Entrevista de Bruna Chris Santos
Entrevistada por Luiza Galo
São Paulo, 10/07/2023
Projeto: Mulheres na Tecnologia
Entrevista número: MTS_HV010
Realizado por Museu da Pessoa
Transcrita por Mônica Alves
Revisado por Luiza Gallo
P/1 – E para começar eu queria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Tá. Então o meu nome é Bruna Cristina Macedo dos Santos, nasci em São Paulo, capital, no dia 18/08/86.
P/1 – E te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R – Isso, eu lembro vagamente. A minha mãe falou que ela se sentiu mal e foi para o hospital, e eu acabei nascendo no caminho, em um táxi.
P/1 – E aí, não tem mais detalhes? Assim, de quando chegou...?
R – Não, aí eu não tenho mais detalhes sobre essa parte.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho. Nós somos ao todo, sete irmãos, por parte de pai. E temos contato, inclusive ontem estávamos no almoço de família, então é muita gente, é muita criança, é tudo muito (risos). São sete, então pensa, todos casados, com filhos, dois, três, então é...
P/1 – E por parte de mãe você não tem irmãos?
R – Não tenho.
P/1 – Filha única?
R – Isso.
P1 – Tá. E qual é o nome da sua mãe?
R – A minha mãe se chama Rita de Cássia.
P/1 – E como você descreveria o jeito dela?
R – A minha mãe era uma pessoa muito forte, batalhadora e é surreal, assim falar, que a minha mãe faleceu faz muitos anos, mas para mim é como se fosse ontem. Então esse ano fez dezoito anos que a minha mãe faleceu, mas para mim parece dezoito meses, dezoito dias e eu acho que conforme vai passando o tempo, a saudade só aumenta, eu não falo que tipo eu aceitei e sim que eu aprendi a viver sem ela. Então minha mãe era uma pessoa muito forte, batalhadora, guerreira. Ela se aposentou muito jovem, por invalidez, ela faleceu ela tinha lúpus, uma doença hematológica, então assim, eu tinha dez anos quando ela começou a sentir os sintomas, tal...
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Entrevistada por Luiza Galo
São Paulo, 10/07/2023
Projeto: Mulheres na Tecnologia
Entrevista número: MTS_HV010
Realizado por Museu da Pessoa
Transcrita por Mônica Alves
Revisado por Luiza Gallo
P/1 – E para começar eu queria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Tá. Então o meu nome é Bruna Cristina Macedo dos Santos, nasci em São Paulo, capital, no dia 18/08/86.
P/1 – E te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R – Isso, eu lembro vagamente. A minha mãe falou que ela se sentiu mal e foi para o hospital, e eu acabei nascendo no caminho, em um táxi.
P/1 – E aí, não tem mais detalhes? Assim, de quando chegou...?
R – Não, aí eu não tenho mais detalhes sobre essa parte.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho. Nós somos ao todo, sete irmãos, por parte de pai. E temos contato, inclusive ontem estávamos no almoço de família, então é muita gente, é muita criança, é tudo muito (risos). São sete, então pensa, todos casados, com filhos, dois, três, então é...
P/1 – E por parte de mãe você não tem irmãos?
R – Não tenho.
P/1 – Filha única?
R – Isso.
P1 – Tá. E qual é o nome da sua mãe?
R – A minha mãe se chama Rita de Cássia.
P/1 – E como você descreveria o jeito dela?
R – A minha mãe era uma pessoa muito forte, batalhadora e é surreal, assim falar, que a minha mãe faleceu faz muitos anos, mas para mim é como se fosse ontem. Então esse ano fez dezoito anos que a minha mãe faleceu, mas para mim parece dezoito meses, dezoito dias e eu acho que conforme vai passando o tempo, a saudade só aumenta, eu não falo que tipo eu aceitei e sim que eu aprendi a viver sem ela. Então minha mãe era uma pessoa muito forte, batalhadora, guerreira. Ela se aposentou muito jovem, por invalidez, ela faleceu ela tinha lúpus, uma doença hematológica, então assim, eu tinha dez anos quando ela começou a sentir os sintomas, tal e tudo mais, então eu acompanhei a trajetória dela desde o comecinho até ela realmente falecer, que eu era até menor de idade ainda, nem era maior de idade.
P/1 – E tem alguma história com ela que te lembra muito assim, a relação de vocês?
R – Lembro. A minha mãe gostava muito de carnaval, mas eu não sou muito fã de carnaval, eu nunca fui, eu acho que por conta disso que hoje, porque assim, não tinha essa, as pessoas, antigamente, não tinham muito querer das coisas. Então assim eu vou fazer 37 anos, então era: “Ou você fazia, ou você fazia” (risos). Então eu era obrigada a ir para o carnaval. Hoje eu sou apaixonada por samba, se me deixar eu vou todos os finais de semana, todos os dias se me deixar, adoro samba de segunda feira, adoro samba de quarta-feira, no meio da semana, adoro. Só que como foi uma coisa muito obrigatória, então hoje, é uma coisa assim, aprecio o carnaval, depois de muito tempo eu consegui entrar no Anhembi, porque eu lembrava muito da minha mãe, então para mim era um gatilho enorme passar na frente do Anhembi, se eu tivesse que dar a volta na cidade para não passar lá perto, se fosse no caminho, eu dava, porque eu não queria passar lá perto, porque eu lembrava muito, ela era apaixonada de verdade mesmo pelo carnaval. Então eu lembro muito das festas na quadra, das apurações. Então essa parte era muito marcante, assim, porque ela sempre me envolveu muito, mesmo eu não querendo, eu sempre fui muito envolvida no carnaval.
P/1 – E os seus avós maternos, você chegou a conhecê-los?
R – Eu só conheci a minha avó [materna], que inclusive ela faleceu há pouquíssimo tempo, no final do mês vai fazer só sete meses. Então assim, ela era a minha base, ela criou as minhas filhas, ela criou todas, então, ela era tataravó, então assim, ela viu muitas gerações. Então a dona Helena assim, era a minha segunda base, que eu perdi. Ela que me criou, porque a minha mãe precisava trabalhar e foi assim com as minhas filhas também. Então assim, ela me acompanhou o tempo todo, ela viu todas as minhas... eu posso dizer que ela viu muito mais o meu progresso do que a minha mãe, até porque eu era menor de idade, então o que a minha mãe viu foi eu conseguir um emprego de carteira, nem carteira registrada, porque era de menor, então não tinha isso naquela época ainda. E a minha vó viu eu conseguindo crescer, criar as meninas, estudar, fazer faculdade, cursos e conquistando as coisas.
P/1 – E criança você tem alguma recordação assim, com a sua vó? Algo que você gostava de fazer...
R – Todas, todas, todas possíveis. A minha vó me levava na escola, a minha vó… minha mãe brigava, a minha vó passava vários panos, então assim, era fazer papel de vó mesmo, sabe? Tipo, o meu paladar é extremamente infantil até hoje, para comer, então era tipo: “A Bruna não gosta, eu vou fazer outra comida para ela, ela não gosta’’. E a minha mãe: “Não, mas ela vai ter que comer, porque é isso que tem hoje”. E ela falava: “Ela não come, ela não gosta, então eu vou fazer outra coisa para ela”. Então era assim, a minha vó era superprotetora, tudo de bom que vó é, né?
P/1 – Você sabe a origem da sua família?
R – A minha vó, eu sei que ela era do interior de São Paulo.
P/1 – A Helena?
R – A Helena, isso. Por parte de pai, eu conheci a minha vó depois de adolescente, porque eu não conhecia meu pai, fui conhecer o meu pai depois de adolescente. Então eu não tenho tantas lembranças assim da minha família por parte de pai, porque eu tive mais contato com o meu pai através dos meus irmãos mesmo, então não tenho tanto contato com a família por parte do meu pai, conheço algumas pessoas, cheguei a conviver um pouco com eles, mas não tenho tanto acesso, igual eu tenho com a família da minha mãe. Eu sei que o meu avô, era do interior da Bahia, se eu não me engano, acho que era Feira de Santana, e eu também não sei como que eles se conheceram, mas eles tiveram seis filhos, todos aqui em São Paulo, e todos morando aqui na Zona Leste, depois cada um casou e acabou seguindo a sua vida.
P/1 – E sua mãe aqui mesmo? Família da sua mãe? De São Paulo?
R – Isso, tudo aqui em São Paulo, todos. Todos nasceram aqui em São Paulo, todos os meus tios nasceram em São Paulo.
P/1 – Você quer contar alguma coisa do seu pai? Ou...
R – Eu prefiro não.
P1- Tá, claro.
R – Eu prefiro não.
P/1 – Sim. E os seus irmãos?
R – Os meus irmãos são sensacionais. Eu sou a mais velha das meninas, porque nós temos outras meninas e um irmão mais velho. Então assim, eu posso considerar que o meu irmão mais velho foi um pai na minha adolescência até agora, a gente na fase adulta. Ele viu muita coisa, ele acompanhou muita coisa, a gente brigou muito, como todos os irmãos, mas assim, sempre que eu precisei, eles sempre estão disponíveis. Eu sou uma pessoa muito difícil, eu não tenho... eu não consigo dar muito acesso assim, as pessoas, no caso deles né, em aspecto, porque são mães diferentes e cada um tem uma história. Então agora… e muita coisa a gente só aprende depois que a gente cresce, que a gente consegue entender as coisas e a compreender. Então assim, hoje eu me dou super bem com a mãe deles. Quando a minha mãe faleceu, elas super me apoiaram, o que eu precisei, elas estavam lá presentes, mas assim, hoje a gente tem uma relação super boa.
P/1 – E ainda criança assim, vocês tinham costume de comemorar alguma data específica, aniversário, Natal?
R – Não tinha. Por incrível que pareça, a minha mãe, ela não me criou para ter datas comemorativas, então, tipo assim, era aniversário, então fazia ali uma reunião de família ou com alguns amigos, mas não tinha: “Vamos fazer uma festa aí, chamar todo mundo e fazer todo aquele...’’. Não tenho muito essas recordações de datas específicas. Dias das Mães era só presente da escola mesmo, então não tinha essa: “Aí, vou sair para almoçar com a minha mãe’’. A gente não tinha esse hábito. A minha mãe não tinha, ela não era muito aberta para relação, então não era amiga, amiguíssima da minha mãe, mas a gente se dava super bem, na medida do possível. Então era shopping, era supermercado que era uma festa.
P/1 – Uhum.
R – Então era tudo muito... o máximo que ela pôde me dar, o que estava através das condições dela, ela me criou. Então assim, eu posso dizer que hoje, da minha fase, da minha infância para minha adolescência, eu tive uma infância muito rica. Eu digo rica mesmo, de ter calçados bons, tive uma boa educação na medida do possível, porque eu estudei em escola particular até um certo momento da minha vida. Hoje eu tinha tudo para ser uma adulta totalmente frustrada, e graças a Deus eu não tive.... eu não sei se eu posso falar essa parte, assim...
P/1 – Claro.
R – Então, quando a minha mãe voltou, a minha mãe ficou esperando o meu pai durante quinze anos, porque ela tinha o sonho de construir uma família e tudo mais, e o meu pai teve outras mulheres, outros filhos. Então ela conseguiu o que ela queria, que era ter a casa dela, com o pai dela, a filha dela, ela conseguiu. Só que nisso, eu saí da casa da minha vó, então eu fui morar em comunidade, passei muita necessidade. Então assim, da minha infância, para onde eu andava, no Shopping Center Norte, você ir morar em uma favela, onde você... eu não passei fome, graças a Deus, fome eu não passei, mas privações eu tive muitas, muitas privações. Então é onde você tem um relógio caro, e você não poder assistir TV, porque não tem luz, então é uma coisa muita discrepante. E eu estava na fase da adolescência, que é onde eu tinha tudo para ser rebelde, eu tinha tudo para fazer tudo do pior, porque eu literalmente, eu fui para dentro da comunidade mesmo, dentro da comunidade. Mas aí eu nunca perdi o contato com a família materna, os meus tios, o meu tio é uma pessoa que, ele pode não concordar com as coisas, mas ele é uma pessoa que sempre vai apoiar, então ele sempre falava para mim: “Nós somos negros, você é uma mulher preta, então a gente sempre tem que provar que a gente pode mais que as pessoas, isso você vai levar para sua vida’’. Eu lembro que ele falava isso, eu era pequena.
(11:27) P/1 – Você cresceu com isso.
R – Eu cresci com isso. Então eu falava assim, na época, vamos supor, um curso R$ 200,00: “Tio, quero fazer esse curso, R$ 200,00’’. Não sabia nem do que era o curso, ele: “Não, você quer estudar? Então eu vou pagar! Então eu vou trabalhar mais, eu vou fazer um bico, eu vou fazer qualquer outra coisa, porque eu vou te ajudar’’. Então eu lembro, eu fiz curso que era tipo, Microlins, de computação, tal, então tipo, e na época era tudo muito caro, lá atrás. Hoje a gente tem acesso à internet, eu não tinha, para usar computador, aí o meu tio comprou um computador e a gente usava a internet à noite, porque a internet era discada, porque durante o dia não dava para usar, porque se não vinha altíssima a conta de telefone. Então o computador de tubão, branco, aqueles muito, extremamente antigos, acho que colocou um computador na minha casa, acho eu tinha dez, onze anos. Então assim, ali eu já comecei a ser introduzida na tecnologia sem saber, sem saber. Então o meu tio é uma pessoa assim, que eu levo para a minha vida inteira, ele sempre me apoiou em tudo, nas melhores, nas piores fases que eu tenho, e ele é aquela pessoa, que se eu falar: “Tio me socorre agora”. Independente do que for, ele vai estar sempre presente.
P/1 – Ele é irmão da sua mãe?
R – Irmão da minha mãe.
P/1 – Quando ele tinha esse papo com você, assim: “Você é uma mulher negra, tem que saber disso para sempre”. Você entendia a magnitude disso?
R – Eu só entendia que eu tinha que estudar, eu só entendia que eu tinha que estudar. Eu não sabia como era a vida, como era a rua, como o pessoal falava: “Na rua você vai ver como funciona”. Eu sabia que eu tinha que estudar para melhorar as minhas condições de vida. Então você tinha que estudar, estudar, estudar. Porém eu fui mãe muito cedo, então eu consegui somente terminar o meu ensino médio, somente terminar o meu ensino médio, e depois de dez anos que eu fui voltar a estudar, que aí eu fui fazer cursinho, que aí eu entrei em várias iniciativas para tentar faculdade pública e no final foi através do Enem, voltei depois de doze anos, a estudar... depois de doze anos que eu tinha acabado o ensino médio, que eu fui fazer o Enem e eu consegui uma bolsa.
P/1 – Eu queria te perguntar, voltando um pouquinho, justamente isso, teve algum outro parente muito importante na sua formação, ou até amigos de familiares, vizinhos, nesse momento de se constituir como... nessa parte da infância, assim?
R – Não, nessa parte mesmo, até porque, na minha casa… antigamente os meus tios trabalhavam em fábricas ou eram concursados. Então era tudo muito estrutural, se você quiser ter uma vida melhor, então você tem que ser concursado. Então eu tinha tio... meu padrinho era metalúrgico, a minha tia trabalhava em fábrica, minha tia trabalhava na Estrela. Então era só em mente isso que a gente tinha, porque era o que eles tinham, foi o que eles aprenderam, então era somente isso que tinha para contribuir. E o meu tio que tinha a cabeça um pouco mais aberta, meu tio tem um monte de curso, ele não chegou a terminar a faculdade, por condições financeiras, mas ele é extremamente inteligente, ele entende muito, ele é concursado. E ele somente abria, né, então, e como ele é muito político, ele fazia parte mesmo de um partido, então a mente se abre um pouco e começa a ter mais acesso às coisas. Então assim, marcante mesmo, a decisão tipo: “Você tem que estudar”. “Olha tio, o que você acha desse curso?”. “Ah, faz aí para ver o que dá”. Ele sempre estava ali presente. Não que os meus outros tios não apoiassem, mas é porque ele tinha embasamento, justamente porque ele tinha mais vivência.
P/1 – E você chegou a morar com ele?
R – Morei com ele a minha vida inteira, a minha vida inteira, até quando eu saí de casa, quando a minha mãe foi morar com o meu pai, eu morei com ele. Depois por desentendimento com a minha mãe, eu voltei a morar com a minha vó, e ele sempre morou lá com a minha vó, porque ele é solteiro, então ele sempre morou lá com a minha vó, ele mora próximo da minha casa. Então a gente sempre teve o contato, a gente nunca perdeu o contato.
P/1 – Que bairro foi a sua primeira casa?
R – A minha casa… eu morava na Vila Domitila, que é próximo a Penha, Zona Leste.
