Museu da Pessoa

Uma realização profissional e também pessoal

autoria: Museu da Pessoa personagem: José Cordeiro Neves

Projeto Acesita 60 Anos
Depoimento de José Cordeiro Neves
Entrevistado por Tatiana Dias
Timóteo, 1 de julho de 2004
Entrevista ACT_HV009
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por Leonardo Sousa

P/1 – Bom, eu vou começar a entrevista, seu Cordeiro, pedindo para o senhor repetir para mim o seu nome completo, a data e o local de nascimento.

R – José Cordeiro Neves, nasci na cidade de Inhapim, Minas Gerais. Uma pequena cidade distante daqui, cerca de oitenta quilômetros. Nasci da 11 de dezembro 1949.

P/1 – Até que idade o senhor fica na cidade natal?

R – Eu fiquei pouco tempo nessa cidade. O meu pai ao se casar com minha mãe foi morar dentro de uma propriedade do meu avô situada na área rural de Inhapim. E pouco tempo depois o meu avô resolveu mudar lá da região de Inhapim e comprou uma outra propriedade no município de Iapu. E para onde ele mudou e em seguida a família também se deslocou para lá. Então em Inhapim eu devo ter ficado não mais do que uns dois, três anos.

P/1 – E se mudam para...

R – Aí muda para, de novo para uma área rural do município de Iapu. Mas bem próximo à hoje chamada Naque. Que é uma cidade à margem do Rio Doce. Entre o Vale do Aço e Governador Valadares. Então ali permanecemos uma temporada. Até que meu pai foi servir o Exército. Ele foi servir o Exército no Rio de Janeiro. E ao final do seu tempo ali no Rio de Janeiro, quando ele foi dispensado, a guerra acabou e não precisou mais dele no Exército. Ele retornando do Rio de Janeiro para esse local onde nós morávamos na roça, o trem fez uma parada aqui em uma estação ferroviária daqui de Acesita. E durante aquela parada muita gente comentava que aqui estava começando uma empresa e que estava precisando trabalhadores. Então ao invés de dar continuidade à viagem e ele voltar para casa, acabou parando aqui. E no mesmo dia conseguiu o emprego na Acesita. Como ele era ex-soldado do Exército a Acesita interessou que ele trabalhasse na área de segurança. Então ele se tornou um vigilante da Acesita e foi escalado para trabalhar em uma área da Acesita chamada Serraria, Pedra Corrida. Que fica em torno também de uns oitenta quilômetros daqui. Mais próxima de Governador Valadares. Depois dele já estabelecido ele buscou a família. Então nós mudamos para essa região lá da Pedra Corrida onde ele atuou como vigilante. E em um certo momento desta atividade dele a Acesita precisou de mais pessoas aqui na usina. E ele foi convocado então para vir trabalhar na usina e na atividade mais fabril. Então nós mudamos para aqui. Isso foi 1957 quando nós mudamos para aqui. E onde eu estou até a presente data. Desde 1957 eu resido aqui em Timóteo.

P/1 – Só para registrar, o nome dos seus pais eu esqueci.

R – O meu pai se chamava Manoel Domingos Neves. O registro aqui na Acesita é 14938. E a minha mãe Zelinda Lucia Neves é do lar.

P/1 – Seu José Cordeiro, como que era Timóteo nessa época?

R – Olha, Timóteo era uma localidade em que viviam poucas pessoas. Um lugar bem pequeno e atividade focada exclusivamente na siderurgia aqui da Acesita. E era uma atividade que permitia uma certa informalidade, no convívio das pessoas com essa atividade da usina. Nós chegávamos a nos aproximar dos equipamentos funcionando. O acesso era um acesso...

P/1 – Quando criança?

R – Quando criança. Porque era algo assim bastante informal. Então eu já cheguei a levar comida para o meu pai bem próximo ao posto de trabalho dele. E era então um ambiente e um contexto bastante informal e pequeno. Existiam poucos veículos automotores aqui. Toda a sobrevivência era de uma certa forma viabilizada pela companhia Acesita. A Acesita ela tinha um armazém através do qual fornecia todos os suprimentos e os víveres. A ponto de fornecer lenha, fornecer, tinha uma loja que fornecia aquilo que de vestuário. Tinha farmácia. Tinha o transporte interno aqui no município. O ônibus era dela. Então toda a infra-estrutura era da Acesita. Ela fornecia a energia elétrica. Ela dava a casa para o empregado. Ela fazia a pintura da casa quando você achava que já era a hora de dar uma reforma na sua casa ou mudar a cor de uma parede. Você vinha, requisitava, a Acesita com a infraestrutura dela ia lá e atendia. Então era, fazendo uma comparação com a atualidade era um mundo bem exclusivo. De trabalhar na siderurgia, viver em função dela e viver dentro de um contorno que ela realmente propiciava todos os recursos. Escola, hospital e é um período muito interessante. É um início que hoje às vezes a gente sente saudade. O tempo em que as coisas aconteciam muito natural, muito espontâneo. Mas era um viver diferente.

P/1 – E em qual colégio que o senhor estudava?

R – Eu fiz o curso primário na Escola Tenente José Luciano, que é no Bairro Quitandinha. Que é o local onde eu morava nessa ocasião que eu já tinha idade escolar. Porque quando o primeiro local que eu residi foi em um acampamento chamado Vai Quem Quer. Era um acampamento cujas casas eram de madeira e a infraestrutura assim relativamente limitada. Mas eu vivi ali uns dois anos e à medida que o empregado, naquela época, ia obtendo uma progressão ele também conseguia alguns benefícios. E dentre eles é mudar o padrão da residência. E aí nessa época o meu pai já conseguiu uma casa já de alvenaria nesse Bairro Quitandinha. E a escola era perto da minha casa e eu fiz o curso primário lá. Terminado o curso primário eu fui fazer um curso que hoje não existe mais, chamado Admissão ao Ginásio. E existia um colégio aqui no centro, ao lado da igreja católica aqui no centro tinha um colégio de irmãs de caridade chamada Beneficência Popular. Era mais conhecido por BenePol. E nessa escola ela atendia ao público feminino para a formação das moças, mas oferecia também o curso de Admissão ao Ginásio misto. Então eu fiz esse ano de Admissão ao Ginásio lá. E depois em seguida fui estudar no Colégio General Macedo Soares. Que é essa escola em frente aqui onde eu fiz o ginásio. E ali era exclusivamente para o público masculino. E era dirigido pelos padres Salesianos. Ali eu fiz o curso ginasial e o primeiro ano científico. Nesta ocasião então eu estava completando 18 anos. Eu fiz 18 anos dia 11 de dezembro e meu pai então logo em seguida falou assim: “Olha, você está completando os 18 anos e eu vou te dar um presente. E seguramente vai ser um grande presente que eu vou te dar. Eu vou pleitear uma possibilidade de você começar a trabalhar na Acesita.” E no dia 15 de dezembro eu comecei a trabalhar na Acesita. Ele demorou apenas quatro dias para cumprir essa promessa.

P/1 – Qual era o posto de trabalho do seu pai nessa época?

R – O meu pai ele era, nessa ocasião, ele era encarregado de turma. Hoje não existe essa função mais. Era cumprindo uma certa lateralidade, era como se fosse um supervisor. Mas não chegava ao status de um supervisor atualmente. Ele era um encarregado. Era um líder de equipe na laminação de barras. E ele realmente me deu esse presente e eu considero que foi o melhor presente que ele me deu.

P/1 – Já era um sonho?

R – Já, né? E o meu pai era muito feliz. Transmitia essa felicidade. E por outro lado eu via também que na Acesita era uma oportunidade dos meus sonhos se tornarem realidade.

P/1 – E os irmãos, seus irmãos já eram, qual a colocação do senhor na família? O senhor é o mais velho?

R – Eu sou o primeiro dos irmãos. São nove. E a vida não era fácil, era muito difícil aqui. Eu tinha que trabalhar para ajudar o meu pai no sustento da família. A família muito grande, nove filhos. E o salário não era... o salário não era grande. Ele não dava. O salário não era o suficiente. Mas o meu pai era feliz. O meu pai ele gostava de trabalhar na Acesita. E então eu precisei começar a trabalhar muito cedo. Foi quando por volta de 1964 eu tive o meu primeiro emprego, que foi em uma farmácia.

P/1 – Hum.

