, muito muito muito mesmo, era eu e um senhorzinho lá, e ele me ensinava tudo, tudo, era aquilo de: “Está acabando o combustível”, ele vinha com um pedaço de cabo de vassoura, “é assim que vê”, porque não tinha marcador, era um caminhão… Aí fiquei ali uns meses, aí esse mesmo rapaz que a esposa tirou habilitação, estava sempre falando com o meu marido, ele falou assim: “A Regina, agora, foi chamada… A Libra está contratando, leva o currículo lá de novo”. Levei o currículo lá de novo, aí me chamaram pra outro teste, aí já foi com um outro rapaz, aí eu dei uma volta, aí ele: “Agora dá uma ré”, eu dei uma ré… Tinha uns trilhos lá, eu fui jogando o caminhão pra cima dos trilhos, aí ele: “Não, não, tá bom, tá bom, volta, volta”. Aí ele: “Ó, você não está muito boa, mas aqui dentro você vai aprender, tá bom?”, aí me passou, aí eu entrei no Terminal, aí saí do outro e entrei lá. Mas foi coisa rápida também, na época estavam contratando muita gente, então foi coisa de três meses, da minha habilitação e eu já conseguir um trabalho.
P/1 - E você sente alguma diferença em dirigir carros, dirigir caminhões? Como você se sente? Quais são as diferenças?
R - Eu sinto, porque eu não tenho carro, eu ando só de moto, mas quando eu pego um carro, eu não consigo fazer uma baliza, porque a minha noção de espaço hoje, é totalmente diferente. Eu manobro muito bem um caminhão, mas aí… Eu ando de carro normal, mas na hora de estacionar, aí eu tenho dificuldade. Eu já cheguei a sair de uma vaga, que cabia, porque eu não conseguia entrar e fui procurar um lugar com uma vaga que era só eu entrar, sem manobrar. Eu já fiz isso várias vezes, porque eu sinto dificuldade por causa do tamanho.
P/1 - E aí quando você diz que você trabalhava no Terminal, você diz Ecoporto mesmo?
R - Não. Libra Terminais foi a primeira empresa.
P/1 - E como foi? Como era o seu dia-a-dia? O que você fazia?
R - Olha, foi uma experiência… Porque assim, é um ambiente totalmente masculino, eu cheguei lá era muita gente, era uma época que tinha muita gente, e o pessoal ficou olhando assim, aí o meu supervisor da época me colocou para treinar, ele falou: “Ó, você vai ficar com esse senhor hoje”. Aí eu fiquei com esse senhor, trabalhei, e assim, todo mundo olhando, porque era uma novidade. Tinha mulher lá, devia ter umas três só, aí eles ficavam olhando, olhando. O que eu lembro do meu primeiro dia, foi que acabou o turmo e fica todo mundo ali para bater o ponto, e eu fiquei ali totalmente sem graça de descer do caminhão. Aí fiquei lá, e o meu colega: “Não, pode ficar aí”. Quando for a hora de ir embora você desce. E chegou a supervisora do outro turno, aí tava ali quem estava entrando e quem ia sair. E a supervisora olhou assim pro caminhão: “O que você está fazendo no caminhão?”, aí eu: “Por que?”, “porque não pode ficar no caminhão”, aí eu: “Mas eu sou a motorista”, “ah, então tá bom”. Aí eu já... Com mulher, essa foi a primeira impressão que eu tive lá, parece que foi mais difícil do que com os homens. Eles só olhavam, mas eu não via, mas ela já chegou assim: “O que você está fazendo aí? Não pode ficar aí”, até eu explicar, aí depois ela: “Ta bom”. Aí não falou mais nada, mais nada.
P/1 - E quando você mudou de empresa, pra Ecoporto, como foi?
R - Então eu fiquei na Libra oito anos, e nisso eu tive… Ela passou por uma crise, que ela mandou quase todo o quadro dela embora, eu acho que eu fui mandada embora bem no finalzinho mesmo, depois de quatro meses ele pegou um novo contrato e ela começou a recontratar o pessoal que ela tinha mandado embora. Aí eu voltei, acho que a gente trabalhou mais dois anos e depois teve uns problemas aí que ela perdeu o contrato, teve que fechar. Aí eu já tinha… O meu gestor da Ecoporto, que hoje é meu gestor, ele trabalhou lá, já tinha trabalhado lá um tempo e a gente tirou uma foto de todo mundo, quando estava para fechar a empresa, todo mundo tirou uma foto, aí postaram e ele falou: “Essa e essa vão vir trabalhar comigo” e eu achei que era brincadeira do rapaz que me falou, mas aí umas duas semanas antes da Libra mandar realmente todo mundo embora, a Ecoporto me ligou, perguntou se eu estava interessada, que tinha vaga lá para motorista e eu comecei a fazer o processo todo para entrar lá, e eu precisava da minha carteira, precisava que a Libra já me mandasse embora, a Ecoporto falou: “Não, vamos esperar eles te mandarem embora, aí você vem e começa aqui”, aí me mandaram embora numa quarta, na segunda-feira eu já comecei a fazer - aí como é que fala mesmo? - a integração, já na Ecoporto, tem um ano e meio mais ou menos isso.
P/1 - E como foi entrar na Ecoporto?
