Museu da Pessoa

Uma educadora destemida

autoria: Museu da Pessoa personagem: Helena Martins de Araújo

Correios – 350 anos aproximando pessoas
Depoimento de Helena Martins de Araújo
Entrevistada por Stela Tredice
Rio de Janeiro, 9 de agosto de 2013
HVC077_Helena Martins de Araújo
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
MW Transcrições

P/1 – Então eu queria que você começasse falando o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.

R – O meu nome é Helena Martins de Araújo, eu nasci no Rio de Janeiro, na época era Estado da Guanabara, né, em 27 de janeiro de 1937.

P/1 – E o nome dos seus pais, Helena.

R – Meu pai é Ignácio, né, Ignácio Martins de Araújo e Maria de Jesus Amorim de Araújo.

P/1 – O que os seus pais faziam?

R – Bom, meu pai era militar, o meu pai era militar e minha mãe era das lides domésticas, né, ela só cuidava porque nós éramos seis filhos, eu sou a terceira, né, na ordem de nascimento, então ela não tinha tempo de fazer mais nada, né. Mas era uma pessoa, assim, apesar de ser muito simples, né, que era filha de fazendeiros no interior e naquela época filha de fazendeiro só estudava piano, bordado e essas coisas, né, mas ela era de uma sabedoria, sabe, que eu aprendi muita coisa com ela, né, muita coisa mesmo, né, então, e o meu pai também. Então eu tive, assim, uma infância maravilhosa, sabe, eu tinha um pai, eu tava até conversando com o rapaz que me trouxe que meu pai não era de bater na gente, ele não educava com agressividade, ele ensinava. E uma lição que eu nunca esqueci foi quando ele me deu uma lição sobre compromisso, nós éramos crianças, na época ainda se brincava muito no Rio de Janeiro, na rua, né, e chegava visita em casa a gente queria ir brincar lá fora, e a gente dormia cedo porque a gente acordava cedo, né, a escola era cedo, e meu pai, a visita conversando e ele dizia, a gente dizia assim: “Pai, posso brincar lá fora?”, ele olhava pra gente e dizia assim: “Que horas são?”, dizia: “Oito horas”, “ E a que horas você dorme?”, “Oito horas”, “Então” e continuava conversando com a visita. Isso ele levava a noite toda se fosse preciso, ele não mudava, no final, quando a visita ia embora ele sentava com a gente e conversava: “Olha, você hoje aprendeu uma lição, você não pode ter um compromisso com outra pessoa quando você já tem um compromisso marcado com outra, isso é falta de respeito, de ética”. Então eu nunca esqueci essa lição, até hoje se eu tenho um compromisso eu não consigo marcar outro compromisso porque eu me lembro, vem à minha cabeça aquela cena, né, do compromisso, você não pode ter um compromisso com alguém se você já tem um outro compromisso marcado. E era a forma que ele nos educava, apesar de dizerem que militar é rígido, que militar é assim, não, meu pai, apesar de ser militar de cavalaria, que ele era do Rio Grande do Sul, ele era uma pessoa, assim, muito, como é que diz? Muito atenciosa, sabe, muito humilde, uma pessoa muito amiga, né, ele era amigo dos filhos, jamais disse pra gente: “Não faça isso”, quer dizer: “Se você quer fazer, faça, mas as consequências são essas, você vai arcar com essas conseqüências?”. Então foi realmente, né, nós tivemos realmente, eu tive uma infância, tive uma adolescência, né, tudo que era pra fazer em criança eu fiz, tudo que era pra fazer em adolescência eu fiz, entendeu. Então a gente chega, quando a gente chega a idade que eu tenho hoje, eu não sinto necessidade de ter o comportamento, de regredir a esses comportamentos porque eu vivi aquela idade, né, eu vivi as idades realmente, entendeu.

P/1 – Como que era a infância na sua casa, como é que você se lembra da sua casa, os seus irmãos?

R – Ah, era uma alegria muito grande, né, e nós nos dávamos muito bem porque um castigo que a gente recebia era se nós brigássemos e ele sempre dizia: “Irmãos têm que ser amigos, irmãos têm que ser companheiros, então vocês não podem brigar”, então quando nós brigávamos todo mundo ficava de castigo, entendeu, então todo mundo, então era, ele educava assim. Então nós somos até hoje, né, muito amigos, muito um ajudar o outro, né, então a família, entendeu, nós ainda somos aquela família antiga, né, os sobrinhos foram criados assim, de sobrinho ainda pedir a benção a tia, pai, quer dizer, nós continuamos com aquela formação que eles nos deram, né. Eu me lembro que era muito, era alegre, seis crianças, né, seis crianças, meu pai, minha mãe, oito, minha avó e uma tia que morava com a gente, você vê a mesa como é que era, né, e a gente sempre levava um coleguinha pra almoçar, então a mesa lá de casa eram 15 pessoas, né. Tanto que depois que nós fomos saindo de casa a minha mãe, você chegava em casa, minha mãe cozinhava como se fosse receber 15 pessoas, eu dizia: “Mãe, pra que que você cozinha tanto assim”, “Ah, minha filha, to tão acostumada a casa cheia, né”. E era muito alegre, né, muito, nós tínhamos tudo, né, e uma coisa que meu pai dizia: “Não”, ele não se preocupava com o supérfluo, mas ele se preocupava com saúde e educação, e ele dizia: “Saúde, né, é sinônimo de alimentação, então na minha casa não pode faltar nem alimentação e nem educação”. Então nós fomos sempre incentivados a estudar, a seguir, ele acompanhava os nossos estudos, eu me lembro que ele chegava em casa do quartel, imagine, cansado, né, ele chegava, aí antes dele ir tomar banho, jantar, ele sentava conosco na mesa, eu, meus dois irmãos, que eram mais velhos, e ele dizia: “Como é que foi seu dia na escola hoje, como é que foi, vocês tão com alguma dificuldade?” e conversava conosco, tirava as nossas dúvidas, aí depois que nós íamos dormir é que ele ia tomar banho, jantar e dormir. Então ele foi um pai e uma mãe muito presente, que a gente sente falta hoje nas crianças, né, então isso ajudou na nossa formação, nossa formação ética, na nossa formação até cultural, né, de ta sempre procurando conhecimento, tudo isso, entendeu. Então foi maravilhosa, depois nós fomos, quando ele foi transferido pra Aracaju.

P/1 – Só um minutinho, vamos ficar ainda no Rio, então ainda no Rio me fala um pouquinho onde foi que você cresceu, como que era o bairro, como que era o Rio.

R – São Cristóvão, era o bairro de São Cristóvão, que tinha fama de ser o bairro imperial, né, então é daqueles bairros muito tradicionais no Rio de Janeiro, não sei hoje, né, mas a gente estudava, tinhas os colégios, meu primeiro colégio era na rua onde eu morava, eu não esqueço Dona Darcy, era a nossa diretora da escola, rígida, né. E foi interessante que toda criança chora pra não ir pra escola, eu chorava pra ir pra escola, então pra eu poder, meus irmãos, eu não perturbar meus irmãos que tavam estudando eu também ganhava caderno e lápis do meu pai, então quando ele ensinava meus irmãos ele me ensinava também. E eu, quando meus irmãos iam pra escola eu queria ir, eu me arrumava, ia, botava minhas coisas, ia pra escola, chegava na porta da escola eu fazia o berreiro porque eles entravam e eu tinha que voltar pra casa. Aí essa senhora diretora chamou meu pai, meu pai: “Tá vendo, agora já sei, ela vai me chamar atenção porque você faz escândalo”, não, ela disse: “Faz o seguinte, deixa ela vir pra escola, ela vai cansar, logo, logo ela cansa, deixa ela na escola, não tem problema, não” e eu fui pra escola, só que eu não cansei.

