Museu da Pessoa

Quando linhas, medidas e ideias constroem sonhos

autoria: Museu da Pessoa personagem: Marina Fontes Luizete

ENTREVISTA DE MARINA FONTES LUIZETE
ENTREVISTADA POR DANILO EIJI LOPES
RIBEIRÃO PRETO, 5 DE JUNHO DE 2019
PROJETO VEDACIT
ENTREVISTA NÚMERO PCSH_HV777
TRANSCRITA POR SELMA PAIVA


P/1 – Marina, bom dia!


R – Bom dia!
P/1 – Obrigada por ter vindo dar sua entrevista pra gente!


R – Obrigada vocês!
P/1 – Marina, primeiro, pra nossa identificação, eu queria que você falasse seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Marina, sou de Catanduva e nasci dia 17 do um de 92.
P/1 – Maravilha! Bom, antes também de ir pra sua história, pessoalmente, eu queria falar um pouco sobre a história da sua família. Se você conhece a história dos seus avós. Se você conheceu. Enfim, você poderia contar um pouco pra gente?
R – É, eu conheci as histórias dos meus avós, né? Vieram de uma família muito simples, os dois lados: do meu pai e da minha mãe. Nasceram lá em Catanduva.
P/1 – Eles são de lá?


R – São de Catanduva.
P/1 – Conta um pouco o lado paterno, sei lá.
R – O lado paterno eles moraram em um sítio, tal, vieram desde muito simples, depois vieram pra cidade e começaram a vida. Aí meu pai começou, assim, bem por baixo, sempre muito esforçado, buscando, né, fazer a vida dele, ter uma boa qualidade de vida. Os meus avós também. E o lado da minha mãe a mesma coisa: moravam no sítio, assim, e depois foram pra Catanduva. Foram pra cidade. Trabalharam, todos, também, muito simples e começaram, né, a vida.
P/1 – Você sabe por que eles foram, esse movimento do sítio para...
R – Por causa de trabalho, né, que é mais fácil. Era mais fácil a locomoção, né, já está na cidade. E a parte do meu avô materno, da minha família materna, eles vendiam leite, né, faziam vários trabalhos, assim e, depois de um tempo, meu avô começou na construção. Que começou, ele e minha avó, realmente, construindo e é quando eu acompanhava, né, levava café da tarde pra eles, para os pedreiros e para o meu avô, junto com minha avó e foi quando iniciou o meu interesse, assim, pela obra.


P/1 – Que era indo, levando, vendo e acompanhando...
R – É, acompanhando tudo.




P/1 – Entendi. Mas eles saíram, os seus avós, do sítio, pra ir pra fazenda e começarem a empreender na construção? Mas o que foi, por exemplo?


R – É. Saíram, foram pra cidade, vendiam leite e tal. Meu avô era leiteiro também. Caminhoneiro, meu avô também. E depois, começou, aos poucos, a construir, né, fazer as casas deles pra empreender e, aos poucos, foram fazendo assim.
P/1 – Uma casa, vendeu, aí teve outra, depois duas...