R - Então, na Ecoporto… A Ecoporto também passou por uma crise e também mandou muita gente embora, aí quando eu voltei, ela ainda estava com o quadro reduzido e não tinha mulher, nenhuma. Aí quando eu voltei foi aquela coisa meio… E eu sou meio séria no começo, sou meio fechada mesmo, e eu senti meio assim, que eu estava tirando o espaço de alguém que já trabalhou ali e eles poderiam ter chamado de volta, e por alguns momentos eles me fizeram sentir isso, é que com o tempo eu fui conversando, porque eu entrei porque alguma pessoa saiu, e senti um pouco essa, do pessoal, de: “ah, podia ter chamado Fulano, Ciclano, e chamou ela?”, mas hoje eu mostrei porque eu estou ali, porque o meu gestor tinha uma visão de mim, do meu trabalho, do meu potencial, e aí depois disso é uma… A gente chama de “Ecomãe”, porque ali é uma família mesmo, e o gestores, eu já trabalhei… Na Libra eu conseguia conversar com o meu supervisor, mas não tinha uma abertura que eu tenho aqui de gestão, de você estar com um problema, de você chegar e ó: “Está acontecendo isso, isso e isso, e eu preciso da ajuda de vocês” e eles sempre te dão uma abertura pra você conversar, se puderem ajudar, eles vão ajudar, tanto que RH, mas mais da área ali da operação, que é onde eu estou todo dia, são os meus coordenadores dão essa abertura pra você conversar, sentar, “está acontecendo isso”. Eu cheguei a ficar doente, internada, aí eu fiquei ruim de novo, aí o meu coordenador me chamou: “Dani, o que está acontecendo?”, aí me falou de médico, teve uma conversa assim pra realmente saber qual era o meu problema, se eu estava precisando de alguma coisa, se fosse case de médico eles iam… “Não, você está precisando de médico? A gente vai no RH, vê o que a gente pode fazer”. Quando eu fiquei internada também eles me ligaram, sabiam o quarto, perguntaram do meu tratamento, como eu estava, perguntaram no hospital o que estava acontecendo, como eu estava sendo tratada, depois me ligaram pessoalmente: “Se você precisar de alguma coisa, você liga para gente, que a gente vê o que pode fazer”, e isso eu não tive em outros lugares, então ali pra mim, agora, é uma mãe mesmo. Não adianta aqui a BTP ficar tentando me cantar, não.
P/1 - E como o seu trabalho funciona?
R - Bom, hoje lá a gente trabalha com… Não é só contêiner, é carga geral também, então tem dia que eu puxo muito contêiner, mas também puxo… Eles tão com contrato com uma fábrica de celulose e são peças de dimensões assim, só vendo mesmo. Às vezes a gente: “Vai, vem puxar uma peça dessa” e assim é o meu dia, eu chego, dou oi pra todo mundo no rádio, que eu trabalho com rádio e “gente, estou a disposição”, aí na necessidade eles: “Dani, você está a onde? Vem aqui”, aí eu trabalho lá dentro, aí às vezes eu tenho que sair, porque são cinco Terminais, aí eu troco de caminhão, venho aqui na rua, faço algum trabalho nos outros Terminais, esse é o meu dia-a-dia no trabalho, é muito tranquilo.
P/1 - E você enfrenta alguma dificuldade no trabalho por ser mulher? Já sofreu preconceito?
R - Olha, eu já, já tive… Já passei por situações que antes eu não via da forma como eu vejo hoje. Como hoje em dia todo mundo conversa, todo mundo fala, todo mundo expõe, você acaba vendo que certas coisas que você passou você não precisaria ter passado e também não tinha que achar normal porque é homem. O que acontecia muito no outro Terminal, é de ser muito grande o Terminal, embora tivessem banheiros espalhados, os caras descem das máquinas e mijam numa pilha de contêiner, ou estava apertado, ele descia e mijava ali do lado da empilhadeira e eu parada com o caminhão esperando pra descarregar, e uma vez eu fui questionar isso, falei: “Pô, tem tanto banheiro, porque esses caras ficam mijando nas máquinas, ficam mijando na pilha…?”, “ah, mas é o espaço deles, é o ambiente deles, você tem que ver que a gente que está chegando”, isso foi de uma supervisora. Na época eu me calei, se fosse hoje eu ia questionar, falar: “Não, não é o ambiente deles”, porque hoje eu questiono. Mas também já aconteceu de estar todo mundo pra bater o ponto, e eles te empurram, sabe? Para ficar encostando. Eu já passei por situações de eu passar na catraca pegar e cheirar o meu cabelo, coisas que na época eu: “Aí que besta”, hoje eu passaria pra frente. A experiência recente que eu tive foi de eu estar no caminhão e eu ver o cara com o celular me acompanhando, isso foi na Ecoporto, e eu acenei pra ele, depois eu falei: “Gente, eu vou pedir direito de imagem, porque ele tá me filmando no celular”, aí o rapaz: “Ah, eu vou lá falar com ele”, no momento eles não levaram a sério, eu também não, continuei o meu trabalho. Depois um rapaz lá na sala da operação falou: “Dani, é sério mesmo que ele estava te filmando?”, eu falei: “Pô, ele foi me acompanhando com o celular”. Aí o meu supervisor estava na hora: “É sério isso? Porque você não falou?”, aí eu: “Porque isso não é uma coisa anormal”. Eu venho de bicicleta, eles estão esperando para descarregar, eles veem eu passando de bicicleta. Quando eu estou no Terminal, eu entrei um dia, estava parada, o motorista estava tirando foto de dentro do caminhão. Ou às vezes eu estou passando a pé, eles… Não sei, parece que ter mulher no Terminal é coisa de outro mundo, e aí eles tiram foto. Eu não achei que fosse tão assim, porque é uma coisa que acontece várias vezes. Aí ele: “Não, mas isso não é certo”. Aí veio o rapaz da segurança, da empresa, veio o coordenador e o meu gerente, desceram e foram lá falar com o motorista, pediram o celular, a princípio ele falou assim: “Não, eu não estava filmando ela nada, ela está querendo…”, aí eu cheguei: “Oi”. Aí ele assim: “Eu não estava te filmando”. Ai o meu gerente: “Não, eu vi o celular dele e não tem nada seu”, aí ele: “Mas a gente viu na câmera você acompanhando ela com o celular”, ele: “Ah