R – E depois que eu tive uma certa segurança que eu vi que eu já podia começar realmente enfrentar. E nessa farmácia eu não teria muita chance além de ser um contínuo, digamos assim, eu busquei outra alternativa. E essa, apesar de ser muito simples as coisas que eu fazia lá, mas ela já me deu uma bagagem que eu pude chegar a uma segunda farmácia e pleitear uma outra colocação. Eu já não estaria começando do zero. Eu já tinha alguma vivência. E aí consegui meu segundo emprego em uma outra farmácia. Aonde eu pude começar a fazer outras tarefas mais, com mais conteúdo. Naquela época utilizava muita manipulação de remédio e eu já comecei a trabalhar com manipulação. Mas ao lado da farmácia tinha uma padaria. E era a única padaria aqui do Vale, hoje chamado Vale do Aço.

P/1 – Era a única da região inteira?

R – Era a única padaria. E eu percebi que eu teria uma chance ali maior se eu conseguisse entrar naquela padaria. E procurei o proprietário da padaria e ele me concedeu um emprego. E eu comecei então trabalhar nesta padaria entregando pão. Do município hoje conhecido como Coronel Fabriciano e Ipatinga, e Mesquita. Parte de Mesquita. Então era uma época que essas estradas não eram todas pavimentadas. Tinha um senhor que ele dirigia uma rural ou um caminhão e eu então era ali um agenciador. Agenciador e entregador dos pães, né? E foi uma oportunidade que eu pude experimentar, um crescimento e a maturidade foi vindo junto. Porque eu tinha que cumprir em nome do dono da padaria os compromissos assumidos um dia antes para depois cumprir. Eu pude ter guarda de valores significativos e aquilo contribuiu muito para minha já trajetória de maturidade. E estava nesse processo quando então o meu pai ele me deu isso. Um grande presente. E eu me recordo do primeiro dia. O momento que eu compareci no escritório central para apresentar a documentação e fazer a admissão. E ali começou um algo muito significativo na minha vida. São 37 anos praticamente, mas que para mim foi ontem. E que essa trajetória ela me proporcionou todas as realizações da minha vida. Então ali comecei de auxiliar de serviços. Aqui na Acesita. Então dia 15 de dezembro de 1967. Em uma área chamada de Apropriação. Essa área de Apropriação era como se fosse a coleta de dados para que a área da Acesita de Custos pudesse então fazer a apropriação dos consumos, dos materiais, das produtividades, dos equipamentos. Enfim a sustentação para o balanço econômico, sobretudo da parte de custos. Essa área ela com o advento do computador ela foi extinta. Porque toda coleta de dados que a gente fazia manualmente, ela à medida que automatização foi chegando ela foi sendo transferida para uma coleta automática de dados. E pouca coisa restou então para ser feita através do processo manual. Mas eu fiquei ali na Programação então de 1967 até cerca de 1970. E porque tão logo eu comecei na Acesita eu percebi que eu devia mudar a trajetória da minha formação escolar. Eu estava como eu disse fazendo, eu já tinha concluído o primeiro ano científico e percebi que para ter maiores oportunidades na Acesita seria melhor que eu mudasse para uma carreira técnica. Eu ingressei em um Colégio Técnico Industrial de Metalurgia, na época da Acesita, e comecei a fazer o curso de Técnico Metalúrgico. E concluí esse curso então por volta aí de 1971. E então em 1970 eu já terminando o curso técnico eu consegui uma transferência para a área de Planejamento e Programação da Produção da Acesita. E aí eu passei a exercer um cargo técnico já a partir de 1971, nesta área de Planejamento e Programação da Produção. Foi uma época muito importante porque eu saí do status de um auxiliar para um status de nível técnico. Isso marcou muito para mim. Marcou tanto nessa possibilidade de mudar de padrão, de status, como salarialmente. Isso foi um, o meu salário então ele subiu exponencialmente. Então aí a situação que eu vivia junto com a minha família de dificuldade ela começou a ser acalmada, começou a ter as coisas, não faltar mais. Mas pelo menos o equivalente para a necessidade. Aí eu tive condição de ajudar meu pai de uma maneira assim mais representativa na criação dos meus irmãos, da família. E naturalmente aí já começamos a poder comprar alguns utensílios, alguns móveis. Então o padrão de vida, né, da família começou a mudar a partir dessa ocasião. E aí de novo eu percebi que a Acesita era uma empresa que ela oferecia de fato oportunidades. Desde que as pessoas se preparassem. Era como se fosse um terreno fértil que à medida que fosse jogando semente ele ia, iria produzir frutos. Então eu fiquei muito grato e realizado já com a questão de ter ido fazer o Colégio Técnico e ter me transformado em um técnico. Aí eu percebi o seguinte que eu precisava dar outra caminhada. Não poderia ficar nisso. E quando então eu prestei o vestibular para o curso de Engenharia Metalúrgica em Governador Valadares. E mesmo trabalhando aqui na Acesita eu consegui fazer esse curso de Engenharia lá. Uma cidade distante daqui de 120 quilômetros. E ao final do expediente eu pegava um ônibus e percorria esses 120 quilômetros e estudava até por volta de 22:30 ou 23 horas. Voltava, chegava por volta de uma hora da manhã e foi assim, né?

P/1 – E a Acesita flexibilizava o horário de vocês para sair? Davam algum, deixava você sair mais cedo para poder pegar aula?

R – Não.

P/1 – Não.

R – Se fosse preciso em uma situação específica, uma situação esporádica nunca foi negada isso. Foi sempre permitido. Mas não foi modificado o sistema. Até porque eram muitas pessoas. Foi o MIT - Minas Instituto de Tecnologia, ele montou esse curso de Engenharia Metalúrgica à noite porque normalmente ele funcionava durante o dia. Ele montou para duas turmas que veio a atender a demanda aqui da Acesita e da Usiminas. Então formaram duas turmas nessa condição. Mas não houve necessidade de fazer essa modificação de regime de trabalho. Nós largávamos naquela época, me parece que em torno de 17h15 do serviço. E do serviço mesmo à gente já ia. E à medida que as coisas também foram progredindo é, de repente, já deu para alguns comprarem carro. E de repente nós já não íamos de ônibus mais, íamos de carro. E a situação foi melhorando e nós conseguimos concluir então esse curso.

P/1 – E o senhor permanecia nessa área de Planejamento?

R – Nessa área de Planejamento e Programação de Produção. Foi aí que então ao final do curso, em 1970, eu graduei no final de 1976. E então no mês de maio em 76 eu estava no meu posto de trabalho e me veio na cabeça: “Eu não posso esperar terminar a graduação para mim procurar arranjar um posto de trabalho compatível com o curso de Engenharia.” Foi quando eu fiz uma reflexão e vi, pensei o seguinte: “Qual que é o local que o meu perfil se adequa aqui na usina?” A usina tinha área, naquela época, tinha área de Produção que era Alto-forno, tinha Aciaria e tinha a Laminação de Barras e a Fundição. Eram essas as unidades em uma visão macro, eram essas unidades. Então eu fiz uma reflexão e pensei: “Como engenheiro metalúrgico com gosto por algumas disciplinas dentro do curso de Engenharia Metalúrgica e eu gostaria muito de trabalhar na Aciaria”.

P/1 – É mesmo?

R – É. E aí tão logo eu processei esse raciocínio eu deixei as coisas que eu estava fazendo naquele momento e me dirigi para a Aciaria. Cheguei à Aciaria, naquela época não usava, tinha poucas mulheres trabalhando aqui na usina. Usava é secretário. Tinha um, na Aciaria, um secretário chamado José Serafim. Eu cheguei: “Serafim, bom dia.” “Bom dia. O senhor vem trazer o Programa de Produção? Não é aqui não.” Eu falei: “Não, eu não vim trazer Programa de Produção, não. Eu estou querendo conversar com o chefe da Aciaria.” Na época chamado Lauro Chevrand. E ele falou assim: “Pois é eu vou te anunciar então.” Foi lá e me anunciou para o Lauro Chevrand. Mas me anunciou como um empregado lotado na Programação que estava ali para conversar com ele. O Lauro autorizou a minha entrada. E eu cheguei me apresentei e falei: “Lauro Chevrand, eu sou José Cordeiro Neves e eu estou aqui para te pedir uma oportunidade para trabalhar na Aciaria. Eu vou graduar no final do ano em Engenharia Metalúrgica e eu gostaria muito de trabalhar aqui. E a minha trajetória na Acesita eu entrei trabalhando na Apropriação com o senhor Oscar Sales - e ele conhecia - depois passei para a Programação, trabalhando com Saulo Társia e o Elídio. E eu estou aqui interessado, eu gostaria muito de trabalhar na Aciaria.” E ele atendeu e me ouviu mas de cabeça baixa. Ele não olhou para o meu rosto. Ele estava fazendo alguma coisa na mesa e ele continuou fazendo. Ele só levantou a cabeça e falou: “Você pode vim agora?” Eu falei assim: “Eu posso. Vou lá e falo com o Elídio, falo com o Saulo e venho. Por meu gosto eu venho.” “Então você pode ir e voltar hoje mesmo.” Aí eu saí dali entusiasmado, em uma velocidade. Daí conversei com os meus chefes na ocasião. E eles prontamente disseram: “Olha, se é para melhorar, se você vai ter oportunidades que nós não podemos te dar pelo menos agora nós vamos te liberar.” Então foi o tempo que eu ali, naturalmente que foi um simbólico ali de no mesmo dia, na mesma hora, mas foi o tempo de eu passar o meu serviço para uma outra pessoa. Isso deve ter durado um, talvez uma semana no máximo duas, e eu fui trabalhar na Aciaria. E me apresentei para o Lauro Chevrand. Ele me deu algumas diretrizes, me deu alguns desafios e me escalou para ser assistente de um engenheiro que era chefe dos fornos elétricos a ar lá na época. Chamado Joanes Knet. Joanes Maria de Knet. Um holandês. Ele...

