Museu da Pessoa

Sou aquilo que sempre quis ser

autoria: Museu da Pessoa personagem: Gabriel Souza e Silva

Programa Conte a Sua História
Depoimento de Gabriel Souza e Silva
Entrevistado por Denise Cooke
Jundiaí, 5 de maio de 2018
Entrevista número PCSH_HV651
Realização: Museu da Pessoa
Revisado e editado por Bruno Pinho

P/1 - Bom dia, Gabriel. Obrigada por estar aqui contando a sua história para a gente.

R - Bom dia. Imagina, é um prazer estar aqui.

P/1 - Vamos começar. Me fala o seu nome, o seu local e data de nascimento.

R - Bom, meu nome é Gabriel Souza e Silva eu sou de Jundiaí, São Paulo, e eu nasci em 24 de novembro de 1998.

P/1 - E você sabe alguma coisa do seu dia de nascimento?

R - Para falar a verdade, não. Eu só tenho um conhecido que nasceu no mesmo dia, mas não sei se é o dia de alguma coisa ou é um fato.

P/1 - O parto? O dia que você nasceu, sua mãe te conta alguma história como é que foi?

R - Do parto eu só sei que foi uma segunda-feira e eu nasci eu acho que 1:00 ou 1:15 da manhã. Mas acho que não tem nenhum fato curioso, não.

P/1 - Me fala o nome dos seus pais.

R - O nome da minha mãe é Edna e o nome meu pai é Ari.

P/1 - Você é filho único?

R - Sim, sou filho único.

P/1 - Me fala da sua infância. Você nasceu e cresceu nessa casa?

R - Não, não exatamente nessa casa. Eu sempre morei nessa cidade, mas essa é a terceira casa a qual eu moro.

P/1 - Me fala da casa onde você passou a sua infância.

R - A minha infância eu passei numa casa muito tranquila, num bairro muito tranquilo também. Tenho boas recordações. Eu lembro que ela era em frente a uma escola, na qual eu estudei por dois dias e não gostei, tive que trocar. Mas foi bem tranquila.

P/1 - E o que você fazia na infância que você lembra?

R - Como eu sou filho único, não tenho irmãos, eu lembro muito bem de uma lembrança com os meus primos que eu tenho uma ligação muito forte com eles. Por eu não ter irmãos eu os considero como meus irmão. Então eu lembro de muitas vezes ir à casa deles brincar, passar a tarde inteira brincando.

P/1 - E do que vocês gostavam de brincar?

R - De muita coisa. A gente brincava de pega-pega, de esconde-esconde, de mímica. A gente fazia show, fazia teatro, brincava de escola. De tudo quanto é coisa.

P/1 - Como eram esses shows? Esses teatros?

R - Era como se fosse show de talentos, cada um apresentava uma coisa e depois a gente tinha jurados e as notas. Então era bem legal.

P/1 - Quantos primos eram?

R - Eu tenho uma tia que só dela são oito filhos. Então, eu tenho bastante primos. E eu ia muito na casa dela, então são todos eles.

P/1 - Essa escola que você só ficou dois dias e não gostou, o que aconteceu?

R - Eu não me adaptei a nada. Não me adaptei ao ensino, não me adaptei à sala, às pessoas, à professora. Nada, eu não gostei de nada.

P/1 - E depois dessa você foi para uma outra escola?

R - Sim, fui para uma outra escola que eu consegui me adaptar melhor.

P/1 - E como foi nessa outra escola?

R - Se eu não me engano era no centro de Jundiaí. Era uma escola muito boa e eu gostava dela. Me adaptei, fiz bastante amizades. Foi muito tranquila.

P/1 - Teve alguma professora que te marcou? Algum coleguinha?

R - Eu lembro muito de uma professora, que eu tive no ensino fundamental, que me marcou bastante. Eu e ela acabamos desenvolvendo uma amizade, então era muito legal.

P/1 - Como era o nome dela?

R - Na verdade eu não lembro, mas eu guardo o carinho, não guardo o nome.

P/1 - Por que ela foi tão marcante para você? Como foi essa amizade que vocês desenvolveram?

R - Eu acho que é uma coisa mais de conexão. Logo que a gente tinha aula com ela, eu já logo senti uma conexão e gente acabou desenvolvendo uma amizade. Eu sempre levava flor, levava coisas para ela porque eu realmente gostava dela. E quando eu gosto eu tento demonstrar isso.

P/1 - E como era a vida na escola? O seu dia a dia?

R - Era tranquilo na escola, mas logo neste período a dermatite estava bem atacada, foi um ponto bem inicial, então passava pelos médicos e eles não tinham muita noção nem do que era. Então, com relação à escola e à família era muito tranquilo, mas por outro lado era muito difícil em relação à dermatite.

P/1 - Quando que surgiu a dermatite?

R - Eu tinha mais ou menos dois anos e começou com as feridas e logo depois disso eu já fui ao posto médico, para as consultas.

P/1 - E ela foi diagnosticada? Como é que foi?

R - Mais ou menos, porque a dermatite, principalmente naquela época, era muito difícil de se diagnosticar. Então eu não passei somente por um médico. Pelo contrário, eu passei por vários. Fiz exames. Fui diagnosticado com outras doenças até, então, dar o diagnóstico final de dermatite atópica.

P/1 - Quais eram os sintomas que você tinha, além de coceira?

R - Tinha vermelhidão, tinha inchaço nas feridas, pus.

P/1 - Você tinha outros quadros alérgicos, além da dermatite, nessa época?

R - Não sei te dizer se nessa época, mas eu também tenho rinite alérgica e as duas estão ligadas.

P/1 - Qual foi o tratamento indicado? Você lembra?

R - Na verdade eu não fiz só um tratamento. Experimentei vários, tanto homeopáticos como à base de remédios, à base de cremes, terapias em casa com produtos naturais.

P/1 - Como eram essas terapias em casa com produtos naturais?

R - Com gazes, com soros sobrepostos à pele. Hidratação através de água e outros métodos também.

P/1 - E você sentiu que esses tratamentos, a homeopatia, ajudaram?

R - Na verdade eu senti que a homeopatia foi um dos que mais me ajudaram, no meu quadro e no meu caso. Tanto a homeopatia quanto a acupuntura.