não, eu estava fazendo uma chamada de vídeo com a minha namorada, porque ela queria saber como o Terminal funciona e eu estava mostrando pra ela”, aí eu: “Há quanto tempo você é motorista?”, aí ele: “Há vinte anos”, “quanto tempo você está com a sua namorada?”, “ah, tem uns seis meses”, aí eu: “E hoje, hoje ela quis saber como o Terminal funciona?”, aí o meu gestor: “Você tem filha?”, aí ele: “Tenho”, “e você ia gostar da sua filha estar trabalhando e um rapaz filmando?”, aí ele: “Não, que não sei o que”, aí ele pediu desculpas. Eles conversaram lá e depois o meu gestor me chamou e falou: “Dani, a gente não aceita esse tipo de comportamento. A partir do momento que você viu, não é ‘ah, porque é homem’, você desce, você fala, você chama, você faz um _____ mesmo, porque a gente não tolera, a gente não tolera. Uma gracinha ou isso mesmo do celular, você pode passar pra gente que a gente vai resolver”. E aí ficou aquela sensação, eu até falei pra ele, porque ele falou assim: “‘Ah, a gente foi lá ver na câmera, você está vendo’, porque parece que só eu falar não vão acreditar, só a minha palavra”, aí ele: “Não, primeiro a gente vai acreditar em você”. E aí isso foi mais um ponto que eu me senti confortável dentro da empresa, porque em momento algum eles questionaram ou acharam que eu estava inventando, eles foram lá e resolveram. Esse motorista depois entrou lá de novo, e ali ele: “Não, desculpa, não sei o quê, ela está aí né?”, porque eu sou super séria no meu trabalho, então não fico com gracinha. Aí ele: “Ah, desculpa”. Aí pediu desculpa, né? E passou. Mas sempre acontece coisas desse tipo, é que hoje em dia eu estou com uma cabeça mais de assim: eu não tenho que aceitar isso, eu não tenho que aceitar eles ficarem falando graça no rádio, porque eles estão acostumados porque não tinha mulher. Agora tem mulher, então o comportamento tem que ser outro. Eu não saio da minha casa, deixo a minha filha para entrar no Terminal e ficar escutando gracinha, né? Eu ainda falei essa semana - falei ontem - porque eles falaram uma brincadeira lá e eu: “queria entender, eu queria realmente achar graça nessas coisas que vocês falam, porque vocês parecem que são meninos”, aí eles: “É pra descontrair”, aí eu não falei mais nada, porque é uma faixa só e a gente escuta tudo, então eles começam com gracinha, com brincadeirinha. Aí ontem um falou uma coisa que era num teor sexual, aí eu: “Não é assim que se fala, é assim”, “ah, mas queriam que eu falasse isso”, “então, mas você já sabe como é que pronuncia, então agora você fala”. Aí eles ficam meio assim, mas eles respeitam, me respeitam muito.
P/1 - Ainda hoje você é a única motorista mulher?
R - Sou, lá eu sou. E às vezes eu sinto falta, muita falta de uma companheira de trabalho mulher, pra gente conversar. Eu trabalhei na Libra uns três anos com outra motorista, que era só eu e ela na mesma turma e era… Dentro da equipe a gente era a nossa equipe, então estava sempre uma ajudando a outra, se uma não estava bem, a outra: “Não, fica aí que eu vou lá e faço” ou “eu tenho remédio, tenho alguma coisa”, ou até mesmo alguém para conversar, e lá não tem. E às vezes eu sinto falta disso, porque eu tenho mais duas colegas lá, que uma é no Armazém, que é a Mayara e a Conferente de Armazém que é a Patrícia, só que são turnos diferentes, então na madrugada sou sempre eu só de mulher. Tem também a Planner, que é a Priscila, mas ela está sempre no prédio, não está na área comigo. Na área comigo só tem eu e os meninos, então eu sinto muita falta de presença feminina, muita. Porque no dia-a-dia faz diferença, pra você conversar, pra você ter apoio. Não que os meus colegas não me deem, mas uma mulher dá mais, né?
P/1 - E como é pra você, o que significa exercer uma função, trabalhar numa área que historicamente é acostumada a ser realizada por homens ___________. O que isso representa na sua vida?
R - Eu vejo o que representa no pensamento da minha filha, porque ela fala: “Nossa mãe, você trabalha bastante, né?”, eu: “Sim filha, a mãe trabalha bastante”. E na época que eu estudava ela sempre me via estudando muito, fazendo sempre tudo muito rápido, indo trabalhar, aí ela: “Nossa mãe, você também estuda bastante né?”, aí eu: “Sim filha, estudo bastante, a mamãe trabalha bastante também”. No começo, por causa da cultura de que é só homem, só homem… Bem no começo eu achava que eu estava tirando o lugar de um pai de família, mas assim, eu sou uma mãe de família, eu trabalho até mais do que muitos, porque eu tenho a minha jornada em casa. Isso depois eu aprendi que não tem nada a ver. Aí uma amiga minha de trabalho uma vez falou assim pra mim: “Não, a gente tem que dobrar porque a gente tem que trabalhar mais do que eles, porque eles já acham que a gente está roubando o lugar deles, então eu vou dobrar, porque eu tenho que mostrar porque eu estou aqui. Eu falei: “Não, a gente não tem que dobrar ou trabalhar mais do que a nossa capacidade pra provar pra eles que a gente não está roubando o lugar deles, não, você tem que trabalhar como eles. Se a gente pode ser melhor que eles, ok, a gente pode…” E a gente pode ser melhor que eles, muito, mas eu não preciso viver nisso, provando o tempo todo que eu estou num lugar que é de homem e eu tenho que trabalhar como um homem. Não, eu trabalho da minha forma, mas eu trabalho tão bem quanto eles. E eu tenho essa mentalidade comigo, agora eu aceito totalmente, eu ando no meio deles e se olham ou deixam de olhar eu realmente não me importo, eu já acostumei, mas eu tenho plena consciência do que o que eu exerço representa muito para mim, representa muito para minha filha, para as pessoas que estão ao meu redor, que me admiram por eu sair na chuva de bicicleta para atravessar a barca, pra trabalhar a noite toda, e ainda chegar em casa, cuidar de filha, ajudar na escola.
