ORIGEM
Minha história começa nas margens serenas do rio Moxotó, na Fazenda Lucas, onde nasci em 23 de março de 1942, a dois quilômetros de Volta do Moxotó, distrito de Petrolândia (PE). Sou filha de Alexandre Bezerra Sandes, cuja linhagem remonta à nobreza da Baronesa de Água Branca, e de Maria Gomes Sandes. Meu pai era conhecido como Alexandre Batalha e minha mãe pela alcunha de Bilica.
Vim ao mundo em uma família numerosa de treze irmãos: Manoel, Maria, Vitória, Noêmia, Antonieta, Maria José, Socorrinho, Teresinha, José, Maria Aparecida (que partiu ainda na infância), Maria de Lourdes, Alexandre e Aloísio. Unidos por laços de sangue, nossa união cresceu com o tempo fortalecida pelos cuidados dos mais velhos para com os mais novos.
EDUCAÇÃO
Meu pai não apenas sustentava a família cuidando da roça e do criatório, mas também alimentava nossas mentes com o conhecimento, guiando-nos desde as primeiras letras até o exame de admissão ao Ginásio. Para isso, ele se apoiava nos livros vindos de Maceió, encomendados a um amigo em Delmiro Gouveia.
Na Volta do Moxotó a educação era escassa. Dona Quitéria, professora leiga, com sabedoria, muito esforço e paciência, lutava para ensinar as primeiras letras às crianças. Mas meu pai, na Fazenda Lucas, ia mais além. Ele preparava seus filhos para seguir estudando, tinha essa preocupação. Por isso, somente após a nomeação da professora Ceci Ovídio para a Volta do Moxotó é que eu e meus irmãos mais novos passamos a frequentar a escola formal. Acolhida e avaliada por Ceci, ingressei diretamente no terceiro ano. Concluí o último ano do ensino primário na mesma escola, sob a condução da professora Anita, de Floresta.
ROTINA NA FAZENDA
Na vida diária da Fazenda Lucas, minhas manhãs eram ocupadas pelo trabalho na roça, enquanto as tardes eram reservadas para o estudo. Ao anoitecer, era hora de cuidar do espírito e alimentar a fé, depois da janta, meu pai e minha...
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ORIGEM
Minha história começa nas margens serenas do rio Moxotó, na Fazenda Lucas, onde nasci em 23 de março de 1942, a dois quilômetros de Volta do Moxotó, distrito de Petrolândia (PE). Sou filha de Alexandre Bezerra Sandes, cuja linhagem remonta à nobreza da Baronesa de Água Branca, e de Maria Gomes Sandes. Meu pai era conhecido como Alexandre Batalha e minha mãe pela alcunha de Bilica.
Vim ao mundo em uma família numerosa de treze irmãos: Manoel, Maria, Vitória, Noêmia, Antonieta, Maria José, Socorrinho, Teresinha, José, Maria Aparecida (que partiu ainda na infância), Maria de Lourdes, Alexandre e Aloísio. Unidos por laços de sangue, nossa união cresceu com o tempo fortalecida pelos cuidados dos mais velhos para com os mais novos.
EDUCAÇÃO
Meu pai não apenas sustentava a família cuidando da roça e do criatório, mas também alimentava nossas mentes com o conhecimento, guiando-nos desde as primeiras letras até o exame de admissão ao Ginásio. Para isso, ele se apoiava nos livros vindos de Maceió, encomendados a um amigo em Delmiro Gouveia.
Na Volta do Moxotó a educação era escassa. Dona Quitéria, professora leiga, com sabedoria, muito esforço e paciência, lutava para ensinar as primeiras letras às crianças. Mas meu pai, na Fazenda Lucas, ia mais além. Ele preparava seus filhos para seguir estudando, tinha essa preocupação. Por isso, somente após a nomeação da professora Ceci Ovídio para a Volta do Moxotó é que eu e meus irmãos mais novos passamos a frequentar a escola formal. Acolhida e avaliada por Ceci, ingressei diretamente no terceiro ano. Concluí o último ano do ensino primário na mesma escola, sob a condução da professora Anita, de Floresta.
ROTINA NA FAZENDA
Na vida diária da Fazenda Lucas, minhas manhãs eram ocupadas pelo trabalho na roça, enquanto as tardes eram reservadas para o estudo. Ao anoitecer, era hora de cuidar do espírito e alimentar a fé, depois da janta, meu pai e minha mãe, reuniam os filhos para rezar o terço. Aos sábados, dois dos meus irmãos se revesavam na Estação do Moxotó, para ajudar nosso pai a carregar as compras trazidas da feira de Delmiro Gouveia.