R – É. Eles iam fazendo assim: alugando. Ia fazendo o pezinho de meia deles, né? E eu estava sempre junto. E que, aos poucos, fui me interessando. E é uma família bem unida, a gente sempre se reúne, né, de fim de semana lá na casa da minha avó. Hoje em dia eu não tenho mais o meu avô e a gente se reúne na casa da minha avó. E o meu lado paterno, né, que minha avó também foi embora, faleceu e ficou meu avô, também sempre muito esforçado, sempre alegre, passando coisa boa pra gente. Então, é bem bacana, assim.
P/1 – Você lembra de um causo com seus avós, assim? Qual que é a memória que vem primeiro, assim, quando você fala, quando você lembra dos seus avós, você lembra de que, assim?
R – A parte do meu pai eu lembro sempre daquela energia boa, de eu chegando na casa deles, e a minha avó sempre muito alegre de ver a gente, que ela era paraplégica, foi perdendo os movimentos conforme o tempo. Então, ela sempre ficava muito feliz em ver a gente. E meu avô sempre muito alegre, com uma boa auto estima. E do lado da minha mãe eu sempre lembro disso: da gente, assim, em construção, da gente também em churrasco em família, que é bem bacana.
P/1 – Legal. E seus pais? Seu pai, sua mãe. Conta um pouco.
R – Minha mãe é professora, né, deu aula por muito tempo e ela é muito criativa. Mexe com biscuit, faz artesanato de todo tipo, bem bacana. E meu pai é contador. Também sempre muito esforçado, do jeito dele, as coisas têm que ser todas muito certinhas, que é o que ele passou pra gente, né, com o decorrer da vida, a infância, assim.
P/1 - Você sabe como eles se conheceram?
R – Diz que foi lá no Centro da cidade, lá em Catanduva. Que o pessoal saía pra paquerar lá. Aí minha mãe e ele estavam lá e se conheceram.
P/1 – Na praça, ali?
R – Diz que foram nas lojas. Porque lá embaixo tinha a praça e seguiam as lojas, né e o pessoal ficava ali, naquela rua, assim, que é a Rua Brasil, uma das principais de Catanduva.
P/1 – Entendi. Você não pegou isso: o pessoal da praça?
R – Não. Eu vim depois. (risos)
P/1 – Já tinha acabado essa tradição?
R – Já.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Eu tenho uma irmã. Mais velha. A Milena.
P/1 – Foi pra construção civil?
R – Não. Nada a ver. (risos) Ela foi pra área da Química, né? Fez mestrado e doutorado. E segue essa parte. Segue a área acadêmica.
P/1 – E Catanduva? Infância. Vamos lá. Escola, por exemplo.
R – A escola eu estudei a vida inteira no colégio de freiras e era muito bacana. Sempre, assim, tudo envolvia religião e foi muito bom isso na nossa educação porque escola de freira você entra, você já reza. Você tem a aula de religião, tudo que é voltado: Dia das Mães, a missa das mães. Então, é bem bacana isso. E a gente via freira andando pelo colégio, era bem bacana. Estudei a vida inteira lá.
P/1 – Bons professores?
R – Bons professores, um pessoal bem acolhedor, porque todo mundo ali, os funcionários sabiam os nossos nomes, conheciam os nossos pais, porque a vida inteira ali, né? A maioria da minha turma de escola a gente conheceu tudo pequenininho, até ficar mais velho, até hoje tem contato.
P/1 – Seus pais também estudaram? Sua mãe também estudou?
R – Não.
P/1 – Mas eles tinham uma formação religiosa, também?
R – Tinham. Meu pai e minha mãe sempre levavam a gente pra igreja, batizou, crismou, Primeira Comunhão, tudo certinho.
P/1 – Me conta alguma história da escola, dessa idade, assim.




R – Olha, tenho várias.
P/1 – Escolhe aquela assim: “Um dia...”
R – As histórias mais legais, assim... óbvio que teve, né, todo esse tempo, mas no final do terceiro colegial, o segundo, a gente fazia café da manhã, a gente falava: cada um levava uma coisa e fazia lá na escola, só que aí a gente não esperava mais o intervalo, ficou uma coisa meio preguiçosa, ia matando todas as aulas fazendo café da manhã. (risos) E os professores, como gostavam muito da gente, se envolviam, participavam. Então, era um pessoal muito unido. E é uma coisa que até, depois que passou, quem estudou ali no colégio, é o Colégio Nossa Senhora do Calvário, né, a maioria do pessoal sonha que está lá, passa de lá e sente saudade. Tinha as festas juninas, tudo muito acolhedor, tudo muito junto, né? Uma escola que eu gostei muito de estudar.
P/1 – E tinha essa questão... eu não sei, eu fico imaginando coisa rígida, assim. Tinha isso? Uma rigidez, uma coisa que tem sempre alguém que é contra ali, né?
R – Não muito. Era bem... como fala?... descontraído, assim. Não tinha tanta rigidez, não. Mas tinha os horários certos. Você tinha que entrar, se você não chegou pra primeira aula, você só ia entrar pra segunda e ficava lá fora esperando. Era bem assim. Só que, como meu pai sempre foi muito certinho com a gente, minha mãe também, a gente seguia tudo correto. Era mais questão de uniforme, as regras, né? Mas não era tão assim, não. E era um colégio de freiras, mas estudavam meninos e meninas. Foi bem bacana.
P/1 – E lembra de algum causo? Você falou que fez teatro. Foi na escola?
R – Foi na escola.


P/1 – E aí, como que é?








R – Foi bem bacana. Lá agora eu acho que parou de dar aula nessa escola. O Carlinhos Rodrigues dava aula pra gente na escola de teatro e ele ensinava muito, também, sobre a vida, né, sobre a leveza das coisas e abordava, também, nas aulas, sobre o cotidiano, as coisas da adolescência, né? Então, foi bem bacana pra gente se soltar, pra gente dar valor pra algumas coisas. Ele foi bem bacana também na formação, ali.
P/1 – Vocês apresentavam?
R – A gente fez apresentações na escola. Teve parte de...
P/1 – Você lembra o tema? O que era?


