Museu da Pessoa

Um elo entre sociedade e indústria

autoria: Museu da Pessoa personagem: Miguel Bahiense

Histórias de Consumo Consciente
Depoimento de Miguel Baiense
Entrevistado por Lila Schneider
São Paulo, 11/10/2016
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV547_Miguel Baiense
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições




P/1 – Então Miguel, vamos lá. Você podia começar falando o seu nome, o local e data de nascimento, por favor?

R – Miguel Baiense, eu sou natural de Salvador, eu nasci em 19 de agosto de 1972.

P/1 – E qual é o nome dos seus pais?

R – Meu pai se chama Agapito de Campos Baiense e a minha mãe, Benita Pinheiro Baiense.

P/1 – E a tua família veio da onde?

R – Bom, minha família é da Bahia, não à toa, o sobrenome Baiense, tem uma longa história que se conta, que se tentou fundar a república dos Baiense, onde teria surgido o sobrenome da família, então a família talvez, inconfidente, em algum momento da sua história, mas eles vieram do interior da Bahia. Meu pai nasceu numa cidade de Jitaúna, perto de Jequié, que e umas das cinco maiores cidades da Bahia e minha mãe, da cidade de Apuarema, ambos porém, cresceram na cidade de Jequié e o meu pai para trabalhar, aos 19 anos, 18, 19 anos se mudou para a capital, para Salvador e foi trabalhar na Petrobrás, onde desenvolveu seu trabalho por 44 longos anos. Essa história aí dos meus pais chegando na capital baiana.

P/1 – Ele fazia o que, o teu pai?

R – O meu pai era técnico de operação da Petrobrás e a minha mãe era dona de casa, então, pais de cinco filhos, eu sou o quarto, sendo que a quinta é a única menina da casa, da família, dos filhos, então são quatro homens, eu sou o caçula dos homens e tem uma irmã, que na verdade, é a caçula da família.

P/1 – E o quê que você lembra da tua mãe?

R – A minha mãe é uma pessoa muito especial, a minha mãe, ela tem o mérito de ser chamada de mãe por muitas das pessoas que eu conheci em vida, né? De familiares, amigos de chama-las de mãe. Tem uma história muito marcante, porque a família da minha mãe é toda como chamava? A família dá minha mãe tem uma descendência lá atrás europeia e o meu avô tinha preconceitos racistas, inclusive. O nome da minha mãe é Benita porque se fosse homem, meu avô chamaria de Benito, em homenagem ao Mussolini e como nasceu mulher e naquela época não se sabia o sexo antes do nascimento, ela se chamou então, Benita. Então, a família 100% loira de olhos azuis, embora na Bahia e minha mãe se apaixonou por meu pai, Agapito que é negro e meu avô não aceitava a relação deles, o casamento, especialmente pela cor de pele do meu pai que tem uma origem índia dentro da família dos meus avós paternos e o meu avô materno morreu nos braços do meu pai, dizendo que ele foi o maior homem que ele conheceu em vida e que ele se arrependia muito dos preconceitos que enfim, no começo da vida dele, se implementou no seu sangue, então, é uma história de família muito legal, porque o reconhecimento ainda que tardio chegou, né, e toda assistência quando o meu avô paterno precisou ir para a capital para se cuidar, ele era do interior também, quem deu a assistência toda foi o meu pai, a quem ouviu muitas críticas, né, ao longo do seu relacionamento com a minha mãe, né, mas enfim, tudo aconteceu de uma forma muito bonita, né e a família da minha mãe se rendeu e entendeu que não se pode ter esse tipo de comportamento perante as pessoas, especialmente num lugar como a Bahia, que por essência, é negra, né?

P/1 – E a família da sua mãe, é de que parte da Europa?

R – A família da minha mãe tem lado italiano, lado português, mas são origens bem ancestrais, mesmo, bem anteriores ao posicionamento deles no Brasil.

P/1 – E o quê que você lembra da sua infância?

R – Eu tive uma infância muito feliz, uma infância que eu nasci, praticamente, numa rua sem saída, no bairro da Pituba em Salvador. Na verdade, quando eu nasci, meus pais moravam no bairro de Brotas em 72 e quando foi 74, nos mudamos para Pituba. Cheguei lá, praticamente, recém-nascido, com menos de dois anos de idade e foi um lugar que eu cresci, eram 22 casas, não era um condomínio fechado, mas era uma rua sem saída e nós crescemos chamando os vizinhos de tios e tias, frequentando suas casas à vontade, todas as festas que existiam, São João, Dia das Crianças, Dia dos Pais, Dia das Mães, se faziam festas nas ruas, os pais construíram uma quadra de futebol, onde eu aprendi a jogar bola e me tornei goleiro, não profissional, mas gosto de jogar futebol no gol, foi ali que eu aprendi um pouco a jogar bola. Tinha um parque infantil, também, que aproveitávamos, então foi uma infância muito feliz com muitos amigos que trago desde essa idade, né, então muitos nasceram na rua a partir dos anos 70, enfim, alguns nos anos 80 também e foi muito especial, né, foi muito especial porque havia uma integração familiar não só, claro, dentro da nossa própria família, mas entre as famílias, então era uma relação de amizade, daí eu volto aos meus pais, porque a casa dos meus pais era a casa de encontro, né, então era a casa que todos se sentiam muito bem acolhidos na minha família, muitos parentes moraram em algum momento na casa dos meus pais, então isso também me enche de orgulho, pelo ser humano especial que eles são, deram oportunidade a vários familiares e amigos, inclusive, que vieram do interior em algum momento da vida para tentar a vida na capital, Salvador, eu acho que eu me espelho muito nisso, porque dos cinco filhos, eu fui o filho que saiu de casa para também tentar a vida em outra capital quando eu fui para o Rio de Janeiro, mas eu acho que os aprendizados de família foram muito importantes, transferidos pelos meus pais, enfim, foi muito… uma infância muito legal, festas, brincadeiras, traquinagens, todos nós tínhamos uma mãe postiça também, que eram as pessoas que cuidavam da gente, que tinham uma certa gerência por assim falar quando o vizinho fazia coisa errada, então, sabe, tocar a campainha e sair correndo? Eu recordo de uma vez que era a única casa da rua que tinha uma piscina e nós, o casal viajou, os tios, o tio Carlos e a tia Marcia viajaram e os moleques entraram na piscina. Cosmira, que era a pessoa que tomava a conta de Cacau, Carlinhos que era o filho deles estava na casa, a gente não sabia e estávamos todos na piscina, quando Cosmira apareceu, nós nos mergulhamos para nos escondermos (risos) e ela ficou naturalmente em pé, esperando acabar o ar e a gente subiu, apareceu, cada um foi para a sua casa, tomamos a surra de direito e dever da mãe. Mas era assim, a nossa infância, então uma coisa muito legal.

P/1 – E do que mais vocês costumavam brincar, que tipo de brinquedo?

R – Nós brincávamos, praticamente, de tudo, né? Nós tínhamos as épocas, né, então tinha a época da raia. A raia, como se chama aqui em, São Paulo, a pipa, né, na Bahia se chamava raia. Então, nós empinávamos a raia, tinha época do revolver de espoleta, brincava de policia e ladrão, esconde-esconde, picula como se chama, que é o pix que se chama aqui em São Paulo, então, dependendo do momento, nós brincávamos muito. Agora, o futebol era sempre… não tinha época, o futebol e o time da rua era uma coisa fantástica, então, nosso time da rua tinha uma característica muito boa de jogar os campeonatos e ganhávamos os campeonatos invictos, muitas vezes. Tinha uma origem na minha casa, né, a quadra que eu me referi que o meu pai, junto com os outros pais construíram era uma quadra de futebol de salão, e na minha casa tinha uma equipe de futebol de salão, porque era eu no gol, três irmãos, mais o meu pai, então eram quatro na linha e um no gol, nós tínhamos o nosso time, tínhamos o Baba da Petrobrás, que era toda terça-feira à noite e quando o time jogava da casa, a gente invariavelmente ganhava, era muito difícil a gente perder. Mas enfim, na nossa rua, tínhamos o nosso time, tínhamos as peladas, uma característica marcante também no meu pai era que ele gostava de construir as coisas como o Professor pardal pra gente brincar, então, o meu pai fez um half de skate na época de skate e a gente subia aquele half na quadra, enfim, fazia as manobras, eram coisas muito bacana. Eu recordo que quando surgiu o vôlei de praia no Brasil, o meu pai fez um kit de vôlei de praia para mim, p[ara os meus irmãos e para os meus amigos da rua e a gente ia para a praia em Salvador, jogar vôlei de praia, tinha uma figura muito marcante que era o Ricardo do vôlei de praia, campeão olímpico, né, então ele morava num condomínio vizinho, então a gente também tinha esse lado de integrar com condomínios vizinhos, né? Então sempre procurávamos brincar das mais diversas possibilidades, mas com maior diversidade de amigos, de pessoas que pudessem, eventualmente, estar junto da gente.

P/1 – Naquela época, as mulheres não jogavam muito futebol, né? Tua irmã, então, ficava de fora?

R – Minha irmã, com certeza, ficava de fora. Minha irmã, ela claro tinha as amizades dela, da rua também, que eram… enfim, todos integrados ali, mas cada um fazendo suas atividades, digamos, suas brincadeiras. Eu lembro muito bem uma época que tinha os Menudos, né, e as meninas eram loucas pelos Menudos e eu lembro que por uma brincadeira, enfim, depois a gente pode até olhar, de mau gosto, mas por alguma razão, eu rasguei um pôster do Menudos e eu tomei uma carreira das meninas, né? Então, tinha sempre a integração, eram brincadeiras muito sadias, sempre tem a integração, porque os pais policiavam muito isso, os pais buscavam esse ajuste, claro que tinha mais afinidade com um, com o outro, mas de uma maneira geral, todo mundo sempre se deu muito bem e até hoje, né, a gente fala dos grupos das redes sociais, do whatsapp, mas é legal, porque hoje a gente consegue cada um morando em um lugar diferente, ainda que muitos na mesma cidade, a gente consegue usar essas mídias sociais para interagirmos, conversarmos, lembrarmos das histórias, enfim, é muito bacana.

P/1 – E naquela época, vocês brincavam com caixas de pasta de dente? Já tinha alguma coisa assim com objetos reciclados?

R – Olha, a ideia de discutir o reciclado, especialmente nos anos 80, nesses anos 90 não era muito… não era tão difundida, mas a gente procurava, sim, criar os nossos brinquedos e aí, a gente… eu retomo, né, eu lembro que o meu pai costurava bolas, ele consertava bolas de futebol, então nós não tínhamos uma bola comprada na loja, nós tínhamos a bola que o meu pai fazia com a sobra do conserto das bolas das pessoas que conheciam ele e pediam para ele consertar. Então, ele fazia, por exemplo, as nossas bolas e eram bolas maravilhosas, então, não havia necessidade de ter uma bola de determinada marca, sabe, não tinha ainda esse apelo comercial. Então sim, a gente tinha um lado de construção que foi muito colocado na nossa mente pelas coisas que o meu pai fazia, como eu falei, o half pipe foi feito com madeirite que sobrou de uma obra de uma casa lá na nossa rua. O kit de vôlei de praia também com sobras, com cordas, claro, a rede comprada, mas de maneira geral, as cordas e as hastes que suportavam a rede também com sobra de material de uma obra especifica de uma das residências da nossa rua, né, as bolas como eu falei, com sobra dos consertos, né? As bicicletas, eu recordo que muito tempo depois eu descobri que a minha primeira bicicleta, na verdade, foi pintada do meu irmão mais velho, então, há uma diferença do primeiro e o segundo, então… do primeiro para o terceiro são dez anos, do segundo para o quarto que sou eu, são dez anos de diferença. Então, eles tiveram as primeiras bicicletas e a minha e a do meu irmão, que é um ano mais velho do que eu foram bicicletas pintadas e recuperadas dos meus irmãos mais velhos, né, então, a gente também tinha essa coisa da roupa também, de ser reutilizada, que eu acho que era muito mais natural até naquela época e a gente tem obrigação hoje de tentar mostrar isso aos filhos da gente, né, realmente aconteciam algumas coisas nesse sentido.

P/1 – Então, essa consciência vem da família, né, já?

R – Ela vem e a gente… como se fosse nosso subconsciente, né, não havia um endereçamento: “Estamos fazendo isso por isso para preservar”, não, mas ela naturalmente acontecia, talvez por uma questão mais financeira, mas não importa a razão, o fato é ter aprendido isso, né? Então, hoje na minha casa, eu pratico esse… agora, há pouco tempo mesmo, de tempos em tempos, eu chamo os meus filhos e peço para eles olharem os brinquedos que eles não mais utilizam pra gente fazer doações ao invés de jogar fora, a gente pode fazer isso com roupas, pode fazer isso com os brinquedos e dar a crianças que não têm acesso, né? Então, acho que isso, de certa forma, nasceu nesse movimento dos meus pais e que outros pais da rua também faziam, né? A gente não sabia na época, alguns anos depois, a gente ficou sabendo e isso não causou, de maneira nenhuma, qualquer irritação, né, muito pelo contrário, hoje com a consciência que nós temos, com o aprendizado, a gente até reconhece que foi uma atitude prudente, adequada, né, tomar esse caminho.

P/1 – E o que mais que você lembra do bairro, de onde você morava, da relação com a praia?

R – Olha, praia é um lugar fantástico, né, eu desde os meus 12 anos que eu surfo. Procuro praticar isso ainda hoje, morando em São Paulo é um pouco mais difícil, né, o período que eu morei no Rio, ainda tinha uma facilidade maior, Salvador era muito mais fácil, né? Mas a gente buscava ter essa relacro com o mar de não só surfando, mas enfim, com o lazer, estando na praia, como eu falei, no período que a gente jogou muito vôlei de p[raia, né, ninguém virou atleta profissional com exceção do Ricardo que em algum momento também brincou coma

gente, mas a gente tinha um lado de passear muito forte, a gente fazia isso muito integrado ali com os amigos, né, tinha uma época em que o meu pai falava: “Você só sabe andar na Pituba”, porque ficava tudo ali na praia, os amigos, os condomínios vizinhos, futebol, jogos de futebol, enfim. Então eu acho que nós tínhamos uma relação muito forte com o mar, né? Outra relação muito forte que eu tenho de fortes lembranças boas da Bahia é só time que eu torço, do Bahia, porque domingo à tarde, 17 horas era sagrado estar na Fonte Nova para assistir o Bahia jogar. O meu Bahia como a torcida se refere, né? Era um programa familiar que o meu pai estendia para outros vizinhos, né, os pais não tinham o costume de ir ao estádio ver o futebol, mas vários desses meus amigos iam com a gente no estádio, então acho que é uma lembrança que até hoje eu sinto falta e procuro praticar com os meus filhos, né, o meu filho embora nascido em São Paulo, hoje com 13 anos, se o Bahia pintar por aqui num raio de até 400 quilômetros, eu tô com ele no estádio (risos).

P/1 – Você queria ser o que quando crescesse?

R – Piloto de avião. Meu sonho era ser piloto de avião e eu decidi ser engenheiro químico no terceiro ano colegial, na metade do terceiro ano colegial e acho que é uma das razoes, uma questão bem interessante, uma das razoes que me fez desistir da carreira de piloto era que eu ouvi à época que eu teria que me mudar para o Rio Grande do Sul, que era onde tinha a escola da Varig e puxa, eu achava… no final dos anos 80 e começo dos anos 90, uma coisa muito ruim deixar essa vida que eu tive, que não foi uma vida boa, sabe, não tô dizendo que foi uma vida de coisas maravilhosas no sentido de poder aquisitivo, não é isso que eu tô falando, mas de amizade, de relacionamento. Então, eu pensava duas vezes entre perder isso tudo e investir numa distancia muito grande da minha casa numa carreira que seria piloto de avião.

PAUSA

P/1 – E da escola, o que você lembra da escola na sua infância?

R – A escola, eu estudei em três escolas. Eu fiz o infantil no Colégio 1, 2, 3. Uma coisa que me marcou muito foi o desfile na escola em que eu fui fantasiado de tirolês, enfim, eu era muito pequeno, dali do 1, 2, 3 eu fui para um colégio que se chama Ana Neri, quando eu tive a minha primeira namorada…

P/1 – Quantos anos você tinha?

R – Eu devia ter os meus oito, nove, o problema é que ela não sabia que eu namorava ela (risos), nunca tive a coragem de dizer para ela. Era uma coisa que me marcou muito, porque quando eu a via, ela era a Monique, quando eu a via, eu ficava… abria um sorriso, sabe? Me sentia bem, né? E aí, quando ela passava, eu voltava ao normal, mas ela não sabia que eu namorava ela, só eu que namorava naquela época. Então, eu tive uma passagem no 1, 2, 3 muito bacana, era um colégio pequeno, muitos amigos, a despeito de nenhum desses amigos da rua estudarem lá, terem estudado lá, na verdade, quem estudou lá da minha rua foi apenas eu e o meu irmão Roberto, que é um ano e meio amis velho do que eu e dali, nós fomos para o Colégio Nobel, que é de onde eu fiquei do quinto ao terceiro ano. Uma das coisas legais do colégio é que o meu irmão mais velho era professor de Física, então, meu sonho era ter sido aluno dele, né, então eu na quinta, sexta, sétima, oitavo ano, sétima série, oitava série ficava sonhando com o dia que eu entrasse para o científico para ser aluno dele, até que eu fui ao primeiro ano e na verdade, ele dava aula em outra sede, não na minha, então, eu só consegui ser aluno de Paulo no segundo e no terceiro ano colegial. Então, era muito legal a escola, tinha um quê bacana de ser irmão de professor, porque de certa forma, os professores tratavam a gente diferente, olhavam você com… talvez com um respeito um pouco mais… não um respeito, mas um carinho um pouco maior, tinha os bons e os ruins, então, eu lembro de um professor de Matemática, Newton, que todos os exercícios que eram para serem feitos ao quadro pelos alunos, um era meu, os outros ele sorteava ou chamava os alunos, mas um era meu e isso era um lado ruim, porque eu tinha que estar sempre lá com a matéria na ponta da língua. Eu fui aluno de Deise. Deise, a esposa do meu irmão mais velho que era professora de História, né, então sempre tinha aquela: “Não é Miguel?”, então a gente tinha que estar sempre um pouco mais antenado nas matérias, isso foi bom no final das contas, olhando para trás, isso te obrigava a estudar um pouco mais, né? Mas tinham brincadeiras… eu lembro que o meu pai comprou para os filhos um casaco da Refinaria de Mataripe, da Associação Atlética de Mataripe, então, casaco branco e verde e aí, fui a escola com o casaco, meu irmão mais velho também com io mesmo casco e quando eu voltei do recreio, né, houve uma confusão ali na sala e eu não entendia o quê que tava acontecendo e os meus colegas desesperados porque me viram entrando com o casaco verde e branco de Mataripe, da Associação Atlética de Mataripe e aí, que eles realizaram que o momento em que eles estavam jogando o casaco de um lado para o outro e caiu pela janela não era o meu, era o do professor e aí, foi um desespero para achar o casaco. Então, tinham coisas assim, muito legais. Eu lembro quando tinham eventos… esses eventos da minha rua, os professorem iam, então a gente tinha uma integração um pouco maior, não só eu, como os meus irmãos também, né, Roberto e Daniela que é a caçula com os professores, por essa amizade do meu irmão mais velho enquanto professor.