P/1 – Com quantos anos?

R – Eu tinha, nessa ocasião acho que eu tinha cinco anos, tanto é que eu tive que repetir o ano porque eu não tinha idade, aquela época, né, tinha essa história de você ter idade, né, a coisa, e eu simplesmente chorei pra entrar na escola e meu pai dizia: “Mas ela é muito levada, ela vai dar problema”, aí a diretoria chamou e disse: “Ó, engano, sua filha na sala de aula é uma santa, só que tem uma coisa, no pátio ninguém segura, no pátio ela é terrível realmente, né”. E realmente eu sempre ficava, eu já sabia ler e escrever, porque a criança na idade, quanto mais nova você aprende mais rapidamente, e eu já sabia, então eu na escola era a primeira, né, que eu já sabia tudo aquilo, mas não cansei, até hoje eu ainda faço cursos, eu gosto de estudar, eu gosto de pesquisar, né. E eu acho que eu vou morrer assim, até na hora de morrer lá eu vou ta com um livro lendo, porque eu durmo com um livro lendo, né, sempre assim, mas e fiquei, mas isso ele incentivava muito a gente, eu reconheço, sabe, que o papel do pai e da mãe na formação de uma criança é muito importante, muito importante, eu vivenciei isso, né, hoje eu comparo às vezes com as crianças de hoje que não têm o pai presente, não têm a mãe presente, né, porque tem que trabalhar e eu vejo o quanto isso faz falta.

P/1 – Você falou que você era levada, né, do que você gostava de brincar?

R – Virgem Maria, olha, vou te dizer, eu tanto brincava de boneca como eu jogava, eu era campeã do futebol de, como é? De botão e bola de gude, eu ganhava dos meninos (risos), eu ganhava dos meninos, né, e a gente brincava muito de bola de gude, de coisa, soltar balão, correr atrás de balão, né. Uma vez eu me lembro que eu e meu irmão sumimos de casa atrás de balão, né, e voltamos onze horas da noite, todo, meu pai já tava apavorado, né: “Onde esses meninos se meteram?” e não sei o que, e a gente voltou, né, porque sabia que ia ficar de castigo, né. Então eu brincava muito, de boneca, tinha hora que brincava de boneca, brincava de tudo que criança, naquela época no Rio de Janeiro a criança podia brincar, você podia ir pra rua brincar livremente, não tinha esse problema, não, que hoje tem nas grandes cidades, né, aqui na cidade. Eu me lembro que eu fiz, eu pintei e bordei, sabe, eu tive, assim, de uma vez, eu sei que às vezes a gente pulava o muro pra ir brincar, minha mãe fechava e tinha um muro alto e eu pulava o muro, eu me lembro que naquela época os cinemas distribuíam os panfletozinhos dos filme, né, e a gente ia brincar, batia nas portas, botava de baixo da porta o panfleto já vencido e saía correndo, sabe, saía correndo, eu me lembro que teve uma senhora que disse: “Eu ainda pego essas criança, eu ainda pego”, e a gente fazia isso, brincava assim de coisas. Então era realmente o que eu sinto falta hoje nas crianças, né, as crianças hoje não brincam, fica no computador o dia inteiro, então ficam automatizados, perdem a criatividade, né, e nós não, nós tínhamos criatividade demais, uma vez, vou te contar, não esqueço nunca, eu era pequenininha, os outros eram maiorzinhos, meus irmãos, mas eu gostava sempre de brincar com criança maior do que eu. E nós inventamos de ir pra Floresta da Tijuca, olha que São Cristóvão pra Floresta da Tijuca é longe, a pé, e fomos, a garotada da rua toda, quando chegou lá em cima nós nos perdemos no mato e quem disse que nós encontrávamos a volta? Aí fomos encontrados pelos bombeiros, né, que: “Por aqui, por aqui”, os bombeiros nos trouxeram pra casa, agora, vocês imaginem como que a rua estava, parecia uma festa, todo mundo esperando a garotada: “Onde essas crianças foram? Sumiram”, não sei o que. Quando nós voltamos todo mundo, né, bem quietinho porque sabia, nós ficamos 15 dias sem ver a rua, toda a garotada, você não via criança na rua, todo mundo ficou, foi castigado, né, 15 dias, minha filha, foi o castigo nosso, mas valeu a pena (risos).

P/1 – E escola, depois quando que você finalmente foi pra aula mesmo, foi matriculada, você se lembra do seu primeiro dia na escola já como aluna?

R – Ah, sempre foi bom, eu sempre gostei da escola, sabe, eu nunca dei problema pra estudar, eu nunca ouvi meu pai e minha mãe dizerem: “Vai estudar”, eu sempre fui antes, até responsável demais, sabe, eu acho que tinha que ser um pouquinho menos responsável, mas eu não, sempre gostei, eu gostava da escola, eu gostava de estudar, eu gostava de estar sempre com um livro, eu gostava muito de ler, né, e era incentivada, né, então eu não tive problema, não, eu sempre fui, e sempre estive nos primeiros lugares.

P/1 – Teve alguma professora que tenha sido marcante pra você, ou professor?

R – Ah, teve vários, teve uma professora, a professora, como eu disse a você, a primeira diretora desse colégio, depois eu fui pro Colégio Brasileiro de São Cristóvão, tinha uma também de Matemática, Professora Dayse, e o professor de desenho, Professor Dumas, que era durão, né, e depois, quando eu fui pro Colégio Nossa Senhora de Lurdes, tinha uma freira que dava Inglês, Latim, a gente tinha aula de Latim, Inglês, Latim, eu não esqueço nunca dela, mas ela era dura também. Eu me lembro que uma vez, a gente quando terminava a aula, meio dia, tinha que rezar, ou onze, né, onze horas, e eu tinha uma colega, a gente era assim, ou eu era primeiro ou ela era primeiro e segundo, então nós nunca, sempre sentada, e nesse dia que nós estávamos ajoelhadas rezando o coisa essa colega não sabia, ela tava rezando em inglês e ela não sabia. E ela fazia: “mmmm”, fingindo que estava rezando, aquilo me deu um acesso de riso e eu comecei a rir, agora, você imagine, quando terminou a freira disse: “Helena, você fica” e eu fiquei, eu me lembro que a gente ia pra casa, almoçava e voltava, porque tinha aula à tarde, e nesse dia eu fiquei de castigo, rezando com a freira, não almocei, né, as meninas voltaram pra aula e eu tava lá rezando, mas eu não podia dizer porque que eu tava rindo, entendeu, eu não podia dizer porque senão eu ia entregar a outra, né. Eu sei que eu não esqueci dessa freira nunca na minha vida, daí na aula dela eu dizia pra ela: “ Se você começar, agora eu vou te entregar, não fica assim, dá um jeito aí”, mas era tão engraçado, sabe: “mmmm” (risos), e a gente, era duro, né, era inglês, você tinha que rezar, a gente sabia rezar em inglês, em latim e francês, né, e em português, né, cada aula era uma língua diferente, mas foi bom. E tinha uma Irmã Blondina, essa era aquela irmã, sabe, aquela irmã, Paula, né: “Minhas filhas, você cuidado com a Irmã Superiora, cuidado com não sei o que”, mas essas me marcaram também. E no científico foi o professor de Inglês, o de Inglês e o de História, o de História, né, eu aprendi a gostar de História com ele, não tinha essa história de data, decorar data, não, ele tinha fatos, trazia pra nós fatos interessantes da história, entendeu, e eu achei, foi quando eu comecei a gostar de História. Que eu comecei a entender que a História era interessante, né, que tinha fatos, não era só aquelas datas que a gente tinha que decorar, eu não sou muito de data, você já notou, né, não sou, sabe, mas perguntavam: “Qual é a idade de fulano?”, eu não sei te dizer porque eu nunca fui muito de guardar data, nem gostei, né, foram as pessoas realmente que marcaram minha época, né.