R – Eu lembro que foi do Dia das Mães. Aí teve a parte de poesia também. Que, tirando o teatro, também sempre tinha apresentações, né? Mas com ele eu não lembro ao certo uma apresentação, mas das aulas, em si, que era de segunda-feira, que a gente juntava. Era bem bacana.
P/1 – Qual outra disciplina que você gostava, que se interessava?
R – Eu gostava muito de História, né, em saber das coisas. Gostava muito. E também, assim, da parte de religião, eu acho que acalmava a gente. Ter aula de religião, ir pra capela, era uma coisa que interessava e fazia bem pra gente ali. Teve uma época também que a gente fazia doação em uma creche que fica na escola, que acho que faz parte da escola ao lado, que também é uma escola de freiras, que era tudo integrado e que a gente ia lá, conversava com as crianças, passava umas horas lá, que eram crianças carentes. Então, era bem bacana.
P/1 – E festa, essas coisas da adolescência? Como lidavam ali?
R – Tinha as festas juninas, né? E, no final, no segundo, terceiro colegial, a gente fez bastante festa na casa de um menino lá que morava ali perto e tinha um fundo bem bacana. Então, a gente se juntava, participava, era bem legal.
P/1 – E fora da escola, o que você fazia? O que você lembra da adolescência? Como foi? Você foi aquela estudiosa? Praticava esporte?
R – Eu estudava bastante. Gostava bastante de teatro. Também tinha a parte que eu fazia curso: kumon, inglês, que era tudo perto de casa, né? E tinha também o clube de tênis lá, que tem até hoje, que é um clube bem tradicional e então tinha aula de natação, aula de dança e o pessoal se reunia bastante lá. Era bem bacana. O pessoal se conhecia bastante ali porque era cada um de uma escola, né? Aí cada um se conhecia ali e juntava, fazia amizade, fazia turma. Era bem legal.
P/1 – Você continua indo na igreja, continua sendo religiosa?
R – Hoje em dia eu vou em um centro espírita. Eu comecei a ir no centro espírita e não parei. Só que eu tenho, ainda, na minha cabeça, todas as músicas de igreja, essas coisas que ficam muito, né? Mas eu frequento mais o centro espírita, hoje em dia.
P/1 – E como foi o primeiro dia? Por que você foi parar no centro espírita?












R – Um período no cursinho porque eu saí do colegião e fui pra um cursinho, que eu fiz lá em Catanduva.
P/1 – Você saiu do Nossa Senhora?
R – É. Saí do Colégio Nossa Senhora do Calvário e fui fazer um cursinho COC, que é um cursinho que tem lá em Catanduva e é um período, assim, de incertezas. Que a gente não sabe muito o que vai ser da gente, o que a gente vai estudar. Aí minha tia falou: “Marina, vamos no centro espírita. Vai ser legal pra você”. Aí eu comecei a ir e comecei a gostar muito da religião também. Me identifiquei, participei do curso de jovens que tem lá, né, na época e foi bem bacana.
P/1 – Daí nunca mais foi... (risos)
R – Eu gosto. Raramente eu vou. Só que eu, como hoje em dia, com essa vida corrida que a gente tem, não dá pra ir nos dois. Sinto falta, às vezes, de ir na missa, mas eu frequento mais o centro espírita.
P/1 – Eu não conheço nada. Fala pra mim como é. Você lembra seu primeiro dia ali?
R – Não. No centro espírita?
P/1 – É, o primeiro dia que você foi com a sua tia. Você se lembra?
R – Eu lembro. Teve música antes de começar a palestra. Foi bem legal. Eu me senti bem. Eu lembro que ela e minha mãe foram juntas e foi bem bacana a experiência. Tanto que até hoje eu vou nele, às vezes. Só que como ele é lá em Catanduva, eu frequento mais os daqui.
P/1 – Terminado o colégio, você disse que foi para o COC. Você estava querendo prestar o quê? Você falou que tinha incerteza, mas estava pensando no quê? Conta um pouco esse período da sua vida.
R – Eu, desde pequena, desde pequenininha, eu falo que eu queria odonto. Só que, ao mesmo tempo, eu entrava em todos os lugares, eu ficava observando muito o que podia fazer, o que podia tirar, o que podia pôr. O espaço em si. E aí eu vi que não era minha área odonto. Embora eu goste muito, até hoje pesquiso sobre, gosto muito. Só que aí eu começo a ver, assusto um pouco e paro, né, porque é tudo muito exposto, não é muito minha área. Aí eu comecei a ver Arquitetura, fiz um teste vocacional e a moça viu que eu gostava muito de desenhar e pensar em ambientes e, nisso, saiu também Arquitetura como uma das possibilidades. E eu comecei a pesquisar, falei com arquitetos, pesquisei escolas e comecei a gostar muito. Aí foi que eu comecei a prestar Arquitetura e, no cursinho, tem um professor, o Fernandinho, que é daqui de Ribeirão e eu falei: “Que faculdade você me indica, que é muito boa, né?”. Aí ele falou do Moura Lacerda, aqui de Ribeirão e foi aí que eu comecei a pesquisar sobre Ribeirão, sobre a faculdade, conversar com os alunos e aí que eu decidi vir pra cá.
P/1 – Conversar com os alunos? Foi contato de um professor que te indicou em Ribeirão e como você fez esse contato? Você veio pra cá?
R – Um contato de um professor que me indicou aqui. Na época era Orkut, né?
P/1 – Foi pelo Orkut?
R – Aí eu vi os alunos e fui conversar com eles.
P/1 – Procurou na rede?
R – É. E eles começaram a me falar como era a faculdade, como funcionava e eu me interessei.
P/1 – E isso estando em Catanduva, fazendo cursinho?
R – Isso.


