Museu da Pessoa

Santos nas ondas do rádio

autoria: Museu da Pessoa personagem: Aníbal Gomes Ornelas

P/1 - Vamos iniciar aqui a entrevista pedindo para você dizer o seu nome completo, sua data de nascimento.

R - Aníbal Gomes Ornelas, sete do nove do 42.

P/1 - Você poderia dizer o nome dos seus pais e a origem deles?

R - Meus pais são portugueses: Antonio Gomes Ornelas e Maria Dias Ornelas, vivos.

P/1 - Vivos?

R - São vivos.

P/1 - Seu pai trabalhava com o quê?

R - Meu pai era comerciante. Ele tinha restaurante, bar. E minha mãe era do lar.

P/1 - E você é nascido em Santos?

R - Nascido em Santos, no bairro do Macuco.

P/1 - Você passou sua infância lá?

R - Passei minha infância quase toda lá.

P/1 - Como era então o bairro do Macuco lá pelos anos 40?

R - O bairro do Macuco sempre foi um dos principais bairros da cidade, muito populoso, onde nasceram grandes e grandes jogadores. Porque na época existiam muitos campos e o Macuco tinha terreno à vontade, no canal 5, no canal 6. Grandes áreas, grandes campos. A quantidade era enorme. Então, a infância era toda voltada para o futebol. Naquela época você, quase que obrigatoriamente, tinha que jogar bola. É onde o garoto começou, surgiu. E, dali, é claro, uns seguiram, outros não. A própria várzea de Santos era considerada uma das principais participações no estado de São Paulo.

P/1 - Revelava jogadores...

R - Revelava jogadores. Ela revelou muitos jogadores, mas muitos jogadores.

P/1 - E você era muito ligado ao futebol?

R - Sempre fui ligado ao futebol. O futebol está no sangue. Eu comecei a freqüentar a Vila Belmiro com sete anos de idade. De 49 até hoje eu freqüento a Vila Belmiro.

P/1 - Então você ainda pegou a Vila Belmiro de madeira?

R - Peguei o finalzinho da Vila Belmiro de madeira.

P/1 - Como é que era?

R - Era um tipo de um campo do interior. Quer dizer, era tipo de um campo modesto em razão das dificuldades do Santos. As arquibancadas eram todas de madeira. O estádio não era a grandiosidade que é hoje, mas já se desenhava ali futuramente a Vila Belmiro de hoje. Então ela era simpática. A cobertura era toda de madeira, tinha ferragem. Era bem modesta a Vila Belmiro.

P/1 - Como é que era o placar? Você se lembra?

R - O placar eram duas madeiras. Pintava lá o nome dos times e o placar ficava um garoto lá. Normalmente era um garoto, posteriormente era um aposentado. Ficava lá mudando os números. Tirava um e punha o outro. Teve até épocas aqui na Vila Belmiro em que não tinha mais número para colocar lá.

(risos)

P/1 - Quando você era garoto, tem alguma partida, das primeiras partidas que você assistiu, que te marcou?

R - Ah, que marcou, para mim - eu não trabalhava em rádio ainda – me marcou foi em 55, Campeonato Paulista. Esse marcou realmente. Após 20 anos, o Santos conquistou um título aqui na Vila Belmiro. Aquilo estava atravessado na garganta de todos nós. Ninguém admitia que o Santos, de 35 a 55... Não que ele não tinha grandes times, ele tinha grandes times, mas nunca chegava. E aquele foi um ano muito duro para nós, de muita luta. Foi fato até histórico. No final nós comemoramos a conquista, mas durante o desenrolar do campeonato aconteceram fatos que entristeceram muito. Nós perdemos para a Portuguesa de Desportos no Pacaembu por 8 a 0, num domingo. Nós estávamos cinco pontos na frente do Corinthians, e tínhamos seis para disputar nos três últimos jogos. E nós perdemos o antepenúltimo e o penúltimo, e ficamos para decidir na final, aqui com o Taubaté, aqui na Vila Belmiro. Começamos o jogo, fizemos 1 a 0, o Taubaté fez 1 a 1, e, no final, o Pepe fez o gol da vitória. Então, aí, a cidade realmente se transformou. Então, a despeito de as grandes conquistas terem sido outras, eu acho que essa de 55 abriu o caminho. Um fato histórico, na época, é que o falecido Modesto Roma disse que o Santos, para ser campeão, tinha que descer no covil dos ladrões. E o Santos desceu e foi campeão. A estrutura do futebol era essa. Por isso que eu disse anteriormente que o Santos teve grandes equipes e nunca chegou à conquista do título, durante 20 anos. E depois viemos ter com uma grande equipe jovem, uma equipe começando, e conquistamos o título. Aquele título marcou porque ele foi a abertura de todas as conquistas que o Santos teve posteriormente.

P/1 - Você poderia contar um pouquinho, já que você acompanhou, como é que foi a formação desse time base que gerou o bi e depois ainda prosseguiu com a chegada do Pelé?

R - Veja bem, o Santos em 53 contratou o Lula, que foi o técnico que acabou ficando 12 anos aqui na Vila Belmiro, o que é um fato histórico e inédito no Mundo. Um treinador ficar 12 anos, isso é inédito. Como jogador, o Lula era muito ruim. Mas depois ele se transformou em diretor e técnico de um time varzeano chamado Americana. Na época, o Santos foi buscá-lo para ser o técnico dos amadores. Naquela época não existia as categorias como tem hoje - juniores, juvenil A, juvenil B. Naquela época tinha o infantil, juvenil, aspirantes e profissional. Só que o profissional tinha o time principal e tinha o segundo time. Então o Lula foi contratado para fazer essa reformulação. E ele foi buscar todos esses jogadores - Álvaro, Del Vecchio, Pepe -, tudo isso ele foi buscar. E ele formou esse time de baixo. O Brandão foi o técnico do Santos. Em 54, o Brandão deixou a Vila Belmiro, deixou o Santos e foi para o Corinthians. Ao sair, ele pediu para a diretoria que não convocasse o Lula para ser o técnico do time principal porque o Brandão sentia que o time que ele montava lá embaixo poderia chegar na mão do Lula, e nós conseguirmos o que com o Brandão nós não conseguimos. E era, já na época, um grande ídolo. Mesmo assim, a diretoria apostou no Lula e lançou o Lula em 54. Quis o destino que o Corinthians fosse campeão do Quarto centenário, mas ele perdeu dois jogos. Justamente perdeu os dois para o Santos. Então, aquela base do time, que o Lula formou... O Manga, ninguém conhecia, o Élvio, ninguém conhecia, o Ivan, ninguém conhecia, Formiga, o Zito, que começou com o Lula. Então, ele tinha uma equipe jovem e o Lula falou para a diretoria: "Eu preciso de um jogador experiente, um jogador velho, tarimbado." E buscaram o Negri no São Paulo, com 34 anos de idade, mais ou menos. Então o Negri veio para cá. Tanto é que ele tinha condições para jogar um ano. Jogou um ano só. Só 55. E ele foi realmente o maestro, o conduttiere daquela equipe. Ele era o representante do Lula dentro das quatro linhas. Aí nós fomos campeões com esse time. Só que o Santos segurou esse time para 56, e o Negri não tinha mais condições de jogar, então ele indicou o Jair da Rosa Pinto, que já tinha passado dos 30 também, e que vinha aqui para comandar esse pessoal. Na verdade, em termos de Santos Futebol Clube, o Pelé começou em 57. Quando ele começou a aparecer, no final de 57, o Santos já era bi-campeão paulista - 55 e 56. Não foi tri porque nós fomos decidir com o São Paulo no Pacaembu, o de 57, o campeonato de 58, e lamentavelmente nós fomos prejudicados, no final. O Pepe fez um gol da vitória contra o São Paulo e o juiz, Johan Priebel, que era austríaco, anulou vergonhosamente. Se não, nós teríamos sido tricampeões sem Pelé. Aí, em 58, quando realmente surgiu Pelé, a coisa foi embora.