P/1 – Nesse período de estudante, assim, você já tinha algum sonho, tipo: “Ai, quando eu crescer quero ser”?

R – Ah, eu tinha, mas vou contar pra vocês, eu queria ser médica psiquiatra, mas vou contar pra vocês, eu fui fazer vestibular pra Medicina, fiz e passei, eu trouxe até ali o diploma dos burros que a gente ganhava dos veteranos, mas nesse dia, no primeiro que eu fui lá fazer, que fui lá saber o resultado, eu estava assim de costas, um veterano chegou: “Ah, vocês são os novos calouros, muito prazer”, e eu virei, quando eu virei ele tinha amarrado uma mão de defunto e eu apertei a mão do defunto. Gente, eu passei tão mal, e levaram a gente pro necrotério, aqui eu passei tão mal com aquele cheiro, tão mal que eu vim no ônibus passando mal, cheguei em casa, ia contar ao meu pai, passava mal, aí o meu pai disse: “Você não vai fazer a matrícula?”, aí eu fui no dia seguinte na faculdade, aí fui ver o currículo, eu queria ser médica psiquiatra, não imaginava que eu tinha que passar um ano no Instituto Médico Legal. Aí quando a moça disse pra mim: “Não, você primeiro tem que ficar um ano no Instituto Médico Legal” eu desisti, e pra chegar em casa, dizer que eu tinha desistido, porque eu fiquei um ano estudando, sem ver a luz do sol, sem ir a uma praia, sem ir a uma festa, nada, quando eu cheguei: “Meu pai, desisti de ser médica”, “O quê? Não é possível, por quê?”, e aí eu ia contar: “Pai, eu não vou, eu vou morrer antes de terminar, até eu fazer Psiquiatria eu já morri, desisti, vou procurar alguma coisa”. E saí procurando os cursos, né, saber o que que era, eu sempre gostei de humanas, aí comecei, quando eu vi o currículo de Serviço Social eu digo: “É isso que eu quero”, que eu gosto de trabalhar com pessoas, aí fui fazer Serviço Social, aí me encontrei no Serviço Social, entendeu, é aquilo que eu queria mesmo e a partir daí eu fiz Serviço Social. Logo depois eu fui trabalhar na Fundação do Bem Estar do Menor, eu acho que é o meu carma porque onde eu caio pra trabalhar eu trabalho com criança e adolescente, aí fui trabalhar com serviço social na Fundação do Bem Estar do Menor, aí quando eu comecei a trabalhar em serviço social, a gente faz muita entrevista, não é, tem de tudo, eu disse: “Eu acho que tá faltando alguma coisa”. Aí eles abriram a vaga pro curso de Comunicação e Jornalismo, que houve uma transformação da Faculdade de Filosofia por causa da ditadura, aquela confusão toda, né, e eu fui fazer o exame de seleção e passei, quando chegou lá pra fazer o exame de seleção, que eu olhei as pessoas que tavam ali, né, eu recém formada, aí tava lá um outro economista, um não sei quem, sabe, eu disse: “Eu não vou passar nesse exame”, eram três vagas, três vagas, disse: “Eu não vou passar nesse exame, mas vou fazer”. Eu tinha uma colega, disse assim pra ela: “Eu to aqui, mas de”, ela era socióloga: “Eu to aqui, mas eu acho que eu não vou passar, não, mas eu vou até o fim”, aí tinha uma entrevista, né, primeiro você tinha que saber pelo menos dois idiomas, eu sabia três, então me salvei, né, porque eles davam um texto de comunicação pra você traduzir. Aí passei, aí depois também lá na entrevista, eu sei que eu consegui passar, uma das vagas foi dessa socióloga, a minha e de um rapaz que era advogado, nós três conseguimos passar, aí fui fazer Comunicação e Jornalismo que complementou, eu achei assim: “Poxa, agora sim, eu sei me comunicar, né, sei o que que é a comunicação, tudo isso”. Aí fui, logo depois abriram a inscrição pra pós, o mestrado, eu comecei o mestrado, só que nesse meio tempo eu fui transferida pra Porto Alegre pelo correio, então...

P/1 – Vamos só voltar aí um pouquinho, antes dos Correios, vamos entrar um pouquinho na sua juventude, voltar lá, nesse momento você se lembra, assim, como que era os Correios, você morava no Rio?

R – Morava no Rio, quando eu entrei no Serviço Social eu já fui trabalhar nos Correios porque eu achava um absurdo eu com 18 anos, 19 anos viver ainda dependente de pai e mãe, não é, aí eu resolvi, tinha uma vizinha do lado que trabalhava no correio e ela me falou que o correio tava abrindo inscrição pra trabalhar e eu fui trabalhar, iam criar o serviço nacional de telex e estavam, eu passei, entrei no correio. Eu trabalhava no correio e fazia faculdade e não foi fácil porque eu entrava na faculdade às sete horas da manhã, não podia chegar atrasada, saía meio dia, comia no bandejão ali (risos), quando dava, senão eu ia pro correio, trabalhava até às seis horas, ia fazer estágio. E meu estágio era assim, eu morava em São Cristóvão, trabalhava na Praça XV e estagiava lá em Ipanema, no Jardim de Alá, quer dizer, dois extremos, saía 11 horas da noite de lá do estágio, chegava em casa tinha que estudar, tinha que fazer os trabalhos, porque eu sempre fui caxias, né, hoje como é que chamam, hoje é?

P/1 – CDF.