P/1 – E tem mais alguma história de algum professor que te marcou na infância ou na adolescência?

R – Eu lembro assim, na Copa do Mundo de 86, o Newton esse professor de Matemática assistindo os jogos na casa do meu pai, então, diversos momentos, os professores estavam sempre ali, eu lembro que eu tinha um pouco… não acesso ilimitado, mas eu podia circular um pouco ali na coordenação, porque às vezes eu falava: “Vou falar com o meu irmão” e aí, eu entrava e via os professores lá dentro, tinha brincadeiras com os amigos sobre as provas que o meu irmão fazia, né, aí ele brincava e falava assim: “A prova vai estar muito difícil e o Miguel estava lá, ele sabe que eu estava ouvindo rock’n’roll na hora

porque ele estava do lado, então as questões vão estar muito mais hard do que o normal, porque eu não estava ouvindo música baiana e sim, rock’n’roll na hora, então…”, tinha essas brincadeiras e todo mundo olhava para mim. Eu lembro de uma prova com o Paulo, com o meu irmão em que a gente tinha… tinha o tipo um, o tipo dois, então, aluno que sentava na frente tinha o tipo um de [prova, o que sentava atrás, tipo dois, e assim ia e a gente… era uma batalha, era uma guerra colando e não colando, até um momento em que eu troquei uma prova com um aluno e ficou tipo um tipo um, tipo dois, tipo dois e à noite, conversando em casa sobre a prova, ele me perguntou como que eu resolvi determinada questão, eu falei: “Não tinha essa questão na minha prova”, e aí, ele bateu boca comigo que tinha sim, porque eu era tipo dois, eu falei: “não, eu era tipo um”, aí eu vi que eu tinha entregue a troca de prova, né, mas ficou o dito pelo não dito e terminou que a gente se entendeu da melhor forma possível sem eu precisar tomar um zero (risos).

P/1 – E você se lembra como você ia para a escola?

R – Andando ou de bicicleta.

P/1 – Era perto?

R – Era perto, dava um quilômetro e meio, dois. Então, eu sempre estudei de manhã, às sete e quinze tinha que estar na sala de aula, então a gente acordava e íamos andando. Na época do Nobel, já tinha mais amigos da rua que estudavam também no colégio, alguns estudavam à tarde, a maior parte de manhã, então a gente ia juntos, voltávamos juntos também. Teve um período em que eu ia de bicicleta, voltava de bicicleta, aliás já fiz isso aqui no trabalho por uns dois anos, deixava meu carro no escritório e optava por ir e voltar para a casa de bicicleta enfim, eu sempre gostei de exercícios, de atividades esportivas, né?

P/1 – E naquela época, já se falava em sustentabilidade? Na escola, na sala de aula?

R – Olha, se falava alguma coisa sim, a gente tinha… volta e meia, tinham algumas campanhas para levar produtos de casa para fazer colagens, fazer alguma arte dentro da sala de aula, mais especificamente até a quarta série, um pouquinho antes de entrar no ginásio, como se falava, né? A gente já tinha algumas

coisas que a gente sempre buscava, então, a principal delas era talvez, o desperdício de alimentos, então, a gente… na minha casa, a gente sempre foi muito informado em comer o que realmente aguentasse para evitar desperdício de alimentos, enfim, tinha muita gente que não tinha comida, a gente sempre ouvia essa informação e a gente pensava muito sobre isso, né? Então, tinha um legado aí mais… a época até mais familiar do que propriamente da escola, né?

P/1 – E aí, voltando aquela história do terceiro ano, você resolveu fazer… me fala então como foi a sua decisão para fazer o curso, a faculdade.

R – Na verdade, eu decidi fazer Engenharia Química, porque Química era a matéria que eu mais gostava do colegial, então, gostava muito de Química e de Biologia, então eu tinha um pensamento em algum momento, eu pensei em ser biólogo, mas foi um momento bem rápido, durou uma semana, eu acho e a Química foi o momento em que eu me identifico um pouco mais, achando que, pelo fato de gostar da Química de colegial, do primeiro ao terceiro ano, eu teria um aprendizado mais fácil na Engenharia Química e aí, eu lembro que na época, eram poucas vagas disponíveis na Federal da Bahia, que a gente chama de UFBA, eram 60 vagas por ano apenas, e o Polo petroquímico de Camaçari absorvia muito os formados em Engenharia Química, então era um curso muito difícil de ser aprovado, porque eram poucas vagas, não tinha outra universidade à época que oferecia o curso de Engenharia Química e também, em algum momento, eu vi que tinha uma amarração com o que o meu pai fazia, então, a despeito do meu pai também dar aula na profissão dele, no trabalho dele, enfim, embora fosse locado na Refinaria Landulpho Alvez em Mataripe, na Bahia, o meu pai também participou em 72 do inicio das atividades da Casa de Parafina da REDUC, no Rio de Janeiro. Então ele fez parte da equipe que botou a unidade para funcionar, então foi inclusive no ano em que eu nasci, eu só conheci meu pai alguns meses depois, porque ele estava empenhado no processo lá no Rio de janeiro e naquela época, não era muito fácil sair de salvador e ir para o Rio, né? Então, teve uma dificuldade aí, mas em algum momento, eu percebi que o meu irmão mais velho era professor de Física, o segundo formou-se técnico de Agropecuária, o terceiro tentou fazer Engenharia Civil e estudou ali Química também, hoje é professor de Física também, minha irmã é advogada e sobrou para mim seguir a carreira aí da relação da Química dentro da família. Então, eu terminei também me influenciando, de certa forma, por isso, até porque eu recordo que todas às vezes que nós íamos viajar para visitar os meus avós no interior, minha mãe saía de casa com o carro, pegava o meu pai no começo da tarde na Refinaria e ele gostava de mostrar a unidade, a casa de parafina, onde ele trabalhava, enfim, a gente conhecia a RLAM, a Refinaria Landulpho Alvez como a palma da mão, porque toda viagem que nós fazíamos, a gente ia para lá e todas às vezes, ele gostava de mostrar, né? Então, eu sempre gostei muito disso, né, então foi muito bacana.

P/1 – E quais foram os momentos mais marcantes da faculdade, desse período?

R – Olha, a faculdade foi muito difícil porque eu recordo que eu tinha um amigo, Augusto, tenho um amigo, na verdade, ele mora no Rio, inclusive, que o sonho dele era morar no Rio. Ele era o meu vizinho de muro, né, então a gente… pra ir para a casa do outro, a gente pulava o muro, a gente não ia pela frente, né, então foi o amigo que eu cresci, lógico, com todos, mas com ele eu me identificava bastante, apesar que ele não esteve na nossa rua desde sempre, ele foi já nos meados dos anos 80, né, então, eu praticamente nasci lá. A gemente se identificava muito e eu lembro que o Augusto falava que o sonho dele era morar no Rio, mas o pai dele não deixava e eu dizia para ele: “Você é maluco", que morar no Rio de janeiro, pio, sair daqui, tem faculdade aqui”, e a gente ficava brincando e conversando ali no segundo, terceiro ano falando sobre isso. Até que o meu irmão Roberto me chama para fazer o vestibular no Rio de Janeiro e Roberto, enfim, é um ano e meio mais velho que eu, eu me espelhava nele, né, então…

P/1 – Ele tava morando lá?

R – Não, ele morava em Salvador também, nós morávamos juntos, ele já tinha tentado vestibular de Engenharia Química em Salvador, perdeu, não foi aprovado, ele fazia o Centec, um curso de tecnólogo em processos petroquímicos, né, então ele também tinha essa característica de seguir a carreira do pai, mas era um curso de tecnólogo, não era um curso… era acima de um curso de técnico, mas era abaixo de um curso universitário. Então, ele tentou na sequência, Engenharia Civil, também não foi aprovado, ele continuava o curso de tecnólogo, até que eu cheguei no terceiro ano e ele me convidou… me convidou não, me sugeriu: “Vamos para o Rio fazer Química lá na UFRJ?”, eu lembro que a gente viu o guia estudantil da época e era a melhor faculdade de Engenharia Química do país e ele se empolgou e eu fui no embalo dele, então, eu tinha muito isso de imitar o irmão mais velho, não tenho nenhuma vergonha de falar isso, eu tenho orgulho até pela pessoa que ele é e aceitei o desafio e aí, a Vania, uma prima minha da Ilha do Governador que nos ajudou fazendo inscrição na faculdade e etc., ela virou para mim e falou assim… saiu o resultado e ela liga para Salvador, estávamos em casa, eu recordo que eu fiquei mais triste por ele não ter sido aprovado do que feliz por ter sido aprovado, porque eu fui para o Rio de Janeiro sozinho, né, então larguei uma família grande, uma família de relacionamentos intensos com os próprios familiares, como eu falei, primos que moraram lá, amigos que moraram lá, a casa que era o ponto de encontro das 22 casas da rua, e fui morar no Rio de janeiro sozinho. lembro o meu primeiro dia de Rio de janeiro, em que eu estava atravessando a estrada do Galeão, na Ilha do Governador, fui comprar uma agenda de telefone de papel para anotar os telefones das pessoas e a estrada do Galeão é uma estrada que tem um canteiro central, é uma pista que tem um canteiro central, o sinal, o farol ficou verde para os pedestres e todo mundo saiu correndo no embalo e eu fui no meu passo, olhando, devagar, como um bom baiano e lembro me perguntando: “Por que esse pessoal tá tão rápido?”, né, e aí, o farol da pista seguinte fechou e eu fiquei sozinho no canteiro central e aí, eu entendi porque todos andaram rápido, né, para conseguir atravessar as duas pistas numa leva só do farol. E eu fiquei lá no meio e eu lembro de olhar para o céu e falar: ‘meu Deus, o que eu estou fazendo aqui?”. E ali começava uma saga muito difícil, né, porque eu tinha… estava morando em outra cidade, o poder aquisitivo da minha família não era dos maiores, mas estava sendo o suficiente aí, com muito esforço dos meus pais, suficiente para me manter no Rio, mas eu passei uns dois anos muito perdido, ainda, né, eu recordo que logo naquele ano, eu fui para salvador para passar o Natal e o réveillon, fui de ônibus, eram 28 horas de ônibus e voltei de ônibus e a volta foi a mais triste, porque eram 28 horas chorando e aí, quando eu fui no carnaval, eu fiz um acordo com o meu pai: “Eu continuo no Rio desde que todas às vezes que eu voltar, eu volte de avião”, ele me perguntou por quê, eu falei: “Pai, porque no avião, além de ser um evento – naquela época, voar, entrar num avião, voar era um evento, era uma coisa bacana – em uma hora e 45 de voo não dá tempo de eu chorar. Em 28 horas eu choro muito e eu não quero isso. Então, eu só vou sentir a saudade lá em casa, no Rio, voltando de umas férias ou de Natal ou réveillon de Salvador”, então eu fiz esse acordo com o meu pai: “Eu vou de ônibus, não tem problema, quando eu sair do Rio para Salvador, agora a volta, se o senhor não me matar, eu não vou aguentar”. Ele entendeu o meu lado, e a gente terminou fazendo esse acordo, e aí, isso amenizava um pouco a minha dor

de sair da família e ir para uma cidade em que estava sozinho.

P/1 – Aí, você finalizou o curso na…

R – UFRJ. Mas antes de finalizar o curso, teve um movimento que foi muito marcante para a minha carreira, a URFJ tinha uma característica muito interessante no curso de Química, que era não ter pré-requisitos, então, o aluno que eventualmente, por exemplo, bombasse a cadeira de Cálculo II, poderia fazer o Calculo III, o Calculo IV, se bombasse Física I, poderia fazer a II na sequência, porque não havia um engessamento da grade curricular, isso era uma coisa muito bacana naquela universidade que… imagino que ainda seja praticado hoje. O que acontecia era o seguinte: você tinha um número avaliador toda vez que você ia fazer a matricula e esse número avaliador, quão maior fosse, significava que mais distante da grade curricular você estaria e portanto, a sua prioridade para pegar a cadeira de Cálculo III por exemplo, tendo bobado Cálculo II, a probabilidade de você pegar essa cadeira era menor, você não tinha preferencia, né? Mas sobrando vaga, você conseguiria fazer sem problema nenhum e assim foi até o décimo semestre, né, o quinto ano. E no quinto ano, eu ao longo do curso, tinha bombado seis matérias, faltavam três para eu me formar e naquele… no décimo primeiro semestre, portanto, eu deveria repetir essas seis matérias que eu fui deixando para trás ao longo do tempo e complementar com as três que eu deveria fazer que eu não tinha cursado e aí, eu fiz o seguinte, o meu desejo era voltar para Salvador, eu queria trabalhar no Polo de Camaçari, voltar para casa, voltar para Salvador, coisa que eu tinha tentado fazer no meio do curso, eu fiz vestibular na Federal da Bahia lá pelo quinto, sexto semestre, né, e não fui aprovado, tentei voltar algumas vezes, meu pai queria que eu ficasse lá porque como ele era Petrobrás, ele queria que eu estagiasse no Cenpes e aí, um pouco mais velho, né, eu entendia o sonho do meu pai de me colocar na Petrobrás não era o meu sonho de trabalhar na Petrobrás, eu não queria trabalhar na Petrobrás, e o meu pai queria porque queria que pelo menos, eu fizesse um estágio no Cenpes porque dali, o Cenpes, que é o Centro de Pesquisas da Petrobrás era o campus da UFRJ, né, então era cinco minutos andando da minha sala de aula, né? Ele queria que eu estagiasse, ele arrumou um estágio para mim, eu não queria, eu enrolei para voltar das férias de Salvador naquele ano, né, a pessoa do Cenpes ligou para minha casa: “Sua vaga está esperando”, eu enrolei para vir, para ela desistir de me contratar, mas quando eu cheguei, não teve jeito, ela esperou, todo o tempo que eu enrolei, eu terminei estagiando lá. E eu queria… eu não queria seguir na Petrobrás e o meu pai tinha um sonho, esse sonho para mim, né, na verdade, se realizar como engenheiro da Petrobrás, talvez, se realizando em mim, coisas naturais que os pais fazem nos filhos, né? Se realizam ali nos filhos, eu tentei fazer vestibular, não deu certo, eu terminei seguindo o meu curso no Rio e quando eu cheguei no final, eu queria voltar: “Bom, agora, vou formar e vou voltar. Agora, meu pai não vai poder dizer nada”, e aí, eu convenci os professores de que eram matérias que eu já havia cursado em algum momento no curso e que portanto, eu não precisaria assistir as aulas de forma presencial, meus colegas de faculdade que estavam comigo desde o inicio também cursariam, me mandariam as matérias, eu poderia estudar em Salvador, onde eu faria um estágio no Polo petroquímico de Camaçari e nesse momento, eu usaria o dinheiro do estágio para comprar as passagens de avião para vir ao Rio fazer as provas e voltar. Então esse foi o primeiro momento aí que eu dei, de certa forma, inconscientemente, uma guinada que me trouxe a carreira que hoje eu tenho, né, então os professores aceitaram, as aulas não se exigia presença, os professores entenderam a minha necessidade, eu externei que eu queria voltar, minha família era de Salvador, eu queria trabalhar no Polo. No Polo, eu lembro, eu fiz alguns estágios de férias no Polo de Camaçari e eu lembro que as pessoas sempre falavam: “A gente só investe no estudante que é radicado na Bahia, em Salvador”, então o cara que é radicado fora tem uma tendência de ir lá, de repente, aprender um pouco e já voltar para a sua cidade onde ele se formou, né? E eu precisava, eu entendia que eu deveria estar lá, criar esse link, esse relacionamento para ter uma continuidade no Polo de Camaçari como profissional agora, né? E nesse momento, eu consegui um estágio. Então era um estágio que estava aberto há seis meses a vaga, ninguém preenchia, ninguém aceitava ou fazia o estágio porque ele tinha uma característica, era um estágio que o trabalho era ler informações técnico ambientais sobre o plástico PVC. Isso eu tô falando de 96, não tinha e-mail ainda, ele não existia, eu lembro que a empresa que eu fiz esse estágio tinha a intranet, então tinha um e-mail interno, mas não tinha e-mail externo e eu aceitei de imediato essa vaga e eu passava a semana toda no Polo de Camaçari lendo informações ambientais sobre reciclagem, sobre reciclagem química, energética, incineração, PVC incêndio, aditivos na indústria de PVC, então todos os temas ambientais ligados ao plástico PVC me chegavam através de documentos em quer o meu trabalho era lê-los, saber inglês, espanhol, francês, francês eu não lia nada, espanhol arranhava, inglês entendia bem. E o meu trabalho era compilar essas informações para mandar para a sede da Abivinila, que era Associação Brasileira dos Fabricantes de Resinas de PVC aqui em São Paulo para que as pessoas que trabalhavam na Abivinila pegassem esses compilados e criassem artigos técnicos ambientais sobre o PVC. Então, esse que era o meu trabalho, esse que foi o estágio que eu aceitei. Mas quando eu entrei no estágio, eu chamei na época o coordenador do estágio, meu chefe, no caso, e falei assim: “Poxa, eu quero ficar aqui três meses e os outros três meses, deixa eu ir para a planta piloto?”, porque eu tinha o entendimento de que na planta piloto, talvez, sobrasse uma possibilidade de trainee e de entrar na empresa. Então, conversei com ele, o nome dele é Lucien, Lucien Rebello a quem eu agradeço muito a oportunidade. E na época em que eu entrei, entrou um outro estagiário, o Rashid e o Rashid chegou a trabalhar muito tempo no setor de PVC, posteriormente, a gente até se reencontrou. A gente ficou muito próximo, muito amigo, jogávamos bola, saiamos, enfim, trabalhávamos juntos, mas o Rachid se incomodou com essa ideia minha de… porque ele estava na planta piloto e ele era um estudante da Federal da Paraíba e eu estava fazendo trabalho de leitura, na verdade, que era chato, né, imagina, 40 horas no Polo de Camaçari lendo. Quantas vezes eu dormia, caía, batia a cara na mesa, enfim… mas fazia parte, né, era uma oportunidade que me surgiu e eu agarrei. E eu pedi essa inversão, né, três meses eu faria isso, depois ia para planta piloto, o Rachid iria fazer o que eu fazia e estava tudo resolvido. Lucien aceitou e passaram-se os três meses e aí, foi a segunda sacada que eu tive de oportunidade, porque o Lucien quando me chamou para propor a troca, eu disse a ele: “Eu não quero mais trocar”, e ele não entendeu: “Poxa, brigou tanto para trocar, eu aceitei, agora você não quer?” “Não, eu tô gostando do trabalho”, foi a minha resposta à época. E aí, naquela noite que o Rachid foi comunicado que não trocaria, ele me chamou para sair, nós saímos, fomos tomar uma cerveja e ele me perguntou o quê que eu vi que ele não viu, eu dei de João sem braço: “Por quê? Não tô entendendo” “Você queria trocar e agora não quer mais, você enxergou alguma coisa que eu não enxerguei”, falei: “Não, não tem nada, eu só gosto do trabalho, achei legal, acho que tem uma oportunidade bacana e tudo”. E na verdade, o que acontecia era que todos os documentos que eu lia tinha a assinatura de uma pessoa, que era o Edson Carlos. Então o Edson Carlos assinava todos os documentos que o Miguel lia e compilava as informações. Se o Edson lia esses documentos ou não, eu não sei, mas o meu raciocínio foi: ele é o cara que mais deve entender de PVC e meio ambiente no Brasil, eu vou ser o segundo. Então acho que tem espaço para duas pessoas, ainda que ele seja o primeiro, não tem problema, eu vou ser o segundo. E ali, eu entendi que nascia uma possibilidade de carreira. Então eu nunca trabalhei em empresa, minha carreira sempre foi em associação de classe. Então nesse momento, eu decidi que eu seguiria trabalhando, fiquei mais os três meses seguintes, o trabalho foi finalizado, porém, eu não me formei, eu tinha nove matérias, eu consegui ser aprovado em sete, faltaram duas, então foi uma coisa muito louca, porque o curso de Química, Engenharia Química é muito difícil, não que os outros não sejam, mas eu falo do que eu conheço, né, então era um curso muito difícil, ainda assim, não estando presente em sala de aula, eu consegui aprovação em sete, mas faltaram duas e eu precisava formar, né? Então, eu já estava indo para o sexto ano, então eu tinha que acabar o curso para seguir carreira onde quer que fosse, né? Aí, eu chamei o Lucien e propus a ele: “Lucien, dá para melhorar o trabalho assim, assim, assim e eu quero renovar, só que eu tenho que voltar para o Rio para me formar, como eu só vou ter duas matérias, eu vou ter tempo ocioso, a faculdade tem computador, a empresa tem e-mail…”, já nasciam os e-mails, já tínhamos contato…