P/1 - A gente tem feito muitas entrevistas, e parece que há uma tradição, desde os anos 30, de o Santos ser muito prejudicado pelos juizes.

R - Pela frase que eu te falei há pouco tempo atrás, alguns minutos atrás, quando o Roma falou: "Você tem que descer no covil dos ladrões." Porque em São Paulo existia o trio de ferro - São Paulo, Palmeiras e Corinthians. Ninguém entrava. E eles consideram o Santos, não do litoral, eles consideravam o Santos um time do interior. Então, o Santos para eles era secundário. Eles não admitiam. Como ainda hoje existe a grande rivalidade Corinthians x Santos, Palmeiras x Santos, São Paulo x Santos, mas principalmente Corinthians e Santos. Naquela época era demais. Eles fechavam tudo. Então, precisou aparecer um homem que fosse lá nos meandros do futebol. E esse homem, esse grande homem, que foi um dos maiores dirigentes do Santos, foi Modesto Roma. A ele o Santos deve muito, mas muito, muito. Não só em termos de conquista de título, mas também em termos de patrimônio. A ele nós devemos a Vila Belmiro. Ele se arruinou na vida para construir a Vila Belmiro. Então, a grande frase dele “descer ao covil dos ladrões”: o Santos desceu, tinha time e foi lá e conquistou o título. Aí o Santos passou a ser respeitado. Não tanto quanto devia, mas passou a ser respeitado. Depois vieram as grandes conquistas, aí eles tiveram que se curvar realmente àquilo que o Santos fez.

P/1 - Nessa época do bi-campeonato você tinha 13 anos, mais ou menos. É isso?

R - Em 55 eu tinha 13.

P/1 - Você já era ligado no rádio? Como é que surgiu isso na sua vida?

R - Eu freqüentava rádio. Em Santos tinha um programa - depois, com o advento da televisão também foi criado; não sei se você algum dia assistiu -, o Clube do Papai Noel. A molecada ia lá. O Homero Silva testava cantores, testava narradores, repórteres. E aqui tinha um programa - ainda hoje ela é viva, Didinha Sinhá -, e ela fazia um programa aos domingos de manhã, na Rádio Atlântica. Ela fazia o programa da garotada. Então existia cantores, cantoras, narradores, repórteres, comentaristas. Existia tudo. E eu freqüentava muito lá, mas eu era meio inibido. Eu não queria subir no palco. Você tinha que fazer para uma platéia que estava te assistindo. Quando foi no final de 57, eu estava na minha casa, sempre ligado no rádio, eu vi que a Rádio Guarujá estava fazendo teste para radialista. Aí eu fui, fui aprovado e fiquei. Estou até hoje. Isso é um micróbio desgraçado. Você não tem como fugir dele. Aí eu fiquei até hoje.

P/1 - Quando você entrou, o rádio era completamente diferente?

R - Ah, mas muito diferente. Muito diferente. Ele não era só diferente, ele era melhor também. Não na parte técnica. Isto tem que ser ressalvado. O rádio cresceu muito, tecnicamente. Em compensação, em termos de valores artísticos, ele caiu muito. Mas caiu assustadoramente. Se você olhar os grandes homens que já passaram na minha época. Hoje, por exemplo, você não tem um narrador igual a Pedro Luís, que faleceu agora, recentemente. Hoje, em termos de rádio, você fala em Mário Moraes, Mauro Pinheiro, Pedro Luís, Jorge Curi, Waldir Amaral. Mas esses foram os homens que... Naquela época, para você ter uma idéia, quando eu fui contratado pela Atlântica, eu vinha gravar aqui no Santos, vinha de táxi - que naquela época nem era táxi, era carro de praça. Eu gosto de falar porque vocês estão falando em tudo o que era passado. Naquela época não se usava táxi, era carro de praça. E eu vinha gravar aqui na Vila Belmiro, pegava o carro, trazia um gravador que pesava uns 15 quilos. Gravador que você ligava na força. Chegava aqui, eu instalava no vestiário do Santos, na rouparia - o falecido Rochinha foi o roupeiro do Santos por 40 anos. Aí eu vinha aqui, chamava o jogador, às vezes ia no vestiário, ia lá, gravava com ele, encerrava a gravação, pegava aquele trambolho de 15 quilos, pegava outro carro de praça e voltava para a rádio para apresentar o programa. Hoje você tem o gravadorzinho de bolso, com tanta facilidade, e, ainda assim, os repórteres erram muito. E são sempre as mesmas perguntas. Eles, parecem que são repetitivos. Mas naquela época do rádio, o rádio era diferente por esse aspecto: você passava a ter mais competência, porque você vivia mais o rádio. Era profissional? Era. Não tanto quanto hoje. Mesmo proporcional, o rádio não pagava o que paga o rádio hoje, o que paga a televisão hoje, principalmente em São Paulo e no Rio. Também, é para uma meia dúzia que está por cima. Porque o resto, lá embaixo, também vou te contar: não ganha nada. Salário de miséria. Mas havia muito mais amor, muito mais profissionalismo, muito mais disposição. Havia disputa. Eu vinha gravar aqui. Tinha os outros, das outras emissoras, a gente disputava para ver qual era o principal assunto. Terminava, a gente ia embora, cada um embora para a sua rádio. Hoje, eles ficam combinando as notícias que eles vão dar. Então, o rádio era diferente. Você improvisava mais. Não tinha esse negócio de gravar e montar, editar e depois vai, como a televisão tem hoje. Eu, quando falo do rádio, falo da televisão. A televisão, quando ela começou, as novelas era tudo ao vivo. Os teatros era tudo ao vivo. Então, você pega talentos como Fernanda Montenegro, Eva Wilma, Marília Pêra, Paulo Autran. Essa gente falava no palco. E muitas vezes no palco você tinha que improvisar. Às vezes você até esquecia do roteiro, e você tinha que improvisar. Então, existia mais talento. Hoje, não. Hoje, errou? Volta, concerta, grava de novo. Então, só vai para o ar aquilo que é bonitinho. E o que ficou por fora? Então, hoje é muito mais fácil trabalhar com o rádio do que era na época. Os recursos técnicos hoje te facilitam. Para você ter uma ideia, nós fazíamos um programa de esportes na Rádio Atlântica, com o Ernani, que foi o maior nome do rádio santista e talvez de São Paulo: o operador trabalhava com 32, 34 discos 78 rotações, para fazer corte musical com dois pratos. As gravações dos jogos eram feitas em três gravadores. E não tinha numeração. Saía um gol, ele enfiava um papelzinho na fita. Então o gravador continuava com aquele papelzinho. Saía outro gol, ele punha ali e já ligava o outro enquanto ele já montava nos outros dois. Então você vê a dificuldade. Hoje é tudo fácil. Repeteco na hora. Hoje é tudo mais fácil. Então, eu acho o seguinte: tecnicamente cresceu? Cresceu. Só que artisticamente o nível caiu muito.