P/1 – Skinet?

R – Joanes Maria de Knet.

P/1 – Ah, de Knet.

R – Era um holandês bravo, temperamental. E eu me apresentei para ele. Eu falei: “Olha, Lauro falou que é para mim trabalhar aqui. O Lauro está me escalando para trabalhar como seu assistente então estou aqui para começarmos juntos.” E aí ele falou: “Muito bem.” Aí me apresentei, ele me conheceu. Ele falou assim: “Olha, eu acho que nós vamos ser uns parceiros muito bons. Eu estou sentindo isso. Vou estabelecer aqui um critério: você vai cuidar da parte de pessoal. Você vai cuidar...” – na época a Acesita tinha um negócio de fazer ocorrência de ponto, trocar pessoal de letra, de equipe. Marcar férias. – “Olha, você vai cuidar dessa área. Você vai me aliviar e você vai me deixar cuidar mais da parte técnica. Então aquela gestão de primeira linha você vai conduzir. E se você fizer isso eu acho que nós vamos ser bons parceiros.” E eu então entrei dentro dessa linha de que ele precisava de um parceiro para aliviá-lo nesse sentido. E a parceria deu muito certo. Então ali eu não fiquei limitado só a essa questão de cuidar do pessoal. Naturalmente eu me interessei muito para a parte técnica. E ele também tinha disposição para ensinar. E ele foi me ensinando. Mas de repente ele tomou a decisão de mudar de emprego. Era uma pessoa muito, muito sonhadora. E ele foi para outros vôos. E hoje ele está morando em Belo Horizonte, depois de ter passado por várias empresas. Mas ele tinha alguns projetos e ele não quis continuar aqui na Acesita. E veio então um outro engenheiro que foi para trabalhar no lugar dele. Eu ainda estava na posição de assistente e me dedicando bastante. Muito interessado. Mas gostando, gostando muito mesmo da Aciaria, mas muito. Eu falei assim: “É aqui mesmo. Eu vim para onde eu achei que eu gostaria e é aqui mesmo.” Me dedicando muito. Até que isso, como eu disse, eu cheguei em maio de 76 para a Aciaria. Até que em 1978 eu fui convocado para uma reunião e o meu chefe naquela época me disse: “Olha, você tem sido muito dedicado. Você está muito interessado. Eu acho que nós precisamos investir em você. Nós vamos te mandar para o Japão.”

P/1 – Quem que era o seu chefe?

R – Na época o Lauro Chevrand, né, que tinha e ele era o chefe da Aciaria e o meu chefe que tinha ficado no lugar do Joanes ele chamava-se Ronaldo Bezerra. Eu fiquei feliz. “Para o Japão?” O lugar mais longe que eu tinha ido era Rio de Janeiro. “Que coisa, vou parar no Japão?” E aí começou a vir na minha mente que o meu pai era um autodidata e apaixonado por Geografia e História.

P/1 – Seu pai era um autodidata?

R – E o meu pai era um autodidata e gostava muito de Geografia e História. E eu herdei esse gosto dele, de Geografia e História. E aí logo me veio à mente “Mas que oportunidade. Além de me tornar um técnico, um engenheiro com mais capacitação eu vou poder conhecer um lugar fora do Brasil. Então isso vai conciliar, vai ser legal.” E fiquei muito entusiasmado. E chegou o dia e eu embarquei para o Japão. Para passar lá quase três meses. Eram dois, entre dois meses, é, quase que completava três meses no Japão. E quando eu estava no Japão nesse treinamento eu recebi um, na época não existia e-mail, era fax, fax...

P/1 – Telex?

R – Telex. Fax, telex, né? Recebi lá um telex com o seguinte dizer: “Olha, o Ronaldo Bezerra...” - que era o meu chefe - ele tinha acabado de sair da Acesita. E que eu estava sendo nomeado naquele momento para assumir o posto. E que eu estava fazendo um treinamento na área de Fornos Elétricos e que eu redirecionasse o meu treinamento para a área de Convertedor AOD. Porque daquela data para frente eu era o chefe dos fornos elétricos e AOD. Então foi um, né?

P/1 – Nossa.

R – Foi muito bom. Eu recebi, foi um desafio muito grande. E, um desafio muito grande, e eu então ali a minha carreira começou a ser direcionada para a área de Convertedor AOD. Mas eu queria voltar só um pouquinho antes em um item que eu acho que é relevante para essa nossa história. Eu trabalhando na Aciaria, antes de 76, antes de ir para o Japão. É, aliás, no ano de 76 mas antes de viajar para o Japão. Eu ia fazer uma viagem para a Acesita para participar de uma reunião no Rio Grande do Sul. E me preparei. Naquela época uma viagem para o Rio Grande do Sul era também uma viagem muito importante, né? E quando eu estava já no aeroporto para seguir a viagem para o Rio Grande do Sul eu recebi um recado. Que era para mim retornar porque aquele compromisso que eu ia fazer, realizar lá no Rio Grande do Sul ele tinha sido cancelado. Não ia ser mais necessário. Fiquei aborrecido, fiquei triste. Tinha pensado tanto lá no Rio Grande do Sul, fazer essa viagem e voltei. E quando eu retornei fui lá ao escritório eu queria saber detalhes. Que compromisso que tinha sido cancelado? Por que cancelado? Eu queria saber mais informações. Quando eu adentrei no escritório eu vi uma moça. E como eu te falei naquela época não usava secretária. Eu vi uma moça lá no escritório, olhei assim. “O que essa moça está fazendo aqui?” Uma moça muito bonita, muito bonita. Eu olhei para ela assim. Uma moça muito bonita. E só cumprimentei e entrei para a sala do meu chefe para saber o motivo lá. E o motivo foi esclarecido. Era um motivo que ele realmente não precisava mais do compromisso. Mas eu fiquei muito surpreso ali naquele retorno. Eu vim muito, digamos assim, bravo porque a viagem tinha sido cancelada. Mas quando eu vi aquela moça lá eu, “pelo menos valeu para eu ver essa moça aí.” Aí eu fui saber: “Não, essa moça vai trabalhar conosco aí. E ela veio para substituir temporariamente uma pessoa aí, tal, tal.” E logo eu comecei a me interessar por essa moça. Ela trabalhando lá no escritório da Aciaria, e hoje ela é minha esposa.

P/1 – Ah.

R – Ela, nós nos casamos e foi legal. Ela trabalhou na Aciaria um bom tempo. Depois foi trabalhar na área da Qualidade. Depois na área Treinamento e diversas outras áreas. E hoje ela trabalha na área de Suprimentos aí. Ela também, eu estou, vou completar 37 anos de Acesita e ela 27. Então ela tem 10 anos a menos que eu na Acesita.

P/1 – Mas que beleza. Mas quando o senhor interrompeu o senhor estava lá no Japão.

R – Isso.

P/1 – Recebendo aquela notícia.

R – Isso. Então aí lá no Japão eu tive esse treinamento lá. Já direcionado para essa atividade. Voltei, assumi o posto. Já voltei nomeado mas assumi o posto. Em 1978. E daí para frente tiveram várias oportunidades desses treinamentos, viagens, projetos no exterior. Em 78 foi a primeira experiência. Logo em seguida em 1981 eu fui para os Estados Unidos também fazer um treinamento na, no Japão eu fui em uma empresa chamada Daido Steel. E Nippon Steel. Nos Estados Unidos em 81 foi em uma firma chamada Armco Steel. Eu fiquei uma temporada nos Estados Unidos treinando. Em 83 eu voltei para o Japão. E cinco anos depois voltei para outra temporada de treinamento no Japão. E a partir daí várias oportunidades e experiência no exterior nessas áreas de treinamento, de intercâmbio e desenvolvimento de projeto. E aí que eu faço a ligação desta realização também dentro da Acesita desse lado do interesse pela Geografia e História. Porque através da Acesita hoje eu posso relatar que eu já estive, pelo menos, em uns 20 locais nos três continentes aí. E isso para mim tem um valor significativo pelo gosto que eu tenho por Geografia e por História pelo meu pai.

