Museu da Pessoa

Voluntariado em escola pública: Um pouco de cada um funciona

autoria: Museu da Pessoa personagem: Dilamar dos Santos Godoy

Projeto Voluntariado Instituto BRF

Realização Museu da Pessoa.

Depoimento de Dilamar dos Santos Godoy

Entrevistado por Eduardo Barros

Fontoura Xavier, 21 de junho de 2012

Código: PAFD_HV003

Transcrito por Iara Gobbo/MW Transcrições (Mariana Wolff)

Revisado por Gabriele Maciel Cardoso


P/1 – Dilamar, pra gente começar vou te pedir a gentileza de falar pra mim o seu nome completo, o lugar onde você nasceu e o ano.


R – O meu nome é Dilamar dos Santos Godoy, nasci no dia 21 de Julho de 1973, em Fontoura Xavier, Rio Grande do Sul.


P/1 – Você é um cara aqui da região?


R – Sou...


P/1 – Quais são as primeiras lembranças que você tem da sua terra? Da sua infância em Fontoura Xavier?


R – As lembranças que eu tenho da minha infância, da minha terra. Ah, seria um município pequeno, com uma população pequena e pouco desenvolvimento. Hoje já é um município maior, com mais desenvolvimento.


P/1 – Como é que era a sua casa? Você se lembra da sua casa, da sua família, onde você nasceu?


R – Lembro. Era uma casa grande de madeira. Morávamos pai, mãe e 11 irmãos.


P/1 – Fala pra mim o nome do seu pai e o nome da sua mãe.


R – O nome da minha mãe era Natalia dos Santos Godoy e do pai, Herculino Rodrigues de Godoy.


P/1 – Eles são vivos ainda?


R – Não, são mortos.


P/1 – O que eles faziam quando você nasceu. Na época eles faziam o quê?


R – O meu pai e minha mãe eram agricultores.


P/1 – Mas eles tinham a terrinha deles?


R – Sim, tinham a terra deles. Trabalhavam na própria terra.


P/1 – E vivia ali também ou não?


R – Vivia ali, trabalhava da terra. Eles tinham várias funções: produziam fumo, criavam suínos e trabalhavam com vaca leiteira.


P/1 – E vocês viviam na zona rural?


R – Vivíamos na zona rural.


P/1 – E seus irmãos, eram mais novos, mais velhos, como é que era?


R – Eu era o mais novo da família.


P/1 – Era caçulinha?


R – Era o caçula. Os mais velhos iam pegando uma idade maior e saíam para trabalhar fora e daí ficavam os mais novos.


P/1 – Os mais velhos não trabalham na própria propriedade da família não?


R – Os mais velhos trabalhavam até eles pegar idade de 18 anos. Depois de 18 anos ele saíam para trabalhar fora.


P/1 – Como era essa infância dessa família grande, morando na roça, ajudando os pais? O que você se lembra dessa época?


R – Eu lembro assim, que era uma época meio difícil, né? Naquela época, na roça “u produzias bastante produto, mas não tinha valor, era uma época difícil. Hoje já é mais fácil produzir o produto na agricultura, pra vender. Além de nos alimentar, nós produzíamos pra vender, trabalhávamos vendendo pras cooperativas.


P/1 – Mas assim, independente do trabalho, você uma criança, e novinha, como é que era o seu dia a dia? Qual é a lembrança mais antiga que você tem dessa sua casa na roça?


R – A lembrança mais antiga que eu tenho é a com oito, nove anos. Nessa idade, antes de ir para o colégio, eu tinha que levar o leite junto, né, pra entregar nas casas onde vendíamos o leite. Daí nós levantávamos seis horas da manhã com a mãe, ajudávamos a tirar o leite. Daí a gente pegava e engarrafava o leite. Depois a gente tomava o café e íamos para o colégio, mas antes de entrar na sala de aula, às oito horas, nos entregávamos o leite.


P/1 – Você se lembra bem disso?


R – Lembro.


P/1 – Era frio? Como é que era?


R –No Rio Grande do Sul é um lugar que dá muito frio e era frio naquela época.


P/1 – O que você costumava fazer com os seus irmãos?


R – Eu ajudava na colheita de soja, ajudava no leite, ajudava na produção de fumo também, né? Tudo nós trabalhávamos junto. Tudo nós irmão, não tinha serviço assim mais: “Ah, tu vai fazer isso, vai fazer aquilo”. Nós trabalhávamos tudo meio junto.


P/1 – Mas vem cá, e fora o trabalho, você na hora de lazer assim, quando você não estava trabalhando, o que você fazia com os seus irmãos?


R – Nós íamos jogar bola. Nós tínhamos um campo, na nossa terra, daí os vizinhos, “a piazada”, e nós jogávamos bola. Jogar bola no sábado, no domingo. Às vezes no sábado de tarde a gente ia pra igreja da comunidade rezar, né, e no domingo jogava bola.


P/1 – Era diversão jogar bola?


R – É.


P/1 – E em casa, como era? Sua casa era grande?

Você dormia, você via o quarto com muita gente?


R – Não, a casa era grande. Nós dormíamos em três irmãos num quarto, mas a casa era grande. Tinha seis dormitórios, mais sala, cozinha e o banheiro.


P/1 – E sua relação com seus pais? Era amigo deles ou era distante, como é que era?