P/1 - E você conversa com a sua filha, ela sabe sobre o seu trabalho _________________________.
R - A gente conversa muito, muito mesmo. Principalmente sobre estudo, ela até é bem estudiosa, ela anda meio preguiçosa porque ela está fazendo aula online e aula online é… Né? Mas a gente sempre conversa, ela sabe o que eu faço, às vezes passa alguma coisa de Porto na televisão, ela: “Mãe, é ali?”. O pai dela também já trabalhou no Porto, eu falo: “Não, esse é o trabalho do seu pai”, mas ela tem consciência assim. Aí um dia ela falou: “Ah mãe, eu quero ser que nem a senhora, motorista de caminhão”, aí eu: “Filha, motorista de caminhão não”, mas depois eu… “Ana, se for o que você quer fazer, tudo bem. Mas se você quiser ser outra coisa você tem que estudar e você vai ser outra coisa, mas você também pode ser motorista de caminhão, a mãe não é?”, ela: “É, então”, “por mim não tem problema”. Eu gosto do que eu faço, mas se ela quiser algo mais eu vou apoiar.
P/1 - Você comentou sobre essa questão da jornada dupla do trabalho da mulher, como é isso pra você? Como você vivencia isso de conciliar o trabalho e as outras demandas da sua vida e também em ser mãe?
R - Olha, tem momentos que eu realmente não dou conta, eu tenho que optar, eu vou cuidar da casa, ou eu vou sentar com ela e assistir uma série que ela que, ou… Se não eu só fico nisso, trabalho, cuido da casa, cuido dela. O que eu faço às vezes, tenho uma jornada de seis madrugadas, eu trabalho a noite toda, pego ela no pai dela, tem aula? Acompanho ela na aula, ficou com ela até umas três, quatro horas da tarde, eu dou o almoço e depois eu vou descansar, aí eu deixo… Ela fica vendo série ou eu falo: “Ó, vem buscar ela”. É muito corrido e às vezes eu sinto que eu não sou 100% mãe ali o tempo todo e isso às vezes me incomoda, porque eu preciso trabalhar e ela sente essa falta, às vezes ela me liga: “Mãe, quando a senhora está de folga? Eu vou poder dormir com você?”, eu: “Vai filha”, porque são seis madrugadas, e quando eu estou no horário que eu saio onze da noite ela também não vai dormir comigo. Aí quando eu estou de folga ela dorme junto comigo, na minha cama. Eu já falei pro namorado que eu tenho hoje, que se ela tiver com quinze anos e ela quiser dormir comigo, ela vai dormir comigo, porque eu fico muito em falta por trabalhar esses horários, mas o momento que eu possa estar com ela, de: “Ah mãe, vamos fazer isso?”, “vamos”, “vamos assistir uma série, mãe?”, “vamos”, assim, uma série que ela quer. Às vezes eu estou cansada, morrendo de sono, “não filha, vamos lá, vamos assistir”. Eu tento fazer ela ler também, mas leitura está difícil. Eu gosto muito de ler e ela não gosta. Eu falo: “Vamos ler um livro com a mamãe, a mamãe trouxe esse livro pra você”, ela: “Ah mãe, vamos ver uma série?”, aí eu: “Tá Ana, vamos ver uma série”, mas o tempo que eu posso estar com ela, é dela. Eu deixo um pouco a casa, deixo um pouco os meus afazeres e fico com ela.
P/1 - Quais foram as barreiras e dificuldades pelas quais você passou até chegar na sua área de trabalho?
R - Olha, eu não digo assim barreiras ou dificuldades, eu até que consegui me adaptar bem ao ambiente de trabalho, o que foi mais difícil pra mim foi quando eu decidi estudar, porque aí como eu ia fazer? E precisava trabalhar no… Teve uma época da empresa que eles precisavam… Não tinha funcionários suficientes e você tinha que sobrar, e eu tinha que dobrar, “não, mas tem que dobrar”, aí eu: “Mas pô, eu não estou conseguindo”, “não, mas a gente precisa”, e aí eu dobrava. Eu dobrava dois, três dias seguidos, e aí você chega em casa e você não serve pra nada, porque você esta cansada. Você chega praticamente na hora que você tem que descansar pra estar lá no outro dia. Foi uma época que era só trabalho, e aí eu estudava, estudava a tarde, tiveram dias que eu… Tiveram duas situações na faculdade que foram, uma que a professora olhou pra minha cara e falou assim: “Pode ir embora, eu não vou te dar falta não”, porque eu estava com o olho vermelho, eu tinha entrado uma da manhã, saí uma da tarde e a aula na faculdade era às quinze, então nesse tempo eu almoçava e ficava por lá e saia da faculdade às seis e meia, era o tempo deu vim pra minha casa, esse tempo eu tinha pra dormir, pra entrar a uma da manhã de novo. E nesse dia ela assim: “Pode ir, pode ir pra casa que eu não te dou falta não”, aí eu fui embora. E outra vez que o professor passou por mim e ele falou que eu estava numa cadeira numa parte da faculdade apagada, apagada, que eu pus os braços assim e dormi mesmo. Aí depois… Tipo a aula já começou, aí eu subi: “Pô professor”, aí ele: “Ah, eu passei por você lá, mas você estava tão cansada que eu nem te acordei”. Aí eu fui, fiz a aula e fui embora, mas foi uma época muito difícil, porque era uma época que eu trabalhava muito. Eu ia fazer as minhas seis horas, mas chegava lá e: “Não, a gente precisa que você fique”, e eles tinham acabado de me recontratar, eu vou falar que não vou ficar? Então a gente ficava, quase todo mundo ficava, então era dois, três dias seguidos fazendo doze horas, foi uma época que foi muito difícil, muito difícil mesmo. Foi uma época que assim, eu quase não via ele. Eu escolhi um horário na faculdade que ela estava na escola, pra não ter problema com o pai dela, dele ficar falando que eu deixava ela, mas em compensação, eu tinha que trabalhar nos outros horários e o trabalho… Eu trabalhava muito, muito mesmo. Eu ficava quatro, cinco dias sem ver ela, e ela ficava com ele. Então foi bem difícil essa época.
