Memória Lello 70 Anos
Entrevista de Moira Toledo
Entrevistada por Genivaldo Cavalcanti Filho
São Paulo, 16 de agosto de 2023
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista LELLO_HV002
Transcrita por Selma Paiva
Revisada por Genivaldo Cavalcanti Filho
(00:19) P/1 – Boa tarde, Moira, tudo bem?
R – Boa tarde! Como vai, Genivaldo?
(00:21) P/1 – Tudo bem. E você?
R – Também. Tudo ótimo, graças a Deus!
(00:25) P/1 – Então, vamos começar com a pergunta mais simples: seu nome completo, sua data de nascimento e a cidade em que você nasceu.
R – Eu sou Moira Regina de Toledo, tenho 45 anos. Nasci em 21 de novembro de 1977, aqui em São Paulo, capital.
(00:43) P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – José Roberto de Toledo e Tânia Fator.
(00:49) P/1 – E no que os seus pais trabalhavam, ou trabalham?
R – (risos) A minha mãe é psicóloga. A vida inteira deu aula, lecionou, [é] superestudiosa, fez mestrado e doutorado. A vida inteira se dedicou aos estudos e à vida acadêmica propriamente dita e isso eu herdei um pouquinho, esse gosto pelos estudos. E o meu pai é um dos fundadores da área de condomínio da Lello, um dos sócios da Lello, sempre trabalhou na área imobiliária, o que eu também acabei herdando. Ou seja: eu sou uma filha que gosta de seguir o exemplo dos pais. (risos)
(01:25) P/1 – E você tem irmãos?
R – Eu tenho dois irmãos: um por parte de mãe e um por parte de pai. Meus pais se separaram quando eu tinha uns cinco, seis anos e aí minha mãe se casou novamente e meu pai também se casou novamente, mas a minha irmã por parte de mãe tem oito anos, só, a menos do que eu. Já o meu irmão por parte de pai tem doze anos atualmente, é uma criança. É mais novo do que o meu próprio filho, que já tem dezesseis.
(01:57) P/1 – E do que você gostava de brincar, quando você era criança?
R – Puxa, eu nasci na Mooca, assim como a Lello, que tem a sua sede lá. E na Mooca, naquela época, era um bairro...
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Entrevista de Moira Toledo
Entrevistada por Genivaldo Cavalcanti Filho
São Paulo, 16 de agosto de 2023
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista LELLO_HV002
Transcrita por Selma Paiva
Revisada por Genivaldo Cavalcanti Filho
(00:19) P/1 – Boa tarde, Moira, tudo bem?
R – Boa tarde! Como vai, Genivaldo?
(00:21) P/1 – Tudo bem. E você?
R – Também. Tudo ótimo, graças a Deus!
(00:25) P/1 – Então, vamos começar com a pergunta mais simples: seu nome completo, sua data de nascimento e a cidade em que você nasceu.
R – Eu sou Moira Regina de Toledo, tenho 45 anos. Nasci em 21 de novembro de 1977, aqui em São Paulo, capital.
(00:43) P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – José Roberto de Toledo e Tânia Fator.
(00:49) P/1 – E no que os seus pais trabalhavam, ou trabalham?
R – (risos) A minha mãe é psicóloga. A vida inteira deu aula, lecionou, [é] superestudiosa, fez mestrado e doutorado. A vida inteira se dedicou aos estudos e à vida acadêmica propriamente dita e isso eu herdei um pouquinho, esse gosto pelos estudos. E o meu pai é um dos fundadores da área de condomínio da Lello, um dos sócios da Lello, sempre trabalhou na área imobiliária, o que eu também acabei herdando. Ou seja: eu sou uma filha que gosta de seguir o exemplo dos pais. (risos)
(01:25) P/1 – E você tem irmãos?
R – Eu tenho dois irmãos: um por parte de mãe e um por parte de pai. Meus pais se separaram quando eu tinha uns cinco, seis anos e aí minha mãe se casou novamente e meu pai também se casou novamente, mas a minha irmã por parte de mãe tem oito anos, só, a menos do que eu. Já o meu irmão por parte de pai tem doze anos atualmente, é uma criança. É mais novo do que o meu próprio filho, que já tem dezesseis.
(01:57) P/1 – E do que você gostava de brincar, quando você era criança?
R – Puxa, eu nasci na Mooca, assim como a Lello, que tem a sua sede lá. E na Mooca, naquela época, era um bairro ainda onde os vizinhos se conheciam demais, onde a gente conseguia brincar na rua. Então, as minhas brincadeiras preferidas eram as que tinham interação com as pessoas e que aconteciam ao ar livre. Eu gostava muito de brincar de taco, a gente brincava na rua mesmo, jogando vôlei, correndo, empinando pipa.
Eu nunca tive muito essa coisa de brincadeiras de meninos e meninas. Meus pais acabaram sempre me estimulando a brincar daquilo que eu quisesse. Isso eu achei muito interessante, porque isso te dá uma potência enquanto pessoa, de acreditar que você pode ser qualquer coisa que você queira ser. Então, eu sempre gostei, enfim, de andar de bicicleta, de brincar de carrinho. Na parte das bonecas eu gostava mais de produzir as bonecas e brincar de fazer comida, por exemplo, do que aquela coisa meio de Barbie.
Eu sempre tive essa coisa de querer construir. Eu adorava brincar de coisas de mecânica, tudo que era de construir, de montar, Lego, essas coisas sempre me encantaram.
(03:21) P/1 – Você tinha algum sonho de infância?
R – Puxa, sonho? Eu sempre quis muito trabalhar. É engraçado, a história de desejo pelo trabalho nasceu antes até do que a própria vontade da maternidade, quando eu era criança. Enquanto as crianças, as minhas amigas brincavam com as bonecas e tal, eu já brincava, gostava de brincar de trabalhar e gostava muito de fazer coisas onde eu poderia me expor, do tipo teatro. Então, todo dia os coitados dos meus pais tinham que assistir uma peça nova que eu criava, por exemplo.
Uma das coisas que eu mais gostava de brincar também era de fazer, então, fantoche. Eu usava os brinquedos… Eu era filha única, às vezes eu estava sozinha, então os personagens eram os brinquedos que eu usava ali pra construir histórias. Essa coisa do lúdico sempre me acompanhou, no grupo da escola eu sempre estava envolvida com essas produções, eu gostava muito disso. E acho que esse era um sonho, de me realizar profissionalmente, essas coisas sempre estiveram por perto.
Mas acho que tem os sonhos de criança, mesmo. Quando você é bem pequenininha, sei lá, eu adorava balé, então foi a história da bailarina; aí, depois, eu me encantei pelos cavalos, aí eu adorava montar e eu sonhava em ser veterinária e aí, depois, eu desisti de ser veterinária.
Minha mãe teve uma grande ideia, falou assim: “Por que você não vai fazer Biológicas?” - isso já lá no colegial - “Acho que você está confundindo amar os animais” - eu sempre fui ‘louca’ por bicho – “com a profissão”. Aí eu fui tentar olhar e falei: “Gente, de fato eu não tenho habilidade pra isso.” Uma coisa é gostar, outra coisa é você ser médico, porque veterinário é ser médico, só que de animais. Então, de fato, não era um talento meu e aí eu percebi que não era, mas essa coisa pelos cavalos preencheu um grande tempo da minha vida. Acho que durante uns seis, oito anos eu era aficionada por esse mundo dos bichos. E acho que eram esses os sonhos, mas eles foram mudando, a gente vai evoluindo e os sonhos vão evoluindo junto com a gente, a gente vai mudando de sonho, vai construindo, conforme você já atinge um, você já planeja o próximo. Até hoje todos nós temos muitos sonhos.
Quando a gente engravida a gente quer, o maior sonho é um filho que nasça com saúde, que seja pleno, tal. Depois, quando você já tem isso, você quer o bem-estar, a felicidade do seu filho. Então, eu acho que a gente vai construindo nossos sonhos, que estão sempre conectados com o nosso momento de vida.
(06:15) P/1 – Você estava falando sobre escola, sonhos que você teve nesse período. Qual é a primeira lembrança que você tem, quando você pensa em escola?
R – Bom, quando eu penso lá atrás, na escola... Eu amo escola, primeiro isso. A história da vida acadêmica - eu contei um pouquinho da minha mãe - isso também me acompanhou. Eu gosto, tenho prazer em estar dentro da universidade, ou dentro da escola, então eu tenho uma relação muito boa com a escola, desde o começo. Mas a primeira escola que eu estudei (risos) é um momento interessante, porque eu estudei numa escola de freira da Mooca e naquela época eu mordia as crianças. (risos) Então, acho que talvez eu tenha sido a única criança de três anos que foi expulsa da escola. (risos) Não que eu tenha sido efetivamente expulsa, mas a freira chamou minha mãe e falou: “Olha, sua filha tem umas ideias bastante evoluídas, ela acaba mordendo as crianças, acho que não se adaptou direito. Acho melhor você procurar uma outra escola pra ela”. Foi um jeito educado, mas eu não me adaptei direito na escola de freiras, porque eu já tinha... Eu sempre fui muito questionadora, até pela própria criação que eu tive, de construir novas coisas, então eu nunca... As regras, pra mim, precisam fazer sentido, ter coerência, a gente precisa produzir de fato, porque se não perde a razão e acho que isso transpareceu ali, já com três, quatro anos de idade. (risos)
Aconteceu isso e rapidamente eu passei pra uma nova escola, de bairro, que era muito legal e eu tinha uma amiga muito querida, que estudava lá. Ali eu já teci muitos amigos e fiquei nessa escola a vida toda, desde o comecinho até a oitava série, na época. Só tenho coisas boas pra lembrar, das amizades, das festinhas um pouquinho mais pra frente, dos próprios professores, com muito carinho.