P/1 - Você falou que foi difícil na escola por causa da dermatite. Você pode contar para a gente por quê?

R - Sim, porque a dermatite é algo exposto, algo na nossa pele. Então. é algo visível. Eu sofri tanto pela coceira, que me causava e tornavam-se feridas, quanto pelo preconceito, pelo bullying, pela chacota. Era algo muito complicado de se dizer porque nem eu mesmo sabia o que falar para essas pessoas.

P/1 - Você tem algum incidente específico de chacota ou de bullying que você gostaria de contar para a gente?

R - Foram vários, me diziam várias coisas como: sarna, pulga. Perguntavam muito se era contagioso, tinham receio de ficar perto de mim, por medo de pegar. Então são coisas que marcam e chateiam muito, principalmente para uma criança que não entende o que se passa com ela e ainda é debochada por conta disso. É complicado.
P/1 - E como você lidava com esses incidentes?

R - Logo no início, eu ficava muito mal. Eu não tinha vontade de sair de casa, não tinha vontade de usar determinadas roupas - roupas que mostrassem a minha pele - por justamente sofrer com relação a isso. Então eu me fechei. Os meus relacionamentos interpessoais eram muito escassos justamente por preconceito.

P/1 - A dermatite se manifestou de maneira mais forte na infância ou na adolescência?

R - Na infância foi com mais agressividade.

P/1 - E nessa época você sabia explicar o que estava acontecendo? Quando as pessoas falavam essas coisas para você.

R - Sim. Logo no início não, porque nem eu entendia. Mas depois, com muita instrução dos meus pais, eu passei a entender... e como funcionava o meu corpo. Então eu consegui explicar e falar para as pessoas o que se passava comigo.

P/1 - Os professores te davam apoio? Eles ajudaram você a lidar com esse problema?

R - Não, nunca tive nenhum apoio, não tive nenhum professor empático a ponto de tentar me ajudar com relação a esse problema.

P/1 - E as crises fortes de dermatite duraram até, mais ou menos, que fase da sua vida?

R - Até mais ou menos a metade da adolescência. Até os 15 anos, mais ou menos.

P/1 - E até esse momento, que estratégias você tinha para lidar com isso? Para amenizar as consequências?

R - Porque no meu caso, a dermatite ela é correlacionada a alergia alimentar. Então eu basicamente evitava tudo, e ainda evito, o que me causa dermatite. Então eu abdiquei de corantes, de produtos industrializados. Também tivemos outras medidas drásticas, como ter menos móveis em casa, menos almofadas, menos tapetes e cortinas, porque justamente isso também agrava, não só a dermatite, mas também a minha rinite alérgica. Então tivemos algumas medidas a serem tomadas.

P/1 - Até hoje você mantém essa dieta?

R - Sim, mantenho.

P/1 - E no que consiste a sua dieta hoje em dia, então?

R - Basicamente, tudo que é natural. Tudo que não for industrializado eu consumo. É óbvio que algumas coisas são industrializadas e a gente acaba consumindo, mas eu consumo em uma quantidade muito menor que o normal.

P/1 - Você sente que sua dermatite também é afetada por questões emocionais e psicológicas ou é só alimentar mesmo?

R - Não. Com certeza emocionalmente. Tanto é que quando eu passo por algum momento de stress, ou tristeza, é um dos momentos que mais acarretam a dermatite, no meu caso.

P/1 - E você sente que o autoconhecimento te ajuda a controlar?

R - Com certeza. Foi uma chave fundamental me autoconhecer porque assim eu consigo entender quando a dermatite vai vir, quando ela não vai vir. Quando eu posso exagerar na minha emoção, quando eu não posso. Isso facilita a vida de um atópico.

P/1 - Há quanto tempo você não tem uma crise forte?

R - Forte? Há uns dois anos, mais ou menos. É um período muito grande para um atópico.

P/1 - Você diria que nesses dois anos o fato de você não ter tido uma crise é porque você aprendeu a contornar? Você usa essas estratégias para evitar?

R - Sim, com certeza. Eu acho que, pelo fato de eu ter adotado esses métodos, com certeza trouxe uma ótima consequência para mim. Tanto é que eu não faço mais uso de medicamentos hoje em dia, por exemplo.

P/1 - O seu canal no Youtube. Fala um pouco dele para a gente.

R - Eu sempre mexi muito na internet. Por conta dos meus relacionamentos interpessoais não serem tão fortes, eu acabei buscando na internet uma forma de me comunicar. Eu também era muito tímido, então na internet eu consegui espaço para me comunicar com os outros. E eu sempre tive a vontade de ter algo que fosse meu, que eu pudesse usar minha voz. Então surgiu a ideia do canal e do blog. Eu acabei criando como uma forma de me expressar. Eu tinha um tempo ócio e eu juntei a minha vontade e esse tempo e acabei criando o canal.

P/1 - Você fala da dermatite no canal e no blog?

R - Sim. Falo, sim. Tenho dois vídeos que são super assistidos, tem mais de 30 mil visualizações cada, falando somente sobre a dermatite. Meu depoimento, minha história, com essa doença.

P/1 - Como foi a resposta a esses vídeos?

R - Eu, na verdade, fiz o primeiro vídeo sobre a dermatite na inocência. Eu só tive vontade de ajudar alguém porque a dermatite é uma doença que não é tão rara, mas ela é difícil de encontrar uma pessoa que a tenha. Então, eu sempre pensava assim: "só eu tenho isso no mundo". Então se tivesse uma possibilidade de ter uma outra pessoa que tivesse dermatite também, eu também queria que ela se sentisse confortada com relação a isso. Então eu acabei gravando o vídeo para justamente tentar encontrar outras pessoas que tivessem isso também e a resposta foi muito positiva. Até hoje eu recebo diversos comentários, diversos depoimentos, pessoas me agradecendo por eu ter feito o vídeo porque é algo pouco falado, as pessoas não têm o conhecimento sobre isso. Principalmente com relação à pais, à família; as pessoas não entendem. Elas buscam pessoas que saibam ouvi-las para que haja um conforto.

P/1 - Quando você gravou esse primeiro vídeo, você estava passando por uma crise forte?

R - Não estava passando por uma crise forte no momento, mas eu estava com a dermatite e a crise já estava sendo amenizada.

P/1 - E o que você falou nesse vídeo?