P/1 - E qual curso você foi estudar?
R - Eu fiz Logística, que é um pouco voltado já pra área que eu trabalho. Fiz Logística na Fatec aqui de Santos.
P/1 - E como foi esse período de faculdade?
R - A faculdade foi uma das melhores experiências que eu já tive, na minha vida, de abrir a mente, de você… De pessoas, de você conhecer vários tipos de pessoas, com várias cabeças, abriu muito a minha mente para várias coisas. Hoje, quando eu converso com alguém que não estudou, eu falo: “Meu, estuda. Faz um curso, porque você vai encontrar uma pessoa de dezenove anos que tem uma experiência de vida já, uma pessoa de 35 anos, quarenta”. Porque quando eu estudei eu tinha, que são minhas amigas hoje, menina de 21 com uma cabeça que talvez um rapaz de 35 não tem, e uma senhora de quarenta anos com uma experiência, com uma inteligência, que te passava tanta coisa que foi uma das melhores coisas que eu fiz, foi voltar a estudar e fazer faculdade, porque é muito… Também os professores, tudo que você absorve, você leva pra vida, eu digo mais no sentido de pessoas mesmo, as pessoas, as amizades, o tanto que eu aprendi com as pessoas me ajuda muito hoje.
P/1 - Valeu então tentar conciliar… Tentar não, conciliar trabalho, todo cansaço, com a faculdade, se valeu a pena?
R - Valeu, até hoje eu tenho uma amiga da faculdade, que às vezes acontece uma situação no trabalho, aí eu ligo pra ela: “Dá para a gente tomar um café?”, aí ela vem, aí eu falo: “Então, tá acontecendo isso, isso e isso. Eu acho isso, o que você acha?”, aí ela me dá o ponto de vista dela e aí eu paro e penso assim, realmente. Porque é uma pessoa que tem uma experiência muito grande de vida que sabe conversar com você, e eu sempre recorro a ela quando eu estou com alguma dificuldade no trabalho, pra ela clarear as minhas ideias. Então foi muito boa, a minha experiência na faculdade foi muito boa, tirando o cansaço, o estresse, tirando todas as coisas que tem, foi muito boa.
P/1 - E como foi se formar? O último ano?
R - Nossa, foi difícil, eu peguei DP, porque eu estava trabalhando muito, muito e eu não conseguia acompanhar, aí eu fiz a DP, como era só aquela matéria eu já consegui desenvolver, eu não precisei fazer TCC, porque lá, se você apresenta um artigo você elimina o TCC, aí eu apresentei um artigo lá no Paraná, fui num Congresso, apresentei o artigo e valeu para eliminação do meu TCC. Então essa parte da faculdade, daquela loucura toda de TCC, eu não tive, porque eu fui trabalhando no artigo e deu certo.
P/1 - Sobre o que era esse artigo?
R - Era compliance, sobre normas éticas, essas coisas, nas empresas, é muito interessante, estão começando a aderir, não são todas… A Ecoporto, eu que eu fui dar uma pesquisada, ainda não adere, mas pra ela eu acho que seria muito importante, eu já falei isso outro dia, porque se você trabalha com uma empresa terceirizada, que é totalmente fora das regras, então ela não teria que trabalhar com uma empresa dessa, se ela é uma empresa certa, correta, ética, e o compliance é basicamente isso. Eu fico olhando ali algumas empresas que trabalham com a gente, que eu falo assim: “Nossa, isso está super errado”. Se eu trato o meu funcionário de tal forma, porque a terceirizada tem que ser tratada de qualquer jeito? Eu sempre dou uma questionada, fala muito sobre isso lá. Foi sobre isso o meu artigo.
P/1 - E voltando um pouco para a Ecoporto, o que você acha necessário para que mais mulheres alcancem cargos como os seus?