LAZER
Mas nem tudo era trabalho, estudo e oração. Também havia espaço para diversão, como jogos de futebol, queimada e brincadeiras de bonecas. Nos domingos, a Volta do Moxotó era o destino para assistir ao futebol, visitar parentes, participar do catecismo e outras atividades religiosas. Vez por outra, minhas irmãs mais velhas, acompanhadas por duas senhoras de confiança dos meus pais, eram autorizadas a comparecer às festas de padroeiro das cidades vizinhas, como Tacaratu, Delmiro Gouveia e Petrolândia, enquanto eu aguardava ansiosamente a minha vez de ir também.
Na fazenda, havia uma capela onde eram celebradas as festas de Maio, Santo Antonio, São João e São Pedro, para as quais era convidado o povo da redondeza. Após a novena, entre os comes e bebes, histórias eram compartilhadas, enquanto a gente se divertia nas brincadeiras de roda e passa anel, sob o céu da fazenda Lucas e a luz do candeeiro, que de dentro de casa iluminava o terreiro. Assim também era como as fogueiras nas noites de São JOão e São Pedro.
Na casa da minha família nunca faltou rádio e, quando o sinal de TV chegou à região, meu pai foi um dos primeiros a comprar uma, pois ele tinha um espírito festeiro. Gostava de música e de reunir os amigos para saborear as buchadas bem preparadas que minha mãe fazia.
PAPEL DAS MULHERES
Minha mãe, prendada, costurava para os filhos homens. A roupa das filhas, no entanto, eram confeccionadas por minha tia. Depois Zilda , casada com Nô, meu irmão, passou a costurar pra gente também. Com o tempo fui aprendendo com elas, na nossa casa havia muitas máquinas de costura e isso ajudava a gente a se interessar. Todas nós aprendemos a bordar ponto de cruz, mas Maria e Vitinha, minhas irmãs mais velhas, bordavam de tudo, eram excelentes bordadeiras. Anos depois, eu fiz o curso de corte e costura, me aperfeiçoei, e comecei a usar a costura para garantir meu próprio dinheirinho. Quando a Chesf chegou em Petrolândia, ganhei uns bons trocados costurando para as esposas dos engenheiros, com as quais fiz boas amizades. Sabendo do meu envolvimento nas campanhas de caridade em que eu me envolvia, elas sempre ajudavam com doações.
MUDANÇA PARA A CIDADE
Quando a gente morava na fazenda, o trem facilitava nossas idas para Petrolândia e Delmiro. Mas, em 1964, o trem foi desativado. Então, meu pai resolveu se mudar para Petrolândia para que os filhos pudessem continuar os estudos. Não tivemos problema de adaptação. Noêmia, minha irmã, havia se casado e já morava lá, e Teresinha, que tinha problema de asma, também morava com ela para estudar. Além do mais, tinha os filhos de Seu Da Cruz, Pedro Soares, Tio Vicente e de Seu Dácio, com os quais sempre tivemos amizade.
ADAPTAÇÃO
Sempre fomos bem sociáveis, por isso, não tivemos dificuldade em nos enturmar. Mesmo eu, com problema de dicção, nunca tive qualquer embaraço na escola por isso. Por ser alta e magra, cheguei a ganhar apelidos como “ Girafa” ou “Vara de tirar côco”, mas levava na brincadeira e ao chegar na sala eu mesma comecei a dizer: “ A Vara de Tirar Côco acabou de chegar!” Como eu não ligava, eles mesmos deixavam de fazer essas brincadeiras, que hoje é conhecida por bullying.
IGREJA
Meu envolvimento com a igreja começou na Volta do Moxotó. Padre Pedro Gabriel, vinha de Tacaratu e se hospedava na casa de Nô, meu irmão. Apesar de nervoso, ele se dava bem com a Comunidade. Orientava o povo, explicava muito bem os documentos da Igreja e as mudanças que estavam por vir, inclusive sobre a comunhão que em breve passaria ser recebida na mão, como é hoje. Além disso, formou uma equipe local, coordenada por Nô, meu irmão, para celebração da Palavra nas noites de Domingo, onde eu chegava a fazer algumas leituras e Nô se encarregava da homilia. Ele era bom nisso, fazia excelentes reflexões. Nessa época , eu já participava do Apostolado da Oração.