P/1 – Seus pais...
R – A minha mãe, a primeira vez que ela me trouxe aqui, que ela me levou no campus, ela viu que o campus era longe, tudo e falou: “Marina, faz mais um ano de cursinho ou vai estudar com a sua irmã lá em Araraquara”. Eu falei: “Não, mãe, aqui que eu quero ficar e eu não vou fazer mais um ano de cursinho”. Aí deu tudo certo, eu comecei a morar aqui no ano seguinte, né, iniciei Arquitetura e acabei ficando até hoje.
P/1 – Começou morando em república?
R – Eu morava, eu e mais duas meninas, depois fui morar com mais uma moça e depois, hoje em dia, eu moro sozinha.
P/1 – Independente.
R – Isso.
P/1 – Me conta esse comecinho de Ribeirão. Chegou, lembra do primeiro dia? Como foi isso aqui?
R – Eu lembro.
P/1 – O que você achou? O que você fez nesse dia? Conta pra gente.
R – O dia que eu vim aqui, no dia anterior, né? Não, digamos que no dia que eu vim aqui, eu estava lá em Catanduva e vim pra cá. Eu chorei. Porque eu falei: “Mãe, um monte de coisa nova. Eu, lá, como vai ser?”. A gente fica muito apreensiva. Aí eu vim, depois passou, eles foram embora, passou, no outro dia já teve o trote na faculdade, um pessoal bacana, acolhedor, né? A gente se divertiu, aí já começou a sair, aí a faculdade também muito interessante, né? E as coisas foram andando, caminhando.
P/1 – Integral?
R – Não. Era só de manhã.
P/1 - Você conseguia trabalhar junto? Precisava? Os pais ajudavam? Como foi?
R – Eu trabalhei, né, com estágio, eu fiz alguns estágios. Teve uma época que eu vendia cupcake também. Fazia e vendia. E, na faculdade, eu estagiei. E em alguns períodos de férias, que eu fui pra Catanduva, eu fiz estágio lá também, com uma arquiteta lá, a Ariana Basto, que foi muito bom pra mim também. Em épocas de férias ficava lá o dia inteiro com ela, aprendia muito, visitava obra e aqui também fiz alguns estágios.
P/1 – Você lembra de alguma dessas experiências que você queria relatar pra gente, dos estágios, que tenha sido marcantes? Você falou que visitou obra e foi importante. Você consegue contar uma? O lugar que foi, como foi?
R – Eu acompanhei bastante uma obra nesses períodos de férias. Uma obra bem grande dela, que foi bem bacana. Pra eu ver, realmente, ela...
P/1 – Qual?
R – Lá em Catanduva.






P/1 – Mas era o quê?
R – Era uma residência. E é muito bonito. Eu a acompanhei, assim, o andamento dela, depois os móveis planejados, tudo. Foi bem bacana. E foi quando eu também comecei a trabalhar com interiores. Que foi legal também. Também fiz estágio aqui com mais duas arquitetas: a Letícia Mattaraia e a Simone Pedreschi, que eu fiquei um tempo lá. E foi bem bacana pra minha formação.
P/1 – O que você fazia, como estagiária?