P/1 – Que ano?

R – Tô falando do primeiro semestre de 97. O estágio foi no segundo semestre de 96 e a renovação que eu propus foi para o primeiro semestre de 97. “E a empresa tem sede no Rio, então por malote, você pode mandar material, eu vou de ônibus a sede da empresa, pego o material, vou para a faculdade, leio, compilo, mando por e-mail o resultado para vocês, eu não preciso estar fixo aqui”, e ele: “Tá bom, vou levar para São Paulo para a reunião da diretoria da Abivinila, se eles aprovarem, a gente renova”, aí ele trouxe e eu renovei. Então me formei, aí eu vi o cenário da Abivinila se transformar no Instituto do PVC. Então, eu tô falando… eu me formei em julho, né, última prova, fui aprovado, trabalhei esse semestre todo dessa forma e quando foi… voltei para Salvador, fiquei aguardando a possível fundação do instituto do PVC, que na verdade, só aconteceu em 17 de setembro de 97 e eu cheguei em São Paulo no dia 15 de setembro de 97, sendo que cinco dias antes, eu já não estava trabalhando na expectativa do convite para vir para São Paulo, né, e aí eu consegui uma entrevista para vender carro numa revenda em Salvador, que eu lembro que eu receberia de salário até um valor maior do que eu viria a receber em São Paulo, mas era o único cenário que tinha, eu aceitei, fui fazer entrevista, fiz a entrevista numa quinta-feira de manhã, quando foi quinta-feira à tarde, começaria na segunda seguinte, né, sexta faria o exame médico para começar segunda, mas naquela quinta-feira à tarde, eu recebo a ligação do Assis Esmeraldo, que havia fundado o Instituto me convidando para vir a São Paulo trabalhar e eu ganharia um salário até menor do que eu ganharia trabalhando nessa revenda. Então, com todo o respeito aos profissionais do setor, eu estudei Engenharia Química para trabalhar na área, né, então eu optei, ainda que na capital com um custo de vida bem maior, sozinho novamente, naquele momento, eu até morei com um tio meu que havia morado, irmão do meu pai, que havia morado lá em casa que chama minha mãe de mãe branca, meu tio Geraldo e eu chegava a São Paulo e ele retornava a Salvador, então fiquei aqui um pouco sozinho com um outro primo, Beto, Wilson Roberto que também voltou para salvador seis meses depois, mas eu já não vim com aquele cenário que eu olhei para o Rio, para o céu do Rio de Janeiro e falei: “O que eu tô fazendo aqui?”, porque eu vim, trabalhar. Então eu vim buscar minha independência, de fato, vim feliz e ciente do que eu estava deixando para trás, e o que eu estaria tendo a possibilidade de agregar na minha vida, na minha carreira, enfim e assim, cheguei em São Paulo em 97.

P/1 – E por quê que você se interessou por essa área do PVC? Como foi?

R – Pois é, o meu sonho era trabalhar no Polo, era subir em torre, era ligar equipamento, medir pressão, sabe, era de trocador de calor, aquela coisa toda da química, da Engenharia Química, reatores, né, então isso era o que eu desejava fazer, né, mas de repente, eu comecei a tomar conhecimento de uma área que era muito pouco divulgada no país ainda, que era o lado ambiental de um setor industrial, não importasse se fosse plástico ou não, né, aqui tem uma coincidência na minha vida que assim, um dos grandes temas da indústria do PVC são os plastificantes, enfim, esse era um tema enquanto estagiário era ler as informações de estudos científicos que comprovavam que o plastificante, de fato, não traz perigo à sociedade que usa os produtos de PVC que eventualmente contém os plastificantes. Mas na época, eu recordo que a indústria, de uma maneira geral, não tinha website e por uma coincidência extrema, o meu produto, o meu projeto final de curso da minha equipe na faculdade foi sintetizar um desses plastificantes que era o mais utilizado à época, que é o DOP e nós fomos ao laboratório, o nosso papel era que a gente sintetizasse o DOP a partir… a gente escolheu esse DOP por coincidência, eu não estagiava ainda, e a ideia era sintetizar a partir de uma patente, então, a partir da patente, fizemos o produto em escala de laboratório, naturalmente, fizemos os testes e na sequência, nós deveríamos fazer toda a cinética de reação, as questões mercadológicas de meio ambiente, assim por diante. E naquela época, a única informação ambiental que nós tínhamos sobre esse produto vinha do site de ONGs ambientalistas internacionais, porque as sedes no nosso país não tinham as informações sobre o nosso produto. Nesse trabalho, a gente usou a informação de crítica ao produto que essas ONGs faziam, né, e que na sequência, eu descobri que não eram realidades, tinha um lado de ambientalista, de radicalismo ambiental muito forte, muito intenso ligado a essas criticas e que cientificamente depois eu entendi que eram infundadas, aí já no estágio. Então a minha primeira surpresa foi saber que o produto que por acaso, eu sintetizei com o meu grupo na faculdade como projeto final de curso, de Engenharia Química era um dos temas mais críticos do ponto de vista do meio ambiente em relação ao PVC. E aí, eu pude ver aqui as informações de website, de ONGs que criticavam o produto e contrapor essas informações com noticias propriamente cientificas, né, de estudos que eu recebia através do estágio, né? Então se abriu um cenário, um mundo de outro encaminhamento que eu não visualizava, né? Conhecer a fundo as questões temáticas de um meio ambiente de um determinado produto, setor plástico, no caso, e que eu pudesse ser uma referência de conhecimento em relação a isso, né? Então a chave foi essa. Ao perceber que se o Edson lesse todo aquele material, ele seria o cara que mais entendia de PVC meio ambiente e naquele momento, eu poderia me tornar o segundo, né, num cenário de conhecer mais, claro que não era uma disputa, mas o ser o segundo era ser o outro, né, então temos duas referências no nosso país, uma formada há algum tempo já com experiência e outro nascente, né, que estava surgindo com esse conhecimento. Então eu comecei a entender o meio ambiente de uma outra forma, comecei a entender as questões ambientais do setor plástico de outra forma que não estando na indústria, operando máquinas e absorvendo conhecimento de terceiros, né, mas ali, eu formava uma opinião, né, eu conhecia o tema e poderia dividir com as pessoas, ainda que enquanto estagiário, depois como assessor técnico dessa entidade de classe que hoje eu também presido que é o Instituto Brasileiro do PVC.

P/1 – E daí, como é que foi? Depois como é que continuou a tua história do Instituto?

R – Bom, no instituto, então, eu continuei, entrei como assessor, tinha o fundador que era o Assis, que era o presidente da entidade, uma entidade que congrega a cadeia produtiva do PVC, que…

P/1 –

Se você puder falar desde o

começo o nome do Instituto, a gente acabou não falando, né?

R – Bom, então quando eu terminei o estágio e fiquei aguardando a fundação do Instituto do PVC que esse ano, em 2016 é repaginado, tem um novo nome sendo batizado de Instituto Brasileiro do PVC, um novo reposicionamento, com um novo movimento em torno das suas ações e atividades, eu entrei, eu fui contratado como assessor técnico, então a estrutura era o Francisco de Assis Esmeraldo como presidente, tinha o Alfredo Franchi como diretor executivo, o Alfredo Franchi era o diretor da Abivinila, que na verdade, foi quem me contratou, mas eu ficava locado em Camaçari com o Lucien, né, mas o meu trabalho era reportado a Abivinila, através do Franchi. Também o Edson Carlos que trabalhava numa multinacional do setor aqui no Brasil, ele era diretor da entidade e eu era o assessor técnico, uma secretaria e esse era o time do Instituto do PVC, à época. Hoje, Instituto Brasileiro do PVC. E a partir dali, a gente foi desenvolvendo os nossos trabalhos, eu percebi que a minha p[profissão não estava mais ligada a máquinas e equipamentos, mas à comunicação, propriamente, não sei se a palavra certa é o marketing, mas é a forma de capitalizar informações, receber informações e traduzir isso para o próprio setor, né, então o Instituto do PVC nasceu com a ideia de ser um novo modelo de injeção associativa, porque ela congregava como associados toda a cadeia produtiva do PVC, então a gente não tinha só a associação dos fabricantes de resina, a associação dos fabricantes de determinado aditivo, de compostos, de transformadores de produtos, mas essa entidade congregava todos os elos da cadeia produtiva, né? Então nosso papel era disseminar informações técnico cientificas e de sustentabilidade, de reciclagem sobre o PVC. E aí, eu comecei… claro, sob a orientação do Edson, do Franchi e do Assis a desenvolver esse tipo de trabalho, né, o Franchi um ano e meio já se desligou da entidade, a gente continuou no nosso projeto e eu recordo que eu voltei a primeira vez em 1998 ao UFRJ, à escola de Química, onde eu havia me formado e na Semana de Química daquele ano, em 1998, meados de 98 foi feita a primeira palestra sobre reciclagem de PVC naquela universidade e quem fez essa palestra fui eu. Foi a minha primeira palestra sobre um tema já como profissional sobre o assunto reciclagem na universidade que eu me formei. Então, eu havia me formado em Engenharia Química sem ter ouvido, praticamente, a palavra reciclagem em alguma das matérias que ali passaram e hoje, a coisa mudou bastante, né? Então, foi um momento marcante para mim, né, porque eu estava trabalhando com reciclagem, com sustentabilidade, com consumo consciente e sendo que eram temas que não havia visto nas cadeiras do curso de Engenharia Química, não vamos esquecer que à época, era o principal, o melhor curso de Engenharia Química do nosso país, né, então a mudança de comportamento aí nos anos 90 muito significativa e indiretamente ou diretamente, inconscientemente, eu fiz parte desse processo, né?

P/1 – Como que os atos de repensar, reduzir, reutilizar, reciclar mudaram a sua vida e das pessoas ao seu redor?

R – Acho que de forma muito intensa, né, porque como eu falei, né, enquanto estudante, eu pensei em ser piloto de avião, de repente, eu mudei para Engenharia Química, dentro da faculdade, eu queria mexer nos equipamentos da indústria química e petroquímica, vivi isso na unidade de operação onde o meu pai trabalhava, vi acontecer, vi a parafina liquida, de repente, ela saía do outro lado sólida, branca, né, era uma coisa que me marcou muito, né? Mas de repente, começar a tomar contato com informações relevantes que vinham e que vieram para mudar o comportamento da sociedade e eu ser parte desse processo como mola propulsora, seja para dentro do setor num primeiro momento, seja para fora num segundo momento para poder discutir isso com ambientalistas, né, com governo, com universidades, com formadores de opinião, jornalistas, enfim, com todos os atores da sociedade que o Instituto se relaciona foi muito marcante para mim, então essa percepção, talvez tenha sido o segundo momento na minha carreira que me orientou para seguir o encaminhamento que eu tenho atualmente hoje também como presidente da Plastivida, né, então foi muito marcante. Eu recordo algumas passagens dentro desse processo mas a primeira delas que mudou o meu comportamento já se deu em 99, 2000 porque foi quando eu resolvi fazer um curso de comunicação empresarial, eu fiz MBA de comunicação empresarial na FAAP aqui em São Paulo e eu pude perceber que naquele momento, eu estava aprendendo a teoria da comunicação empresarial que era algo que eu já praticava quando eu entrei no Instituto. Então, eu fui aprender na teoria o que eu fazia na prática e aí, foi o casamento perfeito, então os trabalhos começaram a fazer mais sentido, conhecer em um momento ficava uma coisa, vamos dizer, absorvida, restrita a mim, no máximo, eu colocava no papel e encaminhava para quem pudesse criar artigos técnicos que era o foco do estágio, né, do inicio do trabalho. Mas naquele momento, a chave virou e eu comecei a perceber que eu poderia ser, também, a pessoa a disseminar isso, que aí, completava o ciclo daquele momento do meu trabalho, né, conhecer, digerir e informar e passar a mudar não só o meu comportamento de vida em relação ao uso do consumo consciente, descarte adequado, mas também influenciar outras pessoas, né? Eu me recordo do grande primeiro trabalho no Instituto do PVC, na verdade, foram dois grandes trabalhos que eu gostaria de citar aqui. O primeiro deles foi na Riviera de São Lourenço, quando na época, a gente recebeu uma ligação da construtora da Riviera que tinha um sistema de coleta seletiva e que ela dizia que se não fossem lá na Riviera solucionar a coleta do plástico, eles iriam pegar tudo aquilo e jogar na Rio–Santos e chamar a imprensa. E aquilo foi, assim, eu entrando, eu tava meio que: “Nossa, o que é isso? Eu vou lá ver”, então desci de ônibus, não tinha carro ainda na época, eu cheguei na Riviera e fui conversar com uma pessoa que chamava Georjeta Gonçalves, ela era quem fazia gestão do resíduo sólido dentro da Riviera que ainda era um condomínio não como hoje, um pouco menos. E eu propus a Georgeta um trabalho para que a gente começasse a identificar o PVC naquele bolo de plástico ali, né, coletado, para encaminhar para a reciclagem e a gente vinha numa toada que identificar reciclador de PVC em São Paulo, então a gente vinha conhecendo, viajava, conhecia as empresas, fazia relacionamento, nós tínhamos associados recicladores dentro da entidade e a gente criou junto com a coleta seletiva lá da Riviera um quadro em que se reconhecia o PVC, então eram características que a gente seguia na análise das embalagens, por exemplo e ao final, você tinha o PVC separado, mas claro que é comparativamente, então você tem diversos tipos de plásticos cada um com as suas características e essas informações constantes nesse quadro permitiam que se seguidas de forma correta, você tinha um fardo de PVC, de PRT, de polietileno, de polipropileno, de todos os tipos de plástico separados destinados à reciclagem e isso deu muito certo, né, então ficou muito parceiro da Riviera à época, promovendo a reciclagem do PVC e como consequência, os outros plásticos também eram separados e a gente teve um trabalho muito bacana de disseminar esse quadro orientativo em várias cooperativas no Estado de São Paulo, Itapetininga, Santo André, enfim, vários locais, a gente doava os quadros, a gente fazia palestras com os cooperados e quanto amis certinho eles seguissem as informações constantes desse quadro, melhor a qualidade do plástico ali separado, né, se fosse de PVC ou PET ou Polietileno, polipropileno, e assim por diante. Então esse foi um grande trabalho. O segundo trabalho marcante na minha vida foi esse; até hoje eu me emociono muito, foi com a Método Engenharia, isso era… puxa, 2002? Não, 99, 2000 também. Aqui em São Paulo, na zona sul tem a Avenida Luís Carlos Berrini, o primeiro prédio da direita, quando você entra na Berrini sentido Morumbi é um prédio que chama Brasil 500, é uma homenagem aos 500 anos do Brasil, que foi um projeto desenvolvido, arquitetônico do Ruy Ohtake e a Método Engenharia construiu e o Instituto foi lá, a gente propôs a Método que coletássemos toda a sobra de PVC gerado naquele canteiro de obras para posterior reciclagem. Então nós fizemos palestras com os colaboradores, eram mais de 120 mil funcionários entre diretos da Método e terceirizados, colocamos toneis por andar na obra, embaixo tinham duas caçambas identificadas com logo da entidade, da método: “Aqui é o ponto de coleta de PVC” e assim por diante, fizemos todo um trabalho de conscientização e dia após dia, estava lá e a gente falava, conversava com o Renato Stella, me recordo o nome dele até hoje, que era o engenheiro responsável pela obra e a gente viu o acompanhamento, como os operários se envolveram, né, porque falar para eles: “Vocês estão trabalhando aqui, mas vocês vão ter um horizonte de lá na frente de dizer que não só contribuíram para essa obra, uma obra marcante para comemoração dos 500 anos do Brasil, mas do ponto de vista ambiental, é fantástica, porque não se fazia isso no Brasil ainda e a gente começou a fazer esse trabalho até que a primeira caçamba estava cheia e ela ia enchendo e eu falei: “Hoje é o dia que a gente vai lá com o caminhão para retirar a caçamba e levar para o reciclador, pesar, fazer a reciclagem, né, fazer o processo, finalizar propriamente a reciclagem”. Mas na véspera, o guindaste, o piloto do guindaste passava com concreto, bateu um vento e o concreto caiu em cima da caçamba. Eu não sabia, quando eu cheguei no dia, eu vejo aquele movimento, eu conhecia todo mundo lá, a gente conversava bastante: ‘Miguel, rapaz, deu um problema” “O quê que foi?”, aquela confusão e sentia todo mundo triste porque foram três meses ali, todo mundo, um envolvimento muito intenso, né, separando as pontas de tubo de PVC, as conexões, fios de cabo, botando tonel, descendo tonel para caçamba, todo mundo bem preparado, né? E me contaram que o concreto tinha caído lá por um vento que bateu, etc. Eu olhei ali tinham dois responsáveis que a gente tinha eleito para tomar conta das caçambas e dos toneis nos andares e eles estavam lá com um facão e um pedaço de cano na mão, raspando, né? Eu vi aquilo, poxa, fiquei muito triste, muito triste. mas quando eu vi eles fazendo aquele trabalho, eu na minha ignorância e aí, é uma coisa que eu não me perdoo por isso, fui agradecer ao Renato Stella que era o engenheiro da obra, né, falei: “Pô, Renato, obrigado porque você determinou, permitiu que dois funcionários fossem limpar aquela camada de PVC superficial que tava suja com concreto”, e aí eu digo ignorância, porque eu não pensei nisso primeiro, né, embora eu tenha participado do processo de conscientização desses funcionários, eu achei que o Renato que tinha determinado, ou que eu poderia determinar que eles fossem lá limpar e a ideia partiu deles: “Não, Miguel, eu não determinei que ninguém fosse limpar. Eles vieram a mim e pediram para não trabalhar na obra porque eles precisavam limpar o tubo de PVC para não inviabilizar a reciclagem”, então isso é o que eu me emociono até hoje porque foi uma coisa assim, que talvez, as palavras das palestras que a gente tenha dado, não só eu,