Estudei numa escola que chamava Civitatis, que era uma escola lá da Mooca, de bairro - na verdade, pertinho da Vila Prudente. Ela fica perto de onde hoje é o metrô da Vila Prudente. E eu ia a pé, a gente podia ir a pé e eu levava a minha irmã de mão dada. Imagina! Eu tinha, sei lá - a minha irmã tinha uns quatro aninhos - uns doze, treze anos e podia andar pelas ruas de São Paulo a pé, com a minha irmã, uma criança levando a outra pra escola, porque a gente morava pertinho.
Acho que essa coisa do ir e vir, de estar na rua, de ocupar a cidade é uma coisa que sempre, também, a Mooca me trouxe muito - essa vida diferente, porque São Paulo é uma cidade desafiadora e quando você constrói isso na infância, você olha pra sua cidade de um jeito bastante diferente. Essa coisa da escola também ser um ambiente de comunidade, de formação de relacionamentos, de bem-estar, essa coisa do social também, pra mim, se relaciona com a escola.
Depois de lá eu fui pro Mackenzie, que é uma escola enorme, então eu saí de uma escola pequena, de bairro, pra uma superescola e fui pro Mackenzie por conta disso: eu queria ser veterinária, lá tinha Biológicas, na escola onde eu estudava não tinha. Minhas amigas todas estavam saindo, porque terminava a oitava série e não tinha mais colegial naquele colégio que eu estudava; minhas amigas todas iam pra um escola que era não tão forte, minha mãe falou: “Não, pra aquela escola você não vai. Escolhe qualquer outra, que você pode ir” e aí eu prestei o vestibulinho do Mackenzie, entrei lá e fui fazer Biológicas.
Tinha muitas aulas de laboratório, mas eu estranhei muito a mudança, porque você imagina: sair de uma escola de bairro, onde todo mundo me conhecia pelo nome, onde eu tinha feito a formação, que eu andava a pé, eu ia a pé e voltava, conseguia fazer muitas coisas no dia, pra uma escola que era distante, porque da Mooca até o Mackenzie levava cinquenta minutos, uma hora, pra chegar e que era enorme, porque juntava com o colegial, com a faculdade. Mas foi legal também, porque eu fiz amigos na faculdade, eu frequentava o Centro Acadêmico. Eu sempre gostei de estar com as pessoas mais velhas, sempre gostei de circular muito entre os mais velhos, mais novos, eu gosto dessa coisa de conversar com várias ‘tribos’ e isso acontecia no Mackenzie, então foi interessante.
Quando, depois, eu fui prestar o vestibular, saí de casa dizendo que ia fazer pra Veterinária e voltei com inscrição em Direito. (risos) Prestei só duas faculdades, dois vestibulares, na verdade: o da USP e o da PUC. Como eu não tinha pesquisado muito sobre Direito, foi uma coisa que me apareceu na hora, um pensamento. Na inscrição do vestibular da PUC eu coloquei como primeira opção São Bernardo, porque a faculdade de Direito de São Bernardo… É muito mais fácil você ir da Mooca do que da Mooca, por exemplo, pra PUC. Pro Mackenzie eu já levava uma hora, que é um pouquinho mais da metade do caminho, imagina na PUC! Eu levava uma hora e vinte, uma hora e quarenta, em um dia de trânsito, pra chegar. E São Bernardo não, eu chegaria em 25 minutos, meia hora. Então, eu fui pra São Bernardo.
Passei na São Bernardo e amei a experiência também. Era uma escola boa, forte, uma faculdade só pra Direito. Ela tinha dez salas: dois primeiros anos, dois segundos, dois terceiros, dois quartos, dois quintos, com excelentes professores. Era uma das melhores universidades na área, daqui de São Paulo. Foi muito bacana, fiz amigos que eu carrego até hoje, foi muito legal.
Acho que depois eu fui fazer pós-graduação, depois fiz mestrado na USP. É uma coisa que eu gosto, não canso de estudar. Eu falo que na hora que eu cansar de estudo eu vou voltar, pra fazer uma faculdade de Arquitetura, porque é um dos meus sonhos (risos) que eu ainda preciso concretizar.
(12:32) P/1 – Mas conta um pouquinho pra gente a respeito da faculdade. Como foi pra você a adaptação? Porque você estava em outro lugar, não tinha mais aquelas matérias de ensino médio. O primeiro impacto, como foi pra você?
R – Putz, pra mim foi apaixonante, muito interessante o processo. Na verdade, eu já tinha um vínculo com a própria Lello, porque eu brinquei muito na Lello, durante a infância, então eu já frequentava. E quando eu decidi que eu não ia ser veterinária, o que me passou pela cabeça foi assim: “Puxa, e agora, o que eu vou estudar? A Lello é uma empresa grande, não vai ter jeito. No fim do dia eu vou acabar, uma hora, me aproximando daquela história. Ainda que eu queira construir a minha própria história, vai chegar o dia que eu vou me encontrar com a Lello e eu poderia fazer algo que permitisse isso”. Aí eu pensei no Direito, porque eu sempre gostei muito, eu já tinha essa coisa de redação, de leitura, de construir histórias, fazer defesa. Essa coisa de convencimento sempre foi uma habilidade que eu exerci durante bastante tempo, eu gostava de me expor, de falar, então eu achava que aquilo tudo combinava com a área do Direito e foi um acerto.
Quando eu entrei na faculdade… Eu comecei a trabalhar um mês antes de entrar na faculdade, já na Lello, como estagiária da área de Direito e frequentei todos os fóruns, andava na João Mendes, em todos os andares, estagiando mesmo, aquela coisa de balcão, que hoje nem tem mais, porque hoje os processos são eletrônicos, mas na época, no meu primeiro trabalho, o motoboy trazia de manhã as publicações, eram uns recortes de jornal e a gente tinha que tirar aquele recortezinho e colar na fichinha do processo certo, pra depois separar essas fichas, pra ele ir no Fórum. Então, era tudo muito... Imagina, sem computador, sem nada, fichinhas aqueles fichários.
Eu comecei a trabalhar antes das próprias matérias. As coisas foram se conectando de uma maneira muito natural e o trabalho acabava me despertando o desejo pelo estudo e vice-versa, então teve muita sinergia nessa história. Mesmo durante o curso, eu fui fazendo cursos paralelos na área do Direito Imobiliário, então de fato foi uma coisa que me apaixonou, uma grande paixão. Eu tenho um amor enorme por essa área do conhecimento.
(15:19) P/1 – E depois do seu estágio da Lello quais foram os passos seguintes?
R – A história é bastante interessante, porque daí eu fiz o estágio até o quarto ano e quando chegou no começo do quinto eu falei: “Puxa, agora eu preciso estudar mais. Cheguei à conclusão que eu não sei nada”, porque quando você aprende no Direito, você vai aprendendo as matérias todas estanques: Direito Civil, Direito Penal, Processo I, II, III, IV, só que quando você vai analisar um problema isso tudo tem que estar conectado na sua cabeça e quando você está aprendendo na faculdade não parece que está tudo conectado, então eu senti a necessidade de conectar tudo isso.
No segundo semestre do quinto ano eu parei o estágio, na verdade, pra fazer cursinho. Eu estudava de manhã, fazia o cursinho à noite e à tarde eu estudava o dia inteiro. Foi uma época superdedicada aos estudos. Depois disso eu falei assim: “Puxa, na hora que eu terminar eu vou procurar um emprego, porque eu acho que eu tenho que ter um emprego em outro lugar”, aí comecei a mandar os currículos. Prestei um concurso pra estágio na procuradoria, passei em terceiro lugar na procuradoria do município e fui olhando isso, mas a gente teve um problema com a advogada que era a minha líder, vou contar assim.
Quando eu já tinha acabado de me formar, fui passar... Fiz uns dois meses de férias, tipo o fim da faculdade, pra dar uma descansada. Quando eu voltei, que eu estava bem nessa fase que eu estava firme na procura do emprego, a gente teve esse problema, aí o Zé Roberto falou assim pra mim: “Escuta, assume aqui, só um pouquinho, só pra gente passar por essa fase. Depois você vai procurar esse emprego que você quer, mas assume aqui, só um pouquinho” e isso durou três anos.
Depois de três anos lá dentro, surgiu a oportunidade de eu montar o meu escritório e a Lello passar a ser um dos clientes do escritório. Eu poderia atender outros clientes, porque eu tinha muita vontade de construir uma história minha, de não ficar só nessa questão. Eu achava que era muito importante isso, não ficar só lá dentro, pra ter outras experiências, antes de poder estar de lá, de fato. E aí eu tive escritório, por dezessete anos. Eu saí do escritório, foi uma história superlegal.
Sempre também gostei muito de dar palestras, de estudar, então o escritório foi crescendo, a gente foi construindo uma história nessa área do Direito Imobiliário, em especial na área de locações, era uma referência e foi legal, mas eu sempre estive com um ‘pé’ [na Lello], porque a paixão, o amor pela Lello, sempre esteve lá, presente.
Em determinado momento eu falei assim: “Bom, agora está na hora de eu voltar”, então fiz a retirada da sociedade do escritório e voltei pra ‘dentro de casa’, pra Lello de volta e estou lá, desde... Foi um pouquinho antes da pandemia, em 2019.
Foi um desafio, porque eu fiz essa transição de carreira bem em 2019. Antes de fazer a transição, eu fiz coaching, pensei, porque a gente tem que elaborar um pouco uma fase, um pouco de terapia, mas cheguei à conclusão que era isso mesmo e aí foi bacana.