P/1 – Você lembra de como era naquela época?
R – Lembro. Era a casa da minha vó, que ela comprou e ela não tinha... ela não era cimentada, era um quintal muito grande e o banheiro era para fora de casa, eu lembro até hoje, o banheiro foi construído para ser dentro de casa, eu tinha onze para doze anos e foi no meu aniversário. O banheiro até hoje, a melhor parte da casa da minha vó é o banheiro, o banheiro é muito grande. Mas até pouquíssimo tempo antes disso, antes de eu entrar na adolescência, o banheiro era para fora de casa. Era tudo muito humilde, então aí aos poucos, conforme os meus tios foram crescendo, minha mãe foi crescendo, eles foram trabalhando, tendo condições melhores de vida e foi colocando piso, o forro e é uma casa de três cômodos até hoje, muito grandes, onde morava, chegou a morar uma época, tipo, acho que dez, doze pessoas. Porque era casa de vó, então quando algum tio tinha alguma dificuldade, ia para casa da minha vó e ficava com os filhos lá, até conseguirem um outro lugar. Então eu tenho uma infância muito, tenho fotos de quando eu era bem pequeninha, toda descabelada, correndo no quintal, que era cheio de barro, eu lembro que chovia, tinha que colocar umas madeiras, para você poder entrar, para não sujar a casa. E aí depois foram aos poucos melhorando a condição da casa, assim, e ela continua grande até hoje, mesmo.
P/1- E você dormia com alguém? Dividia quarto?
R – É um quarto só, e eram... todas as mulheres dormiam em um quarto só. Então de princípio, que eu me lembre, da minha... um pouco maior, até quando minhas tias, meus tios casaram e começaram a sair de casa... era a minha tia, a minha mãe, minha vó e eu, então eram quatro mulheres e mais os agregados, porque sempre vêm um sobrinho, um tio, alguma coisa, todo mundo no mesmo quarto, mas graças a Deus cada um tinha sua cama. Era muito grande, então tinha beliche, treliche.
P/1 – E tinha bagunça?
R – Ah sempre. E mulher, muita mulher, muita mulher, muita mulher, muita mulher, é muita coisa. E a minha vó, além de ter filhas mulheres, as filhas mulheres tiveram filhas mulheres. Agora essa última geração que está vindo mais meninos, mas são muitas mulheres.
P/1 – Uma família de mulheres.
R – Exatamente.
P/1 – Tem alguma recordação, alguma história assim, desse quarto, de alguma história que vocês viveram?
R – Esse quarto, assim, o que mais me marca nele, é que o quarto era uma sala, onde era de difícil acesso, porque tipo como você tinha que pular para poder chegar por fora, aí depois fizeram toda uma estrutura. Então assim, eu não tenho muitas histórias, contadas, tipo, nesse quarto, até porque a família da minha mãe são pessoas muito fechadas, não são pessoas abertas, mas assim, o que eu tinha era porque a gente brincava muito, tinha um corredor, então a gente tinha muito espaço, eu e minhas primas tínhamos muito espaço para brincar. Aí a gente não era proibido, as mães sempre brigavam, porque a gente estava correndo, brincando e sujando, até porque não tinha asfalto, não era cimentado o quintal, era barro, mas minha vó nunca proibiu de a gente entrar e sair correndo no quintal, entrar para dentro de casa e correr e tudo mais.
P/1 – Brincadeiras de infância?
R – Todas as possíveis, com as minhas primas. Então a gente foi criança mesmo, de verdade, de brincar no barro, de... a minha infância, eu lembro que era muito marcada por patins, mas a gente não tinha condição de ter patins, então a gente amarrava tacos nos pés e ficava na rua mesmo, então a gente ficava na rua mesmo, que hoje não tem isso, então era rua de minha mãe gritar e falar: “Vem tomar banho, vem entrar, vem jantar. Chega de rua!”. Férias era sensacional, porque a gente saia às nove da manhã e entrava às seis da tarde, só ia no banheiro e comer, porque gritavam, se não a gente ficava na rua o tempo todo. Do lado da casa da minha vó, era um terreno baldio que a gente chamava de Buracão, então ali a gente brincava de tudo, tudo que pudesse imaginar. Então assim, eu tive infância mesmo de verdade, de brincar de boneca, acho que eu brinquei até os doze anos de boneca, de Barbie, sabe? De fazer comidinha. Então assim, e todas as minhas primas, por mais que elas sejam, eram um pouco mais velhas, a gente teve essa infância mesmo. E aí depois foi modernizando tudo, as mães faziam um sacrifício para poder comprar os brinquedos da época e tudo mais. Então eu lembro muito que eram os patins, que era uma coisa que eu queria, que eu lembro que era cruzeiro ainda, e era, tipo, muito caro, e eu lembro que elas parcelaram no cheque, em muitas vezes, mas era o meu sonho ter o bendito dos patins, o tal do Roller lá, eu tinha, ele era lilás. E aí depois, um pouquinho maior, eu fui ter bichinho virtual, que era mais uma vez entrando aí na área, na parte da tecnologia, sem saber. E eu acho que foram essas coisas mais assim, presentes. Eu tive... minha infância foi assim, a minha infância até os doze, antes de entrar na pré-adolescência, ela foi, hoje eu posso dizer assim, muita rica mesmo, muito rica, tanto de informação, de acesso a brinquedos, de acesso a passeios, então assim era muito.... eu conheci fábrica da Nissin miojo, Kibon, Coca-Cola, com a escola pública, que era muito bom, tinha que pagar o passeio, mas a minha mãe tinha condições de pagar o meu passeio. Então não é hoje igual, você vai em um passeio de escola, é duzentos. Naquela época era cruzeiro, que devia ser mais ou menos o que é hoje, mas aí o dinheiro tinha mais valor do que hoje. Mas eu acho que em relação a infância, eu acho que essa foi... acho que os patins eram os mais, porque a gente amarrava os tacos no chão mesmo e pegava lá no Buracão, alguém que jogava e trocava os tacos da casa. Teve uma vez que eu peguei um taco também, do quarto, e foi uma briga em casa, porque eu não estava achando e precisava amarrar para poder brincar, e foi uma briga: “Como que você tira um pedaço de casa, para ficar arrastando na rua?’’. Porque ficava arrastando, e na casa da minha vó era uma descida, então era perfeito para gente brincar disso. Mas foi muito bom, foi muito bom, bons tempos. Ainda tenho contato até hoje com as pessoas que a gente brincava na rua.
P/1 – Os vizinhos?
R – É, os vizinhos, os vizinhos.
P/1 – Que legal! E nessa época você pensava o que você queria ser quando crescesse?
R – Nada, eu nem sabia. Eu só sabia que eu tinha que acabar a escola. Como eu fiquei grávida muita jovem, então aí o que eu tinha que fazer? Era só acabar a escola, que eu acabei assim no pulso, com a minha mãe e o meu pai indo me buscar e levar praticamente todos os dias, porque eu dava 499 golpes lá, porque eu inventava cada hora uma coisa para não ir. Eu quase perdi o último ano do ensino médio, por não querer mesmo, estar cansada, e não, a minha mãe foi, até persistiu, enfim, eu conseguir acabar, a super tempo, não atrasei e tudo mais. Mas aí eu acabei estagnando, porque aí eu tinha que trabalhar para poder criar as meninas, aí não tinha mais jeito.
P/1 – Da escola, que recordações você tem dessa primeira escola?
R – A escola, o primário era escola particular, era tudo, era tudo lindo, maravilhoso, passeios ótimos, festas, que eu acabava às vezes com as festas, porque eu não queria dançar e tinha que dançar, e eu não queria dançar, e aí… e era aquela choradeira que eu lembro até hoje. Mas a festa, a parte da infância, ela foi... o primário, ela foi muito, muito legal. Aí quando eu tive que ir para a escola pública já foi um pouco mais difícil, porque a gente sabe que tem uma diferença de aprendizado e tal. Na escola pública eu não tinha tantos amigos, não tinha tantos amigos, conforme foi passando os anos e acabou melhorando. Mas aí tudo modificou, porque eu morava na Penha, aí quando a minha mãe voltou a morar com meu pai, eu fui morar em Itaquera, mas eu continuava morando na Penha, até porque eu participava de muita coisa na igreja, então todo final de semana tinha alguma coisa na igreja, então eu optei por não mudar de escola. Mas foi também nessa transição da pré-adolescência, até a adolescência, que eu me mudei para Itaquera, que lá eu conheci a minha comadre, que é madrinha da minha filha mais nova, tenho amigos até hoje, são pessoas assim, que eu levei para vida, então eu tenho mais amigos da fase da pré-adolescência para a adolescência, do que da infância mesmo.
P/1 – No primário, você lembra de algum professor marcante?
R – Tenho. Primário eu tenho a professora que eu tenho... não tenho tanto contato, mas eu sei que ela mora próximo ainda da minha casa, até hoje, porque eu não sai do bairro, eu casei, depois eu separei, mas eu sempre estava ali por perto, na mesma região, não saí da Zona Leste em nenhum momento. Professora Divina, ela que me ensinou a ler, ela que me ensinou a escrever, eu estudei junto com o filho dela, e o filho dela, às vezes a gente vai na missa, eu encontro com ele. Então essa sim foi a professora Divina, nem tem o que dizer dela, nem, nem tem o que dizer, nem sei se ela se aposentou ainda, nem sei ainda. Mas ela é, ela foi assim, me ajudou muito, me auxiliou muito.
P/1 – E você mudou de bairro e aí nesse mesmo momento você mudou de escola?
R – Não, em nenhum momento eu saí da minha região. Por mais que eu mudei de bairro, quando eu fui morar... porque quando eu fui morar com o meu pai e com a minha mãe, eu já tinha quinze anos, quatorze para quinze anos, mas eu não saí da escola, eu continuei lá na mesma escola. E aí as coisas foram... as escolas já não eram tão boas lá e aí a minha mãe optou por me colocar para estudar no Tatuapé, o ensino médio, então o meu ensino médio eu fiz no Tatuapé, à noite, porque eu tinha que trabalhar durante o dia. Mas a minha... o ginásio, que era como antigamente falava, o primário, eu fiz tudo próximo à casa da minha vó.
P/1 – Tá, e aí só para ver se eu estou acompanhando...
R – Tá bom.
P/1 – Você morava ali na Penha, na casa da sua vó, com a sua família.
R – Isso.
P/1 – Em algum momento a sua mãe saiu de casa.
R – Isso.
P1 – E foi morar com o seu pai.
R – Isso, aí eu morei lá na Cohab, Itaquera.
P/1 – Você foi junto com eles?
R – Fui junto com eles.
P/1 – Ah, tá.
R – Fui junto com eles. Aí lá, uma parte da minha adolescência, até um pouco antes de eu ficar grávida, eu morei lá e depois eu voltei para casa da minha mãe, porque eu não me dava muito bem com o meu pai, então eu voltei para casa da minha vó, que era ali na região da Penha.
P1 – Tá. E essa mudança, como foi para você?
R – Não, ela foi super traumática, foi horrorosa, porque eu saí da casa da minha vó... eu estava grávida quando eu saí da casa da minha mãe, e depois eu tive que pedir para minha mãe, porque a minha vó já era de idade e já tinha que me ajudar. Então foi assim, foi tudo muito... porque eu fiz todos os meus amigos, eu falo que assim, tirando os poucos amigos da época do primário, ginásio, os meus amigos hoje, de verdade mesmo, eles foram feitos no ensino médio, eu já era um pouco maior. Então assim, não foi fácil a mudança, nenhuma vez, porque mais uma vez eu saí de um lugar, onde eu tinha uma estrutura melhor e aí eu fui para um lugar onde era a casa da minha mãe, então aí ok, porque ela lutou por aquilo. Eu tinha um quarto, eu tinha tudo e do nada apareceu aquele monte de irmão que eu tinha que dividir tudo. E depois não tendo condições de estar lá, mesmo na Cohab, onde as condições já são melhores, aí eu tive que ir para casa da minha vó paterna, que é lá no meio da comunidade mesmo, então aí foi mais difícil ainda, porque você sair de um lugar que você já tem o seu quarto, para você ter que dividir a sua cama com mais um monte de gente, era muito difícil, era muito difícil.
P/1 – Que você não conhecia muito bem, até então.
R – Exatamente, exatamente.
P1 – Tá. E nessa época você estava grávida?
R – Sim. Eu tenho três meninas hoje, dezenove, vinte e 21. A minha mãe me ajudou a criar todas, porque quando ela faleceu, tinham um, dois e três. Então ela conseguiu me ajudar ainda a criá-las e depois eu tive... e dei continuidade sozinha na casa da minha vó, a minha vó me ajudou todo esse tempo.
P/1 – A vó materna?
R – A vó materna. A vó materna que já era idosa e já fazia tudo. Porque a minha vó parou mesmo, de verdade, de fazer toda a parte de casa, cuidar, ela não trabalhava fora há muitos anos, que ela era empregada doméstica, mas até... eu vou colocar que até os noventa anos. E quando ela foi embora, ela foi lúcida, super lúcida, foi super lúcida. Foi tudo muito rápido, ela descobriu que ela estava com uma doença e em quinze dias ela se foi, mas ela super lúcida, fazia tudo, tomava banho sozinha, comia sozinha, tudo, muito lúcida.
P/1 – E Bru, como foi se tornar mãe?
R – Olha, é difícil, foi difícil! Ainda mais... agora é mais difícil do que antes, essa geração, agora o mundo está muito mais difícil do que antes e antes eu tinha o apoio da minha mãe. Mas foi tudo muito, muito cedo, tudo muito jovem, sem estrutura nenhuma, sem cabeça nenhuma, então eu só sabia que eu tinha que trabalhar para poder dar o melhor para elas, entendeu? Era só isso que eu tinha em mente, para poder fazer, trabalhar. Trabalhei, teve uma época que eu trabalhei em dois, três empregos para eu poder dar o mínimo para elas, até porque era fralda, leite, então era tudo muito. Eu tinha duas que ficavam muito doentes, a mais nova e a mais velha eram muito doentes, era intolerante a leite e a outra tinha um problema nos rins. Então sempre tive que trabalhar muito, porque eu tinha que ter sempre um dinheirinho ali, era uma coisinha guardada para poder correr para o médico, um remédio que não tinha no posto e afins.
P/1 – E foram próximas, né?
R – São, tudo muito próximo.
P/1 – E você as teve, você ainda estava no colegial?
R – Estava no colegial, estava no colegial ainda. Então foi muito difícil, nessa época eu estava já, eu tinha um certo acesso ao meu pai, então eles fizeram de tudo para que eu não perdesse a escola, para que o mínimo eu tivesse nessa parte. Então às vezes eles me levavam e buscavam, para eu não matar aula.
P/1 – Garantir que você fosse.
R – Exatamente, garantir que eu fosse. Foi um sufoco, mas deu certo.
P/1 – E após o ensino médio, [você se] formou, acabou? Como que desenrolou a sua vida?
R – Após o ensino médio, aí foi todo aquele processo. Porque aí eu tentei um relacionamento e não deu certo, e aí eu voltei para casa da minha vó com todo mundo. E começou toda uma estrutura de novo, porque você sai, a casa já não é do jeito de quando você volta. Então aí foi que eu trabalhei, trabalhava de telemarketing em dois empregos, os horários eram totalmente malucos, porque em um eu entrava às oito da manhã e o outro entrava às cinco da tarde. Só que naquela época também não tinha esse negócio de integração, bilhete único, então você trabalhava e dava uma condução, então para você economizar, você fazia a integração nos terminais. Então se eu entrava às cinco horas da manhã e eu saia... era meio período, então eu saia só às onze da manhã, depois às onze da noite, no centro. Então eu tinha que pegar um ônibus para descer até o terminal Parque Dom Pedro, do terminal Parque Dom Pedro outro ônibus para ir para minha casa, só que nisso já era uma da manhã, para poder estar no outro serviço às oito. Então era muito difícil. Foi uma fase assim, que hoje, hoje eu viro e eu falo, fico muito emocionada nessa parte, porque quem me vê hoje, não sabe o que eu passei. Então as pessoas às vezes falam: “Ah, tá vendo, agora...” Posso?
P/1 – Uhum.