o Assis, o próprio Renato pegou fundo eles, né, o envolvimento de estar lá todo dia, de batalhar, de mostrar importância, de separar, conhecer o PVC, separar, foi transmitido de uma forma que uma coisa para você pensar: falei, fiz o meu papel, mas a gente, às vezes, não olha como uma pessoa recebe a informação e como ela trabalha dentro de si e ali foi o momento que eu vi a relevância do trabalho de divulgar as questões ambientais do setor que eu trabalho e ali, eu vi que o trabalho estava sendo bem feito, que a mensagem foi entendida, que pessoas, e é por isso que eu falo da

minha ignorância, que pessoas sem estudo também é natural que se envolvam com a temática que permeia a vida deles, de todos nós, que é o meio ambiente. Então, nós conseguimos tirar o material, foi um trabalho fantástico, nós reciclamos, sabe, todo mundo ficou feliz, terminamos a obra, a quantidade não foi tão significativa, foi apenas um prédio, mas a gente mostrou que isso era possível e três anos depois, o Conselho nacional de Meio Ambiente criava uma resolução, a Resolução 307 do CONAMA que obriga não só as construtoras, mas o cidadão comum que faz uma reforma em sua casa, separar os resíduos recicláveis dos não recicláveis e destinar adequadamente. E a gente participou daquele processo usando o exemplo da reciclagem da sobra de PVC desse prédio. Então de todo PVC que entrou ali, 8,8% seria o resíduo destinado a aterros sanitários que a gente conseguiu coletar e reciclar e o número triste da época era que para cada quatro prédios levantados, o volume de produtos recicláveis destinados a aterros sanitários de um prédio era jogado fora. Então você construía quatro prédios e tinha de volume um prédio jogado fora em materiais recicláveis que não eram aproveitados de forma adequada. E a gente mostrou com aquele trabalho que se você faz toda estruturação, informa, discute e envolve as pessoas, o resultado sai. Então ali foi uma das coisas mais marcantes do meu inicio da vida profissional que serviu naturalmente para toda sequência do meu trabalho até hoje, sem dúvida. Um terceiro tema, aí já pela Plastivida, associada as sacolas plásticas, né, a nossa crença dentro da Plastivida é que o grande problema das sacolas plásticas não é ela em si, é a falta de qualidade das sacolas e o consumidor vai lá e coloca uma dentro da outra e isso gera um desperdício, então nosso entendimento é que a sacola precisa ter qualidade e o consumidor precisa ser informado que a sacola com qualidade não precisa ser utilizada uma dentro da outra, uma só suporta o peso de seis quilos, padrão médio da sacola brasileira. E aí quando você faz esse trabalho de qualidade em cima de um produto e informação ambiental para que ele não desperdice, você reduz o desperdício. Então é nisso que a gente crê e a gente trabalha a questão das sacolas plásticas e dando tantas entrevistas, conversando tanto sobre o tema, em 2012, 2013, eu chegava de uma entrevista em uma revista de circulação nacional, a “Época”, em que tiraram uma foto minha em que as sacolas estavam grudadas no meu corpo e era uma entrevista sobre o tema e eu explicava a questão do consumo consciente, de qualidade, o projeto da Plastivida em relação a defesa das sacolas plásticas e a sua promoção também. E quando eu cheguei em casa, o meu filho, o Tiago que hoje tá com 13 anos, na época ele tinha seus dez, 11 anos, ele olhou e falou: “Papai, e agora? Onde eu vou descartar o meu lixo? Você usou todas as sacolas dom mundo”, e aí você fica feliz de saber que embora ele seja uma criança, ele estava ali do lado só ouvindo quando eu conversava em casa, com os amigos sobre o tema, sobre o consumo consciente, ele tava ali também absorvendo, né? E aí, na hora em que ele viu aquela foto, eu mostrava a foto, de certa forma, orgulhoso, porque apareci na revista, né, tem um lado também de ego e tudo, mas também tem um trabalho por trás e ouvir isso do meu filho me mostrou o quanto ele absorveu do tema consciência ambiental, consumo consciente, evitar o desperdício, reciclar que eu sempre falei ali, ele do meu lado quando tava, ainda que brincando, mas ouvindo, absorvendo, prestando atenção até que naquele mesmo ano,

na escola dele, ele falou assim: “Pai, o tema hoje da redação foi sacolas. A pro pediu para cada um de nós escrevermos, falarmos sobre as sacolas”, eu virei para ele e falei assim: “Filho, e você fez o quê?” “Ah pai, eu escrevi… eu esperei todo mundo falar, eu fui o último, eu pedi para ser o último”, eu fiquei curioso, eu já deixei de querer saber o quê que ele falou pra entender o porquê dessa estratégia. “Porque eu sabia que todos os alunos iam falar mal da sacola e eu aprendi com você que a sacola não faz mal, então eu quis ouvir todos para eu poder responder um por um na minha vez de falar”. Então esse exemplo dentro de casa com o meu filho e esse exemplo profissional com pessoas da construção civil, no caso, me dá… me mostra a relevância de comunicar, de discutir, de falar e mais do que saber que eu estou falando o que é correto, perceber que as pessoas absorvem, elas precisam de informações ambientais sobre os plásticos para mudarem a sua relação com o produto, que é muito deturpada, é muito criticada e não tem porque ser assim, né?

P/1 – Então, explica um pouquinho melhor isso, porque a sacola, realmente, é vista como vilã.

R – Existe essa percepção, né? A Plastivida… posso propor uma coisa? Tá faltando um tema aqui na minha vida profissional que foi a minha entrada na Plastivida…

P/1 – Não, é… é porque eu quis aproveitar o gancho, mas podemos também começar do começo da história da Plastivida, é que como nós já estávamos falando da sacola…

R – A sacola vem na sequência, mas tudo bem, eu falo da sacola, não tem problema.

P/1 – Tanto faz. Como você preferir, pode fazer… começando a contar da Plastivida também.

R – Tá bom, então vamos para a sacola depois. Então todo esse trabalho no Instituto do PVC que foi onde eu me formei, onde eu aprendi a trabalhar, enfim, chegou em algum momento que houve um… chegou um momento que ele foi, de certa forma, reconhecido, né, mais ou menos em 2009, eu recebi um convite para assumir um processo em que estabelecesse essa energia entre diferentes associações de classes, então foram me citadas algumas delas, o instituto onde eu já era diretor executivo, estava me tornando presidente, a Plastivida que era outra identidade de classe independente, continua sendo independente, mas que tinha o seu presidente, o seu conselho, sua equipe bem definida. O Instituto Nacional do Plástico, que é uma entidade também que tinha o seu presidente, o seu conselho, a sua equipe definida e eu recebi um convite para que eu pudesse estabelecer as sinergias entre essas associações e eventualmente outras, né? Então, a gente focou nessas três, praticamente. Em 2009, começamos a discutir o tema, 2010, até que do meio para o fim de 2010, eu assumi também a Plastivida e INP, primeiro digamos como ouvinte, ali, ainda com a estrutura anterior dessas duas entidades, mas já começando a me integrar dos temas, né, de cada uma delas, até que em janeiro de 2011, eu assumi a presidência da Plastivida, acumulando ela com a do Instituto Brasileiro do PVC e também no Instituto Nacional do Plástico que dentro dele tem um outro programa que é o Think Plastic Brazil que é um programa para fomento a exportação do produto plástico transformado. Então, essas três entidades mais esse programa que tem uma característica mais especifica, que não tem tanta relação com a sustentabilidade ficaram sob o meu comando, com suas equipes na tentativa clara de estabelecermos sinergias, então foi um momento de uma nova guinada na minha vida profissional, em que assumi novos compromissos, novos desafios, mais intensos, né, em que a gente toca cada um as suas entidades com as suas características, com as suas marcas, com os seus posicionamentos, mas tentando toca-las transversalmente de forma a estabelecer sinergias, né? Então, no fundo, no fundo, o grande objetivo é que o setor se desenvolva na questão socioambiental

e o Instituto do PVC, a Plastivida e também o INP na sua forma têm esse compromisso com o setor e com a própria sociedade, né, discutir temas de interesse da sociedade. Acho que terminaram sendo um dos grandes temas aí, do ponto de vista do meio ambiente do plástico no Brasil desde 2007, 2008, começou a ser discutido, na época, a entidade ainda era presidida pelo Francisco de Assis que também fundou o Instituto do… na época, o Instituto era fundado… na época, a Plastivida foi fundada pelo Instituto… (pausa) na época, a Plastivida foi fundada pelo Francisco de Assis Esmeraldo que havia fundado o Instituto do PVC, foi quando eu me tornei diretor executivo do Instituto para dar um apoio maior a ele para que ele pudesse se dedicar a PLastivida também. Na sequência, foi quando eu assumi a presidência do Instituto e ele desenvolveu os trabalhos na Plastivida e o tema sacolas plásticas apareceu de uma forma muito intensa, né, na vida do brasileiro, movimentos de banimento de sacolas aqui em São Paulo, especialmente, capitaneadas pela Associação Paulista dos Supermercados e naquela época, a Plastivida fez uma avaliação muito simples. O quê que acontecia? A sacola plástica tem um custo, esse custo foi embutido no preço dos produtos dos consumidores, quanto mais plástico uma sacola plástica tiver, mais cara ela vai ser, a despeito do preço, independente de qual for, estar lá embutido. Mas os supermercados, para reduzir o seu custo, começaram a afinar a espessura de paredes das sacolas. Então, a Plsativida na época fez um estudo que mostrou o seguinte, um estudo de observação: uma sacola fora de norma, em média, tem 3,5 gramas de matéria plástica, mas também dentro do âmbito do INP, Instituto Nacional do plástico, que é uma entidade que hoje eu sou diretor superintendente, que faz normas técnicas de qualidade para produtos transformados feitos em plástico criou a Norma Técnica de Qualidade das Sacolas, para quê? Para fabricar uma sacola resistente, mais espessa e que, portanto, suporta mais peso. Essa sacola (corte no áudio) pesa mais ou menos 4,5 gramas em média, ou seja, ela é mais pesada, ela tem mais matéria-prima, ela é mais cara, né? mas a gente mostrava aos supermercados o seguinte, que se o consumidor usar sacola dentro da norma, ele vai usar uma, se ele usar a sacola fora da norma, ele vai usar duas, três e meio, mais três e meio são sete gramas e aqui é a conta do desperdício. Então a nossa proposta era que os supermercados se tornassem signatários do Programa de Qualidade do Consumo Consciente de Sacolas Plásticas usasse somente sacolas normalizadas. Nesse momento, era extremamente necessário para que a conta não virasse quatro e meio mais quatro e meio, que o consumidor fosse educado na boca do caixa e recebesse a seguinte informação: “Essa sacola é fabricada com qualidade, você não precisa colocar uma dentro da outra, porque ela vai suportar os seis quilos”, e aquele seu comportamento inadequado de por uma sacola dentro da outra para que as duas sacolas juntas tivessem resistência não é mais necessário. Assim, você evita o desperdício. Nesse momento, a gente começava um movimento de redução de desperdício de sacolas, o problema não é o excesso de sacolas, o problema é o desperdício dela, então a gente lançava um projeto em 2008 que tinha um cenário de reduzir o desperdício de sacolas em 30% nos cinco anos seguintes. E nós assim fizemos esse projeto e a gente atingiu em 2012, cinco anos depois do lançamento do projeto, 32,4% de redução do consumo de sacolas, na verdade, de sacolas sem qualidade que eram desperdiçadas, porque elas não serviam se quer para descarte de lixo, o que 99% da população brasileira faz, reutiliza a sacolinha plástica para colocar o lixo lá dentro. Então, nesse momento, a gente dava uma contribuição socioambiental porque evitava que o supermercado vendesse a sacola que era o movimento que eles desejavam fazer aqui em São Paulo, onerando o consumidor que já pagava pela sacola, indiretamente, e agora passava a pagar diretamente. Então, havia uma dupla cobrança da sacola, então do ponto de vista socioeconômico havia um endereçamento adequado, mas principalmente no ponto de vista ambiental, em que o consumidor passava a receber informação: “Criamos um selo de qualidade” e nesse selo estava que a sacola suporta seis quilos e tal… o número do peso que ela suportava, mas era fundamental que o processo incluísse educação ambiental, porque senão, o consumidor continuaria com o seu comportamento usando uma sacola resistente em duplicidade ou subutilizando a sua capacidade de peso, então a gente fez esse trabalho ao longo de cinco anos, eu já peguei ele encaminhado quando eu peguei ele a partir de 2011, já me envolvi em 2010, a gente foi fazendo alguns ajustes ali até atingirmos esse resultado que foi o compromissado anteriormente, tivemos grandes redes supermercadistas partícipe. E se aqui em São Paulo o movimento era para o banimento das sacolas plásticas, por exemplo, no Rio Grande do Sul o movimento foi oposto. Aqui, eu recordo que a campanha que a APAS lançou chamava-se “Vamos tirar o planeta do sufoco”, e a Plastivida entrou no CONAR – Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária questionando a publicidade que foi classificada como antiética e o CONAR sugeriu que a APAS retirasse a campanha do ar e assim foi feito, até em respeito pelo trabalho do CONAR no Brasil, que é muito reconhecido. Porém no Rio Grande do Sul foi criada uma lei que obrigava os supermercados distribuírem sacolas dentro de norma, então existe uma lei no Rio Grande do Sul que todo supermercado tinha que distribuir sacolinha plástica de acordo com a norma técnica da ABNT e com a

norma de qualidade que foi criada no âmbito do INP com o apoio da ABIEF, que é Associação Brasileira dos Fabricantes de Embalagens Flexíveis. Só que como eu falei, não adianta você dar sacola dentro de norma, você precisa ter educação ambiental e aí, a Associação Gaúcha de Supermercado na contramão da Associação Paulista de Supermercado caminhou junto com a Fecomercio, com o Ministério Publico do Meio Ambiente, Ministério Público do Consumidor, com ações setoriais da Plastivida, da ABIEF por uma campanha local que se chama… existe e está funcionando até hoje, já está na quarta renovação que se chama “Sacola bem utilizada faz bem para o meio ambiente”, então olha a diferença do posicionamento a cerca de um produto tão criticado aqui em São Paulo e tão bem visto no Rio Grande do Sul, porque as percepções, as relações que se estabeleceram com ela, os interesses dos supermercadistas são completamente diferentes, né? Então todo o trabalho que foi feito aqui foi muito bem desenvolvido, nós tivemos grandes redes aqui de São Paulo que se envolveram no processo e tiveram ótimos resultados, redução de 30, 40% na distribuição de sacolas, que é significativo, mas a associação representativa do setor não desenvolveu a ideia, ouvimos algumas alegações: “Precisa investir em campanha de educação ambiental”, isso faz parte do processo, a indústria sempre se colocou à disposição, sempre realizou para ser partícipe desse processo, tanto assim que fizemos exatamente isso no Rio Grande do Sul com sucesso absoluto, então você não precisou eliminar o produto que é útil a sociedade no transporte das compras, útil novamente no descarte do lixo, não onera o consumidor e respeita o meio ambiente porque você trabalha para redução do desperdício.

P/1 – Mas o quie que é feito com a sacola depois que ela é jogada no lixo, no aterro?