R – CDF, eu sempre fui CDF, confesso, até no correio eu fui CDF, não é, com o pessoal que trabalhava comigo eu era CDF, então eu não, eu comecei, né, fazia isso aí, e aí era no antigo departamento de correios e telégrafos, não tinha nada, a gente recebia aquele salariozinho, né, não tinha nenhuma chance de ficar naquilo, mas eu estava durante o período que eu estava estudando, a minha intenção era realmente sair quando realmente, eu entrei na Fundação do Bem Estar do Menor e entrei com o meu pedido de demissão. Aí quando eu entrei pra pedir exoneração, já lá no Rio de Janeiro ainda, uma colega que trabalhava no Serviço Social dos Correios, serviço de saúde, descobriu que eu trabalhava no correio também, disse: “Ah, então eu vou requisitar você pro serviço de saúde” e me requisitou. Só que quando eu apresentei o currículo ele foi indeferido, eu muito, sempre fui muito atrevida, né, e eu comentei com uma colega que era secretária do diretor de pessoal na ocasião, Comandante Gurgel Neto, que foi quem deu, quem realmente começou o serviço de recursos humanos na empresa e aí ela, eu falei pra ela, disse: “Não, eu vou marcar uma entrevista com ele, você vai lá conversar com ele, ele é boa gente”. E eu já, militar, né, ele era da marinha, eu já cismada, fui lá conversar com ele, cheguei lá, atrevida, né, já sentei, eu sentei, ele abriu a porta dele e ele de lá me olhava e eu daqui olhava, fazia de conta que eu não tava ali, tava lendo a revista, esse homem lá me observando, ele tava testando a minha paciência, eu já tava, aí entrei. Cheguei lá com ele, eu disse: “Pois é, eu vim aqui porque eu fui requisitada pro serviço de saúde da empresa e eu soube que o meu pedido foi indeferido, eu vim aqui saber se o meu currículo não é bom demais pra trabalhar no serviço de saúde do correio” e ele calado: “Se é que o senhor leu o meu currículo”, menina, olha, aquela época dizer isso pra um militar, né, ele não disse nada. Quando eu acabei ele disse: “A senhora acabou?”, eu disse: “Acabei”, ele abriu uma gaveta: “Por acaso é esse o seu currículo?”, eu disse: “É”, já fui baixando a crista: “É”, “A senhora quer ler o que eu botei aqui, por que que eu indeferi?”, aí vinha, sabe, porque o serviço de saúde não funcionava, porque não podia botar um profissional com aquele currículo pra trabalhar, que eu ia decepcionar, não sei o que lá, não sei o que lá. Aí eu fiquei calada, disse: “Mas eu vou fazer um contrato com a senhora, nós estamos começando o treinamento na empresa e eu preciso de profissionais, eu procurei saber informação da senhora da faculdade, tudo isso e sei que a senhora gosta de estudar, de fazer projetos, essas coisas todas, eu quero lhe fazer uma proposta, a senhora vem trabalhar com a gente no treinamento e no dia que o serviço de saúde for reorganizado a senhora vai ser a primeira pessoa a ser convidada pra trabalhar nele”, tudo bem, ok. Aí fomos fazer o curso de formação de instrutores, que era dado pro pessoal da marinha e a gente tinha aula à noite nesse curso e durante o dia tinha curso de formação de técnico postal na empresa, então nós passamos esse tempo todinho, né, estudando, formando, aí quando terminou o curso eu fui transferida pra Bauru, pro centro de treinamento de Bauru.

P/1 – Nisso já tinha sido formada, nesse período?

R – Já tinha, já tava, entrei em Comunicação, tava já no mestrado, né, isso aí, muito bem, aí fui pra Bauru, fiquei pouco tempo, aí logo depois o colega que foi convidado pra ser o encarregado do centro de treinamento, ele me convidou pra ser adjunto de treinamento dele, eu nem sabia o que que era isso: “Adjunto de treinamento, que diabo é isso?”, eu dizia: “Eu não sei nem o que é treinamento”. Aí saí dali, ele disse: “Não, mas eu preciso de você porque eu confio em você”, não sei o que lá, eu aceitei por amizade: “Aí nós vamos pra Porto Alegre juntos”, tá bem, aí eu saí dali, entrei na primeira livraria que eu encontrei, tudo que era livro sobre treinamento e, como eu tenho facilidade de idiomas, conhecia espanhol, francês, italiano e inglês, foi fácil pra mim. Menina, eu tirei tudo quanto era livro que falava de treinamento e lá fui eu com eles, as sacolas, passei noites e noites estudando: “Agora eu sei o que que é”, não sabia o que era um adjunto de treinamento, mas sabia o que que é era, já tinha, né, já tava, teoria eu tinha muito, aí fomos pra Porto Alegre, de Bauru, aí fui pra Porto Alegre. Lá em Porto Alegre chegamos, imagine, o centro de treinamento tá recém instalado, o clima, né, você sai de 42 graus, não esqueço o dia que cheguei em Porto Alegre, domingo de páscoa, 42 graus do Rio de Janeiro, eu cheguei em Porto Alegre dois graus, quase morro, quase morro naquela fila de táxi pra chegar em casa, eu tremia, tremia, tremia, quer dizer, já foi, já foi um embate, né. E nós, foi uma equipe também, também todo mundo começando em treinamento, né, uma equipe que me ajudou bastante na organização do centro de treinamento, a equipe pegou junto, né, a gente ficava às vezes até três horas da manhã fazendo, nos encheram o centro de treinamento, não tinha nem terminado a, era um curso de técnico, eram 90 cursos de técnico postal, eram 30 supervisores e 150, como é? Executantes operacionais pra gente dar treinamento, a gente não tinha, nem a gráfica tava funcionando, como é que a gente vai fazer? Não tem nem uma apostila, não tem nada, aí nós começamos do zero, foi, olha, vou te contar, viu.

P/1 – Então, Helena, você dizia que não tinha nada, como é que era lá, lousa, como é que vocês fizeram?

R – Não, nós tínhamos os equipamentos, só a gráfica não tava funcionando, né.

P/1 – Quais eram os equipamentos da época?

R – Ah, nós tínhamos o retroprojetor, tínhamos a lousa, né, de giz, depois, mas nesse aspecto nós tínhamos, em recursos, né, nós tínhamos, mas ainda tava assim, o prédio da diretoria tava ainda em construção, então a gente trabalhava no oitavo andar, eu subia todo o dia porque o elevador não tava funcionando ainda, então era uma ginástica, subia e descia oito andares, né, oito andares. Mas a gente só tinha o pessoal, os instrutores, cheio de alunos, né, e às vezes a gente: “Como é que a gente vai fazer?”, aí é quando eu digo que você tem que ser criativo, fomos fazer o seguinte, a gente tinha uma apostila, que tinha trazido dos outros centros: “Vamos fazer o seguinte, enquanto a gente não tem apostila vamos fazer cursos práticos, vamos pegar uma pros alunos fazerem trabalhos com essa apostila”. Aí nós fizemos: “Vamos fazer uma exposição, vamos fazer uma exposição pra eles já aprenderem”, porque aí todo mundo tinha que ler a apostila, né, aí ele, a equipe lá dos instrutores também tinham bons instrutores, né, aí nós fizemos pra cada curso dentro do nível deles, né, então o técnico postal tinha que programar, tinha que planejar centros de distribuição domiciliares, centro de triagem, entrega dos aeroportos, transporte, aquele negócio. Então nós dávamos pra eles, eles faziam isso, maquetes e vou dizer a você, e no primeiro momento aí não tinha material e tava assim, era difícil conseguir dinheiro, né, que os militares eram duros, aí um dia tava eu e tinha um rapaz que era o nosso coordenador de trabalhos práticos, ele era artista plástico, o Jorge Scliar, o Jorge, eu disse: “Jorge, o que nós vamos fazer? Nós não temos material”. Aí a obra tava terminando, você sabe que quando termina a obra sobra madeira, sobra aquele negócio, fui eu e o Jorge à noite lá em baixo na garagem e catamos tudo que tinham deixado lá da obra, sem ninguém saber, né, e fomos.

P/1 – Subiram de elevador ou de escada?

R – De escada, minha filha, de escada, levamos tudo, aí o Jorge era muito criativo também, era artista, né, com os instrutores e nós fizemos a exposição, dentro de cada nível os meninos faziam, eles aprenderam, né, então não sentiram tanta falta da apostila assim, não. Nesse meio tempo o diretor de pessoal, Comandante Gurgel Neto, foi visitar o centro de treinamento porque tinham dito a ele que eu tinha transformado o centro de treinamento numa marcenaria e que eu estava gastando fortunas com material, o material que eu gastei foi 500 reais na ocasião, que eu tirei do meu bolso, comprei tinta e papel higiênico pros meninos fazer papel machê, o resto eu não podia dizer, né, que tinha tirado. Aí, menina, ele foi lá ver que história é essa, que eu tinha transformado o centro de treinamento numa marcenaria, né, eu já tinha a fama com ele de atrevida, né, porque.