R - Olha, é oportunidade, é ter espaço, porque se tiver espaço, vai ter mulher, porque eu conheço muitas que tem vontade e não tem uma oportunidade, umas que acham que não consegue, pô a gente consegue. Eu estou de motorista, mas eu não quero ser só motorista, eu quero crescer na área operacional, e eu sei que eu posso. Eu posso pela minha capacidade, mas é oportunidade. Oportunidade que eu digo, porque tem áreas ali que só podem homem, tá que é só homem, está no papel que é só homem, então a gente já é, digamos assim, já não entra como [alguém] que poderia estar exercendo aquela função. Em outros Terminais têm? Tem, mas na Ecoporto, devido algumas leis, mulher não pode fazer tal coisa, na área operacional. O que eu estou querendo dizer é máquina ou é TG, a gente é limitada porque tem que ser Ogmo, e no Ogmo não tem mulher. Então eu tenho curso, eu quero, só que eu não posso. Mas para motorista que é uma coisa que pode, se for chamar, tem, só precisa de mais espaço. E é essa visão que eles estão tendo agora, de dar mais espaço, de diversificar. Tem agora uma ajudante no Armazém, e o Armazém é um trabalho puxado e eu vejo ela trabalhando, eu falei: “Ó Mayara, eu tenho que bater palma pra você, porque não é fácil”, não é fácil mesmo. Você está no meio deles e eles… E ela já falou isso pra mim: “Eles acham que porque eu sou mulher eu não vou fazer, Dani”, porque, é força? É força, esse é o problema? Aí eu vou lá e eu faço. Aí eu falo: “Tá vendo, por isso eu bato palma pra você, porque você não deixa os caras te intimidarem porque você é mulher e você não tem força” e tem certas forças no trabalho dela que precisa de força, e ela vai e ela faz. E isso… Eu fico super feliz quando eu converso assim, ela falando, ela: “Pô, eles estão achando o que?” Eu falei: “Você tem que mostrar que você é mulher. Você é mulher, mas você também pode Mayara”. “É, mas é que eles ficam de cara torta, não sei que lá”, eu: “Meu…” Se eu fosse ligar para as caras tortas que eu já cruzei esses anos todos, eu tinha mudado de profissão. Não, eu estou ainda.
P/1 - E como é o seu dia-a-dia?
R - Como assim? No trabalho?
P/1 - Durante um dia assim, como que é?
R - Olha, um dia meu. Eu acordo já fazendo café pensando no almoço, no que a Ana Luiza vai almoçar, se vai dar tempo, porque eu tenho que estar com tudo pronto, cachorro, gato, filho alimentado, uniforme, até uma da tarde, se eu for entrar às quinze, porque eu tenho que estar saindo de casa dez para as duas e eu só vou voltar para casa a meia-noite, então é assim, Ana Luiza já estudou, “Ana Luiza, você almoça e vamos pro seu pai”, aí deixo ela no pai e vou trabalhar. Aí a noite ela dorme com ele, eu falo: “De manhã você traz ela pra mim?”, ele: “Levo”, porque se não for assim, eu vou passar quatro, cinco dias sem ver ela. Aí ele traz ela pra mim cedinho, aí eu faço café do jeito que ela gosta, “ah mãe, eu quero um ovo hoje”, aí eu vou lá e faço um ovinho. Aí outro dia eu falei pra ela até: “O que você vai querer? A mamãe gosta de fazer café pra você”, aí ela: “Gosta?”, “gosto! O que você quer filha?”. “Ah mãe, então faz um ovinho?” Aí eu fiz um ovinho, enquanto isso ela está estudando, está na aula dela e aí eu já estou cuidando da casa, eu tenho que cuidar da casa… Eu falo assim cuidar da casa porque a minha casa é grande e às vezes realmente eu não dou conta porque eu sou meio bagunceira, ela também é, então eu estou sempre na correria de fazer tudo no tempo que ela está estudando. Quando a aula era presencial era mais fácil, porque aí eu ia pra academia fazer alguma coisa, hoje com ela, do jeito que a gente tá, é a correria ali até a aula dela acabar, a aula dele acabou, vamos almoçar, e aí já deu a hora deu vir trabalhar.
P/1 - E o que você gosta de fazer nas suas horas de lazer?
R - Bom, ultimamente, porque a gente não está saindo muito, eu fico mais em casa, eu assisto série ou eu leio ou eu escuto música, mas antes eu ia pra praia, ia dar uma volta, sempre fazia alguma coisa. Eu folgo dois dias, aí um dia eu cuidava da casa e no outro dia eu descansava. Eu não gosto muito de shopping, eu sou mais de ir pra praia ou de dar uma volta com ela, dar uma andada mesmo ou ir ao cinema, mas coisa assim… Eu aproveito mais quando eu estou de férias mesmo.
P/1 - Como era a sua vida antes e como está agora a sua vida depois do coronavírus?
R - Olha, acho que eu e a maioria da população engordou, porque é só inventando comida, “o que a gente vai fazer hoje?”, “ah, vamos comer alguma coisa diferente”. Na fase de pico mesmo eu só saia pra trabalhar ou ir ao mercado numa necessidade, se eu precisasse de alguma coisa assim eu falava pro meu namorado: “Ó, vai no mercado”, porque eu não saia mesmo, só pra trabalhar, porque eu já tenho que sair pra trabalhar. Eu não deixei de trabalhar nenhum dia, então quanto menos eu estivesse me expondo, melhor.
P/1 - A pandemia afetou o seu trabalho? Se sim, como?
R - Eu não vi isso na quantidade de trabalho, eu um momento ela chegou a aceitar um acordo do Ministério Público daquele de redução de horas, só que assim a gente continuou trabalhando muito, tanto que aí depois de três meses: “Não gente, vamos voltar ao nosso horário normal” e continuou trabalhando todo mundo normal, da área operacional a gente trabalhou muito, ninguém parou. Teve o pessoal do administrativo, ainda estão home office, mas o pessoal da área operacional todo mundo trabalhando muito. A gente não viu um efeito que falaram que ia cair, a exportação, a importação, ali no meu trabalho… Eu particularmente não vi isso, eu trabalhei muito, continuo trabalhando muito.
P/1 - E para você, qual foi o momento mais marcante ao longo da sua trajetória profissional?
R - Olha, eu acho que foi o incentivo deles de estudar, foi assim pra mim, porque foi na Libra um supervisor que falou pra mim: “Dani, vai fazer uma faculdade, vai estudar”, talvez se eu não estivesse ali, eu não teria ido fazer um curso superior, mas eu tive muito incentivo de um supervisor e de outro colega de trabalho que também começou a estudar, acho que foi isso que mais me fortaleceu esses anos todos.