R – Se você coleta dentro dessa sacola materiais recicláveis e ela vai para usina de reciclagem, de serviço de triagem, ela é reciclada, mas no aterro sanitário, ela fica descartada daquela forma com o lixo como um todo, né? E aí, a gente tem que ter clareza sobre isso. As pessoas criticam: “Porque sacola entope os lixões”, não, isso não é errado. Lembra que eu falei que uma sacola tem três… vou voltar. Lembra que eu falei que uma sacola plástica dentro de norma tem 4,5 gramas de produtos? E ali dentro, ela suporta até seis quilos de produtos, certo, quando você transporta. Quando você descarta o lixo é a mesma coisa, então o que eu tô colocando no aterro sanitário é uma sacola? Sim, de fato, é uma sacola, mas só que dentro dela tem um volume muito mais significativo de resíduo e aí, há uma percepção completamente equivocada de que as sacolas entopem os aterros sanitários, o que não é verdade, porque ali dentro, dentro do aterro sanitário, estima-se que a gente tem menos de 0,02% de sacola plástica em peso, 65% do que está no aterro sanitário é resto de comida, é desperdício de comida. Então, não é correto você olhar para a sacola e dizer que ela está entupindo os aterros sanitários, isso não é uma verdade, na verdade, a sacola é necessária para que a gente segregue o lixo, coloque ele de forma estanque na calcada da nossa casa para que o caminhão ou a varrição passe e destine adequadamente. Se eu tiver reciclagem, assim será feito, se eu não tiver sacola, eu vou usar o saco de lixo e o saco de lixo é feito com o mesmo plástico, tem a mesma função, só não tem a primeira função da sacola que é transportar compra do supermercado para casa, mas é a mesma coisa e ela vai parar, sim, no aterro sanitário, que ele tem essa função, seja o saco ou seja a sacola tem essa função para isolar o lixo que tá ali do meio ambiente.

P/1 – Mas os resíduos são decompostos, né? Comida é decomposta?

R – Comida é biodegradável e aí, a gente ouve: “A sacola precisa ser biodegradável”, e a gente precisa ter um entendimento mais claro sobre isso. Biodegradação é um processo que deve ocorrer desde que em usinas de compostagem. Por que eu tô falando isso? porque a biodegradação é um processo biológico em que o bichinho vai lá, come o que é biodegradável, ou seja, resto de comida, seja um plástico biodegradável e na natureza, tudo se transforma, aquela comida se transforma em gases, bichinhos emitem gases como nós quando comemos, né, nós soltamos gases de duas formas e esses gases precisam ser controlados e esse controle ocorre exatamente nas usinas de compostagem. A biodegradação em um aterro sanitário, como eu falei, 65% do que esta ali é resto de comida, portanto é matéria-prima biodegradável, mas as condições em um aterro sanitário não permitem que essa biodegradação ocorra de forma, vamos dizer assim, 100%, que elimine aquilo tudo que tá lá. Então não vamos esquecer que é uma montanha de lixo, 65% é biodegradável e a montanha cresce a cada dia e ela não diminui, se aquele lixo fosse todo biodegradado, essa montanha diminuiria, mas ela seria transformada em alguns gases CO2, se o processo de biodegradação fosse aeróbio, ou seja, com oxigênio ou metano, CH4, se o processo fosse anaeróbio, ou seja, sem oxigênio, que são os dois gases causadores do efeito estufa. Então essa discussão sobre a biodegradação e a sua necessidade, ela não é completa, a biodegradação ocorre, é legal desde que ela ocorra dentro de usinas de compostagem, infelizmente, ainda o Brasil não tem usina de compostagem, assim como a própria reciclagem é legal desde que ela ocorra na indústria de reciclagem, que por enquanto, é a forma adequada que o Brasil usa para reciclar os seus produtos, sejam eles plásticos, vidros, metais, alumínios e assim por diante. Então não adianta eu querer fabricar uma sacola biodegradável e colocar dentro matéria-prima reciclada, por exemplo, e destinar isso parta usina de reciclagem, porque o biodegradável não pode se misturar no que é reciclável, reciclável tem um tratamento, biodegradável tem outro tratamento, eu preciso separar isso para dar continuidade ao processo natural de tratamento desses resíduos. No caso do aterro sanitário, o volume de lixo é tão grande que não dá tempo dos microrganismos agirem sobre o lixo, então você pensa numa cidade como São Paulo que gera talvez aí, 12 mil toneladas/dia de resíduos, um pouco mais, talvez um pouco menos, então todo dia, eu jogo 12 mil toneladas, no outro dia, já deu 24, 36 e assim vai e na verdade, aquele 12 mil do começo da semana, ali já não tem condições para que os microrganismos vivam e atuem realizando a biodegradação, não importa o que tenha ali, se é 65% de resto de alimento, se é sacola biodegradável, sabe, ali não acontece a biodegradação. Agora, na camada acima, pode até acontecer alguma, tanto que a gente vê em aterros sanitários a queima de metano direto, então o metano gerado ali em algum momento da biodegradação é queimado e jogado para a atmosfera e aí, nessa queima, você tem a emissão de gases do efeito estufa significativo. Então a biodegradação é boa sim, mas ela precisa ocorrer de forma controlada, então primeiro, eu tenho que ter uma coleta especifica para o biodegradável, esse material tem que ir para a usina de compostagem para que eu corra de forma a gerar menor impacto possível no meio ambiente. O mesmo se aplica ao plástico que é reciclável, eu tenho que ter a coleta seletiva, a separação, a coleta seletiva, isso tem que ser destinado para o aterro sanitário para que…

o mesmo ocorre com o material plástico reciclável, então eu tenho que separar na minha casa, destinar para a coleta seletiva para cooperativa, para ser separado por tipo de plástico e assim destinado as usinas de reciclagem e aí, eu tenho o direcionamento adequado do material reciclável. Então para cada um dos tipos das matérias-primas, a gente tem que ter a coleta especifica e seletiva, portanto, a destinação para cada um dos sistemas de tratamento adequado para que esses tratamentos não impactem o meio ambiente, se ele for feito de forma aleatória. A gente ouve alguns depoimentos, a população pode achar que aquele plástico biodegradável some na natureza, então: “Vou jogar ele na praça”, e no fundo, se você não trata de forma adequada com informações corretas, você termina prestando serviço a sociedade, ensinando ela a fazer coisas erradas. Então, eu costumo comparar que existe aquele plástico oxidegradável que as pessoas tendem achar que é ótimo, né, porque a sacolinha plástica oxidegradável vai sumir, então se a gente tá numa praça, aí tem uma sacola plástica comum presa ali na praça para gente daqui nove meses voltar e ver o que aconteceu com ela, aí eu tenho uma sacola biodegradável também presa, deixa ali do ladinho e a oxidegradável do outro lado, então eu costumo perguntar nas minhas palestras qual que é a melhor alternativa para o meio ambiente e invariavelmente, a resposta é sempre a biodegradável ou a oxidegradável, que erroneamente é chamada de oxibiodegradável e eu começo a discutir o tema. Realmente, se eu voltar dali a nove meses, a que é biodegradável foi biodegradada, que ela sumiu, a oxidegradável também se oxidegradou e dali nove meses, ela sumiu. A reciclável que é a comum não sumiu. Então, ela causa um impacto, ela causa um poluição visual, esse é um problema. Lembra que ela tá presa ali, então ela não voou, então ela não foi para a praça, não foi para o mar, porque quando voa e isso acontece é um outro problema, mas ela tá amarradinha ali e ela continua te incomodando

porque ela não sumiu em nove meses, essa daqui sumiu, mas o quê que ela virou? Na natureza, nada se cria, tudo se transforma. Essa sacola virou gás, ela foi consumida por microrganismos que emitiram os gases no processo digestivo e esses gases, como eu falei, pode ser o CO2 ou o metano, dióxido de carbono ou metano, CH4 que são os gases causadores do efeito estufa, então se esse processo não ocorrer de forma controlada, eu vou ter impacto ambiental. A oxidegradável também sumiu, o que aconteceu com ela? Virou gás? Não, ela virou farelo, se eu pegar um microscópio e for lá olhar, o vento não bateu, vamos pensar nesse cenário, eu vou de microscópio e olho lá vários micro pedaços, então ela tá lá. Na hora que chover, na hora que aquilo acontecer, ela pode percolar no solo e contaminar o lençol freático, mas ela não te incomoda mais porque ela sumiu, então ela precisaria ser coletada adequadamente, separadamente e ser destinada de forma correta, assim como essa sacola, como eu falei, se ela continuar ali, a gente soltar ela, ela vai voar, vai cair no mar, vai cair na praça, etc., então ela precisa ser coletada e reciclada para voltar a ser aquele produto.

P/1 – O quê que pode ser feito da sacola plástica? Ela é reciclada para que uso?

R – Qualquer produto plástico, desde que não entre em contato com alimentos, transporte de água potável ou medicamentos. Então por isso que a gente precisa entender os processos para decidir o que é melhor para o meio ambiente para poder falar isso: aqui eu tenho que controlar, eu tenho uma coleta seletiva para o biodegradável, eu tenho que ter um tratamento específico para ele, ali a mesma coisa, embora aquele processo seja muito mais complexo, porque o plástico esfarelado não vai servir para muita coisa e ele não é reciclável, diga-se porque ele tem o aditivo que vai fragmentar qualquer coisa que for produzida ali e esse aqui vai ser reciclável para produzir qualquer produto desde que não tenha essa relação de contato com alimentos, medicamentos por uma razão, quando você separa uma sacola ou qualquer outro produto plástico que venha de um processo seletivo, coleta seletiva, o reciclador não sabe a origem daquele material. Então ele pode ter tido contato com vetores, por exemplo, e aí na hora que você lava e processa ele nas máquinas não se garante que haja uma purificação 100% daquele produto, né, porque você não sabe a origem e aí, por uma questão de precaução se evita o contato de plástico reciclável para alimentos, para medicamentos e transporte de água potável. Isso também é aplicado a outras matérias-primas, como papel, por exemplo. Como você não sabe a origem, então é mais seguro que você não aplique nesses produtos, não que ele vá estar contaminado, mas você tem uma certeza de purificação, coisa que não acontece, por exemplo, com o alumínio. O alumínio é um processo eletro intensivo, consome muita energia, a transformação da latinha de alumínio que pode ter contato com esses vetores se dá a mil graus centigrados, então você garante uma completa esterilização, então você pode usar aquele alumínio para colocar alimentos, também. Esse não é um limitador, é apenas um cuidado que o setor tem que ter para não aplicar aqueles produtos para alimentos, por exemplo. Então nesse caso, você usa o plástico virgem.

P/1 – Tá, quer dizer que se eu jogar também as sacolas plásticos no lixo reciclável junto com garrafa PET e outras coisas, elas vão ser recicladas?

R – Vão ser separadas e vão ser recicladas, exatamente, então é aquela história, hoje na cidade de São Paulo você tem uma sacola na cor verde e uma sacola na cor cinza. A intensão da prefeitura ao fazer isso é que a população seja informada de que a sacola verde é para você colocar lixo reciclável para que essa sacola verde com o lixo reciclável não importa a matéria-prima vá para a central de triagem. Na central de triagem, metal vai ser separado, vidro, plástico, nos plásticos, os tipos de plástico, inclusive as sacolinhas vão ser separadas e destinadas a reciclagem. A sacola na cor cinza é utilizada para você colocar lixo não reciclável, o lixo úmido, esse material então é lacrado na sacola com um nós e aí, você isola esse lixo do meio ambiente, quem faz esse isolamento é o plástico que seria, por exemplo, um saco de lixo e ele vai para o aterro sanitário. Inclusive uma informação que é muito interessante, essa é uma informação que eu vi na ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Urbana em que eles argumentam que a sacola… os filmes plásticos têm uma função no aterro sanitário, que é exatamente na compactação do aterro sanitário para que ele não desmorone, então tem uma questão técnica, vamos dizer assim, como sub produto da presença dos filmes plásticos como sacolas plásticas no aterro de que ele serve para o momento da compactação do lixo, ele funciona mais ou menos como uma cola p[ara entender mais facilmente e aí, aquilo fica num formato de montanha que não desmorona em momento nenhum. Então é importante saber disso para que a percepção completamente equivocada de que: “Se eu pegar a sacola plástica que existe no aterro sanitário e amarrar uma do lado da outra, dá para ir na lua e voltar” é completamente pirotécnica, o fato é que a presença do plástico, da sacola plástica ali tem algumas funções, uma delas é isolar o lixo do meio ambiente quando eu coloco na calcada e faço o transporte. No momento do descarte lá no aterro sanitário, ele não é o principal produto, ele tá ali com 0,02% em termos de peso, né, existem outras coisas que precisamos nos preocupar muito mais que é o desperdício de alimentos, porque o desperdício de alimentos também tem um aspecto que é o seguinte, quanto de matéria-prima se consome para fazer o feijão crescer e a gente joga ele fora? Quanto de água se consumiu? Quanto…? O quê que foi feito no transporte, o peso do feijão, sabe, combustível para transportar isso, para chegar no supermercado, para a gente levar para a casa, a gente coxinha e joga fora. Então esse é um outro tipo de consciência que a gente precisa ter na hora de discutir as questões ambientais e não ficar na pirotecnia de que o problema do plástico, o plástico é isso ou aquilo, não… a gente tem que ter esse entendimento. Eu vou dar um outro exemplo aqui que é a presença dos plásticos nos mares. A Plastivida já há cinco anos tem uma parceria com o Instituto Oceanográfico da USP e essa parceria tem alguns pilares, um deles é monitorar e diagnosticar a presença do lixo nos mares no Brasil. Nós fizemos esse trabalho, temos feito ao longo dos últimos cinco anos na costa de São Paulo, Bahia e Alagoas. Um dos produtos que o pessoal da USP identificou nesse monitoramento são hastes de Cotonete. Então, você vai à praia e se você coletar o lixo que tá ali, separar, você vai achar… achamos privada de banheiro ou roda de carrinho de mão, embalagens plásticas, de alumínio, de vidro, assim por diante, a gente também identifica, dependendo da praia, produtos diferentes. Quem em sã consciência já foi a uma praia e limpou o ouvido com Cotonete? Na praia, você leva canga, você leva guarda-sol, protetor solar, mas Cotonete não, nem para um filhinho recém-nascido, que ninguém vai limpar o ouvido lá de ninguém na praia, mas o Cotonete chega na praia porque em casa, eu enquanto cidadão, limpo o meu ouvido e jogo a haste do cotonete na privada e aperto a descarga e aí, o sistema de tratamento de resíduos solido urbano é ineficiente e a haste vai parar no esgoto e cai no rio que vai para o mar. Então, a gente precisa mudar o nosso comportamento. A Universidade Caxias do Sul também fez um trabalho de diagnóstico de presença de lixo nos mares em praias do sul e a forma com que se vai à praia no nordeste é diferente da forma que se vai à praia no sul. No sul, o principal produto encontrado foram garrafas de long neck, vidro na parte da praia, da areia. Por quê? Porque no frio… a água é fria no sul, as pessoas vão e usam aquilo mais como uma praça do que como uma praia e tomam cerveja, toma ali um vinho, alguma coisa, aquele friozinho, todo mundo de moletom na praia. É diferente. Então, dependendo da praia e da forma que você usa, que a população usa a praia, você tem uma composição de resíduos diferente. Mas aí a gente tem que lembrar que quão mais poluído é a nossa praia, pior é a gestão de resíduos sólido urbano daquela região. Você pensa em São Paulo, São Paulo não tem praia, capital, massa que eu tenho um tratamento de resíduos sólidos, eu tenho rios que correm para o mar, a gente esquece dessa aula de geografia, né? E aí, quando eu abro o vidro da minha… do meu carro e jogo uma sacola plástica, se ela cair no rio, ela vai parar no mar e aí, de quem é a culpa? A culpa é de quem jogou? A culpa é da prefeitura que não oferece uma coleta seletiva adequada? A culpa pode ser da indústria também que não tá preparada de forma 100% eficiente para reciclar, então cada um tem que olhar o seu… do varejo que coloca o produto, né, porque tem interesse da venda. Então também tem a sua responsabilidade, então cada um tem que olhar o seu umbigo e resolver os seus problemas para que o meio ambiente seja beneficiado. É assim que a politica nacional de resíduos sólidos trata o tema com responsabilidade compartilhada, com o poder público tendo que oferecer ao cidadão coleta seletiva, o poder público tem que eliminar o lixão, as prefeituras não podem descartar o lixo a céu aberto, isso é uma exigência da politica nacional de resíduos sólidos, a indústria tem que fazer o seu papel, enquanto indústria, eu tenho uma indústria fabricante de embalagem e a indústria usuária da embalagem, que é quem faz o produto, por exemplo, água mineral e coloca água mineral na embalagem, numa garrafa plástica, o varejo que coloca isso para o consumidor e o próprio consumidor que também tem a sua responsabilidade de fazer sua coleta seletiva, sua separação na sua casa para melhorar o processo de coleta seletiva e aí, a gente tem o que se chama de economia circular em que o produto volta ao convívio da sociedade depois do seu uso, uma vez, duas vezes, três vezes sendo continuamente reciclado ou reutilizado.

P/1 – Vamos falar um pouco da Plstivida em si, assim, qual o propósito da Plastivia?