Aliás, você me perguntou sobre brincar; acho que uma das principais brincadeiras que eu mais gostava era de brincar dentro da Lello. A Lello se confunde um pouco com a minha história de criança. Todo mundo brinca; quando eu era criança, quando chegava nas férias escolares, eu colocava uma roupa de adulto, tipo um blazer, um negócio assim e queria ir pro trabalho. Eu ia pra Lello e naquela época não tinha tanto computador, tanta coisa, então eu ia muito nas férias, principalmente nas de dezembro e janeiro, [quando era] pequena. Eu colava os envelopes, porque imagina todas as atas, os boletos, coisas que hoje a gente faz por e-mail, você tinha que dobrar, colocar num envelope, colar, colocar no correio - era esse o mundo, naquela época. Então, eu fazia isso: dobrava as cobranças, as atas dos prédios, as convocações de assembleias, a gente conferia tudo, colava, mandava; embrulhava muita agenda, que a gente dava agenda de presente de Natal. Adorava fazer pacote das agendas.
Todas as férias eu ia lá brincar e menorzinha ainda, me lembro bastante, tinha... No centro administrativo, hoje - talvez o centro administrativo tenha começado em 1980, algo assim - a gente tinha um porteiro lá que se chamava seu Manoel, que tinha uma gavetinha cheia de balas. Quando eu passava pela porta, a primeira coisa: seu Manoel me dava uma balinha, então eu adorava. Entrava naquilo, brincava de fazer compras no almoxarifado, gostava de sentar do lado da secretária, pra aprender a datilografar. Teve um Dia das Crianças, eu tinha acho que uns oito anos; eu pedi uma máquina de escrever de presente de Dia das Crianças, então é engraçado: minhas brincadeiras eram sempre de trabalho, de profissão, de interação com pessoas, sempre assim. E a Lello fazia parte das minhas brincadeiras, eu adorava.
Tinha vezes que eu ia lá, sentava do lado da secretária e eu era a secretária da secretária, então eu levava os papéis, colocava nas mesas. (risos) Fazia o que tinha (risos) pra fazer, servir o café, qualquer coisa eu sempre tive vontade de fazer. E isso também aconteceu quando eu fui pro estágio: eu acabava fazendo meu trabalho rápido, às vezes sobrava um tempinho ocioso e eu gostava de aprender o trabalho das outras pessoas. Eu sentava na mesa da pessoa, ficava assistindo lá o que ela estava fazendo e queria, depois, eu mesma fazer, então fui brincando com isso e construindo meio sem querer essa profissão que, no fim, virou tão... Tenho muita conexão, a Lello é como se fizesse parte de mim mesma. É uma história bastante interessante.
(22:13) P/1 – E o que você viu de mudanças ao longo desse período da Lello?
R – Nossa! Muita coisa. Eu falo, o mundo se transformou demais. As primeiras lembranças - eu nasci em 1977 – que eu tenho, dentro da Lello, eu tinha, sei lá, uns quatro, cinco anos, porque eu já comecei a ir ao escritório com essa idade. No começo, mais pra acompanhar meu pai.
A gente fazia umas festas. A Lello Construtora e Vendas ficava numa casa que tinha um grande pátio no meio e às vezes, de fim de semana, a gente fazia churrasco, festa junina, então eu ia de caipirinha, fazia várias coisas, celebrava tudo quanto era dia naquele lugar.
Nesse lugar também, como tinha construtora, tinha as arquitetas, os engenheiros e as pranchetas, com as canetinhas. Era um lugar que eu amava ficar, então eu ia pra lá, pra ficar desenhando prédios. (risos) Acho que daí que veio o tal de sonho de Arquitetura, que ainda vou realizar, mas ficava lá, desenhando prédios, brincando; sempre gostei muito dessa coisa do desenho, enfim, do colorido, da organização dessas coisas, sempre me encantou.
Eu lembro dessa Lello, que era uma Lello ainda de bairro e que depois foi crescendo. Naquele momento, eu lembro quando chegou o primeiro computador da Lello; eu me lembro [que] ocupava uma sala inteira, era uma coisa enorme e ele rodava com aqueles papéis... Ai, tem um nome aquilo. Era um papel verde e branco, que tinha uma espiral nas laterais, onde ele girava naquele computador e ali imprimia. Formulário contínuo que falava, acho. Eu adorava ver aquilo rodando, com a impressora do computador escrevendo. De vez em quando eu pegava uma parte daqueles papéis e gostava de escrever nas linhas verdes e brancas.
Ele ficava bem no começo, na entrada da empresa. É interessante isso, porque uma imobiliária... Na época ninguém nem pensava em investir em tecnologia. A Lello já investia em tecnologia, já tinha esse computador, que era do tamanho de uma sala e numa imobiliária, ao invés de você ter uma área de negócios na entrada, você tinha um grande computador - na minha opinião, já dando sinais de que isso era importante. Os sócios sempre foram muito visionários e de que talvez esse fosse nosso grande diferencial, que fosse por aí que nós fôssemos crescer e, de fato, isso aconteceu. A importância da tecnologia nessa história também é interessante.
Eu lembro dessa Lello, que era muito analógica, onde as festas aconteciam, onde a gente desenhava, onde a gente tinha as máquinas de escrever. Lembro depois, quando chegaram aquelas máquinas que apagavam. Aquilo já era um avanço impressionante, porque antigamente a gente tinha que pôr aquele ‘branquinho’, depois a coisinha lá, que encaixava. Depois já tinha aquela que era meio computadorizada, mais automática, apagava sozinha. Aquilo era uma coisa de primeiro mundo, fantástico. Nem tinha em todos os pontos, nem todas as pessoas tinham, mas já existia.
Tinha também uma coisa que eu me lembro muito, uma salinha onde ficava a telefonista. A gente tinha uma PABX enorme, aqueles cheios de linha e ela conectava um fio, tirava de um lugar, ou de outro. Ela se chamava Dona Regina. E você imagina: numa empresa que já começava a ganhar um volume, que já tinha muitos ramais, mas ainda a conexão era aquela coisa... A transferência da ligação era uma coisa extremamente manual.
Toda essa evolução tecnológica se mistura com a própria história da empresa. Eu vejo a empresa caminhando nessa evolução tecnológica de uma maneira bastante interessante, até chegar nos momentos onde todo mundo teve o seu próprio computador pessoal, primeiro os grandes, que tinham aquela telona, a gente usando aquele DOS. Eu cheguei a fazer curso pra programar em DOS, usar Word, Excel, bem no começo - depois, hoje, é o mínimo. Meu filho acho que nasceu sabendo fazer essas coisas, não sei… (risos) Mas é a impressão que eu tenho, porque não tem mais curso disso, as crianças devem nascer sabendo. É muito interessante. (risos)
Todo esse trajeto aconteceu. A Lello também se confunde um pouco com o próprio contexto da cidade, porque eu lembro nesse começo, dessa Lello mais analógica que eu conto, por exemplo, na Avenida Paes de Barros, que era onde ficavam esses dois, três pontos principais, toda de casas; alguns prédios, já tinha prédios maiores, mais altos, mas muita casa ainda. [Era] muito menos verticalizado do que é hoje, com outro padrão. Então, acho que tudo isso se mistura. Um bairro que vai crescendo.
Ainda que a Mooca preserve muita coisa de antigamente, ela ainda parece essa vila italiana, ainda tem alguns resquícios disso, de interação, mas você percebe que durante algum tempo a vizinhança perdeu um pouco isso e depois recuperou. Hoje, na Mooca, você vê... Isso porque a Mooca é um bairro de muita conexão.
Aliás, esse é um ponto interessante: quando eu me afastei da Mooca e casei pela primeira vez, meu ex-marido era do Campo Belo. Ele queria morar no Campo Belo, eu falava: “Gente, não. Campo Belo é um bairro escuro, onde não se anda na rua, os vizinhos não se encontram” – porque eu já frequentava lá com ele. “Não consigo morar num lugar desse, eu preciso” – andei na rua a vida inteira – “ter um lugar que eu ande na rua”. Aí a gente fez um combinado, fomos parar em Moema. Em Moema, eu moro na mesma rua há dezessete anos. Eu falei: “Eu construí uma Mooca em Moema”. Tudo que eu fazia na Mooca, de interagir com os vizinhos, falar com todo mundo no elevador, ir na feira comprar flor - todo sábado meu programa é ir à feira - e todo mundo me conhece, a barraca do pastel, disso e daquilo.
A vida que eu tinha na Mooca, o posto de gasolina, essas conexões com todas as pessoas acontecem agora em Moema, mas eu tive isso, eu negociei de estar em um bairro que me propiciasse esse andar, esse caminhar, esse viver a cidade. Eu não consigo, de maneira nenhuma, me isolar num bairro que não me permita a rua, sabe? E São Paulo tem bairros que são mais complexos, mais escuros, que as distâncias são mais longas, onde o caminhar, o interagir, o bairro não convida isso. Acho que a Mooca moldou a minha personalidade, e a Lello, pra fazer com que isso seja uma necessidade, mesmo. Eu falo que tanto quanto beber, comer, eu preciso interagir com as pessoas, senão não funciona, não consigo ficar feliz.
(30:05) P/1 – Então, me conta um pouco como foi esse seu retorno pra Lello. Você disse que foi um pouco antes da pandemia.