P/1 - Isso é muito interessante, o que você está falando. A gente poderia ficar mais um pouquinho nisso. Você estreia como repórter em que ano?

R - Eu estreei como repórter em 58, começo de 58.

P/1 - E você fazia isso tudo sozinho?

R - Era. Não tinha operador para me acompanhar, não. Eu chegava aí com aquele trambolho, aquele gravadorzão de 15 quilos, instalava, ia buscar o entrevistado, gravava a entrevista, desligava, chamava o táxi. A única coisa que a rádio fazia era pagar o carro de praça.

P/1 - E como era a transmissão do jogo?

R - Foi bom você tocar nesse assunto. Hoje não existe mais narrador como era antigamente. Você pegava um Pedro Luís, um Geraldo José de Almeida, um Ernani Franco, começava uma transmissão às 14 horas e ia direto até às 19 horas.

P/1 - Cinco horas?

R - É. Antigamente, os jogos eram sempre às 15 horas. Depois é que criaram às 16. Você tem que abrir a transmissão antes. Então era o próprio narrador que abria. Eu também fui narrador. O narrador é que abria a transmissão. E ele tinha que agüentar a transmissão até o final, até às 19 horas, 19:30. Tudo depende de como fosse feito os vestiários - após o jogo sempre tinha vestiários e tal. Não tinha vinheta, a propaganda era ali na hora. Não tinha esse negócio de o sujeito pôr um corte musical, como hoje, e manda um abraço. Nem fazia como certos narradores hoje, que, de 90 minutos de narração, eles narram 30 porque 60 é palhaçada, é mandar abraço, é tocar música de não sei o que. Se vocês pegarem uma transmissão do Pedro Luís, uma transmissão do Ernani, vocês vão ficar bobos de ver como era a transmissão deles. Do Geraldo José de Almeida, Jorge Curi, Waldir Amaral. Não tinha isso, não. Você tomava fôlego quando o repórter do campo falava. Você dava uma... Molhava a garganta e voltava, e futebol. Não tinha vinheta, nada. Era transmissão no duro, ali. Você ouvia um jogo pelo Pedro Luis, você dava a impressão de que o jogo estava em uma velocidade extraordinária. Na época, no campo, não existia rádio portátil, então ninguém ouvia. O rádio portátil veio surgir muito depois. E quando começou a surgir, quem tinha rádio portátil era chamado de baiano. O pessoal não aceitava. A elite não aceitava. Hoje é ao contrário: a elite anda até com fone, amarra no braço, no antebraço. Mas antigamente, não: "Olha o baiano lá com o radinho aqui encostado." Era muito pouco. Mas o Pedro Luís transformava uma partida lenta em uma partida tão emocionante que você, na sua casa, você vibrava com o jogo. E o jogo não foi aquela sensação que foi. Mas é que o Pedro descrevia o estádio. Se passasse um cachorrinho pequeno no meio da torcida, que desse para ele visualizar, ele narrava, tal a capacidade e a competência dele. O Ernani também, o Geraldo José de Almeida. Então, depois que você vê o advento aí... Aquele negócio de 'garotinho', 'gorduchinha', 'na zona do agrião', isso tudo foi usado, não tem nenhuma inovação.

P/1 - Essas expressões foram todas cunhadas...

vR - Isso em 43 o Jorge Curi já usava isso. Se não me falha a memória, o Jorge Curi tem até um livro sobre isso. É que houve uma época em que não se falou mais, e depois se voltou a falar em 'gorduchinha', 'zona do agrião'. Isso aí tudo se usou. 'A grande laranja.' É que se você ouvir um narrador hoje... Se você está em casa e você olhar para o rádio e você pensar no campo, você não visualiza onde a bola está, onde o jogador está. O único que ainda faz isso um pouco hoje é o José Silvério. Porque os narradores de antigamente, a bola estava na lateral-direita, do setor direito, do meio-de-campo para a frente, no eixo da intermediária. Então, eles faziam a descrição do campo, onde a bola estava e onde o jogador estava. Hoje você não vê mais isso. Só sai: "Vai pro ataque, vai pro ataque." E não sai disso: “Entra na defesa.” Mas o posicionamento, esses da antiga descreviam. É por isso que eles têm um valor realmente incomensuravelmente grande, grande, grande. O Mário Morais, quando ele foi para a televisão comentar, ele que inventou esse negócio de 'fera'. O Geraldo José de Almeida, o 'Craque-Café', 'Rei'. Isso tudo já existia. Aí você tem que dar razão ao Chacrinha: tudo se copia.

P/1 - Nada se cria.

R - Nada se cria. O que se criou muito pouco em termos de rádio, na parte artística, não na parte técnica... A parte técnica realmente evoluiu demais, mas a parte artística, não. É por isso que você, conversando com muita gente, vai ouvir: "Ah, que saudade." Aqui em Santos, se você fizer uma pesquisa, você vai encontrar 90%. Claro, não essa garotada. Mas essa garotada vai dizer: "O meu avô falava, o meu pai falava." Mas vai dizer assim: "O grande nome. Que saudades do Ernani." O rádio vivia. O rádio vivia. Eu vou te contar um detalhe, rapidamente, de como é que se fazia à época do Santos. Por exemplo, tinha jogador do Santos, cobras, não é jogadorzinho que está começando, que tinha um problema em casa, brigou com o a mulher, o filho, tal. Na segunda-feira, ele ia lá e falava para o Ernani: "Olha, eu tive um problema assim, assim, assim." O Ernani chegava ao meio-dia e defendia o jogador. Mostrava para a torcida que aquele jogador não estava bem porque teve um problema. Aí a turma dizia: "Pô, legal." No dia do jogo, a turma xingava. Depois: "Pô, o Ernani falou..." A turma respeitava. E antes dos jogos também. Então o rádio era participativo. Ah, mas era só o Santos? Não. Em São Paulo tinha aqueles que... O Geraldo José de Almeida sempre foi são-paulino, nunca negou isso. Então, é claro, você sempre ajudava, você segurava. Você sabendo que você está lá e você tem uma retaguarda, é outra coisa. Então, o rádio era participativo, era informativo. Ele disputava. A gente lutava pela audiência. Hoje, não. Hoje, todo mundo...

P/1 - Vocês tinham quantas rádios nesse período dos anos 50 disputando a audiência?

R - Nós chegamos a ter aqui seis rádios disputando o esporte. Agora, a grande emissora, sempre, sempre, sempre, foi a Atlântica. A Atlântica realmente... E o Pedro Luís inclusive começou aqui em Santos, na Rádio Atlântica. Passaram grandes nomes pela Atlântica: Perci Ayres, Lolita Rodrigues, Leni Everson. Ih, se a gente for ficar aqui falando, nós vamos falar grandes nomes, do rádio e da televisão, que passaram pela Rádio Atlântica.

P/2 - Você se recorda das outras cinco?