P/1 - E quais são seus maiores aprendizados dessa trajetória?
R - Olha, o que eu aprendi nesses anos todos é que ninguém faz nada sozinho, por mais que você ache que você tem a capacidade, que você não precisa de ninguém, que você vai… Você sempre precisa de alguém. Às vezes você acha que você não precisa, mas aquela pessoa ali te deu um empurrãozinho, uma coisa muito simples que às vezes você nem percebe, mas foi um empurrãozinho. Eu digo isso porque pra eu estudar eu precisava de troca de horário, e assim, os meus colegas de trabalho trocavam a semana inteira comigo, e assim, eu ainda falava: “Pô, eu sei que tu deve ter os seus compromissos, é a única semana que a gente tem de manhã e de noite livre”, ele: “Não Dani, eu troco pra você”. Aí uma ajuda de um colega de trabalho. Sempre, sempre tem alguém que vai te ajudar. Às vezes tu nem percebe, mas tu teve ali um empurrãozinho. E eu sempre falo agora que ninguém faz nada sozinho, ninguém chega em nenhum lugar achando que chegou sozinho, não, a gente sempre teve alguém, sempre, você sempre vai ter. Eu digo da professora que falou pra eu ir embora, ela não sabe o quanto me ajudou; o meu supervisor que um dia me dispensou, “aí eu preciso ir lá apresentar um…”, “não, tá, vai lá. Eu abono aqui, ninguém precisa ficar sabendo”. Tudo isso conta pra pessoa que eu sou hoje. Eu tive uma experiência, foi em março aqui, na minha vida, aí eu vi a importância de você tratar bem as pessoas, de você respeitar, de você ser ética. Teve uma chuva muito forte aqui no Guarujá, que morreu algumas pessoas e tal, e onde eu moro alagou todo mundo, nunca tinha entrado água e alagou todo mundo. A minha casa… Eu fiquei com água no joelho praticamente, na altura da cama, eu perdi praticamente os meus móveis todos. Nesse dia eu liguei na empresa e aí eles: “Não Dani, fica em casa”. No outro dia eu fui trabalhar, aí me chamaram pra conversar: “Vai para casa”. O RH me chamou: “O que você precisa?”. Umas amigas da minha irmã, que nem me conhecem: “O que ela precisa?”, e assim foi. Então eu falo que ninguém faz nada sozinho, a gente sempre precisa de alguém, a gente sempre aprende, eu aprendo todo dia; Todo dia eu aprendo no trabalho, na minha profissão, eu aprendo com as pessoas que estão ao meu redor, eu também aprendo o que eu não quero ser, vendo algumas pessoas, isso sempre, todo dia, todo dia. E eu vou pro meu trabalho hoje, sorrindo, feliz porque você anda na rua, é uma fila enorme no banco pra pegar auxílio, é um monte de gente na rua, aqui mesmo perto do meu trabalho. E eu chego lá feliz mesmo que eu não esteja 100%, mas porque eu me vejo como privilegiada, deu ter um emprego e deu fazer o que eu gosto, porque eu realmente gosto de dirigir, eu gosto de trabalhar no Porto, eu gosto de estar com as pessoas que eu trabalho. Nem todo mundo é 100%, mas esse nem todo mundo é 100% serve pra eu aprender.
P/1 - E para você, o que é ser uma mulher empreendedora? E se você se considera uma mulher empreendedora.
R - Eu acho que eu empreendo sendo um exemplo, né? Um exemplo pra uma dona de casa que não sabe o que pode fazer, e olha ela lá, no caminhão. Quando eu falo que eu trabalho num caminhão, muitas pessoas se surpreendem, eu já me acostumei, mas elas ficam: “Sério?”, eu: “Sério”, porque a gente pode fazer qualquer coisa. E eu tenho sempre isso comigo, a gente pode fazer qualquer coisa, a mulher pode fazer qualquer coisa, a gente só precisa de espaço e isso a gente está ganhando no dia-a-dia. Está difícil, mas já está melhor do que já foi. E assim a gente vai. Então se eu sirvo de exemplo para duas ou três mulheres saírem da caixinha e ver que elas podem mais, pra mim eu já estou feliz.
P/1 - E o que o Porto de Santos representa na sua vida e no seu trabalho?
R - Olha, eu acho que eu não mudaria de área, eu não mudaria de local de trabalho, porque eu me sinto totalmente em casa no meio do Ogmo, no meio, no meio de estivador, é a minha vida. É a minha vida há dez anos praticamente, e é nele que eu vendo conquistando e vou conquistar as coisas que eu almejo. Então assim, eu não sairia do Porto pra trabalhar novamente no comércio ou sentada numa cadeira, num computador, eu não me vejo… Eu me vejo ali na área trabalhando no meio de todo mundo, no meio da operação mesmo, do bicho pegando.
P/1 - Que valores pessoais definem a sua trajetória como mulher empreendedora, e que inspira, que é exemplo?