R - Eu dei dicas de como a pessoa poderia usar métodos para melhorar a dermatite e contei um pouco da minha história também.

P/1 - E hoje, apesar de você não ter uma crise há dois anos, você continua falando sobre isso?

R - Sim. Continuo falando sobre isso. Já gravei outros dois vídeos e pretendo gravar mais porque isso é um assunto pouco falado e as pessoas normalmente só ouvem falar de dermatite vindo das bocas dos médicos e não de uma pessoa que passa por isso. Então eu acho que eu tenho um papel importante com relação a isso.

P/1 - E o que você costuma falar para as pessoas? O que você vê que conforta elas, que ajuda?

R - Eu acho que o que mais passa pela cabeça do atópico é: "não dá mais, eu não consigo mais". Então o que eu mais tento passar é a imagem de que sim, você pode passar por essa crise e você vai melhorar o seu quadro. Porque existem crises que são terríveis. As pessoas, então, sentem vergonha de sair de casa. Passam por muitos médicos, por muitos métodos, e ainda não traz nenhum resultado eficaz. Então o que eu mais tento passar é a não desistir e sempre buscar novos métodos e formas que ajudem a sua dermatite a melhorar.



P/1 - Como é que foi durante a sua adolescência? Como a dermatite impactou a sua adolescência, que é um momento tão delicado na vida de uma pessoa?

R - Sim, foi uma fase bem complicada. Eu acho que seria a fase mais complicada pela qual eu passei junto com a dermatite. Porque é um momento de autodescoberta. Você está se autodescobrindo e você tem que passar por toda essa fase e ainda lidar com uma doença que afeta o seu emocional e afeta o seu corpo. Então foi algo muito difícil porque o meu emocional andava abalado, por questões, e ainda mais com a dermatite, só piorava. Então nessa fase de adolescência eu tive muitas crises.

P/1 - Como que era a sua vida, a sua rotina, nessa fase?

R - Então, é complicado isso. Porque na adolescência eu tive que recorrer a muitas coisas. Eu não tomava muita água, então comecei a adotar a garrafa de água e andar sempre com ela. Comecei a passar creme muito mais vezes ao dia. Comecei a fazer uso de medicamentos. Comecei a buscar outras formas e métodos de melhorar a minha dermatite. Fui buscar autocontrole, para controlar as minhas emoções e o que se passava pela minha mente, porque a dermatite mexe muito com o que se passa pela nossa mente porque envolve a nossa imagem, envolve o que a gente é. Então foi uma fase bem complicada, mas passei.

P/1 - Como era a sua vida social nessa fase, a sua vida escolar?

R - Eu, graças a Deus, consegui sempre me relacionar bem com os outros, principalmente na adolescência que eu aflorei essa minha personalidade que eu tenho hoje, que é de mais comunicação e de conseguir me relacionar com os outros. Na adolescência eu consegui fazer mais amigos, mas ao mesmo tempo estava com o pé atrás porque eu sabia que sempre viria um julgamento, principalmente quando eu estava em crise porque a dermatite afetava também o meu rosto, então os meus olhos sempre ficavam vermelhos, meu pescoço, os meus braços e apesar de saber que eu tinha o apoio dos meus amigos, eu sabia também que eles tinham um receio com relação a essa minha doença.

P/1 - Vocês conversavam sobre isso?

R - Na verdade eu tive que conversar muitas vezes com os meus amigos para eles tentarem entender o que se passava comigo. Porque às vezes as pessoas não têm instrução, e quando a pessoa não tem instrução ela julga primeiramente. Então eu recebi até julgamento dos meus amigos. Então eu tive que conversar muito e explicar e mostrar que não era algo simples, não era algo fácil, para tentar receber um pouco de apoio também.

P/1 - Mas então você não se isolou na adolescência? Você continuou saindo com os teus amigos, levando uma vida normal?

R - Sim. Consegui, sim.

P/1 - E todos esses primos que você brincava, você continuou saindo com eles e se encontrando?

R - Sim. O nosso relacionamento se manteve o mesmo. Por conta de eu ficar muito tempo com eles, eles cresceram junto comigo e com a minha dermatite, então eles acompanharam tudo o que eu passei, os meus casos, eles sempre entenderam de forma muito natural.

P/1 - Mais alguém na família tinha dermatite?

R - Não. Nenhum familiar com a mesma doença.

P/1 - Os médicos. Como foi o papel dos médicos nesse processo todo?

R - Quando o atópico vai ao médico, ele só quer buscar uma solução para que a crise acabe logo porque existem momentos que não tem o que fazer. A dermatite não passa rápido então eu ia ao médico como uma forma de alento, de buscar consolo, para tentar buscar uma saída para dermatite. E por muitas vezes eu passei por médicos que não sabiam o que eu tinha, não conseguiam dar um diagnóstico ou passar algo que fosse me ajudar. E muitas vezes, até eu e minha mãe brincamos, nós que instruímos mais o médico do que o médico nos instruiu, porque muitos médicos não tinham a noção e a informação em relação a isso. Então os médicos tiveram um papel importante sim, alguns deles porque outros não.

P/1 - Você falou, por exemplo, da questão dos móveis, das almofadas, das cortinas. De que outras maneiras, a sua dermatite impactou na vida familiar, na rotina da família?

R - Por conta da alimentação. A nossa dieta e o que a gente se alimentava deveria mudar drasticamente. Então isso afetou também o que se colocava no prato. Não somente os móveis, mas também os materiais, então lãs, tudo o que juntasse muito pó, muito pelo, animais, porque tudo isso acarretava à crise.

P/1 - O fato de ter todas essas restrições alimentares, isso afetou a sua relação com comida também?

R - Afetou de certa forma porque, principalmente na infância, época em que as crianças levam para a escola salgadinhos, sucos, refrigerantes industrializados e imagine para uma criança você ver tudo aquilo e não poder comer por que aquilo te faz mal, aquilo te machuca. Então era algo muito complicado, mas tudo foi o costume.

P/1 - O que você levava de lanche então nessa época?

R - Tudo que não fosse tão industrializado. Era industrializado, mas não tanto. Então eu sempre levava bolinhos, bolachas de água e sal, sucos feitos em casa.

P/1 - E se você, por exemplo, fosse numa festa de aniversário?