R – Eu fazia planta de prefeitura, eu fazia 3D de fachada, 3D de interiores. Ficava lá também, a gente acaba atendendo algum cliente, acaba participando dos trâmites, né, do que acontece, realmente, no escritório. E foi bem bacana.
P/1 - Você se formou com Arquitetura. Conta um pouco desse mercado. Conta um pouco do seu trabalho, por exemplo.
R – Hoje em dia eu trabalho muito com interiores, que é bem bacana você...
P/1 – Explica o que é o trabalho de interiores.
R – O arquiteto de interiores, a gente mexe dentro do ambiente, com tudo. Desde o ambiente pequeno, médio, grande, com tudo que o morador ou o comerciante vai precisar ali. Então, hoje em dia tem muito apartamento pequeno, né? Então, tudo tem que ser muito funcional. Então, eu desenho os móveis, eu acompanho o cliente desde o início, às vezes, da compra do imóvel e eu desenho tudo pra ele ficar bem ali, tudo que vai acomodá-lo ali. Faz os móveis planejados, tudo desenhado pra ele, as cores que vão... você vê a personalidade do cliente, vê a cor, tudo que vai mexer com a sensação dele ali no ambiente e tudo que vai ser funcional no dia a dia. Então, eu já peguei pra fazer aqui em Ribeirão reforma comercial, reforma residencial, fachadas já também, interiores de lojas, interiores de casas. É um trabalho bem completo, assim, e que, no final, o cliente não consegue enxergar isso, como ele faria e depois que você faz ele fala: “Nossa, é o meu lugar! Era o que eu estava pensando e não sabia falar pra você”, né? Então, é bem legal. Eu acompanho também em lojas. É um serviço bem completo. Escolha de revestimentos, tudo faz 3D pra ele visualizar antes de tudo pronto e é bem bacana.




P/1 – Você faz todo o projeto, põe em 3D e mostra aquelas maquetes virtuais, pra ele dar o aval?
R – Isso. A maquete virtual, tudo certinho.
P/1 – Você que faz tudo? Da conversa com o cliente até...
R – Isso. Tudo. Vou direcionando em lojas. Porque, como no mercado, a gente vai tendo toda essa visão, a gente consegue direcionar o cliente ao projeto, do custo que ele pode ter, que ele vai ter, que cabe no bolso dele. Então, é bem bacana. A gente consegue fazer esse trabalho como um todo e gerar uma satisfação pra ele, do ambiente dele, né?
P/1 – Você, hoje, está trabalhando...




R – Eu trabalho sozinha, como autônoma.
P/1 – Seu nome na praça?
R – Isso. É o meu nome.
P/1 – Quando você teve essa iniciativa, de trabalhar: “Agora é meu nome”?
R – Eu comecei a trabalhar em loja de móveis e a gente fazia o projeto em 3D, pra como iam ficar os móveis lá na casa do cliente. A gente fazia ambientações, né? A gente fazia uma seleção de móveis do que ficaria bom na casa do cliente, ia antes, levava um caminhão com todas as coisas: sofá, cadeira, mesa, tapete, adorno e descia na casa do cliente, fazia uma ambientação. Isso tudo tendo um estudo prévio, né, de local. E eu vivenciei essa parte, também nessa mesma loja, eu fiz desenhos de armários e, a partir daí, fiquei quase um ano e meio lá e a partir daí eu decidi tocar sozinha. Com tudo isso que eu tinha aprendido, com a parte da arquitetura da construção, né, desde construção, reforma e a parte de interiores, que é muito bacana. Então, fui desenvolvendo assim e hoje em dia eu estou sozinha.
P/1 – Não quis nem sócio?