P/1 – Seu José, vamos falar um pouquinho da Linha de Produção em detalhes?

R – Sim.

P/1 – O senhor vai me contar tudo porque eu não sei nada. Então por que Aciaria? O que é que te chamava atenção lá?

R – Na Aciaria o que me chamava a atenção era que era um processo que permitia uma intervenção mais direta e do homem em si. Sabe ela era como se fosse um mestre cuca que ele tem... Naquela época, hoje os recursos são mais automatizados, os equipamentos são mais, muito mais independente do homem. Naquela época havia uma interação mais forte entre um homem e o processo exatamente. E era uma área, naquela ocasião, muito valorizada dentro da empresa. Ela tinha um destaque significativo dentro da empresa. E eu sempre gostei também dessa parte da elaboração do aço em si. Eu já tinha trabalhado na Laminação, naquela época de Apropriação, logo no início. Laminação tinha por estágio também passado na área de Produção, de Alto fornos. E outras áreas. Mas a Aciaria ela era realmente algo diferente. Pela possibilidade de uma intervenção mais direta na fabricação do aço. Aquela transformação da matéria-prima bruta, da sucata bruta você transformar esse recurso em um produto em si. Aquilo me encantava.

P/1 – Como é que eram os equipamentos da Aciaria quando o senhor vai para lá? Como é que era?

R – Olha, os equipamentos...

P/1 – Qual que era a fase? A Acesita vem em crescente expansão.

R – Isso.

P/1 – Mas qual que era a fase da expansão quando o senhor foi para lá?

R – Foi a fase anterior à expansão chamada o Primeiro Plano de Expansão. Que o Primeiro Plano de Expansão se deu aí no final da década de 70, no início da década e 80. Por exemplo, esse equipamento que eu fui treinar no Japão chamado AOD ele deu início à operação em 18 de agosto de 1978. Depois vieram os lingotamentos contínuos, o LD de capacidade de 75 toneladas. Então, e tudo isso foi logo no início da década de 80, 81, 82. Mas então eu cheguei à Aciaria nessa ocasião antes desse Plano de Expansão. E tudo era manual. Tudo manual. Uma batelada, uma corrida que nós chamamos ela durava com sucesso, uma corrida de aço inoxidável de sucesso ela durava seis horas para ser elaborada. É, e era tudo manual. As adições, a manipulação daqueles recursos era muito difícil, sabe? E a capacidade de potência dos fornos eram baixa. Então a capacidade térmica de fusão de uma carga sólida no forno era muito baixa. Um forno elétrico de 33 toneladas ele tinha 7,5 a enviar de capacidade transformador ou oito a enviar. Então isso comparado com hoje, hoje são 30. Então você vê que as coisas mudaram. E pouco recurso tecnológico. Era uma época que dependia muito do homem. Então aquela, aquele conhecimento ele ficava muito centralizado nas pessoas. O conhecimento de processo. Então era preciso de ter um bom trânsito com as pessoas. Sobretudo aqueles que tinham mais experiência, aqueles que conheciam mais, né? Então era preciso de ter essa habilidade para que a gente que estava chegando pudesse aprender e realmente o grande desafio foi depois. Em uma etapa posterior transformar aquele conhecimento que as pessoas mais antigas tinham em procedimentos que outros pudessem realizar e a Acesita ficar mais independente desse conhecimento. Mas era uma época que quando a gente recorda, comparado com hoje, em termos de segurança não havia, não havia os procedimentos. Não havia os, as proteções existentes hoje. Eu me lembro de pessoas que transitavam dentro da Aciaria sem capacete, sem uma botina. Às vezes tomavam banho dentro de um, ao lado assim de um equipamento. Então era um período que não tinha uma atenção, e um recurso para isso. Então era muito pesado, era atividade muito pesada e o risco era muito grande pela falta dessa priorização, sabe?

P/1 – Hum.

R – Mas era uma época que as pessoas precisavam ter um bom porte físico. Precisavam ter muita força, porque tudo era manual. E serem muito valentes, né? As pessoas precisavam ser valentes no sentido assim de poder enfrentar alta temperatura. E ambiente de risco, que metal líquido oferece muito risco para as pessoas. Mas veio a modernidade, vieram os equipamentos mais elaborados com mais recursos. E isso veio mudando a ponto de que hoje nós trabalhamos em uma condição realmente muito boa. Em termos de segurança, em termos de ergonomia. Em termos de relação do homem com a máquina. Hoje ela é muito mais humanizada, digamos assim.

P/1 – Mas a chegada dos novos equipamentos significou também...

R – Sim, por exemplo, é, como eu lhe falei uma batelada, uma corrida de inoxidável na Aciaria que durava aí, uma corrida com sucesso que durava seis horas ela passou a ser feita com duas. Então facilitou muito. Então o homem passou a fazer menos esforço físico, ele passou a se expor menos. E vieram as novidades. E eu me lembro, por exemplo, do primeiro computador. Isso foi fantástico. A primeira calculadora. Nós fazíamos conta em um, você provavelmente, não sei se até já ouviu falar em um negócio chamado régua de cálculo. Que a gente fazia os cálculos da aritmética de quando se ia adicionar de cada materiais. A gente utilizava um dispositivo chamado régua de cálculo. Então quando surgiu a calculadora aquilo foi uma revolução, né? E poder fazer conta ali rapidamente. Então depois da calculadora veio o computador. E tudo isso veio facilitando, veio facilitar muito. E sobretudo garantir a repetitividade das operações e dos produtos. Porque naquela época à medida que cada um o conhecimento estava na mão das pessoas assim em uma dependência muito grande das pessoas, era quase que produtos personalizados em função de quem fazia. Então isso veio ajudar muito. E uma, uma outra etapa tão logo vencida essa conclusão da instalação dos equipamentos da primeira fase de expansão, que isso aconteceu em 78, 80 e 81. Depois nós tivemos uma etapa muito interessante aqui na Acesita que vale a pena ficar registrado. Que foi, um despertamento e um início de uma conscientização de meio ambiente. Porque nós achávamos o seguinte, quanto mais fumaça nós fizéssemos aqui, quanto mais poluição era um status de que o negócio...

P/1 – Estava funcionando.