R - Se eu fosse numa festa de aniversário eu só comeria os salgados, mas não tomaria refrigerante. Os doces também, dependendo deles, se tivessem muitos corantes e conservantes, eu não comia. Então eu sempre tinha essas restrições.

P/1 - O que você acha que tem que ser dito para quem tem dermatite e para quem não tem?

R - O que eu acho que tem que se dizer pra quem tem dermatite é: não desista, o seu quadro vai melhorar, mas somente se você se esforçar; não é fácil abdicar de coisas, principalmente coisas alimentícias, abdicar dos seus gostos, para tentar melhorar a sua dermatite, mas você vai ter que fazer isso para melhorar então não desista, tenha foco, busque o autoconhecimento, busque se entender para o seu emocional não se abalar também. E para quem não tem dermatite, eu diria: busque instrução. Porque a última coisa que o atópico quer ouvir é: "pare de se coçar", "você está se coçando porque você quer", "você pode controlar isso". E não é controlável. É mais forte do que parece. Então eu diria para buscar instrução para entender o que se passa com essa pessoa.

P/1 - O que você aprendeu com a dermatite?

R - Eu aprendi a ser mais resistente, eu diria. Porque, como eu disse, muitas vezes a gente tenta desistir, jogar tudo para o alto e abdicar de tudo e começar a fazer coisas que te façam mal mesmo sabendo que isso vai te acarretar algo. Então eu aprendi a ser mais resistente, a controlar mais o que eu quero, o que eu sinto, o que eu penso e acho que isso tem um papel fundamental.

P/1 - Como você avalia a realização desse projeto com base na memória oral dos portadores de dermatite atópica?

R - Pode repetir a pergunta?

P/1 - Como você avalia a gente estar fazendo esse projeto de ouvir as histórias de vida dos portadores de dermatite atópica? No que você acha que isso pode ajudar ou impactar a vida das pessoas?

R - Eu acho que o que está sendo feito é fundamental. Porque, como eu disse, as pessoas buscam um apoio. Como a dermatite não é algo muito falado, não é algo muito comentado. Com relação a doença, ter um material, um conteúdo, que fale somente sobre isso, que traga médicos instruídos, traga relatos de pessoas que viveram isso. Eu acho extremamente importante porque, por exemplo, eu não tive isso. Então saber que uma pessoa pode ter acesso a esse material e ser confortado e ter acesso a informações e métodos que te ajudem. É uma facilidade enorme.

P/1 - Você conheceu pessoalmente outras pessoas com dermatite nesse meio tempo ou não, foi só pela internet?

R - Eu conheci muitas pessoas através da internet. Conheci um amigo que tem também e no evento da Sanofi eu acabei conhecendo mais três pessoas com a mesma doença.

P/1 - Como é a sua relação com esse amigo que também tem?

R - É uma relação do tipo "eu te entendo". É bom ter uma pessoa que passa pelas mesmas coisas que você porque só ela te entende. Não adianta vir um médico e dizer: "eu te entendo". Não, você não me entende porque você não tem. Só quem passa, na pele, literalmente, é que entende. Sempre foi uma cumplicidade muito grande com relação a dermatite que a gente passava. É algo muito bom de se ter.

P/1 - Como é que foi conhecer as pessoas no projeto da Sanofi?

R - Foi incrível porque a gente percebe que a gente não está sozinho no mundo, que existem várias outras pessoas que também passam por isso. Então, é muito legal você também ver que as outras pessoas testaram outras coisas, passaram por coisas diferentes da qual você passou, mesmo tendo a mesma doença. Então foi muito legal.

P/1 - Vamos voltar um pouco mais para a sua infância agora? Você falou que vocês gostavam de cantar, de fazer karaokê, de teatros. Você ainda tem esse gosto pelas coisas artísticas?

R - Eu sempre gostei muito de tudo que envolve artes e, principalmente, comunicação, mas eu sempre fui muito tímido também. Mas eu sempre gostei, sempre quis ter voz. Sempre quis estar à frente e não atrás das câmeras. Quis participar das coisas, me comunicar, falar e atuar, então era muito divertido e também era um reflexo do que a gente gostava, entende? Porque os meus primos têm essa veia mais artística. Então foi sempre muito legal as nossas brincadeiras.

P/1 - Você lembra de alguma, em especial, que você gostaria de contar?

R - Lembro muito bem de um show de talentos que a gente teve, que eu fiz um cover um pouco ruim, mas fiz. Eu fiz o cover do Michael Jackson, meu primo fez cover acho que do Justin Timberlake e foi muito legal aquele dia, a gente deu muita risada porque obviamente a gente não sabia fazer direito, mas foi muito legal.

P/1 - E para quem vocês se apresentavam? Para a família?

R - Não para a família porque a gente tinha vergonha, então a nossa plateia eram os cachorros e os meus primos menores. Então a gente apresentava para eles.

P/1 - E na adolescência? Você continuou fazendo essas coisas?

R - Na adolescência, por um período, eu já entrei no grupo de teatro da igreja. Entrei na parte de comunicação então fiz, mas não com os meus primos, fiz de uma outra forma.

P/1 - E como era esse grupo de teatro da igreja?

R - A gente tinha ensaios semanais e gente se apresentava com temas e exposições esporádicos. Então, por exemplo: encontro de pais, páscoa, natal. Nessas datas mais específicas a gente sempre apresentava alguma coisa.

P/1 - As peças eram relacionadas a temas...

R - Recorrentes ao dia, entende? Por exemplo: tinha encontro de pais, a gente fazia algo relacionado a pais. Era algo só para adolescentes, então a gente fazia com a temática de adolescentes.

P/1 - Você sempre frequentou a igreja desde pequeno?

R - Sim, eu sempre frequentei a igreja. Apesar de frequentar só por frequentar, mas com uns 12 anos eu me encontrei com a minha fé em Deus. Então, eu passei a frequentar por gosto próprio e a me relacionar e a me entrosar mais com relação a igreja mais ou menos na adolescência.

P/1 - E o que aconteceu aos 12 anos que você diz que encontrou Deus?