R – A minha relação, eu era bem amigo do meu pai e da minha mãe. Aliás, todos os irmãos. Nunca tivemos problema de família, até hoje nós, os irmãos, que são todos eles vivos, nos damos bem. Nós sentíamos muito quando perdemos o pai e a mãe, né? Nossa relação sempre foi assim cem por cento entre irmãos, pai e mãe, nunca tivemos problema.


P/1 – Qual a lembrança que você gosta de ter do seu pai? Quando fala do seu pai assim, você lembra de que? De alguma coisa que você viveu com ele, de alguma coisa especial?


R – Eu lembro que quando nós estávamos em casa, que a gente não podia trabalhar que o tempo chovia né, que nós estávamos reunidos, ele fazia uma reunião. Ele parava e chamava os filhos e explicava, aconselhava que não era pra seguir o mal caminho, o mal rumo, né? Que ele não foi criado daquele jeito, e queria que o jeito que ele foi criado que nós também fossemos também. Ele nunca foi um cara que teve processo na lei, sempre foi um cara assim que prestou serviço pra comunidade. Além disso, ele trabalhava nas comunidades de igreja, CTG [Centro de Tradições Gaúchas]. Ele sempre passava pra nós: “Vocês tem que fazer o bem pra poder receber o bem”. Isso aí foi uma coisa que também digo para o meu piá, de 14 anos. Eu falo: “Faça aquilo que o meu pai passava pra mim”. Ficou gravado na lembrança.


P/1 – E a sua mãe? Como era a sua mãe em casa? Qual é a imagem que você tem dela hoje?


R – A imagem que eu tenho da minha mãe é de uma mulher muito lutadora. Minha mãe era uma mulher que nunca baixava cabeça. Ás vez a gente tinha problema de enchente ou seca na lavoura, e ela sempre chegava e motivava o pai: “Ah, esse ano foi assim, o ano que vem pode ser melhor. Não podemos baixar a cabeça, vamos tocar que o ano que vem vai ser melhor”. Sempre tivemos uma boa lembrança dela.


P/1 – E como é que foram essas histórias de enchente? Você se lembra de alguma específica?


R – Eu lembro uma vez assim, que o meu pai tirou um dinheiro do banco, fez um investimento pra fazer um açude. Deu uma enchente muito grande, levou o açude dele água abaixo. E nós tínhamos uma criação de suíno também perto de um rio, e veio uma enchente e levou os porco água abaixo. E daí o pai ficou meio desmotivado de pegar e investir na agricultura. Daí a mãe e meus irmãos mais velhos começaram a conversar com ele: “Não, não adianta!”, e não tinha seguro nenhum, né? Começaram incentivar, incentivar até que meu pai conseguiu dar a volta por cima de novo.


P/1 – Você lembra quantos anos você tinha nessa época?


R – Nessa época eu acho que eu tinha uns 12 anos de idade.


P/1 – Você se lembra da chuva?


R – Lembro.


P/1 – Como é que foi?


R – Eu lembro assim que era um domingo de tarde e nós tínhamos ido cortar umas canas pra trazer pras vacas na cocheira. Começou sair umas nuvens assim no céu, não era muito assim, não estava se preparando aquela chuvarada. E veio nesse mês de fevereiro uma chuva assim... Choveu a noite inteira e no outro dia os negócios que tinham perto do rio, foram levados água abaixo. E foi num mês de Janeiro que aconteceu isso aí, num mês de Janeiro.


P/1 – Seu pai saiu correndo? Como é que foi?


R – Não, ele ficou até dentro de casa porque a gente viu que como se salvar aquilo lá, né? A gente até conversou um com o outro: “Não adianta ficarmos apavorado. Seja o que Deus quiser agora”. E seca, eu me lembro de uma vez que ficou quatro meses sem chover em Fontoura Xavier, e daí, estragou muita plantação de fumo. O fumo na hora de coletar ele amarelou tudo a força, né, e não conseguimos ter um bom resultado na safra. Tivemos prejuízo também.


P/1 – Dilamar, você estava falando da sua infância, né, e a parte da escola? Como é que era a escola lá em Fontoura Xavier, nessa época?


R – Eu estudava numa escola estadual, que era uma escola assim, pela época, era organizada. Tinham professores bons, era uma escola bem tranquila pra estudar.


P/1 – Ela era grande?


R – Ela era uma escola grande.


P/1 – Tinha muitos alunos?


R – Tinha, naquela época setecentos e poucos alunos estudavam lá.


P/1 – E o que você lembra mais dessa época? Como é que era você chegando da escola? O seu dia a dia lá na escola? Descreve pra gente, por favor.


R – Ah, o que eu me lembro dessa época assim é dos professores, né? Tinha professora muito autoritária, meio braba. Às vezes, o aluno tinha dificuldade em aprender, não sei se o professor não sabia ensinar ou estava nervoso, ficava bravo. A gente perguntava se não aprendia na primeira vez, perguntava na segunda vez, e ele ficava nervoso, revoltado. Mas, nessa época, tinha professor bom também, tinha professor bem calmo pra dar aula, bem educado.


P/1 – Você se lembra do nome de alguns?


R – Tinha uma professora que marcou muito pra mim, que eu aprendi muito com ela, até foram duas professoras. A Dolores é professora ainda. E a minha primeira professora, que já morreu, mas também foi muito boa. Ela sabia ensinar, sabia educar o aluno.


P/1 – O que você lembra delas? Assim, de uma aula. Por que você acha que elas eram boas? O que elas faziam assim com você?