R – Não. Por ora, não. Não senti necessidade de fazer uma sociedade.
P/1 – Você tem escritório?
R – Na verdade, eu trabalho de home office.
P/1 – Tem uma equipe?
R – Eu trabalho, tenho a equipe da construção pra ajudar tudo, nos afazeres da obra e eu faço o cronograma da obra, atendo cliente, vou na obra e, nisso, eu vou contatando a minha equipe: pintor, eletricista, pedreiro... eu já formei esse pessoal comigo.
P/1 – Já tem uma equipe de confiança, sua?
R – Tenho. E eu consigo trabalhar aqui em Ribeirão e em Catanduva. Porque lá também eu tenho meus contatos lá e já fiz algumas obras lá também. Fiz um restaurante, reformei, que era um Habib’s e eu o reformei inteirinho pra virar um restaurante japonês. Já fiz lojas lá, interior de residência. Bem bacana.
P/1 – Não tem esse problema: você pode assinar algumas coisas e outras coisas tem que ser engenheiro? Não é uma coisa assim?
R – Isso.
P/1 – Vocês têm responsabilidade até... como funciona?
R – A gente... o cálculo estrutural é o engenheiro, né? Às vezes, também, tocar obra a gente pode, só que também pode ser o engenheiro e a gente assina o projeto arquitetônico. Aí a gente baixa a nossa responsabilidade, pode baixar a responsabilidade como projeto e como execução da obra, só que entra também o engenheiro com cálculo estrutural, com várias outras coisas que também assinam.
P/1 – Você já teve uma questão do fato de ser mulher na construção civil e os homens olharem e falarem: “Vixi”. Você já teve isso?
R – Tem. (risos) Às vezes tem.
P/1 – Conta um pouco pra gente.
R - Eles, às vezes, por você ser mulher, acham que podem ter um poder maiorzinho que o seu ali. Só que aí, tudo com muita conversa, e às vezes depende do jeito de falar e abordar, a gente consegue tomar jeito na obra, fazer dar tudo certo. Só que eu já tive que me impor várias vezes, pelo fato, né?
P/1 – Você lembra de uma, assim, situação pra contar pra gente?
R – Ah, situação, às vezes, de que fica...
P/1 – Que você tenha vivido. Lembra. Você estava lá na obra e o cara táaa. Não sei. Você falou pra fazer uma coisa... não sei.


R – Às vezes eles querem, tipo: ele estava demorando pra fazer o serviço e eu precisava pular pra outra etapa. E aí ele meio que quis impor o dele. Só que aí eu não acredito... é meio por ser mulher, é meio pelo perfil da outra pessoa, né? Ele queria impor que não, que ele estava correto, só que ele já tinha ido dois dias, saído mais cedo da obra. Então, é inadmissível ele me entregar a obra meio período do que eu precisava, depois. Porque ele já tinha saído mais cedo, não tinha o porquê disso. Aí eu fiquei brava, conversei com ele, cheguei lá na obra, falei que eu precisava desse serviço, ele tinha colocado ainda mais gente pra trabalhar, pra me entregar certinho. Aí deu tudo certo. Mas sempre tem, né?
P/1 – Qual foi o projeto que você, enfim, mais se sentiu realizada, que foi incrível, que você gostaria de contar pra gente? Conta como foi.
R – Olha, eu falo que todos os projetos são filhos nossos, né? É um filho nosso. A gente que gerou, a gente que criou, a gente que escolheu, a gente que deu as opções para o cliente, pra chegar até o fim. Então, eu realmente falo que eu sou meio... a gente fica meio babando nos projetos, né? Todos eles têm o meu carinho. Na hora que eu termino, eu fico muito realizada. Só que um projeto em especial que eu tenho, é um projeto que eu fiz, que eu transformei, que eu comentei, esse que ele era um Habib’s e eu transformei em restaurante japonês. E eu apaixonei nele também, só que tem vários outros, que nem eu tenho uma padaria que eu reformei, que é realmente atravessando a minha rua. Então eu passo todo dia ali e falo: “Que padaria linda!”, né? (risos) Porque tudo que está ali é um tanto do que eu escolhi, é o que eu quis que virasse. Então, a gente tem esse amor, querendo ou não, por todos, né, que a gente faz.
P/1 – Mas por que você pensou no restaurante japonês? Por que veio esse?
R – Porque ele foi também, assim como todos os outros, um grande desafio. Ambiente muito grande, que eu tinha que dar conta de entregar rápido, que eu tinha que fazer um custo barato de tudo que fosse colocar ali. Não barato, orçamento mais enxuto. Eu tinha que fazer muita coisa pra transformar a cara de Habib’s para um restaurante japonês, com pouco de recurso, né? E o pouco tempo. Então, eu o transformei. Então, foi também uma grande realização.
P/1 – Já teve um cliente com gostos exóticos? Que você ficava indo, ele mudava, queria umas coisas loucas?
R – É, a gente sempre tem. A gente tenta fazer o projeto com o gosto do cliente também, com o perfil do cliente, só que com tudo que é harmônico, né, no todo. Então, nunca tive... a gente consegue balancear bem no todo e chegar em um resultado legal. Já tive, sim. Que sempre tem, né?
P/1 – Mas você lembra de um, assim, que você falou: “O cara pediu tal e eu fiz não sei o que”?
R – É, eu vou falando com jeito, que aí eu consigo contornar a situação. Mas já tive, de querer uma porta de um jeito, que não combinava nada com o todo do projeto e a gente estava em um ponto da obra que aquilo ali não faria sentido. Aí conseguimos contornar, deu tudo certo.