R - Rádio Clube, Rádio Cultura, Rádio Cacique, Atlântica, que eu já falei, e depois Rádio Universal. Bem mais para a frente, a Rádio Tribuna, mas aí já foi em uma outra época.

P/1 - Falando um pouquinho da técnica, ainda. Então nesse período que tinha essa jornada de cinco horas, que os jogos começavam às 15 horas, a estrutura de transmissão e de equipe era o quê? Era um locutor, um narrador...

R - Era um locutor, um narrador, dois repórteres, e as rádios que tinham um pouquinho mais de posse, traziam dois operadores. Por exemplo, a Atlântica sempre trazia dois. Um ficava no gramado. A Atlântica tinha, naquela época, a gente chamava, era um microfone chamado BTP - microfone volante. Era retangular, uma lata, que não era lata, mas um tipo de uma lata de azeite, maior, e que tinha uma antena e um transmissor. Receptor, não, porque você usava o rádio pequeno. Então esse operador ficava lá embaixo e o outro ficava na cabine. Se você visse a aparelhagem da Atlântica, quando chegava no estádio, você tinha a impressão de que a Atlântica ia viajar para o estrangeiro, pra fazer uma transmissão no estrangeiro. Porque o falecido Mário Maria Cardoso trazia uma mala com martelo, prego, ferro de soldar, tudo, tudo o que você... Na hora, deu um problema? Ele consertava dentro na cabine. Agora, era tudo arcaico. Era uma mala de viagem, dessas grandes. E os repórteres lá com o BTP. E tinha o plantão esportivo, que ficava no estúdio para informar. Isso, em síntese, era uma equipe. Às vezes, você acrescentava um que ficava só para analisar o juiz. O que não é nenhuma novidade o que Galvão Bueno faz hoje, colocar juiz para comentar juiz. Na nossa época nós só não tínhamos juizes. Nós mesmos escalávamos um para comentar. E eu acho que é um absurdo o que o Luciano e a Globo fazem hoje, convocando ex-jogadores, porque o povo não quer ouvir a linguagem do jogador. O povo quer ouvir a linguagem dele, torcedor. Para ouvir, ele não precisa ter um jogador para comentar. No bar, hoje ele fala porque o Mário Sérgio falou, o Rivelino falou - aliás, fala muita coisa errada, mas falou. Então, é o que eles comentam dentro do campo. Mas isso não interessa para o povo. O povo quer a linguagem dele. Porque ele não vai falar esse negócio... Se você chegar e fizer uma pesquisa em um barzinho e perguntar para os esportistas o que é a segunda bola, os caras não sabem. Só que ex-jogadores levaram a linguagem de dentro do campo. Isso, para o povo, não interessa. O povo quer a linguagem dele - povo. Então, naquela, nós às vezes já tínhamos um comentarista só para juiz. Então isso também não é novidade.

P/1 - Então nós estamos aí em 58, 59. Nesse período aí do grande time do Santos, você estava aí cobrindo...

R - Estava, graças da Deus.

P/1 - Privilégio, hein?

R - Privilégio. Eu fui um dos repórteres privilegiados. Quando o Pelé chegou, eu já estava aqui, eu já estava vivendo. Eu vi o Pelé nascer... Eu vi o Pelé antes, durante e depois.

P/1 - Você poderia falar um pouco desse período da chegada do Pelé? Ele chegou com essa bola toda?

R - Não, não, não, o Pelé chegou aqui... É até um fato histórico porque o Santos foi jogar em Bauru contra o Noroeste. Na preliminar, jogava um time de Bauru, que mais tarde nós viemos a saber que era o Baque. E a indicação que tinham feito para o Lula era um ponta-esquerda, um loirinho que era ponta-esquerda. E o falecido Roma, o Lula, a diretoria do Santos, assistindo a preliminar, eles falaram: "Pô, o loirinho ponta-esquerda." O Lula falou para eles: "Tsc, tsc. Eu quero aquele crioulinho."; "Ah, mas não fez nada."; "Mas eu quero aquele crioulinho." Aí voltaram, não veio nem o loirinho nem o crioulinho. Mas o Lula tanto falou aqui que aí entraram em contato, e o Waldemar de Brito trouxe o Pelé. O Pelé, quando veio para cá, era um garoto franzino, começou a jogar nas equipes menores do Santos. Inclusive até pênalti perdeu contra o Jabaquara, lá. Não era nada disso. Nunca ninguém jamais imaginou que ele fosse ser o que ele chegou a ser. O próprio futebol dele, como garoto, era como todo bom garoto: hábil, sabe driblar, sabe jogar bem, um bom jogador. Mas nada além de um bom jogador. Depois é que estourou.

P/1 - Ele estoura mais ou menos em que ano?

R - Ele estourou em 58.

P/1 - Na Copa?

R - Ele já começou aqui. O Sílvio Pirilo viu ele jogando aqui na Vila Belmiro, viu ele jogando no time do Santos, por isso convocou. Ele já começou a despontar aqui no Santos, não foi na Seleção Brasileira. Como é que ele chegou à Seleção? Ele começou aqui. Não é isso que dizem: "Ah, foi na Seleção." Não foi, não. Ele começou aqui, já despontava, aí convocaram. Aí ele foi para a Seleção. Você vê, ele nem jogou as duas partidas e tal.

P/1 – O Vasconcelos quebrou a perna e ele começou a jogar, né?

R - Foi. O Vasconcelos, você pode considerar, esse foi outro monstro sagrado. Se o Vasconcelos tivesse a responsabilidade ou o profissionalismo que tinha, que teve o Pelé, e o apoio da mídia, você não tenha dúvida de que o Vasconcelos seria extraordinário, excepcional. Aliás, naquela época nós tínhamos... Era uma briga. O Santos teve o privilégio de ter dúvida para escalar o Coutinho ou o Pagão de centroavante. Tinha que jogar duas bolinhas para o alto, e a que caísse de pé era quem jogava. O Pagão tem uma responsabilidade extraordinariamente grande na formação futebolística do Pelé. Pagão criou o Pelé. Eu não sei se o Pelé sem o Pagão chegaria onde chegou, com todo o grande futebol que ele teve. Mas o Pagão, esse foi que nem o Nilton Santos. Esse aí foi uma enciclopédia. E ele fez o Pelé. É que o Pelé fazia gol, e gol é a alegria do futebol. É que ele marca mais, mas criar... Se você perguntar para mim, na minha modesta opinião, se o Pelé foi o maior jogador do Santos, eu vou dizer pra você que não. Foi o Antonio Fernandes, foi o Antoninho. Esse foi um monstro. Tanto que era chamado aqui pela gente de Dom Antonio. Esse foi um monstro, sabia tudo. Só que era um meia, então não fazia gol, era muito pouco. É pai do atual vice-presidente do Santos, o José Paulo. Mas o Antoninho foi um monstro.

P/1 - Nós estamos levantando dados sobre o Antoninho. Você poderia dizer para o público que não conheceu, não viu jogar, descrever um pouco o que era o Antoninho, o que ele representava?