R – Elas tinham um jeito de se expressar. Elas se expressando conseguiam colocar na cabeça do aluno. Ela tinha uma tranquilidade assim pra conversar, pra explicar a matéria, às vezes ela nem precisava ela passar no quadro. Ela conseguia botar na cabeça do aluno. Daí ela mandava fazer uma provinha depois e o aluno ali já fazia, né? Através da fala dela tu conseguia aprender.


P/1 – Entendi. E a amizades, como é que era? Você tinha muitos amigos nessa época, fazia muita bagunça?


R – Não, eu nunca tive problema no colégio assim de bagunça. Meu pai também nunca teve problema comigo lá no colégio, um dia por causa de reunião. Sempre tinha reunião e quando eu não conseguia cem por cento de aula, de frequência, eu tinha noventa e poucos. Nunca fui assim de faltar muito à aula, só mesmo quando ficava doente mesmo.


P/1 – E seus amigos da época, quem eram? A turminha?


R – Os amigos da minha época sempre eram uma classe assim... Mesmo em

Fontoura, que era um município pequeno, com colégio estadual, às vezes dividia a classe, né? Dava pra ver assim, que tinha classe alta e a classe baixa. Eu já tinha mais amigo assim da classe baixa. Tinha um grupo de “guri” e de meninas, mas da classe baixa, Não é que nós não queríamos se misturar com a classe alta, às vezes, a gente não era aceito por eles, então tinha aquela divisão.




P/1 – Por quê?


R – Às vezes, por causa de ser um município pequeno acontece de as pessoas terem mais coisas que outros. Normal de ter né? Tinha essa divisão e já hoje pelo que eu percebo, tenho um piá estudando, já não existe isso aí. Hoje não, hoje é muito diferente.


P/1 – E o que você fazia aí com essa turminha aí de baixo?


R – Ah, nós jogava “bolito” no colégio, jogava bola, jogava vôlei na hora do recreio. Nós tínhamos o nosso grupo de sempre, eram sempre os mesmos colegas.


P/1 – O que é a recordação mais gostosa que você tem dessa época de escola? Um dia ou algum acontecimento?


R – A recordação que eu lembro até hoje foi quando eu fiz nove anos de idade e a minha professora levou um bolo pra sala de aula. Eu não sabia, daí ela deu aula normal até a hora do recreio e, daí, depois nós voltamos do recreio, ela trouxe um bolo. E daí, no final, ela falou que fez uma arrecadação e que cada colega tinha ajudado a comprar aquele bolo. Essa foi uma das melhores lembranças que eu tenho da aula, da época que eu estudava.


P/1 – E como é que você foi ficando jovem? Você continuou trabalhando com seus pais na roça? Mudou de colégio ou ficou na mesma escola? Como é que foi?


R – Não, ali no colégio eu estudei até terminar o ensino médio e, na roça, eu trabalhei com os meus pais até os 16 anos. Depois dos 16 anos, já saí trabalhar fora.


P/1 – Começou trabalhar aonde?


R – Eu comecei a trabalhar numa fábrica de calçado que tinha no município mesmo. Mas, eu não gostei muito do serviço ali e, daí, fui pra Porto Alegre. Lá trabalhei numa fábrica de colchão.


P/1 – Tá, mas antes de Porto Alegre, você trabalhou nessa fábrica em Fontoura Xavier?


R – Em Fontoura Xavier.


P/1 – Como era essa fábrica?


R – Era uma fábrica de calçado, né? O serviço era bastante puxado e tinha um cheiro muito forte de cola, que me começou a fazer mal. Daí, eu pedi pra sair. Cheguei pro meu ex-chefe, meu superior, e pedi: “Eu quero sair da empresa, tal, tu me manda?”. Mas daí como eu era um funcionário que não tinha nenhum atestado dentro da empresa, eles não queriam me mandar embora, e nem fazer um acordo. Daí eu pedi as contas. Pedi demissão e saí da empresa.


P/1 – Daí foi pra Porto Alegre?


R – Daí fui pra Porto Alegre.


P/1 – Como é que foi isso? Já conhecia Porto Alegre?


R – É que eu tinha uns irmãos mais velhos que já estavam morando em Porto Alegre. Eu fui morar e trabalhar com eles.


P/1 – Você lembra o dia que você chegou à Porto Alegre?


R – Lembro.


P/1 – Conta pra mim como é que foi.


R – Quando eu cheguei a Porto Alegre pra mim tudo era novidade, né? Eu saí de um município pequeno e fui pra capital do Estado. Eu cheguei lá na Rodoviária de Porto Alegre e de lá peguei um táxi para a casa do meu irmão.

P/1 – Onde ficava a casa?


R – Da rodoviária ficava ali uns 40 quilômetros. Ele morava na região de Porto Alegre, em Sapucaia. E daí eu trabalhei lá em Porto Alegre, trabalhei mais um ano e oito meses.


P/1 – Como é que você conseguiu esse emprego lá?


R – Eu consegui, naquela época, fui atrás de emprego e fiquei fazendo ficha nas outras empresas. Até que eu cheguei numa empresa, fiz ficha, e quatro dias depois me chamaram. E daí, comecei a trabalhar.


P/1 – Como que era esse trabalho, onde que era?


R – O trabalho era em Porto Alegre mesmo.


P/1 – Não, sim, mas qual era a empresa?