Quando fomos morar em Petrolândia, continuei a participar do Apostolado. Porém, com a chegada de Padre Cristiano na Paróquia, meu envolvimento aumentou. Ele era vizinho de Nô, na Travessa Dom Pedro II, e isso facilitou nossa aproximação. Com ele no comando, passei a assumir outras atividades. Formei uma turma de catequese e passei a fazer parte da equipe responsável pela missa das crianças, nas manhãs de domingo. Junto comigo estavam Maria de Zé da Cruz, Guiomar Menezes e outras catequistas.
ATIVISMO CRISTÃO
Sempre apoiei as lutas em defesa das crianças e adolescentes. Fui articuladora do movimento em favor da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Pastoral da Juventude no meio popular. De Padre Cristiano, recebi boas orientações e, através dele, participei de vários encontros de formação em Recife sobre a organização de Pastorais e o método “Ver, Julgar e Agir” ministrados por Dom Helder Câmara, Domingos e Paulo Crespo, estes dois últimos, Coordenador e Assessor de Pastorais, respectivamente.
Para participar de um curso em Salvador, era necessário ter curso pelo menos o segundo grau completo e dois anos de experiência. Padre Cristiano esperou eu terminar meus estudos, que concluí em 1973. Na ocasião, ele convidou a mim e a Lenice França. A mãe dela não deu permissão, mas meu pai, após confirmar que eu realmente queria ir, autorizou minha participação. Com a permissão do meu pai, Padre Cristiano, que havia conseguido duas bolsas de estudo, enviou a mim e a Nicodemos para Salvador.
Na época, Nicodemos estava morando em Icatu (BA). Em 1974, nos encontramos em Salvador para começar o Curso Superior de Pastoral Catequético (SPAC). Durante o curso, tive a oportunidade de fazer um estágio em Icatu, onde trabalhei ao lado de Nicodemos e de uma irmã do Maranhão. Essa experiência não só nos aproximou, mas também nos proporcionou momentos enriquecedores e inesquecíveis.
Ao retornar para Petrolândia, comecei a trabalhar como professora no Colégio Municipal e no Colégio do Núcleo Colonial, em Barreiras, sem deixar de me envolver nas pastorais e movimentos da igreja.
Com a saída de Padre Cristiano de Petrolândia, a paróquia passou a ser acompanhada por Padre Henrique, de Tacaratu, que, sozinho, não conseguia dar conta das duas paróquias. Para ajudar nas celebrações de domingo à noite, formamos uma equipe de liturgia. Nô, Valdete Maia e a professora Gilsa ficaram responsáveis pelas reflexões do evangelho. Eles faziam ótimas homilias, mas, de vez em quando, surgiam atritos na equipe. Gilsa, Valdete e Padre Henrique eram da linha moderada da igreja, enquanto Nô e eu éramos da linha progressista. Apesar dessas diferenças, mantínhamos um bom relacionamento e trabalhávamos juntos pelo bem da comunidade.
Quando as irmãs Josefia e Alzira chegaram em Petrolândia, Nô e eu nos juntamos a elas na Assessoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e na Associação de Moradores de Petrolândia, coordenada por Nô. Nosso lema, “Casa por casa, terra por terra”, era o que nos guiava. Foi uma luta dura, mas valeu a pena. Nessa jornada, contamos com o apoio dos padres de Paulo Afonso, Padre Alcides e Dom Mário, e do Bispo de Juazeiro, Padre José Rodrigues.
TEMPO DE NOVAS MUDANÇAS
Em 1980, com as obras da barragem chegando ao fim, meus irmãos sugeriram que nosso pai optasse por morar em Delmiro Gouveia (AL). As atividades provocadas pelas obras haviam transformado Petrolândia, que perdera sua tranquilidade e se tornara uma cidade violenta.
Assim, mudei-me com meus pais para Delmiro Gouveia e continuei minhas atividades nas Pastorais da Juventude e da Criança, chegando a coordenar esta última. Com o falecimento dos meus pais, em 1988, mudei-me para Maceió, onde, durante dois anos, prestei assessoria aos movimentos jovens de Água Branca, Delmiro Gouveia e Maceió. Depois, decidi parar.
Este novo capítulo em Maceió tem sido uma fase de reflexão e crescimento pessoal. Olho para trás e vejo que cada desafio e conquista me moldaram, tornando-me quem sou hoje. Esta é a história da minha vida, uma jornada de trabalho por um mundo melhor para todos, uma premissa da qual nunca deixei de acreditar.
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