R – Isso. Meu retorno pra Lello foi assim: eu estava num momento de carreira onde eu achava que ou eu faço o escritório crescer, me envolvo... Eu tinha ‘um pé em cada canoa’, eu não deixava a Lello, porque eu sempre trabalhei, olhava a questão mais estratégica, estava envolvida com algumas áreas de negócios, até com o Jurídico, porque como eu era o Jurídico que atendia lá, eu me envolvia, mas mais do que um Jurídico externo se envolveria normalmente e tinha esse outro olhar, que era olhar pro próprio escritório. E essa divisão não era boa nem pra Lello, nem pro escritório. Então, eu cheguei num momento que eu falei assim: “Puxa, vou ter que tomar uma decisão”.
Eu tinha o escritório que tinha construído, que era uma referência. Enquanto advogada eu adoro, eu falei que amo o Direito Imobiliário, eu gosto de fazer o que faço, já tinha conquistado algum espaço em algumas áreas, então eu tinha esse olhar de como interagir com isso, de olhar isso e fazer isso crescer, evoluir, ou de fato ir pra Lello e poder contribuir mais especificamente e estar lá, junto.
Fui pensar a respeito e cheguei à conclusão que, de fato, a Lello era o caminho correto, era o que estava mais intrínseco em mim, que fazia parte da minha história e que, na verdade, todo mundo, as pessoas olham pra mim e veem a Lello, ou vice-versa, é muito interessante como isso foi se misturando. Então, eu resolvi que esse era o caminho ideal e fiz com cuidado a retirada do escritório, encontrei uma pessoa que pudesse assumi-lo e ‘tocá-lo’. Ele existe até hoje, está ‘tocando’ e foi ótima a transição, deu tudo certinho. De outro lado, fui entender qual o papel que eu tinha que desenvolver lá na Lello, o que era importante pra empresa naquele momento.
A Lello, muito embora tenha essa origem de bairro, tenha esse pensamento, embora a gente possa chamar de uma empresa familiar nesse sentido, de ter sido construída... Ela não é bem familiar. Primeiro que os sócios que originaram a empresa já não estão mais na sociedade. Quem fez a empresa crescer, ser pujante mesmo foram essas pessoas que compraram depois, que é o Zé Roberto e o Couto e que, de fato, transformaram a empresa numa referência. Hoje é a maior empresa do Brasil, em termos de gestão condominial, muito provavelmente uma das dez maiores do mundo, então é uma empresa que virou uma referência naquilo que ela resolveu atuar. Ela não é bem familiar, porque isso foi construído em cima de muito profissionalismo mesmo e de pessoas que pudessem fazer essa gestão. Sempre teve esse olhar de colocar as pessoas corretas nas posições certas, de trazer essa profissionalização, mas ainda não é uma companhia de capital aberto, então ela ainda tem uma questão de governança, de montar conselhos, fazer uma estruturação, que é importante.
Quando a gente começou a olhar pra isso, a gente falou assim: “Puxa, a gente está aqui, nesse meio do caminho e talvez esse conhecimento do Direito possa acrescentar, somar aqui, na construção dessa governança ideal, da gente fortalecer o lado do compliance”. A gente sempre teve, mas não esse pensamento estruturado, então [era necessário] trazer esse pensamento estruturado, criar regras específicas em termos de governança, evoluir com essa questão, que é tão importante e fundamental pra uma empresa que atingiu o tamanho que tem e que possa crescer, que tem espaço pra crescer mais ainda nos próximos anos. Foi esse o pensamento, de vir pra esse lugar, mas numa posição mais transversal e estratégica, vou dizer assim, pra construir esse lugar de governança, essa avaliação de risco, fazer essa tomada, essa mudança na gestão, que era uma coisa que eu poderia aportar com o conhecimento que eu tinha ali, adquirido, durante todo esse tempo. Inclusive eu falo: o conhecimento do Direito é superimportante pra avalição de risco, pra construção dessas situações.
Foi assim: a gente foi desenhando como seria essa entrada e a ideia sempre foi… A Lello, teve um determinado momento que foi construída [de forma] muito verticalizada, então a gente tinha, praticamente, duas empresas diferentes: uma que a gente chama Lello Imóveis e a outra Lello Condomínios. Um dos meus papéis era buscar, cada vez mais, fomentar a integração disso, pra que ela voltasse a ser uma empresa única. Um dos trabalhos, um dos desafios era esse, essa conexão, porque eu conseguia transitar nas diversas áreas. [Fazer] a estruturação desse programa de governança, compliance e gestão de riscos e também [manter] um papel que a Lello sempre prezou e que é muito importante, de devolver um pouco pra sociedade e pro ambiente econômico onde a gente atua aquilo que a empresa pode colaborar. Tem um papel de relações institucionais, governamentais e de olhar pra tudo isso, que precisa ser feito.
Antes [isso] era feito pelos sócios e hoje eu que assumi esse papel, então hoje eu tenho onze cargos em instituições diferentes, que é justamente pra que a gente possa construir um ambiente regulatório propício pra isso, pra que a gente possa interagir com a sociedade em prol da própria sociedade, de construir relações melhores. Esse nosso olhar da cidade, de provocar uma cidade, tentar chamar muitas pessoas pra criar essa cidade que a gente deseja viver, a tal da “minha Mooca”, ou do que eu fiz de Moema com a Mooca é um pensamento enraizado dentro da gente, não é uma história. É uma coisa que a gente, de fato, acredita que pode contribuir. Nessas coisas todas o lado institucional ajuda muito, a gente tem essa preocupação de olhar pra isso, ajudar na construção da legislação, isso sempre esteve presente.
A Lello, por exemplo, em 1978, acho, era associada número um da ABIC, que é a Associação das Administradoras de Bens, Imóveis e Condomínios de São Paulo. O Zé Roberto já foi presidente da instituição, na sequência, mas ele provocou isso, porque ele entendia que era necessário ter um lugar pra fazer benchmark, trocar informações, pra que esse público pudesse interagir, pra que a gente olhasse pros nossos condôminos, síndicos e ver como a gente pode melhorar todo esse ambiente, de todos os stakeholders que estão em volta da nossa atividade. Essa preocupação sempre existiu.
Por exemplo: o Zé Roberto, na época, teve um papel bastante importante na construção da lei do inquilinato, que é a 8245, de 1991, que é um divisor de águas no mercado de locação. A gente tinha um mercado de locação antes da lei e um depois, porque antigamente as leis protegiam tanto o locatário, que o locador ficava muito desestimulado em investir. Com isso você tinha uma retração de oferta, poucas oportunidades e existia um movimento meio bélico entre o locatário e o locador, porque poucas oportunidades fazem com que os locatários percam força na negociação e o locador, com medo das restrições todas, daquela lei protetiva, se indispunha com o locatário. Era essa situação que a gente tinha lá atrás, antes de 1991. Com essa lei, ela trouxe um equilíbrio, tirou um pouco da proteção do locatário. Ela tinha o objetivo de propiciar uma gradual liberação do mercado, das pessoas poderem fazer os combinados valerem, de atrair o investimento, porque o mercado de locação depende de investimento privado. Não dá pra gente imaginar que o governo vá resolver nossos problemas de habitação, porque a iniciativa privada precisa colaborar e é ela que faz a diferença com relação a isso. Sentiram-se de fato motivados em investir e com isso aumentou a oferta, você teve um reequilíbrio dessas relações.
Hoje a gente vê: numa cidade como São Paulo a gente faz um acompanhamento do volume em ações distribuídas, só de matéria locatícia mensal no Fórum de São Paulo, da cidade - da comarca, aliás - mil processos. É nada, perto do volume de locações que existem numa cidade como a nossa. E 80% desse volume é por falta de pagamento, que é a obrigação principal, ou seja, as outras questões são 20%. É nada. São duzentos processos que as pessoas não conseguem resolver os seus problemas. Por quê? Porque a lei ficou tão equilibrada, que consegue. Então, tem esse pensamento e foi uma construção.
Eu lembro, era criança ainda. O telefone de casa não parava, porque as redes de televisão, de rádio ligavam a todo momento; era uma dinâmica um pouco diferente da atual, porque era tudo meio ao vivo, falava no rádio na hora. Hoje ainda tem muito ao vivo, mas hoje grava muito, até no seu celular, é um pouco diferente, mas eles tocavam e chamavam o tempo inteiro, porque estavam nesse momento de discussão da legislação. Era uma situação tão bélica, que dentro desse comitê que discutia a lei do inquilinato tinha a Comissão dos Inquilinos Intranquilos, quando tinha uma lei superprotetora. Se tinha uma lei superprotetora, por que eu precisava da Comissão dos Inquilinos Intranquilos? Por causa da retração de oferta, hoje eu tenho uma lei que não é tão protetora, que trouxe mais equilíbrio pra essa relação e essa tal dessa comissão desapareceu, porque ela perdeu a razão de ser.
Isso é muito interessante de ver, de como a gente pode colaborar e agora tem outros momentos. A própria assembleia eletrônica foi uma coisa que a gente participou ativamente e foi uma coisa extremamente importante na época da pandemia. Depois, veio uma lei pra isso e nós trabalhamos na construção do texto legal, então a gente sempre está tentando olhar pra isso e colaborar na construção do ambiente regulatório - e não só do ambiente regulatório, mas também quando ele não precisa ser regulado, em provocar relações mais saudáveis nesse contexto todo, do morar, do conviver, essas coisas todas que transitam, que permeiam a nossa atividade.
(41:54) P/1 – Você tinha falado da pandemia e eu gostaria que você falasse um pouco sobre como foi, tanto pessoalmente, pra você, quanto também pra Lello, pro trabalho, como isso se deu.