R – Era na Tolião Gaúcho, uma empresa de espumação, que fazia colchão, poltrona de avião, espumação pra poltrona de avião, de ônibus. E eu trabalhava mais na parte do almoxarifado, sendo responsável pela saída e entrada de material na empresa. Eu trabalhei um ano e oito meses nessa empresa.


P/1 – Você já tinha uns 18 anos mais ou menos?


R – Quando eu iniciei trabalhar não tinha bem 18 anos, tinha uns 17 anos.


P/1 – E aí como é que era o seu dia a dia de trabalho? Você fez novos amigos?


R – Eu tinha bastantes amigos dentro da empresa. Só saí de lá por que eu casei e a empresa me deu um dia de folga. Quando eu casei, eles me liberaram e eu fui casar no meu município. Depois, demorou mais de dois meses pra eu voltar de novo pra minha casa, porque eu tinha só um dia de folga.

Às vezes, quando apertava demais o serviço, nem um dia de folga eu conseguia.


P/1 – Mas vem cá, nessa época então você estava em Porto Alegre morando com seu irmão, era isso? Onde você morava? Você morava com quem? Você morava com seu irmão, com quem? Mais quem?


R – Eu morava com o meu irmão, minha cunhada e os filhos dele. Ele tinha dois filhos.


P/1 – Aí você conheceu sua namorada?


R – Não, a namorada eu já tinha conhecido aqui em Fontoura.


P/1 – Ah, então me conta isso. Como é que você foi embora namorando?


R – É, quando eu saí daqui eu já era noivo, né?


P/1 – Então me conta como você conheceu sua mulher.


R – Eu a conheci no próprio município onde eu moro, no salão da comunidade. E começamos namorar ali até que um dia nós fomos passear na casa um do outro e, nos casamos.


P/1 – Como ela se chama?


R – Rosimeri Lima Godoy.


P/1 – Você lembra-se do primeiro dia que você encontrou com ela?


R – Lembro.


P/1 – Conta pra mim.


R – O primeiro dia foi no salão da comunidade. Nós nos encontramos depois de uma missa que tinha na igreja, nós fomos pro salão da comunidade. Ela era professora de catequese e eu era coordenador de um grupo de jovens. Nós nos achamos ali e começamos a namorar.







P/1 – Daí, quando você foi pra Porto Alegre, você teve que deixar ela aqui?


R – Deixei aqui. Daí, depois de um tempo, em que eu já trabalhava em Porto Alegre e namorava ela, eu casei.


P/1 – Mas aí você foi pra lá, deixou ela aqui, só no telefone? Um dia vocês, como é que foi? “Vamos casar”? Conta como é que foi essa decisão.


R – Naquela época não era muito telefone. Isso foi em 91, 92, né, era mais carta mesmo, escrita na caneta. Quando eu namorava, eu vinha uma vez por mês para ver ela. Mas, depois que nós nos casamos, começou a complicar mais. A empresa começou pegar mais serviço pra fazer, começou a ter mais trabalho.


P/1 – Mas pera aí, você casou e ela continuou morando aqui?


R – Ficou. Ficou morando aqui quando eu casei.


P/1 – E aí era difícil demais então?


R – Sim, daí ela ficou. Eu vim pra casar e depois levei dois meses pra vir em casa de novo.


P/1 – E aí como é que foi? Como você saiu do trabalho? Você falou que ficou só um ano lá né?


R – Pois é, eu cheguei e falei pros caras, né, pros chefe que eu queria sair da empresa porque não tinha como levar minha esposa para morar lá em Porto Alegre; eu ganhava pouco e os aluguel era muito caro lá. Daí eu cheguei e falei com eles, mas não quiseram me mandar embora. Disseram: “Não, pede demissão”, daí pedi demissão e saí. Daí, eu comecei a trabalhar aqui em Fontoura e até hoje tô na mesma empresa. Vinte anos, né?


P/1 – Então me conta. Peraí, você voltou o que, em 92, pra cá. Como é que foi voltar pra sua cidade? Você foi morar onde?


R – Daí, meu pai me deu uma casa pra morar.

Era uma casa do meu pai, só que eu não morava junto com meu pai, eu morava numa casa apartada, eu e a minha esposa. Daí eu fui procurar serviço nessa empresa, que hoje é a BRF [Brasil Foods], mas que naquela época era Vital. Eu fiz a ficha na empresa e dali uns dias me chamaram. Faz 20 anos que estou trabalhando aqui na mesma empresa.


P/1 – Como e que foi? Quem te falou? Você já sabia da empresa aqui, falou: “Vou lá me cadastrar”, ou alguém te indicou?


R – O meu sogro. O meu sogro já trabalhava aqui já. Ele me indicou: “Ó, tu quer trabalhar lá? Lá vai ter vaga”. Daí eu vim aqui, fiz ficha e logo me chamaram e comecei a trabalhar. Meu sogro que indicou porque já trabalhava na empresa.


P/1 – Você veio fazer o que aqui?


R – Eu comecei no Serviços Gerais aqui quando eu comecei trabalhar.


P/1 – O que você tinha que fazer nos serviços gerais?


R – Fazia tudo: coletava ovo, tratava com pinto pequeno, fazia limpeza e a classificação de ovos. Fazia o que tinha que ser feito em serviços gerais.


P/1 – E você se lembra do primeiro dia de trabalho?


R – Lembro.


P/1 – Conta pra mim como é que foi.