R - Olha, primeiro lugar eu levo pra mim você sempre falar a verdade, você estando errado ou não, você fala a verdade, se você errou, você assume, espera, mas principalmente… É uma coisa que eu aprendi com o meu pai na verdade, que a única coisa que a gente tem é o nosso nome e se você faz alguma coisa… O Porto é um ovo - é imenso, mas é um ovo - então todo mundo se conhece, então eu procuro plantar coisas boas sempre, porque eu trabalhei no Terminal ali, hoje eu estou nesse, amanhã estar aqui e eu quero que as pessoas lembrem de mim ou falem de mim como uma profissional, como ética, que eu procuro ser, eu procuro ser muito, muito justa, mesmo, e eu vivo isso no meu dia-a-dia hoje, que eu tenho uma situação na minha empresa que eu falo assim: “Não, ele está errado nisso”, mas quando ele está certo, eu falo: “Não gente, mas ele está certo nisso”, por mais que eu não goste da pessoa. Eu acho que a gente sempre tem que ser verdadeiro, ser correto, porque tu tá aqui hoje, tu tá ali amanhã e as pessoas, assim como elas falam de pessoas que não são tão profissionais, eles falam das que são profissionais, e é isso que eu levo comigo. Eu posso sair da empresa, mas eu vou sair com uma porta aberta, com a minha cabeça erguida, porque eu sei que estou fazendo um trabalho bom, eu fiz um trabalho, eu fui sempre correta e é isso que eu levo, é isso que eu procuro mostrar para as pessoas.
P/1 - E quais são os seus maiores sonhos hoje em dia?
R - Olha, hoje em dia, é o meu objetivo, na verdade, se eu puder realizar, são duas coisas: eu sou apaixonada por staker, que é uma máquina, tem aqui mesmo, que você pega o contêiner e põe no caminhão, eu quero trabalhar nisso, eu vou esperar uma oportunidade, que eu sei que num momento vai aparecer. Eu não almejo tanto um RTG, que é lá em cima, mas eu gosto da máquina que eu estou ali, estou no meio da operação. E o objetivo pessoal é que eu quero uma casa, que eu também estou trabalhando pra isso, porque eu quero uma segurança pra minha filha, né? Mas profissional, mesmo tendo faculdade, eu quero continuar ali na operação. Eu me vejo mesmo trabalhando numa máquina, já me vi, já me imaginei e eu acho surreal. E quando eu vejo uma mulher - que eu sei que tem - eu vou lá, vejo as fotos e eu: “Caramba, que daora”. E eu me orgulho, me orgulho muito em ver uma mulher numa empilhadeira, aqui no RTG eu acho que tem. Eu me orgulho muito quando eu vejo alguma reportagem. Até no caminhão quando eu vejo eu fico muito feliz, que a gente está conquistando muita, muita coisa.
P/1 - E a gente está encaminhando pro fim, e eu queria saber se você gostaria de acrescentar alguma história ou comentar alguma coisa que eu não tenha dado oportunidade.
R - Não, eu acho que eu falei muito. Na verdade eu queria só agradecer aos meus pais, que do jeito deles, que nem sempre eu achei certo, hoje como mãe eu entendo a minha educação, que eu sei que não trilhei o caminho que eles queriam, porque eu tenho uma irmã que é Programadora, eu tenho uma irmã que trabalha com TI, eu sou a única que sou o “pião” da família. Às vezes eu sinto que eles, talvez - posso estar errada - eu não seja um orgulho pra eles essa profissão, mas pra mim é um orgulho. E eu cheguei onde eu estou também pelo que eles me ensinaram (emoção); e a todo mundo que me acompanhou, me ajudou de alguma forma a chegar onde eu estou. Era isso só que eu queria falar.
P/1 - E o que você acha da proposta de mulheres que trabalham no Porto de Santos serem convidadas a contarem suas histórias de vida através de um projeto de memória?
R - Olha, quando eu fui convidada, eu fiquei assim, mas será que é relevante mesmo a minha história de vida? Aí uma amiga lá do trabalho mesmo falou: “Dani, o que a gente pode abrir de portas para outras mulheres que vão assistir, vão ver, você não tem noção. Então vai lá e fala mesmo”. E aí eu comecei, pesquisei, dei uma entrada, falei: “Meu, a gente tem uma visão, a gente pode ampliar muito, muitas mulheres podem ver que elas também podem vir trabalhar no Porto, que não é um bicho de sete cabeças, que você não vai chegar aqui e vai ser engolida, porque a impressão logo no começo, minha, era isso, porque é só homem, “esses caras vão o quê? Vão me devorar”, mas não, a gente sabe lidar com todas as situações.
P/1 - O que você achou de ter participado dessa entrevista?
R - Olha, eu fiquei muito feliz com o convite, que eu vi que eu acho que o meu trabalho está sendo notado, a minha pessoa também está sendo notada, já que eu fui indicada, e que eu sirva de exemplo pra outras.
P/1 - Daniela muito, muito obrigada por ter topado participar, por você ter ido até aí, mesmo com a sua rotina super apertada que faz você se cansar, eu te garanto que você será e tenho certeza que você já é um exemplo para muitas mulheres, a gente precisa muito disso, de mulheres ocupando esses espaços que também são delas, nossos, né? E sendo esse exemplo, dando força para essas outras mulheres a conquistarem tudo que elas querem. Então eu te agradeço de coração, foi muito gostoso escutar um pouquinho da sua história, e quando estiver tudo pronto eu te mando, porque agora você vai fazer parte do Museu, sua história vai fazer parte do Museu.
R - Eu que agradeço. Agradeço a oportunidade de estar falando assim. Hoje, é que eu era muito tímida, por isso eu não tinha muitas amizades, mas hoje eu aprendi a conversar mais, a falar mais, a me abrir mais e hoje eu tenho mais facilidade em estar conversando assim, tão abertamente sobre a minha vida, e eu agradeço, de verdade, a oportunidade de estar participando.
P/1 - A Fe é outra pesquisadora, ela está acompanhando a gente e ela vai falar alguma coisinha pra você, tudo bem?
R - Tá bom.
P/2 - Oi, eu adorei ouvir a sua história, estava aqui quietinha, mas estava ouvindo tudo, sem dúvidas você é uma inspiração e eu já não vejo a hora de ver a história no Portal pra ajudar muitas mulheres a se inspirarem.
R - Que bom.
P/2 - Foi um prazer.
R - Aí, o meu também gente.
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