R – ...estava funcionando e de que realmente existia valor nisso. E isso não era bom. Não era. Naturalmente e houve então um despertamento para isso e a Acesita começou a investir no meio ambiente. E nós então fizemos instalar os filtros nos equipamentos da Aciaria. Eu tive a oportunidade de trabalhar nesse projeto que instalou desempoeiramento nos fornos elétricos. Foi um processo que foi um, foram envolvidas algumas empresas. Tanto da Europa quanto dos Estados Unidos, Canadá. Tivemos oportunidade de interagir com essas empresas até selecionar a que apresentou a melhor proposta. Que é uma empresa canadense, chamada Good Fellow e instalar. E a partir daí foi um marco na Aciaria esse desempoeiramento dos fornos elétricos. E a partir daí passou a ter uma referência. Ver aquela área não poluir mais. Então a equipe foi despertando e as demais áreas foram aprimorando e também incorporando os cuidados e recursos com o meio ambiente. E hoje nós fazemos, produzimos esse aço, respeitando o meio ambiente com a consciência de que faz parte realmente do nosso negócio. E que isso aqui não é para agora não. Isso aqui é para os netos dos nossos netos. Nós temos que preservar, nós temos que gastar o mínimo possível dos recursos naturais e hoje isso está bem assim difundido. E há uma conscientização muito forte disso, nesse aspecto. E depois dessa etapa então vieram outras melhorias, esses equipamentos instalados. Eles foram sofrendo melhorias, modernizações. É porque nessa área industrial da década de 80 para frente às coisas vieram assim, tiveram uma velocidade maior em termos de modernização. A automação, né? O computador de fato ele veio para mudar nossa vida. E ele propiciou muitas melhorias. Então vieram melhorias, reformas nos equipamentos e eu tive a oportunidade, fui nomeado para representar a Aciaria nessas modernizações dos equipamentos. Tive a oportunidade de participar da modernização do forno elétrico número 3 que mudou a concepção de forno completamente. Em termos de produtividade, em termos de equipamentos auxiliares, dos periféricos dele. Tive oportunidade de participar da modernização do AOD 1, aquele que deu o start up em 1978. Depois nós viemos instalar um forno panela na Aciaria, que veio mudar radicalmente também o funcionamento da Aciaria, com esse novo equipamento. E nessa ocasião, já era apontado aqui o sonho de fazer uma nova expansão da Aciaria. E foi contratada a firma chamada Kawasaki para fazer um estudo de engenharia básica de expansão da Aciaria. E eu de novo fui convocado para representar a Aciaria nesse projeto. Que tive a oportunidade de estar junto com os especialistas da Kawasaki e outros colegas da Acesita, e foi feito então o plano de expansão da Aciaria. E que culminou então com a mudança do nível de produção da Acesita do aço inoxidável da ordem de 190 mil toneladas/ano de inoxidável, para 250 mil toneladas. Que foi então a introdução de um novo convertedor, chamado MRPL, de um desgaseificador a vácuo chamado VOD 2. A transformação de um equipamento chamado VOR em VOD. Que ele passou a ser chamado VOD 1. E reformas e modernização dos lingotamentos contínuo, placa, então nós pudemos dar esse novo passo na Aciaria para 350 mil toneladas/ano de aço inoxidável. E como no mundo nada pára tudo está em constante movimento e em evolução nós não ficamos satisfeitos com essas 350 mil toneladas. E fomos com um projeto chamado Inox 800 kt. Esse kt é de quiloton. Inox, 800 mil toneladas/ano de inox. Então de novo eu fui convocado para participar desse projeto e com muita satisfação fui contribuir e culminou com a celebração da instalação desses equipamentos em janeiro, 31 de dezembro para primeiro. Foi um réveillon nosso aqui dentro. De 1900 e, de 2002, nós estamos em 2004, né?

P/1 – É, 2004.

R – 2002. 31/12 para primeiro de janeiro de 2002, foi o réveillon de celebrar a instalação desses novos equipamentos. Que foi um convertedor chamado AODL, um novo forno elétrico a ar chamado Forno Elétrico Número 2. E algumas outras melhorias dentro da Aciaria, alguns periféricos. E eu tive uma satisfação enorme quando o então gerente da Aciaria, chamado Carlos Eduardo na época, Carlos Eduardo Junqueira. Hoje ele é superintendente da área de inoxidável. Ele me fez um convite: “Ô Cordeiro, você trabalhou na Engenharia Básica, na Engenharia de Detalhamento. Você trabalhou na, no processo de escolha dos fornecedores. Você trabalhou na fase de fabricação e implantação dos equipamentos. Estou te convidando para você gerenciar esses equipamentos para a gente.” Eu com muita alegria aceitei, e satisfação. E estou nesse cargo então atualmente com um fim de carreira já marcado agora para dezembro. Com uma aposentadoria compulsória em função da idade. Mas assim com uma trajetória de que uma realização de como se fosse um pai. Que fez um filho, que o viu crescer, que o ajudou nas diversas fases da sua vida. E depois o vê já adulto e já cuidando assim da sua vida e a sua independência. E como diz um colega que me entregou um convite de casamento de um filho hoje: “É uma missão cumprida. É o último filho que está se casando. É uma missão cumprida.” Então eu tive essa oportunidade na Acesita de entrar então como auxiliar de serviço e depois conseguir função técnica, de nível técnico. Depois função de nível universitário. E caminhei em duas trajetórias e dentro da função gerencial de gestão. Então eu naveguei por algum tempo sendo um técnico dentro da corporação, algum tempo gerente. Depois voltei para ser técnico, depois voltei para gerente. Depois voltei para ser técnico e agora sou gerente de novo. Então eu consegui navegar bem nessas funções dentro daquilo que a Acesita precisou da minha contribuição e me ofereceu em contrapartida também uma oportunidade de crescimento técnico, como um crescimento profissional e um crescimento também dentro de uma outra área vivência, de maturidade. Porque à medida que você tem essas oportunidades você tem uma oportunidade muito grande de contatos. De lidar com pessoas. Você tem oportunidade de sair de dentro do seu mundo, ali específico, aquilo que você faz no dia a dia. Então você de repente está interagindo com pessoas em níveis hierárquicos diferentes, com funções e com atividades diferentes. Isso de certa forma vai contribuindo para a formação da gente, e abrindo visão. E contribuindo também para a maturidade de uma maneira geral. E essa foi uma sinopse da minha trajetória. E fora aqui da usina eu como lhe falei casei com uma empregada da Acesita também. E isso ajudou muito porque pudemos falar a mesma língua, pudemos estar sintonizados e compreender e entender um ao outro naquilo que às vezes se tinha alguma necessidade especial por causa do trabalho. Tivemos três filhos. O Marcelo, Marcelo Cordeiro. Hoje ele mora em Belo Horizonte, estudante do oitavo período de Direito, na Escola Milton Campos. E a Priscila, Priscila Cordeiro. Que hoje mora em Diamantina. Ela é estudante de Fisioterapia. Tivemos também a Tarsila. Tarsila Cordeiro, que é gêmea com a Priscila. E ela mora também em Governador Valadares que é estudante de odontologia. E a Acesita ela faz parte da vida da minha esposa e a vida dos nossos filhos. Eles conhecem muito bem a Acesita. Mesmo porque a Acesita ela é muito reverenciada na nossa vida, no nosso lar. E isso, uma prova disso, é que o meu filho já estando no oitavo período de Direito, fez um vestibular para Engenharia Metalúrgica lá na UFMG. E recebi uma ligação dele por volta de 11 horas que ele já tinha feito a matrícula dele na UFMG, e já tinha feito matrícula na Milton Campos também e vai prosseguir os dois cursos.

P/1 – Os dois?

R – Os dois cursos, né?

P/1 – Mas vamos falar agora do outro filho, do inox. Que é que significa o inox na vida do senhor?

R – Na Acesita, ela é uma empresa com a linha muito flexível de produto. Ela, quando eu comecei na Acesita ela produzia aços não planos, aços longos, barras. Então aço para a indústria automotiva, principalmente. Aço para fabricação de autopeças. E o aço inoxidável naquela época ele existia dentro da carteira da empresa mas não tinha demanda muito grande. Porque era barras. A demanda de aço inoxidável era muito pouca naquela época. Então nós nos especializamos muito na fabricação das demais linhas de produto. Que é aço carbono, aços ligados, aços siliciosos, chamado GO, GNO. E então nós tivemos a oportunidade de ter um conhecimento também dessas outras linhas de aço. Mas quando veio essa expansão, a primeira etapa da expansão em 1978, 1980 foi que a Acesita entrou nesse ramo de inoxidável, chapas e planos e é um produto de maior valor agregado. Um produto muito nobre. Um produto que é uma, um processo muito especializado. Até porque uma das características preferidas do produto inoxidável é a beleza. É a aparência. Nós não aceitamos um bem fabricado com inox que tenha uma aparência feia, né? Que tenha algum defeito. Então é um produto que requer uma dedicação, requer uma tecnologia muito apurada. E por causa daquilo que eu disse lá em 1978, né, eu acabei tendo essa chance de ir para esse ramo do inox. E procurei aprofundar. E à medida que você aprofunda, você se especializa. E sendo tudo o que eu já falei um produto muito nobre, você só sai dele se for preciso, né, para outro. Quando eu saí em alguns momentos da minha trajetória eu fui trabalhar nas outras linhas de aço, mas sempre com muita saudade do inox, né? E retornei para a linha do inox e ele oferece uma, uma oportunidade de desenvolvimento, uma oportunidade de desafios. É muito difícil. Nós enfrentamos muitos desafios ao longo dessa nossa interação na época com as assistências técnicas a Acesita adquiriu de empresas japonesas, de empresa americana. Mas isso não funciona bem de uma forma tão cartesiana que você chega lá pega uma receita, fala o que dá certo dentro de um contexto em uma outra empresa dá certo na outra. Isso não funciona muito assim cartesianamente. Então nós tivemos que desenvolver a nossa tecnologia, o nosso conhecimento. E o corpo técnico da Acesita muito competente e muita dedicação. E enfrentamos aí juntos esses desafios e hoje nós estamos em uma situação de muito avanço. Nós não ficamos para trás, e naturalmente que nós temos que melhorar muita coisa ainda, temos. Isso é um processo. Tem coisas que os outros fazem melhor do que nós. Mas nós fazemos muita coisa boa também. E às vezes melhor do que os outros. Então foi um processo de conhecer o que os outros fazem, a tecnologia deles. A japonesa, a americana, e a europeia. Sobretudo depois que nós fomos adquiridos pela Usinor, do Grupo Arcelor, aí nós também fomos para a escola europeia, né?