R – Meu primeiro dia de trabalho começou em 16 de novembro de 1992, um dia ensolarado, um dia bonito. Pra mim era meio estranho também, porque eu já vinha trabalhando em Porto Alegre, lá no meio do movimento. Achei meio estranho o primeiro dia, mas depois comecei a me acostumar e a gostar do trabalho. Até hoje estou trabalhando.


P/1 – A granja era aqui no mesmo lugar?


R – É, no mesmo lugar.


P/1 – Descreve pra mim como era a linha São Roque em 92.


R – Em noventa e dois era um colégio de madeira que tinha. Este colégio não tinha este material.


P/1 – E a região toda?


R – Esse salão bonito que tem aqui na frente era um salãozinho de madeira. A igreja era de madeira também, não era pré-moldado. Aqui tinham poucos moradores. Era assim um local bem, como é que eu vou dizer? Tinham poucos moradores, não era como é hoje.


P/1 – E aí você veio pra morar aqui no povoado ou ficou morando em Fontoura Xavier?


R – Eu fiquei morando no interior de Fontoura, numa área rural.


P/1 – Mas não aqui?


R – Não aqui. Eu já morava em outra comunidade, a da Ponte Tigela. Depois que eu me mudei pro centro da cidade em Fontoura Xavier.


P/1 – E como é que você vinha de lá dessa comunidade? Você morava pra cá, naquela época.


R – Olha, a maioria das vezes eu vinha a pé, eu vinha caminhando.


P/1 – Mas era longe? Quanto tempo?


R – Dava uns três quilômetros. Três quilômetros pra ir e três pra voltar.


P/1 – Como é que era a caminhada? Você vinha sozinho?


R – A meu maioria das veze eu vinha sozinho, mas, às vezes, vinha com meu sogro, vinha conversando com ele. Às vezes, quando dava, eu também vinha de bicicleta.


P/1 – Nessa época dos primeiros tempos, dos primeiros anos de trabalho na empresa, o que você se lembra mais? De alguma pessoa, de alguma atividade? O que ficou na sua lembrança desse período?


R – A gente se lembra das pessoas com quem trabalhamos, muitas pessoas boas, né? Alguns já estão falecidos, outros já estão em outras empresas. A gente viu bastante colega, pessoas que ajudaram também, ajudaram funcionários. Muitos caras, que tinham cargos superiores dentro da empresa, ajudaram e deram oportunidade pra funcionários, muita coisa boa. Também me lembro das coisas ruins que tiveram.


P/1 – O que aconteceu de ruim?


R – De ruim, vou dizer assim pra ti que uns tempos atrás, quando nós começamos a trabalhar, não tinham muito assim, como é que eu vou dizer pra ti? Não tinha muita oportunidade. Hoje não, hoje as pessoas têm oportunidade de mostrar que quer crescer dentro da empresa. A empresa dá muita oportunidade para as pessoas.


P/1 – O que você mais gostava de fazer naquela época? Atividade, assim.


R – Naquela época o que mais eu gostava de fazer era trabalhar com manejo de matrizes.


P/1 – O que é isso?


R – Manejo de matriz é tu trabalhar com qualidade de ovos, trabalhar com a limpeza de galpão. Trabalhar com vários manejos assim de produção de ovos, como por exemplo, assim também com pessoa, que é a minha função hoje. Tenho muita ligação com as pessoas, tenho que estar conversando direto com as pessoas, dialogando e explicando as coisas pra eles. Muitas vezes a gente aprende com as pessoas também.


P/1 – Daí nessa época então você trabalhava aqui e morava lá na comunidade rural. E você teve filho? Como era a sua vida com a família?


R – Eu tenho. Depois que nós nos casamos, minha mulher demorou oito anos pra engravidar. Nós temos um filho. É filho único, e hoje ele está com 13 anos. Ele estuda num turno e no outro ele faz curso. Ele também joga na escolinha de futebol três dias por semana.


P/1 – E depois da área rural você foi morar na cidade mesmo, né, em Fontoura Xavier? E onde você mora até hoje?


R – Até hoje.


P/1 – Como é que foi essa mudança? Você foi mudar pra onde? Você mora em casa? Conta pra mim como é que foi.


R – Não, daí eu comprei um... Na área rural onde eu morei já era meu. Daí eu comprei um terreno na cidade e construí uma casa. Daí até comprei um terreno e a casa pra construir e alugar. Um dia, conversando com a minha esposa, ela falou: “Nós vamos ter que morar mais perto. Tá ficando ruim o acesso pro filho ir pro colégio e vai ficar difícil pra mim e não pra ele. Pra nós irmos morar lá eu vou comprar uma moto e um carro, que a gente vai pro serviço de moto. O dia que não puder ir de moto, viemos de carro, e lá vai ficar mais fácil pra ele estudar”. Mas não é que nós não gostávamos de morar lá no interior, era bom, mas só que nós nos mudamos pra lá pra facilitar o estudo pro meu filho, né?


P/1 – Ô Dilamar, isso nós já estamos falando o que? De mais ou menos final dos anos 90, 2000, mais ou menos? Essa época? Esse período é mais ou menos esse?


R – Que eu me mudei?


P/1 – É.


R – Já foi 2008 quando eu me mudei.


P/1 – Ah tá, então você mudou mais recente?


R – É.


P/1 – O seu filho, na primeira infância, ficou ainda morando lá na roça?