R – Tá. Nossa, eu falo: a pandemia foi um desafio pra todo mundo. Eu me lembro que uma semana antes da data do fechamento eu estava em Brasília pra uma reunião, porque um dos papéis que eu faço é dentro da CBCSI, que é a Câmara Brasileira de Serviços Imobiliários. A gente reúne todos os Secovis lá em Brasília, do Brasil inteiro, pra conversar a respeito do setor. Eu estava lá e uma das pessoas falou assim: “O que você acha? Você acha que vai fechar? Porque estão falando que vai fechar”. Eu falei: “Gente, não é possível que vai fechar”. A gente não estava acreditando, ainda, naquele momento, uma semana antes da data do fechamento, e na semana seguinte veio aquela notícia: “Precisamos fechar”.
A Lello já tinha mil colaboradores, uma empresa com 23 agências, porque ela é bastante espraiada pela praia, pelo interior. A gente precisava fazer as coisas funcionarem e colocar essas mil pessoas em segurança, dentro das suas casas - mais do que isso, tinha muitos outros desafios. Naquela hora nós percebemos primeiro que o mundo era um grande condomínio. Se nós somos gestores de condomínio, ali a gente percebeu que, de fato... A gente sabia da história da globalização, todo mundo tinha essa... Isso já era estudo, a gente aprendia na escola o fenômeno da globalização, mas a gente não tinha essa noção do contexto, de como era tudo tão rápido, como uma pandemia dessa poderia se espraiar para o mundo inteiro, daquela maneira que foi, tão agressiva e tão rápida, que foi o que aconteceu ali, naquele momento. Ali trouxe essa noção de que, mais do que nunca, a gente habita num grande condomínio e que a gente tem que cuidar desse condomínio onde a gente habita.
Talvez isso até tenha, depois, nos impulsionado ainda mais pra prática de ESG [Ambiental, Social e Governança], que depois a gente comenta, mas ali foi um primeiro momento e a gente pensou nos nossos colaboradores. Primeira coisa: vamos pensar nos nossos colaboradores, vamos pôr essa turma em casa, trabalhando com tranquilidade.
Todos os investimentos em tecnologia que nós já tínhamos feito nos prepararam pra esse momento. Então, por exemplo: a assembleia eletrônica, uma das coisas principais. Tudo, num condomínio, é decidido em assembleia. A assembleia é o ente maior, a maior autoridade dentro de um condomínio, onde as pessoas tomam decisões coletivas, que vão determinar como aquela coletividade vai caminhar. A ‘caixa acústica’ do condomínio é a assembleia e ela precisava funcionar. Ali, em março, quando teve o fechamento, é bem a época que acontecem as assembleias ordinárias, onde você tem a produção de contas das anteriores, a previsão orçamentária da próxima e onde você tem até a renovação dos mandatos de síndico. O condomínio precisa dessa renovação, pra poder pagar suas contas, pra ter representatividade, então realizar as assembleias era uma necessidade. Por um acaso a gente estava desenvolvendo o sistema da assembleia eletrônica dois anos antes da pandemia - ele ficou pronto em fevereiro e a pandemia veio em março. Foi um acaso, mas pra gente ter pensado na história da assembleia eletrônica foi fundamental, porque nos deixou prontos pra enfrentar a história da assembleia naquele determinado momento.
Acho que essa coisa do investimento em tecnologia, da gente pensar o futuro, esse olhar visionário que os sócios sempre tiveram nos permitiram - claro, com todo sofrimento que a pandemia trouxe, considerando todas essas nuances, incertezas, mas eles nos deram algumas ferramentas a mais. Eles nos viabilizaram alguma segurança, alguma facilidade nesse momento tão crítico, mas o ponto é: naquele momento ninguém sabia exatamente o que fazer, acho que nenhuma área. Nós montamos uma espécie de comitê de crise, os sócios desceram pra operação mesmo, então eram reuniões diárias, a gestão com a liderança principal, pra gente entender cada um dos passos que a gente ia fazer no dia seguinte.
Na sequência, uma segunda coisa que veio, foi: “Puxa, todo mundo fica em casa, mas os condomínios precisam funcionar e pra esses condomínios funcionarem e terem segurança nós precisamos dos porteiros e dos zeladores. E essa turma, como é que vai ficar?” Eu não sei se vocês se lembram, nessa época a gente não tinha álcool disponível, falavam até pra gente não usar as máscaras, depois ‘usa máscara’, mas não tinha. A primeira coisa que a gente fez foi mandar produzir máscara pra todo esse pessoal, pra eles poderem transitar na rua com um pouco mais de segurança, aquelas máscaras de tecido, na época, kits de higiene com gel e muita informação, pra todo mundo, então a gente colaborava com isso. Primeira coisa: “Vamos cuidar das pessoas e depois vamos ‘tocando’ a empresa, naquilo que ela precisa, mas vamos cuidar das pessoas, com as reuniões de gestão de crise.”
Paralelamente a isso teve um movimento institucional também, porque eu já estava ali, bastante envolvida e já nessa posição, eu assumi a vice-presidência de Gestão Condominial no Secovi, que é uma entidade bastante importante, que dá direcionamento mesmo pro mercado, porque é o sindicato, mas é a ‘casa’ do mercado imobiliário, onde se constrói conhecimento, inteligência. Todo mundo, como não sabia o que fazer, ligava no Secovi pra saber: “Puxa, e agora? As empresas podem funcionar? Pode ter gente presencial, os porteiros?” E o Secovi era, também, fonte pra construir os protocolos - a gente ajudou o Poder Público na construção dos protocolos.
Eu brinco, falei assim: nunca trabalhei tanto na vida, porque a gente estava em casa, on-line, não tinha timing, não tinha estar fora. A gente estava aprendendo ainda a fazer esse trabalho remoto, então a verdade é que a gente trabalhava, sei lá, umas catorze, quinze horas por dia, parava pra dormir nesse momento, porque precisava construir muita solução, escrever protocolo, olhar pra empresa, pras assembleias, enfim, criar essas diretrizes de como as coisas funcionariam e era tudo em ambiente de teste real, porque você tomava uma decisão, via no dia seguinte se funcionava; se não funcionava você recuava, ia pra frente. Ninguém nunca tinha lidado com uma situação como aquela nesse mundo moderno, então de fato a gente foi experimentando, evoluindo e retraindo protocolos de segurança e de cuidados conforme o mundo também foi evoluindo em relação a isso.
Eu falo [que] foi um desafio enorme, mas hoje, quando a gente olha pra trás e vê... Claro que tem essa dor de tantas vidas que foram perdidas, a pandemia não foi boa pra absolutamente ninguém, tem que ter o maior cuidado, mas foi uma experiência e tanto e eu acho que o mundo precisava passar por isso pra que a gente entendesse o quanto todos nós fazemos diferença na construção desse mundo, que a gente precisa cuidar dele, pra poder sobreviver, enquanto humanidade. Essas coisas todas foram bastante importantes e eu acho que isso deu uma ‘chacoalhada’. Tomara que a nossa sociedade aprenda bastante com isso, como nós, lá, aprendemos.
Então, foi isso: a Lello teve essa preocupação com as pessoas, entrou no movimento Não Demita, depois começou a olhar pro próximo e falou assim: “Puxa, a gente faz gestão de comunidade. A gente está falando pra todo mundo: ‘Lava a mão, faz isso, higiene é tudo’”, propiciamos todos esses kits pros colaboradores do condomínio, são dezesseis mil colaboradores de condomínio que a gente cuida, sendo oito mil diretos e oito mil que são indiretos, mas a gente ajudou todas essas pessoas. E a gente falou: “E o pessoal que está nas comunidades mesmo, como vão lidar com isso?” Então a Lello fez um movimento de se aproximar da CUFA [Central Única das Favelas], pra tentar ajudá-los a conscientizar, levar recursos financeiros, ajudar com materiais de limpeza, mas mais do que isso, a fomentar uma conscientização de que nós, da iniciativa privada, todo mundo, todas as pessoas são responsáveis pelo próximo, pelas outras pessoas. A gente precisa cuidar da sociedade, de um modo geral. Esse foi um movimento que a gente fez ali, genuinamente, mesmo e depois a gente foi aprendendo com isso e construindo cada vez mais.
Eu diria assim: foi um momento muito desafiador, muito crítico, muito triste, mas onde, de uma maneira ou de outra, dentro lá, do escritório, nós tivemos baixa incidência, baixo problema de pessoas que ficaram mais graves, justamente acho que até por conta de a gente ter posto as pessoas, em 48 horas, nas suas casas, da gente ter, de fato, olhado pra essas pessoas, cuidado com muito carinho a respeito disso. Entramos no programa Não Demita, dando segurança até emocional pra esse ambiente; fizemos muitas lives, explicamos muitas coisas.
Foi um momento de muito aprendizado, de muitos desafios, de tristeza, vendo todo mundo, as pessoas que perderam os seus entes queridos. Foi uma tristeza enorme, mas que eu acho que fez com que todos que participaram desse processo se tornassem seres humanos melhores, de alguma maneira. A gente ainda está sofrendo alguns reflexos, mas meu olhar é de muito aprendizado, da gente tomar consciência dessa coletividade e do quanto essa coletividade importa. E mais: no nosso caso específico, o que nos ajudou muito nesse enfrentamento da pandemia foi um exercício que a gente tinha feito anteriormente, que é inclusive de onde surgiu a Lellolab, porque a gente foi construindo uma história de levar a empresa pra um grau de profissionalismo e chegou um momento que a gente falou assim: “Poxa, a gente precisava gerar valor diferente, porque administrar condomínios parece que está virando commodities. Está todo mundo brigando por preço e os moradores, os síndicos, os condôminos que usam nosso serviço não percebem muita diferença entre a administradora A, ou B. Eles nem, às vezes, sabem quem é a administradora que administra o seu condomínio, nem entendem a importância daquele contexto do condomínio e os nossos pontos de contato com essas pessoas são muito ruins, porque ou é a cobrança, ou a multa, veja bem, ou a assembleia, que era um momento horroroso e por isso que a gente começa a pensar a assembleia digital, ou é advertência, enfim”. Eram momentos muito ruins de conexão com as pessoas e a gente falou assim: “Onde a gente vai gerar valor?”