R – “Agora ela... subiu para cabeça”. Sabe? “Agora ela não quer andar de condução. Agora ela...”. Eu me privei de muita coisa, e uma das coisas que eu virava e falava para todo mundo, eu falava assim: “Gente, não é querendo ser nada, mas quando eu puder não levar marmita para o serviço, eu não vou levar”. Falei: “Não é desmerecendo, não é nada”. Até porque hoje, se eu faço uma comida que eu gosto, eu levo para o serviço para eu comer, mas vai ser uma coisa, tipo assim: “Meu Deus, eu estou com muita vontade”. Porque eu fiquei durante três anos levando comida requentada no almoço e na janta, porque como eu trabalhava no telemarketing e era uma doideira, porque não trabalhava de segunda à sexta, era direto, então quando era folga de um, eu trabalhava no outro, então praticamente eu nunca comia comida fresca. Então na minha vó tinha almoço e janta todos os dias, mas eu não estava lá, então ela sempre fazia o almoço e a janta para o dia seguinte, então eu sempre comia comida requentada. E às vezes, tipo, o pessoal colocava um monte de marmita junto, e aí ficava com gosto, e aí o plástico derretia, e eu tinha que comer, porque eu saia de um às duas da tarde e entrava no outro às cinco da tarde, eu tinha três horas para comer, e eu não podia gastar o dinheiro, porque era justamente para elas. Então hoje eu não desmereço quem leva, quem precisa, pelo contrário, mas foram coisas que eu predestinei para mim: “Quando eu puder não levar marmita e quando eu puder não andar de transporte público, para mim, eu já vou estar com 85% dos meus planos”. Porque pegar transporte público hoje não é fácil, ainda mais se você mora... eu não moro perto da estação, é metrô, mas eu não moro perto da estação, então eu tenho que pegar uma lotação ou um ônibus para chegar até o metrô, aí você chega no metrô tem todo aquele transtorno, a gente sabe como que funciona, o metrô ainda funciona muito melhor que o trem, mas é transporte público, então. E antes ainda... é que agora... depois de um bom tempo, eu já tinha os meus 27, 28 anos, que eles começaram a pagar duas conduções, que aí você podia ter um pouquinho mais de conforto para poder ir. Mas antes era uma condução só, então você tinha que levantar muito cedo para dar tempo de chegar, então pensa, eu tinha que sair de casa às seis da manhã para eu poder chegar no serviço às oito, e nem era tão longe assim, mas como eu dependia do transporte público, então eu tinha que.... então são duas coisas que eu coloquei para mim, que eu, enquanto eu pudesse não andar de condução, eu não andaria e nem precisasse levar comida, porque eu não teria condições de comprar, ou porque a minha empresa não disponibiliza um refeitório, de alguma alimentação, enfim, era tudo isso. Então tudo que eu ganhava era em prol delas e para ajudar em casa. Então foram coisas que eu coloquei para mim e foi muito marcante, até eu pensar e falar: “Eu vou precisar estudar para melhorar essas condições, porque senão eu não vou conseguir sair do telemarketing”. Não, eu não falo mal, pelo contrário, foi ele que pagou escola delas enquanto elas estudavam, colocou roupa no corpo. O meu final de semana, que eu tinha um dia no mês de lazer, para chupar um sorvete, para comer alguma coisa diferente, foi o telemarketing que me ajudou, mas é uma profissão onde você tem que ter muito jogo de cintura, a sua cabeça tem que estar muito boa para trabalhar em um, para trabalhar em dois é mais ainda, não é nem o dobro, é o triplo. Eu consegui sair do telemarketing, mas foram dez anos trabalhando assim. Então não estava bom aqui, saia e migrava para outro, e assim ia indo assim, eu devo ter uns cinco registros de telemarketing na carteira, até eu descobri a tecnologia.
P/1 – Antes da tecnologia, nesse tempo que você trabalhava muito, que tinha mais de um serviço, você tinha tempo para ficar com as meninas?
R – Muito pouco, muito pouco. Porque era esse horário na semana e final de semana, feriado, ano novo, se viajavam elas tinham que ir, porque não tinha com quem ficar. Então eu já cheguei a ir no Natal, entregar um presente e voltar, estava todo mundo na praia, eu ia lá e voltava, porque tinha que trabalhar, era muito difícil, era muito difícil de ver, de ter o acesso, era muito difícil, mas quando eu tinha uma folga, eu fazia de tudo que eu podia e não podia. Mas até essa fase, até eu realmente me estruturar em um dos empregos e sair da linha, como a gente fala, sair da linha, e saí, aí as coisas começaram a tomar um outro jeito, foram melhorando, mas foram dez anos para poder sair do telemarketing.
P/1 – Quantos anos você tinha quando saiu da linha?
R – Quando eu saí da linha eu tinha, eu já tinha trinta, eu já tinha trinta anos, já tinha trinta anos, porque é, já tinha trinta anos, exatamente, já tinha.
P/1 – E como foi essa transição, você foi entendendo que ali não daria muito mais, você voltou, aí você falou: “Agora eu vou estudar?”. Como é que foi?
R – Isso. Na verdade, foi assim, então eu tive um processo seletivo dentro da empresa, e aí eu saí da linha e fui para área administrativa, e aí ok. Só que até então, eu tinha só o ensino médio e aí eu fazia alguns cursos esporádicos ou alguma coisa, fiz ETEC, fiz SENAI, fiz esporadicamente aí nesse meio tempo. Até então eu tentei várias vezes estudar com o que eu trabalhava, mexia muito com a parte jurídica, mas acabou não dando certo. E em uma das demissões que teve na empresa, foi a hora que eu estralei e eu falei: “Se eu for mandada embora hoje, eu vou voltar para o quê? Porque eu não tenho um curso técnico, eu não tenho uma faculdade”. Eu fiz um ETEC, mas eu não gostei do curso, então quando a gente não gosta, a gente não consegue ver nada, a gente não consegue pensar nas coisas que pode, nas coisas que você pode. Então tipo eu fiz, porque eu comecei, e falei: “Agora eu vou terminar, eu vou pegar o diploma”. Então, mas eu também não via alguma coisa em cima do curso que eu fiz. Então foi quando eu dei um estralo e foi quando eu conversei muito com o meu tio sobre isso, e aí eu falei para ele: “Olha, foi mandada embora uma equipe inteira”. Eu falei assim: “Tio, se eu for mandada embora daqui eu vou voltar para o telemarketing de novo”. Falei: “Eu vou voltar para o telemarketing de novo, porque eu não tenho nada, então como que eu vou provar?”. “Ah, nossa que legal, você mexia com o administrativo”. Era muito engraçado, porque naquela época eu mexia com processos, eu trabalhava em um jornal, então o consumidor reclamava da empresa e tinha um setor lá, que a gente atendia diretamente o PROCON, aí o PROCON mandava fax com as reclamações e tudo mais. Então eu aprendi muito sobre o direito do consumidor, eu aprendi muito sobre a parte jurídica, inclusive trabalhista também, mas aí eu falava assim: “Então, eu sei tudo isso, mas eu não tenho curso nenhum pra eu provar”, e outra, sem contar que tudo isso era uma extensão do SAC, do Serviço de Atendimento ao Consumidor, eu não deixei de sair da área do telemarketing, e eu não tenho formação. E aí em uma dessas conversas com o meu tio, às vezes começava um curso, não tinha essas coisas de on-line, não tinha curso on-line, então era tudo, ou você pagava ou você conseguia entrar através de prova. E aí nisso, tinha um programa que chama PRONATEC, que é como se fosse um PROUNI de hoje, e aí meu tio falou assim: “Ó, você vai lá e se inscreve”. Não precisa fazer prova, nem nada, era só você escolher o curso que você queria, ia na faculdade, na escola, algum lugar e se inscrevia”. E aí eu vi a tecnologia lá, e eu falei: “Bom, a tecnologia não vai acabar”. Então olha, quanto tempo eu demorei para ter um celular? E agora as coisas estão só aumentando, o acesso a isso. Então a tendência de isso virar uma profissão muito boa é muito grande, então eu vou fazer o técnico em informática. Aí eu fui estudar lá para Paulista, e começou tudo de novo, porque aí eu trabalhava o dia inteiro e estudava a noite. E era um sufoco, porque foram três anos de curso técnico, onde eu não tinha tempo, então o que eu fazia? Como eu trabalhava das nove às seis, eu almoçava em meia hora para eu poder estudar na outra meia hora. Porque às vezes tinha que chegar em casa, tinha que cuidar da casa, tinha janta para fazer, tinha as meninas para cuidar, então às vezes eu fazia tudo isso, e aí eu ia estudar. Aí minha vó cansava: “Você vai ficar louca. Olha que horas são, é uma da manhã, você levanta cinco e pouco para poder trabalhar”. Eu falo: “Mas não tem jeito, é assim, se não for assim, não tem quem vai fazer por mim. Não tem jeito, vai ter que ser assim, vai ter que ser assim”. E aí eu tinha que muitas vezes fazer as coisas no trabalho, porque o computador era melhor, a internet era melhor para poder fazer, para poder ter acesso, para poder ter as coisas, ou às vezes eu já fazia tudo ali no trabalho, para poder levar para casa, para fazer no final de semana. Nessa época eu já conseguia trabalhar de segunda a sexta-feira, porém tinham todas as outras demandas que eram de final de semana. A vida melhorou? Bastante, melhorou bastante, mas mesmo assim é muito cansativo, você ser mãe, ter que trabalhar e ter que cuidar de casa, é muito cansativo, exaustivo. Mas eu não perdi nenhuma oportunidade nesse curso, fiz, só que até então, eu não tinha visão de que: “Eu preciso entrar na área”. Eu não tinha essa visão, porque? Eu já estava há muito tempo trabalhando de carteira assinada, e eu subi de cargo, e os meus chefes, as minhas gerentes, as minhas supervisoras, elas tinham muita confiança em mim, eu falei: “Aqui, para eu ser mandada embora, eu vou ter que fazer muita coisa ruim para eu ser mandada embora”. Eu não tinha essa visão, a visão que eu tinha era só que eu tinha que estudar, tinha só que estudar. E aí terminei o ensino técnico, e falei: “Agora eu vou fazer o ENEM de novo e vou tentar a faculdade”. E aí eu fui fazer Análise e Desenvolvimento de Sistema, nesse meio tempo fui fazer cursos voltados para tecnologia, me especializando em cada pontinho ali.
P/1 – E você se encontrou nessa área?
R – Eu me encontrei nessa área.
P/1 – Gostou?
R – Eu gostei muito! Então como eu gostei e eu estava com sede de continuar, eu falei: “Agora que eu tenho que pegar o gancho e continuar”. Fui fazer o ENEM, do ENEM consegui uma nota boa e consegui o PROUNI 50%, e fui fazer o curso. Cheguei lá, foi uma coisa horrorosa, porque não tem mulheres hoje, ainda é muito difícil, está muito melhor, mas a gente tem um grande caminho a percorrer ainda, para colocar mulheres na área, não só para inserir, mas como permanecer. Então cheguei na minha sala, tinha 45 pessoas e três meninas. A única que terminou foi eu, e a sala terminou com vinte pessoas. Aí na época começou com esse negócio de presencial, semipresencial, on-line, que aí lá foi começar, isso foi 2016, que aí foi quando começou essas... e aí eu mudei o meu curso, porque eu não me dava com as pessoas, porque eram todos homens, então eles não aceitavam e como eu já tinha algum conhecimento a mais que eles, então aí que eles não aceitavam mesmo. Uma fase muito marcante, foi que eu criei um grupo no WhatsApp, que eu nem tinha WhatsApp, o pessoal no serviço que falou: “Você precisa ter o WhatsApp, que é legal”. E eu nem tinha. E aí que eu criei esse grupo no WhatsApp, e agora que tem esse negócio de administrador, antes não tinha, você entrava e saia e estava tudo certo, e eu fui excluída do grupo que eu fiz, do grupo que eu fiz eu fui excluída. Então assim, muita coisa da faculdade, eu fiz tudo sozinha mesmo, as coisas da faculdade eu fiz muito sozinha. E aí eu mudei a modalidade da faculdade, que aí eu era semipresencial e aí tinha algumas coisas que você não precisava estar totalmente em sala de aula, você podia fazer na biblioteca, como se fosse um on-line, você tinha que estar lá na faculdade, mas era como se fosse on-line, então tudo que eu pudesse fazer para não estar com a minha turma, eu fazia. Então eu tive muita dificuldade na faculdade, tanto que eu não me formei com eles, eu me formei depois deles, também para mim estava tudo certo, porque eu não me dava bem com eles mesmo, então tudo bem, eu fiz tudo depois. E eu tinha muita dificuldade, muitas coisas ali eu não conseguia tocar sozinha, e aí foi quando eu achei as comunidades de tecnologia, e aí foi quando eu já estava para terminar a faculdade, tentei várias coisas dentro da empresa onde eu estava, aí eu vi que não tinha mais espaço.
P/1 – Que empresa? Tipo que área?
R – Administrativa.
P/1 – Ah, tá.
R – Na parte administrativa. Então aí eu já vi que não estava fazendo mais sentido eu trabalhar ali, porque eu estava fazendo serviços de gerência, ganhando como agente, nem analista eu era, era agente, que era um antes de analista. E aí eu tentei várias vezes, fizeram uma área de informática na empresa específica, mas também não tive a oportunidade de ir. E quando você… eu sou sempre dessa opinião, eu sempre falo, eu tinha muito dinheiro guardado no fundo de garantia, justamente por quê? Quando não estava bom para mim, eu pegava as minhas coisas e ia embora: “Ó, não está mais dando esse emprego, não faz mais sentido”, então eu pego as minhas coisas e vou embora. E lá nessa empresa, por mais que eu fiquei lá dez anos, eu tive que pedir as contas, quando eu entrei na área, porque ninguém quis, e eu falei: “A minha oportunidade é agora, se eu não for, vai ficar mais difícil, porque a galera jovem está aí, a cabeça deles é muito melhor”. E eu fui fazer a migração de carreira, eu tinha 32 anos. E foi quando deu um estralo e eu falei: “Agora eu tenho que ir”. E eu fiz exatamente um planejamento mesmo, para eu poder fazer a migração de carreira, falei: “Não sei como eu vou fazer, por onde que eu vou fazer e como eu vou fazer, mas eu tenho que ir embora daqui o ano que vem”. Isso foi em 2018, eu falei: “Eu tenho 2018 para me planejar”. Mas assim, nem sabia o que era reserva financeira, não fiz, porque eu não tinha nem ideia do que era, porque também não fomos estruturadas para isso na minha família, nunca ninguém teve reserva, então nunca nem pensei. Eu falei: “O que eu tenho que fazer é somente arrumar um emprego, onde eu saia daqui, tenha o meu salário e mês que vem eu tenho que ter o meu outro salário”. Então eu não conhecia nada de tecnologia, agora a gente tem muito mais acesso, a comunidade, ela é muito engajada, você joga alguma coisa na internet, agora aparecem as matérias na televisão, antigamente não tinha nada disso. Então eu fiz o quê? Eu fui para uma palestra no CEE, levei os meus primos do ensino médio, que estavam lá, falei: “Ah, vamos”. E aí tinha uma palestra lá, de Mulher na Tecnologia, e eu falava: “Nossa, é uma menina nova, né? E trabalhando com isso”. Eu fui assistir essa palestra, e aí através dela... e eu sempre tive para mim, que era, o meu tio novamente, ele sempre falava assim: “A gente sempre tem que se mostrar mais”. Então eu já não gostava muito de me aparecer nas coisas, eu sempre gosto de brinco, cor e cabelo, sempre gostei, então como que eu me vi? Fui, participei, a menina falando, de uma empresa na Zona Sul. No final eu consegui chegar até a empresa e trabalhei na filial dela, que eles... parceira, ali na empresa parceira, eu falei: “Nossa que legal, deve ser muito legal trabalhar disso e não sei o quê”. A menina muito bem arrumada e falando muito bem, eu falei: “Nossa, eu preciso procurar”. E aí eu comecei a acompanhar ela no Facebook ainda, porque nem Instagram eu tinha, no Facebook, e aí eu a vi em vários passeios, eu falei: “Nossa, será que vai dar para viajar assim? Será que vai dar para fazer assim?”. Eu achava o máximo todos os lugares que ela ia. E aí eu comecei a curtir, dava like em tudo, tudo que ela ia eu dava like, em tudo dava like, eu falei assim: “Alguma hora ela vai me ver, eu não sei”. Eu falei assim: “Não sei se ela pode ter uma vaga na empresa dela, eu não sei se ela conhece alguém que conhece alguma vaga, eu não sei como que é, eu não sei, mas uma hora ela vai me ver”.
P1 – Estava estudando ainda?
R – Estava estudando.
P/1 – E trabalhando.