R – Sim, ficou. Só que ele não estudava no colégio de Fontoura. Ele estudava num colégio no município vizinho. Daí minha esposa que levava ele. Tinha que atravessar um asfalto pra ir, uma BR, e levava ele ao meio dia e no final da tarde ela pegá-lo ele pra trazer pra casa. O ônibus pegava lá e levava pra outro município pra estudar.


P/1 – E como é que era sua vida em família? Você chegava do trabalho, o que você costumava fazer com a criança, com a sua esposa?


R –



Quando eu chegava do trabalho, eu sempre cobrava dele, na época em que ele estudava, como é que estavam os estudos. Eu ficava assim mais preocupado no estudo dele. Nós conversávamos, ele e minha esposa.

Ele às vezes tinha uma dificuldade de aprender alguma coisa, a gente pegava e ensinava pra ele, quando ele estava em casa, tudo junto.


P/1 – E vocês já viajaram? Onde que é o lugar mais longe que vocês já foram?


R – O lugar mais longe que nós já fomos foi pra Florianópolis.


P/1 – Você foi fazer o que lá?


R – Nós temos parentes lá, a gente foi passear em Florianópolis.


P/1 – Quando vocês foram?


R – Foi em 2006 que nós estivemos lá.


P/1 – Como é que você se lembra dessa viagem?


R – Ah, nós fomos numa época de verão. Florianópolis tem muita praia, e a gente deu uma passada nela. Levamos o “piá” lá conhecer a praia, e ficamos dois dias na casa dos nossos parentes. No outro dia, nós voltamos.


P/1 – Você gostou dessa viagem?


R – Gostei.


P/1 – E seus pais, Dilamar, como que eles faleceram?


R – O meu pai ele fumava. Fumava demais. Ele teve um enfisema pulmonar provocada pelo cigarro. Ele quando faleceu, tinha 72 anos, mas era uma pessoa que nunca teve problema de colesterol, nunca teve problema de diabete, de pressão alta, não teve problema de nada, só o a enfisema pulmonar provocada pelo cigarro. Ele faleceu com 72 anos, mas se olhasse a aparência dele, tu dizias que ele era um homem de 50 anos. A minha mãe faleceu de infarto, mas ela tinha problema mesmo de coração, de pressão e colesterol.


P/1 – Ela faleceu depois do seu pai?


R – Não, a minha mãe na verdade que cuidava do meu pai. Até que quando eu trabalhava aqui, vieram me avisar que minha mãe tinha morrido, eu até perguntei: “Não, mas foi o pai que morreu?”, daí o cara disse: “Não, foi a sua mãe”. E eu disse: “Mas como foi a mãe se ela estava bem e o pai que anda com problema de saúde?”, “Não, mas foi sua mãe que morreu”. Ela cuidava do pai que estava doente e ela que faleceu um ano antes dele. Quando fez um ano que faleceu minha mãe, faleceu o pai. Minha mãe faleceu um ano primeiro que o pai.




P/1 – Que ano foi?


R – A mãe faleceu em 2001 e o pai 2002.


P/1 – E Dilamar, e o seu trabalho? Você começou a contar como que era o seu trabalho, como é que foram as mudanças ao longo de todos esses anos, aqui na granja?


R – Veio acontecendo as mudanças através do meu esforço, do meu trabalho e do apoio da empresa também. Comecei como auxiliar de serviços gerais e depois passei pra líder de grupo, que seria um cara responsável por uma turma. Depois, com o tempo, eu passei pra auxiliar técnico, auxiliar de agropecuária, e hoje eu tô como técnico de agropecuária na empresa.


P/1 – O que faz o técnico de agropecuária na empresa?


R – O técnico de agropecuária é responsável por todo manejo de matriz da empresa, pelo manejo de recria, de produção, debilidade, de tudo quanto é tipo de metas e resultado.


P/1 – Entendi. E Dilamar, como que você ficou sabendo desse projeto aqui de revitalização da escola?


R – Esse projeto eu fiquei sabendo numa reunião em Lajeado, quando o gestor comentou comigo com meu colega Otávio que ia ter um projeto aqui em Fontoura. Perguntaram pra nós o que achávamos do projeto. Disse: “Não, o projeto é bom, vamos tocar em frente”. E foi o que aconteceu. Nós conseguimos trazer pro nosso município o projeto e com certeza deu certo. Isso dá pra ver hoje, como que está o projeto.


P/1 – Você falou como era essa escola em 91 quando você chegou aqui que ela era de madeira, tal. Mas antes do projeto começar, pouco tempo atrás, dois anos atrás, como que era essa escola? Descreve pra mim.


R – Dois anos atrás, antes de começar o projeto, ela era uma escola de material, de pré-moldagem, mas não tinha pintura, tinha umas “arvoiada” e tudo em cima quase caindo em cima do colégio. Tinha uma árvore aqui na frente que criava bugio, bugiosinhos que dá na árvore, cabeludo que chama, caía ali, era perigoso pras criança. Tinha horta, mas não tinha nada plantado. Só tinha vegetação, mato. E o pátio também não era fechado como é hoje, bem fechado. Não tinha também o parquezinho ali atrás pras crianças brincarem.


P/1 – E como é que eles te falaram? Como é que o projeto foi apresentado pra vocês?