R - O Antoninho, se deixasse, ele pegava a bola e escrevia Antonio no gramado. A bola, com ele, era um negócio fantástico. Ele era um jogador que não sabia, era como o Coutinho, maltratar a bola. O Antoninho nunca deu um chute violento, nunca. Ele não sabia o que era isso. Enquanto ele não limpasse o lance e não visualizasse um colega livre para receber a bola, ele segurava a bola. Ele era extraordinário. Ele era excepcional. O Antoninho foi fora de série. Outro aspecto que eu falo para ti do futebol: se você perguntar para um garoto... Não, um colega. Alguns até de rádio ou de televisão... Pergunta qual foi o ataque do Corinthians do ano passado. Ele já não sabe. Mas se você perguntar o ataque do Corinthians de 54, todo mundo vai te falar. Os ataques do Santos... Por quê? Porque naquela época as mudanças eram tão poucas que se perpetuavam. Quem é que não conheceu Cláudio, Luizinho, Baltazar, Rafael e Simão; Rafael e Souza? Quem é que não conheceu Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe? No Palmeiras: Lima, Aquiles, Liminha, Jair e Rodrigues? Isso marcava. Na Portuguesa de Desportos: Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simão. Marcava. Hoje, não.

P/1 – Ficava tempo nos times.

R - Ficavam, ficavam. Há uma crítica no Santos, de alguns mal informados que dizem o seguinte: "O Santos, na época de ouro, não construiu um estádio. Na época de ouro, patrimonialmente falando, o Santos poderia ser milionário." Só que o pessoal esquece de um detalhe: dois proveitos não cabem em um saco. Ou você mantinha aquele time e conquistava todos os títulos, ou você ia para o patrimônio, que nem fez o São Paulo. Construiu o Morumbi, mas quantos anos o São Paulo ficou sem conquistar nada? Quantos anos o São Paulo não conquistou nada? E quando foi conquistar, foi conquistar um Campeonato Paulista. O São Paulo veio "conquistar" um Campeonato Mundial agora, com o Telê, no Japão. E aquilo não é mais Campeonato Mundial, é Torneio Toyota, que eles transformaram em Campeonato Mundial. Campeonato Mundial fomos nós, que tínhamos que jogar aqui e lá no país do adversário, não em campo neutro. Veja bem, o Santos, para manter o Pelé, manter o Pepe, pra manter o Zito, Mengálvio, Dorval, você pensa que esse pessoal não teve convite? Claro que teve. O Pelé chegou uma vez e estava vendido para o Real Madrid. O Pepe Gordo, que era o procurador dele, foi lá, a pedido do Roma, e rasgou. Pediu para ler o contrato e rasgou na cara do Santiago Bernabeu, que era o presidente do Real Madrid, para o Pelé não ir. Mas, em compensação, o Santos teve que pagar. O Pelé está bem de vida... Hoje ele fala, por exemplo: "Ah, o jogador, na minha época, não ganhava." Ganhava, sim. Era tudo proporcional.

P/1 - Você poderia falar um pouco sobre isso? Porque hoje realmente tem essa história de que o jogador ganha muito e que nos anos 50, 60 ganhava pouco. Isso é verdade?

R - Veja bem, tudo é proporcional. Se eles ganhavam tão pouco assim, eu te pergunto, não pra você, mas pra aqueles que falam isso: o Pepe está muito bem de vida, e nunca saiu do Santos; o Zito está muito bem de vida, e nunca saiu do Santos; o Pelé está muito bem de vida, nunca saiu do Santos; o Gilmar jogou no Corinthians e jogou aqui; o Calvet parou de jogar, está em Porto Alegre. Enfim, citaríamos tantos jogadores. Tudo era proporcional. Hoje, os jogadores têm muito mais vantagem com a mídia. Hoje, o porquê Marcelinho chama a televisão, chama o câmera, e por trás daquilo ali tem o marketing. Eles vão comemorar na placa porque tem o marketing. Naquela época, não. A turma fazia o gol, não estava preocupada com dinheiro, estava preocupada em comemorar o gol. O soco no ar, que o Pelé dava, ele não estava preocupado se estava em frente à placa A, B ou C. O que ele queria que o povão todo estava gritando, cantando. Veja bem, tudo era proporcional. Eles eram bem pagos. Na época, um apartamento, eles compravam. Quem teve cabeça está vivendo bem, quem não teve... É como hoje. Quem tem cabeça vai ficar numa boa, quem não tem vai correr atrás da bola, não tem jeito, não adianta. Então tudo era proporcional. O Santos manteve aquele time durante 12 anos, não era só pelo prazer de ter. Eles também eram profissionais. Você veja o Pelé, a cada jogo do Santos lá fora, ganhava cinco mil dólares. Por cada jogo. Além do bicho e da diária. O Santos ganhava 30, cinco já era para ele e 25 era para o Santos. Pega isso aí e multiplica por 13 jogos, que às vezes o Santos fazia, 15 jogos. E não era um vez por ano. Não. Às vezes, ia aqui para as Américas no começo do ano, ia para a Europa no final. No intervalo arruma uma brecha. Tinha que buscar dinheiro para pagar esse pessoal. Tudo era proporcional. Agora, eles tiveram juízo, eles ficaram numa boa. Essa é a diferença. Também, na época, tiveram muitos que não tiveram juízo. No próprio Santos. Jogadores que também ganhavam pouco. Por exemplo: no Corinthians todo mundo ganha igual ao Marcelinho? Então pronto. Também tem os Índios lá que ganham muito pouco.

P/1 - É verdade. Aníbal, durante a campanha do bi-mundial, você acompanhou o Santos na Libertadores?

R - E como!

P/1 – Você poderia falar um pouquinho?

R - Aquilo ali foi um marco. O Lula tinha traçado a meta dele: era levar o Santos à conquista de um Campeonato Mundial. O Lula era persistente, ele não admitia. E nós tivemos uma caminhada realmente gloriosa. Para que você tenha uma idéia, nós jogamos aqui na Vila Belmiro. Nós fomos jogar em Montevidéu contra o Peñarol e nós empatamos lá. Quando fomos jogar aqui, foi o jogo mais longo da história do futebol mundial. Ele começou às 21 horas e terminou duas e meia da manhã. Aqui dentro da Vila Belmiro. Porque veio um juiz chileno, o Carlos Robles, e o Santos precisava ganhar do Peñarol aqui e liquidava a fatura. E o juiz começou a nos roubar tão vergonhosamente aqui dentro, que, no intervalo do jogo, ele desceu para o vestiário e a diretoria, alguns conselheiros foram lá e pressionaram o juiz de uma tal maneira... Pressionaram mesmo. Até esforço físico mesmo. Depois de uma hora e tanto, de tanto sofrer no vestiário, ele concordou em dar seqüência ao jogo. Porque ele não queria voltar para o segundo tempo. E nós iríamos perder a possibilidade de ser campeões sul-americanos pela primeira vez e abrindo para jogar contra o Benfica no Campeonato Mundial. Só que ele voltou para o campo, reuniu os jogadores do Santos em um canto e conversou. Reuniu os jogadores do Peñarol separadamente e também conversou. Depois nós viemos a descobrir, embora naquele momento o Ernani já tinha falado: "Será que ele falou a mesma coisa para os dois times?" E ele tinha falado para o pessoal do Peñarol: "Olha, vocês deixem o Santos ganhar, se não eu não saio vivo daqui. Mas na súmula vai constar: Santos 1, Peñarol 2." E nós voltamos. Foi até duas e meia da manhã o jogo. O Pagão fez o terceiro gol. Ganhamos por 3 a 2 aqui. Quando ele mandou a súmula para a Confederação Sul-americana, estava lá: Peñarol 2, Santos 1.