R – A Plastivida é uma entidade de classe, que nasceu com o intuito de ser o Instituto Socioambiental dos Plásticos e em verdade, a Plastivida é de 1992, ela era Comissão de Reciclagem da ABIQUIM – Associação Brasileira da Industria Química e em 2005, ela ganhou voo solo, vida própria, se tornando de fato, uma entidade de classe. E por muito tempo, a Plastivida, desde então, na verdade, deixou de discutir apenas a questão da reciclagem, mas junto a ela, o questão do consumo consciente, da relação da sociedade com os produtos plásticos, no intuito de promover o setor, promover os produtos, mostrar para a sociedade a relevância dos plásticos para o desenvolvimento desta, seja na área médica, seja na indústria automotiva, na indústria de construção civil, enfim, nos diversos setores em que os plásticos são utilizados no nosso dia a dia, né? Eu costumo brincar que quando a gente vai a um supermercado e a gente vê aquela garrafa de xampu bonita, colorida, a gente estabelece uma relação bem próxima, a gente gosta daquela embalagem de plástico, a gente pega ela… ou de vidro, de qualquer outra matéria-prima, mas falando do plástico, especificamente, a gente pega ela, olha, segura, gosta dela, né? Quando a gente consome o produto que tá ali dentro, o xampu, que lavamos o cabelo, quando ele acaba, o xampu de dentro da embalagem, a gente olha para ela e não gosta mais dela. E a gente precisa mudar esse comportamento, nós precisamos continuar a gostar daquela embalagem, só que um gostar que permita que aquela embalagem vá servir a um propósito que é ser reciclada e esse gostar tem que ser: tirar ela do meu chuveiro e colocar ela no lugar correto, que ela merece, que é o lixo reciclável. Então, o que falta a sociedade nesse processo é que die continuidade aquela paixão que ela estabelece com o produto plástico no momento em que ela compra ou recebe. Então a gente entra no carro que tem plástico no painel, no volante, no tapete, no banco, que é um material sintético, né, muitas vezes, as pessoas pensam que é couro natural, mas não é natural, é um material sintético, né? E aí, a gente compra o carro e tem aquele cheirinho de carro novo, a gente usa um mês, dois meses, três meses, tanto buraco na rua e a gente esquece que tem buraco na rua, mas aí, de repente, o carro começa a fazer barulho, nem é pelo plástico em si, é por engrenagens, por ferro batendo em ferro, naturalmente, né, o carro vai afrouxando até a revisão que aperta ele, mas na nossa cabeça; plástico, tem muito plástico aqui e a gente perde o amor por ele. Então acho que um dos grandes desafios que a Plastivida tem pela frente e que eu procuro sempre falar dessa forma é a sua paixão por um produto plástico não pode ser finita quando o produto que ele embala se acaba. Essa paixão precisa continuar para que você dê a essa embalagem plástica, a esse produto plástico a continuidade de sua vida, que é a reciclagem. Então, a Plastivida ganhou em 2014, além de um novo

logotipo, uma nova marca, um novo posicionamento que quando nasceu, ela existia para ser a voz da indústria na sociedade, não, a Plastivida, além disso, tem que ser a voz da sociedade na indústria. A gente precisa estabelecer esse link com

a sociedade, a gente precisa mostrar a sociedade os benefícios que os plásticos permitem a sua vida, não adianta, eu que usei tanto tempo lente de contato, né, gelatinosa, de material polimérico, colocava a lente, quando colocava ela, aquela de uso por um dia, né, então quando eu colocava ela, eu ficava feliz da vida, quando eu tirava ela, eu tinha ódio dela e jogava em qualquer lugar… não, eu não posso fazer isso. Eu tenho que destinar ela adequadamente, a minha relação tem que ser continua, eu não posso dar as costas àquilo que eu gostei, eu acho que as relações pessoais e interpessoais são assim, a gente não pode simplesmente dar as costas às pessoas que te ajudaram ao longo da vida, então, p[or isso que eu fiz questão aqui desse momento de nomear as principais delas, claro que não dá tempo de falar de todas, mas a gente não pode dar as costas, não só às pessoas, mas às coisas, também, porque na hora em que a gente reconhece isso, na hora que a gente prática isso, a gente muda um ponto fundamental da sociedade, que é o meio ambiente, a gente ouve muito falar assim: “Que planeta nós vamos deixar para os nossos filhos e netos?”, não, tem que ser ao contrário, essa mudança de relação, passar essa informação à frente para nossos filhos e netos vai nos permitir mudar essa visão e falar o seguinte: “Que filhos e netos nós queremos deixar para o nosso planeta?”, nessa inversão de valor é que a Plastivida está imbuída de procurar estabelecer um link melhor dos plásticos com a sociedade, da sociedade com a indústria, da indústria com o poder público, da universidade com a sociedade e com a indústria. Então, esse trabalho do lixo nos mares é um trabalho fantástico de cinco anos em que eu precisei ser convencido primeiro de que era o caminho, em algum momento enquanto gestor da Plastivida precisei convencer o conselho, que em algum momento precisa nos poiar e estar fazendo esse trabalho para convencer as industrias do setor e as industrias do setor precisam convencer a sociedade de uma maneira geral com discurso único a carca dos problemas que causam a presença do lixo nos mares, mas de forma que a gente tenha uma visão única de que todos têm que fazer o seu papel de relacionamento com coisas, com produtos e com pessoas para que a gente resolva uma necessidade, que é ter um mar mais limpo, ter um ambiente mais saudável, porque o resultado só vai ser benéfico pra gente, então, a Plastivida tem esse olhar, nós não somos uma entidade que discute mercado, nós não discutimos sobre mercado de produto, falamos de características, aplicações do plástico, benefícios, vantagens, respondemos a questionamentos, estabelecemos um elo socioambiental entre sociedade e indústria. Então, é fundamental que a indústria ouça a sociedade, também que a sociedade ouça a indústria, a Plastivida procura fazer esse link, né, então como tá no seu logotipo, na sua assinatura: “Juntos somos mais sustentáveis”, e juntos são todos os atores da sociedade, né? Então, acho que esse processo é um caminho pra gente ter um meio ambiente mais saudável.

P/1 – E quais são os projetos da Plastivida na área de educação ambiental?

R – Esse ano a gente fez um projeto magnifico, né, que a gente tem um horizonte de ampliação muito significativo para 2017 e 18, né? A Plastivida dá muitas palestras, falando mais especificamente desse projeto, a Plastivida dá muitas palestras em escolas, mas eu aprendi uma coisa, às vezes, quando você dá uma palestra, você não passa daquele momento ali de palestra, uma hora, duas horas e de repente, quem tá ouvindo a sua palestra sai e não absorve de forma mais intensa, vamos dizer assim, isso sempre me incomodou, ultimamente tem me incomodado e a gente conseguiu emplacar aqui em São Paulo num CEU, Centro de Ensino Unificado, que faz parte da rede municipal de ensino daqui da cidade, nós implantamos um… em um CEU aqui, como projeto piloto em São Paulo, um curso e a gente conseguiu que esse curso sobre plásticos fosse reconhecido pela DRE – Diretoria Regional de Ensino que tá ligada a Secretaria Municipal de Educação, nesse momento que a DRE reconhece esse curso e oferece aos professores do CEU, todos eles ao fazerem o curso, ganham pontuação dentro de suas carreiras, então, quer p[ara melhoria salarial, que para evolução dentro da sua profissão, aposentadoria, então é um sistema que funciona nas escolas municipais e que os professores quanto mais cursos oferecidos pela DRE fizerem, melhoram suas condições de trabalho, de uma maneira geral. A gente conseguiu pela primeira vez fazer isso aqui em São Paulo. Então nós estamos desde maio de 2016 realizando esse curso e que discutimos politica nacional de resíduos sólidos, aplicações, benefícios dos plásticos, plástico e as ciências, estudos de análise de ciclo de vida dos plásticos, falamos de lixos nos mares, de reciclar, de consumo consciente, então todos os temas socioambientais dos plásticos, nós fizemos esse curso, foram 85 professores inscritos, 62 finalizaram, se beneficiaram, realmente não assistiram a palestra, eles assistiram a um curso que incrementou não só o seu conhecimento, mas o seu desenvolvimento enquanto professor da rede municipal de ensino. A partir daí, isso se desdobrou em diversas ações, então nós fizemos a¬ nós participamos da Virada Sustentável falando desses temas, não só para os professores, mas aí, para os alunos desse CEU, lá do primeiro ano ao nono ano, nós falamos para a comunidade vizinha, os pais dos alunos, né, estamos propondo a prefeitura que se instale o IMPEV – Imposto de entrega voluntária de resíduos dentro da comunidade vizinha a escola, dessa forma, a gente agrega o serviço de coleta seletiva da cidade àquela comunidade que não tinha, então a gente começa a desdobrar em ações de educação ambiental que trazem benefícios à sociedade. Então aquela sociedade está se beneficiando com aquelas informações, o nosso foco é que ao final desse ano ainda, inicio do próximo ano, independente da mudança de legislatura, a gente consiga assinar um termo de cooperação técnica para replicar esse projeto piloto nos outros 45 CEUs da cidade de São Paulo e aí sim, levar a informação da indústria para a sociedade e trazer da sociedade a informação para a indústria. E aí, os projetos se desenrolam, nós temos um trabalho fantástico que nós estamos lançando agora nesse CEU, nesse projeto que é exatamente o uso das sacolas plásticas na cor verde, da coleta seletiva para fazer um trabalho de coleta seletiva de tampas plásticas, é um projeto que se chama “Tampinha Legal”, então que a gente tá trazendo para dentro do CEU para que as crianças tragam tampinhas das suas casas, mas não com o objetivo, nesse caso específico, de fazer simplesmente a reciclagem, mas que amarre um aprendizado pedagógico, uma estrutura pedagógica por trás para usar essa coleta seletiva com as sacolas verdes da prefeitura de São Paulo, que facilita a coleta seletiva, a identificação, mas que essas tampinhas sirvam para fazermos artes com as crianças, para que essas informações permeiem e elas vejam que elas participaram de um processo em que tirou o produto que entrou na sua casa, elas coletaram, elas levaram para a escola, elas aprenderam a trabalhar a educação ambiental, fizeram obras de arte e o meu sonho é que todos os painéis, os produtos que forem feitos com essas tampinhas sejam, em algum momento, em 2017 expostas numa exposição com a arte das crianças que participaram desse projeto. Então assim, a ideia é que a gente trabalhe esses temas socioambientais dos plásticos em programas de educação ambiental como esse, como também estamos lançando nesse projeto, dentro da escola do CEU, o projeto do “Papa cartão”, que na verdade, é coleta de cartões de credito sem uso, naturalmente, em maquias especificas que trituram, destroem as informações dos cartões, esses cartões são destinados a uma indústria e ela vai fazer toda uma sinalização, sala do diretor, sala dos professores, sala um, sala dois, enfim, todo projeto de sinalização gráfica da escola vai ser feita com esses cartões coletados nessa campanha. Então a gente leva de novo a criança a sensação de pegar um produto que faz parte do seu dia a dia, elas participam coletando, evitando o descarte no meio ambiente, trazem para coleta seletiva, isso vira um produto que vai ser reutilizado no dia a dia delas. Então o grande objetivo é que com esse movimento de educação de médio, longo prazo, para não dizer longuíssimo, a gente tenha cidadãos no futuro que entendam a necessidade de se preservar o meio ambiente e que o plástico faz parte desse processo e portanto, ele pode, sim, ter uma imagem positiva, porque eu aprendi que ele é bom e ele será tão bom quanto melhor for o meu comportamento em relação a ele no uso e no descarte.

P/1 – E a população adulta, como que dá para atingir a população adulta em termos de consciência ambiental?

R – A gente fala muito que o adulto é mais difícil, mas eu não creio nisso, eu acho que… é claro que educar as crianças, conversar com as crianças e esperar que elas sejam sementes que levem para dentro de suas residências o aprendizado e os permeiem, né, é um caminho, mas conversar com adultos também é. Então nesse projeto específico do CEU, houve uma exigência do CEU e um entendimento nosso, independente dessa exigência, a gente sabia que isso não era necessário, não dá para fazer o projeto com o professor somente, eu tenho que envolver o aluno. Não dá para fazer o projeto com o professor e com o aluno, eu tenho que envolver a comunidade vizinha, porque no fundo, no fundo, é uma área que tá sendo atendida, né? Então se eu falo só com o professor, tem tantos alunos que vão fazer tudo ao contrário do que foi ensinado aos professores, então se eu for falar com os professores e alunos, a mesma coisa, os pais vão fazer tudo em casa, então a gente precisa ter uma visão mais ampla, né? E uma das exigências do CEU foi essa, que a gente atuasse, de fato, com a comunidade e que esse projeto não visasse apenas um projeto de educação ambiental interno ao CEU, a escola, mas que ele fosse, também, atender as necessidades ambientais do entorno. Então no projeto “Tampinha Legal”, a gente pensa em fazer estudo de meio, como se fala, né, em que as crianças possam ir aos bares, restaurantes da região para fazer com que o dono do bar participe do processo e ele possa separar as tampinhas e no outro dia, a turma vai lá e coleta e a gente tem esse movimento, ali, dentro da área onde o CEU está implantado e todos participam do processo, porque se um pilar só ficar se movimentando, ele vai se movimentar sozinho, sem impactos benéficos ao todo, então a gente precisa de todo mundo imbuído nesse processo. Claro que com crianças, a coisa lúdica torna, talvez, o aprendizado mais fácil, o adulto mais vivido, mas calejado da vida talvez seja um pouco mais difícil, né, a criança nunca vai falar assim: “Poxa, não vou separar tampinha porque a prefeitura não oferece coleta seletiva”, então a gente trabalha o tema de uma forma, mas o adulto vai indagar isso, então por isso que a gente precisa também trazer o poder público e aí, a ideia de ter um PEV: “A gente vai colocar um PEV aqui, vocês vão ver”, então todo mundo tem que estar engajado nesse movimento para que o resultado seja benéfico ao planeta, né? Têm uma frase que eu gosto de falar assim, que a gente precisa combinar, não tem que jogar uma garrafa plástica para o lado de fora, se a gente olhar o planeta, não tem lado de fora, né, ela vai cair onde eu moro, ela tá ali do lado, então não é do lado de fora do carro, a gente tem que pensar que não tem o lado de fora do planeta, né? Então, essa informação que a gente precisa trabalhar cada vez de forma mais intensa de acordo com a necessidade de cada público.

P/1 – Qual a relação entre a Plastivida e os coletores, recicladores?

R – Olha, a gente tem outros projetos que discutem essa relação, né, então ao longo os anos, desde 2007, a Plastivida criou um programa dentro de uma feira setorial que é a operação Reciclar. O grande objetivo dessa operação Reciclar é que a gente pudesse nas máquinas que estão operando na feira setorial, produzindo plástico para mostrar a sua qualidade, o quê que elas fazem, a gente tem um trabalho de coletar essa sobra, esse material gerado e destinar para reciclagem e a gente sabe que a coleta seletiva, quando o produto de coleta seletiva que é feito, por exemplo, dentro da feira, chega na cooperativa, é ali que se dá a ponta de lança para a indústria de reciclagem, então a relação precisa ser bem clara, bem honesta, bem transparente para que a gente tenha o aprendizado do que eles precisam para se desenvolverem e também para que a gente possa informar sobre a qualidade do plástico, o tipo do plástico, eu trago aqui o exemplo da Riviera de São Lourenco, que eu narrei no Instituto Brasileiro do PVC em que a gente foi lá e ensinou eles a separar o produto, nesse momento, você passa a informação para eles. Então isso facilita a sua vida, isso termina qualificando o produto separado, gerando mais renda para os cooperados. E aí, eu acho que a Plastivida também tem essa atuação muito forte, porque inclusive, no Brasil, nós temos a politica nacional de resíduos sólidos, que ela tá balizada também nessa relação com os catadores, né, então os catadores são partícipes do processo, são necessários ao processo. Então acho que quanto mais próximo a gente tiver deles, maior a chance de termos um desenvolvimento mais fluido da cadeia produtiva de reciclagem de plásticos.

P/1 – Por quê que existe essa associação negativa da visão do plástico nas pessoas?

R – Em 1950, em um filme que agora eu não vou me lembrar o nome, havia uma observação que o Dustin Hoffman fez a um jovem enquanto jogava sinuca e o Dustin Hoffman falava nos anos 40, 50 ali: “Plásticos, grave essa palavra”, e dali pra frente, o desenvolvimento da indústria do plástico foi de forma tão gigante até os dias de hoje que o plástico tá praticamente em tudo, né, o que a gente ouve de fato, nós estamos aqui num ambiente em que nós encontramos o plástico em todos os produtos que estão aqui dentro e o que está aqui dentro que não for em plástico, existe a alternativa no mercado viável técnica e economicamente. Então eu tô sentado numa cadeira de PVC, na verdade, não é couro natural, é o PVC, a nossa câmera que estamos filmando aqui é toda feira de plástico, a TV, enfim, tudo que tá aqui dentro existe a alternativa em plástico. E aí, o plástico ganhou uma visibilidade, uma dimensão extremamente ampla que nenhuma outra matéria-prima recebeu em toda a sua vida desde a idade da pedra, vamos dizer assim, uma amplitude de aplicações tamanha que naturalmente, gera uma situação de criticas por concorrentes, então, o plástico substituiu o metal em determinada aplicação, o vidro em outras, o papel, sim, existe o papel plástico em que os livros são feitos de plástico e aí, você pode molhar, você pode riscar e apagar sem estragar o papel com canetas próprias. Então você termina tendo… o plástico terminou pagando o preço dessa capilaridade de aplicações. E aí, começaram a criticar as questões ambientais, claro que você tem muitas aplicações, você tem um maior descarte dos produtos, isso parecia em algum momento virar um mantra, daqueles que perdiam o mercado contra o plástico, de criticá-lo, mas esse movimento também surgiu de ambientalistas pelo excesso de produtos colocado no mercado e não que esse excesso seja uma palavra perversa, não, existe porque ele substituiu outras matérias-primas, não fossem em plástico, seriam em outras matérias-primas, mas a característica de qualidade, de custo/beneficio dos plásticos é de uma forma tão positiva que ele substitui a maioria dos materiais e aí, ele paga o preço dessa onipresença, né? E aí, começa a se associar o plástico a produtos sem qualidade, começam a surgir informações infundadas como essa sobre o plástico e isso ganha um corpo, ganha uma visão maximizada e daqui

pouco, tá todo mundo falando mal de um produto, que na verdade, esta em excesso no nosso mundo, porque ele traz benefícios para tal, ele não é necessariamente produzido para causar problema, claro que não, mas existem muitas criticas de ambientalistas, de cadeias produtivas concorrentes e isso termina permeando na sociedade que ganha… dá ouvidos a isso e faz disso a voz e o nosso trabalho é ir exatamente pelo lado inverso, talvez tenhamos demorado um pouco a acordar para fazer esse trabalho, né, dado até o sucesso da presença do plástico nos produtos que nós nos relacionamos no nosso dia a dia e hoje, a gente corre atrás um pouco do prejuízo, dessa percepção negativa que na nosso modo de ver é completamente infundada, eu não posso criticar um produto que me oferece extremos benefícios e que permite o desenvolvimento na nossa sociedade, imagina hoje com essa questão de poluição de automóveis, de um carro feito com os materiais dos anos 40, 50, metais pesados… imagina hoje um carro fabricado com as matérias-primas dos anos 40, 50 como os metais que seriam carros pesados, portanto consumindo mais e mais combustível, né, e hoje não, a gente tem os plásticos tornando os carros mais leves, contribuindo para um menor consumo de combustíveis, a mesma coisa se aplica a indústria aeronáutica, por exemplo, na área médica, os benefícios dos plásticos nos vários setores, na construção civil, enfim, eu falei aqui sobre um número magico da indústria, magico, porém ruim para cada quatro levantados, um é jogado fora em termos de matérias-primas, né, é um desperdício absurdo, mas quando eu penso num sistema de tubos e conexões de plástico, ou seja, de PVC, ou polietileno, ou polipropileno, esse consumo… no estudo em que fizemos no inicio do ano 2000 mostrou apenas um desperdício de 8%, então, baixando aí dos 25%, então o plástico precisa reverter essa figuram, ele precisa se mostrar enquanto produto, destacar os benefícios que essa substituição em massa das matérias-primas tradicionais por plástico, esses benefícios oferecidos às sociedades são extremamente necessários e aí, a chave é essa, eu preciso continuar enquanto cidadão, estabelecendo uma relação boa com o plástico e quem tem que fazer isso sou eu, porque se ele me deu um produto de qualidade, na hora em que eu usei esse produto de qualidade, eu não posso dar as costas para ele, eu tenho que dar continuidade a destinação adequada desse produto. Na hora que isso se estabelecer de uma forma mais intensa, essa visão negativa do plástico, com certeza, será revertida para o que nunca deveria ter deixado de ser que é o reconhecimento dos seus benefícios à vida moderna.