R - Autoconhecimento. Quando eu voltei para mim mesmo e tentei me entender mais, eu entendi que tinha Deus ao meu lado, em todos os momentos. Principalmente com relação com a dermatite, ele sempre esteve ao meu lado mesmo nas crises e eu fui buscar a fé e Deus, essa caminhada que a gente trilha, é uma busca então eu fui buscá-lo, verdadeiramente. Não só porque as pessoas falavam para mim que eu tinha que ir na igreja ou porque eu era obrigado pelos meus pais, fui buscar porque eu quis, eu sentia essa necessidade, essa vontade. E foi o maior divisor de águas da minha vida, ter me encontrado. Aí eu entendi porque eu tinha dermatite, por que eu tinha passado por tudo aquilo. Porque tudo na nossa vida tem um propósito, inclusive para a dermatite que eu tenho. Tanto é que eu estou aqui, fazendo uma entrevista falando sobre isso. Então foi aí que eu entendi completamente quem eu sou e fui me moldando e me mudando por conta da personalidade que eu encontrei em Deus, que ela é minha.

P/1 - Você acha que a dermatite teve um peso nessa sua...

R - Nessa minha caminhada pela fé?

P/1 - Isso.

R - De certa forma sim, porque a dermatite me fez ter mais momentos de introspecção. Quando a gente olha para o seu interior, a gente acaba olhando tudo o que tem dentro dele. Como Deus habita em nós, eu o vi. Foi aí que a minha fé começou a ser mais aflorada.

P/1 - Os seus pais são religiosos?

R - Sim, são.

P/1 - E que igreja que vocês frequentam?

R - Eu nasci em berço católico, mas com três anos, mais ou menos, a gente fez a mudança para a igreja evangélica.

P/1 - E você até hoje continua frequentando? Ainda é muito importante na sua vida?

R - Sim. É o mais importante na minha vida.

P/1 - E de que maneira a igreja está presente no seu dia a dia?

R - Na verdade, a igreja sou eu. Eu faço parte da igreja. Eu sou o corpo da igreja. A igreja faz parte de quem eu sou. A igreja, muitas vezes a gente pensa que são quatro paredes, é um lugar, mas não, a igreja somos nós. A igreja anda comigo por onde eu vou. A igreja sou eu.

P/1 - Mas você socializa? Faz atividades culturais na igreja? Como que é na questão do dia a dia?

R - Sim, eu faço parte do ministério de comunicação e também, aos sábados, sempre tem as nossas reuniões de jovens. Eu frequento fielmente em todos os sábados. Aos domingos também, quando dá. Na realidade a gente também sempre está indo.

P/1 - Você falou que você participa de um ministério?

R - De comunicação.

P/1 - O que é isso?

R - Cuida de toda a parte de comunicação da igreja. A igreja ela tem Youtube, ela tem página no Facebook, ela transmite ao vivo os cultos, ela tem rádio, tem a parte de design - eu sou formado em design gráfico então eu também sempre ajudei nessa parte – então cuida de tudo que for exterior à igreja, tudo que for de comunicação.

P/1 - Vamos voltar um pouquinho só. Eu quero saber um pouco mais sobre os seus pais. O que o seu pai faz?

R - Meu pai é eletricista.

P/1 - E a sua mãe?

R - A minha mãe é enfermeira.

P/1 - Você sabe como eles se conheceram?

R - Sim. Foi num clube aqui da cidade, há muito tempo atrás, muito tempo atrás. Se conheceram numa noite e desde então estão aí.

P/1 - Os dois são de Jundiaí?

R - Um é de Barro Bonita, interior de São Paulo, e a outra é de Capela, Sergipe. Minha mãe é sergipana.

P/1 - E você teve contato com os seus avós?

R - Eu tive contato com a minha avó por parte de pai e o meu avô por parte de mãe.

P/1 - Como chama a sua avó por parte de pai?

R - Margarida.

P/1 - E o seu avô por parte de mãe?

R - Antônio.

P/1 - E você tem alguma história que você gostaria de contar para a gente dos seus avós?

R - Eu os conheci, os dois, no fim das suas vidas - os dois já faleceram -, mas foram duas pessoas muito especiais. A minha vó por parte de pai era acamada, mas a gente sempre estava a visitando e ela sempre perguntava de mim, a gente mantinha um carinho. O meu avô, ele morava no Nordeste, mas teve um ano que eu fui junto com a minha mãe e eu o conheci e me apeguei muito, muito mesmo, a ele. Então os dois, com certeza, foram uma boa parte da minha vida.

P/1 - E como foi essa viagem para o nordeste? Você lembra?

R - Lembro. Não faz muito tempo, foi recente. Foi muito legal porque eu conheci outra realidade. Porque nós que somos de São Paulo conhecemos uma e quem mora no Nordeste vive outra totalmente diferente, tanto culturalmente como localmente. Gostos, gestos, enfim, tudo. E foi muito legal conhecer uma outra parte da minha família que eu não conhecia. Não somente o meu avô, mas os meus tios, primos, enfim, foi muito legal.

P/1 - Para que cidade você foi?

R - Fui na capital, Aracaju, e também fui para Capela, que é a cidade natal da minha mãe.

P/1 - O que te marcou mais nessa viagem? Na cidade, ou mesmo, na capital?

R - O que mais me marcou foi o meu avô.

P/1 - Por quê?

R - Porque eu não o conhecia e logo que a gente se encontrou, a gente já conversou e se entrosou. Então foi bem especial para mim.

P/1 - Quando a gente estava olhando as suas fotos, o seu cabelo, ele parece que é uma coisa muito importante para você, para a sua identidade. Fala para a gente. Você falou que durante um bom tempo você queria deixar o cabelo crescer, mas os seus pais não deixavam. Conta para a gente como que é toda essa coisa com a sua aparência. Você gosta de moda? Você falou muito assim: "eu comecei a assumir a minha personalidade", "foi um momento de redescoberta". Fala para a gente um pouco sobre isso.