P/1 - Ele colocou como o resto foi amistoso.

R - Claro, ele estava pressionado. Aí a Confederação Sul-americana marcou em campo neutro o terceiro jogo, que foi na Argentina. Até na época o Ernani usava muito, quando o Santos jogava com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Edu, quando eles faziam o gol, o Ernani dizia muito: “Isso é en passant”, para você ver que certos tiques que hoje são usados em rádio antigamente já se usavam. Quando o Santos fazia gol, o Ernani gritava o gol, depois dizia assim: "Só dá crioulo se abraçando." (riso) Então, você vê que naquela época já existia. No placar, que era esse placar velho, todo de madeira, ele dizia: "Bota aí, garoto, no placar." Ele já usava isso. Então, eles marcaram esse terceiro jogo para a Argentina, no campo do Boca, em La Bombonera. Os crioulos se juntaram aqui e falaram: "Não! É a nossa vez." Aí fomos lá. Foi 3 a 0 em cima do Peñarol. O Santos foi campeão sul-americano. Depois foi com o Benfica aquela epopéia. No Maracanã foi duro ganhar do Benfica, mas no Estádio Nacional, lá em Lisboa, foi um negócio fantástico. Até a história do guarda... O guarda não aguentou, o policial não aguentou, o gol do Pelé ele não aguentou. Foi tão vibrante que ele riu e bateu palma. Ia fazer o quê? Embora na função dele. Aí fomos para o segundo, em 62, que nós não tínhamos Pelé, não tínhamos Zito. O Lula tinha mandado contratar o Almir Pernambuquinho. Quando ele veio para cá, ele era o grande nome, era o Pelé branco, na época era considerado Pelé Branco. Aí nós ganhamos do Milan aqui. Perdemos lá de 4 a 2, ganhamos aqui de 4 a 2. Um fato também inusitado: em pleno Maracanã, com mais de 100 mil torcedores, foi tão emocionante o estádio todo gritando "Santos-Brasil". O Santos deve muito ao carioca. Porque o que eles fizeram pelo Santos foi fantástico. Eles não gritavam só 'Santos' ou só 'Brasil'. Eles gritavam 'Santos-Brasil'. E o Milan fez 2 a 0 no primeiro tempo. Estava um desespero no vestiário do Santos. Nós precisávamos virar aquele jogo porque eles tinham ganhado da gente de 4 a 2 no Estádio San Ciro. Quis a divina providencia que, quando os times voltaram para o segundo tempo, arreou um toró, mais uma chuva tão grande, tão grande, que o Santos fez quatro gols. Só o Pepe fez dois de falta. O goleiro nem viu a cor da bola. Um chute de fora da área violento. A água ajudou muito. Até a chuva ajudou o Santos naquela noite memorável do Maracanã. O interessante é que foi chover no intervalo. Não choveu antes nem depois. Foi do intervalo até o final do jogo. Quando acabou o jogo, parou de chover. Fato que não tem explicação.

P/1 - E você estava presente naquele jogo?

R - Claro, claro. Eu acompanhei. Eu digo para todo mundo: "Eu fui um privilegiado de Deus. Eu nasci, comecei em rádio na época em que o Santos começou a crescer e o Brasil começou a crescer, ganhando sua primeira Copa do Mundo em 58." Porque até ali tinha sido só tentativa e não ganhamos nada. Então, isso são coincidências que marcaram muito. Eu tive o privilégio. Eu digo muito para essa garotada de hoje, inclusive o pessoal de rádio, eu digo muito: "Olha, o que eu vi vocês não vão ver nunca mais, infelizmente." Porque aquilo que esses jogadores fizeram... Aquela máquina do Santos... Aquilo tinha que ter tapes. O video-tape veio mais tarde. Naquela época era mais filmagem. A televisão começou muito tarde. Você vê que o maior gol da história do Pelé não tem. É só em filme. No jogo contra o Juventus, na Rua Javari. Infelizmente, foi o maior gol da vida dele. E você não tem como reproduzir, a não ser em filme.

P/2 - Você estava lá?

R - Eu era repórter da Atlântica.

P/2 - Você poderia descrever o gol?

R - A torcida que estava lá estava vaiando o Pelé. E ele fazia sinal para a torcida esperar. Quando foi no segundo tempo, o goleiro do Santos devolveu uma bola. Ele estava no meio do campo. A bola veio alta e o jogador do Juventus veio. Só que, quando ela chegou aqui, sem ela cair ele jogou ela por cima. Ele deu o chapéu no jogador do Juventus, mas comprido. Ele deu aqui e saiu correndo, e ela foi arreando lá. Quando ele saiu correndo, veio outro. Ele pegou, sem ela cair no chão, levantou pela segunda vez e pôs mais para a frente. Aí veio o terceiro, que era o Clóvis. Ele deu no terceiro. O goleiro saiu, ele fez igual no goleiro e fez 'pumba', dentro do gol.

P/1 - De cabeça.

R - Do meio do campo até o gol, ele deu três chapéus, sem a bola cair no chão. Aí ele estava sozinho com a rede. Se ele quisesse, entrava de bola e tudo. Foi o maior gol da vida dele. Ele fez aqui na Vila Belmiro, neste gol aqui do placar velho... O Gilmar devolveu a bola, ela veio aqui na entrada da área, e ele estava impedido e o juiz apitou. Ele pegou, assim de frente para o Gilmar - a bola veio de frente para ele -, quando o juiz apitou, que estava em impedimento, ele simplesmente segurou a bola aqui no pé, entre o pé e a canela, virou e entregou na mão do Gilmar. O estádio veio abaixo. Agora, quem faz isso hoje? O Marcelinho?

P/1 - E nesses mundiais, qual era a sua função?

R – Repórter, naquela época eu estava de repórter.

P/1 - Você era repórter de campo?

R - Eu fui para comentarista em 68. Até ali eu fui repórter. Eu costumo dizer, quando me perguntam, para todo mundo eu digo: “Em rádio, eu só não fui tesoureiro e diretor!” (risos) O resto eu fui tudo em rádio. Teve uma época na Rádio Atlântica em que eu era discotecário, redator dos programas de esportes, repórter, disc-jóquei. Hoje eles não falam disc-jóquei, era quem apresentava programas de música. Hoje eles usam outro termo, mas é a mesma coisa. Fazia um programa policial e fazia teatro.

P/1 - Teatro também?