P/1 – Foi o mesmo que te entrevistou?

R – Foi o mesmo, foi o mesmo, e que tinha feito a tal promessa, né, aí ele chegou lá, ele foi lá, ele muito, ele não falou, não acusou, não, ele só perguntou, não sei o que, aí eu disse pra ele: “Eu quero convidar o senhor pra visitar a exposição que os alunos fizeram”, aí nós fomos mostrando, né, ele se empolgou, ainda começou lá dar, os meninos na eletricidade com dificuldade, ele entrou no meio dos alunos lá, o negócio, quer dizer, ele gostou, né. E eu lá, todo mundo tinha medo do homem, eu digo: “Meu Deus do céu”, aí eu, ele conversou comigo, começou a perguntar, aí eu disse: “Olha, nós não tínhamos apostila nem a nossa gráfica dava tempo de ser montada pra fazer apostila pra tanta gente, né, e era pra cada nível apostila, então nós fizemos isso com as poucas apostilas que nós tínhamos, conseguimos de outros centros, pra eles poderem estudar e aprender, fizemos prática, né, junto com a teoria”. Aí disse, foi, foi: “E quanto você gastou?”, eu: “Bem, eu gastei”, aí eu contei, 500 reais que eu comprei tinta: “E o resto do material”, e eu pra confessar: “O resto do material tava jogado lá embaixo, ninguém via, ninguém queria, nós pegamos a sucata da obra”, ele começou a rir, né, quer dizer, então aí ele viu que não era nada daquilo que tinham dito. Quando ele voltou ele fez, aí ele fez um relatório dizendo que nunca tanto tinha sido feito em tão pouco tempo, que ele estava, que o centro de treinamento tava de parabéns, né, e nós continuamos, sempre ele elogiava as apostilas nossas, a gente com o maior cuidado, a gente realmente, né, eu tinha, eu sou exigente e fazia com que minha equipe também fosse exigente, né, eu digo: “Não, a gente tem que fazer um material que a gente tenha, que a gente queira ter na nossa casa, que a gente queira ter na nossa biblioteca, senão não vale a pena, pros alunos chegarem e jogar fora, né, não vale a pena”.

P/1 – Só pra contextualizar, eu sei que você não é muito de datas, isso foi mais ou menos em que época?

R – Setenta e três, 74, em 73 e 74, aí o encarregado, que eu era adjunto de treinamento, o encarregado do centro de treinamento, naquela ocasião não era gerente ainda, ele não se adaptou ao sul e pediu a transferência dele pro Rio, aí quando ele pediu a transferência dele pro Rio aí o diretor, esse mesmo diretor de pessoal, me, eu fui substituí-lo, aí eu passei a ser a encarregada do centro de treinamento, mas aí nessa época ele chegou lá um dia, 2 de fevereiro, feriado em Porto Alegre.

P/1 – O coronel?

R – É, o Comandante Gurgel, 2 de fevereiro, feriado em Porto Alegre, que fecha tudo, ele chegou lá, foi lá visitar o centro novamente, aí ele disse assim, na hora do almoço ele disse assim: “Ela hoje é minha convidada pra almoçar”, aí o diretor: “Ah, então nós vamos”, “Não, o senhor não vai, eu e ela”, eu digo: “Meu Deus, que bronca que vem?”, a gente sempre pensa na bronca, né, eu digo: “Ai, Jesus Cristo”, aí vamos lá, cadê eu achar restaurante em Porto Alegre? Tudo fechado e eu não sabia e ele dizia assim pra mim: “Mas a senhora mora aqui e não sabe onde tem um restaurante descente?”, eu digo: “Mas hoje é feriado, nem eu sabia”, aí fomos parar num bar, um barzinho em frente ao Beira-Rio, fomos comer sanduíche lá. Ele sentou e disse: “Sabe por que que eu convidei a senhora pra almoçar? Lembra da promessa que eu lhe fiz quando a senhora foi lá na minha sala dizendo que tava pedindo exoneração? Eu disse a senhora que quando o serviço de saúda fosse reorganizado a senhora seria a primeira pessoa que eu convidaria, eu estou aqui pra cumprir minha promessa. A senhora quer?”, eu olhei, eu disse, aí eu já tinha sido mordida pelo bichinho do treinamento, disse: “Não quero, não, comandante, não quero mais, não, vou continuar aqui”. E eu também, meu forte não era serviço social de saúde, não, sabe, eu não, não era meu sonho, não era aquele, não, eu disse: “Não, eu vou continuar no treinamento”, disse: “Ah, eu sabia”, ele disse: “Eu sabia”, aí eu fiquei, continuei, né, gerenciando treinamento até 85, quando mudou a política, né, houve aquela, mudou a política. E aí você sabe que na ocasião eu fui convidada pelo atual diretor regional, que eu pra continuar no centro de treinamento, como gerente do centro de treinamento, eu tinha que entrar no partido que estava no coisa.

P/1 – No poder?

R – No poder, eu disse pra ele: “Você me conhece há muito tempo, jamais deveria me ter feito essa proposta”, era o PFL, se não me engano, eu digo: “Olha, não sou, eu não tenho nada a ver com esse partido, nada a ver, eu só fico nos lugares pela minha competência, você pode dar o cargo pra quem você quiser porque eu não nasci presa nele, nem vou morrer nele”, aí saí. Saí, né, e fiquei lá, fiquei, mas eu vi que eu tinha que sair porque as pessoas que tavam acostumadas a trabalhar comigo não se dirigiam ao atual chefe do centro de treinamento, o gerente, vinham pra mim, eu ficava na biblioteca esperando o que que ia acontecer comigo. Eu achei aquilo uma situação muito desagradável pra ele, né, e pra mim, eu não gosto disso, não gostaria que fizessem comigo, né, aí eu pedi a transferência pra Brasília, disse: “Olha, então eu vou”, não, eu pedi pra sair do centro de treinamento, aí ele disse: “Não, então o único lugar que eu tenho pra você é na Escola Superior de Administração Postal, na ESAP”. Aí eu vim pra ESAP, pra Escola Superior de Administração Postal, isso em 85, fim de 85, 86, foi quando eu comecei a dar formação no curso de administradores postais pra empresa, né, desde essa época até o último CAP, foi o tempo que eu fiquei lá.

P/1 – Tem nesse período alguma história marcante pra você, o fato de você ter ido pra Brasília, de mudar de cidade, como você teve essa história pra contar em Porto Alegre, e em Brasília, tem alguma história?