Ali a gente faz um primeiro workshop, pra pensar o futuro da cidade e a cidade do futuro, mapeando tendências do morar, do consumir, do produzir, do trabalhar. E nesse mapeamento de tendências foi onde surgiu a ideia da gente preparar a assembleia, onde a gente já mapeou o aumento das entregas, a história do homeschooling, do trabalho em casa, do próprio home office, a questão de você administrar algo que é mais que um empreendimento, o entorno, dessa contribuição que você pode dar pra coletividade. Então, lá em 2014, que é muito antes, a gente já estava mapeando isso e construindo uma história olhando pra esse lugar. Essa antecipação nos deixou muito mais prontos pra enfrentar uma crise horrorosa que aconteceu em 2020.
Acho que essas são as duas grandes lições. Aliás, não só duas, são muitas lições, mas essa história da antecipação foi muito importante. Quando a gente pensou o futuro da cidade, a cidade do futuro, a gente estava pensando nessa coisa de geração de valor, mas a gente não sabia exatamente o que a gente estava buscando. A gente nem falou sobre Lello nesse dia, a gente ficou olhando pra sociedade, pro todo e a gente encontrou lá um caminho pra trilhar e a construção desse caminho.
Qualquer outra empresa falava: “Por que vocês estão fazendo isso agora?” As pessoas estavam muito mais focadas no negócio, no business em si; a gente já estava pensando essa coisa de contribuir pra sociedade e isso nos deixou muito mais prontos. Aí tem a história da gestão de crise, que é uma coisa que você só aprende na crise, então acho que isso fica pra todos nós, quem passou por aquele momento.
Cada um teve que lidar com seus dilemas, suas dificuldades, seus momentos, tomar decisões que nunca tinham sido tomadas e sem experiência daquilo, porque a gente sempre tem alguma experiência que a gente remonta. Pra pandemia, dessa vez, a gente não tinha nenhuma experiência que pudesse ser transportada e que nos desse esse alicerce, então acho que [foi] a gestão de crise e essa centralização no outro, entender que todos nós fazemos parte de um todo, que toda pessoa importa e de que nós precisamos ter muito foco nisso, em construir, de fato, pra preservar e viabilizar um lugar melhor pra se viver. É uma questão até de subsistência mesmo porque, se a gente continuar consumindo, esquentando nosso mundo do jeito que a gente estava fazendo, não vai ter ser humano daqui a alguns anos, a gente já sabe disso. Não é à toa que está todo mundo com tanto compromisso com a questão da camada de ozônio, emissão de gases e tal, porque a gente sabe que a gente vai precisar arregaçar as mangas e participar disso muito ativamente. A iniciativa privada faz parte desse contexto. Aliás, todos nós fazemos parte desse contexto, de uma maneira, ou de outra.
(57:06) P/1 – E como foi o retorno pós-pandemia, pro trabalho presencial? O que mudou, de lá pra cá?
R - Aliás, você falou do meu lado pessoal. Eu falei muito da Lello e não falei. Pra mim foi uma dificuldade ficar em casa, trancada. Imagina eu, da Mooca, da rua, trancada na minha casa!
A casa da gente, acho que de todo mundo, ganhou uma outra dimensão, porque antigamente - eu me lembro, antes da pandemia - eu não gostava de trabalhar em casa, então eu tinha isso muito separado. Quando eu precisava produzir qualquer coisa eu ia pro escritório. Até dissertação no mestrado eu não conseguia fazer na minha casa; eu ia pro escritório e ficava lá, de noite, escrevendo, porque eu não conseguia escrever na minha casa. Era um hábito, eu não tinha o hábito.
A pandemia trouxe uma outra dimensão pra nossa casa. A gente passou a se exercitar, comer, se reunir, enfim, com nossos entes queridos ali, mais próximos. A gente teve que fazer isso de uma maneira muito... Todo mundo teve que se adaptar em relação a isso.
Num primeiro momento, até o exercício eu fazia dentro, depois isso começou a me deixar... Depois de um ano eu não aguentava mais. Aí eu fui fazer nas praças, no parque, quando reabriu. Primeiro, quando não tinha o parque, era nas praças e depois que tinha o parque, fiz no parque. (risos) E virou um hábito, eu nunca mais consegui voltar, muito, pra academia. Hoje eu faço um pouquinho na academia, mas eu gosto mesmo é da área aberta, então acho que a gente olhar o quanto a área aberta é importante... Eu me lembro que chegou um momento que eu olhava assim: “Eu não aguento mais ver esse teto em cima de mim. Estou precisando ir pra um lugar que não tenha teto, que eu possa ver o céu”. Aí você começa a dar valor pra coisas que antes você não notava. Acho que todo mundo teve um pouco disso, de dar valor pra essas coisas. Buscar caminhar em ambientes abertos, ainda que você não encontrasse ninguém, dessas coisas todas eu precisava e a gente foi buscando lugares pra que isso pudesse acontecer. Claro, preservando todos os protocolos, todo cuidado, com tudo que precisava, mas isso precisou acontecer.
Meu marido, na época, trabalhava num hospital, então ele trabalhava todos os dias presencialmente e aí o que eu fazia era não ver as pessoas que eu mais amava. Fiquei eu, ele e meu filho, contendo ali, entre a gente, o risco maior, mas fiquei sem ver todo o restante da família, sem ver mesmo, nem Natal, nada, durante um ano, pelo menos, um ano e meio, pra preservar as outras pessoas, porque a gente sabia que a gente estava numa situação de risco um pouco maior.
Acho que esse foi um aprendizado pra todo mundo, de como se preencher, valorizar coisas que pareciam tão naturais, tão abundantes e de repente eram momentos que você buscava por eles, tipo andar, caminhar sem ter o teto em cima. Essas coisas passaram a ter uma riqueza, um valor, uma coisa de importância, de você reconhecer essa importância que antes você não reconhecia.
Acho que tem isso e depois essa volta gradual. No mesmo momento que foi... O fechamento foi mais radical e a volta foi mais gradual e aí a gente vai voltando, mas já era um desejo.
Eu já tinha até pego a tal da covid, peguei antes da vacina. Meu filho nem sentiu nada, porque as crianças pegavam aquilo e não sentiam. Eu senti um pouquinho, fiquei em casa bem, não posso reclamar, mas perdi olfato, paladar, essas coisas todas.
Depois, então, quando teve a oportunidade de voltar, ir pra rua, voltar a encontrar as pessoas, eu falo: “Foi maravilhoso”. E quando vieram as vacinas, eu logo quis voltar - seguindo essa volta gradativa, mas eu quis voltar, pra ver pessoas, me relacionar, pra tudo novamente. Eu lembro, nossa, quando a gente pôde ir num primeiro evento grande, tipo um congresso, uma coisa assim, gente, o congresso lotou, porque acho que estava todo mundo desesperado pra pegar um avião (risos) e se encontrar num congresso, conversar frente a frente. Ninguém aguentava mais aquelas lives. Eu falo, é impressionante!
Eu dou umas aulinhas. Eu estava com desespero de dar aula na telinha, sabe? É muito diferente a conexão, até com o aluno presencialmente e fora, então eu acho que é isso, que isso também nos mostra o quanto o ser humano é um ser social, relacional, a gente precisa do outro. A gente está junto, a gente precisa se pegar, pôr a mão. É engraçado, a gente tem essa necessidade.
Eu entendo também que os momentos onde a gente mais cria coisas, os brainstorms, as melhores ideias acontecem quando nós estamos juntos, presencialmente, porque a gente acredita muito nessa história da construção do conhecimento colaborativo, de verdade. Acho que todo mundo tem alguma coisa pra ensinar pra alguém, outra pra aprender, nas mais diversas áreas. Sempre alguém tem um ponto de vista que você não pensou e que você está aberto pra isso. E essa coisa, quando acontece no presencial, é diferente. Não dá pra dizer que no... A gente até faz no digital, mas não tem a mesma acurácia, a mesma potência, na verdade, do que tem no presencial. O ser humano precisa estar junto, olhar pro outro, nos olhos, perceber e, de fato, ter essa abertura faz parte do nosso instinto.
Acho que essa volta foi salutar, uma alegria enorme. Teve momentos que a gente teve que regredir um pouquinho, ir de novo, mas tudo bem, foi uma coisa que a gente foi cuidando. Mas agora a alegria, eu falo… A noção que a gente tem do quanto isso é importante agora que a gente está aberto, tudo de novo, vivendo sem as máscaras. A gente está aqui, olha só, num ambiente fechado, em quatro pessoas, sem máscara, olha que alegria e conversando com tranquilidade! Eu acho que isso não tem preço. É muito diferente. Uma entrevista como essa, se a gente fizesse cada um no seu lugar, numa telinha, não ia ter a mesma riqueza, a mesma emoção que tem quando a gente está junto.
(01:04:24) P/1 – Então, a gente vai pras últimas perguntas. Como você avalia a Lello, hoje em dia?