P/1 – Você tem, imagino, algumas pessoas que trabalham com você, de confiança, né?
R – Hum hum. Tenho.
P/1 – Quem são as pessoas? Quem é o braço direito e quem é que está na obra? Quem é?
R – A obra, geralmente eu estou também, na obra. Eu tenho eletricista bom, que eu posso confiar, que é o senhor Toninho. Eu falo que tem vários nomes em obra. Eu falo que toda obra tem um Toninho, um Zé, um Pimenta, né? (risos) Senhor Toninho, eletricista que eu confio muito. Valter, da parte de marcenaria. É um pessoal bem bacana de se trabalhar e tem outros também.
P/1 – Onde é que você conheceu essa turma? Pensando assim: você trabalhava em uma loja de interior. Você não estava na construção. Você estava no projeto. Como é que você dá esse pulo, então?


R – A gente vai conhecendo por indicações e que vão dando certo. E eu também fico bastante ali no Instituto da Construção, já fiz bastante curso ali e que dá pra conhecer, fazer bastante contato. Já fiz curso ali, que nem o de mestre de obras, que é muita gente. Cada um de uma área da construção, então dá pra fazer muito contato. Um pessoal bem bacana.
P/1 – E como está o mercado hoje? Porque tem uma diferença, né? O seu trabalho é mais específico, correto?
R – É.
P/1 – Alguém que pede um projeto arquitetônico etc é diferente de várias... conta um pouco desse mercado, qual o tipo de perfil.
R – O mercado, assim, a construção, em si... porque eu pego a construção, reforma e interiores. Tem crescido bastante. Apesar da crise. Ele está, assim, um pouco mais lento, mas está crescendo. E a parte de interiores as pessoas estão começando a valorizar mais porque querem o ambiente todo mais funcional para o dia a dia. E essa questão dos apartamentos, a moradia está cada vez mais compacta. Então, o pessoal tem valorizado mais o profissional.
P/1 – E trabalhar home office, como é o seu dia? Conta pra gente o seu dia.
R – É muito bom trabalhar em casa, eu falo, porque quando a gente está na faculdade, a gente tem uma visão de escritório. Só que depois que a gente começa a trabalhar em casa, a gente vê que a facilidade é outra. Uma porque você não tem que manter o escritório e hoje em dia, como profissional de Arquitetura, a gente consegue não ter o escritório. Porque a gente pode combinar em uma padaria, se for questão de ver algum projeto. Só que o primeiro encontro sempre é no local, porque a gente tem que ver, pra gerar orçamento. Então, trabalhar em casa é muito bom, porque você faz seus horários. Você acorda, toma seu café e não tem aquela preocupação de onde vou parar meu carro, né? Então, você já está ali, em casa e já embala e começa. Aí, às vezes, sai à tarde pra visita em loja, visita em obra e estando em casa, também, com seu material todo ali, você consegue trabalhar à noite, já fazer um horário mais flexível, do que você estar no escritório, levar todo seu material pra casa. Então, hoje em dia, eu gosto muito de trabalhar home office.
P/1 – Descreve um dia seu, como que é. A rotina. Um dia rotineiro.






R – Acordo... não tenho assim um dia tão igualzinho o outro... mas geralmente acordo, faz projetos, né? Tomo café, faz projetos, dá uma passada em obra, almoça e aí, à tarde, ou às vezes passa o dia projetando ou visita loja com cliente e à noite, se ainda tiver algum projeto, algo pra terminar, eu termino. Só que tem dias mais variáveis. Tem dia que você já fez aquela parte de loja com cliente, a obra já está terminando e já vai espaçando um pouco mais. Então, tem dias que dá pra variar bem a rotina, né?
P/1 – E você está com um pé aqui e um em Catanduva. Nunca pensou em voltar pra lá?
R – Não. Por ora eu não tenho vontade de voltar lá.
P/1 – E ir pra uma cidade maior?
R – Eu gosto muito daqui. Eu até tenho vontade, mas eu acabo ficando aqui. Faz três anos que eu formei e não tenho vontade real, falar: “Vamos sair”. Não tenho.
P/1 – Negócio próprio é desde de...