R – E trabalhando, exatamente. Eu falei: “Uma hora ela vai me ver”. Isso foi em 2017, quando eu comecei a pensar, a falar: “Vou ter que fazer alguma movimentação”. Porque só faculdade eu já estava querendo desistir, porque era um ambiente hostil, eu não tinha apoio, eu não tinha amigos, eu não tenho amigos de faculdade, até hoje eu não me interessei em pegar meu álbum de colação de grau, que foi um colação de grau que parecia uma formatura, porque eram as pessoas muito lindas, em um lugar maravilhoso. Mas eu não tenho amigos, eu não tenho nada, eu não posso falar assim: “Ai nossa, na faculdade o que você fez?”. Não, o meu técnico, o meu técnico sim, eu tenho acesso as pessoas até hoje, tem gente que já trabalhava na área e foi estudar mais, e a gente saia de sexta-feira e não ia para aula, e matava, e ia beber no bar, e ficava na Paulista, chegava a perder metrô, e depois ficava louca para poder ir embora, já fui do metrô para casa andando para casa, porque não tinha condução mais, porque eu perdia a hora, e aí aproveitava a sexta-feira, que no sábado eu não trabalhava, e aí queria ficar na rua como se não houvesse amanhã, como se fosse uma jovenzinha que não fosse mãe, porque eu já era mãe, mas no meu técnico, eu tive tudo isso que o pessoal teve na faculdade, foi o meu técnico. A minha faculdade, eu falo assim: “Que a faculdade foi somente para pegar o diploma mesmo”. Porque eu não aprendi nada, eu não tive acesso a nada, eu não tive apoio de nada, nem ninguém, nem da faculdade e nem de nada.
P/1 – E não teve estágio?
R – E não tive estágio. E então foi quando eu comecei a fazer essa movimentação, que foi finalzinho de 2017. E aí foi através desse evento no CEE que eu fui, que eu acabei encontrando essa menina e aí ela tinha um evento e ela me mandou no direct do Messenger, Messenger, não é direct é Messenger, né? E ela mandou, e falou assim: “É um evento só de mulher”. Eu me encantei, eu falei: “Só de mulher? De tecnologia?”. Eu achei aquilo o máximo, eu falei: “Não, eu tenho que ir”. Aí já cheguei no serviço contando e não sei o que, “Nossa, e existe isso?”. “Existe, eu vou”. E o evento era no SENAI, era o SENAI que era de tecnologia, que era na Santa Cecília, na época ali na Cracolândia, hoje já não tem mais, ele mudou a unidade, e foi ali que eu cheguei. E aí tal, eu estava empolgadíssima para esse evento, eu consegui entrar gratuito no evento, porque o evento tinha que pagar um valor simbólico lá, na época. E eu consegui entrar no evento, depois o evento mudou, saiu lá do SENAI e foi para o Mercado Livre. E aí que foi mesmo, porque o Mercado Livre é sensacional, lá dentro, né? É uma empresa moderninha, não tem salas, é tudo aberto, o diretor, todo mundo era aberto, e tem piscina bolinha, tem praia e tem tudo mais. Então aquilo para mim foi: “Meus Deus, é isso mesmo que existe?”. E aí fui lá, fui sozinha, porque eu era muito disso, eu não tenho... se eu quero ir e não tenho com quem ir, eu vou sozinha, eu não tenho o menor problema. E fui sozinha e fiquei lá achando aquilo tudo: “Meu Deus, não sei nem por onde começar”. Eram tipo, cem mulheres no auditório e todo mundo de camiseta igual, que você chegava e ganhava uma camiseta, e para mim era tudo muito: “Nossa!”. Tipo, porque isso que eles estavam fazendo no evento, era tipo, festa de final de ano na empresa. Então tipo, você ganha a camiseta, come, bebe e vai embora. E aí eu falava: “Nossa que legal!”. E foi ali que eu acabei estreitando relacionamento, conhecendo as comunidades, sabendo o que era e me entrosando. E aí eu fui no evento, aí no final de semana já tinha outro evento, e aí começou as loucuras do evento, porque aí, até hoje eu sou meio assim, agora eu estou voltando, agora eu estou voltando com tudo de novo, agora que a pandemia deu uma amenizada, eu estou voltando. E aí o que aconteceu? De novo eu fiquei ausente, porque eu tinha que estar nos eventos para eu poder aprender, para poder saber o que era. E os eventos eram quando? Só de final de semana, só de final de semana, tinha uns que eram sábado e domingo, o dia inteiro. E aí eu tinha... e aí eu comecei a ter contato com as pessoas, aí foi quando eu falei assim: “Ó, não dá mais tempo da faculdade, daqui a pouco eu não vou conseguir mais nem estágio, nem nada”. Na faculdade não tinha estágio, não era obrigatório estágio, mas eu cheguei a fazer estágio, e eu falei: “Agora não vai ter jeito, eu vou ter que meter as caras, porque já vou fazer 32 anos, eu vou ter menos de um ano para acabar a faculdade e eu nem sei se eu vou conseguir”. Porque lá, depois de quase três anos, porque foram três anos a minha faculdade, depois de dois anos que eu fui me ligar que: “Olha, se você não tentar agora, você vai acabar e você não vai conseguir um estágio, porque o estágio não vale mais”. E eu não sei também onde eu estava nessa fase, que eu achei que tipo: “Ah, eu vou acabar a faculdade, e é simples, eu vou estar formada e vou conseguir um emprego, vai ser simples assim”. Não sei onde eu estava quando eu pensei assim. E aí foi quando eu vi toda aquela movimentação de mulheres, de comunidade, que eu falei: “Olha, é isso que eu vou, é isso que eu quero, é isso que eu vou fazer. Então eu tenho 2018 todinho para me planejar, começar a mandar currículo, alguma coisa, para quando for 2019, eu tenho que sair daqui e estar na área”. Isso era fato, eu falei: “2019 eu vou estar!”. Foi um planejamento, que assim, super arriscado, mas que deu superbom, entendeu? Super arriscado, por quê? Eu não tinha conhecimento, eu não tinha acesso, então, mas eu só falei: “Eu vou, eu vou”. E foi tudo, mas tipo, também eu só coloquei um plano e falei: “Esse plano tem que dar certo”.
P/1 – Não tem plano B?
R – Não tem um plano b, e também não tem dinheiro guardado e também não tem nada. Eu falei: “Isso que vai dar!”. Então eu passei 2018 todinho mandando currículo, recebendo 499 mil nãos. Eu consegui entrar em janeiro de 2019 na área.
P/1 – Como foi decidir isso? Fazer esse plano? Foi em evento que você falou? Chegou em casa e escreveu? Como foi?
R – Então, eu já não tinha mais a minha mãe. Então você trabalha em um emprego bom, você não tem formação, seu salário, ok, então você não pode pedir suas contas, não é assim que funciona. Então quando eu joguei isso na minha casa, “Você está louca? Como que você vai fazer isso?”. E nesse meio tempo, já não estava mais... aí as meninas começaram a ficar grandes, já não dava, já não tinha mais espaço, que aí o que acontece? É músicas que não gostam, é programa de televisão que já não batiam mais e os meus tios, na época, não tinham, eram duas televisões, uma no quarto e uma na sala, para aquele monte de gente. Então assim, eu saí da casa minha vó, saiu eu e mais três, então saímos em quatro pessoas e ficou só três. Então foi quando eu decidi alugar uma casinha e fui morar na rua de cima da casa da minha vó. E o sufoco de novo, porque não tinha nada. Nessa época, nessas idas e vindas, saindo da minha vó e voltando para minha vó, porque isso foram duas vezes, aí eu dei a prioridade para elas, porque aí minha tia e minha vó já tinham estruturado todo o quarto para elas, e aí como que eu ia chegar com quatro camas? Então eu as priorizei e eu dormia no chão, eu fiquei dormindo no chão durante treze anos. Eu tenho fibromialgia, é uma doença, é dor o tempo todo, eu simplesmente aprendi a viver com a dor, porque eu falei: “Ela não vai me acabar, ela não vai me deixar na cama, eu preciso viver, porque eu preciso dar melhores condições para as minhas meninas”. Então eu tinha um colchãozinho, colchão é muito caro né, sempre foi muito caro. E depois da marmita e do transporte público, meu sonho era eu ter uma cama, eu não preciso de nada, só ter uma cama. Mas como estava uma situação muito difícil na casa da minha vó, de relacionamento, eu preferi, eu falei: “Bom, eu vou morar em uma casinha, onde lá elas vão ter, poder receber as coleguinhas delas”. Não era grande coisa, era um espaço muito pequeno, mas só cabia a cama delas, que era um tri-cama, uma cama bem embaixo, não era de puxar, era uma cama bem embaixo, uma cama no meio e outra quase no teto, e o meu colchão no chão. E aí né, o parente troca de colchão e te dá, e assim foi indo, mas sempre o colchão no chão. E aí foi nesse meio tempo, que eu não deixei de estudar e morando nessa casa, e aos pouquinhos comprando, entrei lá sem nada, sem nada, nada, nada, a única coisa que a gente tinha era a roupa do corpo. Eu namorava na época, aí o meu namorado cedeu a televisão dele, e era isso que a gente ficava ali. Era um quarto bem pequeninho, as roupas eram sempre guardadas em cima das camas, ou em pufes, porque não dava para ter guarda-roupa para guardar, porque a casa era muito pequena, então não dava. Ali eu fiquei durante três anos, até eu conseguir me reerguer e graças a Deus, hoje eu tenho o meu apartamento. Então, aí antes de passar por toda essa parte da tecnologia, e aí foi quando eu coloquei esse plano assim, que podia dar tudo errado, mas deu super certo e onde eu me vi, o que? Eu falei: “Bom, a única forma que eu tenho, como eu não conheço ninguém, então tenho que fazer amizade, tenho que fazer amizade”. O pessoal falava muito: “Nossa, tem indicação, que não sei o quê”. Eu falei: “Então, mas para eu ser indicada, as pessoas precisam me conhecer”. Então o que eu fiz? E aí eu depois eu vi que através dos eventos eu podia me voluntariar para ajudar nos eventos, e tinha alguns eventos que eu queria participar, que depois que eu me adentrei, eram caros, e eu não tinha condição de pagar, ou às vezes até dava para eu pagar, mas aí eu teria que tirar de alguma coisa de dentro casa para poder entrar nesse evento. E não fazia o menor sentido, eu tirar, para eu poder... por mais que seria uma coisa para o meu conhecimento, não ia fazer sentido no momento que eu estava, que eu queria sair da empresa, e eu sabia que ia ser muito difícil eles me mandarem embora, então eu já tinha isso na minha cabeça. E aí foi quando eu comecei a trabalhar nos eventos, só que você trabalha... e realmente se voluntariar mesmo, onde você só tinha a alimentação ali à disposição, porque a condução era por sua conta, muita coisa era por sua conta. Agora os eventos são muito melhores né, eles têm ajuda de custo e tudo mais, mas antigamente não, quando eu me adentrei no meio deles não era assim. Então eu ia, às vezes era seis da manhã, tinha que sair de casa em um sábado para poder participar do evento e ficava o dia inteiro, até de noite. Mas era assim que eu conseguia ver as palestras, mas era assim que eu conseguia ter acesso aos palestrantes, era assim que eu pegava o celular e às vezes o pessoal via que estava escrito staff na camiseta, e aí eu pedia: “Viu, você consegue gravar para mim?”. E ficavam segurando o celular e gravando toda a palestra para eu poder escutar na semana. E foi assim que eu fui tendo acesso. E aí eu era chata era mesmo. A chata mesmo. Eu odeio Twitter até hoje, mas o pessoal de tecnologia, eles adoram o Twitter, então eu fiz um Twitter para eu poder ficar pedindo as coisas para todo mundo, e aí eu chamava no direct mesmo, e eu metia as caras e eu chamava: “Vai ter o evento, eu sei”. “Ah, a gente não começou ainda a programar o evento”. Porque agora sim, são grandes eventos, são grandes conferências que as pessoas começam um ano, a se programar para fazer o evento. E antigamente não, eram coisas menores, então não tinha essa programação. E eu começava, aí eu sabia: “Ó, daqui quatro meses vai ter um evento de Front-end.”. “Ah, então é disso que eu vou participar, então eu vou começar agora”. “Ah, a gente não começou a organização ainda”. “Ah não, mas é só para você lembrar que eu posso ajudar, eu sei fazer isso, eu sei fazer aquilo, eu sou estudante de tecnologia”. E eu sempre falava e eu perturbava mesmo, ao ponto de eu sentir que quando eu chegava no lugar, a pessoa: “Aí, ela. Essa menina tá aqui, que saco!’’. A ponto de se incomodarem mesmo. Hoje não mais, graças a Deus, agora as pessoas já... eu já consegui estreitar relacionamento e falar: “Que bom que eu te encontrei”. Mas era tipo assim: “Vem ajudar logo, chata, porque você não para de perturbar, de mandar mensagem”. E aí o que eu fazia? Eu mandava no Twitter, aí não me respondia no meu Twitter, aí eu ia no Instagram, aí não respondia no Instagram, o Messenger era o último, eu mandava e-mail, aí às vezes eu conseguia o telefone, eu mandava: “Oi, tudo bem? Eu sou a Bruna”. Tipo assim, “Quem é você?”. “Eu sou a Bruna. Aí, eu vi que você organiza tal evento, eu queria participar. Você consegue me colocar como voluntária? Aí, olha, eu já participei disso, disso, disso, disso, disso, disso e tal”. E assim eu fui fazendo relacionamentos, eu fui fazendo contato com as pessoas, uma parte muito marcante também. E aí que eu conheci o Telegram, que eu também não sabia que existia e a comunidade de TI também usa muito né, por diversos motivos diferentes, é melhor o Telegram do que o WhatsApp, para esse... só da capacidade de informações, são maiores, entrei em um grupo do Telegram e mandei uma mensagem, porque eu já estava a mais de oito meses tentando, e muito currículo, e era muito pouco retorno, e não conseguia uma entrevista e eu não conseguia e eu falei assim: “Eu estou cansada”, e eu não tenho muito mais tempo para eu estar cansada. E tipo assim, eu só tinha aquele emprego, eu fui promovida, eu fiquei três anos trabalhando com telemarketing, depois eu fiquei sete anos trabalhando na mesma área, e eu falava assim: “Eu estou há mais cinco anos na mesma área, fazendo a mesma coisa e eu não consigo sair disso. Então acho que eu não vou conseguir sair disso, porque ali é o limite para mim, eu não vou conseguir. E aí eu estou cansada, só que eu também estou cansada de tentar a minha formação e não conseguir”. E aí veio um ser do nada e me puxou e falou: “Eu vou te ajudar”. Que foi a minha primeira mentora, e ela falou: “Eu vou te ajudar, vem aqui, eu vou pegar na sua mão, a gente vai aprender”. Então reformulamos o currículo, e nisso todo uma comunidade envolvida, eu continuando, participando como voluntária nos eventos, já conhecia, então tinha já alguns eventos que já era: “Ó Bruna, vai ter tal evento, você quer participar, você quer ajudar a gente lá?”.
(1:09:34) P/1 – Ela falava...
R – Não, as pessoas da comunidade. Porque aí já comecei a fazer, porque aí, como eu participava, sábado era um, no outro final de semana era outro e tinha alguns na semana a noite, que chamam- se Metaphys(1:09:49), tem uma plataforma inclusive uma Metaphy, onde tem diversos temas e o pessoal de tecnologia, esse pequenos eventos a gente chama de Metaphys, que são eventos depois do trabalho, e fica, tipo, vamos supor, começa às 07h, acaba às 09h, 9h30, para dar tempo do pessoal chegar em casa tranquilamente. Então as pessoas já me conheciam: “Ah, você que estava dando credenciamento de tal evento”. “Ah, eu vi você, que estava ajudando a montar os kits de boas-vindas”. E, “Ah que não sei o que”. E aí as pessoas acabavam me conhecendo. E aí ela associou em uma dessas, porque ela já estava na área, ela já era bem-conceituada, já tinha passado por diversas empresas, só que aí o detalhe, ela morava na Praia Grande e trabalhava aqui, vinha de fretado, e ela falava assim: “Então vamos montar todo um cronograma, e a gente vai estudar e vai dar tudo certo”.
(1:10:42) P/1 – Quem é ela, você quer falar?
R – Paula Santos. Paula Santos, hoje não mora mais no Brasil, ela é uma programadora assim, excelente, de pessoa, de vida, de tudo. Ela disponibilizava o tempo dela para poder vir, ela me dava aula no Starbucks, porque lá a gente tinha internet, a gente não precisava gastar muito para ter acesso a internet e dava tempo, que era próximo ao serviço dela e dava tempo dela até pegar o último fretado, porque ela saia do serviço, ela me dava aula e depois ela pegava para ir embora para praia. Ela fez isso várias vezes e sem contar por mensagem, por chamada de vídeo, ela que me auxiliou muito. E aí nessas idas e vindas, eu conheci a Jussi, que também não mora mais no Brasil, me indicou na empresa dela.
(1:11:36) P/1 – Isso em 2018?
R – Isso em 2019 já.
(1:11:40) P1 – Tá.