P/1 – Hum.

R – Então hoje aqui na Acesita nós temos uma influência da escola japonesa, da escola americana e da escola europeia. E juntamos tudo isso e fizemos como se fosse uma vitamina e criamos a nossa, né? Nós temos a nossa identidade. Nós temos o nosso processo, nós temos o nosso conhecimento. O que nos dá o status de ser uma empresa de ponta, uma empresa de competitividade tão boa quanto às outras. E às vezes melhor em algum aspecto.

P/1 – Nessa fase assim, que vocês estavam começando a dominar a tecnologia, os equipamentos, o que é que era mais difícil: aprender a tecnologia dos equipamentos? Ensinar as pessoas? Ensinar as equipes? Como é que foi essa mudança?

R – O desafio maior estava nos equipamentos e nos recursos que às vezes não existiam na ocasião. Quanto às equipes, as equipes da Acesita elas são especiais. No sentido de poder ensinar, no sentido de interagir, no sentido de aprender. A facilidade, o brasileiro, de certa forma todos esses que vieram trazer tecnologia para aqui sempre destacaram isso: “Olha, o brasileiro é fantástico. O brasileiro ele é muito flexível. Ele aprende rápido. Ele tem boa vontade.” Então nesse campo, do conhecimento, da transferência, do ensinar isso sempre foi bastante fácil pelas características do brasileiro e notadamente pelos empregados da Acesita. Pelo clima interno, pela política interna da Acesita sempre foi muito fácil. Mas o domínio dos equipamentos é difícil. Um ajuste das características dos nossos processos. Eu te falei anteriormente um equipamento que às vezes produzia bem no Japão, na Europa, nos Estados Unidos, vinha aqui ele não fazia a mesma coisa. Porque o produto aço inoxidável tem algumas características muito sensíveis. Que às vezes uma pequena modificação interfere na qualidade final do produto. Então conseguimos ajustar os equipamentos para o nosso contexto. Nós tivemos que desenvolver produtos, insumos, para resistir o nosso contexto. Por exemplo, no caso do convertedor para produzir aço inoxidável, chamado AUDL. Esse convertedor ele é revestido de um refratário e as três primeiras campanhas do refratário foram um desastre. Primeiro 16 corridas. É como você, 16 bateladas acabou. Nós assustamos: “Gente, e aí? Como é que nós vamos funcionar a usina com isso aqui? Só usou 16 vezes e acabou? Como que vamos fazer?” “Ah, não. É o primeiro. Nós devemos ter falhado, errado em alguma coisa. Vamos colocar o segundo.” Aí o segundo foi um número também parecido com isso. Parece que foram 18 se não me falha a memória. “Gente, será que nós erramos de novo? Vamos fazer o terceiro.” Aí fizemos o terceiro foi a mesma coisa. “Caramba, como que nós vamos produzir aço inoxidável em um convertedor AOD se dura 16 corridas uma vida de refratário? Como? Não dá?” Não paga a rotatividade. Porque você, entre você finalizar um refratário e você iniciar, você precisava de umas 24 horas para resfriar aquele conteúdo. Umas 24 horas para demolir. E mais umas 48 horas para revestir de novo o refratário. Então um ciclo que durava aí no mínimo umas 96 horas. E depois você ainda precisava de no mínimo umas 48 horas para você aquecer aquele refratário. “Tá, bom. Como é que nós vamos fazer?” Então chamamos o fabricante do refratário, o fabricante nacional, dissemos para ele: “Como que nós vamos fazer? Tem jeito dessa empresa funcionar assim? Vocês disseram que sabiam fazer o refratário para isso, mas não funciona.” “É, realmente não está dando certo.” Aí nós abrimos as portas para o mundo e fomos buscar no mundo quem fabricava refratário que pudesse resistir à quantidade requerida para o processo. E aí interagimos então com fabricantes refratários dos Estados Unidos, interagimos também com os refratários da Europa, do Japão. E começamos a importar esses materiais. E ajustando também com as nossas necessidades, as nossas características. E deu tempo para o fabricante de refratário nacional buscar tecnologia com quem sabia fazer. E foi uma decisão sábia deles. Eles fizeram uma parceria com um fabricante muito conceituado na época, fabricante japonês e foi e fez uma parceria e foi aprender com eles. Enquanto isso nós fomos consumindo refratário importado tanto da Europa, do Japão, dos Estados Unidos. E de repente o produtor nacional aprendeu mesmo fazer. E aprendeu e passou a fazer tão bem quanto os outros que nós importávamos. E passamos a consumir então o refratário nacional e prosseguimos então. Mas isso falando assim parece simples. Mas isso custou noites, isso custou é, eu tinha me casado estava em lua-de-mel, me custou noites que eu tive que abrir mão de coisa por causa desse desenvolvimento. Desse trabalho, dessa experiência. Desses novos contatos. Dessas novas negociações. Isso custou não a mim, não só a mim, mas muita gente. De corpo técnico, gerencial, Aciaria. Até chegar nesse ponto agora de refratário nós estamos satisfeitos. Mas aí outros desafios também, e é isso que impulsionou a vida e que nos manteve aqui também. Porque se não tivesse esses problemas nós não estávamos nem aqui também. É, então esse exemplo do refratário eu acho que ele é muito didático. Porque não basta ter equipamento. Não, você tem que ter os recursos, periféricos, as matérias-primas. Naturalmente você tem que ter as pessoas. E a Acesita de novo ela sempre preocupou com as pessoas. E então você vê que elas nos mandava para o, mandava operador. Porque não foi só eu que fui nesse treinamento fora não. Isso ia operador, isso iam outros engenheiros, outros técnicos também. Então nesse aspecto a Acesita sempre cuidou de capacitar os seus empregados com o seu conhecimento. Mas não basta isso. Não basta ter só o conhecimento se você não tem um bom equipamento. Não basta ter um bom equipamento se você não ter os recursos, os periféricos. Então foi um processo de aprendizado ao longo desse tempo. E o refratário eu me lembro muito porque ele custou muitas noites, e muitos, muita pesquisa e muito esforço para a gente chegar ao ideal.

P/1 – E você abdicou a lua-de-mel, né?

R – Mas não foi tanta também, não. Depois teve oportunidades de, né? Mas vencemos. Porque dá um gosto de vitória muito grande porque nós vencemos isso. E hoje o AOD da Acesita hoje ele tem uma vida média de 130 corridas por revestimento com tijolo refratário enquanto que isso lá fora no mundo, lá fora na Europa isso é 90 corridas. Então é prazeroso ouvir o nosso, por exemplo, a semana passada tivemos a visita do ex-diretor industrial o senhor Bernardo Del Litto. Ele é um executivo do Grupo Arcelor. Esteve conosco a partir do momento em que a Usinor adquiriu o controle da Acesita. E ele se aposentou a cerca de um ano e meio atrás. Foi prazeroso ouvir na visita dele na última sexta-feira lá na Aciaria, falando: “Olha, parabéns, vocês estão melhores do que os operadores da Europa na parte de refratário. Lá faz 90 corridas, vocês estão fazendo 130. Que bom, vocês já podem ensinar para eles.” Então é um negócio que é bom ouvir isso. Na medida em que a gente vê de onde nós saímos, da trajetória que nós percorremos. E nós chegamos onde nós estamos. Então nisso nós estamos melhores do que os nossos controladores lá da Europa. Não tem nenhum AOD do Grupo Arcelor que faz mais corridas igual nós com refratário. Então isso tem que nos deixar orgulhosos, e vaidosos e reconhecer que isso é fruto de trabalho da equipe. De trabalho dos operários, de trabalho de empenho mesmo.

P/1 – E o que é que o senhor que acompanhou desde o início cada conquista, cada...

R – É como eu lhe falei antes. É como um pai e uma mãe fazem um filho, educa, o conduz para depois o ver realizado. Já maduro seguindo a sua vida. Eu sinto isso. É o que eu vou fazer em dezembro com muita felicidade, sem trauma. Muito alegre. E saio também sabendo o seguinte: isso foi uma troca. Isso foi uma troca. A Acesita ela está ficando com uma coisa que eu estou deixando aqui, mas também eu ganhei com eles. Isso não foi unilateral, não. E foi uma boa troca. E por isso que eu me emocionei naquela hora do emprego que meu pai falou. Porque foi de fato a melhor coisa que aconteceu na minha vida olhando para o lado profissional. Eu tive muitas, muitas não. Eu tive algumas oportunidades, tive alguns convites, mas eu não os aceitei. E não me arrependo. E fiz a opção de usufruir esse presente até o último momento. Que vai dar em dezembro, quando aí não tem jeito mais. E nesse mundo nada é eterno. Tem que chegar ao final desse trabalho uma hora.