R - Naquela época não tinha jeito. Você tinha que ser rádio. Eu entrava na rádio às oito horas da manhã e saia à meia-noite. Todo dia. Eu vou te contar um fato que não foi na Atlântica, foi na Rádio Universal, já que você está gravando, só para você se divertir. Nós estávamos falando do problema da competência e da capacidade de hoje, diferente de antigamente. Nós estávamos fazendo um teatro, um peça, e era por capítulos, era ao vivo, não era nada gravado, não, só que você estava lendo, claro. E tinha um determinado momento em que eu estava procurando um cidadão lá para matá-lo. E eu entrei em uma sala, ele estava na sala, eu falei: "Finalmente, encontrei. Agora eu vou te matar."; "Não, não, não!" Eu ia falar assim: "Não adianta falar 'não', é já." E esse 'já' era o sinal para o contra-regra dar os tiros. E tinha uma governanta com uma bandeja cheia de copos, e quando ela ouvisse o tiro, ela ia dar um grito, 'ai', ia largar a bandeja e quebrar os copos. Só que na hora, ensaiamos tudo, ficou tudo ensaiado. Tudo muito bonitinho, saiu perfeito os ensaios. Várias vezes nós ensaiamos. Quando foi na hora do programa, de eu falar isso, o cara falou 'não, não faça isso', eu falei 'é já'. Quando eu falei é já, o contra-regra se distraiu e não deu os dois tiros. A governanta, preocupada com o já, largou os copos, quebrou todos os copos. Aí eu quis salvar a cena, peguei e falei assim: "Maldito revólver que falhou, mas esta faca não falha e é já", e o contra-regra: pá, pá. (risos) Esses eram os improvisos de antigamente. Até eu já consegui isso, vê bem: uma faca deu dois tiros. E outros casos. Para você sentir o que era a dificuldade antigamente. Eu não tinha volta, não tinha como consertar. Como repórter, nossa! Já fizemos tanta coisa. O repórter podia entrar no campo com o juiz. Hoje, não. Hoje proibiram tudo. A própria função do repórter perdeu a sua condição maior, que é entrevistar o jogador no campo. Atrapalha? Atrapalha, mas era a função do repórter. Fui narrador, também. Eu fui tudo em rádio. Só não fui tesoureiro e diretor.

P/1 - Atualmente você faz o quê?

R - No rádio?

P/1 - É.

R - No rádio eu comento. Sou comentarista da Rádio Cacique.

P/1 - Das transmissões esportivas?

R - Comento no estúdio e comento os jogos. Hoje a minha função é essa. Hoje eu estou mais acomodado. Só faço essa também. Não quero fazer mais nada em termos de rádio.

P/1 - Já fez muita coisa.

R - Ah, já, já. Olha, hoje eu posso falar, não só em termos de Santos, mas em termos também de São Paulo - alguma coisa eu ouço do Rio, e quando a gente viaja aí pelos outros estados, a mania do radialista, quando você viaja, seja para uma cidade do interior ou seja para um estado, quando você chega, você quer ouvir as rádios locais. Isso não tem jeito, é uma doença danada! Então você vai para ouvir a qualidade, se tem alguma novidade e tal. Veja bem, eu te digo com a maior sinceridade do mundo, entre Santos, São Paulo, interior: eu tive o privilégio de ver o Santos nascer, o Santos crescer, conquistar tudo, coincidentemente comecei em rádio quando a Seleção Brasileira começou a ganhar. E vou aumentar isso: eu tive o privilégio de trabalhar em uma época dos maiores nomes do rádio do Brasil. Gente que você ouvia e aprendia, mas você também tinha interesse. Não bastava ter um grande professor, você tinha que ser um bom aluno também. Se eu não fosse um bom aluno, não adiantava nada. Hoje, lamentavelmente, não existem bons alunos. Hoje, a garotada que começa no rádio é para fazer o seguinte: avisa os vizinhos que ele vai falar, avisa a família toda que ele vai falar, e normalmente ele fala para as cocotinhas dele. Então, normalmente, ele só agrada aquilo ali, não agrada o resto. Se você, por exemplo, por mais que você procure em Santos, todo mundo vai falar: "O Aníbal? O Aníbal é da maior credibilidade. O que ele fala..." E eu sempre fui assim. Eu não mudo a minha opinião para agradar este ou aquele. Não gostou de mim? Paciência! É um outro problema. Mas eu mantenho. Olha, nós tivemos brigas homéricas. Uma vez... Eu estava te contando fora que nós ganhamos aqui do Botafogo de 11 a 0, e depois nós ganhamos do Corinthians, quando o Brandão foi para lá, de 7 a 4. Fizemos dezoito gols em uma semana em cima do Oswaldo Brandão. O Santos manteve um tabu de onze anos que não perdia para o Corinthians. Só que quando o Santos completou o oitavo ano, havia um certo excesso de confiança dos jogadores do Santos, até cansados, já: "Pô, oito anos? A gente não perde para os homens." Eles sofriam na nossa mão que nem o Diabo. E o Lula pressentiu que a turma não estava a fim de chegar e correr. O time completo: Pelé, Pepe, todo mundo. Não ia pôr o time reserva, não, era o time completo. Mas ele pressentiu que a turma não estava a fim de ganhar do Corinthians. "Deixa eles ganharem um, depois a gente recomeça tudo de novo." Ia ter mais graça. Mas o Lula não admitia perder para o Brandão. Então o que é nós fizemos? Nós precisávamos mexer com o brio dos jogadores do Santos. É o que eu te falei do rádio participativo. Então nós tínhamos lá na Rádio Atlântica um operador baixinho que ele lembrava muito o Luizinho, o Pequeno Polegar, que era meia do Corinthians, um baixinho. Então, que nós fizemos? Nós montamos uma entrevista para o Luizinho, que era o operador, responder às nossas perguntas. E o Lula veio para a concentração do Santos, que era aqui na Vila Belmiro, em cima do vestiário, ao meio-dia, e ligou o rádio bem alto. Mas o Lula sabia, e os jogadores não sabiam. A turma estava jogando snooker, jogando carteado, e tal. Nós colocamos a entrevista ao meio-dia. Uma das perguntas, que eu me lembro era: "Escuta, Luizinho, o Pelé vem aí, está se tornando o Rei do Futebol... "Aí ele: "Que nada! O Pelé já acabou, já deu o que tinha que dar." Ah, mas tem o Zito, que é o grande capitão"; "O Zito? Quando ele corre, as varizes já caem no gramado." E os caras na concentração, estão lá jogando snooker, jogando carteado. Quando eles ouviram a entrevista, ah... "Esse cara vai ver amanhã." Então nós conseguimos motivar os jogadores do Santos. E foi interessante porque, no Pacaembu - não existia o Morumbi -, quando os times entraram em campo, o Luizinho foi cumprimentar o Pelé, e o Pelé falou uma série de palavrões para o Luizinho: "Seu canalha, e tal... Você falou. Eu vou te mostrar se eu estou acabado." Aí vem o Zito, foi cumprimentar o Zito: "Ah, que minhas varizes estão caindo..."; "Pô, o que foi? Eu não fiz nada, não fiz nada." Quando foi no dia seguinte, o Diário da Noite publicou nas "20 Notícias" do Antonio Gusman que a Rádio Atlântica tinha forjado uma entrevista. Mas, em compensação, nós tínhamos ganhado de 7 a 4. Até hoje estou esperando o resultado do processo. O Ernani já morreu, ninguém sabe como ficou, eu estou aqui vivo, nunca fui intimado para nada. Mas o detalhe é que nós ganhamos o jogo. Então, entenda o que eu quero dizer por 'rádio participativo'. Fora das quatro linhas, nós vestíamos a camisa do Santos. Nada de desonestidade. Tudo, tudo na vida tem que ter uma tática. Para tudo na vida. Para vender, para comprar. Às vezes você vai comprar uma coisa, você não fica usando uma tática? Menos preço... Às vezes você diz assim: "Na outra loja está mais barato", e é mentira, você nem foi lá. Então, tudo na vida tem uma tática. E nós usamos essa tática. Olha, nós usamos muitas, se você quer saber. Muitas, muitas, muitas. Essas realmente marcaram.