R – Já era 2000 e ... não, isso em... mentira, 2018, isso era 2018 ainda, porque eu entrei na empresa era 2019, 2018. E ela me indicou, e ela deu super a cara para bater, porque a minha apresentação, até hoje eu dou hiper risada, eu falei: “Gente, como é que eu consegui o emprego com isso aqui? Eu quero saber como que eu entrei na área com isso aqui?”. Porque a resolução era péssima, eu fiz um vídeo do celular para o computador, que é péssimo fazer isso, e eu “falava assim: “Entrei e foi justamente, exatamente deu tudo certo”. A minha programação, ela foi sucesso! Eu falo assim: “Isso foi um case de sucesso pessoal! Essa aqui, olha, isso aqui dá novela”. Então aí foi quando eu fiz todo aquele processo para poder entrar na área e tal, e aí tive toda essa rede de apoio e aí a menina me indicou, isso eu comecei o processo, né. Os processos hoje, eles ainda são assim, demorados né, então assim, tem empresas que demoram 2 meses no processo seletivo. Então, aí ela me chamou em setembro para uma conversa, “que não sei o que”, e fiquei aguardando para poder: “Ah, eles vão mandar a prova, para você fazer a prova e tudo mais”. E na verdade ela falou assim: “Bru, eu tenho uma coisa legal para te falar, porque eu acho que essa vaga não é para esse ano, é para o ano que vem”. Quando ela me falou que era para o ano que vem, eu falei: “Meu, se eu entrar nessa empresa, vai dar tudo certo o meu projeto, vai dar super certo”. Por que? Eu já tinha uma estratégia, como eu não tinha uma reserva financeira, eu tinha férias vencidas, então eu falei assim... eu sempre saia de férias em dezembro, onde eu trabalhava e as minhas férias venciam em janeiro, quando eu voltava de férias, eu já voltava com umas férias vencidas, eu falei: “Se eu voltar com férias vencidas, eu vou pedir para me mandarem embora e como eu sei que o não eu já tenho, eu tenho as férias vencidas, então vai dar super certo”. Aí setembro eu esperei e tal, falei: “Ah, não deu certo”. Aí em outubro: “Bru, vem aqui fazer uma entrevista para uma outra parte da vaga?”. Porque era para ser front, no final eu entrei como back e no final saiu como as duas coisas (risos). Eu não sei se você sabe a diferença de back-end e de front-end?
(1:13:50) P/1 – Não, não.
R – O back-end é o funcionamento do site, o funcionamento das coisas, então por exemplo, o seu login no site, e o armazenamento das informações, é o por traz. E o front-end, é a tela bonita que vocês vêm lá quando a gente entra, tudo bonitinho lá, esquematizado, borboletas voando, eu gosto de falar essas coisas assim. E hoje eu sou back-end, desenvolvedora back, mas eu gosto muito de front e entendo algumas coisas também. Aí eu falei: “Vai dar super certo”. E aí o processo começou mesmo, no meio de outubro, e eu falei: “Outubro, novembro”. E ainda pensei: “Se mandarem eu começar em dezembro, não tem problema, porque eu estou de férias, então eu posso começar em dezembro. Eu vou ter que largar a minha praia, minha Praia Grande, que eu tiro todos os anos”. Isso eu não tirei da minha vida, a Praia Grande, ela ainda existe. Pode ser que mais futuramente, vai um Jurerê Internacional, mas a Praia Grande ainda existe todos os anos no meu final de ano, então está tudo bem. Mas também depois eu descobri que a empresa saia de férias coletivas, então eu falei: “Gente, tem que dar certo. Tem que dar muito certo, porque ela sai de férias coletivas, eu estarei de férias, então...”. E eu comecei o processo praticamente em outubro para novembro, eu falei: “Tem que dar certo”. E no final deu mesmo, deu exatamente.... eu lembro até hoje, eu recebi um e-mail 07 de novembro, falando que eu tinha passado na vaga, só que eu tinha que começar só 07 de janeiro, e as minhas férias venciam quando? 07 de janeiro.
(1:15:27) P/1 – Nossa.
R – Eu falei: “Vou tentar”. Pedi as contas, não deu certo, mas tudo bem. Mas estava tudo esquematizado, deu tudo super certo. E aí 07 de novembro, eu já tinha passado no processo, eu já tinha encaminhado os documentos, já estava tudo certo, era só eu pedi as contas do serviço atual e ir embora. E para trabalhar esse um mês? Que eu não queria mais trabalhar, eu não queria mais fazer nada, mas eu também não podia falar para ninguém que eu estava saindo, eu falei: “Até porque eu passei, é um estágio, aqui eu estava no CLT. Então para cancelarem alguma vaga, se cancelam o CLT, por que não podem cancelar um estágio?”. Então eu guardei todo esse segredo. Aí saí de férias, fui na festa de confraternização de departamento, empresa, de outro departamento, como se nada tivesse acontecendo, tá tudo bem. Só que como a gente é muito tempo e a gente que estreitava relacionamento fora da empresa, as minhas amigas próximas falaram: “Meu, você está muito diferente, você está muito diferente”. Eu: “Ah, é impressão sua, é meu cabelo”. “Não, Bru seu olho brilha”. E eu falei assim: “Sabe por quê? Porque meu, eu estou aprendendo muita coisa nova”. E eu lembro até hoje, na confraternização ela falou assim: “A Bruna não volta de férias”. Que é uma amiga minha, que mora próximo da minha casa, ela trabalha lá até hoje, ela falou assim: “A Bruna não volta de férias”. Aí eu falei: “Ah, você fica dando atenção para Luana? Não liga para Luana, ela nem sabe o que ela está falando”. Eu falei: “Aí vou comer aqui minhas coisas, comer os meus franguinhos aqui, que eu ganho mais”. E ela falava: “A Bruna não volta”. E aquele dia eu fui extremamente arrumada, dos pés à cabeça, roupa nova, tudo novo, para mostrar: “Aqui eu estou encerrando realmente um ciclo, aqui eu trabalhei, eu me dei, eu me doei, até onde eu pude, e eu estou fazendo o certo, eu estou fazendo o certo”. Nisso, nessa última festa, que era uma confraternização de departamento, eu já tinha ido pedir para me mandarem embora, eu pedi para o gerente do departamento me mandar embora, ele falou que ele não podia. E eles acharam que eu nem ia na festa, porque eu estava de férias: “Então, ela não vai sair de casa dela, para ir nas férias”. Mas eu ia, eu falei: “Não gente, oxi, nunca deixei de faltar, então por que agora eu vou faltar?”. Entendeu? E aí como já tinham os rumores: “A Bruninha”. Que ela me chamava de Bruninha, “A Bruninha pode não voltar”. Então a Bruna foi na festa. Cheguei aqui, mas assim, tinham pouquíssimas pessoas que sabiam, não era tudo mundo, inclusive a Luana não sabia, porque a gente era de setor e não de departamento, então não falei, ela me xinga até hoje disso, ela não sabia. E aí fui na festa, fui, e ainda no final do ano, quando foi dia 31, ainda liguei para minha supervisora, e falei: “É isso mesmo? Vocês não vão me mandar”. Falei: “Mas não tem problema não”. E ainda eu virei e falei assim: “Não tem problema não, porque quando eu precisei de vocês, vocês não puderam me ajudar, eu nunca larguei vocês na mão, em nenhum momento. E agora no momento que eu estou mais precisando de vocês, que vocês sabem sim, que vocês podem me mandar embora. Mas não tenho problema, porque vocês vão me ver aí, e vocês não vão me ver bem, vocês vão me ver muito bem! Muito bem!”. Falei até isso: “Escreve isso que eu estou te falando”. Inclusive a minha supervisora, ela era minha amiga, que mora na rua da minha casa hoje, que hoje eu dou a volta no quarteirão para não ver, mora na rua da minha casa hoje, e eu achava que ela era super minha amiga, que ela super ia me apoiar, e pelo contrário. E empresas tradicionais, antigas, eles têm esse: “Você vai pedir as contas, e o seu fundo de garantia?”. E eu falava assim: “Se eu nunca tive problema de pedir as minhas contas e ir para uma coisa melhor, porque gente, o meu dinheiro vai estar lá, e outra... “. Falei: “Depois que você for mandada embora, você vai fazer o que? O que você vai fazer com o seu dinheiro? Você sabe o que você vai fazer com ele?”. “Eu sei, eu quero comprar uma casa, eu não vou mexer no dinheiro, ele está lá e eu vou comprar uma casa com ele. Se o dinheiro vai dar? Eu não sei, mas ele está lá para eu comprar minha casa”. Era a única coisa que eu tinha planejado, assim mesmo, de vida, o meu fundo de garantia é para eu comprar a minha casa, depois que saiu lá que você podia comprar a casa com o seu fundo de garantia. Era isso que eu ia fazer. “Você é louca, como que você vai pedir 10 anos?’’. E aí eu fui, “Tudo bem!”. Aí eu tinha que voltar, dia 07 eu tinha que voltar para empresa, porque até os dias eram iguais. E dia 07 vencia as minhas férias e dia 07 eu começava na nova empresa, eu falava assim: “Gente, agora eu preciso ir”. E ainda eu fui assim: “Nossa, será que eu estou fazendo o certo? Eu indo para uma empresa nova, mas eu não pedi as contas da outra, estou trabalhando lá ainda, porque era para eu ter voltado de férias’’. Aí o pessoal começou: “A Bruninha não voltou de férias, alguma coisa aconteceu”. Mas o que o pessoal associou mais, algumas pessoas mais próximas já sabiam, falou: “Hum, eu acho que realmente ela não vai voltar”. E outras pessoas, eram: “Deu ruim, ficou doente, deu dor, então ela vai aparecer de atestado, ela vai daqui a pouco ligar falando que ela está no hospital, alguma coisa assim”. Que era muita frequente, então como eu estava nessas doideiras de evento, e trabalho e estudo, então para eu ficar ruim era muito fácil, era muito fácil. Então o que que eu fazia? Eu ficava ruim a semana, para o final de semana eu ficar bem, então às vezes eu sobrecarregava realmente o meu sábado e o domingo, porque eu sabia que na segunda ou na terça feira, eu pegava um atestado, ficava dois, três dias em casa, para saber que no final de semana eu estava bem, e ainda o pessoal: “Essa tática que você está fazendo está errado, Bruna você está tomando remédio demais”. Falei: “É uma loucura”. “Como que você quer ficar ruim na semana, para ficar bem no final de semana? E no final de semana não é tipo, não é bem para você sair, ir para o samba e você ficar com as suas filhas, não! É para estudar, é para ir para evento, ficar trabalhando em pé, sendo que você não aguenta ficar em pé”. Eu falava: “A minha estratégia é essa, e está tudo bem para mim, entendeu? E enquanto ninguém está me advertindo, enquanto ninguém está me mandando embora, alguém me chamando atenção disso, está tudo ótimo”. E eu postava mesmo, e eu postava mesmo, eu postava para todo mundo ver. E ainda tinha uns gerentes que falavam: “Nossa, na semana você fica ruim e no final de semana você fica bem”. Eu falei: “É, então, mas no final de semana eu tenho que ficar bem. Como você quer que eu fique igual eu fiquei? Ruim aqui, andando, o pessoal me carregando na cadeira de rodas, porque eu não conseguia nem entrar direito aqui, o pessoal me carregando desde o metrô”. Falei: “Eu tenho que ficar bem, por que como que o pessoal vai me ver no evento? Vai me ver ruim? Ninguém vai me dar oportunidade”. Falava assim para a gerente dentro do jornal, trabalhava em um jornal, e eu falava assim, e eu falava: “Não quero nem saber!”. Porque eu já não tinha mais expectativa de lá, então se eles me mandassem embora, para mim era lucro, né, era lucro. Então quando chegou, tipo, em meados de agosto, setembro, “Ah, eu vou trabalhar e vou levando. Porque agora eu já não quero mais mesmo, eu vou trabalhando, eu vou empurrando com a barriga”. E aí deu superbom e eu saí dessa empresa, e comecei lá. Foi um....
(1:22:27) P/1 – Que dia que você começou?