R - Desde pequeno eu sempre gostei de cabelo. O meu desejo sempre foi ter cabelo grande. Desde sempre. Desde que eu me conheço por gente, a minha vontade era ter o cabelo grande. Mas eu não deixava o cabelo crescer porque os meus pais não gostavam, principalmente na infância, mas na adolescência eu já comecei a deixar o cabelo um pouco maior, eu tinha franja. O meu cabelo sempre foi um ponto muito forte em mim e eu sempre fui reconhecido pelo meu cabelo. Meu cabelo também tem uma história que é: o meu cabelo é preto por parte da minha vó, a mãe do meu pai. Mas o meu cabelo sempre foi recorrente, eu sempre tive a vontade de deixar ele crescer. Até que chegou um ponto que eu falei: "olha, não estar mais dando, é o que eu quero". Então eu comecei a deixar o meu cabelo crescer. Ele sempre foi um pouco ondulado, mas com o passar do tempo ele foi crescendo e cacheando e ficou o que é. Está assim, não sei se vai mudar mais porque tudo pode mudar, como meu cabelo mudou e eu achei que ele não ia mudar. E, sim, o meu cabelo tem um papel muito grande com relação a minha personalidade. Muitas vezes a gente não dá muita importância, mas para mim sempre foi um ponto importante o meu cabelo. Eu sempre sofri bullying e boa parte dele foi por conta do meu cabelo e do meu jeito, mas eu sempre assumi o meu cabelo. Nunca deixei de fazer algo que eu queria.

P/1 - A gente estava falando do seu cabelo, que você nunca deixou de fazer nada.

R - Porque a sociedade impõe que você tenha cabelo curto para homens. Eu nunca deixei de fazer nada só porque isso não iria agradar alguém. Eu decidi deixar o cabelo crescer, deixei, e isso tem uma construção muito forte para mim porque o meu cabelo já faz parte de quem eu sou, da minha personalidade. E eu acho que o meu cabelo expressa toda a minha personalidade. Às vezes eu o uso de um jeito, às vezes eu uso de outro, eu faço penteados, eu faço chapinha, eu faço trança; eu faço o que eu quiser porque eu me sinto livre e a minha personalidade é livre e isso também se diz com relação ao meu cabelo. O meu cabelo também é livre e eu faço com ele o que eu quiser. Então eu sempre vou deixá-lo crescer.

P/1 - Foi difícil convencer os seus pais a deixar o cabelo crescer?

R - Foi difícil.

P/1 - Conta para a gente como é que foi.

R - Eu acho que foi mais difícil por conta dessa construção social de deixar o cabelo crescer é só para mulheres ou se deixar o cabelo crescer vai ser mais afeminado, esse tipo de coisa. Mas o cabelo só expressa uma vontade minha, não quer dizer que isso interfere em qualquer outra coisa da minha vida. É só o meu gosto.

P/1 - Você disse que sofria bullying por causa do seu cabelo e do seu jeito. Como assim?

R - Porque eu nunca fui muito dentro dos padrões com relação a tudo. Eu nunca gostei de futebol, eu nunca gostei de ficar em roda com um monte de meninos e falando besteira, esse tipo de coisa nunca foi algo agradável a mim. E eu sempre sofri bullying, dos meninos, por conta de não fazer questão de certas coisas. Eu sempre fui mais amigo das meninas, sempre me enturmei mais com elas, porque justamente quando eu ia tentar fazer uma amizade, me socializar, com os meninos eu sofria bullying e repressão então eu não tinha motivo pelo qual eu deveria falar com eles. Sim, eu sofri bullying, mas isso não teve uma mudança tão drástica na minha vida, o bullying. Sim, me deixou mal por um bom tempo, mas depois eu entendi que não dá para negar quem eu sou para agradar e fazer a vontade de alguém.

P/1 - O que você gostava de fazer com as meninas? Quais eram os seus interesses, seus hobbies? O que você curtia fazer?

R - Eu gostava de conversar. Basicamente o que eu mais gosto de fazer com os outros é conversar, então eu só conversava. Eu mantinha a nossa amizade e conversava, saía, tudo normal.

P/1 - Que tipo de coisa você gostava de fazer na adolescência?

R - Eu gostava muito de ver filme no cinema, de sair para tomar sorvete, sair para conversar, ir na casa dos meus amigos - eu sempre gostei de ir para ficar a tarde inteira conversando.

P/1 - O que você queria ser quando crescer?

R - Eu queria ser tudo. Eu sempre quis um monte de coisa, mas eu nunca imaginei que eu seria o que eu sou hoje, tanto de profissão quanto de construção de caráter. De profissão eu sempre quis algo que fosse mais exposto. Eu pensava em ser modelo, em algo relacionado à comunicação - marketing, publicidade e propaganda -, mas também pensava em farmácia. Pensava em um monte de coisa.

P/1 - Por que farmácia?

R - Porque a minha mãe é enfermeira e quando ela estava fazendo faculdade eu sempre ficava com ela. Quando ela tinha prova, ela sempre passava os estudos dela comigo, tanto é que eu sei bastante coisa com relação à saúde por conta disso. Eu acho uma profissão super legal farmácia, principalmente manipulação e fórmulas de remédios.

P/1 - Você falou várias vezes que você era muito tímido. Como você fez para superar isso?

R - A minha timidez por um bom tempo foi uma barreira para mim e me impediu de fazer muitas coisas que eu queria, e chegou um ponto que eu não estava aguentando mais, eu não estava aguentando mais ficar só sentado num banco com a boca fechada. Eu, como eu disse, sempre quis ter voz, sempre quis que me escutassem, só que você nunca vai conseguir fazer isso se você não abrir a sua boca. Então o que eu comecei a fazer foi tentar enfrentar esses meus medos e essa minha timidez e me inscrevi no grupo de teatro, criei o canal no Youtube, fiz apresentações, comecei a conversar com mais pessoas, interagir com pessoas diferentes - o que eu não estava acostumado - e tentei mesmo de todas as formas vencer essa barreira e consegui.

P/1 - Fala para a gente, você fez faculdade do quê?

R - Eu fiz faculdade de design gráfico.

P/1 - O que te levou a escolher isso?

R - Eu sempre mexi bastante na internet. Sempre passei muito tempo na internet e eu sempre fiz as minhas capas de Facebook, capas de Twitter, sempre estava mexendo no Photoshop, mexendo nesses programas que eu uso até hoje. Então eu vi aí uma profissão que juntava o que eu gostava, que era artes e também a internet, e resolvi fazer design gráfico.

P/1 - Como foi a faculdade? Conta para a gente, onde você estudou?

R - Eu estudei na Universidade Paulista, a UNIP. Foi um período muito legal, eu acho que abriu os meus olhos para muita coisa, principalmente com relação à visão de mundo porque a faculdade tem uma outra realidade totalmente diferente de escola. Foi algo muito enriquecedor.