R – A Lello é surpreendente. Tem várias maneiras de avaliar a Lello hoje. Primeiro que eu acho que ela é uma referência no setor onde ela atua, em especial na administração de condomínios. É uma empresa extremamente confiável, as pessoas confiam tanto na Lello quanto nos sócios da empresa, então o mercado olha pra gente com muita seriedade e com esse grau de confiança. Isso se conquista com um atuar de 68 anos, não é da noite pro dia, nem nada disso. Acho que esse é um ponto fundamental. Ali você tem uma palavra a ser cumprida.
O comprometimento, a palavra valem mais do que qualquer outra coisa, pra empresa. É uma empresa de valores muito sólidos. Eu acho que foi isso que pôde nos trazer aonde é esse espaço que a Lello ocupa hoje. Mas também, além dela ser uma referência, eu gosto de pensar a Lello como muito inovadora, porque o jeito que ela faz é diferente de todos os outros players do mercado. A gente está construindo, depois que a gente estudou essas tendências… A gente pensou no futuro da cidade, a gente teve esse aprendizado da pandemia, essas coisas todas fomentaram, trouxeram a certeza daquilo que a gente estava construindo e a gente está colocando muita potência, muito investimento nisso e a gente acredita genuinamente que a gente pode transformar, a partir dos condomínios, a cidade onde a gente está, pra construir lugares melhores pra se viver.
Eu acho que a gente teve um aprendizado muito forte em relação ao humano, à importância das pessoas, a todas... Teve um momento da atividade, lá atrás e era normal, todo mundo olhava pra isso, que a relação da administradora era só com o síndico, enquanto tem uma coletividade. É sobre coletividade, todos os moradores, todo mundo que está ali, envolvido naquele ecossistema, os colaboradores do prédio, quem vive no entorno. O condomínio interage com a cidade, a gente conseguiu perceber isso lá em 2014 e isso fez com que a gente pudesse olhar e traçar uma nova estratégia, que pode nos levar a um lugar muito interessante em termos de colaborar, mesmo, com toda essa construção e de potencializar a empresa enquanto empresa também.
A Lello, pra mim, é tudo isso. Ela é uma referência, se confunde comigo. Eu sou um pouco Lello, eu tenho essa coisa de estar vinculada, fazer parte, de sentir a Lello dentro de mim. De fato, é um amor mesmo, mas também tem esse lugar de potência de onde a gente pode chegar, de quanto a gente pode colaborar pra construir esse lugar melhor pra se viver.
Essas coisas todas juntas fazem com que você olhe pra empresa com muita longevidade ainda e, mais do que isso, com uma sensação de estar fazendo a coisa certa, de estar construindo algo, um legado que possa ficar pra cidade, pras pessoas, pra quem passou perto da Lello. Acho que isso é muito interessante porque, no fim, é isso que fica. Acho que tanto pra empresa, quanto pras pessoas, o que fica é esse legado, o quanto você contribuiu pra transformar, deixar um ensinamento e acho que isso a gente tem feito e com bastante consistência, então me orgulha. A Lello, numa palavra, é orgulho.
(01:08:55) P/1 - E como você vê o futuro da Lello?
R – Eu vejo uma empresa maior do que o que é hoje e a vejo transformando, de fato. É um desejo, um sonho com o futuro: a gente conseguindo, de fato, construir esse impacto positivo no conviver e morar, em especial. Eu vejo uma empresa mais profissionalizada, ainda mais, porque a gente já tem uma gestão profissionalizada e a ideia é que a gente tenha esse conselho e que depois então a gente veja, mas eu a vejo muito interagindo com a cidade e construindo esse lugar. Esse é um sonho de futuro e a gente sempre trabalhou pra construir o futuro que a gente sonha. A gente vai continuar olhando pra isso e tentando, dia após dia, chegar nesse lugar.
(01:09:59) P/1 – Então, a gente vai pras últimas perguntas e elas são um pouco mais pessoais.
R – Tá bom.
(01:10:03) P/1 – Você tinha falado sobre o seu filho. Como foi, pra você, ser mãe?
R – Puxa, acho que ser mãe é uma coisa mágica, desde o dia que você descobre que vai ser mãe, depois o dia que começa a mexer na barriga e você fala: “Não é possível, a capacidade do ser humano de gerar outra vida é uma coisa fantástica”. Depois, enfim, as experiências todas, de você aprender que você não tem controle sobre tudo, porque você não tem controle sobre tudo (risos), que você não sabe nada, porque na hora que nasce o filho, você fala: “Puxa, tão pequenininho e eu não sei lidar com isso”. (risos) [Tem] um senso de responsabilidade também, de você saber que a vida do outro depende de você e do quanto você é importante pra aquela pessoa, mas mais do que isso, hoje eu vejo uma alegria, como é fantástica a oportunidade de você ajudar a construção do ser humano, de você poder trazer as suas maiores potências - as potências deles, não nossas, potências do ser humano, ajudá-lo a refletir sobre o que é certo e o que não é e ele fazer as escolhas dele, porque no fim as escolhas são dele.
Eu tenho um filho que é adolescente e está tão gostoso interagir com ele! Todo mundo fala que adolescência é difícil, fala: “Eu queria congelar meu filho quando era pequenininho”. Eu curti muito, eu brincava de bola, ensinei um monte de coisa, montava os tais Legos. Todas as brincadeiras que eu gostava de fazer eu fazia com ele também e a gente ficou muito próximo, por conta disso, mas hoje eu falo: “É mágico, porque ele virou um superparceiro”. Hoje a gente sai pra jantar e conversa sobre tudo, o tempo todo. Ele discute as dificuldades dele em relação à escola, ou algum pensamento que ele tenha. A gente tem um nível de interação e é interessante isso, o quanto a gente replica algumas coisas, porque eu sempre tive isso com os meus pais, com meu pai [tive] muito. De pequena meu pai saía de moto com a turma da moto e eu era a única menina, ia sentadinha no tanque. Comia a hora que tinha pra comer, mergulhava, fazia taekwondo, balé, tudo, o tempo inteiro participei da vida e ele foi sendo amigo da minha turma e eu amiga da turma dele, a gente mistura um pouco as turmas e com meu filho está igual. Acho que a gente replica um pouco o que a gente aprende e ele está idêntico, é muito bonitinho de ver e ele já tem essa coisa pelo trabalho também. (risos)
A semana passada - ele quer ser engenheiro civil por enquanto. Está no segundo ano colegial, mas diz que vai ser engenheiro civil – falou assim: “Mãe, eu vou faltar na escola, porque eu quero encher uma laje”. A gente tem um primo que trabalha numa construtora grande e ele falou: “Eu quero ir com ele encher a laje. Ele vai encher uma laje grande, eu quero ver como funciona”. Ele faltou na escola pra ir pra obra e passou o dia inteiro lá, olhando, conversando com todos os pedreiros, com o pessoal da obra e aprendendo ali, no lugar, fazendo as pesquisas dele, pra ver se é aquilo mesmo. Eu acho assim: como é que você ensina isso? Você replica o comportamento. Eu acho que a história do filho… Eu falo: ser mãe é mágico, porque a gente aprende que a gente… A gente tem a certeza que ensina muito mais pelo comportamento do que pelo que a gente fala, e o jeito como você age faz com que o outro se espelhe. Então, sei lá, pra gente funcionou.
Eu diria que é o meu melhor projeto, meu maior amor foi esse, ser mãe. É uma alegria enorme você ver o ser humano com as suas características, é muito mágico você ver um olhar do pai, um olhar meu, outro não sei o que, um jeito, um trejeito, algo que você nunca ensinou ali, presente, naquela pessoa. Eu falo: “Gente, é muito legal. Se eu pudesse congelar, congelava agora, (risos) pra ele ficar lá, nesse momento, porque está muito divertido o momento atual”. Eu curti todos os momentos, mas o atual é o meu preferido. (risos)
(01:14:43) P/1 – E qual o nome dele?
R – Rafael.
No começo, a história da amamentação já é mágica. Nossa, eu adorava amamentar, achava uma coisa incrível. Eu trabalhava bastante, tinha um escritório que estava crescendo, então eu ia e voltava, tirava leite na sala de reunião, voltava pra trabalhar. Eu voltei [ao trabalho quando] ele tinha dois meses, tive que voltar, porque eu tinha uma sócia e os nossos filhos, de um pro outro, tiveram quatro meses de diferença, sendo o meu primeiro. Eu tinha que voltar, porque ela poderia sair a qualquer momento e eu precisava, enfim, estar apta, saber o que estava acontecendo.
Era uma dinâmica doida, corrigia processo amamentando. Naquela época eu era mais... Eu tive o Rafa com 29 anos. Foi muito legal, foi perfeito. Maternidade eu recomendo. (risos) É mágica. (risos)
(01:15:42) P/1 – E quais são as coisas mais importantes pra você, hoje em dia?
R – Família, sem dúvida nenhuma.
Eu acho que tem várias coisas: acho que a família é a base de tudo. As pessoas que estão no entorno, essas que você tem um vínculo mais forte, isso te centra, ajuda nos momentos mais difíceis. De fato, é onde você tem os seus valores, onde você cria tudo isso, então acho que essa foi a base fundamental.
Minha família é grande, onde um cuida do outro o tempo inteiro e talvez isso fez com que a gente... Você vai ensaiando esse modo de pensar pra todo resto. Essa história dos valores é uma coisa muito presente.
Tem uma história engraçada: meu avô, lá, antigamente, era gerente de um cinema, então na época que os cinemas eram importantes aqui em São Paulo tinha um cinema na Vila Formosa. Meu avô era gerente do cinema e todo mundo trabalhava no cinema. Minha avó trabalhava na pipoqueira, minhas tias vendiam no baleiro, naquele tabladinho de madeira, e o meu pai não queria trabalhar no cinema. Meu avô ficou bravo porque meu pai estava ‘fugindo da raia’, ele não queria trabalhar no cinema e foi pro centro da cidade, procurar um emprego. Achou um emprego numa primeira administradora de condomínios de São Paulo, que chamava Minister e foi lá que ele começou, antes de ir pra Lello. Aí meu pai começou a trabalhar.