R – Eu comecei 07... eu comecei lá nessa empresa, primeira empresa que eu fui fazer estágio, dia 07 de janeiro de 2019. E aí eu tinha que pedir, eu trabalhava meio período, então eu cheguei com a maior cara lavada, 04h e pouco, 5h da tarde, para falar: “Pessoal, eu estou indo embora”. “Você é louca!”. Não deram as minhas contas, não aceitaram a minha carta, eu fiquei 5 dias para conseguir que me aceitassem. E a minha supervisora: “Mas, Bruna. São 10 anos de fundo de garantia”. Porque assim, não era... e aí que eu via que realmente não estava em um lugar legal, porque as pessoas não se importavam com o meu trabalho, sabe? “Meu, são 10 anos de fundo de garantia que você vai perder”. “Eu não vou perder, gente! 40% eu trabalho, eu ganho”. 40%, eu falei: “Meu, as meninas saíram. Ficaram 6 meses”. E lá tinha essa cultura, você saia, ficava 6 meses, depois você voltava para mesma função, para a mesma coisa, para o mesmo salário. Eu falava: “Gente, não faz o menor sentido isso”. Eu falei assim: “Aqui está se tornando uma doença, que quando parece que você vai curara-la, ela vem, ela volta, ela volta pior. Não faz o menor sentido você pedir para ser mandado embora, você vai ser mandado embora, dá seis 6 meses você volta de novo”. Eu falei: “Eu não quero isso para mim. E vocês tem que me dar as minhas contas’’. E aí depois que eu já tinha certeza, quando eu entrei, o modo de recepção... e aí era a empresa Moderninha: “Boas-vindas! Você não paga o almoço, a gente vai te levar na churrascaria”. Eu falei: “Gente, pra gente comer lá fora, era um parto, para tipo, ir no McDonald´s, tinha que: “Não, fulano não tem dinheiro agora’’. Falei: “Gente, mas eu guardei os meus R$ 20,00, e fulano não guardou por quê? Se era o combinado”. Porque onde eu trabalhava, a gente não tinha benefício, então a gente ou levava marmita ou almoçava no refeitório de lá, pagando um valor mais barato. E aí quando era, eu falei: “Não”. E aí eu falei: “Que?! Eu estou indo em uma churrascaria de graça em plena segunda-feira? Não!”. Eu falei: “Eu não quero saber desse povo não, sai fora, eu não quero mais saber desse povo não’’. E aí veio o VR, e aí veio o VA, e aí que eu fui ver, eu falei: “Olha, está vendo?”. Eu fiquei tanto tempo para entrar na área, achando que eu ia reduzir muito o meu salário e eu não ia dar conta de pagar as minhas contas, mas a diferença era o que? Que por mais... eu reduzi realmente o meu salário, não foi muita coisa, mas eu reduzi, mas eu tinha o que? Eu tinha benefícios, então eu não tirava do meu salário para fazer uma compra dentro de casa, quando eu levava as minhas filhas para comer fora, eu não precisava tirar do meu salário para poder comer fora. Então tudo era, tipo: “Eu já cheguei, tenho o VR”. “É, mas esse VR, você não vai nem levar para sair, vai ficar aí”. E eu falei: “Gente, que lugar é esse? É o céu?’’. Falei: “Como que é?”. Achando que tecnologia era tudo lindo, maravilhoso, né. Chorar, choro até hoje, choro até hoje (risos). Mas achava que era, falei: “Não’’. Aí eu chegava lá, e com 3 dias eu já estava soberba, com 3 dias, aquela menina que morou na comunidade já estava rica, com 3 dias, falei: “Gente, vocês estão me atrapalhando, vocês estão me atrapalhando, porque eu não vou ficar vindo’’. Falei: “Gente, eu estou na Zona Sul”. Aí falava Zona Sul, era Vila Mariana, eu falava Zona Sul, como se fosse tipo, Brooklyn, sabe? Morumbi. Eu falei: “Eu estou na Zona Sul, eu não vou ficar vindo para cá toda hora’’. E a empresa era na Zona Norte. Eu falei: “Vocês precisam”. Aí foi no último dia, eu dei um basta, e eu falei... aí o que eles achavam, que eu estava, tipo: “Ah, ela vai desistir”. Mas ninguém sabia que eu já estava... porque aí ninguém sabia que eu já estava dentro da empresa. E aí eu falava assim: “Olha, eu não vou voltar aqui amanhã, entendeu? Porque amanhã eu vou trabalhar, meio do meio, do meu período”. Aí todo mundo: “Ué, mas como assim?”. Falei: “É, já estou trabalhando”. “Como assim? Mas você estava na praia até semana passada”. “Sim, acabou as minhas férias da praia, agora eu já voltei, já comecei a trabalhar”. “Bruna, não acredito que você já entrou em outra empresa”. Eu falei: “Claro. Aqui eu preciso dar baixa, lá eu não preciso dar baixa”. Só que até então, eu não contei para ninguém que era estágio, pouquíssimas pessoas sabem, na verdade, agora mesmo, que depois eu contando na minha entrevista, saindo as coisas, agora que as pessoas sabem que eu saí do CLT e fui para o estágio. Por que eu não contei? Porque a primeira coisa que o meu namorado falou para mim, ele falou: “Você vai para o estágio e não vai dar certo, 6 meses você vai ser mandada embora, aí eu quero ver você voltar. Você não vai conseguir voltar, porque o pessoal vai sair lá com raiva, porque você largou todo o trabalho que só você sabe fazer e você vai largar, sem treinar ninguém, sem o pessoal saber todo o serviço direito, você não vai conseguir voltar”. Nem minha família sabia que eu estava indo para o estágio, porque eu falei: “Eu tenho novamente outro plano, eu tenho 6 meses para ser efetivada”. Até porque, em 6 meses eu acabava a faculdade, Falei: “Se eu não for, o não eu já tenho, então eu vou correr atrás do sim”. Eu me doei assim, mais do que o normal em um estágio, porque eu tinha que ser reconhecida ali, eu tinha que ser reconhecida ali. Saí, comecei a trabalhar na área, continuei nos meus eventos, as coisas começaram a melhorar, eu já morava nessa casa de aluguel e aí também veio a oportunidade de eu comprar um apartamento e tudo começou a casar certinho. E aí eu falei assim: “Nossa, se eu conseguir comprar esse apartamento! Olha, vamos ver como vão estar as coisas aqui perto de quando eu for efetivada. Eu acho que vai dar para comprar o apartamento, que aí eu consigo arcar com as parcelas”. Ilusão também, achando que a Caixa ia ser super minha amiga e que eu ia conseguir comprar o apartamento com menos de 30 anos, só que não! 30 anos aí, é meu? É meu. A gente fala assim, meus vizinhos falam assim: “Não é meu, é da caixa”. Eu falo: “É meu, porque eu vou pagar. Eu vou pagar, é meu sim” (risos). E aí eu falei: “Vai dar tudo certo”. Mas não foi uma experiência tão boa nessa minha primeira oportunidade, foi muito difícil, só tinha eu de menina, só tinha eu e mais essa amiga que me indicou, trabalhando na área, e depois ela saiu. E lá já tinha cultura do home-office, então eu ficava praticamente sozinha lá, então foi muito difícil, muito aprendizado, muitas exigências. Caiu o meu cabelo, eu engordei horrores, eu tinha que tomar muita medicação, domingo de noite já começava a passar mal, mas eu falava: “Mas é isso. Isso aqui é para me derrubar e eu não vou cair, eu vou trabalhar ruim, eu vou trabalhar”. Eu já sai de lá direto para o hospital, e falar assim: “Não dá remédio muito forte, senão amanhã eu não consigo trabalhar. Mas você me dá alguma coisa”. Para você ter noção, teve uma época do meu estágio, que eu fui bloqueada no convênio, porque eu ia muito. Então chegava lá, aí não sei, subiu uma tarja, um pop-up, sei lá o que que era, na tela, e aí eu já ia para uma sala da enfermeira e a enfermeira já falando um monte: “Bruna, eu sei que você está com dor, mas a gente precisa procurar, você precisa passar na psicóloga”. Falei: “Não tenho tempo de psicóloga, eu não tenho tempo de passar”. Porque algumas coisas eu achava, tipo assim: “Psicóloga é coisa de gente rica”. Sabe? “Estética é coisa de gente rica, é coisa de gente fresca”. Tinha algumas coisas assim, né. E hoje eu vejo que não, por exemplo, a estética, hoje ela me ajuda muito, minha circulação, drenagem para poder desinchar e alguma outra coisa. Mas eu achava que tipo assim, primeiro que eu já achava que era: “Nossa, imagina. Você acha que eu vou conseguir pagar uma massagem? Nunca! Pagar uma massagem, não vou conseguir fazer essas coisas’’. Então eu tinha uma visão, da minha estrutura também de vida que eu vim, então. E aí, passei por todo esse processo aí, para poder me adentrar, fiquei ruim mesmo, foi uma fase assim, muito difícil, 2019 foi uma fase muito difícil! E consegui ser efetivada, consegui ser efetivada, “Uhul, está tudo bem! Ufa, deu tudo certo! E vou continuar, ninguém vai nem saber que eu era estagiária, todo mundo vai saber que eu já era desenvolvedora. Porque aí já fui registrada como desenvolvedora, que era só estágio em programação e depois fui para programadora lá, programadora. E aí eu comecei a verificar algumas coisas que estavam diferentes. E aí, nesse meio tempo eu tive uma oportunidade, eu já tinha pesquisado várias vezes apartamento, porque a casa realmente era pequena, as meninas já estavam crescidas e tal, e eu precisava de um lugar onde eu não pagasse aluguel. E aí o que eu fiz? Eu comecei a procurar, e apareceu a oportunidade e eu falei: “Olha, que legal! Acho que eu vou tentar, vou comprar, vai dar certo! E aí comprei, muito assim, achando que eu ia ficar anos na empresa, comprei o apartamento em agosto.
(1:31:40) P1 – 2020, isso?
R – 19.
(1:31:42) P/1 – 19.
R – Tudo 2019. 2019 foi uma virada de chave assim, em todos os aspectos, né. 2019 todos os aspectos, inclusive até em relacionamento porque o meu relacionamento já começou a cambalear, eu não sabia nem o porquê era, e no final acabou mesmo. E aí eu falei: “Vai dar tudo certo e eu vou”. E quando as coisas não têm que dar certo, não tem que dar certo mesmo, porque eu ia casar, a gente ia comprar o apartamento junto, quando eu fui para assinar os papeis, eu falei: “Moça, vê se o meu holerite dá”. “Não, o seu holerite dá”. “Então não quero o holerite dele não, pode arrancar e jogar fora”. Ele não ficou nem sabendo, ele ficou sabendo muito tempo depois, que ele nem era tipo, né. E aí tem umas coisas, como eu já tive um outro relacionamento, então algumas coisas você já tem uma estratégia, você já fica meio que calejada, né. Então algumas coisas eu já percebia, e eu já falava assim: “Olha, a pessoa não está me ajudando todo mês, então eu não sei. Será que, na hora que chegar a hora mesmo de entrar, eu ter que dar R$10.000,00, eu vou me virar em 499 mil, para conseguir os R$10.000,00, pedir empréstimo do banco, será que ele vai estar disponível para isso também?”. E algumas coisas começaram a... e aí ele me dava o dinheiro, eu pegava e jogava em uma conta inexistente, quando dava, eu jogava em uma conta e deixava lá, não tinha o cartão, jogava na conta e tudo certo, deixava lá. Falei: “Se der tudo certo eu vou ter um dinheiro, se não der, é só devolver. Não tem como provar nada mesmo, até porque quem assinou foi tudo eu”. E tudo foi eu, eu fazia muita questão, eu sou muito independente, minha mãe me criou assim, então desde os 14 anos eu sei andar São Paulo todinha, de cabo a rabo. E então eu falava: “Eu não vou depender de homem para nada, nunca dependi, não é agora que eu vou depender, depois de velha com três filhas’’. Falei: “Não é agora que eu vou depender”. E segui a minha vida e comecei o estágio em janeiro, em julho eu fui efetivada, em outubro eu comecei a sentir algumas mudanças na empresa, então algumas entregas eu não era chamada, algumas reuniões eu não era chamada, e aí eu falei: “Isso, não vai dar certo”. E eu comecei a minha outra movimentação, e conversa, e conversa, e conversa e conversa, e conversa. Eu fiquei preocupada com o que? “Eu comprei um apartamento, e agora?”. E eu estava vendo pessoal que perde, e perde todo o dinheiro e ainda fica devendo. E aí mais uma sobrecarga para poder entrar tudo na dinâmica que já tinha uma sobrecarga, né. Porque eu terminei a faculdade, mas eu não parei de estudar, eu não parei de ir para os eventos, eu não parei de sempre estar ativa nas coisas. E tanto que foi também em 2019, que eu conheci a comunidade perifaCode, que hoje eu sou uma das organizadoras, de tanto eu encher o saco, falaram: “Senhora, vem então nos ajudar. Já que a senhora fala tanto, gosta de se aparecer tanto, então senta aqui e vamos trabalhar, entendeu? Porque a gente tem muita coisa para fazer, tem muita coisa para organizar”. E quando eu entrei na... 2018 para 2019, eu era estágio, mas eu não me considerava ainda, que eu trabalhava na área, sabe? Eu tinha muito o que a gente gosta de falar, eu tenho muito a síndrome da impostora, então eu não me considerava muito ainda lá, mas estava lá no meio da comunidade. E aí nesse meio tempo da trajetória eu comecei a ver algumas movimentações, aí comecei a me aplicar para algumas vagas, nada muito certo. Quando foi em dezembro, 03 de dezembro, 03 não, 10 de dezembro, eu tinha que assinar o contrato na Caixa, que era: “Agora sim, está tudo certo”. Só que nisso, tem um monte de entrevista que você tem que fazer para ver se a construtora, e a financiadora deles lá, não burlaram algum sistema, para você entrar lá e conseguir comprar. Então tinha todo... agora eu não sei mais como funciona, mas isso lá em 2019, eu passei por tipo, três entrevistas, até realmente falar: “Ela está apta, pode assinar o contrato com ela, que está tudo certo, que ela tem salário e tudo mais”. Aí cheguei mais tarde na empresa super feliz, porque eu tinha assassinado o contrato da minha casa, e me desligaram.
(1:36:08) P/1 – No dia?
R – No mesmo dia que eu assinei o contrato na Caixa, eles me mandaram embora. Primeira coisa que eu pensei: “Não vou pagar o apartamento, como que eu vou conseguir pagar o apartamento? Não tem como”. Aí já me desesperei! E aí eu me dei um dia de bad total, depressão assim, ao extremo e não contei nada para ninguém. A única pessoa que sabia era o meu namorado, e ele: “Calma, vai dar tudo certo”. Mas aquilo: “Calma vai dar tudo certo, mas eu também não tenho dinheiro para te ajudar”. E eu precisava de dinheiro. Então já estava estremecido e foi só estremecendo mais. E fui para casa, aí eu chorei, chorei, chorei, chorei, chorei, chorei, chorei, aí eu não voltei para casa rápido, porque senão minhas filhas iriam perceber que tinha alguma coisa estava de errado, e no outro dia eu não levantei. Então como eu cheguei em casa com um semblante de choro e dor, então, e elas sabiam de tudo que estava acontecendo ali no serviço: “Minha mãe se estressou no serviço e chegou em casa com dor, então ela não foi trabalhar”. E aí eu me dei um dia e meio ruim, elas acharam estranho, porque eu não tinha ido ao médico né, não tinha ido ninguém em casa, porque quando é assim, as minhas amigas se movimentam e vão ver, “Tem alguma coisa de errado”. E aí eu levantei, depois desse um dia, sem tomar banho, sem comer, sem dormir, sem nada, só deitada. Levantei, liguei o computar e fui procurar vaga, falei: “Agora, vamos lá, tem que procurar vaga”. Comecei a procurar vaga administrativa, fiquei durante 6 horas me candidatando para vaga administrativa, depois eu parei e falei: “Mas pera aí”.
(1:37:50) P/1 – Ou seja, voltar.
R – Ia voltar para traz, eu ia voltar para traz, por que? Eu saí de lá, como: “Volta para onde você estava, porque para isso você não serve”. Foi isso que foi me dito, “Tenta voltar para o que você estava, porque lá você era sucesso, aqui você não é o sucesso. E o mercado de TI, ele é muito difícil, e você pode se frustrar cada vez mais”. Foi esse o meu feedback, que eu tive na minha demissão. E aí pensa, voltei para casa daquele jeito, desesperador e tudo mais. E eu voltei, eu fiquei durante 6 horas sentada sem me mexer, quando eu levantei, aí toda aquela dor, todo aquele processo, aí toma remédio para melhorar, voltei, aí eu falei: “Eu fui tanto para evento, eu me formei depois de todo mundo, com esse sacrifício todo, para eu voltar para a área administrativa? Não que não seja um trabalho digno, se precisar a gente volta, mas não, eu estudei, eu não sou tão burra assim não, de não saber nada, não, não é possível”. Aí eu recusei ainda duas vagas que eu tinha, de entrevistas, não eram vagas já prontas, mas eram entrevistas para trabalhar na área administrativa, inclusive de um parceiro da outra empresa que eu trabalhava, então tipo assim, esse parceiro era tipo, 50%, já me conheciam, né. E eu falava: “Não, está tudo errado, está tudo errado, tudo errado”. Mas acabou o meu final de ano, não vou mais para Praia Grande, vai acabar tudo, porque eu estou desempregada, eu não posso gastar dinheiro, não posso gastar dinheiro. E aí eu tinha o fundo de garantia, por que? Aí tinham me mandado embora, eu tinha o fundo de garantia, falei: “Não, mas meu fundo de garantia eu não posso mexer, porque é da casa, e a casa estava lá para eu pagar, tem a casa para pagar”. Eu fiquei exatamente 1 mês e 15 dia desempregada. Fui para praia, aí eu falei: “Não, vamos lá, eu vou seguir, vai dar tudo certo, eu vou para praia”. Eu falei: “Depois eu vou voltar da praia, vai dar tudo certo, eu vou conseguir uma semana de entrevista, está tudo certo”. E uma semana antes de eu ir para praia, eu fiquei uma semana inteira indo em várias empresas na mesma rua, que era lá na Zona Sul, Alexandre Dumas, e eu falava: “Não é possível, vou vir trabalhar aqui, não é possível, não é possível. Porque não é possível eu ter sete entrevistas no mesmo lugar, na mesma rua”. Falei: “Não é possível, não é possível!”. Falei: “Deus, eu vou para praia, quando eu voltar eu vou vir trabalhar aqui nessa rua, eu não sei em qual empresa que é, mas eu vou trabalhar nessa rua, porque não é possível, não faz o menor sentido”. E tipo assim, você se candidatar ao alguém, e tipo, das sete entrevistas que eu fui na semana, três eram indicações e quatro era que eu tinha me candidatado, falei: “Não, não pode ser”. Falei de novo, quando eu olhava: “É brincadeira que eu tenho que ir pra lá amanhã de novo”. E tipo, pensa, sair da Zona Leste de trem, para vir para Zona Sul, falei: “De novo”. Falei: “Não”. Eu falei: “Olha, quando eu voltar para a minha área, a primeira coisa que eu vou fazer...”. Eu já tinha habilitação, mas eu tinha medo de dirigir, fui manipulada para não dirigir”.
(1:41:19) P/1 – Parceiro?