R – Em Brasília é interessante, né, eu vim pra Brasília, primeiro pra Porto Alegre não foi tanto choque, meu choque maior foi quando eu fui pra Bauru, eu nunca tinha me afastado da minha família, então eu tinha momentos de banzo, né, até que uma colega disse: “Você vai morrer porque você toda noite você fica chorando, você vai morrer, você vai ficar doente e morrer”, foi quando eu realmente cheguei, disse: “É, tem razão”. Em Porto Alegre, quando eu vim pra Porto Alegre foi uma situação diferente porque a família do meu pai era do Rio Grande do Sul, então eu comecei a ter mais contato com a família, né, do meu pai, eu tive uma prima e o marido dela que foram, foram os meus pais lá, entendeu, eu tive muito apoio, muito apoio dos meus familiares, então eu tava em casa. Quando eu vim pra Brasília não conhecia ninguém, mas vim, já tava acostumada, né, já tinha viajado pelo mundo inteiro, né, já tinha ido pra África, né, em missões, já tinha passado situações difíceis na África por causa da guerra, aquele negócio todo, né. Então eu, pra mim ir pra Brasília não foi tão ruim, não, vim pra Brasília, gostei, né, já conhecia todo mundo que trabalhava no departamento de treinamento, na ESAP, nós já tínhamos tido contato nos encontros, né, que a gente tinha, então não foi ruim, não, sabe, eu me lembro que eu fui, eu me lembro que eu cheguei. Aí não tinha, nós não, não tinha ainda apartamento, né, vago, porque você tinha direito a um apartamento, e eu fui morar, eu me lembro, na Asa Sul, bem num prédio em frente ao dos senadores, então eu tava bem segura ali, né, e era perto da ESAP, eu ia a pé, os alunos às vezes iam almoçar lá em casa, quando se cansavam de comer no bandejão iam comer lá em casa. Então realmente foi muito bom pra mim em Brasília, eu gosto de Brasília, sabe, foi uma experiência nova, e a gente envolvida, logo depois eu fui convidada pra me instalar na católica, na Universidade Católica, então não tinha nem tempo de, era durante o dia no correio e à noite ministrando aula, né, então não tinha tempo, assim, não, mas as situações, assim, que eu me lembre assim não.

P/1 – Quer dizer, então nesse meio tempo você falou que você fez várias viagens, né, o que você ia fazer, qual era o motivo dessas viagens e pra onde que você foi, essa experiência na África, como você pra você ir pra África?

R – Eram consultorias da União Postal Universal, né, que é a união que congrega todos os países no mundo no que se refere a correios, e eu em 74, foi, em 74 eu fui pra Colômbia participar, foi feito um concurso e eu fui participar do Seminário de Gestão de Pessoas, que era da UPAEP e da União Postal Universal, UPU. E logo depois, quando eu voltei, o centro de treinamento foi visitado pela União Postal da América e Espanha com o objetivo de transformá-lo numa sede dos cursos da UPAEP pra América Latina e eles foram visitar pra ver as instalações e tudo e foram, nós fomos então escolhidos pra dar esses cursos multinacionais, que foi de 76 a 78. E pelo meu desempenho na coordenação desses cursos em 74 a UPAEP solicitou a UPU, União Postal Universal, uma bolsa de estudos pra mim na França, aí eu fui, em 75 e 76 eu fui pra França fazer o curso de formação psicopedagógica, né, na, como se fosse um centro de treinamento dos correios da França, e quando eu retornei voltei pra Porto Alegre. Então todas as vezes que tinha missão de consultoria eu era convidada, né, pela UPU, pra ministrar esse treinamento, então eu comecei, eu fui ao Chile organizar a escola do Chile, né, com eles, eu estive, aí logo depois eu fui pra Cabo Verde organizar a escola de treinamento de Cabo Verde e dar um curso de formação de instrutores. Depois a UPU me convidou pra visitar os países de língua portuguesa, que eles tinham o objetivo de criar uma escola multinacional de língua portuguesa na África, a exemplo de uma que existia em Albert Lilly que era de língua francesa, e aí eu fui convidada pra visitar esses países, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, pra verificar desses países qual que tinha condições de instalar essa escola, não é. Dentre esses países todos Moçambique que tinha as melhores condições, só que estava em guerra, então não era, eu fiz e pelo meu relatório eles então suspenderam no momento a instalação, mas aí lá, quando eu fui também, mas eu, durante esses, mesmo pra fazer esse estudo da UPU, eu organizava a escola com eles, né, eles sempre pediam auxilio nesse momento, então eu organizava as escolas deles em Moçambique, Angola, e foi uma época difícil, que era a época da guerra, né. Outra vez eu fui ao Chile também organizar a escola do Chile, trabalhar com eles, depois eu fui pra Panamá dar um curso de formação de operações postais internacionais, no Panamá, deixa eu ver mais que eu fui, Costa Rica, aí fui convidada pra coordenar um seminário, né, de gestão de pessoas, de recursos humanos na Costa Rica, fui duas vezes, uma pra formação, né, dar o curso, e outra pra coordenar, e no México ministrar uma palestra também sobre treinamento, desenvolvimento de pessoas no México. Depois eu fui pra, deixa eu ver se eu me lembro mais, aí na Argentina fui convidada pra dar o curso de formação de instrutores, patrocinado pela UPU, né, para todos os instrutores da América Latina, todos os países da América Latina estavam ali presentes, eu acho que foi só.

P/1 – E a universidade mesmo dos Correios, como que surgiu?

R – Ah, ela surgiu, o seguinte, foi a transformação da Escola Superior de Administração Postal que passou pra Universidade dos Correios, eles criaram a universidade, então o curso de Administração Postal foi pra lá.

P/1 – Quem criou?

R – Foi o presidente, sabe que eu não me lembro quem era o presidente na ocasião.

P/1 – O Presidente da República?

R – Não, o presidente dos Correios, é.

P/1 – Isso foi nos anos 80, 90?

R – Virgem Maria, agora você me enrolou, é, aí a universidade, antes disso eu trabalhei na, eu saí da ESAP, fui trabalhar no departamento de relações internacionais.

P/1 – Dos Correios?

R – Dos Correios, então nós trabalhávamos na coordenação de relações exteriores, aí a chefe saiu, eu fui assumir, depois de lá eu fui pra, voltei pra ESAP, porque eu continuei sendo instrutora da ESAP e trabalhando lá, eu achei que, né, que era muita coisa, então eu resolvi voltar pra ESAP, só ficar na ESAP. Logo depois eu fui convidada pra ser assessora do chefe do departamento comercial, aí fiquei um período com ele, foi quando eu fui ser coordenadora do patrocínio das Olimpíadas de Barcelona, aí nós ficamos lá um tempo, depois eu saí, voltei pra ESAP, depois desse momento que eu voltei pra ESAP houve a transformação da escola, que ESAP é Escola Superior de Administração Postal, né, então houve a transformação pra universidade, aí eu fui pra universidade.

P/1 – Você participou da concepção da universidade?

R – Não, a gente, não da concepção, né, porque isso foi mais a nível, mas sim, depois que a gente veio pra universidade a gente começou a fazer os projetos de treinamento da universidade, eu trabalhava muito nos projetos, né, de treinamento, principalmente gerencial e no treinamento da área comercial, então os projetos, vários projetos de atendimento e venda de varejo, da área comercial e de gestão de pessoas e tudo, nós que fazíamos junto com uma equipe, né, e a gente coordenava e fizemos muitos projetos que até hoje, né, ainda estão em vigor lá na empresa, ta. E esse curso mesmo nós ministramos aqui no Brasil pra América Latina, nós demos um curso em Fortaleza pro pessoal da América Latina, que era de comercial, né, e demos um em Curitiba, ministramos um em Curitiba que era de gestão, gestão das pessoas também, né, que era gerencial, né, e veio, aí veio da África também, esses aí vinham da África e vinham da América Latina. Então era o Brasil que dava essa consultoria, né, porque o Brasil realmente, depois do treinamento da empresa, foi o treinamento da empresa que deu nome ao correio brasileiro no exterior, que começou a ser conhecido, né, o correio brasileiro, a ser visitado, tudo a partir daí e até hoje ele é respeitado, né.

P/1 – Por que, por que ele virou uma referência internacional?