P/1 – Mas e quando o senhor vê assim, sei lá, andando por aí o senhor vê o aço exposto para todo lado, brilhando. O que é que...

R – Com muita alegria. Você quer ver? Toda vez que eu vou a Coronel Fabriciano, você sabe onde que é Coronel Fabriciano?

P/1 – Sei, sei.

R – Você saindo do nosso município, antes de entrar naquela ponte tem um monumento. Você já viu o monumento ali das três cidades?

P/1 – Eu vi a foto dele.

R – É. Aquele monumento é de aço inoxidável. E eu tive a oportunidade de participar da elaboração daquele aço. Eu me lembro, está na minha memória aqui a noite, de madrugada lá elaborando, porque foi uma receita especial. Aquele aço é um aço especial. Porque foi dada a receita, nós fizemos o planejamento, fizemos a pesquisa. Aceitamos o desafio, que nós vamos fazer. Pesquisamos e hoje a gente vê aquele monumento, né? Então ver um talher, eu já estive, a oportunidade de, em um restaurante, almoçando em Frankfurt, Frankfurt na Alemanha enquanto estava aguardando a comida ser servida. Manipulando ali o talher de repente ver que o talher foi feito no Rio Grande do Sul. E no Rio Grande do Sul com aço da Acesita. Então e sabendo que aquilo havia passado nas minhas mãos, assim simbolicamente, dentro da minha gestão, né?

P/1 – Claro.

R – Então isso, né? E é, eu fico envaidecido mesmo e mostro para as pessoas. Quando alguém vem visitar e mostro aquele monumento, né? E realmente é uma realização muito grande. E quando eu vejo os equipamentos na Aciaria e ver ali, eu sentir, alguma coisa, alguma percepção ali eu pude contribuir. E te digo o seguinte: errei? Errei. Mas eu acertei muito mais do que errei. O balanço é como se fosse um balanço contábil, né? O saldo foi positivo. Tem vez ali eu sinto: “Olha, eu contribuí para aquela recepção, eu contribuí para aquele arranjo, eu contribuí para esse layout. Eu contribuí para esse equipamento que está aqui, eu contribuí para essa configuração que está aqui.” Então realmente para mim foi muito, muito....

P/1 – Tem mais alguma coisa que o senhor queira, uma história que o senhor queira registrar?

R – O lado das pessoas, né? Nós tivemos oportunidade de interagir aqui com os seres humanos. Tanto pessoas simples quanto pessoas assim de um nível intelectual e de uma graduação, e de uma posição hierárquica muito grande. E eu tenho assim boas lembranças das pessoas com as quais eu interagi durante esse tempo todo. E de nada adianta esse equipamento, de nada adianta todos esses projetos se as pessoas não estiverem sendo consideradas nisso também. E eu tinha dito anteriormente que não havia dificuldade no sentido de treinar as pessoas. Até porque elas são muito boas. Mas o papel das pessoas é um papel muito importante. Então eu, os visionários, o doutor Amaro Guatimosim, o Frederico Meyer, uma pessoa tenaz. Dentro do contexto lá da Aciaria, o Saulo Társia. Esse Lauro Chevrand que me aceitou lá, um homem bravo no sentido de poder, de buscar desafios. E uma coisa eu devo ao Lauro Chevrand. E eu sou grato não só por essa oportunidade de ter trabalhado na Aciaria. Mas uma das coisas que ele me ensinou e que ele me incentivou, me cobrou. Mas enquanto ele não viu que eu aceitei a ideia ele não parou de pegar no meu pé, é no sentido de buscar estudar cada vez mais. No sentido de ler, no sentido de se envolver com a parte do conhecimento. Eu me lembro ele falando para mim assim: “Olha, você tem que escrever paper. Você tem que ler paper. Se não você nunca vai ser um bom profissional se você não tiver alguma coisa publicada. Como é que vai ser?” Então na hora que você vê aí dentre os trabalhos publicados esse elenco premiado. Mas tem provavelmente 10 vezes, ou 20 vezes o que está escrito aí por trabalhos publicados. Esses são os premiados, né?

P/1 – Hum.

R – Eu devo isso a ele, sabia? Eu não posso deixar de render essa homenagem no sentido dele incentivar e cobrar. Não só incentivar, mas cobrava mesmo. “Vai ler. Você já leu um artigo? Como é que vai saber o está acontecendo?” Então isso eu gostaria de registrar essa parte. E o Saulo Társia...

P/1 – Mais um apaixonado pela Aciaria, né?

R – Apaixonado pela Aciaria. O Saulo Társia é apaixonado pela Aciaria.

P/1 – Nós entrevistamos ele.

R – Mas um perfil diferente do Lauro. O Lauro era um homem bravo no sentido de que é desafio, desafio. Mas ali o Saulo aquele doce.

P/1 – A mansidão.

R – O Saulo aquela mansidão. E de repente a sabedoria vinha no sentido o seguinte: se pegar um pedaço do Saulo, um pedaço do Lauro e poder copiar e aplicar na minha vida, aí eu acho que vai dar certo.

P/1 – Mas o Saulo vai para a Aciaria depois do senhor?

R – Ele foi e voltou, e voltei depois dele. Aí é, quem mexe com Aciaria está fadado a esse negócio todo. E ele foi e voltou várias vezes. Eu fui trabalhar com ele lá no Planejamento e Programação da Produção, né?

P/1 – Hum, hum.

R – E depois eu fui encontrar com ele na Aciaria de novo, né? Aí já na posição de superintendente. E aí aquela contribuição no sentido da sabedoria, da temperança, dizendo: “Não, ó, calma. Vamos conseguir isso aqui.” E o Lauro lá com aquela... Você não entrevistou o Lauro ainda?

P/1 – Não, mas ele está lista.

R – Você vai ver. Se prepara para entrevistar o Lauro. O Lauro é elétrico. O Lauro é elétrico. Ele é ligado na tomada você vai ver. E o Saulo aquela, você viu.

P/1 – Hum, hum.

R – Então foi uma oportunidade e tanta para você poder realmente interagir com essas pessoas. Depois uma pessoa com a qual eu interagi também que eu pude aprender muito com ele, é o Rui Santiago. Também com uma experiência muito grande lá de Alto-forno. De repente foi trabalhar na Aciaria.

P/1 – É, ele falou do alto-forno.

R – Ele apaixonado, apaixonado com alto-forno e de repente cai na Aciaria. E convida, ele nos convida, né? Ele me convidou o seguinte: “Cordeiro, eu preciso de você aqui para me ajudar aqui na Aciaria.” Eu fico: “Esse homem tá ______ ajudá-lo?” E aí ele começa em um processo de confiança e delegando as coisas, esses projetos. Muita coisa, isso o Rui que delegou para mim: “Ah, você vai representar a Aciaria. Eu confio em você.” Então de repente a gente vai tendo essa oportunidade de interagir com essas pessoas que, com perfis diferentes, a gente vai tentando pegar aquilo que a gente tem de carência. E eles têm de sobra, né? “Não, vou pegar, eu vou aprendendo, aprendendo.” Que pena que nós não vivemos 300 anos. Porque se fosse... e, né? Começa, mas...

P/1 – Eu ouvi contar que o time de futebol da Aciaria era muito forte, é verdade?

R – Muito forte. Muito forte. O time da Aciaria sempre foi o que ganhou e muito.

P/1 – Eu entrevistei hoje o senhor Agnelo Santiago.

R – Agnelo?

P/1 – E ele é apaixonado com a Aciaria e com o futebol.

R – O Agnelo, exatamente. Um baixinho, moreninho?

P/1 – Isso. Esteve aqui hoje cedo.