Essa história do trabalho sempre esteve com a gente. É uma coisa muito engraçada. Depois disso, ele vai, enfim, pra Lello e se oferece pra montar a área de condomínios na Lello, que era uma coisa que não existia, lá em, sei lá, 1972, 1973, por aí. Esse momento é bastante importante, porque essa criação dos meus tios com meu pai no cinema… Eles compravam… Meu avô conta isso. Tinha um frango, cada um tinha a sua parte preferida e eles já sabiam exatamente como é que ia dividir o frango: um ia ficar com a coxa, o outro não sei o que, aquele do peito e tal… Isso traz pra família uma noção de complementaridade, de cuidar do outro, do quanto a gente precisa apoiar um ao outro e a gente vive assim até hoje.
Hoje nós somos onze netos, oito bisnetos, é uma família grande. Meu avô tem 101 anos e a gente continua com esse pensamento.
A família da minha mãe também [é] sempre muito próxima. É uma família menor, mas meu avô e minha avó da [parte da] minha mãe foram fundamentais. Meu avô era policial militar e se aposentou muito cedo, então eu tive o grande privilégio de não ter babá e viver com os avós. Meus avós faziam tudo comigo, então meu avô me levava pro Clube dos Oficiais, eu nadava na piscina olímpica, com três anos de idade, crawl, porque eu aprendia com eles e eu ficava com eles, lá na sala de musculação, não sei onde. Sempre gostei dessas coisas. Isso foi acho que me forjando enquanto pessoa, essas coisas trouxeram uma noção de família, de valores que ficam intrínsecos, mesmo. A história da verdade, de ser leal, essas coisas são, de fato, fundamentais e isso vem da família. Então, eu diria que a coisa mais importante é a família grande mesmo, filho, tudo. A pequena, é claro, todo mundo olha pra família, mas eu gosto da ‘familiona’ (risos) mesmo, de todo mundo que está em volta.
Diria também que você poder ser aquilo que você quer ser é fundamental, de você ter espaço, liberdade enquanto ser humano, pra exercer sua plenitude. É a segunda coisa mais importante. Seja ela qual for, cada um tem as suas escolhas. A minha, eu gosto dessa coisa da profissão, porque é o meu gosto; pode ser que as pessoas tenham outro gosto. Mas eu acho que você poder ser aquilo que você quer ser, só de você ter essa possibilidade é um privilégio, porque tem muita gente que não consegue. Acho que isso também é uma coisa que eu valorizo demais.
A terceira coisa é essa coisa da natureza: eu preciso de espaços abertos, de aventura, de cuidar de mim, da história do exercício, do nadar, do mar, do vento, do ar, do sol, o cavalo, (risos) o quadriciclo, a moto, mergulhar. Eu gosto de fazer essas coisas meio de aventura, essa conexão com o que é da natureza. Acho que também por isso a preocupação com o mundo, mas essa conexão é uma coisa muito importante pra mim. Eu gosto de tudo. Gosto de pescar esportivo - devolve o peixinho pro mar, mas eu gosto. Eu gosto de tudo que me conecta com a natureza, é uma coisa que eu adoro. Então, acho que essas três coisas são as que, de fato, me preenchem.
(01:21:27) P/1 – E quais são seus sonhos, pro futuro?
R – Ai, são tantos futuros! (risos) Porque eu sou assim: eu vou… A gente vai construindo futuros. Eu acho que se a gente tiver que resumir o sonho de qualquer pessoa, talvez, seja ser feliz e ser feliz faz com que você mude esse sonho, o que te realiza, a cada ciclo seu. Nós somos feitos de ciclos. A gente atinge um, a gente quer outro, ou aquele nos preserva, ou a gente evolui enquanto ser humano e aí tem outras coisas que passam a fazer mais sentido, mas o importante é a gente estar bem naquele momento, naquela situação, com aquilo que a gente tem, mas meu sonho… Olha, se eu pudesse ter o que eu tenho hoje, a família que eu tenho, manter todo mundo desse jeito, o trabalho… Eu sou muito feliz com a vida que eu levo, mas é claro que a gente vai evoluindo e vai construindo novos sonhos.
Posso segmentar isso em várias coisas: o que eu tenho de desejo profissional, de desejo pessoal, mas no fundo, no fundo, um resumo único é essa história de se sentir completa, feliz em todos esses campos.
(01:22:49) P/1 – Você tinha comentado sobre dar aula. Quando isso aconteceu, pra você?
R – A minha mãe é professora desde sempre e, do mesmo jeito que eu gostava de trabalhar na Lello, com meu pai, fazer tudo que eu contei pra vocês, eu gostava de ir com ela também e aí eu ia. Ela dava aula, teve uma fase que era em escolas públicas, eu ia com ela pra escola pública; tinha aula na faculdade e de vez em quando eu estava com ela também. Adorava uma lousa. Estava até brincando que uma das brincadeiras preferidas era pôr a lousa... As bonecas serviam pra isso, eu não gostava de brincar de casinha, mas as bonecas eram os alunos. (risos) Filha única, né? Tinha que interagir com alguém. (risos) Às vezes com o avô e com a avó, também eram alunos.
Meu avô era... Aliás, isso é engraçado, meu avô também era meu aluno, de vez em quando. Ele era um militar, um homem de dois metros de altura, enorme. A mão dele eram duas mãos, uma coisa grande mesmo, o pai da minha mãe. E eu fazia cabanas, fazia a sala de aula debaixo da mesa. Pegava, punha um cobertor, punha luz, montava lá na sala, com as bonecas, com a lousa. Enfiava meu avô debaixo da mesa e ele ficava lá, sentado, debaixo da mesa, (risos) brincando na minha aula. (risos) Você imagina!
Esse gosto todo acho que veio daí. E aí, depois disso... Foi uma construção. Na escola, toda vez que tinha que apresentar alguma coisa, que tinha um seminário, algo assim, eu era sempre a candidata a falar. Quando tinha a história do teatro eu queria fazer. Depois, quando eu fiz faculdade, fui assistente do professor; terminei a faculdade e continuei sendo assistente, porque naquela época eu até queria dar aula mesmo, mas aí eu aprendi que eu não gostava de repetição. Eu gosto de dar aula, mas eu não gosto da graduação, porque você tem que dar muitas vezes a mesma aula e isso... Eu gosto do novo, eu sou um pouco inquieta e aí eu gostava de cada hora dar uma aula; quando começava a repetir eu já perdia um pouco o entusiasmo, mas fiz isso.
Depois eu fui fazer um primeiro grupo de estudos lá, porque eu fiz uma primeira pós-graduação. O professor já percebeu isso em mim, me colocou pra dar umas aulas, aí eu dei umas aulas na Faculdade São Bento, umas na Faculdade de Direito de São Bernardo, dei aula no Mackenzie, na FAAP. Fui dando algumas aulas, mas nunca na graduação, sempre esporádicas.
Hoje eu ainda dou aula na Universidade Secovi. Hoje eu faço muitas palestras, o que é mais legal que dar aula. Eu gosto muito mais, porque na palestra você interage com outros players, aprende muito, tem muita troca. Cada hora é um tema, normalmente são temas inovadores, então tem um desafio diferente e me completa mais do que a aula da sala de aula, mas isso sempre esteve muito presente, é uma construção de criança. Acho que o ‘bichinho’ da minha mãe me picou nesse ponto. Eu falo que essa coisa tanto do estudar, quanto do dar aula acho que vem daí, da minha mãe. Eu adoro, gosto bastante mesmo.
(01:26:29) P/1 – Bom, agora a gente vai pra última pergunta: como foi, pra você, contar um pouco da sua história e falar um pouco da Lello hoje, pra gente?
R – Ah, é maravilhoso! É o que eu disse: a minha história e a da Lello, pra mim, se misturam. A Lello tem uma presença, pra mim, na minha vida, extremamente importante e eu fico encantada de ver onde a empresa está chegando, o potencial da empresa, como ela constrói diferente, essa coisa do visionário, de atuar de uma maneira distinta. Essas coisas todas me encantam e quando você pode contar isso pros outros, deixar registrado, pra tentar não só deixar o registro do quanto isso... Não só do quanto isso foi importante, até na construção da cidade, do desenvolvimento das regiões onde nós estivemos, do desenvolvimento da própria atividade, na construção regulatória, do ambiente regulatório, do exemplo, todas as coisas que eu contei um pouco… Não só pra isso, mas pra inspirar outras pessoas a continuarem, a fazerem também, terem movimentos como esse. Se todo mundo pensasse assim, certamente a gente teria um lugar muito melhor pra se viver, um ambiente de cuidar do outro, de construção positiva, que seria muito diferente. E como eu disse em relação ao meu filho, acho que a gente ensina pelo exemplo, então deixar o registro e se eu conseguir inspirar duas pessoas, sei lá, já é um ganho enorme, porque se todo mundo conseguir inspirar uma, quem sabe a gente chega lá, né?
É uma alegria enorme, porque é falar muito de mim, do que é mais intrínseco. Olhar pra isso de uma maneira mais estruturada e ver tudo que foi feito até aqui e o quanto a gente ainda pode construir é emocionante, eu diria. É muito emocionante.
(01:28:36) P/1 – Então, em nome da Lello e do Museu da Pessoa, a gente agradece essa conversa de hoje.
R – Ah, obrigada! Foi um prazer enorme pra mim!
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