P/1 - Aníbal, nós estamos chegando ao fim do primeiro tempo da nossa entrevista, e a gente tem pedido a todos os nossos entrevistados para nos ajudar a rastrear a memória do Santos, da seguinte maneira: indicando pessoas que poderiam ser entrevistadas e dizendo locais onde a gente poderia conseguir materiais preciosos sobre o Santos, principalmente no seu caso, fitas de áudio relativas a isso.

R - Veja bem, eu acho que vocês já estão inclusive falando com Sérgio Bacará, que é o filho do Ernani. Eu posso dizer para vocês que ele tem um acervo muito grande. Pouco tempo antes de a mãe dele falecer, eu estive com ela e ela me cedeu algumas fitas. Eu vou procurar também, em uma outra oportunidade, trazer para vocês. O que eu puder montar, eu já vou montando para vocês. Inclusive esses 11 a 0 em cima do Botafogo - isso eu já tenho montado em fita cassete, então é fácil passar para um outra -, onde o Pelé fez oito gols. Detalhes assim que vocês possam ter um acervo realmente muito grande. A Rádio Atlântica tinha um acervo extraordinário, mas depois que ela foi vendida, jogaram tudo fora. Porque esse é um país danado para não ter memória. E eu louvo essa iniciativa de vocês. Eu acho isso da maior validade para a posteridade. Eu acho que tudo o que foi feito nesta vida tem que ser guardado. Não importa se foi feito tudo bem feito ou mal feito, não importa, porque às vezes até o mal feito serve para mostrar para você fazer o bem feito. Então eu acho que o Sérgio Bacará é um deles. Esse é importante. Outro dia eu fui homenageado no conselho do Santos, e foi homenageado também o filho do Arnaldo Silveira, que foi o primeiro jogador do Santos convocado para a Seleção Brasileira, em 1919. Ele deve ter muita coisa.

P/1 - O sobrinho neto do Arnaldo é quem cuida da comunicação do projeto. Então a família já está levantando coisas.

R - E o Chico, o Francisco Fernandes, que vocês têm na mão, esse tem tudo. Agora, tem vários conselheiros antigos do Santos. O Julio Teixeira Nunes, por exemplo, é um.

P/1 - Desses que teriam um perfil mais de colecionador, quem seria?

R - O Julio Teixeira Nunes, eu acho. Inclusive é até um detalhe interessante, porque o Julio veio do Rio para cá e sempre foi Fluminense. E depois ele aprendeu a gostar do Santos. E a gente até muitas vezes brincava com ele dizendo assim: "A gente nunca sabe se ele mudou, se ele continua sendo Fluminense", mas na base da brincadeira. O Julio sabe muita coisa. E tem sobrinhos e netos do Urbano Caldeira. Porque o Urbano Caldeira não foi fundador do Santos, ele não fundou o Santos. O Urbano Caldeira ajudou a Vila Belmiro, por isso é 'Estádio Urbano Caldeira', mas não tem nada a ver com a fundação do Santos. O pessoal pensa que ele foi um dos fundadores. Não foi não. Não tem nada a ver com a fundação do Santos. E o Santos sabe... Ainda agora recentemente homenagearam a família do Urbano Caldeira porque todo aniversário do Santos ele é homenageado. E veio parece uma neta ou um neto dele veio aí. Tem o neto do Modesto Roma. Eu não posso te afiançar se ele tem muita coisa, mas ele faz parte do conselho do Santos. E eu tenho a impressão de que ele também deve ter muita coisa na casa dele. Além da Tribuna, é claro.

P/1 - É, e tem os arquivos oficiais.

R - Nos arquivos da Tribuna eu acho que ali você pega muita coisa. O Rafael, que eu já falei para você, que é fotógrafo. Eu acho que o Rafael tem muita coisa em casa, em termos de fotografia. Eu acho. Porque o arquivo da “A Tribuna” é muito vasto. Se você pegar o arquivo da época, você vai ver que tem coisas ali...

P/1 - A Tribuna tem a idade do futebol.

R - Ah, sim. E A Tribuna acompanhava o Santos. “A Gazeta Esportiva”... Mas “A Tribuna”, não tinha jeito. Toda excursão tinha sempre um representante da “A Tribuna”. Sempre. E muitas vezes ia só um fotógrafo. E muitas vezes ele fazia o papel de jornalista. Você vê como a imprensa era antigamente. Não era que nem hoje, que vão três, quatro. Então vocês vão pegar muita coisa ali também.

P/1 - Então, para finalizar, eu queria que você dissesse como você se sente entrando para o Museu do Santos, contando a sua história?

R - Olha, eu fui homenageado pelo Conselho Deliberativo do Santos recentemente, pelos meus 40 anos de rádio, e eu disse que talvez tenha sido a maior homenagem que eu poderia receber, porque eu entrei para a história do Santos. Eu vou embora, mas o Santos não vai acabar. Eu vou acabar, mas o Santos não vai acabar. Os que vierem, na posteridade, vão ver que consta nos anais da história do Santos a minha modesta passagem. Hoje eu falo a mesma coisa. Hoje aqui, eu acho que não é resgatando o meu passado, mas eu acho que está se resgatando a perpetuação de uma história das mais lindas e das mais bonitas, que é a história do Santos. Eu acho que se você for a fundo na história do Santos, e você não for Santos, você vai passar a ser Santos. Porque isso aqui sempre foi com luta, com sacrifício, com brigas. Foram feitas coisas extraordinárias, sensacionais. Para encerrar, um detalhezinho. Só para você ver como a história do Santos é tão maravilhosas nas suas conquistas. Tinha jogos aqui, à noite, que tinha um refletor, que era manuseado por um bombeiro. E quando o Santos atacava, ele punha o holofote na cara do goleiro, e nós fazíamos os gols. (risos) Então, você veja que a história do Santos é linda, é maravilhosa. Mas ela é pitoresca, é agradável. Hoje ela é humorística, mas na época a gente tinha medo: "Será que vão descobrir? O que é que vai acontecer?" Então, veja bem, eu acho que essa perpetuação da vida do Santos, e eu participando desta, para mim é um triunfo. Eu posso morrer amanhã, sossegado, tranqüilo. Acho até que o outro mundo está melhor do que o nosso, porque ele está bem reforçado. Os talentos estão indo embora todos, e o que está ficando aqui são uns poucos talentos. Então eu acho que lá do outro lado, nós estamos mais confortável. E eu estou remoçando porque eu estou vivendo... Vocês me trouxeram à minha juventude, aos meus 13 anos, quando eu comecei a freqüentar a Vila Belmiro, e aos meus 40 anos, que eu comecei em rádio. Quer dizer, eu comecei a contar fatos, hoje, aqui, que eu realmente não contava há muito tempo. Então, por isso eu me sinto realmente muito feliz, agradecido, e inteiramente à disposição de vocês.

P/1 - Tá, então a gente te agradece também, Aníbal. Muito obrigado pelo brilhante depoimento. E esperamos fazer um segundo tempo, e quem sabe uma prorrogação porque você tem muita história para contar.

R - Sem refletor no meu rosto.