P/1 - Você morava em casa ainda quando você fez faculdade?

R - Sim.

P/1 - Você ainda está fazendo faculdade?

R - Não.

P/1 - Não? Você já se formou?

R - Já me formei.

P/1 - Me fala mais desse período. O que você aprendeu? O que você descobriu na faculdade? No que ela mudou você como pessoa? As pessoas que você conheceu.

R - Na faculdade a gente conhece pessoas totalmente diferentes. De idades diferentes, de lugares diferentes e com histórias diferentes. Então o que eu acho que eu mais aprendi na faculdade foi ampliar a minha visão com relação às pessoas porque nós vivemos numa bolha e quando a gente estoura ela, por um minuto, a gente acaba descobrindo o mundo. Na faculdade também foi quando meu cabelo cacheou, foi quando meu canal começou a crescer, eu comecei a receber oportunidades, parcerias, participar de eventos; então foi um período bem grande de transição.

P/1 - Fala para a gente então do seu canal, então. Das parcerias, dos eventos, das oportunidades.

R - Meu canal eu tenho desde 2014, mas logo em 2016 eu abri o meu e-mail para receber propostas de parceria. Sinceramente, eu achei que não ia dar em nada porque meu canal não é tão grande assim, eu tenho um público bom.

P/1 - Mais ou menos quantas pessoas?

R - Eu tenho 10 mil pessoas inscritas no meu canal. É um número bom, mas eu não esperava. Eu nunca imaginei que um dia poderia acontecer uma parceria ou uma entrevista. Eu fazia mais porque eu gostava. Eu sempre fiz, e sempre vou fazer, porque eu gosto.

P/1 - Do que você fala no seu canal?

R - Basicamente eu falo sobre tudo. O que eu achar pertinente eu falo. Então eu falo sobre sentimento, sobre pensamento, sobre o que está acontecendo no mundo. Eu falo sobre o que acontece comigo, falo sobre o que eu passei com a dermatite. Falo sobre tudo.

P/1 - Com que frequência você posta vídeos?

R - Eu posto dois vídeos por semana.

P/1 - Que tipo de parcerias você conseguiu firmar?

R - Eu estou com uma parceria com óculos, já fiz eventos. Já tive propostas de parcerias, mas que não eram tão boas então eu não aceitei. Estou caminhando ainda.

P/1 - É basicamente com produtos? Com moda? Como que é?

R - Isso. As marcas me procuram para falar mais sobre produtos. Óculos, produtos de cabelo, cursos, mais esse tipo de coisa mesmo.


P/1 - Como é a resposta? Como é se relacionar com esse mundo da internet? Com as pessoas? Isso te abriu algumas portas ou te fez encarar as coisas de uma maneira diferente?

R - Eu acho que a internet teve um papel fundamental para eu vencer também a minha timidez e para conseguir receber críticas. A internet foi um bom passo para eu vencer a timidez porque eu consegui receber críticas, eu consegui me relacionar com outras pessoas de realidades diferentes. E na internet as pessoas comentam, elas falam o que elas acham de você, então eu comecei a criar amizades, relacionamentos, através dos comentários, das pessoas que me seguem e me acompanham.

P/1 - Fora isso, você já teve um emprego?

R - Sim. Eu trabalho com o Youtube e também com um emprego formal.

P/1 - E qual é o seu emprego formal?

R - Eu sou auxiliar de marketing.

P/1 - Onde? Que empresa?

R - É uma empresa aqui da região que se chama FA Oliva, é uma construtora.

P/1 - E o que você faz lá?

R - Eu trabalho com marketing, com cadastro de clientes, atendimento de clientes, trabalho com veiculação de materiais e conteúdos informativos e comerciais. Eu sou responsável por isso.

P/1 - Há quanto tempo você está lá?

R - Estou há três meses.

P/1 - Fora o trabalho, o Youtube, a igreja, o que você gosta de fazer?

R - Eu gosto muito de ler. Eu tenho esse gosto pela leitura.

P/1 - Que tipo de livro você gosta de ler?

R - Eu gosto muito de ler poesias. Gosto muito de ler suspense, romance.

P/1 - Você tem algum poeta preferido que você goste?

R - Leminski. Leminski eu gosto bastante.

P/1 - O marketing é o que você quer fazer ou você tem outros planos profissionais?

R - Eu não sei se eu me limitaria ao marketing. Eu gosto de pensar que eu posso ser várias coisas, várias profissões, e atuar todo mundo em conjunto fazendo tudo o que eu gosto. Eu penso em marketing. Penso em publicidade e propaganda. Penso em design gráfico, penso também no Youtube. Eu penso em trabalhar com tudo e tudo o que for relacionado a me comunicar com outro, eu estou dentro.

P/1 - Você tem vontade de sair de Jundiaí? Você tem planos?

R - Antigamente eu não tinha, mas sim. Hoje em dia eu tenho sim porque Jundiaí é interior, querendo ou não. É uma cidade desenvolvida, mas eu acho que Jundiai me limita um pouco, me aprisiona um pouco. Se eu quiser voar mais alto eu vou ter que bater as asas mais forte.

P/1 - Quando a gente estava olhando as fotos, uma foto muito especial para você foi tirada pela Melissa, que você falou que é uma grande amiga. Quer falar para a gente sobre ela?

R - Então, a minha amizade com a Melissa surgiu do nada. Surgiu de uma piada que eu fiz tirando sarro de um menino. Desde então, a gente não se desgrudou mais, passamos a ficar sempre junto e até hoje é uma pessoa muito especial para mim, que eu nutro um carinho muito grande por ela. Ela tirou essa foto minha, espontânea, e eu acho que representa muito a nossa amizade. Espontaneidade. Não foi algo por interesse, não foi por nada; foi conexão mesmo, e ela é uma pessoa incrível.

P/1 - Vocês são amigos há quantos anos?

R - Acho que uns oito anos, mais ou menos.

P/1 - Ela também frequenta a igreja?

R - Sim, frequenta a igreja, mas ela frequenta a igreja católica.

P/1 - Hoje em dia, o seu círculo de amigos está praticamente todo na igreja? Está em vários lugares?