P/1 – E quanto de plástico reciclável é deixa de ser jogado no meio ambiente?

R – Eu acho que talvez a pergunta seja: quanto de plástico se recicla no nosso país? A Plastivida faz desde 2003 pesquisas anuais sobre o índice de reciclagem de plásticos. Esse número hoje tá em torno de 20 a 21%, ou seja, de 20 a 21% de todo plástico produzido no Brasil, ele é coletado e reciclado mecanicamente, ou seja, você tem a reciclagem mecânica, que é pegar um produto plástico e transformar em um novo produto plástico. Você tem também a reciclagem energética que é pegar esse produto plástico e transformar em energia, então o calor intrínseco ao produto, decorrente do seu processo de fabricação, ele é recuperado por equipamentos próprios para isso e isso se transforma em energia elétrica, pior exemplo. E você tem a reciclagem química que é pegar esse plástico incipiente no mundo, mas pegar esse plástico e transformar em matérias-primas básicas para voltar a um novo ciclo produtivo dentro da indústria química ou petroquímica. Mas no Brasil, a nossa realidade é a reciclagem mecânica, em torno de 20 a 21% é o índice de reciclagem de plástico no nosso país. A pergunta a ser feita é: isso é muito ou é pouco? E aí, a gente pode estabelecer alguns critérios comparativos, se olhar a média de reciclagem mecânica de resíduos pós consumo, ou seja, o resíduo que você usou enquanto cidadão e descartou, não tô falando daquele resíduo industrial, tô falando só do pós consumo, se a gente pegar a média da União Europeia, as mesmas características, reciclagem mecânica de resíduos pós consumo, na União Europeia esse índice é de 26%, a diferença entre Brasil e a média da União Europeia, os países da União Europeia é que lá existem leis mais severas em termos de reciclagem, né, então países que viveram guerras são bem mais velhos do que o Brasil, que viveram outros momentos sociais, vamos dizer assim, culturais que terminaram levando a um amadurecimento ambiental muito mais intenso do que nós temos hoje, enquanto país jovem, mas mesmo assim, a gente tá no mesmo patamar de 20% para 26% para as mesmas condições, os mesmo tipo de produto, o mesmo processo é uma coisa bem… como eu posso dizer? Positiva, até. A diferença é que na União Europeia existe a reciclagem energética e aí sim, quando você fala da reciclagem energética, o índice de reciclagem de plásticos pula do patamar de 26% para 70%, então isso é um avanço tecnológico que existe na União Europeia, em diversos países, pensar nos Estados Unidos também, na Alemanha, França, Reino Unido, Japão, por exemplo que não existe ainda no Brasil. Então a gente precisa desenvolver ainda essa tecnologia para implementar aqui no Brasil, e aí sim, a gente vai ter um desenvolvimento similar em todas as etapas da reciclagem e aí, eu trago um cenário, lá na União Europeia, como eu falei, existem muitas leis e o cidadão participa, é partícipe do processo. Esse processo ainda está engatinhando no Brasil, a politica nacional de resíduos sólidos começou a ser discutida em 92, foi sancionada em 2010, regulamentada na sequência e o acordo de logística reversa de embalagens, da qual a Plastivida é signatária foi assinado em 2015, então ainda não completamos um ano que está vigorando o acordo de logística reversa de embalagens no nosso país. Então, o processo é lento, mas está acontecendo e a tendência é ser ampliado e costumo dizer o seguinte, a reciclagem mecânica no país sempre existiu, mas ela sempre foi informal. Hoje, a politica nacional terá entre outros objetos, terá também a função de formalizar a indústria de reciclagem no nosso país, independente da matéria-prima, então sempre se reciclou o plástico no Brasil, tanto que desde 2003, quando a politica nacional não era se quer sancionada, não tinha sido sancionada, se quer existia, para falar a verdade, já tínhamos índices de reciclagem beirando os 15%, 12, 15% e ele veio gradativamente crescendo, mas ainda num cenário mercadológico muito informal, e aí, a politica tem essa função de trazer a formalidade para o setor, então se a gente comparar o que existe na União Europeia de estrutura, o que existe no Brasil de estrutura, o que existe na União Europeia de participação do poder público, da indústria, do usuário de embalagem, a empresa que fabrica alimentos ou produtos cosméticos, por exemplo, do consumidor é bem diferente da participação desses mesmos atores aqui no Brasil. Entretanto, o resultado é bem similar. Então isso mostra essa necessidade de maturidade ainda da indústria de reciclagem como um todo, eu não tô falando da indústria que fabrica o produto reciclado, propriamente, eu tô falando da coleta seletiva, do cidadão separando, do poder público, da própria indústria, enfim, todos esses atores se desenvolvendo cada vez mais para que esse índice seja cada vez maior.

P/1 – Você pode explicar como a escolha pelo uso do plástico tornou ciclo de vida de alguns produtos mais sustentável?

R – Sim, eu acho que tem alguns exemplos, né, eu terminei de falar aqui dos veículos, né, fazer um carro pesado andar, consumir mais combustível, mais pneu, por exemplo, óleo, motor, fazer um carro mais leve com os plásticos, peso específico menor ajuda na economia de combustível desses mesmos produtos, óleo, motor, por exemplo. Uma coisa muito bacana na área médica, né, é a substituição de vidro por plástico, por exemplo, antigamente você tinha o armazenamento de sangue humano em recipientes de vidro, né, imagina hoje o SAMU indo socorrer um acidente com o vidro embalando o sangue humano? Hoje, o sangue humano é embalado em bolsas de PVC, então, isso facilita o trabalho dos paramédicos, os médicos envolvidos no resgate, por exemplo, seja de carro ou de qualquer outro tipo, né? No caso da área médica, ainda, necessidade que se tinha no passado de se esterilizar seringas, por exemplo, para garantir que não haveria contaminação no seu reuso, então, hoje as seringas são descartáveis e essa palavra é uma palavra que soa pesado à sociedade, né? Tem muito a ver também com a imagem negativa do plástico: “O plástico é descartável”, não, tem lugares que é ótimo que seja, e ser descartável não pode ser visto como uma palavra de demérito, ser descartável significa que eu tenho que descartar da forma correta, que após o uso, o destino tem que ser adequado, o que tá errado aqui não né a palavra descarte, o que tá errado aqui é como eu descarto. Então, tem um exemplo de ciclo de vida, de análise de ciclo de vida que é feito com os copos de uso único, plástico ou descartáveis, então muitos não gostam de usar essa palavra, não, a gente precisa encarar ela de forma correta e dizer que o que tá errado é a forma de descarte. Quando eu comparo um copo, por exemplo, reutilizável com um copo de plástico de uso único ou descartável, há uma tendência natural do consumidor achar que esse é o melhor para o meio ambiente. Isso é um achismo, porque nós fizemos um estudo em que o copinho descartável de plástico consome no seu ciclo de vida, ou seja, da hora que é fabricado até a hora que é descartado, 32 mililitros de água. Esse copo que eu usei aqui agora, não importa a matéria-prima, pode ser de vidro, pode ser de plástico, pode ser de cerâmica, tá usado e daqui vai ser lavado, na hora em que eu lavar, em média, vão ser utilizados mil e 200 mililitros de água para lavá-lo. O quê que causa mais impacto? O estudo de ciclo de vida feito mostrou o seguinte, claro que a gente tem que comparar com as mesmas bases, então, o estudo mostrou que o objetivo do estudo era servir 25 mil litros de água. Para isso, usou-se copos do mesmo volume, de plástico descartável, de vidro, de cerâmica e de plástico também, no caso dos copos descartáveis foi necessária uma quantidade de 62 mil copinhos plásticos descartáveis para servir esse montante de água no ambiente corporativo durante um determinado período. Foram necessários 620 copos de vidro, outros 620 copos de cerâmica, outros 620 copos de plástico. Se eu der essa informação e parar aqui, vocês vão falar, naturalmente: “Poxa, que absurdo, 600 e tantos mil copinhos descartáveis, matéria-prima numa quantidade absurda”, mas a informação não tá completa, porque esses copos precisam ser depois do uso, coletados e reciclados e cada um deles consumiu 32 ml de água no seu ciclo de vida. Cada copo desse consumiu 1.200 ml de água para ser lavado e estar pronto para o segundo uso, mais 1.200 para o terceiro, mais 1.200 e assim por diante. No final das contas, cada copo desse de vidro, por exemplo, que foi usado para servir 25 mil litros de água consumiu 75 mil litros de água para ser lavado. Isso tem um impacto ambiental. Essa informação precisa ser entendida. Antes dessa empresa, eu falei que era um ambiente corporativo, antes dessa empresa decidir banir o copo descartável porque ele é descartável ou decidir usar o copo de vidro porque ele é reutilizável. Isso aqui tem um impacto maior do que isso. Então a ciência precisa estar andando lado a lado na tomada de decisão. Você não pode servir 25 mil litros com um produto que para ser lavado, ao final desse serviço, vai consumir três vezes mais água. Então a gente precisa usar esses exemplos de benefícios para mostrar que o plástico traz impactos positivos e não os impactos negativos tão erroneamente levantados pela sociedade e contribui para aquela percepção negativa do produto.

PAUSA

R – O Instituto do PVC também tem esse trabalho de relação socioambiental com a sociedade, eu recordo que um dos trabalhos do ponto de vista do desenvolvimento social mais importante que a gente fez, em algum momento eu também envolvi o meu pai, até pelos aprendizados de vida que ele me passou, né, então foi bem por acaso, mas aconteceu de uma forma bem intensa para mim, esse lado do Professor Pardal que ele sempre teve, né, de ter em casa a sua oficina, que criava as coisas para a gente, reutilizando produtos até, né, como eu narrei. Nos procurou há um bom tempo atrás, uma terapeuta ocupacional, o nome dela é Grace Gasparini, ela é de Campo Grande e o grande trabalho que a Grace desenvolveu dentro da terapia ocupacional, que é a sua formação foi criar mobiliários adaptados para crianças com disfunção neuromotora. Eu achei aquele nome bem forte, né, mobiliários adaptados em PVC, ou seja, usando tubos de PVC, forros de PVC, conexões, então produtos de PVC para criar os mobiliários para crianças com essas disfunções neuromotoras que não conseguiam andar, sentar na mesa de uma família para jantar, fazer suas necessidades, enfim, ela desenvolveu esses produtos que existem no mercado, diga-se, não é nenhuma novidade, mas são produtos de custo elevado, né, então feitos em outros materiais, às vezes, até plástico, inclusive, de custo bastante elevado e o foco dela sempre foi o lado social, o desenvolvimento social em que as crianças beneficiadas são crianças carentes, então ela nos procurou e o Instituto do PVC por um bom período apoiou a iniciativa doando materiais, né, junto com os nossos associados, doando tubos, doando os produtos necessários à criação desses produtos, mas eu fui conhecer, naturalmente, em Campo Grande o projeto até para tomada de decisão de apoio, né? E eu, enfim, só tinha visto os produtos de foto, e a gente ao chegar lá, eu me deparei com vários produtos, cadeiras, andadores, enfim, eram 24 produtos que ela me mostrou no show room da universidade, Universidade Dom Bosco em Campo Grande, que ela trabalhava. E eu virei para ela e falei assim: “Grace, meu pai faz isso” “Como seu pai faz isso?” “Meu pai faz, meu pai… a cadeira que ele assiste futebol em casa é feita com tubo de PVC, com forro de PVC”. Ele tem uma cadeirinha que ele leva para a Fonte Nova, então, ele tem até uma autorização especial para entrar na Fonte Nova com a cadeira em que ele abre… hoje não, hoje o estádio moderno tem encosto, mas antigamente era no cimento, não tinha encosto, então ele abria a cadeira, sentava e ficava ereto na posição, sem doer a coluna ao longo do jogo lá, vendo o Bahia jogar. “E ele faz outras coisas, cadeira de praia, nossas cadeiras de praia todas são feitas com tubo de PVC que ele ou reutiliza ou compra pra fazer para não precisar comprar cadeira no mercado” “É mesmo Miguel?” “É sim”, liguei para a minha irmã Daniela e falei: “Dani, tira umas fotos por favor aí das cadeiras que o meu pai faz, os produtos que o meu pai faz com tudo fé PVC e manda aqui pra gente”, estava surgindo a câmara digital por e-mail, né, então voltamos a falar do tema da tecnologia e ela tirou algumas fotos e mandou e a Grace olhou aquele negócio e achou fantástico, porque nos produtos do meu pai, embora ele não fosse terapeuta ocupacional, tinham algumas engrenagens que ela percebeu que poderiam agregar na qualidade dos seus produtos e naquele momento, eu achei: “Poxa, vou trazer meu pai aqui, então, para te ensinar a fazer isso”, dobradiças, trancas, sei lá, coisas que ela conseguiu ver ali na foto e marcamos uma oficina e fui com o meu pai, levei o meu pai e minha mãe. Então, seu Agapito e Dona Benita foram para Campo Grande, Benita mais para passeio, meu pai mais para trabalhar e eu também, né, tava ali para ajuda-lo. E nesse projeto, a coisa mais fantástica que tem e que eu aprendi foi o seguinte, uma criança com disfunção neuromotora, ela é retirada da sociedade não por ela, não é ela que sai da sociedade porque ela não tem essa percepção, né: “Eu tenho vergonha de mim, eu vou me esconder”, não, quem faz isso é a família. A família, com vergonha, termina excluindo o seu filho com disfunção neuromotora do convívio da sociedade, argumentam que é difícil, que tem complicadores e não estamos aqui julgando, mas estamos observando que isso é um fato. E o lado social do trabalho da Grace que foi um dos que me cativou, foi o fato de que todos os mobiliários construídos e doados deveriam ser feitos pelos pais. Então são equipamentos – o projeto continua existindo – chama-se Mobiliários Adaptados em PVC, para ela doar o mobiliário para a criança, o uso do mobiliário, os pais tinham que participar da confecção, sob orientação dela para que o pai se sentisse parte do processo e deixasse a vergonha de ter um filho com disfunção neuromotora para reintegra-lo à sociedade. E isso terminava sendo de uma forma tão intensa, que as matérias, o relacionamento da Grace com eles, da gente, do próprio Instituto Brasileiro do PVC com eles era tal que eles abriam as portas da casa para mostrar a criança jantando com a família, por]que o mobiliário para a criança foi feita em um padrão tal que se adaptou e se integrou à mesa de jantar da família. E ela passou a jantar ali junto com todos. Essa é uma mudança social fundamental, né? Então eu pude ver essa relação do pai com o filho e no meu caso, eu pude ver de uma outra forma, mas também a relação do pai, de eu colocar o meu pai para ajudar a Grace a melhorar ainda mais a qualidade dos produtos. Então, naquele momento eu fiquei muito feliz com o meu trabalho porque a despeito de eu não ter uma disfunção neuromotora e nem o meu pai, eu pude trazer o meu pai para dentro do meu trabalho. Então, foi uma coisa mágica que esse trabalho socioambiental também projetou na minha carreira, na minha vida pessoal, propriamente, de envolver o meu pai num processo em que, olha, eu acho que eu viveria três vidas e não enxergaria essa possibilidade de ter essa relação ainda mais com o tema que foi, né? E aquele projeto se desenvolveu, meu pai… tenho fotos dele ensinando a Grace uma técnica para cortar o tubo de PVC com a serrinha, de forma a deixar a menor quantidade de rebarba ali, sabe, a dobradiça, os cuidados dele, né, que ele usou tanto para fazer a rampa de half pra gente, a quadra de vôlei de praia pra gente, as bolas que nós jogamos, né, e colocar ele dentro desse cenário, desse circuito que também era fora da realidade dele, naturalmente, né, por ele não ter a relação com crianças com esse tipo de disfunção foi muito bacana. O Instituto patrocinou a Grace por um bom tempo para que ela viajasse em ____02:33:57____ no Brasil todo para passar a tecnologia para terapeutas ocupacionais de outros Estados, nós conseguimos pegar esse curso e transformamos esse curso numa cadeira dentro do curso de terapia ocupacional da ACE – Associação Catarinense de Ensino, que é uma universidade em Joinville, então, os alunos eram obrigados, dentro da cadeira de Tecnologia, a criar cada um o seu mobiliário adaptado em PVC, então, trazendo isso para dentro da relação de jovens com universidade, então, mostrar os benefícios dos produtos. E aí, tem um paralelo que é legal, né, poxa, tudo de PVC é plástico, né, tem aquela imagem, tudo, a gente esquece que esse é digamos um subproduto que o PVC pode oferecer, que o plástico pode oferecer, mas a gente esquece que 95% da água potável transportada no nosso pais é feita em tubos de PVC, mas ele tá na parede, a gente não vê, mas se beneficia da função desse produto, então, eu acho que é uma das características não só da Plastivida, mas do Instituto do PVC é também permitir a realização de ações que usam os plásticos não com a sua característica e aplicação primaria, primeira, vamos dizer, mas secundaria, também, né? E aí, trazer isso para um contexto que a gente tem um lado social, o lado ambiental é extremamente positivo, então, eu fiquei ali como catalizador entre aquela história Pardal do meu pai, de criar produtos, um trabalho social fantástico e de repente, conseguimos unir aquela ponta ali para fazer a felicidade de algumas crianças, de algumas famílias de alguns pais e por que não dizer a minha e a do meu pai nos relacionando? A gente tentou tanto trabalhar a questão da Química e nos encontramos num projeto social. Bacana, né?