R – Sim. E aí eu falava assim: “Não, eu vou dirigir, porque eu não vou ficar sofrendo isso aqui, essa integração do metrô com o trem”. Falei: “Não, isso não é”. Falei: “Não é possível’’. Falei: “De novo meu Deus”. Eu falava assim: “Aí, por favor, marca à tarde, porque de manhã é muito ruim, marca as entrevistas à tarde, por favor, fora do horário de pico”. E tipo, eu consegui todas as entrevistas fora do horário de pico, todas, todas, todas, sem pedir. Todas as empresas falaram: “Aí, nossa. Você mora longe, né? Então eu vou colocar para você tipo, pode ser 2h da tarde? Pode ser 13h? Que aí eu almoço mais cedo, ou eu almoço mais tarde, porque aí você consegue ir embora tranquila sem o fluxo”. A semana inteira. Fui para praia, aí já tinha um curso engatilhado, que aí eu ia voltar a fazer pela Educafro, a primeira turma edutech, a primeira turma que eles iam inserir pessoas negras nas empresas de tecnologia parceiras. Tinha todo um processo, você participava de umas aulas, depois você participava de uma aula, de uma prova, dessa prova, para você poder entrar no curso deles, que eles já tinham parceria para poder encaminhar as pessoas para as empresas. Eu falei: “Não, é aqui que eu vou. É aqui que eu vou me dedicar ao máximo, porque daqui que eles vão me encaminhar” Porque eu não tinha outra saída, eu falei: “É aqui”. E nisso o que? “Você contou para alguém que você tinha sido mandada embora?”. Você era de comunidade, alguém da sua comunidade, ficou sabendo que você foi mandada embora?”. “Não, não vou contar, que vergonha, não posso contar que eu fui mandada embora, não vou divulgar para ninguém, ninguém vai saber de nada”. O pessoal foi saber outro dia aí, na pandemia, porque ninguém nem sabia, por que as pessoas achavam o que? “A Bruna conseguiu coisa melhor e mudou de serviço”. Ninguém sabia que eu tinha sido mandada embora, porque eu tinha vergonha de falar, eu falo: “Meu, e aí vão falar: ‘Tá vendo, pediu as contas do emprego, para depois ser mandada embora, se tivesse me escutado’”. Falei: “Não vou falar para ninguém, não vou falar”. Tanto que quando eu começo a contar as histórias, todo mundo fala assim: “Meu, cada hora que você vai dar uma entrevista, cada hora que você vai falar alguma coisa, a gente fica sabendo. Nossa, tá me dando uma raiva de você”. Eu falei “Você não sabe de nada, eu não contei tudo (cantarolando)”. Falou: “Eu vou começar a juntar as histórias desde 2019”. Falei: “Vixe, até 2025 vai ter coisa aí que vocês não vão saber”. Eu falo. E eu não tinha contado nada para ninguém. E aí eu fui para a praia e já naquela tristeza, aquela preocupação, não foi um ano, 2019 para 2020, que foi o último ano que todo mundo saiu, não foi um ano legal para mim, uma virada de ano, aquela preocupação. Nisso eu tinha me candidatado em uma vaga, nessa última empresa que eu fiz, que eu estava. E eu falei: “Meu, é surreal, porque tinha que me candidatar nas inscrições, depois fazer prova, depois entrevista com RH, entrevista técnica, para depois passar”. Aí em um grupo do Telegram, alguém mandou, eu me cadastrei. Quando eu vi todo mundo falando da empresa, que a empresa era legal e que não sei o que. A mesma empresa da menina lá do CEE. E eu já tinha visto a empresa parceira né, era no mesmo prédio, e eu falava: “Não, gente. Não pode ser, a mesma empresa”. Eu falei: “Que legal!”. Mas aí, quando aquele monte de gente e a empresa divulgando, e agora tem isso né, os bootcamps, que é onde as empresas, capacitam, né, tem uma empresa x que capacita as pessoas, para poder... daquelas pessoas, ela pega de turma ali, tem 40, ela pega 10 e a empresa vai contratar, a empresa patrocinadora do curso, ela vai contratar, hoje acontece muito isso. E o meu foi surreal, porque foi ao contrário, eu já entrei no bootcamp contratada e eu nem sabia, porque para mim eu ia fazer o bootcamp, dali eu ia me desenvolver, me destacar entre as pessoas e poder conseguir a vaga. Nisso que eu vou estar fazendo outro curso, que eu estava fazendo junto com a Educafro, e vou unir as duas coisas, porque como eu não estou trabalhando, a Educafro é de noite e esse curso ele não tinha um horário definido ainda, eu falei: “Mas eu vou dar um jeito, vai ter que dar um jeito”. Não sabia nem como que era. E aí quando passei a fase, aí vim para praia correndo, porque eu tinha passado de fase. Normalmente eu ficava na praia até dia 10, por causa das minhas férias, que eu já voltava trabalhando, e eu tive que vir para casa tipo, dia 04 ou 05, vim embora correndo, porque eu já tinha uma entrevista, que era a segunda fase. E a gente não tinha nem acreditado, porque teve 28853 pessoas inscritas, e dessas 28 mil pessoas inscritas, somente 10 mil passaram.
(1:46:12) P/1 – Somente.
R – 10 mil passaram para próxima fase. Detalhe, nessa de 10 mil, e essa era para ser meu também o emprego, porque nessa de 10 mil eu passei: “Ah, você vai receber o coiso”. E eu estava na praia, e aí tinha que responder perguntas simples, e eu esqueci de responder uma, quando eu vi que eu enviei sem responder, eu falei:” Eu vou para praia, deixa para lá, porque já deu ruim”. Porque toda hora a empresa que dava o treinamento, ela divulgava: “Gente, 20 mil inscrições, 10 mil inscrições, 25 mil inscrições”. E eu falava: “Mano, eu errei, você acha que eu vou ser selecionada?” Eu falei: “Para eu ser selecionada agora, ou é Deus agindo na minha complemente ou realmente todo mundo esqueceu de indicar uma outra, essas meninas responderam tudo errado”. E era um bootcamp só de mulher, só de mulher, e eu falei: “Ah, deixa para lá”. Dois dias depois, eu nem entrei no meu e-mail, porque eu falei: “Não, deu certo, então eu não vou”. E nisso a minha filha do meio, que hoje também estuda tecnologia, falou para mim: “Mãe, você tem que entrar no e-mail para ver, porque se a empresa está falando com vocês sempre, vocês passando ou não, eles vão te falar”. Falei: “Isso é verdade, porque se eles estão divulgando nas redes sociais, então vão divulgar para as pessoas inscritas, até porque um e-mail, manda para todo mundo de uma vez só”. “Você passou para a próxima fase, você tem que estar na Alexandre Dumas para entrevista do RH, e eu falei: “Mentira, de 10 mil”. Aí nisso, de 10 mil entrevistas com o RH, de 10 mil foram selecionadas 200 pessoas, de 10 mil, para entrevista do RH, e eram só 30 vagas, 28 mil pessoas inscritas e só 30 vagas. E aí eu já fui, mas eu acho que foi a entrevista da minha vida toda, que eu fui muita tranquila, muita tranquila, eu não estava com medo de nada, eu não estava nada. E eu ainda virei para o meu namorado, ainda falei para ele, na época ele também trabalhava naquela época na mesma rua, e eu falei assim para ele: “Então, aí eu nem sei como eu me visto, porque a empresa parece que é muita moderninha, então eu não sei se eu vou mais despojada, se eu vou mais arrumadinha, porque eu não sei”. Ainda eu falei para ele: “Ah, mas depois também que eu estiver trabalhando aqui, eu posso me vestir do jeito que eu quiser”. Aí ele: “É, você vai vir trabalhar aqui?”. Falei: “Vou, vou vir trabalhar aqui. Se eu não me engano, eu acho que depois do treinamento, acho que a gente vem para cá em fevereiro, trabalhar aqui, né, no escritório, tal, eu não sei se eu vou para o cliente, não sei como que vai ser “. E eu super assim: “A vaga é minha”. Não tinha nem feito a entrevista com o RH, e tinha entrevista técnica ainda. Tinha esse efeito: “Nossa, Bruna. Você está confiante. Que bom, mas calma, depois você fica nervosa, aí te dá dor”. Eu falei: “Não, eu estou super tranquila, está tudo bem”. A entrevista era em uma sexta-feira, a entrevista em uma sexta-feira e eu tinha prova no sábado de manhã, na Educafro, para poder saber se eu iria para passar para a próxima fase. E eu estava tão focada na Educafro, que nada ia me tirar daquilo. E aí, eu falei: “Não, eu estou tranquila”. Passei e tal, fui. No mesmo dia que eu achei que eu fosse passar, eles iriam me dar outra oportunidade para poder fazer a entrevista técnica. E eu achava que eu ia ter que vir mesmo, sentar no computador, alguém ali ou alguém pedindo, não, a entrevista técnica foi ali na hora, foi ali na hora, aí ele falou: “Bruna, eu acho que eu vou fazer diferente, eu vou fazer a entrevista técnica agora”. Aí eu já, aí eu falei: “Mas Thiago, eu não me preparei”. Aí ele: “Ah, mas assim é melhor, assim é melhor, a gente já samba, sexta-feira, já vamos tomar a nossa cerveja”. Só que ali, ele já tinha falado que eu tinha passado, mas até eu então, para mim, eu não tinha. Ele ligou: “Fulano, ah, pode fazer algumas perguntas aqui? “. E aí eu fui e não sei o que, e tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, respondi precisamente, parece que tipo assim: “Meu, essa pessoa aqui, vai perguntar exatamente tudo que eu sei fazer”. Fui. E fui para casa, porque demorou e ele começou a conversar, tipo, como meu melhor amigo, ele estava sendo, o recrutador, eu falei: “Agora eu tenho que ir embora, porque já ia pegar o horário do pico e amanhã eu levanto cedo, porque eu tenho a prova para fazer”. E fui, e fui embora. E é uma coisa que eu nunca faço na minha vida, é olhar e-mail à noite, de sexta-feira, independente se é pessoal ou do trabalho, sexta-feira ali, fechou, 07h da noite, não venha falar comigo, porque eu não vou te responder nada, meu horário de expediente acabou, a não ser que o sistema caiu, aí eu sou obrigada mesmo a resolver alguma coisa, de resto não mais. Quando foi 07h40, eu entrei no e-mail, me deu cinco minutos, eu estava estudando, falei: “Eu vou repassar aqui algumas coisas”. Eu estava lá, que eu tinha uma mesinha, tinha um notebook, parcelado em 500 mil vezes, que eu estava acabando de terminar de pagar, 2 anos pagando o notebook e eu na lavanderia da minha casa, um calor, janeiro, falei: “Vou entrar aqui só pra ver”. Aí estava lá o e-mail falando que eu tinha sido selecionada, que eu tinha sido aprovada. Aí foi aquele chororô, e aquele negócio, e tipo: “Meu, como assim? Eu vou ganhar mais, eu vou ter mais benefício, eu vou trabalhar na Zona Sul, e não sei o que, não o que, não sei o que”. E tudo aquilo, e eu chorei, e aí minhas meninas ficaram felizes junto comigo, e aquela gritaria dentro de casa. E tipo, falei: “Cara, eu não acredito que eu me recoloquei em tão pouco tempo. E tipo assim, em um processo seletivo, onde eu não precisei ser indicada, eu fui sozinha, foi mérito meu, eu consegui por mérito meu, e tinha que ser meu e tinha que ser meu, que não sei o que, não sei o que, não sei que”. E fui, e deu super certo. Aí depois veio a pandemia, trabalhamos de casa, aí deu otimamente, porque aí eu consegui pagar o apartamento, porque o salário já estava maior, consegui pagar todos os processos da Caixa, que a gente acha que é: “Paga ali a parcela e tá tudo certo”. Não, tem evolução de obra, tem mais não sei o que, e tem mais R$ 10,00, que surge a cada 2 dias para você pagar, mas graças a Deus, deu tudo certo. Consegui fazer tudo sozinha, aproveitei o momento que a empresa, pandemia, muita demanda, muita coisa, era muita hora extra, insanamente, sábado, domingo e feriado, trabalhar 18 horas, sabe? Reuniões incansáveis, mas dali que eu consegui todo o dinheiro, para não precisar pedir empréstimo, ou alguma coisa maior, porque empréstimo eu pedia mesmo, mas coisas maiores para conseguir pagar o apartamento, que ia ficar pronto 2022, final de 2021, 2022. E deu tudo certo, entrei na empresa e aí a empresa também super aberta, eu fui garota propaganda, aparecia toda hora, e fiz vídeo, e fiz tela, fiz tudo para aparecer na empresa lá, eu participava, tudo eu participava. Falava: “Aí chama a Bruninha”. “Bruninha já está”. Falei: “É, vocês nem estão sabendo de nada, pessoal. Já estou aqui. Quando vocês pensarem em me chamar, eu cheguei primeiro que vocês”. E aí nisso, eu já estava engajada com a comunidade, a gente começou a fazer a live com as outras pessoas, porque aí que começou a vir à tona, da Bruninha que era da administração e foi para o estágio, que ninguém sabia que era um estágio, e foi mandada embora e conseguiu outro emprego. E aí foi aquele bum, eu apareci em um monte de comunidade, eu fazia uma live por dia, e não tinha o que fazer mesmo.
(1:53:40) P/1 – Você diz da PerifaCode?
R – Isso, da perifaCode. Eu já estava engajada lá, a gente já fazia as nossas movimentações e aí eu comecei a aparecer mais, porque aí e em casa, não tinha o que fazer, não podia colocar a cara na rua e aí que eu apareci em todas as outras comunidades. Então tem a AfroPaython, tem a Mais1code, tem o pessoal da (1:54:00), aí eu comecei a aparecer em todas as comunidades de tecnologia, fiquei a famosinha aí do “Youtchube”, como dizia o meu primo pequeninho. E aparecia em tudo quanto é lugar e aí fui trabalhando, lá já era desenvolvedora, continuei, não migrei, tipo continuei como desenvolvedora, só fui subindo de cargo em empresas melhores, né, continuei. A comunidade, assim né, eu falo que tudo isso aconteceu, porque eu conheci as comunidades, o poder que a tecnologia, que a comunidade de tecnologia tem é surreal, entre acolher, entre ajudar. Então assim, eu já cheguei a chamar, quando eu estava lá em 2018, tentando entrar, uma pessoa no Twitter, “Você tem como me ajudar?”. E a pessoa era do Fantástico, domingo à noite, parar e me ajudar, no meu processo seletivo. Então assim, eu tenho pessoas que eu levo hoje, para minha vida inteira, assim, que eu falo hoje, que quando eu estava no evento sábado lá, todo mundo veio, porque eu estava meio sumida e todo mundo veio falar comigo , tal, eu estou respondendo mensagem até hoje, que eu não consegui ainda todo mundo, eu não consegui adicionar todo mundo no LinkedIn ainda, é muita gente, é muita coisa, eu gosto sempre de olhar, de ver quem é, quem não é. E aí quando, nesse meio tempo aí, que eu me engajei de verdade mesmo, dentro da comunidade, que foi toda nessa movimentação aí, de um pouquinho antes da pandemia, que a PerifaCode, ela é o que? Ela é uma comunidade de pessoas periféricas, que tem o intuito de inserir pessoas na área de tecnologia, independente do que, de qual área, né. Normalmente é... quando iniciamos, todos eram programadores, aí hoje já tem gente que migrou de dentro da área de tecnologia, mas o foco é esse. É mostrar sim, para as pessoas da periferia, que a tecnologia muda vida, e ela pode mudar não só a sua vida, mas como a vida da sua família e das pessoas próximas a você. Então assim, é uma família onde eu amo todos, sem exceção, a gente ali é uma rede de apoio assim, surreal, onde a gente realmente fala que a gente é uma bolha mesmo, né, que a gente fala assim, tem um termo que a gente fala, que é: “A Bolha Devi”. Que são de desenvolvedores, que é aquela coisinha que só faz isso, não faz aquilo outro, e aí, e a gente é a nossa bolha ali, onde o pessoal fala: “Eu sou favelado sim, eu morava lá na favela sim, mas agora...”. A gente brinca né, fala: “Ah, agora o Javascript que me deu, o PHP que me deu, né”. As conquistas que a gente tem. Então hoje tipo, quando a comunidade começou, lá um pouco antes na pandemia, eram pessoas que eram estagiárias, tentando entrar na área, tinha somente um dos organizadores que realmente já estava na área, já trabalhava, já conhecia a gente. O resto não, foram pessoas que ele veio trazendo, que ele colocou lá no Discord, conversou com um, com outro: “Vamos criar essa comunidade?”. “Vamos”. “Vamos chamar assim?”. “Vamos’’. E foi agregando pessoas, que eles achavam que faziam sentido, para poder levantar. E hoje a gente está aí, participando de vários eventos, participando de várias feiras, tanto on-line, quanto presencial, e levando, que a gente fala: “Levando a palavra do Perifacode’”. Que a gente fala, né. “Perifa” de periferia, e Code de código, né. Que a maioria eram todos eram programadores, a maioria ainda são todos programadores. Então é uma comunidade que quando eu penso que eu vou sair, eu não consigo sair, é pelo contrário, eu me envolvo ainda mais, são pessoas maravilhosas, e a gente tem lá as nossas (1:57:57), que a gente fala. No último sábado eu estava lá no evento, que também era um parceiraço nosso, também, que também mora na Zona Leste, que também não tinha nada, que também... eu falo assim: “Esse aqui fulano, a gente não era ninguém quando a gente se conheceu”. “Como assim?”