R - Em vários lugares. Eu tenho amigos em todos os lugares que eu passei e falo com eles independentemente de ter tanto contato ou não. Então eu tenho amigos da escola, da faculdade, de onde eu trabalho, amigos do Youtube que eu fiz na internet, na igreja.

P/1 - E os seus primos, vocês ainda se relacionam?

R - Sim, muito. É quase sagrado eu ir todo fim de semana na casa deles porque a gente é amigo mesmo, não é uma relação só de primo, de família, que eu falo com você só porque você tem o mesmo sangue que eu, não. É amizade mesmo. Cumplicidade

P/1 - Você quer contar alguma coisa para a gente da sua vida amorosa? Namoros na adolescência ou na faculdade?

R - O que eu posso falar? Não vou falar muito.

P/1 - Não, fale o quanto você quiser. Se não quiser falar também não precisa.

R - Por um tempo eu tive dificuldade com relação a vida amorosa, por justamente ter dermatite, timidez, mas ao passar do tempo isso foi mais natural. Então, está tranquilo.

P/1 - Você diria que está tranquilo?

R - Eu diria que está tranquilo.

P/1 - Muito bem. Como que é viver em Jundiaí? O que você gosta de fazer?

R - Jundiaí é uma cidade muito boa. Apesar de ser no interior, tem muita coisa para se fazer. Tem polos culturais, tem shopping center, parques. Eu gosto sim de viver aqui, é um lugar muito tranquilo. Uma cidade boa, bem estruturada. Mas, como eu disse, ainda acho que ela me aprisiona um pouco.

P/1 - Me fala uma coisa, quem é o Gabriel hoje?

R - Eu acho que o Gabriel hoje é a construção do que ele sempre quis ser. Hoje, eu acho, que eu me tornei o que eu sempre quis ser.

P/1 - E o que é isso?

R - Deixa eu pensar.

P/1 - Pode pensar. Quanto tempo você quiser.

R - Coisas pequenas. Eu sempre quis ter o cabelo grande. Eu sempre quis fazer faculdade. Sempre quis trabalhar com algo que eu gostasse. Sempre quis ser bem relacionado em relação a amizades. Sempre quis ser feliz no que eu faço. Sempre quis ter voz, e voz ativa. Então eu acho que hoje eu me tornei o que eu sempre quis ser.

P/1 - E esse Gabriel que você sempre quis ser, como que foi a sua relação com os seus pais? Eles sempre aceitaram todas as coisas que você quis fazer e ser, foi sempre tranquilo?

R - Sim. A minha relação com os meus pais sempre foi ótima. Eu sempre tive uma relação de cumplicidade entre nós. Nós sempre fomos muito abertos, sempre conversamos sobre tudo e eles sempre me apoiaram em tudo. Foi algo ótimo.

P/1 - Me diz uma coisa, qual é o seu sonho?

R - O meu sonho é ser feliz porque seria muito vazio eu falar que o meu sonho é ter uma casa, meu sonho é viajar para algum lugar. Do que adianta ter tudo isso e não ser feliz nesses lugares ou com os bens que eu possa ter? Então o meu sonho é ser feliz e ter feito algo bom. Esse é o meu maior sonho.

P/1 - Como você se sentiu falando para a gente sobre a sua vida, participando dessa entrevista, como foi essa experiência para você?

R - É muito louco para mim, estar aqui hoje fazendo essa entrevista. Se eu voltasse alguns anos atrás e visse quem eu era, aquele Gabriel jamais passaria por isso, jamais estaria aqui. Então é uma honra. Me sinto muito orgulhoso e feliz tanto pelo trabalho que eu fiz, como que eu me tornei e pelo que Deus me tornou. É uma realização e é fruto do que eu venho construindo há algum tempo. Então, estou muito feliz.

P/1 - Apesar de você não estar tendo mais crises de dermatite, é uma coisa que você pretende continuar abordando nos seus vídeos e continuar trabalhando? Como é que você vê esse futuro com a dermatite?

R - Sim, eu pretendo sim falar mais sobre a dermatite porque eu acho que é fundamental a gente levar informação para os outros e se eu tenho um veículo e um meio de falar isso e de transmitir o que eu sei então, sim, eu vou fazer isso. Estou com ideias de vídeos para gravar com relação a dermatite. Então eu pretendo falar e engajar cada vez mais com relação a isso mesmo que eu não tenha, não importa, ainda faz parte da minha luta de tornar isso mais público, de tornar isso mais visível. Então eu continuarei.

P/1 - Você pode dar um spoiler para a gente dessas ideias que você tem para os vídeos? Só para gente ter uma ideia.

R - Eu estou pensando em trazer algum dermatologista e gravar um vídeo. Explicar e falar o papel importante do médico, de ter um acompanhamento. Pretendo fazer vídeos mostrando métodos e formas de amenizar a dermatite. Dicas de produtos e formas a se adotar para tentar ajudar. Eu tenho algumas ideias, vamos ver se eu consigo colocar em prática.

P/1 - O que você diria para os médicos se você fosse dar uma dica de como tratar os pacientes, o que você teria a dizer para eles?

R - O que eu diria, seria: tente buscar um pouco mais de instrução e tente ser um pouco mais sensível. Sim, é seu paciente, mas também é uma pessoa que sente e é afetada por isso. Eu diria ser um pouco mais sensível e tentar acompanhar mais de perto, não só a dermatite, mas também o paciente e tudo o que ocorre com ele.

P/1 - Tem alguma coisa que você gostaria de ter dito nessa entrevista? O que você quiser, alguma história que você gostaria de ter contado, alguma coisa marcante. Qualquer coisa.

R - Não. Só diria para se inscrever no meu canal, que é: Gabriel Souza. Me seguir nas redes sociais que é: G Souza e Silva. A gente tem que fazer um merchan, não é?

P/1 - Claro, faz muito bem. Lógico.

R - Não estou aqui à toa, gente. Falaria mais isso mesmo. Falaria para os atópicos, e para as pessoas que convivem com atópicos, ficarem em paz, não desistirem, que isso passa. Sim, tem solução. E confiar em Deus que tudo dá certo.

P/1 - Acho que é isso aí. Muito obrigada, Gabriel, por compartilhar tudo isso com a gente.

R - Eu que agradeço.

P/1 - Foi ótimo. Muito obrigada.

R - Muito obrigado.