P/1 – Foi um ponto de intersecção de vários caminhos.

R – Exatamente.

P/1 – É possível uma vida sem plástico?

R – Não. De maneira nenhuma. Hoje, a evolução da vida se deveu à evolução do plástico, acho que se confunde de uma forma, hoje, o mundo é tão complexo com questionamentos, com criticas a produtos diversos, né, então a gente… eu costumo comentar o seguinte, o ser humano, por si só é um ser que destrói o planeta, o ser humano, o nômade por essência era isso, né? E o tempo veio passando e nós continuamos com essa essência de destruir o planeta, não por maldade, mas por necessidade, né, por evolução, então a gente… os ancestrais exauriam a terra em determinado lugar e mudavam-se para outro e assim iam fazendo, a diferença é que naquele momento, era um planeta muito grande para pouquíssimas pessoas, e talvez, houvesse espaço para isso, mas o comportamento não era adequado, né? Hoje, a própria evolução da sociedade, não vamos esquecer das revoluções industriais, quanto mais fumaça tivesse uma cidade, mais evoluída era ela, e aí, termina tendo aquela confusão de ordem e progresso, uns dizem que não dá para conviver, né, ter ordem e o progresso, porque o progresso nasce de uma bagunça, vamos dizer, em processo industrial lá atrás, enfim, dessa coisa de fumaça, de metrópole e assim por diante e eu acho que a grande diferença que nós, enquanto cidadãos, enquanto seres humanos de hoje, comparados com os de antigamente não é parar a nossa evolução, mas é saber com a nossa inteligência, usar tudo isso a nosso favor. Então, se naquele período, a gente exauria a terra para mudar e hoje, a gente eventualmente, precisar ter essa necessidade, a gente com a nossa inteligência, nós devemos voltar e aquela terra exaurida, de alguma forma ser consertada por essa inteligência, que se transforma em tecnologia, em evolução de produtos. Então a gente evoluiu de tal forma que a gente precisa saber usar toda essa inteligência que nós temos hoje, não só mental, mas de produtos para beneficio da nossa terra que historicamente a gente exauriu ou está exaurindo. E o plástico faz parte desse processo. Eu conto essa história para dizer que compete a nós tirarmos o máximo da evolução que o plástico nos permite em termos de inteligência. Então, como usá-lo para beneficio da terra? A gente ouve falar assim: “O plástico consome muito petróleo”, isso é errado, o petróleo… apenas 4% do petróleo extraído no mundo é aplicado à indústria do plástico. 88% desse petróleo é usado para refrigeração, calefação ou transporte, ou seja, você tira o carbono que é o petróleo que tá lá na terra, queima na atmosfera e emite CO2. É um ciclo linear, o plástico sai do carbono, vira um produto e ele pode ser reciclado, ele tem um ciclo circular, que é a economia circular, se ele for coletado, se ele for reciclado, então essa inteligência que nós temos que ter. Eu vou exaurir as jazidas de petróleo? Sim, mas nesse momento, eu vou usar a minha inteligência para continuar utilizando, e dependendo cada vez mais dele e tendo outras tecnologias que me permitam fabricar plásticos não a partir de petróleo. Então essa é a inteligência que nós temos que saber utilizar e o plástico é um aliado para isso, o plástico precisa ser percebido dessa forma, então não dá para viver sem o plástico e acho que se não tivéssemos a exaustão da terra, estaria num processo muito mais acelerado do que está, não tá bom do jeito que tá, mas não tá bom porque a gente ainda no conseguiu usar essa inteligência a nosso favor, de novo, a inteligência mental, mas a inteligência que os produtos nos permitem ter, também, as aplicações, a qualidade, sabe, os benefícios que esses produtos nos oferecem precisam ser levados em conta, a gente esquece de ver como a Medicina evoluiu, tivemos agora, as paralimpíadas em que a gente viu quantos e quantos profissionais se reinventando, sabe, voltando a ter amor a vida, por não se sentir menos por ser um amputado, por exemplo, né, usando plástico como solução. Então essa sabedoria nesse caso específico do ponto de vista social também precisa ser aplicado ao ponto de vista ambiental. E aí nesse momento é que a gente começa a perceber a impossibilidade de vivermos sem a indústria do plástico, porque se não existisse ele, muito provavelmente, alguns dos nossos setores não chegaria ao desenvolvimento atual, e outros setores, certamente, trariam muito mais impactos do que os alegados hoje à indústria do plástico, mas os impactos que nós vivemos hoje, a gente precisa compreendê-los. Eu volto à palavra descartável, o problema não é a palavra em si, o problema é a forma como se descarta, isso aqui que tem que mudar e tem que mudar de uma melhor forma para que não impacte o meio ambiente, então é uma questão de comportamento, não é uma questão de produto. Então, acho que essa é a chave, a virada e a percepção que nós precisamos evoluir um pouco mais para ter uma relação melhor com o nossos meio ambiente.

P/1 – E Miguel, quais são as coisas mais importantes para você hoje?

R – Olha, eu acho que eu posso responder de algumas formas, usar os chavões, claro que família, claro que os meus filhos, meus pais, os valores que eu recebi, mas hoje eu me sinto uma pessoa muito bem preparada e necessária para expor e formar opinião com essas mensagens. Eu acho que isso… saindo um pouco das respostas mais comuns que permeiam a vida de qualquer ser humano de bem, que eu me enquadro nessa forma, eu acho que esquecendo a questão da relação com a indústria do plástico, eu acho que falar sobre esses aprendizados de vida, de preservação ambiental se torna, hoje, uma coisa muito importante, um legado que eu pretendo deixar aqui enquanto eu tiver por aqui, acho que isso daí foi uma evolução natural na minha vida profissional, de percepção, eu recordo quando eu disse ao meu pai que eu iria trabalhar numa associação de classe porque eu estava aprendendo sobre meio ambiente e ele virou para mim e falou: “Não vá, filho”, em 96: “Associação de classe é cabide de emprego”, e talvez ali foi o momento em que o meu pai não me ensinou nada nessa vida toda, porque foi onde eu me encontrei profissionalmente e aprendi muita coisa com pessoas, mesmo, então de novo, saindo dessas respostas mais clássicas de família, educação, valores que permeiam, acho que não precisa ficar falando, acho que a contribuição que eu já prestei, que eu tenho muito a prestar ainda às pessoas que não têm essa visão é uma coisa muito importante no meu dia a dia, então ao longo dos últimos anos, por exemplo, evitar brigar no trânsito, a gente tem que lembrar que a pessoa que tá ali no farol e que ele não avançou na hora que imediatamente a luz ficou verde, não fez por alguma razão, né, não adianta a gente sair esbravejando, porque ela tem a razão dela, seja por estar desatento, que é natural, quem nunca ficou, né? Seja porque o carro morreu, quebrou, então não nos compete ficar brigando por isso, então acho que entender essas relações, mostrar isso aos meus filhos, aos meus familiares, a quem comigo convive é importante e aí, tem um lado ambiental, porque no fundo, no fundo, estamos falando de meio ambiente, do ambiente em que vivemos, né, e a gente não pode pensar só no lado social ou só no lado ambiental, né, a gente tem que pensar nos dois e nos três quando a gente entra na esfera econômica também, mas eu penso que essa conjunção de preservação ambiental, de relação social pra mim hoje mudou muito a forma de enxergar a vida, né, ao longo desses… poxa, já vou fazer 20 anos, como eu me mudei para São Paulo em 97, ano que vem eu farei 20 anos de aprendizado e eu acho que a coisa mais importante é que quanto mais eu conseguir externar esses valores, melhor, porque se a gente pensar em sustentabilidade, volume sustentável tem esses três pilares, tem o viés econômico, tem o viés ambiental e o viés social, né? Então todas essas respostas mais clássicas estão agregadas nesse processo do viés social, né, educação, conhecimento, respeito, valores, agora tem uma coisa que é mais recente na nossa vida que é o meio ambiente, a economia sempre fez parte do processo, mas o meio ambiente é uma coisa bem recente aqui no nosso país, né, talvez não em outros países, mas na nossa cultura, é. Então, acho que quanto mais conhecimento você tiver, maior a sua obrigação de transmiti-la para uma coisa nova e eu que vivi algumas coisas, como eu falei, puxa, eu me formei na melhor faculdade de Engenharia Química do país e quem deu a primeira aula ou palestra sobre reciclagem de PVC naquela universidade fui eu. Eu não sabia disso, eu percebi isso dois dias depois, porque é bem louco isso, né, então eu acho que externar o que você aprende na sua vida é fundamental, né? Então foi assim que o meu pai e a minha mãe me formaram, foi assim que eu aprendi com os meus irmãos, com os meus amigos, com os meus colegas, com o Assis, que foi o meu chefe aí desde o inicio, né, então eu tenho que perpetuar isso, né? E foi um aprendizado que eu tive, talvez hoje, eu aprendi algumas coisas que o meu pai talvez não tenha aprendido, nem minha mãe, mas sempre agregando, certamente, meu filho vai aprender, minha filha Gabriela vai aprender alguma coisa que eu ainda não aprendi, vão me ensinar, então estar aberto a isso é muito importante esse aprendizado, mas passar esse aprendizado é mais importante ainda.

P/1 – E quais são os seus sonhos?

R – Espera aí, deixa eu pensar aqui. Não sei, sonhos de vida, sonhos profissionais… eu não tava preparado para essa, não (risos). Eu acho que a gente sonha, né, a gente sonha com dias melhores na sua relação profissional, na sua relação pessoal, a gente erra e acerta, erra e acerta, acho que sonhar com o dia que você não precisar sonhar com nada, né? Seria fantástico, porque você se viu completo, mas eu acho que profissionalmente, eu tenho muito a realizar, eu acho que tenho posições a galgar, crescer, aprender. Pessoalmente, sonho em ver meus filhos formados me ensinando também, né, produzindo coisas, porque hoje eu olho para a minha vida profissional, olho para trás e para ser muito sincero, eu acho que em nenhum momento lá atrás, eu olhei para esse futuro e enxerguei uma… a importância que eu julgo ter hoje nesse contexto de sociedade, né, não tô falando nem de empresa, nada disso, tô falando de sociedade, de conhecimento, né? E eu olho hoje e vejo que fiz coisas bem legais, mas tem muitas outras que eu errei, acho que dá para acertar o que eu errei, mas sonhar é viver, né, enquanto eu tiver o que oferecer, o que aprender para continuar oferecendo em termos de conhecimento, em termos de desenvolvimento é legal.

P/1 – E como é que foi contar a sua história aqui hoje?

R – Sabe que eu já contei essa história mil vezes, né? Mas sempre para uma ou outra pessoa, assim, trechos na verdade, mas também foi surpreendente, porque primeiro eu não esperava ter essa oportunidade, agradeço a quem me indicou, tornar isso parte do acervo do nosso país com essa experiência que é mínima em verdade, né, mas que é muito importante para mim e para os meus é bacana demais. Então fiquei feliz em poder registar algumas histórias que eu vivi, que foram difíceis, que doeram em alguns momentos. Eu lembro de um diálogo em que eu argumentava ao meu pai que eu queria voltar para o Rio, para Salvador do Rio, para Salvador porque eu não aguentava mais morar longe da minha família e o meu pai virou pra mim e falou assim: “Tudo bem, você pode vir, mas você vai trabalhar para pagar o seu cursinho para você fazer um novo vestibular, porque eu não vou pagar o seu cursinho”, e eu me senti no direito, porque dos quatro filhos, dos cinco filhos, eu fui o único que passou no vestibular de primeira, os outros em algum momento fizeram cursinho, então eu achava que eu tinha esse direito, né? E assim, na juventude, você demora muito a perceber como seu pai pensa, né, ou a sua mãe também pensa, minha mãe me queria do lado, mas ela entendia o lado do meu pai, meu pai não, meu pai pensava na profissão, no meu desenvolvimento, como eu terminei de falar: “Eu quero ver os meus filhos formados”, deve ser o que ele pensava na época, e bem formados, claro. E foi difícil, né, bancar, peitar: “Vou voltar, vou trabalhar de dia, vou estudar à noite”, dá certo, né, mas você não pode dar as costas para o que tá dando certo, né? Eu não sei o que seria de mim se tivesse voltado, poderia ser uma outra situação bem melhor, não me cabe pensar, mas na época, eu me lembro que doeu também, né? Mas enfrentei, né?

P/1 – Mas foi aí que você teve aquela ideia de voltar e estudar à distancia?

R – É, aí… um pouco depois, né, foi mais ou menos no meio do curso, né, porque eu sempre tive o cenário de voltar, né, eu sempre quis voltar. Como eu falei, minha família é uma família – todos são vivos, ainda, graças a Deus – é uma família que tudo acontece ali, né, na rua, festas de familiares, tá todo mundo ali, então lembro da minha mãe, às vezes, conversava com os meus irmãos para não me contar o que estava acontecendo em Salvador para eu não ficar com mais vontade ainda, né, eu não sei o que era pior, né, não sei se isso era pior ou melhor, né? Mas quando você vive assim, você aprende algumas coisas, né? Então… é difícil porque na hora, você não tá antenado, quero dizer o seguinte, poxa, meu pai viveu isso? Meu pai para sair de Jiquié e ir para Salvador não era as quatro horas de carro de hoje, né? Então antigamente não tinha carro, né? Na época que ele saiu aos 19, 18 anos, idade que eu sai de Salvador, que ele saiu de Jiquié, então é legal isso porque ele sabia o que eu tava passando, então ele sabia que doía, mas no fundo, ele sabia que valia a pena, porque valeu para ele. Então, minha mãe também tendo vivido tudo isso, né, na distancia, na saudade, né, então o meu pai foi se preparar, arrumar um emprego para poder casar, né? Então a gente só enxerga isso quando passa um pouco, né? Aí, você começa a olhar para trás e ver que tudo aquilo que doeu muito fez muito sentido, né? Quando você tem um filho, você tem uma filha, aí você começa a praticar tudo aquilo que o seu pai fez com você e você não gostava, né? E aí, tem que chamar a mãe e falar: “Mãe, eu reconheço, a senhora estava certa”, então acho que isso é… esse é o aprendizado aí legal que você falou: “O quê que você sonha”, quero que um dia meus filhos enxerguem isso, pensem assim, percebam e vivam isso, né? Não precisa sair de casa, mas se sair ótimo, se não sair, vai ser ali que isso tudo vai ser passado a eles, né? Então é o legado que a gente deixa. Reviver isso nessa tarde aqui para mim foi fantástico, porque eu registro a história da vida, né?

P/1 – Para a eternidade…

R – Exatamente.

P/1 – Obrigada Miguel.

R – Obrigado você.

PAUSA

R – Eu quando conheci a minha atual esposa, Patrícia, ela é torcedora do palmeiras e eu torcedor do Bahia e o Bahia e o Palmeiras jogaram aqui em São Paulo, estava começando o namoro, a gente fez uma aposta: o time que perdesse, o torcedor pagaria uma viagem para o outro, então seria mais ou menos isso. A gente tava bem no começo do nosso namoro e o Bahia perdeu do Palmeiras, eu tive que pagar uma viagem para ela. E a minha opção foi leva-la para Salvador para conhecer meus pais, meus irmãos e tudo, né? Conhecer onde eu nasci, onde eu vivi e aí, ela viu a rua que eu morava, né, contei as histórias, a história da quadra, a história do parquinho, as festas que tinham, viu o movimento lá em casa, os vizinhos indo lá, conhecendo ela, naturalmente. E aquilo ficou marcado, de certa forma, né, no meu prazer de mostrar a minha companheira a minha história e ela, muito naturalmente, de ter visto, de certa forma, ter entendido o quê que aquela rua significava para mim, né? Até que eu me mudei, então precisei comprar uma casa, estava morando de aluguel, então comecei a procurar casa, até que um dia, eu tava numa reunião em São Bernardo do Campo e eu recebo uma ligação dela, devia ser quatro e meia, cinco e meia da tarde e ela me liga dizendo: “Miguel, achei a sua casa, pode vir comprar, se você vier e não comprar, eu vou comprar e vou te dar”, claro que numa brincadeira, mas ali eu… ainda não tinha percebido o que aquela experiência tinha marcado na vida dela e na minha também e eu cheguei na casa, ela me deu o endereço, eu fui, era uma rua fechada… é uma rua fechada com a área de preservação, inclusive e eu não quis ver a casa, eu vi a rua e comprei a rua, no sentido de que eu queria morar naquela casa e se não fosse ela, seria outra, que eu ia achar vendendo ali, porque aquela rua era uma rua fechada e eu queria transformar ela no mesmo sentimento que eu tive na minha rua para os meus filhos, então eu queria que de alguma forma, os meus filhos sentissem naquela rua fechada, que é uma coisa muito improvável em São Paulo, né, embora seja um lugar mais distante, mas é uma coisa muito improvável, uma rua fechada, tranquila, com mata, com a possibilidade de botar o pé no chão e brincar ali sem problemas de assalto e etc. E quando ela viu a rua, foi a sensação que ela teve, né? Poxa, isso aqui é muito similar do que ele me mostrou lá, ele com certeza vai querer. Então, mostrava ali que com um mês, talvez, dois meses de namoro, ela já me conhecia o suficiente para entender a história da minha rua, né, a história da minha vida ali na Rua Boulevard Paulo VI, número 16. Então, hoje eu moro nessa rua, me tornei síndico para tentar reviver um pouco da história, né, que eu vivi, de ter um lugar mais arrumado, mais bem organizado, preservado, inclusive, porque até como eu falei, é uma área de preservação para que os meus filhos e os filhos dela possam aproveitar enquanto a gente estiver morando por lá.


FINAL DA ENTREVISTA


Dúvidas:

O Instituto patrocinou a Grace por um bom tempo para que ela viajasse em ____02:33:57____ no Brasil todo para passar a tecnologia para terapeutas ocupacionais de outros Estados, nós conseguimos pegar esse curso e transformamos esse curso numa cadeira dentro do curso de terapia ocupacional da ACE – Associação Catarinense de Ensino, que é uma universidade em Joinville […] – Página 30.