R – Eu, na verdade, desde que eu formei, pego projetos. Só que eu fiquei um ano e meio, quase, em uma loja, né? Mas desde que eu formei, eu pego projeto. Ora mais, ora menos. Logo quando forma, a gente tem um pouco menos, né? Mas sempre fui fazendo meu nome em paralelo, também, com a loja. Tinha, já, meu cartão, tinha minha página e foi muito bacana, também, trabalhar em loja porque você tem uma rotatividade maior de pessoas, de gostos, de jeitos. Então, pra você trabalhar, é bem bacana também.
P/1 – E novas tecnologias, como você se atualiza? O que tem de novo? Quais são as novas tendências? O que você...
R – Eu costumo, pra me atualizar, sempre visitar lojas também. Internet. E também eu faço curso, tento sempre fazer curso ali no Instituto da Construção e o Senac, que são duas ferramentas muito boas, duas escolas muito boas, que têm cursos muito legais, que dá pra aprofundar na área. Então, é bem bacana.


P/1 – Você faz? Continua fazendo?












R – Faço. Continuo fazendo.
P/1 – Qual a tendência de arquitetura de interiores? Quais são as novas tendências? Em uma projeção futura, é otimização de espaço?
R – Isso, otimização de espaço.
P/1 – Implementação de tecnologia?


R – Ter tudo, realmente, otimizando, mesmo. Aqueles móveis híbridos, móvel que dá pra mais de uma função ou móvel que vira cama e depois você fecha, dá pra usar como uma mesa. Isso tem usado muito no mercado. Por causa dessa compatibilização de espaço.
P/1 – E aquela obra da infância que você visitava, você vê associação, assim, do que você vivenciava lá, do que você vê aqui? Esse carinho pela obra.
R – Eu vejo. Eu adoro obra! Eu falo que eu gosto do cheiro da obra. O cheiro da obra eu gosto. Sujar o pé em obra. Eu gosto muito. De conversar com o pessoal, fazer todo um cronograma, ver a coisa se transformar, né, o ambiente se transformar. É muito gratificante. E ver que tudo está no lugar que, junto com o cliente, junto com a proposta que o cliente te passou, você conseguiu transformar. É muito gratificante.
P/1 – Legal. E hoje, vida pessoal, tem tempo pra lazer? O que você faz pra se divertir?
R – Tem. Aqui eu gosto, costumo fazer pilates, gosto também de aproveitar bem a cidade, sair nos barzinhos aqui. Eu gosto muito. Fiz bastante amizade com o pessoal da Arquitetura, né? Minha mesa geralmente tem um monte de arquitetos, o pessoal da área ou o pessoal que fornece algo pra gente, vira um círculo de amigos. E eu moro ali na região central, e realmente a gente faz muitos amigos ali, porque é muito tempo ali. Então, a gente cria uma relação de conhecidos, de pessoas e é muito bacana esse acolhimento, né?
P/1 – Foi rápido esse processo de acolhimento da cidade, de Ribeirão?
R – Foi porque desde o começo da faculdade eu já comecei a fazer alguns cursos, algumas coisas e na faculdade, mesmo, a gente vai conhecendo bastante gente e então foi bem bacana.
P/1 – Legal. Tem alguma história que a gente não perguntou, que você gostaria de narrar pra gente? Alguma situação que você viveu, que você gostaria de colocar? Sua história de vida.
R – Acho que não.
P/1 – Um desafio profissional ou de uma coisa pessoal, de um amigo que você perdeu. Enfim, não sei. Uma situação que você fale: “Poxa, eu gostaria de deixar registrado”.
R – Acho que não. Falando assim...
P/1 – Tem algum sonho?










R – O meu sonho maior, assim, é realmente continuar na minha profissão e poder fazer as pessoas felizes através disso, do meu trabalho. Que é o meu maior sonho. Que é o que eu me sinto realizada, né?






P/1 – Você se imagina crescendo, virando o quê? O seu trabalho...
R – Eu não imagino assim criando grandes nomes, assim, ou grandes coisas, assim. Eu imagino eu deixando as pessoas realmente felizes com o meu trabalho. Que é o que eu mais penso. E me realizar profissionalmente nesse sentido, que é o que faz mover a gente.
P/1 – Com certeza. Paulo, alguma pergunta? Ariane. Então, em nome do Museu da Pessoa e da Vedacit, muito obrigado pela sua entrevista!


R – Obrigado vocês!
P/1 – Gostou de falar um pouquinho com a gente?
R – Gostei. Até que deu pra me soltar bem!