R – Porque era bom, bom, eu to falando, não posso falar agora porque, né, eu não estou lá, mas até o tempo que eu trabalhei no correio o treinamento era reconhecido porque ele era bom, entendeu, então apresentava resultados, a transformação do correio brasileiro foi através do treinamento, que não adianta você organizar, tá tudo organizado, se o pessoal que vai trabalhar naquela instituição não está preparado pra isso. Então naquela ocasião o próprio Comandante Gurgel, como o Presidente Edivaldo Cardoso Botto de Barros, tiveram essa visão, né, que pra transformar a empresa era necessário preparar o pessoal pras reformas que a empresa estava começando. Então o treinamento realmente foi conhecido no exterior, nossos centros de treinamento eram reconhecidos, né, o de Porto Alegre, o de Belo Horizonte, o de Bauru, então eles foram reconhecidos, vinham alunos do exterior, né, também, Belo Horizonte também recebeu vários alunos da África, a ESAP, né, recebia muitos alunos do exterior também. Então isso, eram eles que chegavam nos países deles e assumiam as funções de chefia, então era reconhecido, ele começou a ser reconhecido realmente como, e depois os técnicos brasileiros que saiam também, né, iam cada vez mais aperfeiçoando os Correios. Então ele deu realmente, assim, ele começou a ser reconhecido realmente pelo treinamento, depois é que foram conhecendo as outras, né, a organização dos Correios, mas é a área de recursos humanos que nós devemos esse reconhecimento internacional dos Correios.

P/1 – Como é que você se sentia na época sabendo do reconhecimento dessa área que você de alguma forma ajudou?

R – Ah, eu sentia orgulho, orgulho, e até hoje eu me orgulho quando eu vejo, poxa, eu participei dessa transformação, eu ajudei, né, plantei, botei uma gotinha d’água ali, né, estive ali também em treinamento, ajudei, né, às vezes ministrando seriamente os cursos para que o pessoal do exterior levasse essa imagem, né, do profissional brasileiro, eu acho que isso ajudou bastante. Eu me sinto orgulhosa disso sim, sabe, porque não é uma vida, quer dizer, poxa, a minha vida não foi inútil, né, eu plantei umas sementes, né, eu plantei sementes que até hoje ainda, quando eu chego na universidade eu ainda vejo muita coisa que a gente deixou ainda sendo, funcionando, né. Então vejo às vezes alunos que foram meus alunos, como uma aluna de Cabo Verde que participou comigo num curso, me procurando pra eu voltar a fazer consultoria em Cabo Verde, então isso é muito bom, né, é muito bom mesmo. Agora, realmente eu tinha o cuidado de estar sempre atualizada, eu nunca esperei o correio pagar curso pra mim no exterior, seminários pra eu participar, participei de todos os congressos desde 1987 da STD, que é a associação internacional de treinamento, que é nos Estados Unidos, todo ano acontece nos Estados Unidos, cada ano numa cidade, né, dos Estados Unidos, eu ia por minha conta e risco por quê? Porque eu gosto de mim, então eu não posso ficar esperando que alguém se preocupe com o meu aperfeiçoamento, né, com as minhas mudanças, com a minha, entendeu, minha evolução, eu sou responsável por isso, então quando o correio pagava muito bem, eu ia, quando ele não pagava eu também ia. Participei de muitos seminários aqui de recursos humanos, que todo ano tem em Porto Alegre, eu nunca faltei, da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento eu nunca faltei, não é, e sempre procurei realmente estar atualizada, sempre, porque eu acho que é obrigação do profissional, né. Eu sempre dizia pras meninas: “Olha, pensa em você” “Ah, mas a empresa não vai pagar” “Não, você que tem que se preocupar, né, em vez de você ir pra uma butique, pagar um vestido que daqui a pouco, um ano, você não está usando mais, pague um curso pra você”. Foi quando, depois que eu já fiquei aqui, também já fiz formação de psicanálise e pós-graduação em psicanálise, aí montei meu consultório, também tenho o consultório, sabe, é de psicanálise.

P/1 – Helena, você é casada?

R – Não, minha filha, se eu fosse casada eu não poderia ter tido essa vida (risos), já teria terminado, não, sabe, opção, foi opção mesmo, eu estive realmente pra casar, mas eu teria que ir embora do Brasil e teria que deixar minha família e foi numa época que a minha família precisava da minha presença, aí eu desisti, aí nunca mais me preocupei, não, que tinha, assim, vivia viajando, né, estudando, entendeu. Mas tenho, assim, uma família enorme que são meus sobrinhos, se você chegar lá você pensa que eles são meus filhos e são meus sobrinhos, às vezes tem mais ligação comigo do que com os próprios pais, porque tia, né, sempre facilita as coisas (risos), não é, sempre é o gostoso, né, e até hoje, entendeu, não sou de dizer: “Ah”, não sou carente, não senti, assim, necessidade, não, sabe. Namorei muito, namorei muito, mas eu sou, assim como eu era exigente com a profissão eu era exigente também, eu via, isso não vai dar certo, né, já via longe, sabe essa história de você ta olhando assim, é o problema nosso de olhar na frente, eu sempre olhei muito na frente, tanto na profissão como na minha vida pessoal, eu não dou, assim, um passo sem pensar quais são as consequências disso, o que que vai acontecer no futuro. Eu sempre tenho isso, às vezes eu sou chata com os meus sobrinhos porque eu mostro a eles isso: “Ó, pense no futuro, você tá pensando na aqui e agora, pense nas consequências disso lá na frente” e eu sempre fui assim.

P/1 – Hoje o que você faz?

R – Bom, hoje eu trabalho, eu sou professora na Associação de Psicanálise em Brasília, dou o curso de formação, né, participo também da formação dos psicanalistas, o consultório eu fechei um pouco, mas agora reabri, psicanálise, e trabalho numa ONG, sou da diretoria de uma ONG, Casa Assistencial Casa Azul. Até eu vou contar como é que surgiu essa ONG, ela foi o seguinte, a presidente da ONG, é até interessante a história, ela tinha um filho de 17, 16, 17 anos, que o menino era aluno do Colégio Militar, aluno modelo do Colégio Militar, o menino já era poliglota. Sabe aquela criança, aquele jovem que todo mundo quer ser amigo? Era o ideal dos irmãos e esse menino, como era aluno modelo, ele foi convidado pra desfilar no aniversário do Colégio Militar do Rio de Janeiro, que tava fazendo não sei quantos anos, esse menino foi, pegou uma gripe forte, o médico receitou um remédio e ele teve um choque anafilático de madrugada e morreu, morreu tentando abrir a porta do quarto pra pedir socorro. Pois você imagine a dor dessa mãe, e ela tinha guardado um dinheiro pra comprar um carro pra ele porque ele tinha passado no vestibular da Universidade de Brasília e ela ia dar de presente pra ele, e vai o filho vivo e volta, e ela não queria nem ver falar no dinheiro. A irmã dele sonhou com ele dizendo pra ela não se preocupar que usasse o dinheiro, nem ele sabia, usasse o dinheiro com as crianças da Casa Azul e ela saiu procurando a instituição Casa Azul e não encontrou, virou pra irmã e disse assim: “Que não tem Casa Azul coisa nenhuma, isso é história que você inventou”, a irmã disse: “Eu tornei a sonhar com ele, ele mandando o mesmo recado”.

P/1 – Duas vezes.