. “Não era ninguém, a gente já chegou a dividir lanche, chegou a dividir condução, para conseguir chegar”. E hoje está lá, foi viajar com a empresa para fora, para poder demonstrar, ficou 10 dias lá bancada, e eu falo: “E é isso, e é isso”. E é isso que eu prezo sempre, que eu falo, eu falo assim: “É muito simples agora você virar para mim e você falar: “Olha, ela mora em um prédio, olha ela tem um carro”. Mas ninguém sabe o que eu passei para chegar aqui hoje, para onde eu virar e eu chegar em qualquer que eu vou, eu vou falar: “Tem um estacionamento? Tem um estacionamento próximo?”. Sabe? “Vocês têm onde estacionar?”. Sabe? “Não, não, não. Tudo bem, sem problema. Eu vou. Não, não precisa chamar Uber, não precisa, não”. Mas ninguém entende isso, é só quem sofre mesmo na pele, e quem me conhece de verdade que vai entender tudo isso. Hoje eu ando de carro para cima e para baixo, às vezes eu atraso mesmo a minha fatura, atraso mesmo as minhas contas, porque eu falei: “Eu não vou andar a pé, eu não vou andar a pé”. Mas não é porque: “Ah, eu não vou andar a pé, porque eu sou soberba, porque agora subiu para minha cabeça”. Não. Se hoje eu estou aqui, se hoje eu estou aqui conseguindo falar para vocês, hoje eu estou contando aqui a minha história para vocês, toda a minha trajetória, eu tive um longo percurso, e não foi nada fácil. E ele continua não sendo fácil, porque você se manter, é muito mais difícil do que você entrar, é muito mais difícil do que você entrar. Então eu aproveitei das oportunidades que eu tive, eu agarrei com unhas, e forças, e dentes e tudo que eu podia e não podia para estar. Hoje eu saí da última empresa que eu estava, agora eu posso divulgar onde eu estou, hoje eu trabalho no SENAI, sou desenvolvedora web lá dentro, trabalho em vários projetos, minha equipe é maravilhosa, e daqui é só para cima, e daqui é só para cima. Já fui lá falar tudo com a meninada, o que é tecnologia, já dei a minha palavra para todo mundo, entendeu? E se eu precisar voltar, como eu já precisei ano passado, entrar dentro da comunidade para mostrar o que é, e o que não é, e mostrar, chegar a dar aulas on-line de introdução, para mostrar como que funciona tudo, a programação e mostrar, eu vou, porque primeiro teve alguém que me ajudou, teve alguém que acreditou em mim. Então tem certas coisas que eu falo: “Eu não vejo sentido eu falar não para quem me pede ajuda, porque na hora que eu precisei não teve uma pessoa que me ajudou, foram várias”. E me ajudaram de verdade, porque eu já participei de eventos que o organizador nem estava dando atenção: “Não, eu quero esse grupo aqui, esse grupo aqui, porque eu gosto desse perfil aqui”. “Não, mas põem ela lá, pô, você vai ver, a menina é legal, ela trabalha direitinho, você vai ver, como que ela é legal”. Então assim, e eu todos os momentos eu tive. Então eu trabalhei em um evento antes da pandemia, durante 3 anos, como staff, como voluntária, onde o evento é R$ 500, 00 para participar, e eu nunca tinha os R$ 500,00, eu até cheguei a juntar, mas sempre acaba todos aqueles imprevistos da vida e a gente não consegue. E o ano passado, quando os eventos voltaram de verdade, já podia todo mundo se reunir, eu fui como painelista do evento de onde eu trabalhava. Então aí, eu tenho até uma publicação no LinkedIn, que eu falo assim: “Dos bastidores, para o palco”. Onde é surreal, você... nossa eu me emociono muito falando disso, porque tipo, você não sabe onde você, o seu potencial, onde lá atrás falaram para você que você não poderia estar onde você está hoje. E eu tipo, para você ver, às vezes a gente é tão humilde, que tipo, eu fui em um evento da internet, que hoje, todo mundo usa para tudo e você vê, que você chega lá, e você falar e você descer, e você ter sala diferenciada, e você ter crachá diferenciado, eu vou ser tratada de forma diferenciada, porque você é mais doque vip, que você subiu em um palco, então é uma outra história, é uma outra história, então. E aí, eu acho que desde tudo, não é a primeira vez que eu subo em um palco para falar, não é primeira vez que tem mais 300 pessoas me olhando, mas eu acho que esse final de semana eu me dei conta disso tudo. E aí: “Poxa, olha onde você está trabalhando, você tem noção?”. “Tenho”. Não, você não tem noção, você não tem noção, você não tem noção. “Você viu o processo? Como que é para entrar?”. “Vi, eu fiz’’. “Você viu quanto tempo é? Você viu...”. “Eu vi, eu fiz”. “Não, mas não”. Ela falou: “Olha, essa pretinha tá demais, viu. Ela tá demais, ela tá demais”. Eu falo assim: “Meu, é surreal”. Porque em um lugar onde você tinha dificuldade de acesso, onde você tinha que implorar para estar, e hoje você ser convidada, as pessoas irem atras de você. Quando vocês me contataram, eu falei: “Aí gente, aberta a temporada da palestrinha. Desculpa”. Eu falei na escola bem assim, e o pessoal lá, eles não são muito de eventos, então: “O que que é palestrinha?”. Eu falei: “Olha, eu vou procurar aqui um vídeo no Youtube, meu, onde eu brinco disso, aí vocês vão entender”. Eu falei: “Gente, é isso. Entendeu? Eu vou ter que organizar aqui a minha agenda, a moça está me chamando e eu vou ter que olhar, porque eu tenho outras coisas para fazer essa semana, e eu acho que eu só vou conseguir semana que vem. Olha que coisa!”. Ela falou: “Olha, essa Bruna está demais, ela está se achando demais, ela está muito”. Eu falei: “Olha, desculpa. Mas eu posso me achar hein, vocês podem falar qualquer coisa, mas eu posso me achar”. Então assim, é surreal o que a tecnologia fez para mim, o que a tecnologia fez para minha família, o que a tecnologia fez as pessoas próximas a mim, onde eu já ajudei muita gente, onde eu ajudo muita gente, onde as pessoas tem orgulho. No evento que eu fui ano passado, tinha cinco meninas na frente, e elas: “Aí posso falar com você?”. Eu falei: “Claro, pode. Vamos lá fora e tal, que a gente não precisa falar aqui no auditório”. E elas falaram assim, para mim: “Por causa de você, eu não vou pedir minhas contas segunda-feira, porque eu vim aqui para me distrair e para ir conversando com as pessoas e encontrar meios de como eu vou pedir as minhas contas, sem eu ser queimada. E por causa de você, eu não vou pedir as minhas contas”. E a menina foi, não pediu as contas, não deu pouco tempo, ela foi até promovida. É você ver que o pouco sabe, o pouco que você acha... então assim, nas aulas que eu dei ano passado, as aulas iam até 09h da noite, eu ficava até 11h, 15 para 00h, tirando dúvida, e ela falava; “Professora, eu sei que você está cansada, que amanhã você vai trabalhar, mas me ajuda?”. Eu falei: “Não, fica tranquila. Aproveita que eu estou no home-office, que eu posso acordar 5min antes de entrar, porque quando eu voltar para o presencial, aí o negócio vai ser diferente, “Então tudo bem”. Então são escolhas, né, eu escolhi sair do home-office e ir para o presencial, é uma escolha que eu fiz, justamente por ter condições melhores, salário melhor e coisas melhores. Então não dá para ter flor sempre, e ser tudo bem, e está tudo certo o importante é, que eu falo: “Amigo, o importante é que você está com o seu transporte, entendeu?”. Então eu falei. Então eu viajo, é uma viagem, porque da minha casa até Osasco são 25km, todos os dias. Então eu entro muito cedo, para eu não pegar todo o fluxo e saio também cedo para eu não pegar todo o fluxo, e está tudo bem. Tanto que eu até preferi vir aqui com você de segunda-feira, porque de segunda-feira, o trânsito por incrível que pareça, é o melhor dia para se andar por São Paulo de carro, ainda mais atravessar, trocar de cidade, que eu pego a Marginal todinha, literalmente, porque eu moro no final mesmo da Marginal, na última curva da marginal, eu entro ali, que ali que entra na Zona Leste. E eu falo: “Está tudo bem, está tudo certo! O meu apartamento está pago, eu consegui trocar de carro, eu tenho orgulho de falar que as minhas filhas, eu falo até assim: “Que elas não precisavam trabalhar”. Até porque eu sempre prezei que elas estudassem primeiro, do que trabalhar, né. Todas estão fazendo faculdade, graças a Deus, jovens, né, que a gente sabe como é, como funciona os jovens de agora, então a gente tem lá os nossos, mas eu sei que elas estão em caminho certo. Então, resumidamente Lu, é isso que eu tenho para contar para vocês, eu sempre falo, eu fiz um post no final de semana, onde eu coloquei assim: “A palavra de hoje é persistência”. Porque se não tivesse persistido, hoje eu não estava aqui, se não tivesse persistido, hoje eu não teria a minha casa, se eu não tivesse persistido, hoje eu não estava com o cargo que eu quero, se eu não tivesse persistido, ou eu tivesse escutado as coisas ruins, nada disso iria estar acontecendo. Então hoje eu consigo manter a minha casa, hoje eu mantenho até as minhas filhas que trabalham, que podem se manter, mas hoje eu dei essa condição para elas. Agora eu coloquei a obrigação de me ajudarem em casa, “para você ter um pouco de responsabilidade”, até porque eu tinha muita responsabilidade. Mas elas foram trabalhar para elas, e elas ajudam em casa, mas assim, “é para mostrar que você precisa ajudar”, “que você precisa pagar as contas”, que também tem obrigações, mas hoje eu consigo bancar a minha casa sozinha, e eu consigo ajudar, não é à toa que toda hora: “Mãe um pix, mãe um pix, mãe um pix”. Eu falo assim: “Vocês acham que eu sou um banco, né. Não é assim que funciona”. Mas em relação a tecnologia, eu não tenho o que falar, porque eu estou aqui, eu sou a prova viva que você pode sim, chegar do zero e estar onde você estar, e você ser referência para alguma coisa, e as pessoas te elogiarem, as pessoas te quererem por perto, porque você conseguiu vencer, então você escutar isso de alguém. Um dos eventos que eu fui ano passado, dentro da comunidade, a menina falou assim para mim, 15 anos: “Eu te gravei tia, e eu vou te mostrar para minha mãe e eu vou mostrar para ela, que eu não estou desmerecendo a profissão da família que é ser copeira, mas é mostrar que eu posso sim sair daqui, e eu ser o que eu quiser, porque eu mostrei para minha mãe essa reportagem, (Ela mostrou a reportagem que estava em um jornal) e minha mãe falou para mim, que isso não era para mim, que era muita coisa para mim, que eu tinha que ficar por aqui mesmo, que o máximo que eu ia conseguir era eu entrar dentro dessa empresa para ser copeira’”. E a empresa era onde? Era a empresa de onde eu trabalhava, e eu falava: “Você pode sim. Você acha que eu moro perto? Eu não moro perto, eu moro muito longe, muito longe mesmo. Mas é isso, hoje você mora longe, mas você não sabe se você pode morar do lado da empresa, você não sabe”. E é isso.
(2:10:16) P/1 – Quais são as coisas que você faz, assim, de trabalho? No SENAI, na comunidade...
R – Na comunidade. Então assim, lá na comunidade a gente organiza tudo, né, tipo a gente não fala que a gente tem no PerifaCode, “Ah, um organizador, um membro, eu que mando em você”. Não, quem está disposto a ajudar, a comunidade ela é aberta, você pode chegar lá no Discord e falar: “Eu quero dar aula de Javi, eu quero dar uma aula de Javi script”. Que são linguagens de programação. “Eu quero dar uma aula de empreendedorismo, eu quero dar uma aula de...”. É todo mundo aberto. Hoje eu sou desenvolvedora web, mas back-end, como eu falei, é o funcionamento de todo o site, né, onde eu trabalho em alguns projetos pessoais, da pós-graduação também, e juntamente também com o SENAI. E o ano passado, eu ministrei uma aula pelo Minas programa, que é uma outra iniciativa para incluir somente mulheres também, na área de tecnologia e também fui mestre de cerimônia da programaria (2:11:24), que também é uma outra iniciativa de formar mulheres da área de tecnologia, e aos poucos a gente vai se adentrando e agregando mais coisas ao nosso currículo.
(2:11:35) P/1 – Era sobre isso que eu queria te perguntar assim, como você vê o mercado de mulheres? E se você sente que está tendo alguma mudança?
R – Melhorou bastante, melhorou muito. Eu acho que a época que eu entrei na área realmente, que eu entrei para um bootcamp só de mulheres, final de 2019, começo de 2020, eu acho que foi a melhor época que teve, para entrar, se firmar, se consolidar na área. E agora, pós-pandemia muita coisa mudou, muita demissão em massa, então as mulheres estão sendo, sim, mais prejudicadas nessa parte, justamente por ser mãe, por ser mais nova. E a gente sabe a nossa diferença entre homem e mulher, ainda mais no mercado da tecnologia. Mas é um caminho que ninguém desiste, são pessoas que são muito engajadas para isso, as empresas também estão melhorando, tem muita coisa para fazer ainda, tem que dar mais oportunidade, tem que dar mais acesso, mas eu acredito que daqui para frente a tendência é melhorar isso, então passando essa má fase que algumas empresas estão tendo, eu acho que o crescimento da mulher na área, ela só tem a melhorar, até porque tem umas mulheres espetaculares, extremamente inteligentes, onde só tem a agregar o mercado. E eu sou a prova viva disso, onde eu entrei somente para agregar. E mesmo com todos os percalços que teve, todos os conflitos que eu tive, hoje eu viro e eu falo: Que eu sim, eu entrei para somar”.
(2:13:11) P/1 – Eu teria mais 1 milhão de perguntas, fácil, mas assim, fácil, fácil, mas pra gente ir finalizando, quais são os seus maiores sonhos?
R – O maior sonho hoje é ver as minhas meninas bem financeiramente, profissionalmente, terminar de pagar a minha casa, trocar de carro, porque antes eu não queria, mas agora eu já quero trocar, eu acabei de trocar, mas eu já quero outro já, que agora eu estou assim, como diz (2:13:49) “Você está muita burguesa”. Eu falei: “Estou, estou muito burguesa”. E ser uma referência tecnicamente, tecnicamente na minha área, de ir lá e falar: “Essa aí você pode ir lá, que ela vai te falar de cabo a rabo”. Eu ainda tenho muito ainda, eu ainda sou júnior, então eu tenho uma jornada muito grande ainda pela frente, minhas amigas dizem que eu não sou júnior, mas eu acho que eu sou júnior ainda, mas enfim. Eu acho que é isso, primeiro as minhas filhas, depois os bens materiais e consequentemente aí, o profissional.
(2:14:26) P/1 – E o que você gostaria de deixar como legado?
R – A persistência, a garra, porque eu acho que isso, eu não só falo, mas eu demonstro. Então, é isso, você quer, você traça um plano, pode dar errado, mas persiste, que uma hora vai dar certo, alguém vai te ver, mas isso, você precisa acreditar em você primeiro.
(2:14:56) P/1 – Até para poder pegar a direção e ir para qualquer lugar.
R – Exatamente. Até porque eu tinha medo de dirigir, né. E hoje eu pego rodovias.
(2:15:06) P/1 – É, ninguém para, fia.
R – Ninguém me para. Eu falo assim: “Agora ninguém me segura”. (risos)
(2:15:15) P/1 – Você gostaria de contar alguma história, alguma coisa que não tenha te perguntado?
R – Nossa, não Lu. Pelo amor de Deus, acho que eu estou 3 horas falando aqui, você viu 3 horas falando. E agora você pensa nisso em um lugar que tem 499 pessoas e pá, pá, pá, pá, pá, pá, e falando, é assim, é isso, isso que eu fiz aqui, é isso que eu falo nos eventos, é isso, a diferença é que como muita gente já me conhece, então já conto um pouquinho da história, já sabe alguma coisa, então só agrega. Então a gente teve uma lacuna aí, da pandemia, então tem algumas coisas aí, que o pessoal acabou meio que se perdendo, mas é só atualização, mas é isso. Obrigada pelo convite, eu estou extremamente feliz de falar, me emocionei várias vezes aqui, eu adorei o convite, eu adorei estar aqui, desculpa se eu falei demais.
(2:16:04) P/1 – Oxi.
R – E é isso.
(2:16:06) P/1 – Só para finalizar, como que foi para você essa experiência de quase poder ver a sua trajetória, ver de onde que você veio, para onde você está caminhando, e dividir aqui?
R – A primeira vez, hoje com vocês. É que eu faço isso desde lá de trás, porque, né, como é uma transição, então você pega dali do meio do caminho para frente. Então assim, são muitas coisas, falei coisa que eu achava que nem ia conseguir falar, tem uma série outra de coisas que ainda me dão gatilho, são coisas que ainda precisam ser trabalhadas para gente poder expor, mas assim, é muito bom, porque ainda mais falar sobre a doença, que agora que ela está mais em evidência, é muito difícil de falar, porque nem a minha família conseguia me entender. Então eu ver o Alisson falando: “Não, olha. Tenta que vai dar certo. Não, tira esse pensamento, que não é”. É muito legal, é muito legal.
(2:17:14) P/1 – Que lindo, que lindo. Obrigada! Obrigada! Obrigada! Obrigada por dividir um pouquinho só dessa trajetória, ver essa menina agora ganhando palco e que tem muita coisa para conquistar ainda, eu tenho certeza. Muito obrigada por estar aqui com a gente, de coração.
R – Obrigada vocês!
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