R – Eles falaram que se nós pegássemos e aplicássemos o projeto aqui ia ser bom. Era mais pra educar por que nós tínhamos muito problema de lixo na comunidade. Tínhamos lixo solto nas ruas, os moradores das comunidades não tinham uma lixeira, o caminhão do lixo não passava pegando lixo aqui. Depois que entrou o projeto, nós já conseguimos que o caminhão do lixo passasse aqui quase diretamente. Hoje 90% dos moradores têm a lixeira deles pra colocar o lixo. Esse lixo tem destino. Um caminhão, que é terceirizado da prefeitura, vem e carrega o lixo, que tem o destino certo. Através desse projeto também veio um campo de grama sintética, que tem aqui em cima, do lado, em frente o escritório. Também vieram muitas outras coisas pra melhorar. E hoje, o projeto já é regional, porque está num município vizinho. Esses dias eu estava no município de Soledade, que dá 40 quilometro daqui. Lá, o pessoal perguntou: “Ah, como é que saiu aquele projeto lá na comunidade em São Roque? São Roque, tal, tal. Como é que podemos fazer pra levar aquele projeto pro nosso município?”. Daí eu disse pra ele: “Aquilo lá não é só uma estrutura bonita. O mais bonito que aconteceu foi educar o pessoal, saber onde colocar o lixo”. Porque lá tinha um problema muito sério de lixo. Lá tinha lixo no meio do mato, na beira das estradas, no meio da rua, não tinha lixeira. Eu disse pra ele: “Não é só chegar lá e olhar assim. A estrutura tá bonita, mas o mais importante foi educar o pessoal, saber onde colar o lixo e ter aonde colocar o lixo”.


P/1 – Ô Dilamar, como é que você, como funcionário da BRF, se envolveu neste projeto?


R – Eu me envolvi neste projeto porque eu fui convidado pelos meus colegas. Os meus colegas de agropecuária me convidaram e eu queria participar também. Eu achava muito importante um projeto desse aqui na nossa comunidade pela situação que nós vivíamos. Eu já tinha conhecimento em trabalhar assim em comunidade, porque eu já fui presidente e vice-presidente de comunidade. Então eu já queria ajudar, botar meus conhecimentos pra ajudar a funcionar.


P/1 – E o que você fez?


R – Eu participei em várias funções. Eu participei desde a cerca. Vim aqui um dia, peguei as crianças pra juntar o lixo ao redor do colégio, ao redor do pátio. Trabalhei com o pessoal da comunidade juntando o lixo na própria comunidade e arrumei um caminhão da prefeitura pra vir carregar o lixo. Nós juntávamos o lixo na rua e nas beiras da mata e ensacava com o pessoal da comunidade. Depois vinha o caminhão carregar o lixo.


P/1 – Isso foi o começo do projeto então? Como que o trabalho foi se desenvolvendo? As etapas do trabalho?


R – As etapas foram se desenvolvendo assim: nós começamos primeira pela organização do colégio. Com pintura, lavagem do colégio, por fora pra pintar. Depois, começamos limpar a horta, e com o tempo preparamos a terra pra plantar a horta. Daí, partimos pro Cinco S, que seria mais na parte do lixo. E, começamos a envolver as crianças, o pessoal da comunidade.


P/1 – Como é esse negócio do Cinco S? Explica pra mim.


R – Hoje na BRF nós trabalhamos com o Cinco S através de organização, disciplina. O que é o Cinco S? O Cinco S ele seria pra nós hoje um produto de qualidade pra nossa empresa. E nós pegamos aquele conhecimento que tínhamos dentro da BRF, como por exemplo, quando tu pegas uma pasta, tu tens que saber o que tem dentro daquela pasta. Tem que ter uma etiqueta por fora da pasta, identificando o que tem dentro. Se tu pegar tua mochila, tu sabes onde soltar sua mochila. Não é qualquer lugar. Tem que ter uma identificação pra ti botar tua mochila. Se tu botar a tua toalha, o teu calçado, tem que ter identificação, o nome do funcionário. Daquilo que nós trabalhávamos, do conhecimento dos Cinco S lá, nós passamos aqui no colégio. Hoje dá pra perceber. Por que o colégio tá organizado. Cada aluno tem a sua toalha, cada arquivo tem o seu nome.


P/1 – Entendi. Por que a ideia não era só reformar a escola?


R – Não.


P/1 – A ideia era...


R – Era educar o pessoal, pegar e ensinar o pessoal.


P/1 – E como é que foi essa história da horta? A horta foi um troço legal, porque estimula o comprometimento dos alunos, né? Conta como é que foi essa implementação da nova horta aqui da escola.


R – A nossa ideia da horta foi de conseguir produzir a própria verdura para o aluno consumir na merenda. Essa foi nossa ideia e foi o que aconteceu, e está acontecendo hoje. Produzimos a verdura ali na horta. É um produto orgânico, não é um produto que tem veneno, não tem tóxico nenhum. Aí você recolhe aquela verdura e traz para o consumo dos alunos na hora da merenda.


P/1 – E você lembra? Você participou de quando eles foram revitalizar a horta? Você estava nesse trabalho aí no dia, ou não?


R –



Estava algum dia, era uma equipe grande, cada dia vinha um. Algum dia eu estava. Estavam as crianças juntas ali vendo como preparava a horta e o pessoal explicando como que preparava para fazer a horta.


P/1 – Mas você lembra-se do trabalho deles lá, mexendo na terra, plantando as mudinhas?


R – Sim. Eles ajudaram a mexer na terra, ajudaram a plantar as verduras, ensinaram fazer a estrutura que tinha que fazer ali.