R – Duas vezes e ela procurou, não achou, um dia ela foi levar a empregada dela pra casa lá na Samambaia, ela olhou e disse que viu a Casa Azul e disse pra empregada: “Finalmente encontrei a Casa Azul, quando eu voltar vou lá resolver esse problema”, a empregada olhou e disse: “Mas eu não estou vendo Casa Azul nenhuma, eu estou vendo um terreno baldio”. Ela entendeu que ela tinha que criar, que a dor dela, né, o amor que ela tinha ao filho ela transformou nas crianças e aí ela criou, ela mais umas duas mulheres de militares, né, que o marido dela hoje é general do exército e ela criou a Casa Azul. Eu nessa época trabalhava na comunidade espírita de Brasília, trabalhava na Campanha (de Fraternidade) Auta de Souza, fazia triagem das famílias para a instituição ajudar, eu fiz um projeto, tem uma casa, a comunhão tem uma creche também e a menina me pediu pra fazer um projeto para aquelas crianças e eu fiz o projeto. Nesse meio tempo a moça, a presidente atual tava em Recife, que o marido tinha sido transferido e tinha Maria Elza, que começou com ela dirigindo, elas foram a comunhão e pediram pra gente ir trabalhar com elas na Casa Azul, aí nós fomos pra Casa Azul, tem 23 anos isso, e daí fomos pra lá. E aí a casa era, não tínhamos nada, a gente começa do nada, né, era simples, só tinha a creche, aí tem uma coisa engraçada, e aí eu levei uma menina que foi minha aluna no administrador postal, levei outros também pra serem voluntários lá e nós éramos voluntários e um dia.

P/1 – Então você levou o pessoal dos Correios também?

R – Dos Correios pra lá também, né, eles trabalhavam lá, era o Roberto, a Elizete.

P/1 – Passaram a ser voluntários?

R – Passaram a se voluntários da Casa Azul e a casa foi crescendo, naquela ocasião nós tínhamos uma cozinha e um salão, que dividia com o consultório dentário que a gente tinha conseguido de uma embaixada, quando chovia, que Brasília tem a época da chuva, a gente não podia dividir as crianças por idade, então nós colocávamos naquele salão e fazia uma atividade que fosse comum. E um dia a Julieta virou e disse assim: “Helena”, ela hoje continua na diretoria do de Santa Catarina: “Vamos fazer um coral”, porque o coral não tem idade, vamos fazer o coral, só que tinha no meio uma muda, uma mudinha, e a menina queria participar do coral, e eu dizia: “Julieta”, “Mas Helena, como é que vou botar uma muda no coral?”, e eu dizia: “Julieta, olha a auto estima da menina, ela não vai falar mesmo, ela não vai atrapalhar o coral, ela vai ficar lá, vamos deixar” (risos), era o único coral que tinha uma muda. Eu dizia: “Julieta, nós somos ótimas, né, o único coral que nós inventamos que tem uma muda” (risos) e ficou, hoje essa menina já saiu da creche, já tá casada, os filhos tão na creche, né, mas aí nós fomos. Mas depois quando a Dayse voltou pra Brasília, o marido voltou pra Brasília, começou, aí nós começamos a fazer convênios, aí a gente ia pra lá, aí a criança só tinha até a idade escolar, quando ia pra escola saía da Casa Azul, só que a gente tinha pena, chegava lá as crianças estavam rodando, terminava o tempo da escola, ficava essas crianças na rua, risco, né, porque era zona perigosa. Então ficava essas crianças se envolvendo com drogas, essas coisas, não, vamos fazer um jeito, eles vão um período pra escola e ficam o outro período na Casa Azul, aí nós começamos, voluntário de futebol, pra fazer esporte, aí depois a gente conseguiu alguns convênios, né, o Banco do Brasil nos dá um apoio muito grande, né, recebe os nossos aprendizes.

P/1 – Os Correios apóiam também?

R – Não, o correio nós tentamos uma vez, com o correio nós tivemos, nós tivemos um período que nós tínhamos aprendiz no correio, mas depois eles estavam sempre, por exemplo, o aprendiz não pode fazer certos serviços, e eles estavam extrapolando, carteiro, essas coisas, não pode, então a gente ficou com medo da responsabilidade, porque são crianças, né, então nós não, nós estamos com outras empresas.

P/1 – Helena, eu só to um pouquinho preocupada, vamos, eu precisava adiantar um pouquinho senão você vai perder a reunião.

R – Certo.

P/1 – Eu queria pra encerrar que você dissesse pra mim quais são as coisas importantes, mais importantes pra você.

R – Pra mim?

P/1 – É, pra sua vida.

R – Bom, importante, minha família, né, muito importante, depois a minha atividade na ONG, né, que eu vejo resultados, hoje a gente tem orgulho de ver crianças na universidade com bolsas dadas por nós, vemos alunos hoje profissionais, né, já com sua carreira começando, então a gente vê, se a gente tirar um da rua o trabalho já nos gratifica muito. E é um trabalho que me gratifica demais, sabe, de ver realmente aquelas crianças, né, e a gente dar a eles a oportunidade que eles não têm, que são de pais e mãe carentes, são crianças de risco, então pra mim também é muito importante isso, sabe, e eu (risos), e eu também sou importante pra mim, né, tudo isso.

P/1 – E você tem sonhos?

R – Sonho a gente sempre tem, né, ai da gente se a gente não tem sonhos, mas os meus sonhos são esses, ver meus sobrinhos, que ainda estão em idade escolar, formarem, né, a gente já, como eu disse, eu já vivi, eu acho que o que eu to ganhando agora já é prêmio, já é gratificação, né, então

a gente tem de continuar esse trabalho, sonho de fazer sempre mais por alguém, sempre poder ajudar as pessoas, né, não só na Casa Azul, mas todos aqueles que a gente coisa. Eu também sou kardecista, faço palestras também, faço trabalho de coisa, então isso aí continuar até quando Deus achar que eu devo partir pro outro lado e vou tranqüila, né, porque sei que, como diz o Bion, dizia que a vida tem coisas desagradáveis também, que é cheia de coisas desagradáveis e a morte em parte é coisa desagradável, mas quem tem uma formação espiritual não acha, acha que seja uma libertação. Então eu, quando chegar minha hora eu vou como se fosse a libertação, terminei minha missão, eu só peço a Deus que eu termine ainda a missão com a qual eu vim a esse mundo pra fazer, é isso.

P/1 – Que bom, e como foi pra você contar sua história aqui?

R – Ah, foi interessante, é bom, né, a gente faz uma lembrança assim dos momentos alegres, momentos felizes e eu acho que eu fui premiada por Deus porque eu tive mais momentos felizes na minha vida do que perdas, porque perdas é coisa que a gente na vida, desde que a gente nasce já é uma perda, então a gente tem que conviver com ela, né. Então a perda de meu pai, minha mãe, os irmãos, pra mim foi uma perda muito grande, mas que a gente sabe que é momentânea, que um dia a gente se encontra, né, o que foi os corpo deles, mas o espírito continua, né, e aí que a gente vai.

P/1 – Muito obrigada, Helena, foi um prazer.

R – Nada, espero que eu tenha...

P/1 – Foi muito bom, excelente, muito bacana, que bela vida, hein, realmente que mulher super, uau, fazendo milhões de coisas, né.

R – Ah, foi sempre, sempre gostei de desafios.

P/1 – Nossa!

R – Ainda gosto de desafios, sempre desafio, né, o último desafio que eu tive agora é ser artesã (risos).

FINAL DA ENTREVISTA