R – Muito. Ele foi um grande parceiro meu na parte de manutenção. E eu operava equipamento e ele cuidava da manutenção. Um grande parceiro. Muito equilibrado, muito calmo. O circo estava pegando fogo e ele estava naquele passo: “Calma, calma.” ____________ lado, né? Mas foi um companheirão também. E então eu queria deixar realmente essa observação com as pessoas com as quais nós, eu queria deixar um registro também de um companheirão. Que não adianta você ajudar os outros, mas você também é ajudado. E eu tive um companheirão nessa trajetória na parte técnica, um braço direito chamado Simão Pedro de Oliveira. Hoje ele é doutor. Ele trabalha em Belo Horizonte na Magnesita. Doutor. Fez mestrado e fez doutorado. E me parece que ele estava fazendo até um pós-doutorado agora. Então você imagina de que é que ele fala. Uma calma, equilibrado. “Sim Cordeiro, nós vamos precisar.” “Simão, não sei o quê.” “Nós vamos buscar.” E um precursor do computador aqui. Foi o primeiro a ter computador dentro da Acesita. Um PC. Um lap, hoje é lap top, né? Mas era do tamanho dessa mesa assim, mais ou menos. Foi um fazer um estágio no Japão e comprou. O laptop dele era quase do tamanho dessa mesa aqui mas como é que ele... Então foi uma pessoa que me ajudou muito também, o Simão Pedro de Oliveira. Porque todos os desafios técnicos ele sempre esteve presente comigo, me ajudando na pesquisa, na busca da solução. E também no front, né, a gente precisa de ter aquelas pessoas que vão intermediar junto aos operários. Então eu queria citar dois exemplos também de, o supervisor chamado Francisco Minerva Leão. Ele é falecido. Ele tem um conhecimento muito bom, pessoa muito fácil. E um outro companheirão chamado Valdemar Casimiro das Neves. Era um supervisor que eu também, que... um homem valente, sabe? No sentido de acreditar nas coisas, entusiasmo, né? Ele teve uma oportunidade nessa segunda vez que eu fui ao Japão, e ele teve a oportunidade de ir comigo para a __________, então ele é um companheirão. E naturalmente que muitas outras pessoas que a gente poderia ficar aqui o resto da tarde citando nomes. E que a gente ainda iria cometer alguma injustiça. Mas são pessoas muito, os empregados da Acesita todos, são pessoas especiais. No sentido de amar a Acesita, de gostar do que fazem. E de buscar realmente a realização. Então aqui é um campo muito especial, sabe, nesse sentido.

P/1 – Que é que o senhor achou assim de ter participado assim, de ter feito essa retrospectiva da sua carreira? Agora que o senhor está se aposentando e participando desse livro dos 60 anos?

R – Olha, é, até antes de falar dessa parte, eu só gostaria de - até para fazer uma preparação para as minhas próximas palavras - é eu vou me aposentar no final do ano com uma aposentadoria compulsória, por causa do regulamento.

P/1 – Hum.

R – Mas eu não vou parar de trabalhar. Eu não vou parar de trabalhar. Eu, se eu, eu se eu não achar um lugar para trabalhar eu vou inventá-lo e eu haverei de trabalhar. Não sei com o que é que eu vou trabalhar porque eu não conheço o futuro. Mas eu vou procurar trabalho. Inclusive se você tiver trabalho lá para dar eu vou trabalhar com vocês.

P/1 – Com história, quem sabe? O senhor falou que gosta.

R – Mas eu não vou parar de trabalhar. Mas de uma certa forma vai ser um período que ele vai existir e um período que vai representar na minha vida. Na minha história. Final de dezembro eu deverei deixar de ser um empregado, pelo menos direto, da Acesita. Isso é, assim como eu comecei em 1967, em 2004 eu deverei por tudo que está indicando, encerrar. Mas nesse ano eu recebi uma homenagem, vinda da base, como se diz, né? Vinda da base. E ela endossada pelos gerentes e naturalmente endossada pelos gerente sênior 1, pelos gerentes M2, pelo superintendente. Que foi, a Acesita lançou um programa a um ano atrás de tolerância zero com relação à segurança. Nós temos, acreditamos e estamos lutando na perspectiva o seguinte: de poder fazer aço, um bom aço, de boa qualidade, custo baixo, mas sem nenhum acidente. Nós acreditamos nisso. É possível não se acidentar. E para contribuir na realização dessa meta, realização desse sonho o nosso presidente lançou um programa de Tolerância Zero. E eu fiquei muito sensibilizado quando eu tive o primeiro contato com esse programa. O nosso presidente, eu digo para as pessoas: eu o acho um doce, né? Aquele jeito dele falar. Nós nos conhecemos há muitos anos porque ele é empregado de carreira aqui da Acesita, né? Na época eram outras épocas, nós interagimos muito. Mas eu o acho assim um doce no sentido: um cara muito equilibrado, aquela pessoa ponderada. Ele fala muito com poucas palavras. Então quando eu ouvi a mensagem dele que não pode estar na abertura, mas ele mandou uma carta a respeito desse programa Tolerância Zero. Eu fiquei extremamente sensibilizado e comprometido desde aquele momento com isso. E procurei trabalhar nesse sentido. Eu tenho trabalhado de forma o seguinte: eu não quero ver nenhum acidente na minha área enquanto eu estiver aqui. E não quero nem depois ter notícia, eu não quero. E tenho me empenhado muito sobre essa questão da segurança. E eu recebi uma homenagem essa semana passada com a SIPAT. Eu recebi um diploma, recebi um brinde dizendo o seguinte: que eu fui o gerente na superintendência de inox destacado que mais se dedicou a esse projeto, né? Que mais foi revelado no trabalho esse aspecto, sabe? Então eu fiquei muito feliz com essa homenagem. Porque não, nada que eu fiz foi buscando nenhuma homenagem. Mas tudo que eu fiz realmente foi buscando a contribuição no sentido de melhoria das condições do ser humano. Um aumento da segurança para as pessoas. Porque quem já viu, quem já presenciou como eu já tive, sabe como é que é triste. Só quem já viu. Você pode ouvir falar, você pode ler, mas você ver um ser humano perder a vida? Você ver um ser humano sendo mutilado? É muito triste, é muito triste. E isso precisa que as pessoas estejam comprometidas com isso. Nós precisamos produzir sem afetar a saúde do empregado, sem afetar a sua integridade física. E isso é, eu trabalhei em prol disso, não trabalhei em prol de homenagem. Mas à medida que ela veio é um reconhecimento e nesse meu último ano que vai celebrar realmente esse aspecto. Por causa das minhas contribuições no lado de equipamento, no lado de desenvolvimento de processo, no lado de desenvolvimento de recurso. Então aquilo que é o mais precioso que é o ser humano, então eu tive essa oportunidade de contribuir e ela foi destacada. Então eu realmente fiquei feliz com essa homenagem. E, respondendo a sua pergunta, olha eu posso dizer o seguinte: que eu sou muito feliz, que eu fui muito feliz, e que vou ser sempre feliz na medida em que eu remeter-me para esse período da minha vida. De 15 de dezembro de 1967 a 2004. Porque foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Eu tive um bom emprego, eu tive um bom casamento, eu tive uma boa família. Eu tive uma boa realização financeira. Uma boa realização material. Então o que mais eu poderia dizer? Só agradecer. Agradecer em primeiro lugar a Deus. Porque ele é o criador de tudo. Nada aconteceu, tudo, nada aconteceu sem a vontade e sem a regência dele. Agradecer a Deus porque eu posso considerar que eu sou uma pessoa especial no sentido de que eu recebi uma benção muito grande de ter saído de onde eu saí. De onde eu nasci. Passo a viver talvez a cada seis meses em um buraco onde o Judas perdeu a bota. E toda essa trajetória dentro de um ambiente, de uma situação muito difícil. Mas eu fui, eu digo o seguinte: que eu fui sendo abençoado por Deus. Porque à medida de que as oportunidades surgiram eu estava ou preparado ou me preparando. E no momento certo. E me comprometendo com essas oportunidades. E fazendo de fato uma troca equilibrada. Então sou muito feliz por tudo isso. E agradeço a Deus. Agradeço às pessoas às quais eu me relacionei e confiaram em mim. Acreditaram em mim. Me deram oportunidade. Me deram desafios. E agradeço às pessoas com as quais eu relacionei no sentido de liderança que também me respeitaram, confiaram, acreditaram em mim. E realizaram aquilo que eu sugeri que poderia dar certo e muita coisa deu certo. Então para mim foi muito bom.

P/1 – Bom, eu quero agradecer em nome da Acesita, em nome do Museu da Pessoa. A entrevista foi linda. Muito obrigada. E esse filho que agora está fazendo metalurgia?

R – O sonho dele é trabalhar na Acesita. E é para isso que ele está se preparando. Ele vai ser um engenheiro advogado. Ele não vai ser um advogado engenheiro. Ele falou: “Olha, o meu sonho é ir para a Acesita.” “Então...” Aqui, ele foi feito, nele corre o sangue da, da...

P/1 – De aço.

R – ...de aço. Porque a mãe e o pai trabalham aqui, então é. Mas foi muito bom.

P/1 – Que beleza.