P/1 – Você contou como é que era a escola antes. Como é que você vê a escola hoje, Dilamar?


R – Como eu vejo hoje? Eu vejo que ela melhorou, mas ela tem mais pra melhorar.


P/1 – O que?


R – A estrutura do colégio, eu acho assim que tinha que ser maior. Eu vejo também que nós tínhamos que trazer mais alunos pra estudarem nesse colégio.


P/1 – Dilamar, esse projeto só foi possível graças ao comprometimento dos colaboradores que trabalharam como voluntário, né? O que você acha disso? De ser um voluntário num projeto social?


R – Eu acho muito importante. Eu acho assim que tu aprendes muitas coisas. É um conhecimento a mais que tu levas e, é muito importante porque cada um de nós demos um pouco, a gente vê que cada pouquinho que cada um consegue ajudar, a coisa funciona.


P/1 – E qual o sentimento que você tem hoje de passar aqui todo dia e ver essa escola revitalizada?


R – Eu fico muito contente. No início a gente pensava assim: “Será que esse projeto, a gente vai fazer dar certo? Será que vamos conseguir manter?” Porque fazer não é difícil. Problema é manter, né? Eu ficava assim. Hoje eu venho aqui no colégio, converso com os professores, vejo assim tudo organizadinho. Às vezes tô conversando com a diretora, com a vice-diretora, com a secretária da educação que pergunta como é que tá a frequência dos alunos lá, depois do projeto, né? “Ah, melhorou bah, melhorou cem por cento. Aluno que tinha muita falta hoje tá com uma frequência boa lá”. Então eu sinto orgulho de ter participado desse projeto, de ser voluntário.


P/1 – E o que você acha de trabalhar numa empresa que estimulou essa ação social?


R – O que eu acho? Eu acho o máximo. Eu acho muito importante isso aí. Se toda empresa tivesse uma mentalidade dessa da BRF de fazer um projeto desse, que não esperasse só pelo poder público pra fazer, eu acho que nosso Brasil hoje era muito diferente. Pensar que às vezes não é coisa assim que envolve muito dinheiro pra fazer. O que envolve assim é cada um dar um pouco do seu tempo. Eu, não tirei o tempo do meu trabalho pra fazer isso aí, não tirou o tempo da minha família. Tenho certeza que os outros colegas que participaram e estão participando, vão dizer a mesma coisa. Não tira tempo de nada. É só ter a vontade de ajudar, vai ali e ajuda e a coisa acontece.


P/1 – Você tem algum sonho ainda em relação a essa comunidade? Você olha assim e fala: “O que podia melhorar a mais”? Assim, o que você gostaria de trabalhar pra melhorar?


R – Já tem um projeto do prefeito municipal e é um sonho meu, de fazer outro colégio, fazer um maior aqui. Que aqui seria da primeira até a quinta série. E depois tem o pessoal da noite que estuda, que faz o EJA [Educação de Jovens e Adultos], né? Ah, através do projeto também veio o EJA. Esqueci-me de falar no início da entrevista.


P/1 – Então conta pra mim, como é que foi isso?


R – Nós iniciamos com o projeto e daí falamos com a secretária da educação e com o prefeito pra trazermos o ensino, o EJA, que seria o ensino para adultos e jovens. Foi através do projeto que nós conseguimos. E como eu estava falando, hoje, o maior sonho que eu teria é de ver outro colégio maior aqui na comunidade. Porque hoje ela está sendo uma comunidade bem desenvolvida no nosso município. Então o que a gente espera? O prefeito já tem um projeto de fazer um colégio maior, de botar da primeira série, deixar da primeira a quinta aqui e fazer outro colégio maior do lado ali da quinta série até oitava série. Termina o ensino fundamental tudo aqui


P/1 – Legal. Dilamar, tudo isso que a gente falou, das melhorias da escola, das melhorias tanto físicas como de gestão, enfim, todo esse trabalho, a finalidade é melhorar a vida dos alunos. Como você vê essa transformação das crianças? Você que tá sempre por aqui, como era antes e como é agora?


R – Eu vejo assim uma autoestima maior nas crianças. Até aqui mesmo dentro do colégio. A criança se sente com mais autoestima pra vir pro colégio, pra estudar. O colégio bem limpo, bem pintado, com outra aparência. A gente vê assim que eles estão muito felizes.


P/1 – Valeu a pena?


R – Valeu a pena.


P/1 – Se tivesse que fazer de novo, faria de novo?


R – É.


P/1 – Tem mais alguma coisa que eu não te perguntei e você gostaria de falar?


R – Não, mas eu acho que é isso aí.


P/1 – Falamos um pouquinho de tudo né?


R – É. Falemos um pouquinho, resumimos um pouquinho de cada um e falemos de todos os acontecimentos do projeto, né? Uma coisa que eu não falei também, é que a água que vem aqui pro colégio é da nossa própria empresa. Nós damos água para o colégio, não cobramos taxa, faz tudo parte do projeto.


P/1 – Quer dizer, a empresa ela precisa fazer a sua parte pra melhorar a sociedade em volta dela?


R – É, isso é o final, a empresa tem que fazer a sua parte pra melhorar a sociedade em volta porque talvez as crianças que estão estudando aqui hoje, quem sabe amanhã, não se tornem funcionários da BRF, né? Futuramente ser funcionário da BRF. Que já fique aqui na comunidade do colégio.